Enquanto a garota na vassoura voava pelo ar desolado do outono, as plantas brancas e fofas, que estavam espalhadas pela terra, balançavam a cabeça em desaprovação.
— Oops…
Foi por pouco.
Ela diminuiu um pouco a velocidade, só para danificar os campos de algodão.
Sua característica mais marcante era seu cabelo cinzento. Essa garota era uma bruxa e uma viajante. Ela usava um robe preto e um chapéu pontudo, bem como um broche em forma de estrela no peito, um que servia como prova de sua capacidade. Como sempre, estava voando em sua vassoura sem se importar com o mundo.
Então, esta bruxa, que prontamente desfrutava de todos os luxos que apenas a verdadeira liberdade poderia oferecer, quem diabos poderia ser?
Isso mesmo. Euzinha.
— …
Estava voando em direção ao pequeno país que podia ser visto além dos campos de algodão. Enchi meus pulmões com o ar do verão tão fugaz quanto os algodões balançando sob mim, e o vento estava suave, moderado.
Céus, que país peculiar!
Essa foi minha elegante reação após dar algumas voltinhas. Assim que percebi um detalhe específico, se tornou tudo em que consegui me concentrar.
— …
Em ambas as direções, havia príncipes e princesas até onde a vista alcançava.
Cada pessoa que vi parecia ser extremamente abastada.
Enquanto vagavam pela cidade, todas as princesas usavam belos vestidos, e os príncipes estavam todos trajando capas extravagantes.
O que está acontecendo?
— Um, com licença?
Chamei um príncipe que estava por perto e tentei obter algumas respostas.
— Sou apenas uma viajante de passagem, mas poderia me dar um minuto?
— Hã? Ah, eu? — O jovem era muito tímido e parecia confuso, mas ainda assim parou de andar.
— Sim, você. Um, está havendo uma festa à fantasia ou algo assim?
— Não que eu saiba…
— Então me diga: por que todas as pessoas que eu vi estão se vestindo como se fossem da realeza?
— Como se fossem da realeza…? Eu acho que isso é bastante normal.
— Entendo.
Em outras palavras, roupas chamativas devem ser normais neste país. Eu provavelmente deveria pedir uma segunda opinião, só para ter certeza. E preciso mesmo pensar em uma maneira de encerrar essa conversa e então seguir em frente.
— Já entendi, muito obrigada. Bem, já vou.
— Ah, claro. Não há de quê.
Rapidamente me afastei do príncipe que não parecia estar entendendo a situação.
Fui até o centro da cidade, mas como era de se esperar, o bando real não acabou.
Princesas no meio das compras, príncipes e princesas conversando em cafeterias. Ahhh, é o suficiente para fazer minha cabeça girar!
Não havia escapatória à vista. Mesmo se eu olhasse diretamente para cima, veria anúncios retratando pessoas em roupas extravagantes em placas penduradas em um prédio que parecia uma catedral.
O próprio país era refinado, mas todas as pessoas que viviam nele faziam isso parecer particularmente deslumbrante. Imaginei como seria mais fácil olhar para tudo se eu tivesse um óculos de lentes escuras. Quando a inovação e modernidade chegará a isso?
De qualquer modo…
Depois de olhar para um anúncio em particular, finalmente tirei uma conclusão sobre o estado deste país.
— Um, com licença.
— Sim?
Desta vez, falei com uma princesa que estava por perto.
— Sou uma viajante e quero saber; por acaso esse estilo de roupa é popular neste país?
A garota fez uma expressão confusa.
— Hã? Ah, sim. É a última tendência.
— Entendo.
É por isso que todo mundo está se vestindo assim.
A princesa concordou. Parecia que ela também tinha chegado a algumas conclusões.
— Achei que você parecia terrivelmente estranha, mas você não é daqui, é…? Ha-ha.
Me pergunto no que ela está pensando. Seu sorriso parece um pouco condescendente.
— Há algo de estranho com a minha aparência?
— Bem, é um pouco diferente.
— Será que esta é a primeira vez que vê um robe?
Ela balançou a cabeça.
— Não. Mas os magos deste país não usam robes, então é por isso que eu disse que você parece um pouco diferente.
— Não usam robes?
— Isso mesmo. Costumam usar o que está na moda.
— …
Isso não parece o tipo de coisa de magos…
— Bem, eles usam chapéus pontudos. Então as pessoas ainda podem dizer que são magos.
Um chapéu pontudo e roupas da moda definitivamente iriam ficar em conflito…
Entretanto, assim que ela mencionou isso, eu tive certeza de que vi algumas pessoas usando chapéus pontudos misturadas com as outras que usavam roupas de aparência aristocrática.
…
E vi alguns magos muito, muito estranhos.
Essas roupas realmente não combinam…
— Então eles aderiram à última moda, hein…?
— Sim. Digo, ninguém gostaria de ficar usando roupas ultrapassadas. Além disso, você não acha que são ótimas?
— São deslumbrantes.
— Não são?
Eu não estava realmente elogiando a moda, mas a garota parecia satisfeita.
— De qualquer forma, posso perguntar mais uma coisa? — perguntei. A garota, que estava de bom humor por um motivo que nunca saberei, assentiu com entusiasmo. Exatamente o que eu queria. — Quem decidiu que ternos, vestidos e coisas do gênero seriam a tendência neste país?
— Hmm? Não tenho certeza. Isso ficou popular antes de percebermos.
— Uhum.
Em outras palavras, você acabou se deixando levar pelas tendências.
Entendo, entendo.
— Muito obrigada. Aprendi muitas coisas.
— Claro… Ah, é mesmo. Se você estiver interessada nas últimas tendências, seria bom ir àquela loja ali, Senhorita Viajante. — A garota vestida como princesa gentilmente indicou o próximo lugar que eu deveria visitar.
Era do outro lado da grande avenida onde estávamos.
Havia uma loja de roupas tão grande que poderia ser confundida com uma catedral, exibindo muitos anúncios.
— Bem-vinda… Minha nossa. Será que você é uma viajante?
Quando entrei na loja, uma mulher usando um terninho simples apareceu para me cumprimentar.
Ela deve trabalhar aqui.
Decidi fechar os olhos para sua suposição imediata de que eu era de fora da cidade.
— Sim, olá. Ouvi boatos de que esta é a loja mais badalada do país.
— Ora, ora! Bem, isso com certeza é verdade. Você veio de outro país para procurar as melhores roupas formais? Se sim, temos algumas recomendações…
Quando confirmei que era uma estranha, os olhos da balconista brilharam e ela fez um discurso de vendas caprichado.
Deslumbrante, deslumbrante. A propósito, tem algum óculos com lentes escuras aqui? Não? Entendo.
— Ah, é muito raro ver uma viajante.
Enquanto eu me deixava levar até o centro da loja, uma velha, com a cintura toda torta, apareceu dos fundos, apoiando-se em uma bengala.
— Ah, a gerente — disse a funcionária.
A velha que havia sido chamada de gerente arrastou-se até nós.
— Você está procurando alguma moda local?
Balancei minha cabeça.
— Não, de forma alguma. Só estou curiosa.
— É mesmo? Bem, tenho certeza que você encontrará algo interessante… As tendências daqui sempre são as mais modernas, sabe.
— Uhum.
— A propósito, o que você acha do ponto de vista de uma viajante? Sobre nossas roupas, quero dizer. Recentemente, começamos a exportar para outros países.
— Bem, honestamente, acho isso incrível. Tenho certeza de que é necessário muito trabalho para fazer grandes quantidades e uma grande variedade de estilos.
— É mesmo?
— Sim.
Dava para ver, apenas olhando para o estado do país, que tinham recursos suficientes para que até o povo comum pudesse facilmente obter belas roupas ao estilo aristocrático, e estava claro que também não faltavam alfaiates talentosos. E, claro, era preciso paz e prosperidade para desenvolver uma extensa história da moda. Este país devia parecer uma mina de ouro para os mercadores estrangeiros.
— A propósito, de onde você vem, Senhorita Viajante?
— De muito longe.
— E há quanto tempo está viajando?
— Bastante tempo.
— Uhum… Pois bem — continuou a velha, ainda olhando calorosamente nos meus olhos. — Nesse caso, você deve ter visto todos os tipos de roupas de vários lugares diferentes.
Eu tive uma breve premonição do que aconteceria.
— Bem, na verdade não estou viajando para estudar moda, então não sou muito versada…
A velha deu um passo para trás, quase imperceptivelmente.
Quando ela fez isso, a balconista que estava ao seu lado girou até atrás de mim e me agarrou pelos ombros.
— Mas, Senhorita Viajante, mesmo que você não seja muito versada, viu roupas ao redor do mundo com seus próprios olhos, certo? Fico com tanta inveja.
— …
Isso não parece bom.
Minha rota de fuga foi completamente bloqueada, e a velha na minha frente estava diminuindo a distância entre nós.
Certo, estou oficialmente com medo.
— Mal posso esperar para ouvir tudo sobre os países que você visitou, Senhorita Viajante. Ee-hee-hee! — O rosto da velha se enrugou de tanto rir.
E então fui levada para uma sala mais ao fundo da loja, onde um monte de roupas bagunçadas estava jogada.
— Uhum… Então, os modelos de roupas daquela região eram mais ou menos assim?
— Um… sim. Bem, mais ou menos.
— Entendo. E como eram as roupas nos países orientais? Tenho algumas roupas que alguém que viajou para aquela região trouxe há alguns anos… Ah, sim, aqui está. É assim?
— Sim, isso mesmo. Ouvi dizer que o nome disso é quimono.
— Usam tecidos muito bonitos nessas roupas… Essa textura brilhante com certeza seria difícil de fazer com algodão. Você sabe como é feito?
— Não faço ideia…
— Hmm… a propósito, e quanto ao país vizinho?
— Passei por ele.
— Que tipo de roupa estava na moda? Por favor, me diga tudo que você consegue lembrar, viu?
— Desculpe, eu não sei. Digo, para começar, pareciam estar usando roupas completamente comuns. Se estavam na moda…
— Ee-hee-hee, Senhorita Viajante, você diz umas coisas estranhas. Não existe “roupa completamente comum”. No mundo da moda, o “comum” não existe. Tudo o que existe é a singularidade de cada indivíduo.
— Nesse caso, o seu país não é meio… diferente?
— Hmm?
— Digo, seguindo essa teoria, o povo deste país não tem nenhuma individualidade…
— Hmm?
— Foi mal, quem falou não está mais aqui.
— Nesse caso, tenho algumas amostras aqui… De qual você gosta mais?
— Dessa do meio.
— Essa é a que estou vestindo.
— Ah, você estava falando sobre as roupas que está segurando em suas mãos, hein? Então prefiro a da direita.
— Entendo, entendo. Então tudo certo. Agora…
Dessa maneira, fui obrigada a falar sem parar.
Depois que a mulher arrancou todos os detalhes que eu lembrava, aos quais eu geralmente não prestava muita atenção, fiquei muito, muito cansada. Parecia que minha cabeça iria explodir.
Depois disso, consegui passar o resto do dia sem que nada digno de nota acontecesse.
Talvez seja hora de ir para o próximo país…, pensei enquanto observava o nascer do sol no meu quinto dia no mesmo lugar.
Escovei os dentes, tomei o café da manhã e fiz os preparativos para minha partida.
Desci até a recepção da pousada e devolvi a chave do meu quarto. Pouco antes de eu sair, a velha que cuidava do balcão me disse algo estranho.
— Ah, senhorita, você está tão na moda. Não esperaria menos de uma viajante.
Mesmo assim, até o dia anterior, eu tinha sido desprezada por todo mundo que me viu pela rua, todos achavam minha aparência estranha.
Independentemente das minhas dúvidas, assim que saísse da pousada seria tudo esclarecido.
Voltei pela estrada pela qual tinha andado nos dias anteriores, e quando retornei à grande avenida onde ficava aquela loja de roupas, misturada com os aristocratas de sempre estava… eu.
E quando digo eu, quero dizer pessoas vestidas exatamente como eu.
Olhei para cima e vi que as placas e anúncios haviam mudado, e agora mostravam uma garota que se parecia comigo, vestindo o mesmo robe, com as palavras: AQUI ESTÁ A PRÓXIMA TENDÊNCIA!
…
— Então, a viajante de antes estava realmente à frente do tempo… Tch. — Ouvi uma mulher que parecia por algum motivo irritada.
— Que fofa — disse um homem que estava olhando para o novo anúncio.
— Agora que você mencionou, acho que essas roupas são muito mais práticas…! — Havia muita gente correndo em direção à loja.
— Uhul! Peguei o último modelo! — Alguém saiu da loja animado, vestindo um robe.
E havia uma enorme variedade deles.
Senti uma sensação de alívio com a diminuição de roupas incrivelmente ornamentadas, mas ver todos vestidos como eu foi um pouco… Bem, isso me fez querer cobrir os olhos.
De qualquer forma, exatamente o que está acontecendo aqui?
Eu não conseguia entender.
— Ee-hee-hee! — Antes que eu percebesse, a velha senhora de antes estava parada ao meu lado. Ela olhou para a loja fervilhando de gente com olhos gentis.
— Ah, oi. Você não deveria estar na loja?
— Está tudo bem, está tudo bem. Trabalhei até não aguentar mais por vários dias, então queria tirar uma folga pelo menos pela manhã.
— Uau, você deve estar cansada — disse antes de fazer minha pergunta real. — Então me diga por quê.
— Por que o quê?
— Você obviamente modelou a “próxima tendência” baseada em mim. Por quê?
— Ah, deve ser sua imaginação. Ee-hee-hee! — Ela se esquivou da pergunta.
— …
— Bem, foi meio que por coincidência e meio que por capricho. Eu estava pensando em fazer roupas neste estilo desde o começo, mas… as suas eram tão legais, Senhorita Viajante, então adequei o meu modelo a elas.
— Posso receber alguns royalties pelo uso do meu modelo…?
— Se você puder me provar que é a estilista, então sim. Bem, sim, suponho que foi errado te usar nos anúncios sem nem pedir permissão. Aqui, vou te dar isso como compensação.
Vi uma centelha de ouro entre os dedos da velha. O objeto plano e brilhante caiu como se atraído por minhas duas mãos abertas.
Era uma peça de ouro.
— É uma honra ser o destaque da sua publicidade.
— Não é?
Depois de cuidadosamente guardar a peça de ouro em minha bolsa, balancei a cabeça.
— Mas você realmente fez tantos itens em apenas alguns dias?
— Existem muitos magos no nosso país.
— Entendo.
Eu poderia facilmente imaginar um grupo de magos usando magia para fabricar grandes quantidades de roupas de todos os tipos de cores.
Esses magos agora estão vestidos como eu, hein…? É meio bizarro, parece até algo que se veria em um filme de terror.
— Mas isso é estranho, não é?
A velha analisou o caos ao redor de sua loja. Seus olhos bondosos revelavam um toque de tristeza.
— Quero que nosso país seja o pioneiro de novos estilos, mas assim que faço roupas novas e as libero para o público, sinto como se um fardo pesado tivesse sido colocado sobre meus ombros. Mesmo devendo estar vários passos à frente da concorrência, é como se estivéssemos sempre ficando para trás.
— …
— Bem, ainda assim, já estou bem ciente do que estamos fazendo de errado.
Quando se tratava de roupas, todos podiam usar o que quisessem. Quanto a mim, gostava das roupas de segunda mão da minha mãe, então as usava o tempo todo. Se a velha estivesse certa, se houvesse tantos tipos de roupas quanto de pessoas, talvez usar ternos e vestidos elegantes pudesse representar a personalidade de alguém. Mesmo que outras pessoas apontassem, rissem e dissessem que parecia estranho, ninguém poderia mudar a própria autenticidade.
Acho que era isso que a velha estava tentando dizer. E foi isso que a deixou tão inquieta. As pessoas deste país só se preocuparam em seguir as últimas tendências. Em outras palavras, não havia nada de individual em seu estilo.
Isso era triste.
— Você acha que devo mudar a maneira como faço as coisas, Senhorita Viajante?
— O que é mais importante para você? A moda ou a individualidade das pessoas daqui?
— A moda, é claro.
— Nesse caso, acho melhor não mudar.
— Não é? Ee-hee-hee. — A velha riu de mim.
Então é isso. Quanto tempo será que essa nova moda vai durar? Infelizmente, não estarei por perto para ver a próxima grande novidade.
No entanto, eu tinha certeza de que um novo viajante chegaria em breve e, involuntariamente, iniciaria uma nova moda, assim como eu.
Uma eternidade passada perseguindo tendência após tendência.
Coincidentemente, essa cultura havia fundado este país, e era assim que esse lugar continuaria a ser preservado para sempre.
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