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Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 01 – Cap. 12 – A Rainha de um País Vazio

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Se você usar este mapa, deverá conseguir chegar ao próximo país. Boa sorte, mocinha.

O chefe da aldeia onde eu tinha ficado no dia anterior havia dito algo parecido e colocado um mapa em minhas mãos, então tentei o meu melhor para segui-lo.

Passei meio dia voando com minha vassoura em uma baixa altitude, roçando o solo com o mapa em uma das mãos. E, com certeza, finalmente cheguei ao meu destino, sem nenhum incidente.

Ainda assim, bem, como devo dizer…?

— …

Este lugar está em ruínas, não está? Não há nada aqui.

Estava tudo morto. O portão que se fechava para o mundo exterior foi deixado aberto, e voei direto para dentro sem nem descer da vassoura. A parte de dentro estava na mesma situação – algumas casas não tinham telhado, estavam cobertas de musgo; algumas não passavam de estruturas esqueléticas; e outras foram reduzidas a um monte de escombros. Lixo, escombros e destroços por toda parte.

Não havia nenhum sinal de vida, muito menos de pessoas. Os residentes, decerto, já tinham partido há muito tempo. O palácio, o símbolo de qualquer nação, mantinha um exterior comparativamente decente, embora, é claro, também tivesse sido abandonado. A muralha externa estava tão cheia de rachaduras que parecia que ia desmoronar com um único toque. A porta de madeira do palácio, entretanto, continuava inflexível, indiferente aos meus puxões e empurrões.

— Hmm…

Eu estava acabada. Sério.

Vejamos, o que eu devo fazer? Sentei-me na escada que levava ao palácio e comecei a fazer beicinho, mas não havia ninguém por perto para perguntar se eu estava bem, então só fiquei de cabeça baixa.

Passo mais meio dia voltando por onde vim? Ou passo a noite aqui? Essas eram as minhas duas opções em aberto. E eu não queria escolher nenhuma delas. Se tentasse seguir a estrada pela qual cheguei, a noite cairia antes que chegasse a algum lugar para ficar. Mesmo se voltasse para a aldeia sem me deparar com qualquer incidente, não sabia se havia uma pousada na qual poderia ficar. Mas deixar o retorno à aldeia de lado e dormir onde estava também era algo preocupante.

Digo, o lugar estava em ruínas.

Uff…

Infelizmente, passar a noite no palácio abandonado era o menor dos males, e foi o que escolhi.

Quando a coisa fica feia… Realmente não quero, mas não tenho como evitar.

Vou ficar aqui.

Me levantei. Precisava procurar um lugar para dormir.

Depois de examinar a cidadezinha enquanto estava montada na minha vassoura, concluí que a construção que estava mais inteira era o palácio. As casas não eram uma opção. A maioria delas estava tão acabada que se tornava inútil.

A porta do palácio estava bem fechada, mas, pensando bem, o lugar já estava desabitado.

Seria um problema…? Posso fazer isso, né…?

— Hng… — Depois de verificar se não havia ninguém por perto, usei um feitiço para incendiar a porta, reduzindo-a a cinzas em instantes. — Sinto muito pela intrusão… — E entrei.

Apesar do exterior acabado, o interior do palácio continuava em boas condições. Estava cheio de poeira, mas eu não teria problemas em dormir ali.

Pois bem, vamos começar a busca. O primeiro passo é garantir um quarto.

O castelo vazio estava preenchido com uma atmosfera misteriosa. Estava vagamente inquietante, como se alguma coisa estranha pudesse saltar sobre mim a qualquer momento. Sentindo um arrepio curioso, procurei pelas escadas. Eu já tinha entrado em alguns palácios enquanto viajava, então sabia muito bem que não haveria nenhum lugar que serviria ao meu propósito no primeiro andar. Se houvesse um quarto, estaria no segundo andar. Os quartos da família real também deveriam estar no andar superior.

Encontrei a escada poucos minutos depois de iniciar minha busca e subi ao longo do carpete empoeirado.

E assim…

— Quem é você?

Ouvi uma voz…

Cambaleando como se tivesse sido apunhalada no coração, olhei para cima e vi uma garota parada na escada.

Eu estava a ponto de começar a chorar, e era por mais de um motivo.

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— Não achei que alguém morasse aqui.

— Eu não esperava que alguém aparecesse.

Ela me apresentou um quarto elegante. Quanto à mobília, havia apenas uma mesa e uma cama, mas o cômodo era bastante espaçoso. Imaginei que toda a casa em que eu tinha ficado na vila anterior caberia neste quarto. O que é isso? O que está acontecendo? Ela dorme aqui? É tão luxuoso.

— De onde você veio? — Ela puxou uma cadeira (uma de aparência muito cara, brilhando com um esplendor dourado inútil) e se sentou, então olhou para mim suavemente.

— Vim de um país muito, muito distante — falei —, sou uma viajante.

— Posso perguntar seu nome?

— Elaina.

— É mesmo? Me chamo Mirarose. Prazer em conhecê-la. — Ela sorriu.

A garota tinha o cabelo vermelho como sangue e tão despenteado quanto se tivesse sido eletrocutada. E ela também usava um vestido esfarrapado. Fiquei ansiosa diante da possibilidade de essa pessoa ser violenta, mas ela parecia ser muito mais legal do que eu tinha imaginado.

— Por que você está aqui, Mirarose?

— Também queria saber…

— Hã? Então quer dizer que você não sabe?

— Não sei por que estou aqui. — Mirarose torceu a cara. — Quando acordei, estava neste lugar em ruínas.

— Isso é…

Deve ser amnésia. Mas como? O país não se deparou com a ruína da noite para o dia. Mesmo em uma estimativa positiva, já estaria em ruínas há ao menos um mês.

Perguntei a ela a primeira coisa que me veio à mente:

— Por que você não foi embora? Você provavelmente poderia viver uma vida melhor caso se mudasse para outro lugar em vez de ficar aqui. Se precisar de dinheiro, tenho certeza de que pode encontrar algum.

Se for necessário, também pode roubar objetos de valor do castelo.

— …

Ela parecia estar ponderando um pouco, e então se levantou. A garota puxou um único pedaço de papel de uma gaveta da mesa e acenou para mim.

— Esta é a razão pela qual não posso sair.

Ela me mostrou o papel. Estava coberto de cima a baixo com uma caligrafia confusa e sinuosa.

Parecia ser uma carta. Por insistência dela, eu li.

Você, lendo esta carta, é a rainha Mirarose. Você não sabe de nada, mas tenho certeza disso.

Por que está aqui? Por que tudo que está vendo além da janela está em ruínas? Por que não tem nenhuma memória?

Você deve estar confusa, diante de tantas incógnitas, mas quero que fique à vontade. Vou me esforçar para explicar ao menos um pouco.

Se espera que esta carta desvende o grande emaranhado de mistérios que você enfrenta, ficará desapontada. Mas você ao menos pode evitar que sua vida acabe cedo demais graças a uma decisão ruim. Em outras palavras, se não deseja morrer, continue lendo.

A propósito, neste exato momento, está de dia ou de noite?

Escreverei presumindo que estará de noite. Se acontecer de estar de dia, você pode simplesmente armazenar o conhecimento que estou prestes a entregar em um canto da mente e, mais tarde, diga se isso será de alguma importância.

Quero que você olhe pela janela. Você verá um monstro em fúria, tenho certeza. Esse monstro é o demônio que destruiu esta terra e a fonte de sua amnésia. Aquilo não tem nome. Se tomássemos o nome deste lugar e lhe déssemos um nome provisório, poderíamos chamá-lo de Javalier.

Ele nasce ao pôr do sol e destrói tudo o que consegue até o amanhecer. Se você sair do castelo em busca de comida, recomendo que vá durante o dia. Aí dentro você está em segurança, já que é o único lugar em que o Javalier não entrará.

O objetivo dele é matar todos desta terra. Ele aparecerá, em fúria, todas as noites, procurando pela última pessoa que resta.

Essa pessoa, claro, é você.

Ele está caçando a última rainha de um país vazio. Eu imploro, por favor, não saia deste lugar. Se o fizer, o Javalier irá te seguir para onde quer que vá. Este é o único pedido que te faço.

Quero que você mate o Javalier usando seus poderes mágicos. Você ficará presa até fazer isso, então não acho que tenha muita escolha mesmo. Como uma bruxa, você tem sua magia, então deve ser capaz de derrubar o Javalier facilmente. Por favor, mate aquele monstro por nós.

Para você mesma, para que você possa viver.

E por todos os que morreram em sofrimento.

A noite caiu.

A carta estava certa; o Javalier era realmente um monstro. Seu corpo era enorme, quase da mesma altura dos edifícios em ruínas, e estava coberto de escamas pretas como a meia-noite.

Ele havia sido chamado de Javalier, mas parecia exatamente como um dragão sem asas. Não posso dizer com certeza, mas talvez essa semelhança fosse o motivo para o seu terrível poder de cuspir fogo. Ele esmagou prédios com seus grandes e fortes braços e arrasou casas jogando-as no chão, procurando pela última pessoa remanescente: Mirarose. Era um ataque de plena fúria.

— Espere, Mirarose, você é uma bruxa?

— Espere, Elaina, você é uma bruxa?

— Vamos lá, dá para dizer que sou uma só de olhar para mim. — Eu estava obviamente vestida igual a uma bruxa. Não viu o broche?

— Brincadeirinha. — Mirarose soltou uma risada breve enquanto observávamos o monstro furioso do lado de fora.

Segui o olhar dela.

— A pessoa que escreveu aquela carta fez uma exigência realmente irracional, você não acha?

— Com certeza fez. Lutar e derrotar um monstro daqueles é… uma missão sem sentido.

— Parando para pensar nisso… — algo me incomodava —, por que disseram que apenas o palácio é seguro?

— Não faço ideia.

Ah, sim, é verdade.

— Essa carta não é um pouco estranha? Tudo o que realmente te disse foi que um monstro aparece à noite e que você tem que matá-lo, certo?

Embora todos os pequenos detalhes da situação atual de Mirarose estivessem registrados na carta, estava faltando a informação mais importante.

Por que o Javalier apareceu e por que estava destruindo o lugar? Por que essa garota era a única pessoa viva? Qual era a relação entre o Javalier e sua amnésia?

Mistérios, mistérios e mais mistérios. A carta foi resumida de forma bem inteligente, como se estivesse intencionalmente evitando contar toda a história para Mirarose.

Por que diabos alguém faria isso?

— Há muita coisa que eu não sei, mas eu sou Mirarose, a rainha… e meu país foi destruído por um monstro. Se esses são os fatos, então tenho a obrigação de derrotá-lo… Você não acha?

— Você já lutou contra aquela coisa? — Apontei para o monstro do lado de fora da janela e ela balançou a cabeça.

— Ainda não.

— Você nunca, jamais lutaria com uma coisa daquelas se pudesse evitar, não é?

— Com certeza.

— Quantos dias se passaram desde que você viu o monstro pela primeira vez, hein Mirarose?

— Só sete. Não passou muito tempo desde que eu acordei. E o lugar já estava em ruínas.

Ela olhou para o céu. Uma lua cheia brilhava no céu tão negro quanto azeviche, brilhando junto com a luz das estrelas. Me pergunto como ela está se sentindo agora.

Eu não sabia. E nem teria como saber.

— …

Após um breve silêncio, Mirarose abriu a boca para falar:

— Amanhã à noite, vou lutar contra aquele monstro.

— Você tem alguma esperança de vencer?

Eu não sabia nem se eu mesma sairia vitoriosa após desafiar o Javalier sozinha. Aquilo provavelmente era tão forte que alguém poderia matá-lo duas vezes e ele ainda voltaria para no final vencer a luta.

— Claro que tenho. Na semana que passou, desde que acordei, fui me lembrando, pouco a pouco, de como usar minha magia. Acho que eu devia ter um certo domínio sobre isso antes de ter perdido a memória. — Ela colocou a mão no quadril.

— Bem, dê o seu melhor. Estarei torcendo por você… de uma distância segura.

— Ah, você não vai me ajudar?

— Que bem isso me faria?

— Pelo menos você é honesta… Eu realmente não posso te culpar por isso.

— Bem, obrigada.

Depois disso, nós nos permitimos entrar em uma conversa amigável enquanto assistíamos o enorme Javalier continuar com a sua agitação. Foi meio ridículo.

Como um lugar para dormir, Mirarose me permitiu usar uma das camas dos antigos criados. Fiquei grata. Ela era macia e fofa.

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Bem cedinho na manhã seguinte, acordei com um tremendo barulho. Ataque inimigo! Ataque inimigo!, minha mente gritou. Meu coração batia forte como se eu tivesse acabado de correr a toda velocidade. Pulei com uma sensação sinistra no estômago e me dirigi para o primeiro andar, de onde o barulho se originou, segurando minha varinha.

— Ah, bom dia. — Enquanto eu corria pelo primeiro andar toda arrepiada, Mirarose me cumprimentou com um sorriso alegre. Desta vez ela estava usando um vestido diferente, mas estava tão esfarrapado quanto o outro.

Ela só tem vestidos esfarrapados? Coitada.

Espera, isso não vem ao caso agora.

— O que foi aquele som? Um ataque inimigo?

— Inimigo…? — Ela inclinou a cabeça, confusa. — Eu só estava cozinhando. O barulho foi tão alto assim?

— …? C-cozinhando?

Será que devo supor que o que você chama de cozinhar é algo tão violento quanto o que estou imaginando?

— Sim, já está quase pronto. — Ela balançou a cabeça e voltou aos seus afazeres. Eu a segui e chegamos à cozinha. — Pode esperar na sala de jantar, é aqui ao lado. Vou levar a comida.

— Um, posso te ajudar…?

— Está tudo bem.

— Um, obrigada…

— Não se preocupe com isso.

— …

Recuei com o rabo entre as pernas – não era como se eu tivesse alguma escolha. E então fui para a sala de jantar e sentei em uma das cadeiras à mesa. Então pensei: Isso foi um erro. Eu não deveria ter saído de lá.

Um barulho incrível vinha da cozinha ao lado, como uma espécie de construção em ritmo acelerado. Estalidos. Água escorrendo. Triturações. Esfregadas. Batidas. Eu imploro, por favor, poupe a minha vidaGyaaah!  Esfregadas. Tapas.

Coisas do tipo.

Esses com certeza não eram sons feitos ao se cozinhar.

E, para piorar as coisas, ouvi alguém gritar. Graças às ferozes habilidades de cozinheira de Mirarose (ou o que quer que ela estivesse realmente fazendo), eu acabei perdendo todo o apetite.

Ela trouxe a comida da cozinha enquanto mantinha um olhar satisfeito. Também não preciso mencionar que eu estava tão branca quanto um lençol.

— Minha nossa, você está bem? Você não parece nada bem.

— O que diabos você estava fazendo lá…?

— Eu te disse, cozinhando. Aqui está. — Ela colocou um prato na minha frente. Em cima do prato branco havia duas fatias de pão torrado. Um dos pedaços da torrada marrom-dourada estava coberto com uma geleia vermelha e espessa. O outro pedaço tinha um ovo frito sobre ele.

Cozinhando…? O que diabos foram aqueles sons…?

— Vamos comer.

Sentada à minha frente, ela apertou as duas mãos, em seguida, mastigou sua torrada com geleia.

— Obrigada pela comida… — Também pressionei minhas mãos juntas, imitando-a.

Quanto mais eu pensava nisso, mais me perguntava se estava perdendo a cabeça à toa, então decidi não me preocupar com os detalhes. Me preocupar com essas coisas provavelmente era perda de tempo.

Ao contrário de Mirarose, comecei com a torrada com ovo frito. Os sabores do delicado e levemente doce trigo e do ovo frito se espalharam pela minha boca. Era uma refeição comum e nada sofisticada, ou seja, fazia muito tempo que eu não comia nada parecido. Apesar de tudo, acabei sorrindo.

Para simplificar, estava absolutamente delicioso.

— Pensei que poderíamos conversar esta noite, enquanto temos tempo — disse Mirarose.

— Esta noite?

— Sim. Quero que você me ajude com os preparativos para o meu plano.

Depois de mordiscar minha torrada em todos os cantos ao redor da gema de ovo, respondi:

— Você me deu onde dormir e o café da manhã; não precisa pedir para eu te ajudar.

— Ah, então você vai derrubar o Javalier?

— Calma aí, vai com calma.

Por que você tem que lutar contra aquilo, em primeiro lugar? Não vejo problema em simplesmente deixá-lo lá.

A expressão de Mirarose era gentil, provavelmente porque ela já havia previsto que eu seria firme em minha recusa.

— Foi só uma piada, então você pode ficar tranquila. Eu devo cuidar dos assuntos da minha própria nação. Tenho certeza de que é o que o escritor da carta também desejaria.

— …

Não tenho tanta certeza.

Fiquei em silêncio. Não era porque estava tentando desesperadamente mastigar sem deixar a gema de ovo escorrer pela minha boca. É sério.

— Não fico surpresa que você ache isso, Elaina. É óbvio que a carta não é totalmente confiável. Seria tolice acreditar em tudo o que ela tem a dizer quando deixa de fora todos os detalhes importantes.

Fiquei chocada. Foi como se ela tivesse lido minha mente.

Minhas palavras ficaram presas na minha garganta. Ignorando-me, ela continuou:

— No entanto, sem nenhuma dessas informações, tudo o que posso fazer por enquanto é lutar. Mesmo assim… de alguma forma, simplesmente não consigo me convencer de que a carta está mentindo. O escritor realmente odiava o Javalier e o queria morto, e é por isso que me escreveu aquela carta. Eu posso dizer isso.

Bati no meu peito, angustiada, e Mirarosa silenciosamente me passou um copo d’água. Ah, que gentil.

Ufa…! Muito obrigada. — Depois de respirar fundo, falei: — Não importa o que você decida, sou só uma humilde viajante, então isso não é da minha conta. Entretanto, se me permitir dizer uma coisa, se eu estivesse no seu lugar, ignoraria completamente tudo o que está naquela carta.

— Por quê? — Mirarose sorriu. Não era escárnio ou uma tentativa de disfarçar alguma outra emoção desagradável; ela estava simplesmente gostando de nossa conversa.

Mas que pessoa incrível. Sério.

— Porque isso é suspeito. Essa razão já basta. Você perdeu a memória, não consegue distinguir a direita da esquerda, e ainda assim está aceitando tudo que está escrito naquilo. Claro, é fácil para eu dizer isso. Não estou na sua posição.

— Bem, o que você faria se fosse eu, Elaina?

— Fugiria. Fugiria com toda a minha velocidade e iria procurar asilo em outro país — afirmei.

— Mas a carta dizia que, se eu partisse, o Javalier viria atrás de mim.

— Isso torna tudo ainda mais suspeito. Tudo que aquilo faz é destruir a cidade; não tem um pingo de inteligência. Ele realmente poderia te rastrear? Além disso, não faz sentido que não possa entrar no castelo, e o autor nem mesmo assinou o nome… É uma carta verdadeiramente intrigante.

— Então você não acredita nela.

— Eu não. Mirarose, você decidiu mesmo lutar contra aquele monstro?

— Claro. — Ela balançou a cabeça.

Nesse caso, eu sabia o que tinha que fazer.

Dei uma mordida na minha torrada coberta de geleia. A geleia de sabor estranho grudou no céu da minha boca.

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Os preparativos correram sem demora. Entretanto, eu mesma que cuidei de todos eles.

— …

Estou exausta…

Mirarose elegantemente tomava chá e me observava trabalhando.

— E então? — perguntou ela em um tom despreocupado. — Acha que você consegue terminar?

Eu me virei, ainda balançando minha varinha como uma louca, e disse:

— D-de qualquer forma, por quanto tempo preciso fazer isso para terminar…?

Olhando para dentro do buraco, ela respondeu alegremente:

— Vamos ver. Parece que você está no meio da escavação.

— Eu vou morrer… — Tenho certeza de que é só a minha imaginação, mas parece que há um desequilíbrio enorme entre a quantidade de trabalho manual que estou fazendo e o que estou recebendo em troca.

Se quer saber o que ela estava me obrigando a fazer, então vou contar: eu estava cavando um buraco. Quero que você vá até a rua mais larga da cidade e use magia para cavar um buraco grande o suficiente para o Javalier caber completamente dentro. Esses eram seus “preparativos”.

Segundo ela, o Javalier não tinha asas, então, se caísse em um buraco, devia demorar um pouco para conseguir escalar de volta para cima.

Se lançarmos feitiços mágicos nele sem parar enquanto ele estiver lá, devemos ser capazes de enterrar o Javalier, certo?”

Esse era o seu plano.

A princípio, poderia ser considerado um plano imprudente, mas agora, essa lamentável armadilha primitiva era nossa melhor aposta contra o monstro misterioso. Apenas um ataque devia ser suficiente para destruir o Javalier, então se Mirarose pudesse simplesmente bloquear qualquer tipo de contra-ataque, poderíamos esperar que o plano fosse bastante eficaz.

Mas isso se os preparativos não me matassem primeiro.

— H-hup… urgggh…

Tínhamos recolhido cada pá e colher, e até mesmo baldes, da área, e eu estava fazendo o meu melhor para operar todos de uma vez só usando minha magia. Acho que merecia até um tapinha nas costas por causa disso. Queria ser elogiada por meus esforços e trabalho árduo.

Bem, eu era a Bruxa Cinzenta e ganhei meu título por causa da minha habilidade real. Claro, poderia ter feito isso com mais eficiência – escavando o solo pessoalmente, por exemplo. Mas isso iria exaurir uma quantidade extraordinária de poder mágico. Considerei as alternativas do meu próprio trabalho físico contra esgotar minha magia e escolhi o trabalho duro.

E esse desastre foi o resultado.

— Guhaaa…

E, sim, eu me arrependi.

Isso é tão difícil que eu poderia realmente morrer.

Em algum momento, Mirarose começou a ajudar e fizemos um bom progresso. Mesmo assim, demorou um bom tempo e só terminamos de fazer a cova quando já estava anoitecendo. Nós duas ficamos ali, felizes, em frente ao nosso lindo buraco. Depois de trabalharmos juntas, senti uma amizade um tanto estranha nascendo entre nós. Talvez fosse só a minha imaginação.

— Não vai demorar muito… — disse Mirarose. Ela parecia um pouco nervosa e tensa.

— Você está bem?

— Eu estou b-b-b-bem. Sim, estou bem.

De alguma forma, não estou convencida.

— Mas você está tremendo muito mesmo.

— Estou t-t-t-tremendo de excitação. N-não consegue perceber?

— …

Você realmente vai conseguir lutar assim?

Forcei meu cérebro a pensar em como acalmar seus nervos e tive a brilhante ideia de mudar de assunto. Sou genial.

— Pensando bem, esqueci de te perguntar uma coisa.

— Oh? Que coisa?

— Por que você só usa vestidos esfarrapados, hein Mirarose? Não tem nenhuma roupa bacana? — falei.

— Ah, não. É que minhas roupas sempre ficam assim quando eu cozinho, e me trocar é um saco, então eu fico com elas assim mesmo.

— Que tipo de comida você anda fazendo…? — Fiquei desapontada com a explicação trivial. Eu esperava que suas roupas estivessem escondendo um grande segredo.

— De qualquer forma, isso servirá como meu uniforme para a batalha.

— Mas agora elas estão esfarrapadas e enlameadas.

— Na verdade, minhas roupas íntimas também fazem parte do uniforme.

— Você está planejando mostrar elas para o Javalier?

— Será um ataque com apelo sexual.

— Como se isso ao menos fosse funcionar.

Enquanto continuávamos nossa conversa ridícula, o sorriso voltou ao rosto dela.

Ainda bem. Minha estratégia foi um sucesso.

No entanto, assim que o alívio se instalou, ela disse:

— Obrigada.

— Hein…? Pelo quê? — Virei meu rosto para longe dela. O calor que senti nas minhas bochechas era apenas por causa do pôr do sol. Definitivamente.

— Eu sei o que você está tentando fazer. Você está tentando acalmar meus nervos.

— Ei, só estávamos batendo um papo. Sinto muito se você pensou isso aí. Não fique chateada.

— Você é ridiculamente franca e, mesmo assim, não consegue ser honesta. — Mirarose me cutucou com sua varinha. Isso fez cócegas. — Estou bem. Não vou morrer — disse ela. — Depois vamos nos encontrar de novo. Vou levar minha comida caseira para você na hora do jantar.

— Está tudo bem. Esta noite eu faço o jantar — falei. — Então, não morra, viu?

— Claro que não vou. — Enquanto ela falava, Mirarose usou magia para esconder a superfície do buraco. Dessa forma, o Javalier devia dar de cara com ele sem perceber nada.

Os últimos raios do sol poente pintaram o céu distante de vermelho. O horizonte se dividiu em metades distintamente vermelhas e azuis, ambas as quais logo seriam substituídas pela escuridão. E não muito depois disso, o Javalier viria.

— Tudo bem, pode ir. — Mirarose me empurrou.

— Te vejo mais tarde — falei, e ela voltou a sorrir gentilmente para mim. E então eu virei minhas costas para ela e fui embora.

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Espera aí – quem disse que eu estava indo embora?

Isso foi uma piada. Se eu partisse em um momento desses, então não teria mais nenhum pingo de humanidade. Embora eu ache que estava sendo muito sensata quando recusei o pedido de ajuda.

No momento, eu estava dentro de uma casa do outro lado do buraco, esperando em silêncio pelo momento certo para atacar. A estratégia era fazer um ataque concentrado. Para ser honesta, eu não estava planejando ajudar caso pudesse evitar. Digo, a situação não tinha nada a ver comigo. Eu não fazia ideia se valia a pena arriscar minha vida ou se havia alguma necessidade real de derrotar o monstro.

Mas meus sentimentos mudaram, só um pouquinho. Eu não queria deixar aquela garota maravilhosa morrer. É por isso que iria lutar.

E eu lutaria com força suficiente para sobreviver, é claro.

Mesmo agora, não poderia simplesmente me oferecer para ajudar, mas espero que essa seja uma ofensa perdoável.

— …

Em pouco tempo, ouvi um rugido terrível que parecia estar saindo do próprio inferno. Estava muito perto. Quando dei uma espiada lá fora, pude ver escamas pretas lentamente se movendo.

Se continuar no mesmo caminho, vai cair direto no buraco.

Ufa… — suspirei profundamente.

Isso foi estranho. Mesmo só tendo a conhecido no dia anterior, realmente queria que Mirarose sobrevivesse. Quando isso acabasse, faríamos o jantar juntas e eu aproveitaria a oportunidade para ver seu estilo feroz de cozinhar. Fiquei realmente intrigada com isso.

Enquanto me perdia em pensamentos, finalmente chegou a hora e ouvi o uivo do monstro. O som de seu ataque estava mais fraco do que antes, mas as reverberações ainda chegavam ao meu esconderijo.

Eu furtivamente dei uma espiadinha do lado de fora, onde Mirarose estava travando uma incrível batalha. Ela estava lançando feitiço após feitiço, sem qualquer piedade, no Javalier, enquanto ele tentava rastejar para fora do buraco. Lanças de gelo, bolas de fogo, espadas e machados feitos com magia, lâminas de vento e relâmpagos e outros feitiços choveram sobre o monstro.

Eh? Hein? Parece que ela pode ganhar, pensei por um momento, mas minha primeira impressão foi equivocada. Ela estava definitivamente fazendo o seu melhor, mas Mirarose estava com dificuldade.

O Javalier estava soprando chamas para o céu, resistindo aos feitiços de Mirarose enquanto tentava rastejar de volta para fora do buraco.

Se eu quiser ir lá, minha chance é agora. Se o atacarmos juntas, poderemos mandá-lo de volta para o fundo do buraco. E então vamos enterrar essa coisa.

Fechei meus olhos e voltei a respirar fundo. Segurei minha varinha com força. Vamos fazer isso.

— Mirarose! — Me preparei e saltei para fora do meu esconderijo.

Assim que fiz isso, algo passou zunindo ao meu lado, alcançando uma velocidade inacreditável.

Vooosh. Manchando meu rosto com algo enquanto passava, aquilo bateu na casa atrás de mim com um barulho estrondoso.

Passei minha mão no rosto e senti um ligeiro cheiro de ferro. E também um líquido morno e viscoso: sangue.

Sangue… Sem chances. Não, não pode ser…

Lutando para manter meu coração disparado sob controle, me virei.

— Ah…

Lá, enterrada em uma montanha de escombros… estava…

A cabeça negra parecida com a de um dragão do Javalier… A decapitação correu de forma limpa, foi quase como se tivesse sido feita por uma lâmina muito afiada; sangue fresco escorria do ferimento e formava uma enorme poça abaixo daquilo.

Por que a cabeça do Javalier está aqui? Hein? Não me diga… não me diga que ela ganhou sem minha ajuda?

Eu estava ali, incapaz de compreender totalmente a situação, quando ouvi uma voz.

— Enquanto eu estava lutando contra o Javalier, me lembrei… — Seu tom gélido me enviou arrepios pela espinha, e no começo eu até duvidei que fosse mesmo a Mirarose.

Mas quando me virei, era ela quem estava ao lado do Javalier sem cabeça.

— Lembrei-me de tudo, de tudo, tudo, tudo. Ah-ha, ah-ha-ha-ha, ha-ha!

Me perguntei se essa garota era realmente aquela que eu conhecia.

Arrancando seu próprio cabelo, Mirarose lançou mais feitiços. Instantaneamente, os quatro membros do Javalier sem cabeça foram arrancados e voaram em direções diferentes. Os pedaços de carne voando espirravam sangue para todo lado, cobrindo a cidade já destruída com seus restos.

— …

Estremeci.

Ela estava sorrindo, banhada em sangue. Sua expressão não mostrava o sorriso gentil que me mostrou durante a manhã, mas sim algo sombrio e distorcido.

— Ah-ha, ah-ha-ha-ha! Ha-ha-ha-ha-ha-ha-ha!

Fiquei sem palavras. Não pude fazer nada além de cair em um estado de choque.

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Depois que retornamos ao castelo, Mirarose me contou tudo.

Era uma história e tanto, e ela me contou todos os detalhes.

Há vários anos, ela teve um amante.

No entanto, ele era um servo, e mantiveram seu relacionamento em segredo de todos. Se seu pai descobrisse que ela se apaixonou por um garoto de outra classe social, ele a teria renegado. Por medo, a garota manteve sua relação em segredo, fez de tudo para não ser descoberta.

Os dois não tinham nada além de confiança e amor um pelo outro.

No entanto, todos os segredos vêm à tona mais cedo ou mais tarde, e o deles não foi exceção. O fato de estar apaixonada por um servo tornou-se uma fofoca bem conhecida.

Então Mirarose engravidou dele. Percebendo que não era mais possível esconder seu amor, os dois confessaram tudo para o pai dela, o rei.

O rei ouviu a história em silêncio, balançando a cabeça seriamente várias vezes, e quando terminaram, ele anunciou: “O servo será executado.”

Ninguém poderia apaziguar sua ira.

O próprio rei executou a punição. Ele montou um cavalo e arrastou o servo pela cidade atrás de uma carruagem, cuidadosamente arrancou suas unhas, uma a uma, quebrou seus dentes, submergiu-o na água, deu-lhe apenas comida o suficiente para evitar que morresse de fome, mantendo-o oscilando entre a vida e a morte, que foi dois meses depois, e torturou-o de todas as formas imagináveis, até que o jovem enlouqueceu, e então finalmente pôs fim à sua vida miserável, queimando-o na fogueira na frente de Mirarose e de todos os cidadãos.

Então, depois que acabou com o servo, foi a vez de Mirarose.

Como ela era sua filha amada e a única bruxa do país, o rei não a matou, mas não a perdoou por carregar um filho de um servo na barriga. O rei pagou uma grande quantia a um médico local para interromper secretamente a sua gravidez. Naturalmente, a criança nunca nasceu, não importa quantos meses ela tenha esperado.

E assim, tendo perdido tudo, Mirarose fez um voto. Uma promessa de que mataria todos.

E cuidadosamente montou um plano. A primeira coisa que fez foi bloquear o castelo. Para o propósito de seu plano, o castelo teria que se tornar um porto seguro e confiável. Já que as outras pessoas que moravam lá estavam atrapalhando seus preparativos, ela trancou todos no porão.

Todos, isto é, exceto o rei.

Ela o expulsou do castelo e o selou do lado de fora. Era um selo tão forte que apenas um indivíduo com fortes poderes mágicos poderia quebrá-lo – razão pela qual eu, uma bruxa, pude entrar.

Em seguida, ela escreveu uma carta para seu futuro eu – digo, escreveu uma carta para si mesma. Ela tirou um dos residentes do castelo da prisão subterrânea e ordenou que escrevesse enquanto ficava ao seu lado ditando. Se a carta fosse escrita por ela mesma, isso poderia acabar prejudicando seu plano.

Então, depois de esconder a carta que havia escrito em uma gaveta da escrivaninha, olhou da janela de seu quarto para o rei, que tentava desesperadamente entrar no castelo. O rei a viu e sua ira voltou a aumentar. Ele gritava coisas horríveis para ela: “Isso tudo porque você engravidou de um filho de uma empregada” e “Você não é mais minha filha!”

Ela calmamente abaixou sua varinha na direção do rei clamoroso e lançou um feitiço nele… trocando sua própria memória pelo poder do feitiço.

A energia mágica nascida das memórias e desespero de Mirarose tomou conta do rei e o transformou. Ele ficou extremamente grande, escamas apareceram em sua pele e parecia ter perdido toda a sua inteligência humana. Ele se tornou um dragão negro.

O nome do rei era Javalier. E o nome do monstro ser o mesmo não era uma simples coincidência. Com a criação do monstro que só ficaria ativo à noite, seu plano estava completo. Sua magia quase se exauriu e ela caiu em um sono profundo.

Na próxima vez que Mirarose abriu os olhos, havia esquecido tudo. No entanto, tudo correu de acordo com o plano. Nesse ponto, não havia nada a fazer a não ser percorrer o caminho que ela havia traçado para si mesma. Sua batalha contra o dragão negro também fazia parte do plano, assim como o fato de que, durante a batalha, as memórias ligadas ao monstro voltariam para ela.

No entanto, ainda restaram algumas perguntas.

Por que ela desviou de seu caminho para transferir suas memórias? Mirarose devia ter ficado bastante perturbada por ter acordado com amnésia. Além disso, me perguntei se reter suas memórias não teria tornado isso menos desagradável.

Quando perguntei isso, ela soltou uma risadinha.

— Eu dei minhas memórias para o rei, assim ele poderia sentir minha angústia.

Na verdade, o Rei Javalier não havia perdido toda sua inteligência humana quando se tornou um dragão negro. Pelo visto, embora seu corpo tivesse sido tomado pela transformação, sua consciência humana ainda existia em um canto da mente da fera. Esse era o plano que Mirarose havia preparado para ele.

Ela devia ter realmente desejado atormentar o rei, já que seguiu adiante com uma trama tão complicada. Depois de se tornar um monstro furioso, o Rei Javalier esmagou seus súditos com as próprias mãos. Com a cabeça cheia de memórias que Mirarose forçou nele, massacrou tudo o que uma vez amou, e então…

E então o resto procedeu perfeitamente de acordo com o plano dela, e a história chegou ao fim. Ela se tornou a rainha de um país vazio, tudo por sua própria iniciativa…

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Na manhã seguinte, deixei o castelo sem sequer tocar no café da manhã que Mirarose havia preparado para mim.

— Você já está indo, não está? — disse ela calmamente. A garota não parecia particularmente triste com isso.

— Sinto muito. Afinal, sou uma viajante. Devo me apressar e ir para o próximo lugar.

— Ah, então é isso? Que pena. Foi muito divertido conversar com você.

— …

— Não pode ficar um pouco mais de tempo por aqui?

— Pare, por favor.

— Só estou brincando. — Ela sorriu, mas não havia mais nenhuma gentileza nessa ação. Isso estava distorcido e repleto de escuridão. A garota que eu conheci não estava mais em lugar nenhum.

— O que você vai fazer agora, Mirarose?

— Vamos ver, o que devo fazer…? Se eu sentir vontade, acho que posso começar a viajar.

— Não recomendo isso.

— Você não se importaria se eu me juntasse a você, não é?

— Sério, pare.

— Só estou brincando de novo. A verdade é que ainda não pensei em nada. Por enquanto, quero saborear minha vingança. — Ela esfregou a barriga, como uma mãe nutrindo uma nova vida.

Não havia mais nada que eu pudesse dizer, então decidi encerrar as coisas.

— Bem, então tchau. Se cuida. — Peguei minha vassoura enquanto ainda falava.

— Você também.

Decolei e tomei um atalho ao seguir o fluxo do vento.

Ela deve estar acenando, dando seu adeus. Mas não estou com vontade de olhar para trás.

Saí daquele lugar o mais rápido que pude, passando rapidamente pelos escombros de sua terra arruinada.

 


 

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