[Dia Cinco: Período da Noite]
— Então é isso que está acontecendo. Acho que é óbvio que o alvo descobriu nosso plano.
Eu tinha ido para a padaria depois de me separar de Sara, onde me sentei com Ariadne, que finalmente acordou e compartilhei todos os detalhes de nossa situação atual.
— Do que você está falando? — respondeu ela. — Não acho que descobriram…
— Como você pode dizer isso com uma cara tão séria?
A atitude arrogante de Ariadne definitivamente nos faria ser pegas. Embora, honestamente, quando concordei com esse plano, sabia muito bem que eventualmente seríamos descobertas.
Ariadne continuou, tomando seu café como no dia anterior.
— Mas ser pega pode ser uma boa oportunidade, em certo sentido. Nós finalmente conseguiríamos desmascarar aquela mulher.
— Bem, suponho que devo ser grata por ela ter escolhido amanhã — respondi. — Esperava resolver tudo isso até lá, de qualquer maneira.
Não queria que esta fosse uma guerra prolongada.
Afinal, Ariadne e eu não deveríamos estar naquela escola.
— Elaina. — Ariadne levantou sua xícara de café para mim enquanto falava. — Amanhã, vamos definitivamente resgatar aquela garota.
— Espero por isso. — A imitei e também levantei minha xícara.
— Dê o seu melhor.
Enquanto falava, Ariadne suavemente bateu na minha xícara com a dela.
Um som de tilintar silencioso encheu o ar entre nós.
Ondas de vapor subiram das xícaras e desapareceram.
[Dia Seis: Período da Tarde]
— Magia é tudo!
Um rugido estrondoso reverberou pela sala de aula.
Então, Vivian nos atacou de frente.
Ariadne agarrou meu blazer e eu a empurrei com força pelas costas enquanto nos esquivávamos da rajada de vento que se aproximava. O vento passou por nós e bateu na parede da sala de aula, abrindo uma rachadura profunda antes de diminuir.
Magia invisível de vento.
Sabia que se tivéssemos sido atingidas diretamente por tal feitiço, provavelmente teríamos sido esmagadas.
Era esse o nível de perigo dessa magia de vento.
Contudo…
— Você também ensinou aos seus alunos maneiras de combater a magia de vento, certo?
Balancei minha varinha. Imediatamente, uma névoa pálida saiu da ponta, espalhando-se rapidamente para encher a sala de aula. Tudo parecia branco e turvo.
— Assim podemos ver o movimento do vento, certo?
A coisa mais problemática sobre alguém que usa feitiços de vento é que eles são naturalmente invisíveis, mas se conseguir descobrir uma maneira de vê-los, não são realmente um grande problema. A névoa tornaria o caminho do vento bastante óbvio, para que pudéssemos facilmente nos defender contra qualquer tipo de ataque de vento.
— Agora, venha até mim de qualquer direção! — Fiz um desafio. — Vou repelir seus ataques sem derramar uma gota de suor!
Podia ver vagamente o contorno de Vivian no nevoeiro.
— Ora, ora… você realmente estava prestando atenção na aula, não estava? Que boa aluna. Como você é inteligente. — Uma voz soou na névoa. — Mas você está em apuros se achar que isso será o suficiente.
A névoa se agitou.
Eu podia ver todos os tipos de luzes piscando nas nuvens brancas nebulosas.
Não poderia dizer exatamente o que elas eram até que se aproximassem, mas reconheci um agrupamento de projéteis mágicos de alta potência.
Eles voaram para mim com força suficiente para cortar linhas através da névoa. Pilares de gelo. Bolas de fogo. Todos os tipos de armas se formaram a partir da luz.
— Se o seu oponente não pode ver, você também não pode, certo? — disse Vivian. — Bem, que tal isso? Você é capaz de me derrubar no meio de tudo isso?
— …
— Vamos lá, o que houve? — zombou ela. — Você só quer jogar na defensiva? Qual é o problema; não pode contra-atacar?
— Talvez você não deva desperdiçar tanta energia em brincadeiras inúteis!
Enviei uma rajada repentina de vento na direção da voz de Vivian. A névoa se abriu e, por um segundo, pude ver claramente o outro lado da sala de aula.
Não havia ninguém lá.
Ela se esquivou…?
— Não se esqueça que também estou aqui.
— …!
Uma voz nas minhas costas… e não era a de Ariadne. Estava muito fria.
Eu estava tão concentrada em procurar na névoa que, quando me virei, já era tarde demais.
— Você não pode fazer nada sem isso! — Sara de repente saltou da névoa e arrancou minha varinha. Ela devia estar tentando proteger sua professora, apesar de sua falta de magia, e assumiu que pegar minha varinha me deixaria impotente.
Mas…
— Claro, não esqueci de você.
Tirei uma segunda varinha do bolso da camisa e acertei Sara com uma rajada de vento.
— Ah… ugh…!
Sara saiu voando, ainda segurando minha varinha roubada. Ela caiu com estrépito entre as carteiras dispostas em volta da sala de aula.
Antes que pudesse se levantar, a prendi embaixo de um banco. Ela não me atacaria novamente.
— Você acha que os magos carregam apenas uma varinha?
Não houve resposta de Sara.
— Ela sabe melhor do que isso — disse uma voz ousada de algum lugar próximo. — Mas ela conseguiu ganhar tempo suficiente para eu chegar perto de você.
A esta distância, poderia vê-la muito bem.
Vivian estava com sua varinha bem na frente da minha garganta.
Aparentemente, parou bem atrás de mim sem que eu percebesse.
— … — Lentamente preparei minha varinha.
— Se eu ver outro movimento ameaçador, vou explodir sua cabeça.
Ela me cutucou com força com sua varinha.
— …
Me preparei para me render. Ainda segurando minha varinha, levantei as duas mãos acima da cabeça.
— Você não ousaria! Eu sou muito bonita.
— Uau. Você ainda tem senso de humor, hein? Ou talvez simplesmente não perceba em quantos problemas está se metendo.
— Não não. — Balancei minha cabeça. — Nenhuma dessas coisas é verdade.
— Então, o que é?
Bem, já que você perguntou…
— Apenas estou confiante, eu acho.
Meus olhos se moveram para olhar além de Vivian. Ela seguiu meu olhar, se virando para olhar e eu tirei sua varinha de sua mão.
— Vocês não são as únicas que podem atacar por trás!
Ariadne, que estava escondida atrás de mim, agora estava atrás de Vivian.
Vivian pareceu surpresa por um momento, mas então…
— Que ingênua!
Rapidamente, enfiou a mão no bolso da camisa, assim como eu.
— Hyah!
Eu a acertei com outra rajada de vento. A varinha sobressalente que ela estava tentando pegar em seu robe saiu voando de sua mão.
— Sabia que você esperaria que eu criasse uma névoa e previsse seus ataques de acordo com isso — expliquei. Empurrei minha varinha em direção ao pescoço dela, assim como ela havia feito comigo. Era como se tivéssemos trocado de lugar. — Que pena que você é tão fácil de ler.
Achei que se conjurasse uma névoa, Vivian quase certamente tentaria me atacar por trás. Também havia previsto que tentaria fazer uso de sua companheira, Sara.
Então simplesmente fiquei em sua visão e esperei que Sara aparecesse.
Elas deviam ter pensado que conseguiram bastante sucesso com a armadilha.
Mas foram elas que ficaram presas.
— Você perdeu — falei, juntando energia na varinha pressionada contra o pescoço de Vivian. — Por favor, se renda calmamente. Você vai parar a pesquisa suspeita que vem conduzindo imediatamente. E irá libertar a Sara.
Vivian olhou para mim.
— É disso que vocês duas estavam atrás? Vocês queriam resgatar a Sara?
Concordei.
— Você a usou como cobaia para sua pesquisa e isso está tendo efeitos estranhos no corpo dela, não é?
— … — Vivian hesitou e então disse claramente: — É, mas foi por escolha dela. Estamos apenas tentando realizar nosso sonho. O dela e o meu.
— Você está dizendo que isso é o que Sara queria, mesmo que tivesse efeitos negativos em seu corpo?
— Você nunca poderia alcançar nada sem algum sacrifício. Sara e eu nos resignamos a esse fato.
Vivian ainda estava um pouco obscurecida pela névoa, mas sua voz estava clara.
— Tanto Sara quanto eu desejamos um mundo onde todos possam usar magia. Quando fizermos isso acontecer, tenho certeza de que daremos um fim ao sofrimento do mundo…
— …
— Eu falei sobre isso ontem, não falei? Este mundo é um lugar cruel para pessoas sem magia. Discriminação, opressão… Elas não têm esperança. Bem, estou cansada de viver em um mundo assim. É-É por isso… Para que nunca houvesse outra Elizabeth, eu…
— Você realmente é uma idiota.
Foi Ariadne quem interrompeu o discurso de Vivian.
Encolhendo os ombros com desgosto, ela disse algumas palavras.
— As pessoas são miseráveis porque não têm magia? Como você chegou a essa conclusão? Você ao menos sabe o que aconteceu com Elizabeth após a formatura?
— Como você poderia saber uma coisa dessas? — murmurou Vivian.
— Sabe, eu ouvi — Ariadne continuou, ignorando-a —, ouvi dizer que depois que Elizabeth se formou, ela herdou a padaria da família. Então se casou, teve uma filha e teve uma vida normal e feliz. Não conseguiu o emprego que sonhava há muito tempo, mas certamente não acho que a vida que ela levou depois que aquele sonho foi destruído tenha sido infeliz. É uma vida normal e mediana, mas ela aprecia cada momento.
— …
Vivian estava com os olhos arregalados.
— Como você poderia saber sobre ela?
Pelo que Vivian sabia, a história de Elizabeth era um segredo que ela contava apenas para pessoas muito próximas.
Não foi difícil imaginar sua surpresa.
— Como, você pergunta…? — Ariadne gargalhou. — Eu conheço a história da Elizabeth… porque eu sou a Elizabeth.
E então, a névoa se dissipou.
[Dia Um: Período da Tarde]
O primeiro local que visitei, logo após chegar à Comunidade de Latorita, foi uma padaria na esquina de duas ruas. O pão ali tinha uma boa reputação entre os entusiastas do pão.
É tão delicioso.
É muito gostoso. Tipo, derretedoramente bom.
É muito bom, é como se você fosse morrer se comesse.
É basicamente veneno.
Eu tinha certeza de que esse último era só uma crítica ruim.
Claro, comigo sendo uma amante declarada de todas as coisas relacionadas a pão, meus pés praticamente se moveram por conta própria.
Mas…
— Huh… Não é tão bom.
Para ser totalmente honesta, não era apenas medíocre, era totalmente horrível.
Eu não tinha certeza se era o sabor ou a textura que era pior. Claramente, algo deu errado em algum lugar ao longo da produção. Este pão não estava gostoso. Fiquei terrivelmente desapontada.
— Com licença! — Bati palmas e chamei a balconista. — Poderia, por favor, chamar o padeiro que fez isso?
A balconista disse, “Uhum…” e, com uma expressão azeda, desapareceu na sala dos fundos da loja.
Aliás, aquela loja tinha uma área com assentos para comer e era o tipo raro de padaria que também servia café.
— Não é delicioso… é? Entendo… suponho que não… — Uma mulher de aparência abatida na casa dos trinta anos apareceu do fundo da loja. Os braços que se estendiam de seu avental de padeira eram brancos e finos e seu cabelo ruivo pendia frouxamente de sua cabeça.
— Sinto muito… A verdade é que… a maior parte da comida está nas prateleiras desde ontem… Entende… Estou pensando em fechar a loja em breve…
— Fechar a loja…?
Fiquei chocada.
Fechar a loja? Ela realmente acabou de dizer isso? Sério? Espera, este pão tem sido vendido desde ontem? Bem, isso explica por que o gosto não é bom.
— Hm, aconteceu alguma coisa…? Gostaria de me contar a sua história?
— Não é o tipo de história que você conta para uma bruxa que está passando… É um assunto privado.
— Aww, vamos. Venha e sente-se. — Praticamente forcei a dona da padaria a se sentar na minha frente. — Certo, vamos lá. Bem, esta padaria tem uma grande reputação entre os viajantes; o pão que você faz deve ser requintado, mas, agora, você não está vivendo de acordo com essa reputação, entende?
— Uh… então agora suponho que você vai dizer a todos que esta padaria vende um pão horrível e nojento… ah há ha… que idiota que eu fui.
— Isso não é brincadeira! Controle-se, por favor. Isso é sério.
Balancei o ombro da dona vigorosamente enquanto ela olhava pela janela com olhos sem vida.
E então, grandes lágrimas rolaram por suas bochechas.
— Sniff… Eu sinto muito…! A verdade é que, minha filha… Minha filha desapareceu…
Então, a dona da loja de repente começou a soluçar.
Depois disso, me contou sobre sua situação aos poucos, gritando enquanto falava.
Para resumir, a mulher e sua filha começaram uma grande discussão. Isso não era tão incomum, especialmente porque a filha parecia estar na idade rebelde. A mãe queria que sua filha herdasse a padaria, mas a menina havia fugido de casa dizendo que queria se tornar uma maga.
Na verdade, o que originalmente chocou Elizabeth, esse era o nome da mãe, foi a insistência de sua filha de que ela nunca seria feliz até que aprendesse a usar magia.
Elizabeth me contou sobre sua filha saindo de casa. Sobre como ela estava sendo usada como cobaia para algum tipo de pesquisa suspeita. E sobre quem estava conduzindo essa pesquisa. Acho que o que chocou Elizabeth tanto quanto a partida da filha foi o fato de que a pessoa que dirigia tudo, guiada pela crença de que todo mundo que não era um usuário de magia devia ser miserável, era uma velha amiga.
Isso explicava por que Elizabeth não estava fazendo pão.
— Então, em outras palavras, se conseguirmos sua filha de volta, você pode voltar a fazer um pão delicioso de novo?
— Huh? Claro… eu acho… que sim…
— Entendo, entendo. — Balancei a cabeça. — Tudo bem, vamos ajudá-la. Juntas.
— Ajudá-la… hein? Juntas? Por quê?
— Não sei como é a sua filha. Ou a professora.
— Mas… não vou me destacar…?
— Qual é o problema? Você tem um uniforme antigo da escola, não é?
— Tenho um… E acho que ainda posso me espremer nele… mas, eu? Nessa idade…?
— Ah, isso não será um problema. — Fiz um gesto para ela esperar e vasculhei minha bolsa até que encontrei um frasquinho.
Era uma poção que tinha sido colocada em minhas mãos por uma garota, em algum momento, em algum outro lugar, muito longe. Essa poção estava imbuída de uma magia muito especial.
— Se você tomar esta poção, parecerá mais jovem. Vai parecer jovem o suficiente para se misturar na escola, com anos de sobra.
Ela não parecia ser uma adulta, de qualquer forma. Então, isso resolvia o problema.
— M-Mas…
— Vamos fazer isso. Definitivamente.
— Você está realmente ansiosa…
— Eu realmente quero comer aquele pão. — Inclinei-me para frente, decidida. — Assim que trouxermos sua filha de volta, você pode me compensar, certo? Então, vamos ajudar ela.
Não tínhamos um segundo uniforme escolar para eu usar, então rapidamente peguei um modelo decente e partimos.
Foi assim que nos infiltramos na universidade.
Pensando nisso, a promessa de um pão delicioso foi tudo o que precisei para entrar em ação. (Uma de nós tinha que mostrar alguma iniciativa.) Mas quanto mais eu descobria sobre Vivian e Elizabeth, mais sabia que tinha que ajudar essas mulheres.
Porque a ideia de que toda pessoa que não pode usar magia deve estar constantemente infeliz é muito dolorosa.
— Entendo. Eu prometo, assim que tivermos minha filha… Assim que tivermos Sara de volta, vou levar isso a sério e farei todo o pão que você quiser.
Pelo menos, esta mulher, acenando vigorosamente para mim, não parecia estar infeliz.
A mulher diante de mim tinha fogo em seus olhos.
[Dia Seis: Período da Tarde]
No final das contas, embora ambas tivéssemos entrado com o objetivo de resgatar a filha de Elizabeth, nós duas também gostamos muito do retorno à vida de estudante. Talvez seja por isso que quase fomos pegas por nosso próprio esquema. Contudo, de qualquer forma, tínhamos elaborado um plano para fazer contato com Vivian e resgatar Sara antes que os efeitos da poção de regressão de idade passassem.
E era por isso que Elizabeth, chamada de Ariadne, agora estava com Vivian encurralada.
— Você é a… Elizabeth…? — O rosto de Vivian se contorceu de perplexidade. — Você certamente se parece com a Elizabeth que conheci há muito tempo, mas… mas, como? Como isso pode ser real?
Quando ela colocou os olhos em Ariadne, Vivian provavelmente notou uma grande semelhança com Elizabeth e podia até ter visto algo dela mesma na bruxa parada ao lado dela, no caso eu. E não havia dúvida de que a semelhança familiar entre Sara e sua mãe também era o motivo para Vivian ter escolhido a garota para se juntar a ela em suas pesquisas.
Vivian estava presa em seu passado.
— Então você acha que, porque não pude seguir meu sonho de infância e me tornar uma professora, devo estar infeliz? — Ariadne riu baixinho. — Escute… na verdade estou muito feliz por não ter sido capaz de me tornar uma professora. Claro, eu odiava a ideia de herdar a padaria da família, mas depois que cresci e dei uma chance a isso, foi mais divertido do que eu esperava. Conheci um cara legal e também tive a Sara.
Ariadne rapidamente olhou pela sala de aula.
Sara estava parada entre as carteiras, olhando para nós com uma expressão confusa.
Ela e Vivian ficaram totalmente pasmas. Tenho certeza de que ficaram surpresas com tudo o que estava acontecendo.
Ariadne continuou, ignorando o choque delas.
— Eu sinto muito. Depois de me formar, nunca mais te vi. Então, nunca percebi… nunca soube que você se sentia assim.
— Não… — murmurou Vivian.
— Você tem se apegado a esses sentimentos desde o dia em que fui reprovada no exame de professora, não é? — Ariadne continuou: — Mesmo agora que você está crescida…
— Não, isso não está certo… Eu… — Vivian estava com a cabeça baixa, igual uma criança pequena. — Eu… Eu só queria fazer isso para que nunca mais acontecesse… Para que ninguém mais tivesse que enfrentar esse tipo de discriminação…
— Você não precisa se preocupar com isso. — Ariadne encolheu os ombros. — Ninguém está condenado a viver uma vida de miséria por causa de um único sonho desfeito, da mesma forma que ninguém tem felicidade garantida mesmo que todos os seus sonhos se tornem realidade. Além disso, eu, pelo menos, não acho que ficaria muito feliz, mesmo que Sara aprenda magia, se esse for o preço.
Constantemente tomar poções não testadas feitas com ingredientes tóxicos estava claramente afetando Sara. E enquanto a garota mancava lentamente até a mãe, era óbvio, pelo jeito que andava, que ela não estava muito bem.
— Você está bem? — Me movi para ajudá-la, deixando a garota se apoiar em mim. Me senti culpada por explodi-la com o vento mais cedo.
Sara me deu um leve aceno de cabeça.
— Mm… — Então olhou para Ariadne. — Mãe, é você…? Mesmo?
A semelhança era inconfundível, agora que havia sido apontada, embora leve o suficiente para passar despercebida. O fato de elas terem cores de cabelo diferentes também ajudou.
— Vamos para casa, Sara? — Ariadne abraçou gentilmente a filha. — Por favor, não entristeça mais a sua mãe.
Pega nos braços de sua mãe, Sara respondeu:
— Mm… tá. — Ela assentiu levemente de novo e fechou os olhos.
Vivian estava parada ali, olhando para as duas, até que Ariadne de repente passou um braço em volta dela também.
— Vamos parar com isso já, Vivian — disse ela enquanto a puxava para um abraço.
E então…
— Por favor, não quero estragar mais as nossas memórias juntas.
Ariadne não disse mais nada.
Suas palavras foram suficientes.
As duas, Sara e Vivian, envolvidas no abraço de Ariadne, no abraço de Elizabeth, ficaram em silêncio, como bebês que choraram até dormir.
[Dia Sete: Período da Tarde]
Parei no meu novo café-padaria favorito para almoçar.
Até então, sempre o tinha visitado no meu caminho de volta da escola, mas aquele dia era um dia de fim de semana. E, como era de se esperar, o lugar estava bastante lotado.
— Você se importaria em dividir uma mesa hoje?
Na verdade, estava tão ocupado que a garçonete de costume teve de me perguntar isso.
Balancei a cabeça e ela me mostrou um assento perto da janela.
— Eh…?
Engasguei quando vi quem estava esperando. As duas pessoas que já estavam sentadas frente a frente na mesa ao lado da janela tiveram reações semelhantes. Ambas pareciam preocupadas.
— Elaina…
— Ei…
Eram Sara e Vivian.
Cumprimentei a dupla com um simples “olá” e me sentei em frente a elas.
Pedi café e pão à garçonete e olhei para Sara enquanto esperava minha comida chegar. Sua pele já havia melhorado um pouco.
— Você não está mais tomando as poções? — perguntei.
Ela assentiu levemente.
— Bem, nós abandonamos nossa pesquisa. Não há razão para destruir minha saúde — disse ela.
No final das contas, depois de tudo que aconteceu, Vivian desistiu de criar uma poção que pudesse transformar pessoas comuns em magos. Ela tinha ouvido de Ariadne, da própria Elizabeth, que não havia necessidade de uma poção como aquela. Mesmo se ela conseguisse, não significaria nada.
Depois disso, nós três conversamos um pouco, sentadas juntas à mesa do lado da janela.
Aparentemente, Vivian tinha passado todos os seus dias de folga trabalhando em sua poção e, agora que havia encerrado a pesquisa, teria muito mais tempo livre. Sara estava na mesma situação. Como não precisava mais trabalhar na pesquisa, não havia necessidade de ficar na casa de Vivian. Inclusive havia voltado para casa no dia anterior.
— Resumindo, sou uma professora normal e Sara é, mais uma vez, uma aluna normal.
— Que coisa absolutamente normal.
— Eu sei, mas, bem, tenho que admitir, não estamos infelizes.
— Bem, então isso é ótimo.
De repente, nos encontramos sorrindo umas para as outras e foi então que a garçonete apareceu com meu pão e café.
— Aqui está, desculpe a espera. Um dos meus melhores pães, feito com gratidão.
Afinal, não era a garçonete.
Era Ariadne, mas…
O efeito da poção que eu havia dado a ela havia passado e Ariadne não era mais uma jovem colegial. Era mais uma vez uma mulher adulta.
— Certo, acabou de sair do forno, então está um pouco quente. Tenha cuidado ao comer, certo?
Ariadne, ou melhor, Elizabeth, sorriu. Era o sorriso de uma mãe carinhosa.
— Que tal se juntar a nós, Ariadne? — Afinal, estávamos sentadas em uma mesa para quatro pessoas. Dei um tapinha na cadeira livre em um convite, mas ela balançou a cabeça lentamente.
— Eu adoraria comer com vocês, mas tenho trabalho a fazer. — Elizabeth encolheu os ombros. — Bem, por favor, aproveite. Afinal, nosso pão é o melhor!
A mulher sombria que eu tinha visto quando nos conhecemos não estava em lugar nenhum.
Coloquei a mão sobre meu pão enquanto a observava se afastar. Ainda estava quente. Saboreei o calor reconfortante.
— Parando para pensar nisso, o que você vai fazer agora, Sara? — Inclinei minha cabeça questionadoramente enquanto rasgava meu pão em pedaços. — Vai assumir a loja da sua mãe?
— Estou planejando pensar um pouco no assunto. — Ela rasgou o pão da mesma maneira e colocou um pequeno pedaço na boca. — Mas provavelmente, quase certamente, acho que vou assumir depois da mamãe.
Mas ela me disse que queria pensar sobre isso depois de estudar mais na escola. Era uma ideia completamente normal.
A garota conosco era totalmente normal; uma garota que não sabia o que fazer com seu futuro. Isso também era completamente normal.
— Bem, acho isso ótimo. — Balancei a cabeça, então segui o exemplo de Sara e provei meu pão. A fragrância de trigo encheu minhas narinas. A textura macia derreteu na minha boca. O pão estava tão delicioso que, quando o mordi, não pude deixar de sorrir.
Foi o suficiente para me fazer querer continuar a comê-lo para sempre.
— É tão bom… — murmurei feliz.
— Vou começar a vir aqui com frequência… — Vivian acenou com a cabeça decisivamente.
— Eu como isso o tempo todo, então… — Sara deu de ombros e sorriu.
E, assim, passamos uma tarde comum juntas.
Embora para uma viajante como eu, compartilhar uma refeição com amigos não seja tão comum. Ainda assim.
Coisas extraordinárias acontecem às vezes e é muito mais agradável quando isso acontece.
Tradução: Nero
Revisão: Sonny Do Nascimento
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