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A Eminência nas Sombras – Vol. 03 – Cap. 00 – Prólogo – Em Direção à Cidade Sem Lei Durante as Férias de Outono!

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Claire, a minha irmã, acabou vencendo o Festival Bushin.

Rose aparecendo do nada me deixou confuso, mas, felizmente, fui capaz de improvisar um clímax satisfatório para a minha apresentação.

Ela quase roubou o show de mim, mas em um momento de inspiração, eu disse: Espere, será que consigo? e roubei de volta debaixo do seu nariz.

E me dei bem.

O mundo está sempre mudando e todos nós temos nossas próprias motivações enquanto seguimos na vida. Nenhum plano vai exatamente de acordo com o roteiro. Portanto, preciso manter minha mente flexível para lidar com qualquer situação que o universo mandar para mim com um pouco de improvisação.

De qualquer forma, assim que o Festival Bushin acabou, tudo voltou à sua rotina normal.

Quer dizer, aparentemente o Reino de Oriana está uma bagunça ferrada agora, mas eu sou apenas um aristocrata comum, então isso não me afetou no início do meu segundo semestre.

Ainda assim, a notícia que corre solta é que o Reino de Oriana se dividiu em uma facção X e uma facção Y, as quais estão indo uma contra a outra. Todo mundo está dizendo que a guerra civil provavelmente vai estourar antes do fim do ano. Cara, se realmente começarem uma guerra civil, eu tenho que me meter junto na ação. Isso me parece que vai bombar.

Quanto à escola, pouca coisa mudou, apesar da ausência de Rose.

Eu odeio dizer isso, mas é assim que o baile segue.

Todos ao meu redor têm dito todo tipo de coisas desagradáveis sobre ela — que teve um ataque de ciúme ou que houve algum tipo de disputa pela sucessão —, mas ninguém sabe de fato o que rolou. Estou do lado dela, não importa quais foram seus motivos, então espero que esteja bem, seja lá onde está.

A agenda da Claire ficou completamente cheia desde a sua vitória. Entre todos os discursos que deu e as festas para as quais foi convidada, ela é como uma celebridade badalada. Mas tudo isso acabou diminuindo um pouco quando começaram as férias de outono, e agora ela está de volta à academia.

Acho que é por isso que chamam de “quinze minutos de fama”.

Infelizmente, agora que ela está livre, fica cheirando no meu cangote, e eu acabei sendo forçado a lhe oferecer um jantar de comemoração, contra a minha vontade.

Isso nos traz ao presente, em que ela e eu estamos desfrutando de uma refeição em um dos restaurantes da Mitsugoshi.

Tenho certeza de que pedi o rodízio “Bênção para os Plebeus” — extremamente barato, uma oferta por tempo limitado —, mas por algum motivo, eles nos trouxeram esse banquete extravagante demais para o meu gosto. Estranho.

— Eu não tinha ideia de que você poderia conseguir algo assim. Nem mesmo a festa que eles deram no castelo tinha uma comida tão boa… — comentou Claire ao ver o banquete.

Também estamos em um tipo de local para os VIPs de mais alta classe.

Pensei que talvez pudessem ter me confundido com outra pessoa, mas chequei mais de uma vez com a garçonete no caminho até o banheiro, e parece que não tem nada de errado.

Eu já me contorço todo só de pensar na conta.

Oh, espere, este lugar faz parte do Grupo Mitsugoshi. Talvez eles estejam me dando um tratamento especial porque sou amigo da Gamma.

— Sabe, sou amigo da presidente da Mitsugoshi — eu disse à minha irmã.

— Ah, nem vem.

— Não, é sério. Tenho certeza de que é por isso que eles estão nos dando tratamento VIP.

— Eu gostaria que suas brincadeiras tivessem melhores frases de efeito. Não se preocupe, eu sei o que está rolando aqui. Posso ver quanto trabalho você deve ter tido para montar isso para mim.

Claire sorriu.

Fazia um tempo que não a via tão satisfeita. Melhor apenas deixá-la acreditar no que quiser.

— Eu amo a comida nos restaurantes da Mitsugoshi. É tudo tão diferente e delicioso. Sabe, esta é a primeira vez que comi rosbife.

— Hm.

Nós dois continuamos conversando enquanto apreciávamos nossa refeição.

— Annerose perdeu, a Princesa Iris desistiu e aquele cara, Jimina Senen, foi desclassificado. Acho que só ganhei porque tive sorte.

— Pois é, tipo isso — eu disse a ela.

— Retire o que disse!

— Eu quis dizer sem chance! Você venceu porque é a melhor!

— É claro. Mas não é assim que a sociedade verá.

— Pois é, e você dificilmente pode culpá-los.

— Está brincando com o perigo? — ameaçou ela.

— Se o mundo não consegue ver que você é a melhor, deve haver algo de errado com os olhos deles!

— Bem, é assim que as coisas funcionam. As massas são cegas. Mas eu não sou o tipo de mulher que vai ficar quieta enquanto me olham com desprezo.

— Talvez gostassem mais de você caso o fizesse.

— Minha paciência está chegando ao limite já.

— Maldito povo! Prove a eles quão forte e bonita você realmente é!

— Esse é o plano, é claro. Vai me ajudar?

— Nem.

— Não adianta negar. Também é pelo seu bem.

— Espera, meu?

— Sim, seu. O que acha que vai acontecer depois que se formar? Com suas notas medíocres, você terá dificuldade em conseguir um emprego decente.

— Tipo…

Agora que ela mencionou isso, não pensei muito no assunto. Ela vai ser a chefe da nossa família, então acho que vou ter que conseguir algum tipo de emprego.

Algo chamativo, como ingressar na Ordem dos Cavaleiros, está fora de questão.

Eu preciso ser alguém mais esquecível… Aha!

— Vou me tornar o Guarda do Portão A.

Você sabe, um extra que diz ao protagonista que ele não pode passar até que a taxa de entrada seja paga.

— Guarda do Portão A? O que é um “A”?

— Tipo, “mediano”?

— Será o pé do Benedito… Guardar portões está longe de ser um trabalho adequado para um aristocrata. Eles trabalham em turnos de 12 horas e quase não têm nenhum dia de folga. Além disso, o trabalho é extenuante, e o pagamento, péssimo.

— Ah. Droga…

Não ter nenhum dia de folga parece uma tortura. Por um lado, isso atrapalharia minhas atividades de agente das sombras.

— E os guardas da prisão?

— Isso é ainda pior. Você tem que interagir com a escória da sociedade o dia todo.

— Caraaaaaa… bem, vou descobrir quando chegar a hora. Contanto que eu possa fazer as coisas que quero, posso trabalhar em qualquer lugar.

— E o que exatamente é essa “coisa” que você quer fazer?

— É segredo. Tenho a política de não falar sobre coisas que são realmente importantes para mim.

— Então devo assumir que você não tem objetivos. Pare de inventar desculpas para não pensar agora no que quer fazer com a sua vida.

— O que te faz pensar que é isso que estou fazendo?

— Oh, acho que você pode ter ideia do porquê.

— Bem, que seja.

— Você não pode usar “que seja” para sair dessa. Estamos falando sobre o seu futuro aqui. Portanto, limpe sua agenda para as férias de outono. Se fizer o que eu digo, serei capaz de colocá-lo na Ordem dos Cavaleiros.

— Espere, o que quer dizer?

Claire me mostrou um sorriso destemido.

— Heheh. Vamos caçar a Rainha de Sangue, uma Vampira Progenitora. Basta ficar atrás de mim e tudo vai dar certo.

 

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Depois de terminar nosso jantar, caminhamos pela capital escurecida.

Quando tentei pagar a refeição, disseram-me que era por conta da casa.

Eu acho que a Gamma realmente me deu um brinde. Bem, Claire acabou de ganhar o Festival Bushin, então talvez seja por isso. Pode ser qualquer uma das duas opões, na real.

— Já passou o toque de recolher do dormitório — comentei.

— Consegui uma permissão para passar do horário para você. Eu disse a eles que estava participando de uma festa.

— Ooh, boa.

A rua estava estranhamente quieta.

Olhei para o céu e tive um vislumbre da lua nova brilhando lá no alto. Parecia um pouco… mais vermelha do que o normal.

— Qual é o problema? — perguntou Claire.

— Sinto que a lua está mais avermelhada.

— É mesmo? Parece normal para mim.

— Talvez você esteja certa. De qualquer forma, mesmo que a lua ficasse vermelha, ou azul, ou alguma outra cor, não importaria tanto.

Mas definitivamente parece um vermelho mais escuro.

— Oh, eu acho que não terminei de contar a você sobre a Rainha de Sangue —, lembrou Claire.

— Ah, certo.

— Suponho que você já saiba que seus seguidores têm se aventurado recentemente fora da Cidade Sem Lei, causando uma grande quantidade de destruição.

Ousado de ela assumir que eu já sei sobre isso.

— Os países afetados solicitaram que a Guilda dos Cavaleiros Negros a caçasse.

— Faz sentido.

— Em suma, eles montaram uma equipe dos melhores cavaleiros negros. No entanto, muitos deles são babacas egoístas, então não há garantia de que realmente seremos capazes de trabalhar juntos como uma equipe.

— Hm.

— E é por isso mesmo que estou trazendo você comigo. Não se preocupe, tudo o que precisa fazer é encontrar um lugar seguro para me observar enquanto faço o trabalho. Só isso já será o suficiente para permitir que coloque a missão em seu currículo.

— Ah.

— Assim que aumentarmos suas experiências de trabalho, será fácil colocá-lo na Ordem dos Cavaleiros. Eu me dei bem com o comandante da Guarda Imperial em uma festa outro dia, então, se você quiser, posso fazer a ponte para você.

— Deixe-me pensar sobre isso.

— A missão vai acontecer durante as férias de outono. Alguns dos mais ansiosos partirão cedo, mas não precisamos nos apressar.

Naquele momento, senti o cheiro de sangue no ar, e estava espesso. Alguém morreu ou algo assim?

Minha irmã percebeu logo depois.

— Sinto cheiro de sangue. E está vindo daqui. — Ela parou de andar e olhou para um beco escuro. — Fique atrás de mim — ordenou.

— Entendido.

Estendeu a mão até a cintura, agarrou a espada e entrou. Eu a segui, deixando um pequeno espaço entre nós. À medida que avançávamos um pouco mais no beco, vimos uma figura escura curvada.

Fomos capazes de distinguir os sons crunch, crunch, crunch de mastigação.

Sim, alguém morreu, beleza.

— Gh…! — Claire abafou o grito de surpresa e puxou a espada.

A figura sombria devia tê-la sentido, pois se virou.

Era uma pessoa encharcada de sangue.

Não, espere, não exatamente.

Seus olhos eram vermelho-sangue, e sua mandíbula frouxa estava preenchida de presas afiadas. A baba carmesim escorria de sua boca para a calçada.

Os restos meio comidos de um cadáver humano jaziam a seus pés.

— Abaixe sua arma e entregue-se pacif-!

— GRAAAAAAH!

A coisa mostrou suas presas e se lançou contra minha irmã.

Seus movimentos eram mais parecidos com os de uma besta do que com os de uma pessoa.

A lâmina da Claire brilhou ao luar — então cortou completamente seu estômago.

— Eu te avisei — rosnou ela para seu agressor dividido ao meio.

Mas…

— Ainda está… vivo?

O torso da coisa estava rastejando pelo chão. Ele estendeu a mão e agarrou Claire pela perna.

— Graaaaah!

— Já chega! — A espada da minha irmã se cravou em seu pescoço.

Sua cabeça rolou pelo chão de pedra, seus dentes batendo impotentemente contra o ar.

Então, depois de lançar um olhar fraco para Claire, ele enfim ficou em silêncio.

O fedor nauseante de sangue tomou conta do beco.

— Um ghoul… Poderia ser da Rainha de Sangue…?

A criatura tinha a forma de um humano, mas sua pele era pálida e desprovida de sangue, e seus olhos vermelhos e presas afiadas também chamavam minha atenção.

Além disso, seus movimentos bestiais sugeriam um incrível grau de vitalidade.

No entanto, parecia ter perdido completamente o senso de razão.

— Ghouls são servos dos vampiros, certo? — perguntei.

Para ser honesto, eu não poderia me importar menos com ghouls, mas vampiros parecem ser fortes.

Claire olhou para baixo e murmurou:

— Monstros…

— Mana…?

— Ghouls eram humanos antes, não eram…?

— Acho que sim.

— Tenho estado muito assustada nos últimos dias, pensando se vou acabar como eles no futuro. E se eu me tornar um monstro e perder a razão…?

— Tenho quase certeza de que é impossível perder algo que nunca tev-

— Calado. Pelo que parece, a Princesa Rose era uma dos “Possuídos”… É apenas um boato, mas ainda assim… Não contei a ninguém, mas… posso estar possuída também…

— Hein? Você pode estar possuída?

Ela está se referindo àquela coisa que eu curei, tipo, um tempão atrás?

— Há muito tempo, encontrei alguns hematomas nas minhas costas. Eu não podia contar a ninguém porque estava com muito medo, mas eles continuaram se espalhando e crescendo. Então, um dia, acabei melhorando. Eles desapareceram como se nunca tivessem estado lá. “Ainda bem”, pensei, “estou curada”. Mas quando pesquisei sobre o assunto recentemente, descobri que a Possessão nunca desaparece. Então, se foi isso que causou aqueles hematomas, quer dizer que no fim eu vou…

— Tenho certeza de que você não tem nada com que se preocupar.

Afinal, está totalmente curada.

— Isso foi uma brincadeira, bobo. De jeito nenhum eu sou um dos Possuídos. — Claire sorriu e olhou para o céu noturno. — Ainda assim… Não há garantia de que serei capaz de ficar por aqui para sempre… É por isso que preciso que você limpe sua agenda para as férias de outono.

— Ugh…

— Não estou pedindo, estou mandando. Vou avisar a Ordem dos Cavaleiros sobre o que aconteceu aqui.

Ela se virou de costas para mim e começou a andar.

Dei outra olhada para o céu, e de fato a lua estava mesmo com um tom avermelhado hoje. Eu meio que quero ver do que se tratam esses vampiros, e a Cidade Sem Lei parece muito interessante também.

 

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Eu estava no meu dormitório, ouvindo a Beta falar.

Todas as noites, depois de terminar minhas aulas, tenho os meus resumos regulares sobre o Jardim das Sombras.

— Depois do incidente no Festival Bushin, Doem foi…

— Uhum.

Depois de pensar em tudo que minha irmã me disse, estou realmente começando a ficar animado com a ideia de ir para a Cidade Sem Lei.

Afinal, não tive a chance de ir à caça de bandidos nos últimos dias, e a Cidade Sem Lei é basicamente um bando de bandidos de respeito. E quando se trata de bandidos, o que é deles é meu.

— … também tornou o trabalho da Epsilon consideravelmente mais fácil. Agora, no que diz respeito aos assuntos internos do Reino de Oriana…

— Uhum.

Como a Claire disse, vou ter que pensar sobre o que quero fazer no futuro.

No final das contas, tudo se resume a dinheiro. Contanto que eu consiga uma grana, tudo vai dar certo.

E já mencionei que a Cidade Sem Lei está cheia de bandidos de respeito?

Aposto qualquer coisa que o chefe deles está ganhando dinheiro com todas as coisas obscuras que estão fazendo.

Em outras palavras, tudo o que tenho que fazer é invadir e fugir com o tesouro deles, e meus problemas vão embora. Moleza.

— O Jardim das Sombras continua a crescer a um ritmo satisfatório, e o laboratório em Alexandria começou o desenvolvimento da máquina a vapor, com…

— Uhum.

Se eu me concentrar em acumular dinheiro suficiente para passar o resto da minha vida livre, leve e solto, nunca terei que me preocupar em encontrar um emprego de verdade.

Caramba, eu posso até tentar vários trabalhos diferentes e despretensiosos: um porteiro, um guarda, um vagabundo, um padeiro… As possibilidades são infinitas.

Ao ter acesso ao dinheiro, pode-se viver a vida sem algemas a ele.

Ooh, isso parece meio inteligente.

De qualquer forma, há três grupos influentes na Cidade Sem Lei e, infelizmente para eles, um dos três está caindo.

Qual devo escolher, entretanto? Uni-duni-tê…

Quer dizer, eu poderia simplesmente aniquilar todos os três, mas então não teria nada para fazer no futuro.

Para ser honesto, essa moça, a Rainha de Sangue, parece muito interessante, e eu posso pensar em maneiras incríveis de matar um Vampiro Progenitor, mas ao mesmo tempo, é o tipo de coisa em que eu quero deixar o melhor para o final.

Decisões e mais decisões.

Do jeito que as coisas estão, a Rainha de Sangue realmente parece ser a melhor candidata.

— … e isso conclui meu relatório.

— Uhum.

— Se houver algo que eu omiti ou esqueci, por favor, me avise… — Beta estava ajoelhada diante de mim com a cabeça baixa.

— Está fedendo…

Quando ela me ouviu, contorceu-se.

— A Cidade Sem Lei… Ela fede a sangue…

— Ainda bem que não estava falando de mim… — murmurou Beta, baixinho.

— Parece que a Rainha de Sangue está tramando algo…

— Está correto. Não conseguimos encontrar uma conexão forte entre ela e o Culto, então não sentimos a necessidade de fazer nada sobre o assunto, mas…

— Uma tempestade se aproxima… Uma tempestade de sangue…

— Uma tempestade de quê…?

— Olhe para a lua, Beta.

— Hã…?

Apontei para a lua levemente vermelha pairando no alto, do lado de fora da janela.

— Hm, está um pouco mais vermelha do que o normal…?

— Demorou para perceber… Essa é a Lua Vermelha…

— …?! Espera! Essa é mesmo a Lendária Lua Vermelha…?!

— … E se for?

Lancei um olhar de soslaio para Beta, que estava perplexa olhando para o céu, em seguida, segurei minha taça de vinho vermelho-sangue contra a lâmpada enquanto tomava um gole.

A “Lendária Lua Vermelha”, hein?

Qualquer coisa soa bem se você colocar a palavra lendário na frente dela.

— N-Não pode ser…! Se for esse o caso, a Cidade Sem Lei… não, tudo ao seu redor será destruído…!

— Não se preocupe.

— M-Mas as pessoas estão em perigo! Precisamos despachar o Jardim das Sombras imediatamente—!

— Eu não te disse? Não se preocupe.

— Ngh! P-perdoe-me…

Olhei para Beta enquanto ela tremia, então cruzei as pernas vagarosamente.

— Deixe isso comigo.

— Você não quer dizer… Está planejando lidar com este problema sozinho, Mestre Shadow?!

— Quer me impedir…?

— Entendo que essa é a maneira mais eficiente de lidar com a situação, mas… Mestre Shadow, e se algo acontecesse com você?!

— Não se preocupe. — O canto da minha boca se curvou em um sorriso. — Afinal… a lua está um pouco mais vermelha do que o normal. Certo?

— …?! — Beta olhou para mim com os olhos arregalados.

No começo parecia chocada, mas seu rosto rapidamente se suavizou com um sorriso gentil.

— Acho que esqueci com quem eu estava falando.

Ela me ofereceu uma reverência profunda.

— Afinal… a lua está um pouco mais vermelha do que o normal. Contra você, Mestre Shadow, nem mesmo a Lendária Lua Vermelha chega aos seus pés. Estarei orando pelo seu sucesso.

Top. Bastou que a lua parecesse meio vermelha e agora é a “Lendária Lua Vermelha”. Beta sempre foi boa nessas coisas.

— Você não acha… que a lua está linda assim?

— Heehee. De fato. E é graças a você que podemos ver dessa forma.

— Você vai beber comigo?

— Sim! Com prazer.

Beta e eu observávamos a lua enquanto apreciávamos nosso vinho.

Parece que vou conseguir começar minhas férias de outono na Cidade Sem Lei com tudo.

 

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A Cidade Sem Lei é, para resumir, uma favela gigante.

Os sem-teto estavam amontoados por toda parte, barracos se alinhavam nas estradas e o fedor de lixo permeava o ar.

Mas isso não é tudo que a cidade tinha a oferecer.

Por exemplo, é o lar de uma peculiaridade notável — três arranha-céus se elevando acima de suas ruas.

— Aquele é o castelo da Rainha de Sangue. A Torre Carmesim… — comentou um homem que parecia um lutador de luta livre profissional. Ele olhou para o edifício vermelho-sangue, o qual se erguia no alto, iluminado pelo sol poente.

— O que houve, Quinton? Está com medinho?

Ao lado dele estava um belo homem loiro.

— Como diabos eu ficaria com medo, Goldoh. Só é a primeira vez que estou vendo um edifício tão alto.

— Hmm. Sabe, lutei em todo o mundo e tenho que admitir, é uma torre impressionante. Provavelmente levaria o dia todo só escalando.

Os dois suspiravam enquanto lançavam seus olhares para a Torre Carmesim.

Parecia quase uma espiral de sangue subindo ao céu. Nenhum deles podia sequer começar a imaginar como foi construída.

— Só porque eles têm uma torre chique não significa que o cara lá dentro é forte. Vamos em frente.

— No final das contas, são apenas um bando de arruaceiros. A cabeça da Rainha de Sangue está à nossa disposição.

As aparências de Quinton e Goldoh os faziam parecer completamente opostos, mas eles se deram muito bem desde o dia em que se conheceram. Talvez seja porque se uniram ao terem sido derrotados pelo mesmo adversário, mas por alguma razão, os dois estão trabalhando juntos desde o Festival Bushin.

Eles caminhavam pela Cidade Sem Lei sob o céu noturno. Quanto mais se aproximavam do centro da cidade, menos ela parecia uma favela decrépita e mais como uma miscelânea multicultural.

— Bem, isso é uma surpresa…

— Sim! É melhor ficar sempre alerta.

As pessoas que vêm de fora nunca enxergam esse aspecto da Cidade Sem Lei.

Os edifícios não são a única coisa diferente. As pessoas que passavam por eles não eram mais vagabundos comuns, mas sim caçadores implacáveis olhando para eles com brilho nos olhos.

Nem uma única pessoa ao redor deles parece um alvo fácil.

Quinton e Goldoh imediatamente perceberam isso.

Eles se preparavam enquanto caminhavam, prontos para desembainhar suas espadas a qualquer momento. Os prédios ao seu redor começavam a adquirir uma estética unificada.

Era a prova de que eles chegaram ao território da Rainha de Sangue.

Também notaram uma mudança no ar.

— Estamos perto.

Não havia sinais de residentes. No entanto, ficou claro que havia algo dentro das casas. Quinton e Goldoh conseguiam ver a Torre Carmesim bem à frente.

Eles aumentaram o foco e seguiram em frente.

E enfim chegaram até ela.

— Esta deve ser a entrada da frente…!

Quinton se aproximou da porta gigantesca. Figuras sinistras e inumanas estavam cuidadosamente gravadas em sua superfície.

— E lá vamos nós. — Ele estendeu a mão para tocá-la, mas…

— Hee-hee-hee. Pare aí mesmo.

… Alguém o chamou. A voz era rouca demais, a ponto de ser quase difícil decifrar as palavras.

A mão de Quinton congelou e, quando olhou em volta, viu um amontoado de panos sujos empilhados ao lado da porta. Então viu aquilo se mover — havia alguém envolto neles.

— Hee-hee-hee. Vocês dois não são qualificados o suficiente para tocar na porta…

Com isso, a pessoa vestida de trapos esfarrapados se levantou.

Era um homem magro. Ele era mais alto do que Quinton, mas suas bochechas e olhos eram fundos. Não passava de pele e ossos. Seu cabelo branco sujo se estendia até os ombros.

A melhor maneira de descrevê-lo seria um “cadáver vivo”.

— Você acha que não somos qualificados?!

— Os únicos autorizados a abrir a porta são os empregados, convidados e os fortes…

— Entendido. Você tem razão. Não somos servos e não fomos convidados. Mas somos fortes para um caralho e estamos aqui para acabar com a Rainha de Sangue.

Quinton ergueu os olhos para o homem de cabelos brancos e sorriu.

O homem o encarou de volta sem piscar, então riu.

— Hee, hee-hee-hee. Hee-hee-hee-hee-hee…

— Do que você acha que está rindo?!

— Hee-hee-hee, acho que sou muito estúpido, mas… é sempre engraçado quando encontro alguém ainda mais estúpido…

— O que disse?!

— Hee hee. Você realmente deveria saber o seu lugar… Agora é tarde demais.

O homem de cabelos brancos tirou uma parte de seus trapos, expondo o lado direito de seu corpo.

Não havia nada do ombro para baixo.

— Este foi o resultado da minha estupidez quando tentei desafiar a Rainha de Sangue há quatro anos… Não só me custou o braço, como agora também sou um humilde Cão de Guarda na coleira…

Havia uma coleira grossa com uma corrente presa ao pescoço do homem.

— Ha. Sou Quinton, um veterano do Festival Bushin. E ele é Goldoh, o Dragão Dourado Vitorioso. Não somos idiotas como você.

— Hee hee. Isso não significa nada pra mim. Tenho a política de não lembrar dos nomes daqueles mais fracos do que eu…

— Hein? E quem diabos seria você?

— Hee-hee, eu sou apenas um Cão de Guarda… Mas, uma vez, muito tempo atrás… costumavam me chamar de Demônio Branco…

— O Demônio Branco? Nunca ouvi falar. Goldoh, conhece esse cara? — Quinton se virou para seu parceiro.

Goldoh balançou a cabeça.

— Parece familiar, mas… Desculpe, não sei dizer.

No entanto, seus olhos estavam fixos com cautela no Cão de Guarda.

— E aí está, Sr. Ninguém — retrucou Quinton.

— Hee hee. Por mim tudo bem. Os nomes dos estúpidos devem ser esquecidos de qualquer maneira…

— Sem ressentimentos, mas estamos passando por aquela porta, quer você goste ou não.

— Ah, mas eu sou um Cão de Guarda… Não posso simplesmente deixar os fracos passarem por mim…

— Eh… É o seu funeral. — Quinton encarou o Cão de Guarda e desembainhou sua lâmina.

O Cão de Guarda estendeu a mão esquerda e desembainhou sua espada estreita e de um gume da mesma maneira. Era uma bela arma e mais comprida do que ele.

Goldoh seguiu o exemplo e sacou sua lâmina.

— Quinton… tenha cuidado.

— O que quer dizer com cuidado?

— Aquele homem… Eu não consigo avaliar o quão forte ele é.

— O quê? Aquela pilha de pele e ossos com um braço só? Só pode ser exagero!

Quinton ignorou o aviso e atacou.

Sua espada larga lançou um rastro brilhante através do sol da tarde — e um momento depois, sangue jorrou.

— Hein?

Cortada bem ao meio, pedaços da espada larga bateram no chão.

— Q-Quinton! — gritou Goldoh, e, ao fazê-lo, Quinton se encolheu com a ferida aberta em seu peito.

— Então… é o próximo…? — O Cão de Guarda estava diante de Goldoh, encharcado com o sangue de Quinton.

— M-maldito…!

Goldoh não foi capaz de ver o corte do Cão de Guarda que derrubou seu amigo.

Tudo o que viu foi o borrifo de sangue e a queda da espada larga.

Foi uma incrível demonstração de habilidade.

Goldoh podia ver que o Cão de Guarda estava muito acima deles, apesar de seu braço dominante ter sido roubado e ele ter sido reduzido a pele e ossos.

Ele preparou sua espada mesmo assim.

Não fazia muito tempo que conhecia Quinton. No entanto, eles estavam unidos pelo objetivo comum de se reerguer após a mesma derrota esmagadora.

— Não se preocupe. Ele ainda está vivo. Afinal, ele não é bom morto… — O Cão de Guarda riu.

— Como ousa?!

Goldoh reuniu magia em sua espada e, em seguida, desferiu seu ataque mais forte.

— Dragão Dourado Demoníaco! Golpe fatal!!

No momento em que o disparou, seus olhos encontraram os do Cão de Guarda, os quais eram pretos e estavam terrivelmente sedentos por sangue. Quando Goldoh encontrou aquele olhar profundo, lembrou-se de repente quem era o Demônio Branco.

— E-Espere, você é…

Os lábios do Cão de Guarda se curvaram para cima.

Se este esqueleto de um braço é realmente o Demônio Branco…

Compreendendo a diferença intransponível em sua força, Goldoh fez uma escolha inesperada e disparou seu ataque contra o solo.

— Hmm…?

Uma enorme nuvem de poeira subiu.

Passos recuando ecoaram e um grito reverberou pelo ar.

— Quinton!! Eu juro… eu juro que voltarei por você!!

— Fugindo, hein…? Bem, não posso segui-lo… Afinal, sou um Cão de Guarda…

O Cão de Guarda limpou a poeira com um único golpe de sua espada e observava Goldoh sair correndo.

— Hee-hee, mas… ele será capaz de sair ileso…?

Enquanto observava, as portas das casas se abriram, e seus “residentes” cercaram Goldoh.

— Hee, hee-hee-hee. Hee-hee-hee-hee-hee…

Ele olhou para os arranha-céus gigantescos.

A Cidade Sem Lei — o depósito de lixo do mundo, controlada por três governantes em três torres elevadas.

Um mundo operando na sobrevivência do mais forte, onde o mal, a riqueza e o poder de todo o mundo se congregavam.

Um mundo em que nenhum rei, cavaleiro ou monstro pode intervir.

Bem-vindo à Cidade Sem Lei.

Um mundo onde o poder é a justiça.

 


 

Tradução: Taiyō

 

Revisão: Kenichi

 


 

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