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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 08 – Cap. 02.1 – A Maldição da Imortalidade

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Quando nos encontramos pela primeira vez, ela já estava morta.

Isso não é nenhum tipo de figura de linguagem. Ela estava absolutamente, totalmente e literalmente morta.

Havia encontrado seu corpo durante minhas viagens enquanto ia para meu próximo destino. Tinha acabado de me lembrar — Ah, está ficando um pouco cansativo voar de vassoura. Talvez seja hora de tirar uma pequena pausa. —  E coloquei minha vassoura debaixo de uma única árvore que estava sozinha num campo aberto.

Já era outono e uma brisa fria soprava lentamente pelo ar.

Me sentei na sombra da árvore e abri o meu mapa da região para olhar minha rota enquanto descansava.

 — ….

Mas, aparentemente, alguém já tinha chegado aqui antes de mim. A bolsa de alguma outra pessoa estava debaixo da árvore.

Porém não tinha sinal de seu dono.

A bagagem parecia pertencer a uma mulher, e um par de sapatos femininos estava colocado bem ao lado da bolsa maior.

— ….

Ainda mais, tinha uma carta em cima da mala. Eu a peguei, pois estava praticamente implorando que eu lesse, e quebrei o selo.

A mensagem dentro era bem simples.

A vida não traz nada além de desesperança. Esse é o fim para mim. Adeus. Se alguém encontrar meu corpo, por favor cumpra meu desejo final. Me jogue no oceano.

                                                                       — Da viajante, Pequena Matryoshka

 

Era sua última vontade e um testamento.
— Suicídio…?
Poderia ser? Em um lugar com uma vista tão bela?

Inclinei minha cabeça em confusão quando ouvi, logo acima, os galhos da árvore estalando.

E e agora, o que pode ser?

Naquele ponto, ainda não tinha pensado na questão do quão anormal teria sido alguém deixar seus desejos num lugar assim… Então olhei para cima.

— ….

E lá vi a figura de uma garota com quase a minha idade.

Seu cabelo cor de coral era longo o suficiente para tocar em seus ombros, e assim como eu, usava um robe. Provavelmente tinha sido uma maga.

Seus olhos tinham um tom ouro desbotado.

Não conseguia dizer se o apagado era algo inerente, ou se era devido à sua condição.

— ….

Suas pernas balançavam gentilmente junto à brisa sobre minha cabeça.

Ela não estava usando uma vassoura. E não estava sentada num galho de árvore.
Havia amarrado uma corda em um galho grosso, enrolado em seu pescoço, e se pendurado. Deve ter tido muita desesperança em sua vida, assim como dizia a carta. Sendo aquela que achou seu corpo, acredito que ela iria querer que eu a jogasse no oceano.

No momento em que a conheci, ela já estava mortinha da silva.

Eu não tinha palavras. Infelizmente cheguei a ver alguns corpos mortos em minhas aventuras, mas uma morte por enforcamento ainda era a primeira vez.

Estou muito envergonhada de dizer isso, mas naquele momento,  meus olhos estavam arregalados com o choque, e não consegui fazer com que meu cérebro formasse um único pensamento.

Fiquei completamente apavorada. Até tremia um pouco.

— Hum… com licença?
Por isso, mesmo quando uma voz seca veio de cima da árvore, imaginei estar ouvindo coisas.

— Você aí, viajante… Eu gostaria de lhe pedir algo…

Olhei para cima no susto, e no momento em que percebi que a garota enforcada estava me encarando do alto, soltei um histérico “Huh?!”
— Esta corda está ficando um pouco desconfortável. Poderia me ajudar a descer…?

— Huh…?!

Aquela reação sem criatividade foi o melhor que consegui murmurar quando a garota pendurada pelo pescoço começou a me pedir ajuda de repente.

— Hmm… você está viva?

Eu fui aquela que levantou a questão óbvia.

Mesmo com o pescoço ainda amarrado pela corda, ela acenou agilmente.

— Infelizmente sim, estou viva, como você pode ver.

…..

Bem, ela consegue falar, então acho que realmente está viva.

 

 

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Com um corte único, cortei a corda e resgatei Matryoshka, ou qual quer que seja seu nome.
— Ah…. pensei que era o meu fim — disse com um suspiro. Era difícil dizer se estava falando sério ou não. — Bem, obrigada por me salvar. Me chamo Pequena Matryoshka.

Ela se curvou uma vez para mim. Seus olhos ainda pareciam turvos, mas a garota na minha frente estava claramente viva e respirando.

Mas nesse caso, o que no mundo presenciei mais cedo? Tive certeza que ela escolheu o suicídio devido a sua desesperança, igual dizia em sua última vontade e testamento, mas…

— Bem, isso é embaraçoso, mas sofro de uma doença que me impede de morrer. Mesmo se escolher executar a mim mesma… Por algum motivo, desde mais ou menos cem anos atrás, nada consegue me matar. Também não envelheço. É um verdadeiro problema. — Ela me disse enquanto ria e brincava com seu cabelo, como se estivesse com vergonha.

Ela não vai morrer… não, na verdade não consegue morrer.

Não era uma história fácil de se acreditar, mas a garota diante dos meus olhos não tentou dar nenhuma outra explicação.

— ……

Espera, mas…
Mesmo supondo por um momento que isso seja verdade…

— Então porque você tinha que se enforcar num lugar como este…? — perguntei em um tom repreensivo.

Você realmente pensou em fazer isso no meio de um campo aberto? Digo, o que você planejava fazer se eu não tivesse aparecido.

Matryoshka parecia um pouco envergonhada enquanto evitava o meu olhar.

— Bem… como posso dizer…? Veja, este lugar tem uma ótima vista, não tem?

— Isso é verdade, acho a vista realmente muito boa.

— Não é? Então a coisa é que, bem, já que sou imortal, não consigo sossegar em lugar nenhum, por isso estou sempre viajando.

— Uh-huh…

Certo…se você não envelhece e não morre por um século, é fácil ver o porquê de ficar viajando.

— Então por algum motivo, quando vejo um cenário tão bonito como este, de repente sinto uma enorme vontade de morrer.

— Oooo-kay…?

Huh? Do que ela está falando?

— Por isso, antes mesmo de perceber, já tinha colocado um laço no meu pescoço, sabe?

— Isso parece com um motivo terrivelmente banal para se matar…

— O desejo de morrer só veio até mim, sabe?

— Você… faz coisas assim com frequência?

— Não, não, claro que não! — Matryoshka riu. — Eu só tento me matar mais ou menos uma vez a cada três dias.

— Parece compulsivo para mim.

— Mas é claro, falho muito mais vezes… talvez uma vez por hora?

— É, definitivamente tem algo de errado com você.

De um jeito perturbador.

Me afastei da Matryoshka.

— Oh, verdade! — Disse ela, como se algo tivesse acabado de surgir em sua mente. Com uma expressão ansiosa, parecia ter tido uma ideia brilhante, continuou: — Pensando bem, você…um…

— Elaina, a Bruxa Cinzenta.

— Certo, Elaina, você é uma comerciante? — Então olhou sobre minha bagagem que estava amarrada à vassoura.

Hoje foi anormal. Eu geralmente não carrego tanto comigo, então isso deve ter passado a ideia errada para ela.
Balancei minha cabeça.

— Sou apenas uma viajante.

— Oh, uma viajante! Igual a mim.

— …… — Bem, isso era verdade, mas não fiquei muito emocionada de ser comparada a ela. — Sim, e o que que tem?

— Se não se importar, o que acha de viajarmos juntas até nosso próximo destino?

— Ehh… — Fiz uma careta.

— Vai ser ótimo, não vai? Vamos lá, é como eu sempre digo, nenhuma estrada ao inferno é longa com uma boa companhia!

— Você está extremamente entusiasmada para morrer, não é…?

E terrivelmente entusiasmada em me arrastar junto se conseguir… Isso é ainda pior…

Bem, brincadeiras a parte…

Isso não me pareceu uma brincadeira.

— Não sou muito boa em usar magia no momento, então vou ter de pedir que venha comigo.

Huh?

— Você não consegue usar magia, e daí?

Aonde quer chegar?

— Depois de morrer, meu corpo fica pesado por um tempo e não consigo usar magia muito bem, sabe.

—……

Talvez o motivo dela ter escolhido esse lugar para cometer suicídio foi ter pensado que poderia pegar uma carona com um mago de passagem que acabou ficando cansado de voar em sua vassoura e decidiu esticar suas pernas um pouco… Não, não poderia ser algo assim! Isso tem que ser coisa de maluco, certo? Certo?

Apesar de que também não tenho um bom motivo para recusar…  Afinal, odiaria ter que pensar nela se matando de novo se eu recusar, então…

— Aff…bem, tudo bem, certo — respondi irritada.

— Sério? Hooray! — Matryoshka jogou suas mãos para cima em um sinal de celebração. O gesto a fez parecer, mesmo que por um momento, uma garota de sua idade. Tive de lembrar a mim mesma que ela já tinha vivido por um século.

— Tudo bem, vamos lá. — Aprontei minha vassoura enquanto deixava um ar de relutância. — Tenho bastante bagagem comigo hoje, então você terá de se sentar em cima das minhas malas. Tudo bem?

Precisava comparecer a um compromisso, então no momento havia muita coisa amarrada à minha vassoura. Se vamos voar juntas, não havia outra maneira além dela se sentar em cima de tudo.

— Está tudo bem! Posso não parecer, mas estou acostumada a ser tratada como um objeto.

Enquanto falava, pulou em cima das malas.

— Ser tratada feito um objeto?

— Sim, digo, já aconteceu muitas vezes na verdade. Depois de me matar, as pessoas costumam me confundir com um defunto normal e me jogam dentro de um caixão.

—……

Não tinha certeza do que fazer com essa informação.

— Mas é claro, não é como se eu simplesmente me matasse por impulso, sabe? Mas me arrependo da minha juventude tola.

— ……

Você se esqueceu de como acabou de ser enforcar?

— Pensando bem, nunca me matei usando magia…

Ignorando Matryoshka enquanto ela murmurava coisas sem sentido atrás de mim, lancei minha vassoura no ar. Quando chegamos no nosso destino, Matryoshka já tinha murmurado duas vezes “…! Aposto que eu morreria se pulasse dessa altura, né..?”

……

Levou duas horas para chegarmos lá

 

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Quando finalmente chegamos na fronteira, o guarda de lá disse “Bem-Vinda! Elaina, a Bruxa Cinzenta, eu presumo? Estávamos à sua espera!” enquanto olhava para mim e minha bagagem, depois se curvou. Nesse momento, o lugar que eu estava visitando — a República Anroonie — já tinha sido informada da minha chegada.

Enquanto visitava o país vizinho, tinha sido comissionada para transportar algumas malas para Anroonie. Em outras palavras, as pessoas deste país não estavam exatamente me esperando. Para ser mais exata, estavam esperando a chegada da bagagem que estava amarrada à minha vassoura.

— Oh, e essa jovem moça seria… sua companheira de viagens?

É claro, ele obviamente não tinha ideia de quem Matryoshka, a garota sentada em cima de todas as malas, deveria ser. Encontrei com ela no caminho, afinal.

— Sim, é minha companheira — acenei com a cabeça.

— Isso, sou um peso morto. — Matryoshka também acenou.

……

A gente tem mesmo certeza que essa menina não tem nenhuma doença que a  faça morrer se não estiver pensando constantemente sobre suicídio…?

Bem, mesmo se ela considerar o suicídio, no fim, é imortal, então não consegue morrer. Eu realmente não entendo.

— Entendido! Então vocês duas, a bruxa e o peso morto, certo? Bem-vindas, bem-vindas!

No fim, o guarda queria tanto o que tinha dentro das bolsas que nem se importou com quem as trouxe e rapidamente permitiu a entrada de duas pessoas, uma bruxa perfeitamente respeitada… e Matryoshka, que estava agindo de forma incrivelmente suspeita.

Este lugar é maluco também…?

 

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Então, desde que chegamos na República Anroonie, tinha certeza que nosso tempo viajando juntas tinha chegado ao fim, mas Matryoshka continuava me seguindo, não mostrando nenhum sinal de deixar o meu lado por nenhum momento

— O que tem dentro de toda essa bagagem?

— São remédios — respondi. — Aparentemente, tem algum tipo de doença rara pelo país, e eles têm importado medicamentos de outros lugares.

— Doença rara?

Matryoshka inclinou a cabeça em confusão e olhou em volta para a cidade.

Havia pessoas andando para cima e para baixo pelas ruas. Com uma cara feia, tossindo enquanto andavam. Pessoas sentadas nas esquinas, olhando para o céu. Pessoas cambaleando, parecendo poder cair a qualquer momento… Havia também algumas normais, pessoas que pareciam saudáveis entre eles também, mas com tantos que pareciam não estar bem, era visível um ar bastante melancólico.

— Acho que as pessoas andando aqui fora são aquelas cujo sintomas são mais leves. Assim que piora, não devem conseguir mais sair.

— Entendo… — Matryoshka tinha um sorriso de orelha a orelha.

— Por que você parece um pouco animada…?

— Oh, é que nunca experimentei morrer por alguma doença.

— A propósito, por quanto tempo você planeja continuar me seguindo…?

— Para onde você vai depois daqui?

— …… — Desviei meu olhar dela e apontei para o outro lado da estrada. — Vou levar os medicamentos para a prefeitura.

— Então está tudo bem se eu ficar com você um pouco mais?

Uhhh…

— Tudo bem, contanto que você não esteja pensando em fazer nada imprudente…

— Não se preocupe. Só estava pensando em fazer eles me infectarem um pouco com aquela doença.

— E você não acha que isso conta como imprudente…?

— Ah-ha-ha — Ela riu diante da minha irritação e então respondeu: — Para mim, conseguir cumprir um desejo de morte é algo cotidiano.

Me pergunto quantos anos ela gastou cometendo suícidio vez após outra?

— Que maneira horrível de passar seus dias…

— Sim, eu queria ser libertada dessa maldição, mas… ah tudo bem.

—……

Tentei pensar qual significado poderia estar contido nessas palavras, mas não precisava de tanto para entender, então simplesmente respondi: — Gostaria que você, por favor, parasse de tentar se matar na minha frente, okay?

— Pensando bem, não dizem que um gato vai encontrar um lugar para se esconder quando a hora de morrer se aproximar?

— Por favor, também evite tentar imediatamente depois de se separar de mim…

 

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Na prefeitura, um gato miava.

— Por que meu inimigo mortal está em um lugar como este…?

Era de minha natureza evitar gatos, então no momento em que abri a porta da prefeitura, levantei minha guarda.

Sentindo minha apreensão, Matryoshka inclinou a cabeça em perplexidade — Huh? O que está acontecendo?

— Oh! Estávamos esperando por você, Madame Bruxa. Esse é o medicamento prometido? — disse um oficial do governo. Ele solicitou que entrássemos sem prestar muita atenção ao meu comportamento.

Digo, ele nos acompanhou, mas é mais como se tivesse levado os remédios para dentro.

— ……

Imaginando que onde quer que fossem nos levar era além da entrada, fiz uma expressão séria e me permiti ser empurrada para dentro do prédio.

Fomos encaminhadas à uma sala de recepção, onde me sentei em frente ao oficial e entreguei as malas.

— Este é o medicamento solicitado.

Com um baque, derrubei uma quantidade considerável de medicamentos sobre a mesa.

— Vejamos o que você tem aqui… — O oficial abriu um pacote e segurou uma das garrafas cheia de remédios em pó. Quando chacoalhou a garrafa gentilmente, o pó dentro fez um som seco ao se movimentar. — A propósito, Madame Bruxa, quem é sua companheira…? — O interesse do oficial mudou do medicamento para nós.

Imagino que queria saber se ela não causaria nenhum problema

— Essa é…

…apenas minha companheira de viagens. Era o que estava prestes a dizer

— Eu sou a Pequena Matryoshka, essa sou e-eu! — Quando fui interrompida.

—…!

Meu arqui-inimigo, de novo…

Lá estava Matryoshka, segurando a besta detestável que estava acampada na frente da entrada. “Miau, miau,” murmurou enquanto brincava com os membros dianteiros do gato. “Uh-oh, um soco gatinho!” Provocou enquanto cutucava minha perna com as patas dele.

Senti um arrepio e me tremi.

— Sério, o que você acha que está fazendo? — Dei a ela minha melhor bronca. Minha expressão era especialmente horrorosa porque estava contendo um espirro.

— Bem, era tão fofo que eu só… — Matryoshka ignorou minha cara irritada descaradamente.

— Ha-ha-ha, é fofo, não é? — O oficial do governo pareceu pensar que nossa conversa era uma brincadeira entre amigas ou coisa assim. Com um sorriso largo, disse: — Tem muitos amantes de gatos em nosso país, sabe, e eu definitivamente sou um deles.

 

 

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O que foi aquilo? Esse lugar é o inferno?

A garota ao meu lado não parecia ser alguém assim, mas disse: — Que lugar divino é este país!

Talvez eu conseguisse apreciar melhor o gato se apenas estar perto da coisa não me desse uma crise de espirros. Talvez até gostaria de acariciá-lo, mas como as coisas eram, era algo impossível.

— A propósito, o que você acha do remédio?

Eu voltei ao assunto principal, tentando não soar irritada ou chateada.

— Bem… Não consigo dizer se será efetivo ou não até tentarmos…

—……

Imagino que não.

— Mas mesmo com essa pequena quantia… se funcionar, pode não ser o suficiente para nos salvar agora…

O oficial colocou de volta o medicamento na mesa com um clunck.

— Infelizmente já há o dobro de pessoas infectadas em comparação ao que conseguiríamos tratar com esse remédio. Isso sem nem mesmo contar os futuros pacientes…

— É tão ruim assim…?

— Sim. — Ele acenou rapidamente com a cabeça para mim.

Então começou a me contar aos poucos a situação.

A República de Anroonie não tinha nenhum produto famoso do qual falar, e suas paisagens não tinham nada de especial. Em resumo, era um lugar inteiramente ordinário, mas havia uma coisa da qual a população tinha orgulho. Havia uma única, incrível e linda lagoa em Anroonie, no coração do país.

— Miau, miau!

Esse lindo corpo d’água era bem conhecido como a Lagoa Íris, nome dado graças a uma bruxa que uma vez ajudou a cidade a prosperar. Uma estátua da bruxa foi erguida na lagoa, da qual digo que a própria Íris encomendou a estátua de seu gosto. Um pouco antes de sua morte, ela ficou em frente à estátua e deixou para trás estas palavras: “A água desta lagoa deverá se tornar um remédio para curar todas as doenças. A água desta lagoa deverá se tornar água santa!”

— Miau, miau!

Incidentalmente, a bruxa Íris aparentemente morreu de morte natural, de uma doença comum.

Assim, a Lagoa Íris deveria estar cheia de água santa, mas depois que a bruxa morreu, a água ficou turva. Mesmo que uma vez tão lindas e límpidas que era possível ver tudo até o fundo, agora tinham um tom roxo sombrio. Até a estátua da bruxa Íris parecia lamentar o estado atual da lagoa e também dava a impressão de que estava prestes a colapsar.

Ninguém sabia por que isso estava acontecendo, mas uma coisa ficou clara. Quando a água ficou turva, uma doença rara se espalhou por Anroonie. A lagoa tinha se transformado em um pântano tóxico, e foi isolada do público. Porém, muitas pessoas já tinham bebido o veneno. A maior parte da população contraiu a doença.

Era um veneno estranho. Nem sempre resultava em morte. Não havia dor. Porém, quem o bebia logo perdia a habilidade de se mover.

Mesmo agora, um grande número de pessoas neste país estavam sofrendo, paralisados pela doença, disse o oficial.

— Miau, miau!

……

Antes mesmo de perceber, havia lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

— Você está chorando pela minha terra natal…? Que bruxa gentil você é…

O oficial começou a chorar, pego pela emoção.

— Não, não é o que você está pensando…

Enquanto escutava atentamente a história do oficial, Matryoshka continuou cutucando minhas bochechas ou meu braço com as patas do gato para enfatizar cada ponto importante. Minha alergia estava a todo vapor.

Certamente não estava com pena do povo daqui.

— De qualquer forma, obrigado pelos medicamentos. Não sei ainda se vai ser efetivo, mas… agora temos alguma esperança contra essa doença estranha.

Pelo menos, com essa troca, meu trabalho aqui estava feito, então estava pronta para seguir em frente, mas…

— Miau, miau!

Matryoshka, por algum motivo, estava apaixonada pelo gato e se recusou a sair da prefeitura até miar para ele…

……

…por vários minutos agonizantes a mais.

 

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— Que experiência horrível…

Quando deixamos a prefeitura, minhas pernas e braços estavam cobertos de arranhões finos, e meu corpo inteiro latejava de dor. Além disso, graças ao gato, meus olhos ainda estavam cheios de lágrimas, meu nariz escorria e eu não conseguia parar de espirrar. Era horrível. Queria me apressar e encontrar alojamento para que pudesse dormir.

Estava em um mau humor incrível, mas ao meu lado, Matryoshka estava de ótimo humor, até murmurava uma melodia.

— Você não gosta de gatos, Elaina?

— Obviamente não.

— Pensei que talvez você gostasse tanto deles que se enchia de lágrimas…

— Meu corpo os rejeita tanto que me encho de lágrimas…

— …

Depois de me olhar vagamente por um momento diante da minha irritação, Matryoshka disse:

— Certo, certo, então é um daqueles casos. Elaina, você é igual a como eu costumava ser.

— …? O que você quer dizer?

— Há muito tempo atrás, eu também não suportava gatos. Se um me tocava, eu começava a chorar.

—……

— Mas depois de passar um dia inteiro abraçando eles, fiquei boa! Agora sou assim! Não tenho nenhum problema, não importa o quanto os toque! — Matryoshka cantarolou, balançando suas mãos.

Que garota despreocupada.

— Bem, você não foi toda arranhada, foi?

Ela não tinha uma única ferida em seus braços ou pernas. Aparentemente, eu fui a única que o gato não gostou. Pestinha.

— Ah não, eu também fui arranhada bastante! — Não fazendo esforço algum para esconder seu bom humor, Matryoshka continuava andando à minha frente enquanto fazia essa declaração incompreensível.

— Você diz isso, mas a única coisa cobrindo seu corpo são pelos de gato. Não vejo arranhões em lugar algum.

Quando disse isso, ela rodopiou

— Isso é porque quando a Pequena Matryoshka se machuca, é curada na mesma hora.

—……

— Elaina, ser imortal e não envelhecer significa que volto à vida quando morro, mas também quer dizer que me curo imediatamente assim que me machuco. É por isso que sou assim… — Ela acenou as mãos para mim novamente. — Por um longo, longo tempo, não conheço machucados ou doenças. Acho que no momento em que qualquer anormalidade ocorre com meu corpo, ele volta ao estado original por si mesmo. Mesmo se eu for infectada com a doença, meu corpo provavelmente vai expulsá-la no mesmo instante. Também não envelheço. O mesmo ocorre quando me machuco.

Enquanto falava, Matryoshka puxou uma faca de seu bolso e pressionou contra a ponta do dedo.

— Veja.

Quando ela apertou a ponta contra sua pele, o sangue vermelho de seu dedo se agrupou junto à lâmina.

No entanto, o sangue parou imediatamente assim que puxou a faca, não fluiu mais, nem escorreu.

— Então pode ver como é chato ter um corpo imortal.

— Mas seu sangue não desaparece quando suas feridas curam?

— Isso mesmo. Mesmo que a ferida tenha fechado, ainda tem sangue, o que é estranho. — Ela olhou ao redor incansavelmente, e então perguntou, com um inclinar de cabeça. — A propósito, você tem um lenço ou algo do tipo? Parece sujo ter sangue em mim, queria limpar.

— Por que cortou seu dedo mesmo não tendo um lenço…?

Com um suspiro, limpei a ponta de seu dedo com meu lenço. É claro, depois de ter limpado o sangue, não tinha um único arranhão em seu dedo. Como se nunca tivesse sido cortado pela faca em primeiro lugar.

— Obrigada, desculpa. Vou te comprar um substituto, então por favor, me perdoe, heh-heh — Matryoshka riu

—……

No fim, pareceu que estava usando isso como uma desculpa para ficar comigo um pouco mais, mas tudo bem.

— Claro, está bem…

Já que estava nisso, usei o lenço nas feridas que havia conseguido com o gato também.

Antes de continuarmos nosso tour pela cidade, arremessei o lenço, manchado com nosso sangue, em uma lixeira por perto.

Um lenço ensanguentado era apenas lixo, no fim das contas.

Então, o resultado de tudo isso foi que tive de jogar o meu lenço fora, e como dito antes, Matryoshka iria me comprar um novo, por isso partimos para procurar nas muitas lojas e boutiques pela cidade. Contudo, no meio do caminho em nossas compras, cedi à um desejo e fiz uma sugestão.

— Honestamente, me faria mais feliz se me comprasse um livro ao invés de um lenço…

— Huh? Um livro? Tudo bem então. Qual você quer?

— Tudo bem, esse aqui.

A livraria em que fomos tinha uma autobiografia da bruxa Íris, então fiz a Matryoshka me comprar ela.

Depois fomos juntas a uma cafeteria.

Na Cafeteria, Matryoshka sentou-se na minha frente e estava encarando a autobiografia da bruxa Íris que eu estava segurando em minhas mãos.

— O que vai fazer com um livro como esse? — perguntou.

— Pensei que poderia aprender alguma coisa sobre essa bruxa Íris.

Visto que os medicamentos que trouxe obviamente não seriam o suficiente para solucionar a epidemia, tinha certeza que amanhã receberia um pedido, ou de ir para outro lugar e conseguir mais remédios, ou de encontrar alguma forma de ajudar com a crise. Por isso, pensei em  me adiantar e aprender um pouco sobre a fonte desse problema — a Lagoa Íris. Esse livro deve conter algumas dicas.

— Você está levando isso a sério. — Matryoshka descansou seu queixo em suas mãos e me encarou com um olhar bobo em seu rosto.

— Matryoshka, você viveu por um século. Nunca visitou um país infectado por uma doença como essa?

— Nunca, nunquinha. — Ela respondeu francamente. — Afinal, posso ter vivido por cem anos, mas isso não significa que sou muito melhor que o pessoal jovem vivendo agora, como você, Elaina.

— ……

— Por um século, sabe, eu… basicamente só joguei fora meu tempo.

— …….

— Então, se você espera que eu possa emprestar um pouco de sabedoria ou informação, é melhor pensar de novo, Elaina. É perda de tempo esperar tanto de mim.

— Você certamente não pensa muito bem de si mesma…

— Por que eu deveria? Não é como se eu tivesse feito algo além de viver um longo tempo. — O tom dela era irreverente, mas não importava o quão alegre se comportava, quando a encontrei, estava pendurada pelo pescoço… Ela provavelmente não tinha a menor expectativa de si mesma, também.

— ……

Eu ainda estava em silêncio. Para desviar meus olhos da garota se colocando para baixo, voltei minha atenção para meu livro.

Havia todo tipo de coisa escrita na autobiografia, da formação de uma Íris mais jovem, de suas muitas conquistas até os dias atuais. Continuou e continuou. Até mencionou que Íris imbuiu a lagoa com magia medicinal quando disse:  “A água desta lagoa deverá se tornar um medicamento para curar todas as doenças. A água desta lagoa deverá se tornar água santa!”

O apêndice contornou precisamente os ingredientes que foram colocados no medicamento da lagoa.

 

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Tradução: Vinyell

Revisão: Matface / NERO_SL

 

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