A Prisão Infernal – Cap. 27 – Prelúdio

Com a nova avaliação, a janela de atributos de personagem mudou para representar seu aumento de poder. No entanto, Kieran não precisava ver a avaliação. Ele já sabia a diferença. Dois dias e meio o transformaram em um novo homem.

Enquanto ele segurava o [Viper-M1], que era a sua recompensa por matar o franco-atirador, Kieran se sentia como um soldado veterano com muita experiência de batalha. No fundo, ele sabia que tudo isso era apenas realidade virtual, mas ele ainda gostava do sentimento. Tudo parecia muito real.

Se não fosse pela janela de atributos de personagem e pela Barra de Missão, Kieran teria submergido de bom grado nesse sentimento.

Então é assim que os jogos proibidos atraem pessoas. — Kieran pensou em todas as pessoas que entraram no jogo com motivo diferente que ele. Ele meio que entendia o raciocínio deles.

Se ele fosse saudável, no entanto, ele nunca teria entrado no jogo, não importa o quão real ou excitante fosse. Afinal, Kieran só queria viver como uma pessoa normal. Ele nunca foi do tipo ganancioso ou aventureiro, ele estava apenas desesperado. Ainda assim, isso não o impediu de dar o melhor de si, pois sua vida estava em jogo.

Ele se encostou em uma parede entre as ruínas, se escondendo nas sombras. Seus olhos estavam entreabertos enquanto ele respirava levemente e esperava. Se a situação permitisse, Kieran teria deitado e dado um cochilo. No entanto, ele não podia permitir tal luxo. O momento crucial estava se aproximando.

A escuridão cobria o céu quando a noite caia. A lua subia lentamente, suspensa no céu azul escuro. Era uma lua crescente que trazia uma sensação de paz para a cidade dominada pela guerra.

A tranquilidade foi quebrada pelo som de passos. Eles vieram de longe e chamaram a atenção de Kieran. Sob a luz fraca da lua, ele viu as tropas que haviam saído mais cedo.

Os soldados correndo não notaram Kieran se escondendo nas sombras. A ansiedade os deixava menos atentos. Os soldados só queriam procurar ao redor das ruínas pelos seus camaradas e relatar ao Major Zarukhar.

O Segundo Tenente Hank estava morto e o seu esquadrão também. Nenhum deles sobreviveu. A notícia os deixou chocados. Afinal, Hank era considerado um homem muito forte entre os soldados. Mesmo em combate corpo-a-corpo ou em tiro, ele sempre era o melhor. Quando ele completou várias missões impossíveis, a base toda surgiu com uma teoria de que o Segundo Tenente Hank era invencível.

A maioria das tropas realmente acreditava nisso. Mas o Hank que todo soldado costumava comentar estava morto agora. Morto por uma metralhadora. Fuzilado por seus próprios homens.

Isso intrigou os soldados. Eles simplesmente não podiam aceitar. Eles precisavam de uma explicação, e a única pessoa que poderia fornecer uma era ninguém menos que o Major Zarukhar. Eles aceleraram o passo.

Kieran, que ainda estava nas sombras, viu as tropas partirem apressadamente e se levantou lentamente. Isso era exatamente o que ele tinha antecipado.

…..

— Porra!

Depois de ouvir o relatório de seus subordinados, Zarukhar saltou da cadeira rapidamente, tão rápido que sua cadeira caiu, fazendo um barulho alto.

Nenhuma das pessoas presentes parecia se importar com a cadeira. Todos estavam olhando para Zarukhar. Eles precisavam de uma explicação. Por que Hank e sua equipe foram exterminados? Até o ajudante, que tinha tanto medo de Zarukhar, não havia desviado os olhos.

— Eu sei que todos vocês têm muitas perguntas. Tudo será esclarecido em breve. Reúnam todas as tropas que estão de prontidão! Eles também têm o direito de saber a verdade! — Zarukhar disse com uma voz profunda enquanto olhava todos nos olhos.

— Sim, senhor! — O ajudante e os soldados de reconhecimento saudaram e deixaram seu escritório.

Zarukhar ficou sozinho. Havia uma expressão calma no rosto dele. Antes de seus soldados de reconhecimento voltarem, ele ainda estava segurando um fio de esperança em seu coração. Mas quando os relatórios chegaram, o fio de esperança de Zarukhar foi rompido em pedaços. Seu braço direito estava morto, assim como as tropas que o seguiam. Tudo por causa de um franco-atirador e um de seus próprios metralhadores!

Quando ele ouviu a notícia, uma imagem do espião que havia se infiltrado no esquadrão e nas costas de Hank havia se formado na mente de Zarukhar. Além de Zennings, ninguém mais ousaria irritá-lo. Afinal de contas, infiltração e assassinato era o ponto mais forte dos homens de Zenning.

— Você se atravessou a roubar minhas coisas, e agora você me quer morto? Bem, vamos ver quem vai acabar morto! — Zarukhar resmungou.

Então, ele abriu uma gaveta e tirou uma arma. Ele colocou a arma na palma da mão e sentiu a textura áspera de seu aperto. Essa atitude de sangue quente encheu sua cabeça novamente quando ele se virou e olhou para fora da janela. Suas tropas já haviam se reunido.

Por mais furioso que Zarukhar estivesse, ele não iria enfrentar diretamente Zennings sozinho. Isso seria suicídio. Por sorte, ele tinha tropas inteiras sob seu comando. Ele estava equipado com as armas mais avançadas e os mais fortes lutadores da Rebelião.

Era o seu ás na manga e agora era a hora de usá-lo.

Quando Zarukhar saiu de seu escritório, ele endireitou o corpo e apressou o passo, o atrito entre as botas e o chão causava um som alto e claro. Parecia um martelo batendo em um prego. Quem o via seria lubridiado por sua firmeza e disciplina, e o respeitaria pelo verdadeiro soldado que ele era.

Além de sua atitude impiedosa e caráter imponente, ele não era tudo o que um soldado aspirava ser? Algumas falhas podem ser perdoadas.

Zarukhar sabia o que suas tropas precisavam de um líder, e ele havia se tornado exatamente isso. Olhando para as fileiras de soldados, todos olhando para ele com respeito, ele se sentiu satisfeito.

Ele caminhou até o palanque, respirou fundo e começou a falar com sua voz profunda pelo alto-falante:

— Meus soldados, fomos traídos! — Zarukhar foi direto ao ponto, revelando a verdade chocante.

As tropas ficaram chocadas depois de ouvir as palavras vindas de seu próprio Major, mas respeitando sua posição de prestígio, elas não fizeram nenhum barulho. Zarukhar continuou:

— Quem nos traiu foi o General Zennings! Ele fez um acordo com o inimigo ao custo de nossas próprias vidas! Aquele filho da puta escolheu trair seus próprios homens para garantir sua própria sobrevivência! Ele começou essa guerra e agora quer que nós lutemos por ele! Ele nos culpou por tudo! Ele nos tratou como bodes expiatórios! — Zarukhar disse, seu tom ficou mais alto.

Então ele de repente ficou sombrio.

— Eu sei, coisas assim acontecem. Pode ser difícil acreditar, mas é a verdade, nua e crua. Eu enviei o Segundo Tenente Hank para coletar mais provas, mas ele foi emboscado por aquele verme insolente! A equipe de reconhecimento pode confirmar isso. Hank era meu soldado mais confiável. Ele era um verdadeiro guerreiro, um bom soldado! Tal emboscada não não foi justa! Essa traição é um insulto que esse excelente soldado precisará levar para o túmulo! — Zarukhar parecia mais sombrio do que nunca. Até os olhos dele estavam vermelhos.

Os soldados mais perto dele podiam ver as lágrimas brilhando neles. Não querendo que suas tropas o vissem nesse estado, ele se virou e sinalizou para os soldados da equipe de reconhecimento que estavam de pé ao lado.

O líder da equipe de reconhecimento se aproximou do alto-falante enquanto as tropas olhavam para o abatido major.

— Sim, posso confirmar que o Segundo Tenente Hank foi emboscado e assassinado. Ele foi baleado por trás e todo o seu esquadrão foi morto por um franco-atirador.  — O líder da equipe disse.

Instantaneamente, as tropas fizeram um alvoroço. Todos olharam uns para os outros, incrédulos, enquanto a raiva começava a encher a multidão. Zarukhar guardou esse momento em sua mente. Quando todos os soldados ficaram agitados, ele se virou.

— Meus soldados, Hank foi assassinado! O próximo pode ser eu, e então você! Ou você! Porque somente quando nós, a primeira linha de defesa é eliminada, aquele filho da puta do Zennings pode completar sua negociação com o inimigo! Tudo o que ele se preocupa é salvar sua própria vida! — Zarukhar olhou para as tropas circundantes enquanto levantava a voz: — Eu não quero isso, porque sou um soldado! Preferiria morrer no campo de batalha, me sacrificando pelo bem maior, do que suportar um insulto como esse! Agora, eu vou levar a batalha para aquela puta! Quem está comigo? — Zarukhar gritou.

— Eu estou! Eu estou!

— Estamos nessa!

….

Os soldados ficaram cheios de raiva depois de ouvir a propaganda de Zarukhar. Apenas o ajudante ao lado de Zarukhar parecia chocado e intrigado. Como ajudante de ordens de Zarukhar, ele sabia um pouco mais que os outros.

As coisas não eram exatamente como seu superior havia descrito. Não houve menção das jóias, por exemplo. Mas antes que o ajudante pudesse fazer qualquer pergunta ou fazer um movimento, uma arma apontou para sua cabeça.

Era Zarukhar.

*Bang!*

Ele disparou sem pensar duas vezes. O ajudante morreu, com os olhos bem abertos, mas Zarukhar não demonstrou piedade ou empatia.

O ajudante sabia demais.

— Ele era o espião que o filho da mãe do Zennings plantou no meu escritório! Mas é tarde demais, Hank já está… — Mais uma vez, Zarukhar fez uma ótima atuação.

As tropas pareciam atordoadas, mas logo seu choque se transformou em uma raiva ainda maior. Eles olharam para o ajudante morto em desgosto.

— Meus soldados, é hora de Zennings pagar! Justiça será feita!

— Justiça! Justiça!

 Os gritos da multidão quebraram a noite silenciosa.