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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 3 – Cap. 04 – Garotas Pisoteadoras de Uvas

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Era o décimo ano de um festival da colheita realizado entre duas aldeias vizinhas.

Ouvi dizer que antes que o festival se tornasse uma tradição, as duas brigavam e discutiam por questões pequenas. Mas agora, nenhum traço de sua rivalidade era visto. Na verdade, as gerações mais jovens começaram a ver os dois lugares menos como vizinhos e mais como uma grande comunidade.

— Ei, Vovô? Nossa aldeia é mesmo amigável com aquela ali?

No entanto, esse garoto estava um pouco cético em relação à amizade entre as duas aldeias – ou da grande aldeia, por assim dizer. Do jeito que ele via, o festival da colheita só serviria para atrapalhar o relacionamento amigável entre as partes.

O velho colocou uma caixa de madeira cheia de uvas no meio da estrada e bateu de leve na parte inferior de suas costas.

— Por que você está preocupado com a realização do festival?

— Hmm…

— Hoh-hoh-hoh… Nós fazemos isso para relembrar a nossa amizade, sabe!

— Hã? Mas…

O garoto olhou na direção do caixote de uvas. A fruta recém-colhida cintilava de forma vibrante à luz do sol. Havia vários caixotes semelhantes colocados ao longo de cada lado da estrada estreita e curta que separava as duas aldeias, muitos para se contar. Tudo em preparação para o evento principal do festival da colheita.

As pessoas de cada aldeia pegavam as uvas das caixas e as jogavam para lá e para cá, até que ficassem manchadas com o suco. Isso era um desperdício.

A pretensão ostensiva do festival era rezar para que a colheita deste ano fosse tão abundante quanto as manchas de suco de uva em suas roupas, mas os participantes eram terrivelmente bárbaros.

Por exemplo, no festival do ano anterior, um jovem de uma aldeia jogou uvas na cabeça de uma garota da outra aldeia como retaliação por um fora. Em outro caso, um casal que morava na mesma aldeia manchou o rosto um do outro enquanto abusava verbalmente de uma terceira pessoa e gritava sobre as queixas que se acumularam ao longo de suas vidas diárias.

Por alguma razão, os habitantes locais que viveram amigavelmente durante a maior parte do ano passaram por uma mudança repentina neste dia e agiram como se estivessem possuídos por demônios.

A situação ficou tão ruim que a relação entre as aldeias sempre parecia que ia se romper. Surpreendentemente, porém, sempre que o festival chegava ao fim, tudo voltava a ser como antes – exceto a estrada suja de suco – e os aldeões voltavam às suas vidas pacíficas.

Isso provavelmente servia como uma forma de extravasar de vez em quando. Realizar um evento de colheita tão selvagem talvez fosse a chave para manter viva a amizade entre as duas aldeias.

O garoto já sabia muito bem disso.

E, por isso, estava ainda mais cético.

Se realmente estivessem em bons termos, não precisariam de tal evento, para começo de conversa, não é?

— Suas suspeitas estão corretas. Nossas aldeias não são exatamente melhores amigas. Normalmente, fazemos muitas coisas para irritar uns aos outros, e ambos os lados consideram as pessoas que vivem em cada ponta da estrada rivais, isso na melhor das hipóteses.

— Então pra que um festival desses?

— É exatamente por isso. Jogando uvas uns nos outros, podemos liberar toda a nossa frustração reprimida. De forma alguma que somos amigos do peito. É só que é um dia encontramos a coragem para sermos honestos uns com os outros. Esse dia foi há dez anos.

— Hmm…

— Pensando bem, eu nunca te contei a história do que aconteceu dez anos atrás, contei? Bem, quer ouvir ela?

— Quero! Por favor, me conte!

O velho olhou para o céu. A extensão ampla e vazia, sem nenhum traço do canto dos pássaros, era a mesma de sempre e exatamente como na década passada.

— Naquele dia, dez anos atrás… uma viajante veio à nossa aldeia.

— Eh?

Ah, essa vai ser uma longa história, com certeza, percebeu o garoto na mesma hora.

Ele pensou que, se isso fosse se arrastar, gostaria que o velho esperasse até que chegassem em casa para que contasse.

— Aquela viajante era uma jovem bruxa com cabelos longos, esvoaçantes e cinzentos. Ela era um verdadeiro anjo, mas também tinha um lado diabólico.

— Hmm.

— O dia em que aquela bruxa misteriosa veio à nossa aldeia tornou-se um dia que nunca esqueceríamos…

Então o velho contou a história.

A história do que aconteceu naquele dia, dez anos atrás.

Uma bruxa angelical, que quando vista de perto parecia um demônio, estava no meio de sua jornada.

Quem será que era ela?

Isso aí. Euzinha.

— …

Sua localização era uma estrada rural tranquila.

O céu azul claro e limpo se estendia até perder de vista, pairando ali, puro e tranquilo, sem nem mesmo o canto dos pássaros para perturbar a paz. A estradinha que passava entre os campos verdejantes era da cor da terra nua e corria pelas duas aldeias que podiam ser vistas à frente.

Eu estava voando na minha vassoura, seguindo a estrada sinuosa. A brisa suave e incessante que soprava roçava por mim, me dando um arrepio conforme aumentava a velocidade.

Me sentindo bem, respirei fundo e deixei meu olhar fixo adiante.

Lá, vi duas pequenas cidades lado a lado. Para o resto do mundo, essas pequenas comunidades maravilhosas eram conhecidas como as vilas do vinho.

— Bem-vinda, Madame Bruxa! Ah, você não poderia ter escolhido um dia melhor para nos visitar! Por favor, entre, entre. Nosso chefe está ansioso para recebê-la.

Quando cheguei à primeira das aldeias, tive uma recepção calorosa.

As pessoas saíram de suas casas, sorrindo cheias de alegria enquanto davam uma espiada no meu rosto.

Também fui calorosamente recebida na casa do chefe da aldeia, onde um homem não tão velho batia palmas alegres.

— Hoh-hoh-hoh! Bem, olha que gracinha!

Ele acabou de me chamar de gracinha?

— Obrigada, obrigada. Eu sei, eu sei. — Não entendi por que de repente comecei a ser elogiada, então, no momento, só sorri e acenei.

Sempre que não sei o que está acontecendo, coloco um sorriso vago no rosto e as coisas costumam se resolver sozinhas. Este é o meu segredo para o sucesso.

Enfim…

— Esta aldeia é famosa pelo vinho, não é?

— De fato. O vinho de uva é a especialidade da nossa aldeia. Diga… você é bem jovem, mas acredito que gosta de vinho, não gosta?

— Mm…

Para ser sincera, nunca provei. Na verdade, passei aqui porque ouvi dizer que o vinho local é incrivelmente delicioso.

Pensei que, se fosse provar vinho pela primeira vez, deveria ser o melhor que pudesse encontrar.

— O vinho produzido aqui tem um sabor incrivelmente adorável, com certeza. É um sabor incomparável! O da aldeia vizinha com certeza não chega nem perto. Nosso vinho é digno dos próprios deuses.

— Uau.

A propósito, ouvi que: “O sabor que cada aldeia tem a oferecer é basicamente o mesmo. Nenhum deles é particularmente único.” Provavelmente havia mesmo alguma diferença, mas apenas os moradores locais poderiam perceber.

— Mas nossos vizinhos são teimosos, sabe, e não querem ser superados por nós, então, recentemente, começaram a fazer algo novo! Algo ultrajante!

— Eh?

— Eles começaram a produzir isso!

Wham!

O chefe da aldeia bateu com uma única garrafa de vinho na mesa.

O rótulo afixado dizia, UM VINHO DE QUALIDADE EXCEPCIONAL, SUPERANDO ATÉ OS VINHOS DE CINCO ANOS ATRÁS, QUANDO TIVEMOS A NOSSA MELHOR SAFRA. Com uma descrição tão vaga assim seria impossível dizer qualquer coisa sobre o sabor real. O rótulo dizia VINHO DE DAQUELALDEIA.

Daquelaldeia? O que isso devia significar?

— A propósito, o nome da nossa aldeia é Essaldeia.

Então é o nome? Entendi.

Em vez de me concentrar naquela informação estúpida, o que mais me interessou foi algo que estava no meio do rótulo.

Era o rosto sorridente de uma garota com cabelos loiros ondulados.

Esmaguei essas uvas com muito amor“, dizia seu balão de fala. Acompanhando, estava uma descrição – ORIGEM: ROSEMARIE, UMA DAS DONZELAS PISOTEADORES DE UVAS DE DAQUELALDEIA.

— Um, o que é isso…?

Quando perguntei, o chefe da aldeia bateu ruidosamente com o punho na mesa.

— Isso! Este é o estratagema degenerado de Daquelaldeia. Sabem que não podem nos derrotar, então recorreram a isso! Olha a pequena Rosemarie no rótulo! Listando ela como “origem”! O que esse povo acha que está fazendo?!

— Isso está menos para origem e mais para criação, não é?

— Listar ela como “origem” no lugar de “enóloga1Profissional especializado em vinhos.” deixa certos compradores mais… animados.

— …

Animados?

— Em outras palavras, estão vendendo produtos que apelam a um… gosto muito peculiar… As vendas do vinho de Daquelaldeia estão disparando!

— Ahh…

Então isso vende?

Esse tipo de coisa vende mesmo?

— Por causa disso, acabamos em uma situação difícil. Estamos com sérios problemas!

— Mas o vinho não é o mesmo, mudando só o rótulo? Digo, não tem um gosto bom?

— Eu n-não saberia, n-nunca tomei…

Mas você está até gaguejando, não está? Você já provou, não foi?

Digo, se olhar direito, a garrafa está até vazia, não está? Você bebeu tudo, não bebeu?

— É claro. O vinho que tem o pisa-pisa feito por uma garota fofa com certeza teria um bom gosto…

— A propósito, o que é “pisa-pisa”?

— Em nossa aldeia, as garotas que pisam nas uvas chamam o ato de “pisa-pisa”.

— Uh… — O que é que há com essa obsessão estranha e esquisita? — Bem, então por que você não tenta competir fazendo com que garotas bonitas façam o pisa-pisa das suas uvas também?

A solução que propus era vaga e meio porca. Achei que isso acabaria abruptamente com a conversa antes que tudo tomasse uma direção ainda mais desconfortável.

Mais uma vez, usei meu segredo para o sucesso.

— Que sugestão maravilhosa!

Entretanto, nesse ponto, o chefe da aldeia bateu com as duas mãos na mesa e se inclinou na minha direção.

— É exatamente isso! Podemos derrotá-los se tivermos donzelas do pisa-pisa ainda mais charmosas que as deles!

— H-hein…?

— O que quero dizer é… você! Você pode fazer isso por nós!

— Hmm…?

— O plano requer uma donzela especialmente cativante, certo?

— Hmmm…?

— Então tem que ser você. Você é a única adequada ao trabalho!

— Hmmmm…?

O quê?

Realmente não pensei que meu segredo para o sucesso me apunhalaria pelas costas de forma tão espetacular.

— Todo mundo! Ouçam! Esta bruxa vai ser nossa donzela pisoteadora deste ano!

O chefe saiu correndo da casa na mesma hora, gritando para as pessoas reunidas no centro da cidade.

Assim que suas palavras alcançaram todos, ergueram as mãos e apaludiram.

— O que ele disse?!

— Se for essa bruxa, com certeza vai ficar ótimo!

— Chefe… quero tomar vinho pisoteado por garotas!

— Estou farto de vinho feito pelo pisa-pisa de velhotas!

— Chefe! Comprei o último lote do vinho da Rosemarie. Quer um gole?

— E pensar que vamos fazer uma bruxa tão fofa pisotear uvas para nós!

— Irraa!

Não, não, não, não.

— Um, mas eu ainda não concordei com nada.

— Todo mundo! A bruxa está muito entusiasmada!

Não estou entusiasmada! Meu entusiasmo é inexistente!

— Umm, é muito difícil para eu te dizer isso, mas…

— Certo, pessoal! Coloquem toda a nossa colheita em um balde gigantesco e tragam aqui! Ela disse que vai pisar até não aguentar mais!

Uh-oh, você mostrou a sua jogada.

Vou embora daqui.

Com isso, girei nos calcanhares, joguei minha bolsa por cima do ombro e comecei a andar.

Os aldeões já estavam correndo, preparando um balde atrás do outro. Estavam bem animados para me forçar a esmagar uvas.

Não sei nada sobre isso.

De repente, começaram a me ignorar. Por mais felizes que estivessem, os habitantes locais estavam totalmente focados em seus preparativos, então parecia o momento ideal para fugir. Se necessário, também poderia fazer uma fuga rápida com a minha vassoura.

Comecei a me afastar, mas…

— Minha nossa! Olhem para toda a gente velha e ultrapassada aqui de Essaldeia! O que vocês todos poderiam estar fazendo? Hmm?

Por incrível que pareça. alguém estava bloqueando a minha rota de fuga.

Uma garota loira que eu já tinha visto em algum lugar levou as mãos à boca de maneira bem maldosa. E ao fazer isso, olhou para os aldeões com puro desprezo. A garota possuía a aura de um chefe ou de uma rainha, e muitos homens corpulentos estavam atrás dela, puxando uma carroça.

— V-você é… Rosemarie!

— Como vai, Chefe? O que acha que vocês estão fazendo aqui?

— Isso não tem nada a ver com você! Sou eu quem faz as perguntas aqui! O que vocês todos estão fazendo aqui?! Estamos em Essaldeia!

O chefe assumiu um ar ameaçador, mas pude ver que ele ainda segurava a garrafa de vinho que listava Rosemarie como sua origem. Ele, claramente, estava apenas mantendo as aparências.

Rosemarie bufou.

— Humph, eu só vim para vender um pouco de vinho. Tenho muitas carroças cheias. Sempre digo para deixarem a estrada livre, já que precisamos passar toda santa hora. E por que vocês estão fazendo esse alvoroço todo?

— Você está… nos fazendo de idiotas…!

— Eh? O que é essa garrafa aí na sua mão?

— …

O chefe escondeu a evidência na mesma hora.

Se olhasse de perto, tinha até a assinatura de Rosemarie.

Ele deve ser um grande fã!

— Além disso, quem é essa garotinha sem graça e por que ela está vestida com um tipo de fantasia de bruxa?

Que rude!

— Estou vestida assim porque sou uma bruxa de verdade.

Depois de lançar um olhar fugaz em minha direção, Rosemarie se virou para encarar o chefe.

— Eh. Hmm. — Quando voltou a olhar para os aldeões e seus preparativos para fazer vinho, pareceu ter percebido alguma coisa. Sua expressão ficou azeda. — Entendo. Você não pode me vencer, então está planejando usar essa garota maltrapilha para cuidar do pisa-pisa das suas uvas? Oh-ho.

— Você disse “maltrapilha”?

— O rosto dela também é bem questionável. Sem falar que o corpo dela é igual ao de uma criancinha.

— Questionável? Criancinha?

— Sim, você parece uma criancinha. Vocês aí, sabem que não podem me vencer com uma criancinha dessas fazendo o pisa-pisa das suas uvas, não é?

— …

Estou ficando irritada.

Imagine ser ridicularizado abertamente por alguém que você acabou de conhecer.

— Bem, dê o seu melhor. Estamos indo fazer pisa-pisa de mais um lote, então se nos der licença… abra o caminho, Senhorita Bruxa Maltrapilha.

— …

Oh-ho. Eu não poderia ficar quieta após ouvir todas essas coisas saindo da sua boca.

— Me chamo Elaina. Meu nome é Elaina. — Dei um passo à frente e olhei para o rosto presunçoso de Rosemarie. — Lembre disso.

— Será que você não me ouviu? Eu disse para sair da minha frente.

Sua expressão não mudou nem um pouco, e isso foi tudo o que ela disse. Foi uma atitude perfeitamente triunfante. Mesmo que não estivéssemos competindo, o rosto de Rosemarie parecia dizer que ela nunca teria me considerado alguém no páreo.

Que irritante…

Acho que não tenho escolha a não ser esmagá-la.

No final, fiquei tão nervosa que concordei em cooperar com eles e me tornar a donzela pisoteadora de uvas de Essaldeia.

Claro, a decisão foi minha, mas…

— Qual é a da fantasia?

De acordo com o chefe da aldeia, a donzela que estivesse pisoteando tinha que vestir uma certa roupa… pelo visto.

Era, resumindo, uma saia vermelho-vinho com babados e um top de mangas compridas da mesma cor. Os pulsos do top também eram decorados com babados e parecia nada mais do que um uniforme de empregada todo vermelho.

Por que diabos eu tenho que usar uma roupa dessas?

Segundo o chefe, isso deixava as coisas ainda mais excitantes. Eu não conseguia entender seu raciocínio.

— Tudo bem, vá em frente e faça o pisa-pisa das uvas, Senhorita Bruxa.

— …

Estava claro que meu cabelo comprido se tornaria um problema enquanto pisoteasse o vinho, então, depois de amarrá-lo em um coque, coloquei um pé descalço no balde de frutas.

— A propósito, como devo pisar nessa coisa?

— Seria muito bom se você pudesse colocar todo o seu amor nisso.

— …

E o que eu faço quando não tenho nenhum amor para colocar, hein?

— Por enquanto, vou colocar todo o meu ódio por Rosemarie.

— Isso que é pisotear! Você já sabe como fazer o pisa-pisa!

O ignorei.

— Certo…! — Em seguida, agarrei a bainha da saia com as duas mãos, a levantei até o joelho e coloquei meu pé no balde.

As uvas verde-claras que o enchiam estavam realmente frias ao toque dos meus pés. Usando meu peso, esmaguei as uvas até que não pudessem mais suportar a pressão e fiz seu suco escorrer. Um cheiro doce e espesso vazou pela sola do meu pé. Levantei minha perna para deixar tudo escorrer, mas como não havia mais volta, coloquei meus pés na uva batida de novo. Quanto mais eu pisava, mais as cascas de uva desfiadas se enrolavam nos dedos dos meus pés.

Esmagando, apertando e esmagando de novo. Sentir algo redondo e suave gradualmente deu lugar a uma sensação estranha, assim como pisar na areia molhada.

Isso parecia um pouco nojento, mas, de alguma forma, logo me acostumei com a experiência estranha. Para ser honesta, foi realmente muito emocionante.

— Morra… morra… morra… morra…!

E foi por isso que fiquei tão entusiasmada.

Os aldeões me observando tiravam fotos a torto e a direito enquanto gritavam de alegria. Acho que meus palavrões raivosos provavelmente também eram dirigidos aos moradores, que tiravam fotos como bem entendiam.

Eventualmente, minhas pernas ficaram lambuzadas com o suco de uva. Os aldeões ficaram mais animados do que eu gostaria de mencionar, e eu estava ficando cada vez mais estressada.

Acabei ficando tão exausta que simplesmente perdi o controle e pisoteei as uvas sem pensar em nada.

— …

Como deve ser difícil para Rosemarie, forçada a fazer isso todos os dias.

Ela tem que pisar nas uvas enquanto carrega nos ombros as esperanças e os sonhos das pessoas de Aquelaldeia.

Mas, ainda assim, seus problemas e quão desagradável ela foi comigo não se cancelam…

— Estou exausta…

Depois de pisotear por algum tempo, fiz uma breve pausa na casa do chefe da aldeia. De acordo com ele, os moradores queriam que eu voltasse a pisotear uvas depois de um descanso. O chefe disse que queriam produzir uma enorme quantia de vinho, visto que era uma ocasião única.

— Ah, ótimo trabalho, Senhorita Bruxa. Aqui, dê uma olhada. Aqui está uma das garrafas em que vamos colocar o vinho que você preparou.

Ele colocou uma garrafa diante de mim.

Vinho de Alta-Qualidade de Essaldeia.

Eu fiz isso com todo meu ódio e irritação.

ORIGEM: ELAINA, A BRUXA CINZENTA



Então vi o rótulo, no qual estava impressa uma foto minha pisoteando uvas com um sorriso odioso no rosto.

— Vocês vão conseguir vender com isso…?

Sinto que ninguém vai querer comprar.

— Nós, aqui de Essaldeia, pensamos em usar um plano de ataque diferente do povo de Aquelaldeia. Lá, eles estão vendendo a beleza de Rosemarie, mas aqui, decidimos que seria melhor remover esse elemento por completo e adotar uma abordagem alternativa.

— …

— Isso provavelmente vai fazer um enorme sucesso com a clientela certa.

— Toda pessoa que compra vinho é uma grande pervertida ou coisa do tipo?

— Bem, da forma que estão comprando o vinho da Rosemarie, acho que sim.

— …

O que há de tão bom em se embebedar com o vinho que foi pisoteado por uma garota? Sério, não vejo nenhum apelo nisso. Só pensar nisso já me dá dor de cabeça, então vamos acabar com esse assunto por aqui.

— A propósito, aproximadamente quanto vinho você pode fazer com o tanto que esmaguei?

— Vejamos… acho que meio barril.

— Hã? Isso é tão pouco!

Achei que tinha esmagado o suficiente para muito mais do que isso.

— É por isso que gostaríamos que você pisoteasse todo o resto.

Sério, que saco.

Entretanto, se eu desistisse a essa altura, sabia que Rosemarie sentiria prazer ao zombar de mim. “Aha!” diria ela. “Então você desistiu, mas que surpresa! Bem, eu falei, o trabalho de uma donzela pisoteadora de uvas – pisoteando e pisoteando incessantemente – não é uma tarefa para uma amadora!

Hmm.

— Hmm…? — Nesse ponto, de repente tive uma ideia. — Um, Chefe, aquela garrafa… aquela que você estava segurando agorinha, como se a sua vida dependesse disso; quantas delas estão à venda?

O chefe da aldeia acariciou a garrafa amorosamente enquanto respondia:

— Um montão delas. Aquelaldeia cresceu muito com as vendas do vinho feito pela Rosemarie.

— Tanto assim…?

Isso deve significar que ela passa todos os dias, da manhã até a noite, pisoteando uvas.

Espera.

Esses números não parecem estar batendo.

Isso tudo parece meio errado.

— …

Depois de pensar um pouco no assunto, cheguei a uma conclusão.

— Ei, Chefe… quanto tempo para o intervalo acabar?

Depois disso, deixei a casa do chefe da aldeia e, ainda usando minha roupa de donzela pisoteadora, calcei os sapatos e corri para Aquelaldeia.

Criei várias suspeitas acerca da situação.

Tinham usado um truque tão simples que se tornou um completo mistério como ninguém da Essaldeia havia percebido, mesmo a essa altura.

Seguindo os numerosos sulcos das rodas escavados na estrada, continuei correndo em direção de Aquelaldeia.

Uma das minhas suspeitas eram aquelas rodas.

Parecia que Rosemarie estava vendendo o vinho sozinha, com a ajuda de alguns homens, mas por que ela ajudaria nas vendas se também estava arcando com todo o fardo de pisotear as uvas?

Isso se tornava mais estranho ainda, já que todo o vinho de Aquelaldeia era produzido por Rosemarie.

Quantas uvas ela teria que esmagar para produzir o suficiente para permitir o florescimento de uma aldeia inteira? Quanto tempo isso exigiria?

De onde ela tirava tempo livre para vender as garrafas pessoalmente?

Era, decerto, impossível que uma única pessoa produzisse tudo.

— …

Simplificando…

— Oh-hoh-hoh… Vamos lá, mantenham o ritmo, isso é por todos nós, seus idiotas! Vocês querem vender o vinho com o meu rótulo, não querem? Então movam-se!

Os sulcos das rodas levavam a um único armazém.

Homens musculosos estavam de guarda na entrada, mas não tive problemas ao colocar todos para dormirem com um feitiço e entreabri a porta.

Lá dentro, podia ouvir uma voz que parecia a de Rosemarie. Eu a vi relaxando em uma cadeira, de braços cruzados, girando uma taça de vinho com uma das mãos.

Lá estava ela, relaxando, assim como o esperado.

— Eu sabia…

No final das contas, ela não era uma donzela pisoteadora de uvas. Na verdade, não estava pisoteando nada.

Então, quem é que produzia o vinho?

— Pisem! Vamos lá! Pisem! Vamos lá! Pisem! Vamos lá!

A resposta era simples. Um único olhar bastou para que tudo ficasse claro.

Quem estava fazendo o pisa-pisa eram os homens corpulentos que puxavam as carroças. Eles estavam pingando suor enquanto esmagavam as uvas, e o vinho… Bem, esta era a verdadeira natureza do vinho produzido por Rosemarie.

Em outras palavras, ela era uma farsa.

— …

Isso é motivo para litígio!

— Isso não é verdade! Foi só dessa vez! Hoje, só por acaso, eu não quis fazer isso! Normalmente, fico fazendo pisa-pisa da manhã até a noite!

Depois de amarrar todos juntos com uma corda, arrastei Rosemarie e os homens até a única estrada entre Essaldeia e Aquelaldeia.

Talvez, percebendo que havia algo de errado ao encontrar os homens amarrados, as pessoas de Aquelaldeia se reuniram, ainda segurando as uvas que estavam sendo preparadas para serem pisoteadas. As pessoas de Essaldeia também se aglomeraram ao redor, muito nervosas, ainda com as uvas nas mãos, quando viram que Rosemarie e seus homens haviam sido capturados.

Parecia que o povo de Aquelaldeia já sabia que o vinho de uva de Rosemarie estava sendo feito por homens comuns e ensopados de suor.

— Che… finalmente fomos descobertos, hein?

— Gah… e estava vendendo tão bem…

— Ei, o que faremos?

Eu conseguia ouvir tudo que estavam dizendo.

Limpei a garganta, então balancei a taça de vinho que peguei de Rosemarie suavemente e soltei um suspiro com o cheiro doce que senti.

— Então, Senhorita Rosemarie, achei bastante estranho que você pudesse cobrir toda a produção de vinho para Aquelaldeia sozinha. Os números claramente não batem e não há como você ter tempo livre para ajudar até nas vendas.

— Não, bem, isso é, olha só… um… — gaguejava Rosemarie incoerentemente.

— E o pior de tudo, Rosemarie, como é que você pode beber esse vinho, que obrigou esses homens a produzir, como se fosse tão delicioso? Não se sente nada culpada?

— Ah, na verdade não. Eu já bebo as coisas que faço o pisa-pisa há muito tempo.

— As coisas? Há muito tempo?

— Droga…

— …

E aqui está.

Levei o vinho à boca.

— O que significa isso…?! Em outras palavras, isso é…? Isso! O vinho de Rosemarie é…! Você está dizendo que quem fez o pisa-pisa foram aqueles homens imundos?! — gritou o chefe de Essaldeia com uma voz raivosa. Pouco depois, os outros aldeões também começaram a fazer barulho. A agitação do povo de Aquelaldeia foi aos poucos os infectando.

Tch… E daí se tem uma fraudezinha na produção? Seus idiotas irritantes… — murmurou Rosemarie.

— Ei, eu ouvi isso! Isso aí, esta garota está nos fazendo de idiotas!

— Humph… E eu aqui pensei que você fosse um fã.

— Este e aquele vinho são diferentes! Só comprei do de Aquelaldeia, para começar, porque pensei que tinha sido você quem fez o pisa-pisa das uvas, Rosemarie!

— Isso é assustador.

Extremamente assustador!

Ainda assim, o chefe da aldeia não parecia pensar dessa forma, e seu rosto estava vermelho igual ao de um bêbado.

— Isso não é assustador! Não brinque com isso, mocinha!

Ele tomou um punhado de uvas de um aldeão que estava por perto e as jogou em Rosemarie. A maioria delas acertou em cheio. As poucas que erraram atingiram os homens corpulentos ao lado dela ou ao meu, salpicando todos nós com seu suco.

— Hein…? — Por que também tenho que sofrer algum dano?

O fogo da raiva nasceu entre os residentes de Aquelaldeia quando viram Rosemarie encharcada com o suco.

— Ei, você! O que pensa que está fazendo com a Rosemarie?!

— Pare com isso, seu velhote!

— Morra!

O povo de Aquelaldeia fez como o chefe da aldeia havia feito e começou a jogar uvas no povo de Essaldeia.

A partir desse ponto, a situação evoluiu rapidamente. Prendendo Rosemarie, eu e os homens corpulentos no meio da estrada entre eles, os residentes de Essa e Aquelaldeia começaram a jogar uvas uns nos outros.

Tenho certeza de que estavam tentando atingir o pessoal da aldeia oposta. No entanto, cada disparo errado nos atingia, já que estávamos na linha de fogo. Mas que confusão.

— …

Por que tive que me envolver com isso tudo?

Tomei outro gole de vinho.

Ah, isso é delicioso.

— O que devemos fazer quanto a isso…?

— …

Logo ficamos completamente encharcados de suco.

Com cada uva que me acertava, minha irritação aumentava, até que não pude me importar com mais nada. O sangue estava subindo para a minha cabeça e, antes que eu percebesse, peguei minha varinha.

Estava sentindo um pouco de calor, e provavelmente era por estar ficando um pouco bêbada.

— Hoh-hoh…! Oh-hoh-hoh! Então é assim que vai ser…? Todo mundo resolveu me fazer de idiota?

Então balancei a minha varinha.

Concentrei toda a minha magia e joguei a fruta que voou em mim de volta para o lugar de onde viera, aumentando a velocidade em dez vezes. Tomando um gole de vinho atrás do outro, impiedosamente salpiquei os residentes de Essa e Aquelaldeia com uvas usadas como projéteis.

— Ha-ha! Ah-ha-ha-ha-ha-ha! Ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha!

Bem, quem diabos poderia ser essa garota, rindo feito um demônio enquanto derramava sua fúria desenfreada sobre os aldeões?

Isso aí. Euzinha.

Então, bem.

Posteriormente, fui informada sobre o incidente, mas a verdade é que não me lembrava dele. Mesmo achando que tal desastre de fato tenha ocorrido.

Acordei sob um céu azul deslumbrantemente brilhante, com dor de cabeça e, quando me sentei, vi as pessoas de ambas as aldeias caídas, cobertas de uvas, e uma Rosemarie perplexa resmungando consigo mesma com lágrimas nos olhos: “Sinto muito, não vou mais fazer isso.”

Perguntei à garota assustada o que havia acontecido e fiquei sabendo da cena que eu havia causado. O fato é que minhas memórias foram abruptamente interrompidas depois que a puxei para fora do armazém e, quando voltei a mim mesma, estava sob o céu azul. Olhando para o estado atual das coisas, porém, parecia certo que, assim como ela disse, tinha acontecido uma batalha de uvas.

— Ugh… Minha cabeça está doendo. Parece que está rachando.

Me levantei, segurando a cabeça, e cambaleei em direção à casa do chefe da aldeia.

Não havia nenhuma maneira de pisotear uvas enquanto estava sentindo tanta dor. Bem, uma vez que todos os aldeões estavam derrubados e cobertos de pedaços de uva, eu não tinha razão para isso. Além do mais, não havia mais uvas. Estavam todas esmagadas no chão.

Vamos nos apressar e sair daqui enquanto todos, exceto Rosemarie, estão inconscientes.

Provavelmente estariam com ódio de mim, não importava quantas uvas eu tinha pisoteado, e eu tinha certeza de que tinha feito o bastante para merecer o desprezo de todos, mesmo não podendo lembrar de nada.

Bem, eu deveria ter ficado feliz por ter evitado de fazer algo irritante.

— Minha cabeça está doendo…

Depois de trocar de roupa na casa do chefe da aldeia, peguei minha vassoura e saí voando, ainda fedendo a uvas.

Minha primeira experiência com o consumo de álcool me deixou com nada além de uma terrível dor de cabeça e algumas memórias nubladas.

— Desde então, todos os anos nesta época, nossas aldeias jogam uvas uma na outra.

— Uh. Foi mal, Vovô. Por que a sua história terminou desse jeito?

O velho disse com naturalidade:

— A batalha de uvas que tivemos naquela época foi surpreendentemente divertida, então nossas aldeias passaram a fazer isso todos os anos, na época da colheita, como uma forma de aliviar o estresse. E quando o fazemos, não sei por que, mas nossa colheita de uvas melhora, assim como a nossa produção de vinho.

— Uau… — Depois de balançar a cabeça várias vezes, o garoto inclinou a cabeça. — Ah, ei. Mas o que aconteceu com a Rosemarie…?

— Ah, é aquela Rosemarie que pisoteia uvas lá em Aquelaldeia. Ouvi dizer que, depois do incidente, ela voltou a fazer o próprio trabalho. Que boa garota.

— E ela ainda é uma donzela pisoteadora de uvas?

— Sim.

— Mas ela já não está na casa dos trinta?

— Ela está envelhecendo igual um bom vinho.

— …

O velho não conseguiu conter as lágrimas com a triste realidade do que acontecera com Rosemarie.

— Bem, essa é a história da tradição que nossas duas aldeias mantiveram pela última década.

O garoto acenou a cabeça em compreensão, então voltou a se inclinar.

— A propósito, Vovô, o que é essa garrafa de vinho que você está segurando?

Era diferente da que o chefe havia segurado na história.

Vinho de Alta-Qualidade de Essaldeia.

Eu fiz isso com todo meu ódio e irritação.

ORIGEM: ELAINA, A BRUXA CINZENTA

Então vi o rótulo, no qual estava impressa a foto de uma garota pisoteando uvas com um sorriso odioso no rosto.

— Ah, isso? Este aqui… este é o vinho feito pela bruxa da história que acabei de lhe contar.

— Você não vai beber isso?

— Isso mesmo. Seria um desperdício.

Um sorriso incomensuravelmente perverso e um rosto adorável. Isso, junto com a imagem dela realmente pisoteando as uvas, fez o vinho ser vendido por uma quantia absurda, mas por algum motivo, as pessoas ainda o compraram.

No final, o vinho de uva da Bruxa Cinzenta, comercializado como uma safra de alta qualidade, se esgotou em um instante.

Vendo que perder a chance de conseguir uma garrafa seria como perder uma oportunidade única, o chefe da aldeia discretamente comprou uma unidade. Mesmo agora, ele cuida bem dela, não ousando beber o vinho. Dizem que ele valoriza aquela garrafa acima de tudo.

Quanto ao estado atual dessa safra em particular, devido ao seu artesanato tradicional e produção limitada, raramente é encontrada nas mãos de qualquer um, exceto dos mais ávidos entusiastas e tem um preço excepcional.

 


 

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