Um…
Quando foi que vi aquele homem? Onde foi?
Está tudo borrado.
Não tenho tanta certeza.
O conheci por coincidência, em um lugar extremamente comum. Bem, uma vez que não nos falamos, acho que seria melhor dizer que nos cruzamos.
O lugar, se bem me lembro, era uma estrada que ligava um país ao outro. Não me lembro de nenhum detalhe específico. Só que estávamos em uma estrada. Isso é tudo.
Ah, mas devo ter passado por ele na estrada portão afora, já que foi por ela que cheguei neste país.
Agora que penso nisso, tenho certeza de que viajei até aqui por essa estrada.
A hora… Isso mesmo, foi por volta do crepúsculo. Não, talvez fosse no começo da manhã… Sim, provavelmente, era de manhã cedo.
Cheguei aqui à tarde. E como aquele homem cruzou comigo no caminho até aqui, provavelmente era de manhã.
Algo tipo isso? Meu raciocínio dedutivo não é tão ruim, hein? Eh, você não se importa? Ah, então é isso?
…?
Sim. Tenho certeza. Tenho certeza que cruzei com aquele homem na estrada. O que há de tão confuso nisso? Afinal, foi você quem me perguntou.
E aqui estava eu planejando dar umas voltinhas, desfrutar de uma visita de lazer…
Quanto ao homem que você está descrevendo… Tenho certeza de que ele estava indo para aquele país – um país normal, nada fora do comum.
Digo, o normal também é bom. Gosto de ir com calma de vez em quando. E aquele lugar era o mais normal possível.
Mas este país é diferente, não é?
Hã? Que cara é essa? Uhum. Você só pode estar brincando.
Não espera que eu acredite que um sujeito tão espalhafatosamente vestido pudesse vir de um país perfeitamente comum, espera? Este lugar deve ter algum segredo maluco, certo? Que emocionante.
Hã?
Ah, agora que você mencionou, você está vestido de um jeito normal… Por quê?
Aquele homem que era anormal? Ah, então é isso…?
E então.
O soldado à minha frente, com uma expressão particularmente desagradável, continuou:
— Vou confirmar mais uma vez… Tem certeza de que encontrou um homem com essas características? Na estrada fora da cidade?
Ele estava segurando uma imagem. Ela retratava, cheia de detalhes, as roupas bizarras do homem com quem cruzei na estrada. Era uma roupa tão estranha que tive dificuldade para conter o riso.
O que é isso? Sério?
Que tipo de pessoa andaria por aí vestindo aquela fantasia ridícula? Se fosse eu, morreria de vergonha. Se usasse algo do tipo em público, a desgraça me assombraria para sempre.
No entanto, no desenho, um detalhe crucial – o rosto do homem – era retratado por um borrão. Conforme eu olhava, aquilo não podia ficar ainda mais confuso e, no final, não consegui me lembrar de suas características faciais.
Olhando para um lado e para o outro entre o pedaço de papel e eu, o soldado perguntou:
— Você consegue se lembrar do rosto dele…?
— Não, de jeito nenhum — respondi. — A propósito, o que diabos esse homem fez?
— Furtos. Ele roubou todo o ouro do cofre dos cidadãos mais ricos do país em que conseguiu colocar as mãos.
— Uma pessoa vestida… assim conseguiu fazer isso?
— Sim.
— Acho que não podemos julgar um homem pela aparência…
— Sua aparência é uma fantasia.
Verdade.
Então, com um suspiro, o soldado dobrou o pedaço de papel em quatro partes e o guardou no bolso. Parecia que o questionamento havia acabado.
— Obrigado, senhorita — disse ele, dando-me uma saudação.
Imitei sua pose e disse:
— Sem problemas. Eu simplesmente fiz o que qualquer um faria… a propósito, ajudei em alguma coisa?
O soldado retomou sua expressão de dor.
— Bem… imagino. Saber para onde o criminoso foi definitivamente pode ser chamado de progresso, mas… — Suas palavras foram evasivas.
— Qual é o problema?
Ele terminou a saudação.
— Estamos coletando relatos de testemunhas oculares e, infelizmente, nenhuma pessoa foi capaz de se lembrar do rosto do criminoso.
— …
Ah, entendi.
— Isso significa, em outras palavras…
— Sim. A única coisa que conseguem lembrar é daquela roupa bizarra.
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