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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 08 – Cap. 07.2 – A Noite em que Choveu Poeira Estelar

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Eu tinha certeza de que morri, e senti como se tivesse mesmo, mas quando abri os olhos, havia um enorme céu se expandindo diante dos meus olhos.

Eu estava olhando para um céu azul; tão claro que era cegante.

Quando estreitei os olhos e observei meus arredores, vi prateleiras de livros ao meu redor, estendendo-se para cima. Hera havia tomado conta delas, e estavam cheias de livros ilegíveis.

Tive a estranha sensação de que algo naquele cenário era algo familiar e, ao mesmo tempo, desconhecido.

Esse lugar era, sem dúvidas, a grande biblioteca. Apenas parecia completamente diferente da biblioteca de minhas memórias.

 — …Esse lugar…?

Onde diabos estou?

Quando me sentei, ouvi alguém falando ao meu lado.

 — Oh, está acordada?

Minha atenção foi atraída para a voz. Eu me virei, e vi uma maga de cabelos cinzentos olhando para mim.

 — Sinto muito, não sei como você dormiu naquele santuário, mas me senti mal em deixá-la lá, então te trouxe para cá.

 — ……

Eu realmente não tenho ideia do que aconteceu comigo.

Tudo que se sucedeu depois de eu ter visto aquela estrela estava nublado em minha memória, como se fosse um sonho ou uma miragem.

Sem o meu consentimento, fui selecionada para o ritual, e quando cheguei no santuário, meu corpo não me obedecia. As pessoas de minha terra natal tentaram me matar, e quando abri os meus olhos novamente, estava com uma estranha na biblioteca, cuja aparência não batia com o que lembrava. Essas memórias passavam tão rápido em minha mente que não sabia dizer quais delas eram reais, e até mesmo comecei a pensar que aquilo tudo era só um sonho.

Talvez a minha cabeça ainda estivesse fora do lugar por causa do odor no santuário.

— ….

Entretanto, não havia dúvidas de que me lembrava do terror que senti, e eu não conseguia me desfazer dele.

Estava com medo. Com medo das pessoas ao meu redor; as quais pareciam pensar todas a mesma coisa, com medo de estar sozinha; de ser a única pessoa que via isso como errado; Com medo de ter me transformado num alvo por culpa de minha curiosidade; Com medo da única pessoa que havia sido gentil comigo ter morrido há muito tempo.

Não conseguia fazer nada senão ficar com medo.

Minhas bochechas começaram a esquentar. Quando minha vista ficou borrada e meus lábios começaram a tremer, percebi que estava chorando. Selei meus lábios e tentei segurar as lágrimas, mas quanto mais insistia naquela resistência fútil, menos conseguia segurar o choro.

Estava ainda mais assustada do que eu pensava.

Enquanto eu, subitamente, havia me transformado num rio de choro, a maga que me olhava de cima ria desconfortável, enquanto acariciava gentilmente a minha cabeça. — Teve um sonho ruim, ou algo do tipo? — Ela perguntou.

Quando eu senti o calor de sua mão, quando soube que não era um sonho nem de uma ilusão, chorei ainda mais.

 

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A garota havia, repentinamente, se acabado de tanto chorar. Isso me fez pensar que havia feito algo insensível sem perceber. Quando ela terminou de chorar, no entanto, ela me contou, de pouco em pouco, sua história; não tinha a ver com algo que eu fiz.

Era a história de uma garota que havia sido acometida por uma má sorte descomunal.

A história de uma garota azarada, que havia se deparado com um perigo mortal unicamente por sua curiosidade.

Mas se sua história for verdadeira, se o que ela experienciou não foi um sonho ou uma ilusão…

— …Em outras palavras, você pertence a outro tempo — de vinte e dois anos atrás ou mais— , é isso mesmo?

O cometa só aparecia a cada vinte e dois anos, então significava que a garota era alguém que veio de, no mínimo, vinte e dois anos atrás; talvez duas ou três vezes mais tempo.

— É difícil acreditar numa história dessas tão de repente… — murmurei.

Primeiramente, como você conseguiu viajar vinte e dois anos no tempo?

Era isso que estava tentando entender, mas quando parei para pensar com calma, lembrei de quantas bizarrices encontrei desde que cheguei aqui.

Parece que esse lugar era abundante em fenômenos mágicos raros. Eu, essa garota e todas as aparições fomos certamente pegos no mesmo fenômeno.

Mas dentre nós duas, era a garota que menos conseguia esconder sua perplexidade diante da situação. Ela foi confinada naquele lugar, e quando abriu os olhos, décadas haviam se passado. Não era nenhuma surpresa ela estar confusa.

Coube a mim contar que sua cidade natal havia virado história há muito tempo.

Olhando na direção do teto despedaçado da biblioteca, sentada numa cadeira, ela murmurou: — …Então, nesse momento, eu estou no futuro?

Ela parecia calma, só que…

— …Isso é… Um sonho? Oww… — Ela beliscou a própria bochecha com toda sua força, e eu podia dizer pelas lágrimas em seus olhos que ela não estava tão calma assim.

 

 

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Desse jeito sua bochecha vai rasgar. Tá tudo bem com você?

— Que estranho… Isso dói… — Insatisfeita de só beliscar sua bochecha, ela começou a dar tapas em si mesma.

Você é masoquista, por acaso? Não parece muito bem.

— Pare. Você vai estragar seu rosto desse jeito. — A bochecha dela já estava toda vermelha e inchada quando finalmente falei para parar.

Ela olhou ao redor, com seus olhos chorosos, e grunhiu — Isso é real…? — Ela perguntou silenciosamente.

— Como pôde ver, sim, é. — Acenei com a cabeça. — As coisas ficaram bem mais quietas desde a sua época.

— … Aqui só caiu em ruína, não?

Isso mesmo.

— Foi isso que eu disse.

Talvez a garota de cabelos negros e eu tínhamos algo em comum.

Uma vez que as chamas de minha curiosidade eram acesas, era extremamente difícil de me conter, não importava o que eu fazia. Assim que alguma coisa chamava a minha atenção, ficava muito curiosa sobre aquilo.

Esse lugar não foi uma exceção à regra.

Me questionei sobre a razão por trás da ruína desse lugar. Essa biblioteca  era, definitivamente, o melhor lugar para procurar informações Por agora, estava pegando todos os livros mais conservados que pude achar nas prateleiras e comecei a lê-los um por um.

Imaginei que se pudesse descobrir a razão do porquê ter sido abandonada, poderia descobrir a chave para fazer essa garota voltar para o passado.

— Huh? Mas eu realmente não quero voltar para o passado.

— …..

Tentei uma tática diferente: — Bem, agora você tem muito tempo vago, não? Já que não tem nada para fazer, não quer ajudar na minha pesquisa?

Ela apenos inclinou a cabeça e perguntou: — Huh? Por que eu faria isso?

Estranho… Eu lembro dela sendo um pouco mais séria, mas…

— Olha, eu só investiguei isso porque eu estava interessada — continuou —, Eu realmente não sou uma pessoa estudiosa. — A garota rapidamente chacoalhou sua cabeça. Pelo menos ela estava sendo honesta. — Honestamente, se eu tiver escolha, eu quero dormir o dia inteiro.

Entendo. Aparentemente, ela só é muito preguiçosa.

Ainda por cima, ela aproximou seu rosto do meu e perguntou: — Por sinal, senhora maga, posso te pedir uma coisa?

Seus adoráveis olhos azuis vidraram-se nos meus.

E então, com seu rosto à queima-roupa, tão perto que eu podia ouvir sua respiração, ela me encarou e disse: — Poderia me ensinar como usar magia?

— Huh? Nem pensar. — Respondi na hora.

Como se pode ver, eu estou ocupada com a minha pesquisa.

— Isso não é bom. Me ensine, por favor.

O que você quer dizer com  “Isso não é bom”?

— Bem, agora você tem muito tempo vago, não? Já que não tem nada para fazer, então pode me ensinar magia, certo? — Ela disse, parecendo irritada.

— ….

Nós realmente tínhamos muito em comum.

— Por favor, ensine-me.

— Não.

— Eu disse para me ensinar.

— E eu disse que não, não foi?

— Se você não me ensinar, vou falar para todo mundo que você me sequestrou.

— …Mas não tem ninguém por aqui.

— Por favor, me ensine mesmo assim.

— ….

Nós ficamos nesse vai e vem sem sentido até que…

— …Se você me ajudar com minha pesquisa, então tudo bem. Eu vou te ensinar magia como recompensa.

Eu estava sendo cautelosa.

Sendo sincera, estava com alguns receios envolvendo sua viagem no tempo e a razão desse lugar ter caído em ruína, mas quando considerei a possibilidade dela retornar a sua própria época, me veio  a ideia de que ensinar magia a ela agora talvez a ajude lá atrás.

Embora não tenha certeza se ela poderia aprender magia ou não.

Só consigo me perguntar se ela ainda vai ajudar em minha pesquisa mesmo se ela descobrir que não pode usar magia. Se possível, gostaria de descobrir tanto a razão dela ter viajado no tempo quanto como impedir possíveis voltas ao passado enquanto ainda havia tempo.

— Aliás, você ainda não me disse o seu nome, não é? — Estendi a minha mão para ela. — Eu sou a Bruxa Cinzenta, Elaina. Sou uma viajante.

— …Obrigada

Ela apertou levemente minha mão e sorriu, parecendo um pouco tímida.

E então…

— Meu nome é…

E quando ouvi seu nome, não podia acreditar. Aquilo fez todo o resto — ela poder ou não aprender magia, o porquê dela ter vindo do passado, o por que de nós sermos parecidas — parecer trivial.

Essa garota, com seus cabelos escuros descendo até os ombros e seus amáveis olhos azuis, disse…

Ela disse…

— …Fran.

Só  “Fran”.

E sorriu para mim.

 

Separador Tsun

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A essa altura do campeonato, já havia entendido algumas coisas. Primeiro, a bruxa lazarenta conhecida como A Bruxa do Pó Estelar, Fran, a professora que me ensinou tudo que eu sei, havia se encontrado comigo no passado, e estava, aparentemente, mantendo isso em segredo de mim. Também havia o fato de que a garota na minha frente tinha que voltar ao passado de alguma maneira.

Quanto mais a observava, mais eu percebia que a garota em minha frente era, sem dúvida alguma, a minha professora, Fran. Eu só fiquei lá, parada em pé, pensando: Ah, então ela fazia esse tipo de expressão antes; ela não mudou nadinha, continua uma beldade, huh, wow.

Era seguro dizer que, naquela hora, eu estava tão confusa que não conseguia pensar direito.

— Elaina? Hm eu gostaria que você soltasse a minha mão… E ter você me encarando tanto assim é um pouco, um, sabe…

Fran estava inquieta e extremamente envergonhada. Quanto mais eu olhava pra ela, mais ela parecia ser ela mesma.

— …..

Ouvi-la me chamar de  “Elaina”  me fez sentir um pouco envergonhada. Emoções bem complicadas estavam começando a borbulhar nas profundezas do meu peito.

— …Ahem! — Dissipei esses meus pensamentos problemáticos. Assim que eu soltei sua mão, perguntei: — Certo, me escute. De hoje em diante, eu serei sua instrutora, então, por favor, me chame de “professora”.

— Entendido. Professora. — Fran concordou obedientemente.

— …..

A senhorita Fran está me chamando de “professora”…

— Professora, o que aconteceu? — Ela perguntou. — Você tá com uma cara meio…

— É-é só a minha aparência normal.

— Uh-huh… Você deve ter tido uma vida bem complicada…

Deixando isso de lado…

— Por agora, vamos nos programar — anunciei. — Vamos ter de balancear a minha pesquisa com as suas aulas práticas, então nós estaremos bem ocupadas.

Conduzir minha investigação enquanto ensino magia vai ser difícil, para não dizer ser um pé no saco. A melhor escolha seria dividir estritamente o meu tempo entre essas duas tarefas.

— Por enquanto, conduziremos minha pesquisa pela manhã até o começo da tarde — salientei. — Do começo da tarde até o começo da noite, nós iremos estudar magia. Parece bom para você?

— Eu odeio acordar pela manhã…

— Ugh, eu sei.

— Hmmm? Eu já te disse isso, professora?

— …..

Seria difícil explicar o porquê de eu saber que ela odeia acordar cedo, o que descobri quando conheci a versão dela do futuro. Ela era assim, e  imaginava que ela era daquele jeito desde novinha.

— …Não, foi só um chute mesmo… — respondi —, por agora, planejo acordar-lá assim que me levantar. Essa é a ideia.

Quando eu ainda estava em treinamento, acordar a senhorita Fran era parte de minha rotina diária.

Só isso não seria desafio para mim.

— Bem, já é de tardinha, então suponho que começará a me ensinar magia agora, certo? — Fran inclinou a cabeça.

— Sim, essa é a ideia — Acenei com a cabeça. — Está preparada? Quando digo para alguém que eu vou ensiná-los a usar magia, sempre ensino de forma apropriada.

— Estou ansiosa por suas lições.

— Diferente de certas pessoas, tratarei isso com seriedade. Prepare-se.

— …E de quem você tá falando?

— …Me refiri à minha própria professora.

— Sua professora não lhe ensinou magia do jeito certo?

— Bem… Sabe…

— Entendo. Deve ter sido bem difícil, huh?

— …..

Fran acenou com a cabeça repetidamente em sinal de concordância enquanto eu ficava lá de pé, quieta.

— Sua professora deve ter sido um pé no saco, huh?

— …..

Você só tá xingando seu eu do futuro, sabe?!

Eu abri a boca, mas não consegui falar isso.

E então, a cortina de nossa estranha rotina diária foi erguida.

Essa garota assumiria o papel de ser minha professora no futuro, então não foi nenhuma surpresa constatar que ela tinha talento para magia. Na real, ela era mais prodigiosa do que eu imaginava.

— Vamos começar praticando manipulação mágica. Vê esse copo com água? Sem tocá-lo tire a água.

— Tipo assim?

— …..

Fran rapidamente o fez, utilizando-se de uma varinha que lhe emprestei. Lá estava a água, flutuando no formato de uma bolha.

Como diabos ela consegue usar magia tão habilmente na primeira vez que ela toca uma varinha…?

O pensamento passou pela minha mente, mas era ultrajante, então eu fiquei calada.

— …Certo, agora, molde essa água em um formato esférico, como uma bola.

— Assim?

Fran rapidamente fez uma bola d’água flutuante.

— ….

Ela não parecia nem um pouco com uma Iniciante. Parecia saber o que fazer desde que nasceu.

Acreditei que ela teria pelo menos um pouco de dificuldade, mas…

— Certo, agora, vamos tentar usar magia de vento — Depois de distanciar o copo dela, eu disse: — Faça ventar nessa direção e derrube esse copo, por favor.

— Desse jeito?

— …..

Ela fez o copo voar para longe, e ele caiu com um ping!

— …Você tem experiência manuseando magia, por acaso? — questionei.

— …? Não, não tenho, mas…

Aparentemente, ela era um prodígio.

Oh-hoh, entendo, entendo. Ela é tão abençoada que faz parecer que todo o meu esforço foi uma piada.

Depois de ter se acostumado a manusear a varinha, Fran virou-se para mim e perguntou: — Hm, professora? É possível que, talvez, quem sabe, eu seja uma prodígio no uso de magia…?

— Huh? No que você tá pensando? Esse tanto de progresso é normal. Não fique se achando.

E lá estava uma bruxa muito malvada, usando do fato de que sua estudante era ignorante sobre o mundo para acabar com seu entusiasmo.

— ….

Ela é uma prodígio, simples assim. Seu talento para magia era inigualável, e parecia que ela seria capaz de aprender absolutamente tudo o que eu sabia, então meus ensinamentos seriam úteis quando ela voltasse ao passado.

Desde aquele dia, nós nos alojamos na grande biblioteca. O musgo e a mata haviam invadido todas as casas na região, tornando-as mofadas e inabitáveis. Então, não tendo outro lugar para dormir, decidimos ficar na biblioteca mesmo. Após encontrarmos e restaurarmos com magia duas camas, Fran e eu as colocamos lado a lado.

— E nós ainda iremos dormir na grande biblioteca… Que legal… É tão romântico.

Deitada em sua cama, Fran vislumbrava o céu estrelado enquanto sua boca tomava a forma de um alegre sorriso.

Encarando-a, comentei: — É gratificante saber que você está feliz. — E logo voltei à minha mesa.

— Não vai dormir agora, professora?

— Ainda tenho que continuar com minha pesquisa.

— …Não há nenhuma informação útil nessa biblioteca. Só há coisas que todo mundo já sabe.

— Bem, coisas que são senso comum para as pessoas daqui ainda são um mistério para mim — respondi. — Pode ir dormir logo, se quiser.

— ….

No breve silêncio que se seguiu, tive a sensação de que algo estava a incomodando e que estava tentando esconder isso de mim, mas ela devia estar cansada.

— …Vou fazer como você disse.

Logo depois de me dizer isso, o som da sua silenciosa e sonolenta respiração ecoou pela grande biblioteca.

A senhorita Fran que conheci era extraordinariamente preguiçosa, e ao que parecia, sempre foi assim. Na manhã seguinte, quando acordei na grande biblioteca, lá estava ela, roncando baixinho ao meu lado, aconchegada sob seus lençóis.

— Acorda. Já é de manhã.

— Só mais cinco minutinhos…

— Sem chance. Apresse-se e levante…

— Nãããão. — Fran afundou-se ainda mais naquele seu conforto.

— ….

Aparentemente, ainda estava longe de realmente despertar.

…Bem, ela manuseou magia pela primeira vez em sua vida ontem e ainda passou por aquela experiência aterrorizante, então… Talvez, só talvez, ela não tivesse culpa por dormir demais?

Criando justificativas esfarrapadas como essa para me convencer a mim mesma, acariciei sua cabeça.

— …Certo, então, farei minha pesquisa sozinha hoje.

Provavelmente estava só pegando leve com ela, considerando que abrandei o acordo assim logo no começo.

Se havia algo que ela… Que Fran lembrava-se com clareza e que ela me contou foi o fato de que, não importava o quanto eu tentasse achar algo nessa biblioteca, não encontraria nada.

Mesmo que haja a possibilidade de toda a informação ter sido censurada, ainda existiam chances dela apenas não estar acessível ao público. Aparentemente, qualquer informação que fosse prejudicial para o local não estava disponível ao público.

Se esse for o caso, eu deveria adiar a minha pesquisa na grande biblioteca. Vasculhar por aí parece ser bem mais vantajoso.

— Parece que a verdade sobre o que aconteceu aqui não vai se mostrar de forma rápida ou fácil, vai…? – falei para mim mesma antes de partir rumo à cidade..

As aparições que tenho visto desde que cheguei continuaram a aparecer constantemente, independentemente da hora ou lugar.

Antes de ter ido dormir, figuras de pessoas que nunca tinha visto antes começaram a aparecer com frequência.

— Ah, bem-vindos, bem-vindos! Nós abaixamos os nossos preços!

— Pergunto-me o que devia fazer para o jantar hoje…

— Com licença, acabei de me mudar para cá. Você poderia me dizer qual a direção do orfanato?

Não muito tempo depois, me encontrei indo em direção aos portões da cidade.

Era a mesma estrada que havia pego ontem, mas havia uma única coisa que não tinha notado: de acordo com as histórias de infância da Senhorita Fran, as pessoas daqui não eram muito amigáveis com estrangeiros. Sendo assim, qualquer um iria achar que os portões estariam sempre trancados.

Entretanto, fui capaz de entrar sem a menor inconveniência. Literalmente só precisei andar.

— ….

O portão havia sido destruído. Um enorme buraco estava disposto no centro dele.

— O que aconteceu aqui…? Nossos portões estão… — Alguém disse, de algum lugar, mas quando procurei pela voz, a aparição já havia sumido.

Em outras palavras, alguém abriu um buraco nos portões da cidade. Provavelmente foi isso que aconteceu.

Me pergunto quem no mundo poderia ter feito algo assim…

— ….

Após isso, fiquei lá, em pé, observando os portões por um tempo. Infelizmente, as aparições nunca surgiam quando eu estava olhando.

E então, nós duas adotamos novas rotinas.

Pela manhã, eu sacudiria o corpo da Fran, sussurrando para ela: — Acorda! Amanheceu! É de Manhã”! — e ela me responderia com um: — Só mais cinco minutinhos… — pedindo por algo que nunca aconteceria. Ranzinza, eu voltaria a trabalhar em minha pesquisa, declarando: — Certo, eu vou fazê-la sozinha, então. — Lá pelo começo da tarde, Fran começaria a me atazanar falando coisas como:, — Ok, agora, me ensine magia! — E com uma cara incrivelmente relutante, a fazia prometer algo que sabia que jamais iria cumprir: — Tudo bem, mas acorde cedo amanhã. — E começaria a ensiná-la magia.

Já havia lhe ensinado vários feitiços; tantos que ela ficaria bem mesmo quando voltasse ao passado.

Tinha a sensação de que era obra do destino.

Eu a ensinei tudo que eu sabia sobre magia para que, então, ela viesse a se tornar a esplêndida bruxa que se tornaria minha professora.

Sinceramente, senti que as horas dedicadas a ensiná-la valiam mais a pena que as horas que gastava em minha pesquisa; eram mais importantes do que descobrir a razão da queda desse lugar.

A razão por trás disso era, provavelmente, por sentir mais satisfação pessoal ensinando a pessoa que viria a ser minha professora do que procurando por algo que talvez nunca encontrasse, não importa o quanto procurasse.

— ….

Não, essa não é a única razão.

Com certeza, é uma forma de retribuir tudo o que ela fez por mim.

Fran era alguém muito, muito importante para mim. Ela foi a pessoa que me ensinou magia no passado.

Embora não tivesse nenhuma certeza de que me tornaria alguém importante para ela como foi a pessoa que a ensinou magia no passado.

 

Separador Tsun

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Seis dias se passaram desde que Elaina começou a me ensinar magia, mas nada mudou. Não importa se estava acordada ou dormindo, ainda estava presa no futuro.

Uma vez eu acordei na calada da noite, mas claro, ainda estava naqueles restos deploráveis da grande biblioteca.

Quando vou poder voltar?

Sempre que me deitava e tentava dormir, uma certa inquietação surgia dentro de mim.

Ainda não havia superado totalmente aquele trauma do passado. Mesmo que, superficialmente, parecesse perfeitamente composta, aquela memória horrível ainda me consumia por dentro. Era por isso que ignorava a minha professora, que ficava até tarde lendo os livros da grande biblioteca por conta de sua pesquisa e falava que eu deveria dormir.

Talvez ela soubesse disso, já que não me obrigava a acompanhá-la em suas pesquisas sobre a cidade e explorava sozinha pela manhã.

Sendo sincera, acabava me sentindo meio solitária quando ela não estava por perto, mas tinha certeza de que, se eu falasse qualquer coisa sobre isso, só iria causar mais dor de cabeça para ela.

Mesmo que estivesse grata por ainda estar viva aqui no futuro, eu tinha certeza de que irritaria minha professora caso me abrisse sobre os meus sentimentos. Então, estivesse eu dormindo ou acordada, continuaria agindo como se não ligasse para nada disso.

— ….

Se olhasse pelos buracos no teto, poderia observar as estrelas reluzentes até o amanhecer chegar. Nenhuma delas pareciam com aquela ameaçadora estrela do azar. Apenas um céu noturno qualquer estendia-se diante de mim.

Pergunto-me quantos anos se passaram desde que eu o vi pela última vez…

— Senhora? Perdoe-me, mas não é permitido que os clientes passem desse ponto em diante…

Isso aconteceu enquanto me perdia em meus próprios pensamentos. Uma voz surgiu no meio do nada; soando irritada e perplexa.

Eu saí da cama à procura da origem da voz, mas sequer havia necessidade. Toda a grande biblioteca tinha se tornado uma ilusão, tomando a forma que há muito tempo perdera.

— Oh, qual é. Você está tentando esconder algo de mim, não é? Não é?

Era a ilusão de uma maga interrogando a bibliotecária.

— Não. Eu já te disse, essa área da biblioteca tem acesso restrito ao público, mesmo que você ache que eu esteja escondendo algo ali…

A imagem da bibliotecária estava agitada, mas ainda assim, ela persistia em recusar a entrada da maga.

Já havia visto as duas antes.

Eu estava olhando para duas pessoas com as quais já conversei no passado.

— ….

Enquanto ouvia a conversa delas, acabei me lembrando do fato de que todos os livros desse lugar ou haviam perdido algumas de suas partes ou só continham o senso comum. Estava na cara que o governo censurava tudo que pudesse comprometê-los.

A maga deduziu que o que ela procurava era guardado nos fundos da biblioteca. Ela aproximou-se ainda mais da bibliotecária e indagou: — Não há absolutamente nada que possa fazer esse local parecer ruim. Você deve estar escondendo algo na sala dos fundos, correto?

— Acredito que não possuímos nenhum conteúdo assim… — A bibliotecária estava perplexa, mas não parecia saber de nada que fosse útil.

A maga estreitou os olhos, encarando intensamente a bibliotecária afrontada até que ela eventualmente falou: — …Bem, dane-se. Estou de saída.  — E partiu rumo à porta.

No passado, a passagem às salas do fundo era barrada pela bibliotecária.

— ….

Agora, porém, a biblioteca estava totalmente deserta. Seria fácil de investigar.

Pensei em contar isso para minha professora o mais rápido possível, mas quando olhei por cima de meu ombro, ela estava dormindo igual um anjo e não demonstrou nenhum sinal de que acordaria.

Será que deveria acordá-la… Eu deveria, certo? Certamente preciso contar isso para ela o mais breve possível, já que não tenho ideia de quando eu posso acabar voltando para o passado, certo?

Após um momentâneo debate interno, sacudi os ombros de minha professora, dizendo para a mulher adormecida: — Professora, professora!

Porém…

— Nngh…

Ela soltou um delicado suspiro.

— … Só mais cinco minutinhos. — murmurou.

Ela não acordou. Ela realmente não acordou.

Qual o significado disso? Certamente devo acordá-la, mesmo que eu precise bater nela, certo?

— Professora…

Eu sacudi seu ombro novamente, e então…

Um livro deslizou de suas roupas e caiu no chão com um thump. Eu peguei o livro lindamente encadernado, o qual provavelmente era uma posse pessoal dela. Tentada pela minha própria curiosidade, comecei a deslizar entre as páginas, indo contra o que seria certo. As páginas estavam preenchidas com uma linda escrita a mão.

— ….

Era um diário. Ela já deve ter preenchido inúmeros volumes, já que, infelizmente, não havia sequer uma menção do começo de sua jornada. Entretanto, ela havia escrito eventos recentes.

Desde eventos insignificantes do cotidiano, como ter comprado um pão muito gostoso, até histórias de encontros e separações, estava tudo aqui.

Havia relatos sobre a vez de quando ela encontrou-se com uma bruxa imortal. Noutra ocasião, ela se deparou com uma amiga numa certa cidade. Havia uma outra história de um aventureiro libertando escravos por aí. Tudo isso e muito mais havia sido escrito nesse diário.

O mundo afora, pelo qual tanto ansiava, estava todo descrito aqui, neste livro.

Ela também escreveu sobre o que aconteceu nos últimos dias. Mais especificamente, desde o dia em que nos conhecemos. Eu sei que não deveria estar lendo isso, mas a minha mão parecia trocar as páginas como se tivesse vida própria, e eu acabei lendo até a última sentença.

De acordo com o seu diário…

Mês XX, Dia XX

Suponho que é meu dever ensiná-la magia. É assim que me sinto.

Se possível, gostaria de ensiná-la tudo o que eu sei, mas, infelizmente, não faço ideia de quanto tempo nós ainda temos. Eu deixarei as minhas férias de lado por enquanto, e irei priorizar as suas aulas.

Posso conduzir a minha pesquisa sobre este lugar a qualquer momento, mas o tempo que posso passar com ela não será muito longo.

Então, fiz pouco progresso explorando.

Mês XX, Dia XX

Novamente, ela não levantou da cama nessa manhã, não importava o quanto eu esperasse. Pergunto-me se não há um feitiço que cure o sono de pedra dela.

Como esperado, seu talento para magia é excepcional. Ela está ligas acima de mim quando se trata de potencial dormente. Senti um pouco de inveja, vendo ela aprender todos os feitiços que eu a ensinei com tanta facilidade. Ao mesmo tempo, me fez sentir que talvez tivesse algum talento para ensinar.

Sobre a minha pesquisa, depois de dois dias, ficou claro que não há critério algum para o surgimento das aparições. Elas parecem ser desconexas do fluxo do tempo, e em todos os aspectos, não são nada mais do que fantasmas que aparecem e desaparecem; restos do passado da cidade. O que no mundo poderia estar fazendo eles aparecerem diante de mim?

Mês XX, Dia XX

Desde hoje, nosso terceiro dia juntas, percebi que houveram momentos em que seu rosto sombrio se iluminava. Parece que seu passado não vai assombrá-la para sempre. Isso é um bom sinal. Como sempre, estou um pouco irritada com o fato de que ela é ridiculamente boa com magia. Pondo essa questão de lado, após três dias sendo instruída por mim, ela deve, no mínimo, conseguir se virar numa luta contra qualquer ser humano normal que a desafie quando ela voltar ao passado.

Mas eu definitivamente não estou preparada para dizê-la sobre isto.

Minha exploração pela cidade, como sempre, não teve progresso. A procura de hoje, como sempre, terminou sem nenhuma pista sobre como fazer ela voltar ao passado.

Mês XX, Dia XX

Hoje é o quarto dia.

Nossos dias juntas continuaram sem nenhuma interrupção.

Eu gostaria de encerrar o relato de hoje rezando para que as coisas continuem assim.

Hoje eu tirei uma folga da exploração.

Mês XX, Dia XX

É o quinto dia.

Ela ainda estava aqui quando eu acordei. Parece que ela ainda não retornou ao passado.

Só quando a noite finalmente caiu que eu percebi que não havia explorado a cidade.

Mês XX, Dia XX

Esse é o sexto dia, mas ela ainda está aqui na grande biblioteca.

Suponho que amanhã vai ser a mesma coisa.

Uma parte de mim deseja que isso se torne verdade.

— ….

Minha professora é uma mentirosa, eu pensei. Ela me disse que estava ficando acordada até tarde fazendo sua pesquisa, mas ela não tava fazendo merda nenhuma.

Ao lado de seu rosto adormecido, enterrado na mesa onde estava, havia uma pequena montanha de livros sobre magia. Ela devia estar usando o tempo em que devia estar dormindo para estudar. Provavelmente estava tentando aprender novos feitiços para me ensinar. Talvez ela não desejasse que eu tomasse o que ela estava fazendo por mim como um favor, então manteve isso em segredo.

— …Muito obrigada, professora. — Eu disse enquanto acariciava seus cabelos. Isso era uma coisa que eu só a diria enquanto ela dormia.

Talvez fôssemos mais parecidas do que eu achava.

Estranhamente, isso não me incomodava.

 

Separador Tsun

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No dia seguinte, Fran acordou primeiro ao menos uma vez.

Um comportamento tão estranho vindo dela foi suficiente para me fazer pensar se era um mau presságio ou algo assim.

— Oh meu Deus, o que é isso? Um prenúncio de algum desastre natural?

Cheguei ao ponto de dizer isto em voz alta. Isso indicava o quão raro é ela acordar cedo

 — Heh-heh-heh… professora, eu não sou o tipo de pessoa que vai simplesmente sentar e deixar que peguem leve comigo…

Ela sorriu presunçosamente

Oh meu Deus… Se bem que não me lembro de ir com calma com você.

—  Hoje, reuni todos os meus sentimentos de gratidão por você, minha professora, e fiz um pequeno esforço.

Achei isso interessante, mas ela me deu um sorriso largo ao colocar uma coisa preta estranha na mesa e dizer: — Por favor, aproveite.

A coisa preta posta sobre a chapa fervilhava e emanava uma fumaça de uma cor nojenta. Era impossível olhar diretamente para o objeto misterioso.

— …Hum, o que é isto?

Olhei da mesa para ela, e ela sorriu.

— Eu fiz algo para você comer — respondeu ela.

— ……

O que é isso? É algum tipo de brincadeira ou algo assim?

Fran estufou o peito de orgulho. — Eu tentei realçar todos os sabores dos ingredientes crus! — Pensei que era provável que ela conseguisse um sabor melhor se jogasse os ingredientes diretamente no lixo.

— Exatamente que tipo de receita resulta em algo assim…? — Pensei em voz alta.

— Eh-heh-heh…

Ah, não, isso não foi um elogio…

Não tentei esconder minha careta, mas aparentemente, meus sentimentos não eram tão óbvios assim para Fran.

— Eu me empenhei de corpo e alma para preparar isso… — declarou ela, orgulhosa.

E pensar que o seu coração é tão negro assim… Esta é a primeira vez que eu soube disso…

— Por favor, vá em frente — disse ela, empurrando o prato na minha direção, incitando-me a comer — Estou planejando ajudá-la com sua exploração esta manhã, portanto, apresse-se e coma, por favor.

Bem, isso é uma coisa muito admirável de se fazer, embora não seja realmente necessário.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei com desconfiança. — Você levantou muito cedo esta manhã…

— Eu também vou crescer e me desenvolver, professora.

— Huh? Desenvolver?

Olhei para o prato que estava posto à minha frente.

Bem, suas habilidades culinárias certamente não vão melhorar se a Fran que conheci for alguma indício…

— O que foi, professora? Você realmente não parece muito bem…

— …Não, não é nada…

— De qualquer forma, apresse-se e coma, por favor. Não temos muito tempo. Acordei no meio da noite ontem, e sinto que posso ter uma pista sobre o desastre que ocorreu nesta cidade.

Inclinei minha cabeça, curiosa. — Oh? O que você quer dizer?

Fran me contou em um frenesi de palavras sobre a aparição que ela havia visto na noite anterior.

Tinha sido apenas uma cena: a de uma maga que tinha vindo aqui por acaso, pressionando um bibliotecário a ser autorizada a entrar nas salas dos fundos da grande biblioteca. A maga parecia reconhecer que tudo na parte pública da biblioteca estava fortemente censurado, o que significava que qualquer coisa relevante estava provavelmente escondida na parte de trás.

No entanto…

— Por acaso, a maga que você viu era uma bruxa com cabelo quase branco, cor de cinza, usando um manto preto e um chapéu triangular? —  perguntei.

— …! — Os olhos de Fran se abriram de surpresa. — A-afinal de contas, os magos podem ler a mente das pessoas…?

— …Não — balancei a cabeça e respondi:  — Na verdade, estou olhando para ela agora.

Apontei para os fundos da biblioteca. Ali havia uma maga solitária com um sorriso desonesto e murmurando consigo mesma sobre entrar sorrateiramente.

Fran deu um suspiro cansado.  — Ah… Então é isso…

Aparentemente, ela estava se sentindo desanimada.

No entanto…

 — O fato de uma aparição ter aparecido agora deve significar que é melhor nos apressarmos — eu disse.  — Já que não temos ideia de quando irá desaparecer novamente.

 — Ah, mas seu café da manhã… — choramingou Fran.

 — Vou comê-lo mais tarde, sozinha e em segredo — respondi.  — Como é uma refeição feita para mim pela minha preciosa primeira aluna, quero comer com calma — acrescentei rapidamente enquanto juntava minhas coisas.

 — Professora… — Fran parecia muito contente.

 — Bem, então, vamos lá.

Aproveitando a oportunidade de deixar para trás a misteriosa massa negra que Fran havia chamado de café da manhã, nós perseguimos a aparição da bruxa com o cabelo esbranquiçado.

 — A propósito, você não acha que aquela mulher se parece com você, professora? —

 — De jeito nenhum.

 — M-mas…

 — Não somos nada parecidas.

 

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Tradução: Heu

Revisão: B.Lotus

 

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