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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 08 – Cap. 07.3 – A Noite em que Choveu Poeira Estelar

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Quanto à questão de como exatamente a bruxa de cabelos esbranquiçados havia conseguido entrar sorrateiramente na parte de trás da grande biblioteca, bem, sua aparição nos mostrou a resposta no devido tempo.

 — Heh-heh-heh… — Com um sorriso ousado, ela lançou um feitiço sobre si mesma.

Imediatamente, ela se transformou em um pequeno rato.

Entendo, ela deve ter pensado que seria fácil entrar como um rato.

De fato, uma vez que ninguém parecia notar ela agora que estava transformada, o ratinho pôde correr a vontade nas profundezas da biblioteca. Embora eu estivesse a observando no futuro, seu truque era bastante óbvio.

 — Squeak, squeak! —  Mm-hmm, entendo! Parece que eles estão escondendo todo tipo de coisas aqui atrás, o rato parecia querer dizer enquanto corria cada vez mais para o fundo da biblioteca.

 — Squeak, squeak! — Oh? Aonde esta porta poderia levar? …É muito suspeito, o rato parecia querer dizer enquanto se transformava de volta em humano.

 — …Suspeito.

Então a bruxa estendeu sua mão em direção à porta, mas parecia estar bem fechada e havia uma grande fechadura instalada perto do puxador. Ela não abriria, independentemente se fosse empurrada ou puxada.

Mesmo assim, diante de uma bruxa, uma fechadura ou qualquer outro artifício era inútil.

 — Hyah!

A bruxa lançou um feitiço na fechadura e a quebrou como se não fosse nada, e então abriu a porta.

Foi aí que a aparição se dissipou.

 — ……

 — ……

Ficamos lá, de pé naquele lugar, com apenas uma porta aberta diante de nós.

Provavelmente, ela esteve aberta assim o tempo todo, aqui mesmo, desde que a bruxa havia visitado vinte e dois anos atrás.

Sem muita hesitação, fomos para dentro.

No entanto…

 — …Não há nada aqui. — Fran sacudiu a cabeça, olhando ao redor da sala.

 — …Realmente não há — concordei.

Estava completamente vazio.

A grande sala estava forrada de estantes, mas não havia um único livro em nenhuma delas.

Eu estava certa de que esta sala estaria repleta de segredos, mas…

Poderíamos ter errado o lugar?

 — …Entendo, disse alguém.

A voz de alguém, ao nosso lado, ecoou enquanto estávamos ali, perplexas.

Era a voz da maga de antes. Aparentemente, a visão não havia terminado.

 — …Eles estão escondendo bastante livros, hein?

E aparentemente o que estávamos vendo era totalmente diferente do que ela estava vendo.

Ela se aproximou de uma das prateleiras e agarrou um livro em sua mão.

Sem se preocupar conosco a observando do futuro, a bruxa encostou-se a uma estante e começou a ler ali mesmo.

 — ……

 — ……

Olhamos uma para a outra.

Se não havia nada aqui agora, então só havia uma maneira de aprendermos a verdadeira história. Sem trocar uma palavra sequer, nós nos inclinamos rapidamente, uma de cada lado daquela bruxa.

Estávamos espreitando por cima do ombro dela.

 — A propósito, você não acha que essa pessoa se parece muito com você…?

 — Ela não parece.

Continuamos a olhar atentamente o livro nas mãos da bruxa enquanto ela folheava as páginas.

Em suas mãos, uma história fluía.

Dizia-se que a história deste lugar começou há cerca de mil anos, quando choveram pedras sobre a floresta. Uma parte da floresta foi achatada pelas pedras que caíram, deixando o solo descoberto.

As pessoas que tinham vivido na floresta reverenciavam o súbito aparecimento das pedras do céu como um ato dos deuses e construíram suas casas ao redor daquele lugar.

Antes que alguém percebesse, este conjunto de casas desorganizado veio a ser chamado de Bielawald.

Dizia-se que as pessoas que vivem aqui testemunhavam um objeto estranho no céu a cada vinte e dois anos.

Um relato contemporâneo tinha isto a dizer:

Uma vez a cada vinte e dois anos, uma estrela desconhecida aparecia no céu noturno.

Era o cometa.

As pessoas dos tempos antigos não tinham nenhum conhecimento sobre cometas – quando começou a aparecer, aparentemente, pensavam que o surgimento de uma nova estrela era algo a se temer.

Eles não conseguiam entender por que ela aparecia, ou por que surgia apenas uma vez a cada vinte e dois anos.

Todos os tipos de coisas misteriosas começaram a acontecer depois disso. Por exemplo, as casas das pessoas desapareceram de repente. Ou os corpos das pessoas entravam em combustão espontânea. Flores nunca antes vistas brotaram do chão. Criaturas nunca vistas de antes apareciam do nada.

As pessoas que viviam em Bielawald na época não sabiam o que estava causando todos estes estranhos fenômenos, mas tinham certeza de que os deuses estavam com raiva. Então, numa primavera, eles decidiram começar a oferecer suas orações todas as noites para apaziguar a ira dos deuses. Mesmo assim, os estranhos fenômenos continuaram a acontecer em intervalos regulares.

O povo da cidade decidiu que era melhor oferecerem um sacrifício. Eles pensavam que era isso que os deuses exigiam. Então, as pessoas ergueram um santuário no centro da cidade e começaram a fazer sacrifícios lá sempre que o cometa aparecia.

A pessoa escolhida como oferenda sempre era uma jovem e pura garota. A menina seria colocada para dormir usando uma droga feita a partir das flores brancas, selada dentro do santuário e oferecida como sacrifício.

Naquela época, eles acreditavam que o ritual poderia evitar qualquer infortúnio. E depois que os sacrifícios começaram, os estranhos fenômenos deixaram de aparecer.

Em troca desta paz, meninas eram sacrificadas rotineiramente.

No início, nada mais era do que uma forma de reprimir a fúria dos deuses.

A tradição foi ameaçada quando a cidade começou a crescer e prosperar. Algumas pessoas, que não estavam lá quando os sacrifícios começaram insistiam que a prática era bárbara e ultrapassada. Os jovens que não se lembravam do tempo antes dos sacrifícios pensavam que o ritual não passava de um terrível desperdício de uma vida. Era natural que tivessem dúvidas, já que não se lembravam de um tempo antes dos sacrifícios.

No entanto, os adultos foram rápidos em silenciar aquelas vozes duvidosas. Eles acreditavam que a tradição era necessária e que se não fizessem um sacrifício pelo menos uma vez a cada vinte e dois anos, eles sofreriam ainda mais danos.

Mas as crianças que tinham suas dúvidas sobre a tradição nunca cessaram seus protestos.

Eventualmente, os adultos decidiram adotar uma política radical.

 — Devemos fazer uma oferta de sacrifício todos os anos. Se alguém expressar alguma apreensão a respeito, essa pessoa pode ser trancada no santuário como o sacrifício da primavera seguinte.

Todos foram proibidos de fazer qualquer pergunta sobre qualquer um dos costumes ou tradições. Os responsáveis pela cidade selaram qualquer livro controverso nas profundezas da grande biblioteca, e qualquer um que ainda tivesse dúvidas sobre as tradições da cidade foi morto no santuário.

E assim o tempo passou, mas nada mudou. Os costumes e convenções permaneceram enquanto os tempos avançaram e as pessoas continuaram a viver suas vidas. Por fim, não restava ninguém que soubesse a razão pela qual tinham começado com aquilo em primeiro lugar.

Somente a nojenta tradição de matar qualquer pessoa que questionasse o sistema continuou a ser transmitida ao longo dos anos.

Mesmo assim, muitas pessoas a questionaram.

Porque qualquer um que o fez foi morto.

O cometa continuou a rasgar céu noturno a cada vinte e dois anos, como sempre o fez..

 — …Entendo.

A bruxa fechou o livro e cruzou os braços, como se estivesse pensando. Depois, desapareceu.

A aparição havia terminado, e somente Fran e eu ficamos entre as ruínas.

 — ……

 — ……

Nós duas simplesmente ficamos ali, em silêncio.

Há vinte e dois anos, Fran havia sido escolhida como um sacrifício. De acordo com a antiga tradição, ela tinha sido destinada a morrer e foi trancada em um santuário.

Mas fato é que ela estar aqui agora. Certamente foi porque ela também havia sido pega por outro daqueles fenômenos estranhos que acontecia a cada vinte e dois anos — um evento conhecido por causar muitas coisas estranhas, como a combustão espontânea, ou o desabrochar repentino de flores brancas, ou o nascimento de criaturas desconhecidas.

 — Professora, você sabe quando o cometa vai aparecer de novo?

Supondo que Fran voltasse ao passado, isso teria que acontecer quando o cometa fosse visível novamente no céu noturno, algo que ela mesma parecia perceber.

Eu tinha pensado a mesma coisa.

 — Parece que muito em breve estaremos nos separando.

Ao contrário do passado, hoje em dia podíamos saber com precisão quando os cometas apareceriam, até mesmo o dia. Essa foi a razão de toda a excitação recente.

 — É hoje à noite — anunciei.  — Hoje à noite, o cometa aparecerá no céu.

Nossa despedida está muito próxima.

 

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Depois disso, concentramos nossos esforços no treinamento até que o sol se pusesse.

Ensinei a ela tantos feitiços quanto sabia; tantos quantos o tempo permitisse.

Bem, na verdade, eu a ensinei todos os feitiços que me foram ensinados pela Senhorita Fran durante meu tempo com ela.

 — Você realmente conhece todos os tipos de magia, não é, professora? — Fran perguntou durante numa pausa em nosso treinamento.  — Todas as bruxas são tão incríveis quanto você?

Bem, eu me pergunto…

— Há todo tipo de bruxa — respondi.  — Portanto, suponho que deve haver algumas que não são tão boas com a magia quanto eu.

 — …Você estava se gabando agora pouco?

 — Não, não, eu sequer sonharia com isso — rebati com uma falsa humildade.  — A razão pela qual conheço tantos feitiços é porque tive uma professora excepcional.

 — Que tipo de pessoa era sua professora, professora? —

 — Deixe-me ver… —  Depois de alguma hesitação, respondi:  — Ela é um pouco mais burra do que eu, o tipo de pessoa que foge das aulas para perseguir borboletas e que, normalmente, dorme durante toda a tarde. Quando comecei meu treinamento, mal conseguia aprender qualquer magia .

 — Entendo. — Fran acenou com a cabeça.

 — E ela era incrivelmente ruim na cozinha — acrescentei.

 — Isso é realmente uma porcaria, não é?

 — ……

 — Não importa o quanto eu aprenda sobre ela —  continuou Fran.  — parece que sua professora foi uma verdadeira idiota.

 — Sim, bem… Eu não vou negar isso. Ainda assim, ela era uma excelente professora. Isso eu posso dizer sem dúvida alguma. Tenho certeza de que, sem ela, eu não seria a pessoa que sou agora.

E assim continuamos nosso treinamento até o pôr-do-sol.

 — Não me resta nada para ensiná-la… Bem, não é para tanto, mas há um limite para quantos feitiços eu posso ensinar em apenas alguns dias.

Quando o sol começou a se pôr abaixo do horizonte, Fran e eu tínhamos posto de lado nossas varinhas. Nenhum de nós parecia ter mais nenhuma disposição para mais lições.

Queríamos passar essas últimas horas a nosso bel-prazer.

Sentamo-nos uma ao lado da outra em frente à grande biblioteca, contemplando o pôr-do-sol.

 — O que você fará quando voltar ao passado? —  perguntei, inclinando minha cabeça.

Fran murmurou:  — Hmm… Antes de mais nada, vou deixar este lugar. Eu não tenho muitas boas lembranças aqui, e além disso, sempre quis viajar. — ela respondeu, casualmente.

 — Fico muito feliz em ouvi-la dizer isso.

 — Sabe, pensei que já que eu a faço tão feliz, você poderia me dar algo como um presente de despedida, professora.

 — Que coisa presunçosa de se dizer…

Com um suspiro, peguei minha varinha. Então eu a movi junto a um grunhido e lancei mais um feitiço.

Um chapéu triangular apareceu do nada. O chapéu preto se parecia com o que eu costumava usar, com um design ligeiramente diferente. Foi o melhor que pude pensar em cima da hora.

 — Eu fiz o chapéu perfeito para você — lhe disse, enquanto o colocava na cabeça dela.  — Por favor, use isto e dê o seu melhor, mesmo depois de voltar ao passado.

 — ……

Ela provavelmente não tinha imaginado que eu realmente iria lhe dar algo. Parecendo bastante surpreendida, embaraçada e hesitante, Fran disse:  — O-obrigada, muito obrigada… —  E tocou o chapéu, sentindo sua textura.

 — Professora? —  disse ela alguns momentos depois, olhando vagamente para o céu escuro.  — Quando eu crescer, vou te ver de novo, ok?

E assim respondi:  — Certamente . Até lá, adeus.

Respondi com as exatas mesmas palavras que minha professora disse há tempos atrás.

E então Fran desapareceu com um sorriso.

 

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Quando voltei ao meu próprio tempo, fui saudada pela visão da cidade como sempre a tinha conhecido. O lugar não estava arruinado e abandonado. Havia voltado para casa.

A única coisa que parecia diferente era a maneira como as pessoas que me cumprimentavam se comportavam.

As pessoas da cidade ficaram naturalmente surpresas quando olharam para mim quando saí do santuário, quando viram a garota que deveria ter morrido.

Mas eles não reagiram com hostilidade.

 — Oh…! Que notável…! Ela está viva…!

 — Ah…! Maravilhoso! Verdadeiramente maravilhoso…!

O povo da cidade se aglomerou ao meu redor, chorando de alegria, e me acolheram calorosamente. Foi muito diferente de como eles me trataram quando me colocaram no santuário.

 — …?

Mas o que está acontecendo?

Aqui é outro lugar, e não Bielawald?

Eu não pude deixar de me perguntar.

Que diabos aconteceu enquanto estive fora no futuro?

 — ……

A resposta à minha pergunta estava no céu.

Inúmeros pedaços de papel estavam caindo debaixo das nuvens. Um deles pousou na minha mão. Foi um dos documentos que minha professora e eu tínhamos visto no futuro, expondo os segredos do país.

Todos os papéis que haviam sido escondidos há muito tempo na sala dos fundos da grande biblioteca estavam caindo do céu.

 — Como…?

Mas imediatamente após ter perguntado, eu percebi a resposta. No futuro, não tinha sobrado um único pedaço de papel na sala dos fundos da grande biblioteca. E a bruxa que eu havia conhecido nesse tempo estava obcecada em colocá-las em suas mãos. Portanto, enquanto eu estava no futuro, ela deve ter invadido e roubado todos eles.

Ela havia encontrado uma maneira de mostrá-las a todos.

 — Abram os olhos, seus ignorantes! A história deste país é muito mais brutal e bárbara do que vocês pensam! — gritava ela do céu.  — Vocês sacrificam crianças inocentes apenas por questionar suas crenças! É até aí que vocês estão dispostos a proteger suas tradições? Como vocês não puderam ver a corrupção escancarada que vem ocorrendo há tanto tempo?

Agitados pela bruxa no céu, as pessoas da cidade pegaram os papéis que haviam caído no chão, ou os pegaram no meio do ar, e tiveram um vislumbre da verdade que há muito havia sido esquecida. Foi uma bruxa que flutuava nos céus que os fez perceberem que suas tradições eram sem sentido.

 — Senhorita Bruxa…

Fora da multidão, eu murmurei enquanto olhava para a bruxa no céu.

Olhei para a mulher que era a imagem esculpida da professora que me havia ensinado magia.

 — ……

Meu murmúrio silencioso deve ter chegado aos seus ouvidos. A bruxa olhou nos meus olhos por um instante, e ela pareceu quase surpresa.

 — …Graças a Deus. Você viveu — disse ela.

Ela sorriu alegremente.

E então, não disse mais nada. Ela acabou de virar sua vassoura e voou para longe.

Venha à biblioteca novamente amanhã. Se você fizer isso, eu lhe direi todo tipo de coisas.

Foi quando me lembrei das palavras que ela havia me dito.

E assim eu…

…joguei fora o papel que estava em minhas mãos e corri atrás dela.

E foi assim que minha jornada começou.

 

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Eu estava sozinha.

Era isso que eu queria, na verdade: encontrar um lugar onde eu pudesse observar o cometa em paz, sem ninguém por perto para me incomodar. Imaginei que o cometa ficaria mais bonito dessa forma. Eu tinha acreditado que seria capaz de relaxar e desfrutar do espetáculo.

Mas esta era a primeira vez que eu estava sozinha desde que cheguei aqui. Porque ela tinha estado comigo o tempo todo, e por alguma razão, eu estava começando a me sentir só. Os ecos de seu tempo comigo estavam pesando em minha mente.

Em algum momento, eu também havia deixado de ver as aparições.

Eu estava sozinha, sozinha nessas ruínas, olhando para o céu solitário.

As estrelas cintilavam acima, mas não conseguia ver o cometa.

Era quase como se eu também tivesse sido abandonada pelo céu noturno.

Eu estava muito, muito só.

 — Que solitário…

As palavras que murmurei desapareceram no vazio da noite.

Ou deveriam ter.

 — Sério mesmo? Mesmo comigo estando aqui…

Mas uma voz respondeu às minhas palavras.

Eu me virei, surpresa.

 — ……

Ali estava uma bruxa de cabelos negros, longos e brilhantes. Eu me pergunto há quanto tempo ela estava ali.

 — Senhorita Fran…

Com certeza, lá estava ela.

Ela não era um sonho, nem uma ilusão. Ela estava bem ali, na minha frente.

 — Eu te disse que lhe veria novamente quando crescesse, não foi, Elaina?

 — Posso sentar-me com você? —  Antes mesmo de eu poder responder Fran sentou-se bem ao meu lado.

Eu não disse que você poderia sentar-se ainda, disse…?

Estava prestes a perguntar o que ela estava fazendo aqui, mas como se pudesse sentir o que estava em meu coração, como se pudesse ler minha mente, ela disse:  — Estava ansiosa por este dia há muito tempo.

E então, sorriu impecavelmente:  — Eu nunca teria imaginado que a pessoa que me ensinou magia se tornaria minha aluna.

Suponho que ela devia se lembrar de tudo esse tempo todo.

Mas se isso for verdade, há algo com o qual não estou inteiramente satisfeita.

 — …Senhorita, você nunca disse nada sobre me encontrar no futuro, disse?

Isso é sacanagem. Estou realmente irritada.

 — Céus, do que você está reclamando? Você fez a mesma coisa, não? Você não ficou calado sobre o fato de que você era minha aluna?

 — Não, eu lhe disse!

 — Oh, você disse?

 — Eu disse que tinha sido ensinada magia por uma professora maravilhosa, não foi?

 — Você estudou magia sob uma professora preguiçosa e inútil que apenas perseguia borboletas o dia todo; pelo menos é isso que eu me lembro de você dizer.

Ha-ha, parece que nos lembramos das coisas de maneira diferente, huh?

Bem, deixando essa questão de lado…

 — O que você fez depois disso, Senhorita Fran?

Eu podia mais ou menos imaginar que caminho a Senhorita Fran havia tomado depois de voltar ao passado, mas mesmo assim, não pude resistir.

Teria ela conseguido fugir do país depois de tudo isso?

 — As coisas, no geral, foram do jeito que você esperaria —  disse ela.  — Depois disso, deixei Bielawald para ir procurar aquela bruxa — minha professora –- e me candidatar para ser sua aluna . Aparentemente, ela tinha feito uma grande confusão e a polícia tinha tentado prendê-la, então ela deu fuga. Depois acabamos fugindo por um tempo juntas.

 — ……

Uma despedida bastante agressiva…

O portão da cidade nunca havia sido consertado. Provavelmente porque quando Fran conseguiu escapar, o lugar inteiro estava caminhando para a destruição completa.

Quando souberam da verdade, os cidadãos deixaram de temer os fenômenos sobrenaturais que estavam acontecendo em Bielawald e fugiram daquela cidade opressiva.

Depois que todos saíram, este lugar tornou-se apenas uma ruína.

Suponho que tenha sido isso o que aconteceu mesmo.

 — E então, durante vários anos, viajei com ela. Ao longo do caminho encontramos, por acaso, a garota que seria a minha irmã de consideração, e agora estou aqui ao seu lado.

 — …É verdade?

Eu não sabia como responder, então apenas olhei para o céu. Como sempre, aquele firmamento solitário estendia-se acima de mim. Não conseguia ver nenhum sinal do cometa, apenas um céu claro e estrelado.

Pergunto-me quando o cometa aparecerá.

Talvez sequer dê as caras…

Eu ainda estava olhando para o céu, lembrando de algumas memórias desconfortáveis, quando…

 — …Ah!

Finalmente, uma trilha de luz atravessou o céu estrelado e desapareceu.

Era uma estrela cadente.

Logo que aquela única estrela cadente começou a desvanecer, flashes brilhantes iluminavam a noite, um após o outro. Um show de estrelas cadentes corria pelos céus.

 — Huh, mas o que…?

Haviam tantas que era impossível contar todas. Havia tantos feixes de luz caindo pelo céu que parecia que estávamos testemunhando o fim do mundo.

 — …Céus. —  A Senhorita Fran observou o céu ao meu lado, fascinada, e disse:  — Isto é o que chamamos de chuva de meteoros.

Quero dizer, sim, eu sei disso, mas…

 — Por que está havendo uma chuva de meteoros quando viemos ver um cometa…?

Fran ponderou sobre minha pergunta por alguns momentos, fazendo um murmúrio enquanto pensava:  — Eu já ouvi falar disso antes. Algumas chuvas de meteoros são causadas por cometas que se quebram em pedaços. Os pedaços espalhados do cometa chovem como uma rajada de luz.

Ora, ora…

 — Você é certamente bem informada — pontuei.

 — Certamente. É natural saber sobre o lugar onde nasci, não é?

Talvez ela tenha feito algumas investigações sobre os estranhos fenômenos que ocorriam em sua cidade natal mesmo depois de partir.

E então, ela me contou todo tipo de coisa.

Aparentemente, depois que este país foi à ruína, ela havia visitado o lugar muitas vezes. De acordo com Fran…

Uma enorme rocha estava enterrada abaixo do santuário no centro da cidade. Quando a cidade foi fundada, as pessoas construíram suas casas bem acima daquela rocha, mas ninguém sabia que ela estava ali.

Como diz a história, a enorme rocha era um fragmento do cometa que aparecia uma vez a cada vinte e dois anos. Fran acreditava que quando o cometa chegava muito perto, este fragmento devia reagir com a energia mágica da floresta e causar os estranhos acontecimentos. Foi o que ela me disse.

 

 

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Entendo… Então o nome dela, a Bruxa do Pó Estelar, é bastante apropriado, afinal de contas.

 — Suponho que esse cometa não voltará a aparecer — sentada ao meu lado, ela parecia um pouco solitária enquanto falava.  — E suponho que este lugar nunca mais voltará a ser como era.

Já tinha caído em ruína há muito tempo, e agora havia sido esquecido.

 — Mas é bonito, não é? —  comentei.

Foi quando aquilo aconteceu.

Só por um momento, vi uma aparição de uma bruxa e uma maga caminhando lado a lado em direção ao portão da cidade, mas desapareceu com a mesma rapidez com que surgiu.

As aparições que tínhamos visto eram, provavelmente, ecos da cidade de antes de seu declínio.

 — Aconteceu alguma coisa, Elaina? —  Ao meu lado, a senhorita Fran tinha uma expressão confusa enquanto inclinava a cabeça.

Eu balancei a cabeça:  — Não —  respondi, e então olhei para a mulher de carne e osso respirando ao meu lado.  — Só um pequeno sonho.

 

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 — Me pergunto para onde devemos ir a partir daqui.

Depois de destruir violentamente o portão, ela — a bruxa de cabelos brancos — deixou-me montar em sua vassoura, e voamos para o mundo exterior.

Atrás de nós, pude ver os soldados de Bielawald ainda nos perseguindo. Ainda assim, não havia como os humanos comuns conseguirem alcançar a vassoura de uma bruxa, e cada vez que eu me virava para olhar, eles ficavam cada vez menores.

Logo esqueci da agitação da cidade quando a bela vegetação estendeu-se ao nosso redor.

Nós sobrevoamos os campos gramados que ondulavam como ondas suaves sob a luz solar brilhante.

Eu estava vendo o mundo exterior pela primeira vez, e era lindo e brilhante.

Aquilo me deixou sem palavras.

 — Não há nenhum lugar particularmente interessante para se visitar por aqui. E de qualquer forma, já fiz a ronda por todos os lugares próximos.

Minha atenção foi cativada pela paisagem, então a bruxa me ignorou e ponderou ociosamente sobre aonde ir em seguida. Vistas como esta deviam ser comuns para ela. Ocorreu-me que um dia eu também pensaria em tais vistas como comuns.

 — ……

A possibilidade me pareceu maravilhosa.

Ela se virou para mim com um sorriso e perguntou:  — Há algum lugar para onde você gostaria de ir?

Então eu sorri de volta e respondi:  — Enquanto eu estiver com você, eu irei a qualquer lugar.

 

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No dia seguinte àquele que observei as estrelas com a Senhorita Fran, nós duas deixamos Bielawald — ou as ruínas que costumavam ser a cidade — e adentramos num campo gramado.

Durante toda a noite, tínhamos falado de nossas viagens sem parar, e agora que nos sentíamos muito sonolentas, a luz do sol que brilhava sob o campo era deslumbrante e cegava nossos olhos.

 — E para onde iremos a partir daqui? —  A senhorita Fran perguntou com olhos estreitados enquanto olhava para o campo. Ela poderia estar perguntando para onde eu rumaria, ou talvez apenas ponderando seu próprio próximo passo.

 — Bem, quais são seus planos, senhorita?

Por isso, perguntei diretamente a ela.

 — Deixe-me ver… Por enquanto, planejo voltar ao Reino Celestelia, mas… aquele país é bem distante, então provavelmente acabarei fazendo alguns desvios pelo caminho.

 — É mesmo? —  Acenei com a cabeça.  — Nesse caso, suponho que haja uma chance de nos encontrarmos novamente, não é mesmo?

Afinal, ela poderia parar em lugares que eu ainda não tinha visitado em seu caminho para casa.

 — Suponho que haja — respondeu ela.  — E suponho que, se acabarmos visitando o mesmo lugar, podemos viajar juntas para o próximo também.

E viajando juntas de tal forma, podemos acabar percorrendo todo o caminho de volta juntas.

 — ……

Me parecia uma boa ideia.

Ela se virou para mim com um sorriso:  — Há algum lugar para onde você gostaria de ir? Então eu sorri de volta e respondi:  — Enquanto eu estiver com você, qualquer lugar está bom.

 


 

Tradução: Heu

Revisão: B.Lotus

 

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