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A Eminência nas Sombras – Vol. 02 – Cap. 06 – Um Mentor Sempre Toca Piano Sob o Luar!

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Era uma alegre manhã de verão.

Enquanto eu olhava para o claro céu azul pela minha janela, estendi bem os braços.

Então, caí sobre minha cama, planejando não fazer nada durante o dia todo.

Faltava pouco para terminar as férias de verão. Além disso, as primárias do Festival Bushin começavam na próxima semana, por isso eu precisava pensar em alguns enredos.

Entretanto, ainda era fato que pessoas não podiam continuar vivendo se não tirassem um tempo para relaxar.

Tudo bem, posso ter acabado de inventar essa.

Porém, não deixa de ser uma verdade para mim.

— Ei, Cid! Tenho belas notícias, abre aí!

De repente, Esquel começou a bater na minha porta e gritar.

Quando duas pessoas se familiarizavam bem, não havia dúvidas de que acabariam incomodando uma à outra. Por que buscam a companhia dos outros, sabendo que isso traz tamanho pesar? Essas são as dúvidas que sou forçado a confrontar durante uma das últimas manhãs das férias de verão que tenho.

Para ser honesto, eu meio que gosto disso. Parece que sou um daqueles mentores que sempre mantém os outros dentro do seu alcance.

— Sim, sim, estou indo.

Destranquei a porta e dei de cara com Esquel.

— Veja só, é um cartaz de procurado da Presidente Rose. Dez milhões de zeni para capturá-la viva e meio milhão por informações úteis sobre ela.

— Hm. — Peguei o cartaz de Esquel e o observei.

— Vamos atrás dela.

— Espera, por quê?

— Por que estou zerado. — A expressão de Esquel era a de puro desespero.

— Você não disse que sabia de uma disputa que era garantida que ia dar bom?

— Não quero falar sobre isso.

— Não era você que ia sair com toda a bolada?

— Cale a boca. Ouça, não quero entrar em detalhes, mas estou duro. E é por isso que preciso de grana.

— Entendo.

— Qual é, cara. Você tem que me dar essa força.

— Não estou a fim. Vá sozinho.

— Espere. Pensa um pouco. É muito melhor duas pessoas procurando do que apenas uma. Nossas chances de encontrá-la serão dobradas.

— Cara…

Enquanto Esquel me balançava pela gola, rapidamente perdi o interesse. Afinal de contas, já tinha decidido ajudar Rose a abraçar seu espírito rebelde e apunhalar o noivo. Sempre digo que é bom ver um pouco de entusiasmo.

Em outras palavras, estou torcendo bastante para que Rose escape.

— Estou implorando, cara!

Esquel curvou a cabeça em uma rara demonstração de súplica.

— Sim, mas… — Logo que comecei a dizer, a supervisora do dormitório colocou a cabeça para dentro do quarto.

— Cid, sua irmã está aqui para vê-lo.

— Minha o quê?

— Sua irmã. Ela está esperando por você lá na frente, então acho melhor não deixar que espere demais.

Depois de dar a informação, a supervisora foi embora.

— Claire, hein…? Acho que ela voltou.

Tenho uma péssima sensação.

Em questão de segundos, coloquei na balança qual das duas opções parecia ser o maior incômodo.

— Beleza, vamos dar início à operação Capturar Rose!

— Eu sabia que podia contar com você, Cid! É por isso que somos grandes amigos!

Agarrei Esquel pelo pescoço e abri a janela.

— Espere, Cid! O que está fazendo?

— Não temos tempo. Temos que sair pela janela.

— Hã? Espere, do que está falando?! Espere! Não! Ei!!

— Avante!

Então, saltei!

 

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— Iris disse que é grata pelas suas informações e que está ansiosa para trabalhar com você novamente no futuro.

— É uma honra. — disse Beta, observando Alexia caminhando na sua frente.

Alexia carregava um lampião mágico, e as duas desciam uma escadaria em espiral escura.

Elas já tinham descido um bom tanto. O ar estava úmido e frio, fazendo-as lembrar que estavam no subterrâneo.

— Talvez seja seguro assumir que Doem Ketsuhat tenha conexão com o Culto. — disse Alexia.

— Concordo. — respondeu Beta.

— O problema é que não temos nenhuma prova.

— Pois é. E isso é problema de significância nacional e religioso, por isso que evidências normais não serão o suficiente.

— E você acha que eu não sei? Meu pai deixou bem claro: se quisermos fazer a ligação entre o Culto de Diablos e os Ensinamentos Sagrados, precisamos de algo que irá convencer as massas e nossos países vizinhos.

— E, caso sejamos marcadas como hereges, será o nosso fim.

— Não é como se todos os fiéis dos Ensinamentos Sagrados estivessem envolvidos com o Culto. Talvez sejam apenas alguns membros do alto-escalão.

— É isso que deixa tudo uma bagunça.

— Pregação.

Os passos delas ecoavam pela escadaria.

— Meu pai tem uma política antiga de não se envolver em brigas com os Ensinamentos Sagrados. Fico me perguntando o que ele planeja fazer sobre o Culto de Diablos.

— Acredito que continuará ignorando-os.

Continuará ignorando-os…?

Os sons dos passos de Alexia vacilaram.

— Apenas uma teoria sem fundamento minha. Por favor, esqueça o que eu disse.

— Bem… posso deixar essa passar por agora. Aliás, a minha irmã disse algo que chamou a minha atenção. Disse que o Rei Oriana parecia meio vazio.

— Vazio, hein…?

— Foi a minha primeira vez o vendo, por isso não sei a diferença. Ele também tinha um cheiro doce.

Um aroma doce… Beta sabia muito bem que droga poderia causar isso.

— Parece que já pode ser tarde demais….

— Com certeza o Culto está agindo, e, pela maneira que meu pai está lidando com as coisas, nosso país está destinado a ser o próximo…

As duas ficaram em silêncio à medida que continuavam a descer.

— Chegamos. — Havia um grande buraco com uma escada na frente de onde Alexia parou. — É um dos túneis subterrâneos que percorrem sob a capital. Você já ouviu falar deles, né?

— Sim, de fato. Os túneis construídos debaixo de toda a capital para que a família real pudesse fugir em uma crise.

— Exatamente. Muitos dos mapas, chaves e criptogramas se perderam, por isso que agora pode ser considerado um labirinto.

— E por que estamos aqui?

— Para nos livrarmos de você. — Alexia agarrou a espada em sua cintura e… riu. — Brincadeira. Nada te abala, né?

— Eep! Por favor, não me mate…!

— Há uma boa chance de que Rose usou esses túneis para fugir.

Beta sentiu-se um pouco triste por ter sua atuação brilhante ignorada.

— Vou procurá-la. — Alexia agarrou a escada, preparada para descer.

— Hm, poderia me fazer o favor de esperar um pouco?

— Por quê?

— Você disse para alguém onde estava indo?

— Claro que não. Tentariam me parar.

— Você disse que é tipo um labirinto lá embaixo. Tem certeza que vai conseguir encontrar o caminho de volta?

— Ah, é moleza. É só voltar pelo caminho que vim.

— Hm, não tenho muita certeza sobre como dizer isso de maneira educada, mas poderia fazer o favor de não me arrastar para perigos por causa dos seus caprichos doidos?

— Não.

As duas se encararam por um tempo.

— Se tem alguma reclamação, pode ir embora.

Com isso, Alexia deixou Beta para trás e começou a descer a escada sozinha.

Beta considerou bastante aceitar aquela oferta, mas ainda não podia deixar que Alexia morresse.

— Protegê-la também é parte do seu trabalho, Beta. — murmurou baixinho, então seguiu a princesa.

 

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Era cedo, e eu estava pela capital.

Esquel foi para algum lugar, dizendo que ia reunir algumas informações.

Neste mundo, as pessoas começam a trabalhar assim que o sol nasce.

A rua principal já estava agitada.

Eu disse que o ajudaria a procurar por Rose, mas não estou a fim de levar isso tão a sério. Ainda quero que ela escape em segurança, mas fingir que estou procurando por ela parece uma maneira bacana de matar tempo.

Eu meio que quero descobrir o que provocou o seu espírito rebelde a ponto de apunhalar seu noivo. Se possível, gostaria de perguntar pessoalmente.

De alguma forma ou de outra, ficarei feliz contanto que possa matar um tempo.

Raiva tendia a decair à medida que as horas do dia passavam, e a minha irmã definitivamente precisava de um tempo para se acalmar.

Conforme estes pensamentos percorriam a minha mente, ouvi o som de um piano vindo de algum lugar.

— Hmmm…

Para ser honesto, sou bom tocando piano.

No meu mundo antigo, praticava para que me tornasse um agente das sombras melhor. Tudo bem, foi mal, era mentira. Meus pais me forçaram a aprender como parte do meu regime educacional.

Minha motivação era praticamente zero, pois preferia muito mais passar tempo treinando para me tornar um mentor do que praticar piano. Esse desejo, entretanto, não foi páreo contra o poderoso regime educacional.

Mesmo assim, apesar de minhas lições de piano terem começado sob reclamações, passei a odiar cada vez menos à medida que continuava. Afinal, só de saber que é bom no piano já enche a cabeça das pessoas com todos os tipos de noções preconcebidas.

Quando ele chega em casa, estará ocupado demais praticando, eles dizem.

Mantive minhas relações sociais no mínimo absoluto para que pudesse me tornar um agente das sombras, por isso que essa falsa suposição acabou sendo útil.

Além disso, percebi que o piano era uma bela adição estética.

Um mentor tocando piano sob o luar… Parece legal, não é?

Faz com que pensem que você não é apenas forte, mas também culto.

É tão bom…

Quando percebi isso, comecei a levar minhas aulas a sério.

Minha principal prioridade ainda era o meu treinamento, mas não conseguia tirar a ideia da cabeça de mim mesmo tocando piano para dar um clima a mais antes de uma grande batalha.

Por causa disso, acabei ficando bom nisso, se assim posso dizer.

— Nada mal, nada mal… — murmurei.

Quem está tocando agora também é bastante decente.

A Sonata N° 14 de Beethoven, a “Sonata ao Luar”, hein…?

Sou um grande fã dessa partitura. Na verdade, é a minha favorita — a composição dá uma vibe para um mentor em ascensão.

Embora eu tenha bastante certeza de que poderia vencê-lo em uma disputa na “Sonata ao Luar”, a versão do atual instrumentalista tem um toque único.

— É bom… É como se eu pudesse ver a luz da lua em minha mente… mesmo que ainda esteja de manhã….

Enquanto fazia toda a minha rotina para entrar no clima, enfim percebi algo.

Não é estranho que alguém neste mundo esteja tocando partituras de Beethoven?

Uma expressão séria apareceu em meu rosto enquanto andava pela multidão, indo em direção à música.

Tenho que ser honesto.

Já tenho uma bela ideia do que está acontecendo.

Não sou idiota, afinal.

Consigo ouvir a música vindo de uma cafeteria no primeiro andar de um dos hotéis mais famosos da capital.

A segurança é tão rigorosa que a ralé nem consegue entrar, mas eles me reconheceram e me deixaram passar.

Entrei assim que a mulher com os cabelos da cor de um lago claro terminava sua apresentação.

— Epsilon…

Ela usava um vestido sem mangas, mas cobria o suficiente do seu peito para esconder o slime. Já era de se esperar.

Suas pernas estavam envoltas por meia-calça para evitar que mostrasse a pele, e o fato de que seus sapatos tinham palmilhas para deixá-la mais alta estava bem escondido.

Seu trabalho era perfeito.

Quando me aproximei dela, ela pareceu me notar.

Epsilon curvou-se para os clientes, então me levou para um recinto lateral. Fechou a porta e sorriu.

— Viu minha apresentação, meu lorde? Que vergonha…

Seu rosto enrubesceu um pouco, e ela olhava para mim com olhos de cachorrinho sem dono. Aquilo não era o suficiente para me enganar.

— Epsilon, aquela era a “Sonata ao Luar”, correto?

— Sim, é a minha favorita dentre todas as partituras que me ensinou.

— Sério? Também é a minha favorita.

Não era como se eu quisesse ensiná-la, mas meio que é sempre gratificante quando descobre que alguém gosta das mesmas coisas que você.

— Graças a você, meu lorde, que fui capaz de conseguir várias conexões poderosas tanto como pianista, quanto como compositora.

— Espere, compositora…?

— Claro. “Sonata ao Luar”, “Marcha Turca”, “Valsa Minuto”…

Epsilon continuava a se gabar de como apresentou uma grande quantidade de composições modernas famosas e históricas, ganhando popularidade entre a classe aristocrática, ganhou vários prêmios e foi convidada para migrar para uma nação voltada à arte.

Foi mal, Beethoven, Chopin… e todos os outros compositores famosos.

Neste mundo, todo o crédito do trabalho de vocês foi para a Epsilon.

— E o meu último concerto foi recebido de maneira esplêndida. O meu próximo trabalho será no Reino de Oriana. Como você bem sabe, há muito a ser feito lá…

— Sim, já que eles valorizam as artes.

— Sim, de fato… E, desta vez em particular, há um trabalho muito importante que preciso cuidar. — Epsilon sorriu de maneira encantadora.

— Bem, boa sorte.

— Farei o meu melhor para completar o trabalho com sucesso e fazer uma apresentação digna de suas sublimes composições, meu lorde.

Epsilon curvou-se graciosamente.

— Oh, é mesmo, por acaso você teria alguma ideia de onde a Princesa Rose está?

— A Princesa Rose… Beta está a cargo do incidente, mas, pelo que sei… Ouvi dizer que fugiu pelo subterrâneo abaixo da capital. Você poderia pedir mais informações para a Beta.

— Ah, sem problemas. Já é o bastante. — Se eu tiver sorte o suficiente de me encontrar com a Rose, talvez tenha chance de conversar com ela. — Obrigado. Hã…

Quando olhei para o sorriso de Epsilon, tentei pensar no que dizer para lhe agradecer.

Fiquei feliz demais quando me disse que gostava de “Sonata ao Luar”, então é capaz de ela também se sentir da mesma forma se eu disser algo que queira ouvir. — Você está bonita, como sempre.

— O-Oh, não… não… não, n-não mesmo! Ainda estou trabalhando nisso…!

Sem conseguir continuar olhando para o rosto dela, virei minha atenção para o cenário do outro lado da janela.

É assim que o mundo gira, pensei enquanto olhava para o infinito céu azul de verão.

 

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Rose andava por um túnel subterrâneo escuro.

Sangue ainda pingava do ferimento que sofrera nas costas enquanto fugia. O corte não era profundo, mas também não havia dúvidas de que não era raso.

Deveria ser tratado imediatamente, mas os seus perseguidores não lhe deram tempo para ter tais luxos.

Então focou sua magia no ferimento para evitar que ficasse ainda pior. À medida que o tempo passava, entretanto, a dor aumentava e sua estamina diminuía.

Sua respiração estava sufocada.

Enquanto mantinha-se atenta contra os agressores, sua mente não parava.

Qual teria sido a coisa certa a se fazer?

O que teria trazido o melhor resultado?

As dúvidas giravam em sua mente, mas não parecia haver respostas vindo.

Atacar Doem, seu noivo, foi uma decisão súbita, de momento. Mas não tinha feito por impulso, usou o tempo limitado que tinha para pensar na melhor opção, então agiu… ou, pelo menos, tentara.

Mas falhou.

Doem sobreviveu, e ela teve que fugir.

Entretanto, foi apenas uma falha em sua visão. Havia julgado mal as habilidades de Doem, mas a escolha de eliminá-lo não tinha sido tão ruim.

Na realidade, não existia outra escolha. No momento em que viu seu pai — Rei Oriana — com aqueles olhos sem vida, soube que precisava se livrar de Doem. No seu ponto de vista, todos os rumores — a conexão de Doem com o culto e a marionete vazia que uma vez fora seu pai — tinham se tornado verdade.

Foi por isso que puxou sua lâmina.

Foi exageradamente impulsiva?

Agiu antes do momento correto?

Poderia mesmo dizer que não fora estimulada pela impaciência e pela raiva?

Rose pensou que estava tomando uma decisão racional.

Não queria ter de contar com Alexia nem Natsume. Afinal de contas, o Reino de Oriana precisava resolver o problema internamente. Este era apenas um palpite, mas Rose tinha confiança.

E pela política, pelo menos, estava certa.

Sua estratégia acabou falhando devido a isso, mas ainda era erro de Rose e problema do Reino de Oriana. O Reino de Midgar não fora arrastado nesta confusão. Em sua mente, esquivou-se do pior cenário possível.

Era só questão de tempo, entretanto, antes que isso também viesse a acontecer.

As palavras que Doem gritou depois que ela fugiu ecoavam em seus ouvidos.

“Entregue-se antes que o Festival Bushin termine! Ou farei com que o Rei Oriana mate os outros convidados de honra!”

Se o Rei Oriana de fato matasse outro dignitário, assim como Doem disse… seria o mesmo que guerra. Rose não tinha certeza de quão sério ele estava, mas era possível que o Culto apenas visse o Rei Oriana como um peão qualquer.

E se este fosse o caso…

Rose cerrou os dentes, seu rosto contorcia-se de angústia.

Seu pai não era um líder brilhante, e Oriana não era um reino vasto.

Para ela, porém, eram o único pai e terra natal que possuía.

Tudo o que desejava era protegê-los.

Mas este desejo levou à impaciência.

Rose bateu o punho contra a parede do túnel.

No final das contas, deixou suas emoções tomarem conta de si e agiu por impulso. Pensava que poderia ter matado Doem e consertado tudo, mas foi pura ingenuidade.

Doem não passava de um peão de sacrifício. Ela deveria ter percebido o quão profundo as raízes do Culto percorriam através de Oriana e que matá-lo não levaria a nada.

Deveria haver outra opção… alguma ação mágica que ela pudesse usar para consertar tudo…

Rose caiu de joelhos no chão úmido.

Cenários implausíveis dançavam em sua mente, insultando-a. Se pelo menos tivesse feito algo mais inteligente e tudo tivesse se ajeitado…

Mas agora tudo tinha acabado. Nem mesmo sabia por que estava fugindo.

Fugir traria o que de bom para ela?

O que mudaria?

Não deveria se entregar?

Sim… seria melhor desta forma.

— Entendo… Eu só preciso me entregar.

Ela ainda não sabia qual teria sido a melhor opção. Porém, a melhor escolha agora era simples.

Ao se entregar, poderia ao menos evitar uma guerra.

Pensar assim a fazia se sentir melhor. Ao mesmo tempo, foi atingida por tristeza e dor, como se tivesse perdido algo que lhe fosse precioso.

Rose puxou a embalagem do Tuna King do bolso. Comeu o sanduíche que a tempo estava ali, mas ele ainda tinha um suave cheiro de pão.

Ele a fazia lembrar de um certo garoto de cabelos pretos. Era quase certo que já sabia sobre o que tinha acontecido. Ela se perguntava sobre o que ele pensava.

Estava preocupado com ela?

Ainda acreditava nela?

Ele está talvez… a procurando?

Se tivesse sido capaz de matar Doem e trazido o rei de volta a si… Se um futuro no qual tudo tivesse dado certo existisse… Ela teria sido capaz de se casar com ele e vivido o resto de seus dias ao seu lado?

Era com isso que, sem dúvida alguma, estivera sonhando.

— Sinto muito… — Rose disse, engasgada.

Uma lágrima escorreu pela sua bochecha.

Suas ações fizeram com que aquele sonho pitoresco fosse estilhaçado.

Com delicadeza, dobrou a embalagem do Tuna King e a colocou no bolso da saia. Pensava naquilo quase como se fosse o último fragmento do seu sonho.

— Ai…!

Uma dor forte percorreu seu peito. Quando puxou a gola da roupa para olhar, viu vários hematomas escuros.

Era um sintoma da possessão. Os hematomas apareceram recentemente.

Ela abaixou a cabeça e deu uma risada vazia. Seu sonho jamais se tornaria realidade.

De repente, um barulho baixinho chegou aos seus ouvidos.

Eram os passos de seus perseguidores?

Não… era gentil demais, adorável demais para ser passos. Quando focou a audição, reconheceu que era um piano.

— Sonata ao Luar…?

Era bastante versada na música, por isso conhecia bem essa partitura. A composição recebera louvores incrivelmente altos, até mesmo em Oriana, um reino das artes, e agora ela conseguia ouvir vindo do final do túnel.

— Que lindo…

Era como se a “Sonata ao Luar” fosse a única coisa ali.

A apresentação era polida a um nível profundo de perfeição, quase como se a vida toda do pianista tivesse sido dedicada a aperfeiçoar esta única composição.

Rose seguiu a música em direção à fonte, como se fosse um raio do luar a chamando.

 Os túneis eram para serem o labirinto subterrâneo da capital, mas se pareciam mais com ruínas do que um labirinto. As paredes eram feitas de pedra robusta e cobertas por gravuras e glifos antigos.

Cada uma tinha uma certa quantia de portas, mas a maioria não abria. Talvez precisassem de chaves, ou talvez algum tipo de mecanismo dentro das ruínas tinha ficado emperrado.

Rose conseguia sentir que estava se aproximando do piano.

Quando virou em uma curva, encontrou uma enorme porta em ruínas.

O som vinha do outro lado dela.

Quando passou por um dos grandes buracos nela, enfim chegou à fonte da música.

Estava em uma catedral preenchida por uma luz fantástica. Nas paredes havia janelas de vidros pintados, as quais mostravam heróis e demônios desmembrados.

Luz fluía para além do vidro pintado, centralizando-se por completo no grande piano.

— Shadow…

Era ele quem tocava “Sonata ao Luar” na catedral abandonada.

Rose fechou os olhos e absorveu a belíssima melodia.

A “Sonata ao Luar” de Shadow era diferente de todas as outras apresentações que já ouvira. A composição era a mesma, mas graças ao instrumentalista, o tom era diferente.

A “Sonata ao Luar” de Shadow era escuridão.

A escuridão profunda e penetrante da noite, com um simples raio de luz brilhando.

Talvez este raio de luz viesse da lua, ou talvez…

A música chegou à sua conclusão antes que Rose pudesse pensar em uma resposta.

Ela ouviu as últimas reverberações da música, então aplaudiu.

Suas palmas sozinhas ecoaram pela catedral.

Shadow, naturalmente, ouviu-as. Ele se levantou do seu assento e respondeu curvando-se de maneira elegante.

— Shadow, aquilo foi…

Quando Rose chegou naquela parte em sua frase, entretanto, percebeu que não sabia o que dizer em seguida. Sabia apenas que precisava dizer alguma coisa, senão Shadow iria embora.

— Aquilo foi, sem dúvidas, a apresentação mais incrível de “Sonata ao Luar” que já ouvi. Hm…

Rose notou que se perguntava onde estava tentando chegar.

Não era isso que precisava lhe perguntar.

— O que buscava…? — A voz de Shadow ecoava como se viesse de um abismo.

— O quê…? — Rose pensou por um momento, então compreendeu. Ele estava perguntando por que tinha feito aquilo. — Eu… — Ela olhou para baixo, então disse, soluçando: — Eu só queria proteger a todos… Queria um futuro mais feliz… Mas não consegui fazer com que isso acontecesse…!

— É aqui que vai acabar…?

— O quê…?

— É aqui que a sua luta vai acabar…?

— Não é como… se eu quisesse que acabasse aqui…

Rose cerrou os punhos.

Queria deixar as coisas melhores. Ainda queria, mesmo agora. Mas não havia mais nada que ela pudesse fazer.

— Se tem a vontade de lutar… então darei isso a você. — disse Shadow. Magia roxo-azulada surgiu em sua mão. — Hei de garantir-lhe poder…

— Poder…?

A magia roxo-azulada incendiou, disparando seu brilho por toda a catedral. O ar vibrava por causa da densidade da magia.

— Serei capaz de mudar o futuro… com o seu poder?

— Dependerá de você.

Rose sentiu de repente que foi atraída pela magia. Se fosse forte como Shadow… seria capaz de mudar tudo.

Se tivesse poder… havia coisas que ainda poderia fazer. Coisas que, como princesa do Reino de Oriana, deveria fazer.

A luz voltou aos seus olhos.

— Eu quero… quero poder…

— Muito bem…

E a magia roxo-azulada irrompeu.

Ela fez o trajeto mais curto até Rose, então penetrou o seu peito e corpo.

O calor do poder suprimiu sua magia caótica e a acalmou. Estava pesada e incontrolável há pouco, mas agora ela conseguia comandá-la com facilidade.

— É incrível…

Sua voz estava repleta de sinceridade.

Então essa era a magia de Shadow…

Esse era o mundo que ele via.

— Rebele-se… e prove a mim… que você tem a força para lutar ao meu lado.

Ela percebeu de repente que não viu para onde Shadow tinha ido.

Sua voz era a única coisa que ainda restara na catedral.

— Lembre-se… A força verdadeira não vem do poder, mas sim da forma que vive a sua vida…

E assim a presença de Shadow desapareceu por completo.

Rose viu-se sozinha na catedral.

Ela era capaz de ouvir os passos de seus perseguidores. Conseguia sentir os movimentos sutis no ar.

Quantidades inimagináveis de magia estavam se agitando dentro do seu corpo.

Ela estava preparada para deixar que a capturassem, mas, com esse poder, ainda teria como lutar.

Puxou o florete e encarou a porta em ruínas.

Um grupo de preto invadiu… e sangue preencheu o ar.

Eles morreram antes mesmo que pudessem perceber a lâmina de Rose.

Depois de ter encharcado a catedral de sangue, guardou o florete e fechou os olhos.

Deve ser assim que Shadow tem enfrentado o Culto: despercebido e incessante.

Rose lembrou-se da apresentação de “Sonata ao Luar” de Shadow.

Sentia que enfim entendera o que o único raio de luz no meio da escuridão significava.

Talvez a luz fosse o próprio Shadow.

Ele não era a escuridão, mas sim a luz que a enfrentava.

Era isso o que Rose via, pelo menos.

 

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— Se continuarmos desenrolando essa linha, seremos capazes de encontrar o caminho de volta fácil, fácil. — Alexia andava na frente pelo labirinto subterrâneo.

— Só posso esperar que você esteja certa. — respondeu Beta, atrás dela. Ela bocejou.

— Espere, você acabou de bocejar?

— Por que eu faria isso? Direi, no entanto, que já faz mais de meio dia. Não acha melhor voltar? Parece ainda mais improvável que ela esteja aqui embaixo.

— Talvez você tenha razão. Eu estava bastante confiante na minha fonte…

— Quando voltarmos, podemos tentar buscar mais informações novamente.

Os passos delas ecoavam pelo túnel iluminado pelo lampião, túnel este que continuava de maneira monótona.

De repente, Beta sentiu uma forte onda de magia e parou.

Alexia parou um pouco mais devagar e virou-se.

— Agora há pouco… alguém estava usando magia. E muita…

— Pode ter sido a Princesa Rose.

— Espere, você notou antes de mim?

— Foi por acaso. E a única magia que posso usar é defensiva.

— Bem, se você diz. Devemos nos apressar.

As duas correram em direção à magia.

Depois de passarem por uma enorme porta em ruínas, viram-se dentro de uma antiga catedral.

— Rose…

Rose estava lá, de olhos fechados.

Espalhado aos seus pés estava um grupo de cadáveres vestidos de preto. Ao ver Rose claramente diferente do normal, Alexia parou.

— Alexia, é você…? — Rose abriu os olhos devagar.

— O que aconteceu com a sua magia…?

— Obtive o poder… e agora tenho que seguir aquilo que acredito.

Com isso, Rose passou por Alexia.

— E-Espere! O que está acontecendo?! Por que atacou o seu noivo?!

Rose olhou por cima do ombro.

— Alexia… sinto muito. Não quero a envolver nessa confusão. — Ela a observava como se algo fosse brilhante demais.

— Por favor, me diga o porquê! Pelo menos isso! Se não o fizer, não vou saber o que está acontecendo!

— Se eu disser, você passará a fazer parte disso.

Alexia devolveu o olhar de Rose com uma encarada.

— Lá no Santuário… nós todas éramos impotentes. Só estávamos , observando. Nem mesmo sabíamos quem estava certo e quem estava errado. A única coisa que sabíamos era que estávamos no escuro, que acabaríamos perdendo tudo que nos era precioso… Foi por isso que nos juntamos e conversamos. Concordamos que protegeríamos essas coisas juntas, nós três.

Conforme Rose ouvia o discurso de Alexia, ela parecia estar olhando para algo distante e indistinto.

— Acreditei no que dissemos naquele dia, então por que está olhando para mim desse jeito? Acha que também sou apenas uma espectadora?

— Sinto muito…

— Responda…!

Rose mostrou a Alexia um sorriso triste.

— É tarde demais para voltar atrás. É por isso… que tenho inveja de você.

— Não compreendo. Você está com inveja de uma espectadora ignorante?

— Não foi isso que eu quis dizer. Já perdi tanto, e tenho certeza de que vou perder ainda mais. Pessoas irão me repudiar, me chamar de maligna.

— O que você está planejando fazer…?

— Sinto muito… preciso ir.

Rose começou a sair, mas Alexia estalou a língua a fim de pará-la.

— Pare agora mesmo. — Então puxou sua espada. — Já chega disso. Farei com que você ouça à força. Não sou uma espectadora.

Rose também puxou seu florete.

As duas se encaravam. Os olhos vermelhos de Alexia estavam repletos de ódio, os olhos cor de mel de Rose, de uma tristeza profunda.

A ponta do florete de Rose girou.

Então, ambas se moveram ao mesmo tempo.

As reações das duas foram simultâneas, a velocidade era idêntica e a habilidade delas era uma combinação perfeita.

Por um instante, surpresa surgiu no rosto de Rose. Ela deveria ser a cavaleira negra mais forte da academia. Deveria existir uma diferença grande entre suas habilidades. Essa era a verdade quando entrou, pelo menos.

Naquele curto espaço de tempo, entretanto, o trabalho de espada de Alexia progrediu tão rapidamente que quase não era reconhecível. Tinha uma forte semelhança com o estilo de um certo homem.

Isso mesmo, a técnica de Alexia… era a de Shadow.

As duas lâminas colidiram.

Magia irrompeu, tomando conta da catedral.

As duas estavam igualmente pareadas, mas o resultado foi claro.

A espada de Alexia voou para longe, e Rose atingiu-a no queixo com o punho do seu florete.

Alexia caiu.

Rose tinha mais magia que ela, apenas isso.

Se a magia de Alexia estivesse no mesmo nível… quem sabe como a luta poderia ter acabado?

— Sinto muito.

Rose desculpou-se com Alexia pela última vez, depois levantou-se para partir, mas foi então que percebeu Natsume.

Estranhamente, Natsume esteve o tempo todo fora da vista de Rose.

— Senhorita Natsume… peço perdão, mas tenho que ir.

— Não vou tentar te parar. Não tenho este direito.

A expressão de Natsume era impossível de se compreender.

Rose lembrava de Natsume como uma pessoa muito mais suave do que isso.

— Mas… devo dizer que foi uma surpresa. Até mesmo idiotas têm suas preocupações. Podemos ter vindo de países diferentes, pertencido a organizações diferentes, possuído disposições e crenças diferentes. Mesmo assim, estamos todas trabalhando com um mesmo objetivo em mente. Talvez esta nossa aliança não tenha sido tão ruim, afinal…

— Senhorita Natsume…?

— Desejo-lhe sorte. Algum dia, nossos caminhos se cruzarão novamente… Até lá, tenho que agir como babá por mais um tempo.

Então, Natsume se ajoelhou e começou a cuidar de Alexia.

— Senhorita Natsume, quem é…?

— É melhor você seguir o seu caminho. Ela só desmaiou, então pode acabar acordando a qualquer momento.

Natsume riu, travessa.

Havia tanta coisa que Rose queria perguntar.

Ficou claro que nenhuma delas tinha intenção de continuar conversando.

— Adeus… — Rose se virou e desapareceu.

Natsume deitou a cabeça de Alexia em seu colo e suspirou.

— Foi isso o que escolheu, Mestre Shadow…?

A representação nos vidros pintados dos três heróis e a forma trágica do demônio parecia estar indicando algo.

 


 

Tradução: Taiyō

 

Revisão: PcWolf

 


 

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