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A Eminência nas Sombras – Vol. 02 – Cap. 03 – Quando as Coisas Ficarem Chatas, É Hora dos Explosivos!

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Parecia que estávamos em uma ruína arqueológica.

Não havia mais aquela sensação sonhadora que permeava todos os lugares pelos quais passamos, o ar fresco me trouxe de volta à realidade.

O teto era alto, e a magia iluminava o ambiente.

— Este deve ser o centro. — Violet se virou enquanto examinava a área.

— Então, o que preciso esmagar?

Eu não via nada que parecesse um núcleo mágico. Apenas uma enorme porta lateral.

— Provavelmente está além daquela porta. — Violet pisava no chão de pedra enquanto se dirigia para lá.

— Faz sentido. — A segui.

A porta era tão grande que provavelmente deixaria umas cem pessoas passarem de uma só vez. Tá, talvez isso tenha sido um pouco exagerado.

De qualquer forma, continuava sendo uma puta porta.

A superfícies parecia velha para um cacete, toda coberta com manchas escuras de sangue e repleta de letras antigas. Várias correntes, tendo cada elo maior do que um corpo humano, estavam enroladas em torno dela, mantendo-a selada.

— Se cortarmos a corrente provavelmente poderemos passar.

— Parece plausível.

Peguei um dos elos e dei um puxão.

Não rolou.

— É, parece que não vai dar certo.

Eu podia ser forte o suficiente para ganhar um torneio mesmo sem magia, mas quebrar essas correntes era fisicamente impossível.

E se tentasse cortá-las com a minha espada, ela provavelmente quebraria antes do que os elos.

— Sabe, deve haver uma chave em algum lugar. — supôs Violet.

— Aah, sim, é mesmo.

Só precisamos de três segundos para encontrar.

Havia um pedestal perto da porta, e uma espada bem extravagante estava presa a ele.

— Com certeza é isso.

— É claro que é.

Conforme esperado, o pedestal também está coberto com minúsculas letras antigas.

— Esta espada deve ser capaz de quebrar as correntes — disse Violet enquanto lia as inscrições.

Mas eu já sabia. Uma espada presa em um pedestal? Esta não era a minha primeira vez.

— Mas não vou conseguir tirar isso…

— Como assim…?

— Conheço essas coisas…

Com isso, peguei o cabo da espada e tentei puxá-lo, mas, claro, ela não se moveu nem por um centímetro.

— Como esperado… Já entendi… — murmurei sugestivamente. — Esta lâmina só pode ser sacada pelo escolhido…

— O quê…? — exclamou Violet. Ela correu a traçar as escritas antigas no pedestal com o dedo.

Enquanto o fazia, soltei a espada.

— A lâmina… está me rejeitando…

Eu só estava criando o clima, aumentando as expectativas. Tenho certeza de que não estava me rejeitando.

Mas o fato de o herói escolhido ser o único capaz de desembainhar esse tipo de espada não passava de senso comum. Esta era um recurso de narrativa antigo já.

— Apenas o descendente direto do herói poderá sacar a espada sagrada… Você está certo, está tudo escrito aqui. Estou surpresa que tenha conseguido ler essa escritura mágica criptografada tão rápido assim.

— Heh… Eu conheço todos os tipos de recursos…

— Ah, entendo. Você criou um recurso que engloba maneiras de codificar a escritura mágica.

— Aham, isso aí. Com certeza. — Acenei com orgulho.

Parecia que tínhamos uma espada sagrada presa a um pedestal e uma porta selada que só poderia ser destrancada pela espada. Isso era clichê, claro, mas eu amava esse tipo de coisa.

Bom! Finalmente parecia que eu estava mesmo em um mundo de fantasia.

— O que fazer…? — murmurou Violet enquanto se sentava no pedestal.

— Existe outra maneira de passar? — perguntei, sentando ao lado dela.

— Não temos nenhuma outra pista.

— Oof.

Pensamos em silêncio por um momento. Cada um de nós devia estar passando por cenários diferentes em nossas mentes.

Por fim, falei:

— Você quer desaparecer?

— O quê?

— Quando destruirmos o núcleo, imagino que você desaparecerá.

— Ah, é mesmo. Mas chame de libertação. Isso é mais adequado. — Sem olhar na minha direção, Violet sorriu.

— Qual é a diferença?

— Este lugar é uma prisão onde as memórias ficam se repetindo pela eternidade. Isso… me machuca. — Sua voz quase não saiu, foi como um sussurro.

— Entendo. Nesse caso, vamos esperar um pouco mais.

— Esperar pelo que…?

— Se tivermos tempo suficiente, devo ser capaz de fazer algo a respeito da porta. Mas, primeiro… parece que temos convidados.

Uma réstia de luz apareceu na frente da porta, ficando cada vez maior, até que um velhote careca e uma elfa fofa emergiram.

— Hã…?

— Qual o problema?

— Nada. Aquela elfa meio que parece uma amiga minha.

No entanto, ela com certeza era outra pessoa. Sua estrutura óssea era diferente, assim como seus maneirismos e seu andar.

— Ah… Então você trouxe a Aurora — disse o Careca enquanto olhava para Violet.

Nós dois nos envolvemos em uma conversa meio repetitiva.

— Você conhece esse cara? — perguntei sem acreditar no que ouvi.

— Quem sabe? Não o reconheço, mas minhas memórias estão incompletas. É possível que já tenhamos nos conhecido.

O Careca riu.

— Sério, que pena. É impossível que gente como você arrombe esta porta. Parece que você sofreu um golpe infortuno, garoto.

— Eu? — Apontei para mim mesmo.

— Não sei de onde veio, mas essa bruxa te enganou, levando-o à morte. Pelas mãos de Olivier, claro.

Ao receber as ordens do velhote careca, a bela elfa avançou.

O velhote rabugento não era de nada, mas a fofinha era forte.

Eu e Violet tivemos outra conversinha.

— Não podemos… Ela é… — comecei.

— Percebi. Ela é forte, hein?

— Temos que fugir.

— Por quê? — interrompeu o Careca. — Se quer culpar alguém, culpe a bruxa, não a mim. Amaldiçoe ela e sua tolice…! Vá, Olivier, mate-o!

Ela preparou a espada, que por acaso era uma réplica perfeita da espada sagrada.

A imitei e peguei minha espada zuada fornecida pela escola. Seus olhos eram como contas de vidra e estavam fixos apenas em mim.

Pude sentir meus lábios curvando-se em um sorriso.

— Pare! Você não pode lutar com ela!

Por quê?

A voz de Violet ecoou atrás de mim.

 

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A batalha começou com Cid sendo jogado para trás.

Ele bateu com violência contra a parede de pedra e tossiu uma bocada de sangue.

Mesmo com ele parecendo a ponto de desmoronar, Olivier não parou. Ela balançou sua espada sagrada e a mirou no pescoço do garoto.

E então deu um corte limpo – ou assim pareceu naquela troca rápida.

Inclinando-se para a frente, Cid mal se esquivou do golpe de Olivier. Em vez de nele, ela esculpiu uma profunda linha horizontal na parede.

Ainda assim, Cid sabia que o próximo ataque logo chegaria. Foi por isso que logo deu um passo à frente, diminuindo a distância entre os dois.

Entretanto, sua resistência fora em vão.

Cid deu um passo inteiro para a frente, mas o meio passo de Olivier para trás foi muito mais rápido.

Como ele não tinha terminado o seu passo, ficou indefeso diante do golpe dela.

Metal bateu com metal, e a espada de Cid estalou.

Ele mal conseguiu se proteger, com sua espada descartável sendo dividida em duas enquanto seu corpo saltava e rolava no chão de pedra.

Isso dificilmente seria classificado como uma luta. O domínio estava de um só lado.

Mas já era de se esperar.

Não tinha nada a ver com técnica. A força, velocidade, resiliência e poder total dela só estavam em dimensões diferentes das dele.

Assim como um adulto não pode ter uma luta justa contra um bebê, o resultado final já era predeterminado quando um jovem incapaz de usar magia enfrentava um herói que podia usá-la.

O próprio fato de isso não ter acabado em um só golpe era praticamente um milagre.

— Olivier, acabe com esse garoto! — exigiu Nelson, estalando a língua, aborrecido.

Enquanto Olivier parava de se mover, Cid se levantou com dificuldade. Seu rosto estava coberto de sangue que saía do seu nariz e, quando cuspiu, também foi algo vermelho.

Ele olhou para sua espada seccionada, fazendo um balanço leve para testá-la. Era quase como se achasse que teria outra chance de usá-la.

— O que você acha que está fazendo?

— Hmm? — respondeu Cid à pergunta de Nelson, inclinando a cabeça.

— Você ainda acha que pode fazer algo com esse pedaço de lixo?

— Talvez. Mas com certeza não tenho muitas opções.

— Qual é o seu problema?

— Hmm?

— Por que você está sorrindo?

Cid respondeu ao estender a mão e tocar na sua bochecha. É claro, havia um sorriso ali.

— Não há nada que eu odeie tanto quanto um homem que não reconhece o seu lugar. A única razão pela qual você ainda está vivo é a sorte — latiu Nelson.

Com um rápido movimento da mão de Nelson, Olivier avançou.

Ela deslizou para trás de Cid com a maior facilidade do mundo, então baixou sua lâmina sagrada sobre ele.

Nenhum contra-ataque, autodefesa ou truque evasivo poderia ser feito a tempo.

A única coisa que ele poderia fazer era jogar o corpo para frente.

O sangue jorrou das costas de Cid.

O golpe rompeu a sua pele e rasgou a sua carne, mas ele conseguiu evitar um ferimento fatal. Mas tudo que ele conseguiu fazer foi prolongar a sua vida.

Olivier mais uma vez avançou sobre o jovem indefeso.

Seu ataque foi impiedoso, não deixando brechas para um contra-ataque.

O sangue jorrou das feridas que marcavam o corpo de Cid.

Mas ele sobreviveu.

— Impossível… — murmurou Nelson. Seu tom estava carregado de um considerável grau de choque. — Como você continua vivo?

Cid verificou para ter certeza de que não havia nenhum outro ataque em sua direção, então forçou seu corpo ensanguentado a ficar de pé.

— Batalhas sem diálogos são tão vazias. É por isso que continuo vivo.

— Mas que tolice você está balbuciando?

— Ela não tem coração, então não está respondendo a nenhuma das minhas perguntas. — O sorriso de Cid estava tingido de decepção e sua boca, coberta de sangue.

— Basta disso! Mate-o! — Os olhos de Nelson eram como os de um homem perturbado.

Olivier entrou em movimento, mas alguém interrompeu no último momento.

— Por favor, pare.

A mulher em questão tinha cabelos negros e olhos violeta. Aurora apoiou o ombro de Cid e o ajudou a se levantar.

— Qual o problema?

— Por favor. Você precisa parar. — implorou Aurora a ele.

Ela sabia desde o início que isso aconteceria. No momento em que Aurora pôs os olhos em Olivier, ela soube quão poderosa era a elfa.

As memórias dela não estavam completamente intactas. Cobriam apenas cerca de metade da sua vida, mas mesmo que Olivier não aparecesse nelas, por algum motivo, Aurora sabia que ela era perigosa. Apesar de não conhecer Olivier, seu coração tremia, quase como se a conhecesse.

Era por isso que Aurora estava desesperada para impedir Cid. Porém, contrariando as suas expectativas, ele lutou.

Ele talvez possa…

Ela não o parou a tempo, impedida por aquela vaga esperança.

Mas isso já lhe era o suficiente.

Durante toda a sua vida fora desprezada, e nenhuma vez os outros colocaram suas vidas em risco por ela. Ela criou uma memória que jamais esqueceria, e isso já lhe era o suficiente.

— Você não precisa morrer. Eu posso cuidar do resto.

Nelson riu.

— O que uma bruxa pode fazer sem a sua magia?

— Posso ao menos garantir a fuga dele. — Aurora avançou enquanto protegia Cid.

— Uma bruxa salvando um humano? Mas que surpresa. Porém… se você concordar em me ajudar, posso ser convencido a poupar a vida do garoto.

— Ajudar?

— Isso mesmo. Você tem cooperado tão pouco, isso nos causou muitos atrasos.

— Do que está falando?

— Ah, você é só uma memória incompleta. Não importa. Tudo o que precisa fazer é concordar em cooperar. Não demore, ou vou matar o garoto.

Aurora lançou um breve olhar para o rosto de Cid.

— Certo, farei isso…

Cid os interrompeu, sua voz estava livre de qualquer medo.

— Ei, vocês não poderiam parar de sair decidindo as coisas sozinhos por aí?

Aurora olhou para trás e o encarou.

— Sabe, estou fazendo isso por você…

— Estou bem.

Cid deu um passo para a frente de Aurora.

— Então, estive escutando e realmente apreciaria se vocês parassem de pensar que eu vou perder. Está começando a me irritar.

— Que jovem mais lamentável. E imaginar que ele estaria tão por fora da situação. Parando para pensar… se você só calasse a boca e fizesse o que mandam, eu poderia deixar você sobreviver.

— Já falei… estou bem. — Cid se virou e olhou para Aurora. — Quanto a você, só senta e assiste.

— Chega. Mate-o.

— Não!! — Aurora estendeu a mão, mas não conseguiu detê-lo.

Cid já tinha dado um passo à frente e alcançou Olivier.

Assim que ele cegamente foi à frente, ela o recepcionou com sua espada sagrada.

Ela aproveitou o momento para um impulso.

O ataque cortou o ar com um barulho afiado, e então perfurou o abdômen dele.

O golpe impiedoso o atravessou.

— Peguei. — Enquanto era apunhalado, um sorriso se espalhou pelo rosto tingido de sangue de Cid.

Ele agarrou o braço de Olivier e o puxou com toda a sua força. Seus músculos incharam, gritando enquanto excediam seus limites.

Por apenas um instante, os movimentos de Olivier ficaram travados no lugar.

E ela estava no alcance perfeito para uma espada quebrada.

A lâmina de Cid cortou em direção às artérias de seu pescoço, e Olivier se curvou para trás para evitar o golpe.

Entretanto, isso arruinou o seu centro de gravidade.

Jogando a sua espada de lado, Cid agarrou Olivier e a imobilizou.

E então mordeu a sua artéria carótida.

Seus dentes empalaram o pescoço esguio dela, e então afundaram em suas veias.

Ele a segurou com força e pressionou seus braços que resistiam enquanto mordia. Cada vez que seus dentes cavavam a artéria, o corpo de Olivier convulsionava.

No fim, ela quebrou como um espelho. Quebrou-se em pedaços e depois desapareceu.

O único de pé era Cid, coberto de sangue.

— I-isso não pode estar acontecendo… Olivier não pode…! Maldito seja! Como pode ainda estar vivo depois de ser empalado?!

O ferimento no peito de Cid deveria ser fatal. Sem dúvidas.

O fato de ele estar vivo era estranho, e derrubar Olivier enquanto estava naquele estado era algo praticamente desumano.

— As pessoas morrem tão fácil. Na maioria das vezes, um golpezinho na nuca já resolve. E, olha, eu não sou diferente. Uma batidinha no meu crânio, e posso estar acabado. — Cid se levantou, acariciando a sua ferida, como se quisesse ter certeza de que seu corpo continuava inteiro. — Mas, contanto que você proteja seus órgãos vitais, pode ficar surpreendentemente forte. Pode até ter o seu peito empalado, mas se proteger as artérias e órgãos mais importantes, não morrerá. Bem útil, não acha?

— “Útil”…?

— Claro. Você pode eliminar o tempo que gastaria se esquivando antes de contra-atacar. E só precisa dar um soco bem na cara do oponente enquanto ele soca a sua. Rasgue o pescoço do outro enquanto ele estiver apunhalando o seu estômago. Ataque e defesa acabam se tornando a mesma coisa, e o ritmo dos contra-ataques pode acelerar até chegar ao limite. Isso os torna quase inevitáveis.

— Há… algo de errado com você. — Nelson contraiu o rosto, como se estivesse olhando para algo grotesco.

— Você está bem…?

Como resposta a Aurora, Cid deu um aceno de cabeça.

— Então a elfa já era. E aí, Tiozão, sua vez?

Nelson engoliu em seco, claramente perturbado.

— E-entendi. Nunca imaginei que você derrotaria Olivier! Você é claramente muito poderoso. Eu estava errado. Sinto muito mesmo!

Nelson se curvou, mas uma risada logo escapou por seus lábios.

— Heh, achou mesmo que eu diria isso…? Claro, fiquei surpreso ao ver um garoto desprovido de magia sendo capaz de derrubar Olivier. Você não é uma criança qualquer, e sua vitória foi pura sorte. Mas uma vitória ainda é uma vitória. Parabéns.

Nelson levantou a cabeça, batendo palmas.

— Mas não fique arrogante por derrotar uma única cópia de baixa qualidade. Você jamais poderia imaginar a quantidade de magia adormecida dentro do Santuário. E é por isso que posso fazer até isso. — Nelson balançou o braço e a área foi inundada por luz.

Quando ela sumiu, lá estava Olivier.

E não estava sozinha.

Um incalculável número de Oliviers, o suficiente para preencher toda a ruína, estava onde a luz estivera.

— Isso não pode ser verdade…! — gemeu Aurora.

O ferimento de Cid podia até não ser fatal, mas isso não significava que não era sério. Ele não estava em condições para lutar.

— Este é o poder do Santuário!! — Todas Oliviers correram em direção a Cid.

Ele soltou uma risadinha.

— Sinto muito, mas… seu tempo acabou.

As Oliviers estavam atacando de todas as direções, mas… ele as atropelou.

— O quê?!

Não estava claro quando foi que apareceu, mas Cid estava usando uma katana negra na mão.

— De onde você tirou isso…? Espera… você consegue usar magia?! — O corpo dele estava explodindo com um energia roxo-azulada.

A magia era tão incrivelmente concentrada que chegava a ser visível. Brilhava de uma forma linda, comprimida a um grau inimaginável.

— Se a minha magia está sendo sugada, tudo o que preciso fazer é condensá-la até que esteja densa demais para ser absorvida. Demorou um pouco, mas é bem simples, na verdade.

Com certeza não era simples. Aurora era uma bruxa reconhecida, mas essa técnica estava além do seu alcance.

— N-não pode ser…!! Como você pode fazer isso?! R-rápido! Matem-no!! — gritou Nelson, seu rosto estava congelado de medo.

As Oliviers voltaram a atacar.

Entretanto, Cid esticou sua lâmina negra como azeviche e as derrotou com um único golpe.

— Isso não deveria… Olivier não deveria…!!

— Eu falei… o tempo acabou.

Uma após a outra, as Oliviers atacaram Cid.

Embora a espada negra as atingisse, a maioria não desaparecia de imediato. Depois de bloquear os ataques com as suas espadas sagradas, corriam de volta até Cid.

— Cara, vocês são bem fortes e continuam vindo.

As Oliviers se aglomeraram e Cid as varreu. O padrão se repetia mais rápido do que os olhos poderiam acompanhar.

Em cada vez o sangue espirrava da ferida dele e seu rosto se contorcia com a dor.

O equilíbrio não duraria muito. Esse fato estava tão claro quanto o dia.

— Ha-ha! Bom! Bom! Continuem assim!! — Nelson riu, mas seu rosto tinha adquirido uma aparência assustadora.

Enquanto Aurora observava a situação de Cid piorando, lágrimas brotaram em seus olhos.

— Por favor… Não morra…

Ela só queria que ele sobrevivesse.

— Devíamos desembainhar a espada sagrada, cortar as correntes e destruir o núcleo, certo? — Em meio à sua batalha desesperada, Cid chamou por Aurora.

— O quê? Digo, sim… — respondeu Aurora, confusa.

— Isso soa como algo com muitos passos. E se eu simplesmente mandar tudo pelos ares?

— Seria bom, mas… você não está falando sério, né? — Cid sorriu, atacando em todas as direções.

As Oliviers estavam todas espalhadas, dando a ele um breve momento de descanso. Ele virou sua espada para segurá-la com um aperto por baixo, então a manteve acima da cabeça.

Espirais de energia roxo-azulada surgiram ao seu redor, acumulando-se por toda a extensão de sua katana obsidiana.

— EU SOU…

— O-o que é isso?! N-não! Pare!!! — As Oliviers atacaram.

A que estava na frente atacou com a sua espada sagrada.

E perfurou o peito indefeso de Cid com força total.

Mais especificamente, atingiu a localização onde estaria o seu coração. Coberta de sangue, a lâmina dela saiu pelas costas dele.

Aurora gritou e estendeu a mão.

— ATÔMICO. ATAQUE EM ÁREA.

Com o peito empalado, ele abaixou a espada e acertou o chão.

— NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO!!

A magia roxo-azulada logo preencheu toda a visão.

As Oliviers desapareceram, Nelson se desintegrou e a espada sagrada derreteu.

Então, a magia continuou sendo engolida por todos os arredores.

Seu ataque era uma técnica esotérica projetada para aniquilar tudo dentro de um pequeno alcance em todas as direções.

E, naquele dia, o Santuário foi completamente destruído.

 

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Quando voltou a si, Cid se viu rodeado pela escuridão.

Mesmo estreitando os olhos, tudo o que conseguia ver era um abismo negro sem fim.

Mas, em meio à escuridão, onde esquerda e direita, cima e baixo, e até mesmo a percepção de si mesmo começa a desvanecer, ele sentiu algo flutuando.

Era um medonho braço esquerdo preso por correntes.

Parecia estar muito longe, mas se estendesse a mão, parecia que estaria quase perto o bastante para tocá-lo.

De repente, as correntes soltaram, seus fragmentos caíram formando uma cascata.

O braço, então livre, se estendeu como se fosse agarrar Cid.

Ele preparou sua lâmina obsidiana, e o mundo… foi envolvido por luz.

Era cedinho e Cid se encontrava em uma floresta. Era o lugar onde estivera quando entrou pela porta.

Olhou ao redor, mas o braço não estava em lugar algum. Ele apertou os olhos assim que foram atingidos pela luz da manhã.

— Seu coração foi apunhalado, mas não parece nada mal. — gritou uma voz por trás dele. Ele se virou para se deparar com Aurora, parecendo um tanto confusa.

— Eu mudei o percurso. Mas estou um pouco cansado…

Ele olhou para o céu da manhã, suspirou e se apoiou em uma árvore enquanto se sentava.

— Você é uma caixinha de surpresas. Um pouquinho mais do que a velha eu… — Aurora se sentou ao seu lado, estendendo a mão para tocar a ferida em seu peito.

Porém, quando foi afastar a mão, não havia sangue. Sua mão o atravessou.

— Você está desaparecendo, hein?

— Parece que sim.

Os dois sentaram lado a lado e contemplaram o esplendor do nascer do sol.

— Fui eu quem te chamou lá. Sinto muito por ter mentido.

— Está tudo bem.

— Também menti sobre outras coisas.

— Está tudo bem.

Passarinhos começaram a chilrear. O orvalho da manhã brilhou à luz do sol.

— Por muito tempo, eu só queria acabar com isso tudo e desaparecer. Eu queria esquecer de tudo.

— Mm.

— Mas, agora, fui capaz de fazer uma memória que não quero esquecer. Mesmo se eu desaparecer, espero levá-la comigo. — Ela sorriu. — Obrigada por me dar algo tão precioso.

Com isso, ela começou a desaparecer. Seu sorriso forçado era pesaroso.

— Ei, eu também me diverti. Obrigado por isso.

— Se, por acaso, você encontrar o meu verdadeiro eu… — Ela segurava a bochecha de Cid enquanto falava, mas ele nem conseguia mais vê-la.

Não havia nada diante dele, exceto a floresta silenciosa e solitária.

— “Por favor, me mate”, hein…?

Cid estendeu a mão e tocou a própria bochecha enquanto murmurava as palavras finais de Aurora. Ele ainda podia sentir o calor dela.

 

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Alfa e Epsilon olharam para Lindwurm do topo de uma montanha.

O vestido de Alpha balançava ao vento, expondo suas pernas pálidas.

— O Santuário foi aniquilado.

— Percebi. — Alpha apertou a ponta do nariz. — Fomos capazes de recuperar a espada sagrada?

— Ela evaporou.

Suspirou.

— E quanto à amostra do núcleo?

— Também já era.

Alpha balançou a cabeça.

— Ele escolheu a solução mais simples e decisiva. É a cara dele.

— É isso que o torna o Mestre Shadow, afinal — respondeu Epsilon triunfantemente.

— O seu caminho é o que devemos seguir. — A luz do sol da manhã refletia no cabelo loiro de Alpha, fazendo-o brilhar. Ela olhou na direção de Lindwurm, lá longe. — E Beta?

— Ela está guiando as princesas. Disse que, se jogar as cartas direito, pode conseguir se infiltrar em seu grupo.

— Entendo. E a pesquisa do Santuário?

— Concluímos tudo que podíamos.

— O que sabemos? — Alpha fechou os olhos enquanto ouvia o relatório de Epsilon.

Sua cabeça estava clara e ela foi capaz de classificar as informações na mesma hora.

— Isso é o bastante. E quanto ao outro assunto?

— Parece que nossa hipótese estava correta. — Epsilon hesitou por um momento, então deu sua resposta da forma mais simples possível. — Aurora, a Bruxa da Calamidade… também é conhecida como o demônio Diablos.

Os olhos azuis de Alpha estavam fixos no distante nascer do sol.

— Entendo… Isso explica porque ele…

Mais uma peça do quebra-cabeça se encaixara.

 

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Depois que Alexia deixou o Santuário, deparou-se em uma floresta.

Quando olhou ao redor, descobriu que Rose e Natsume estavam paradas ao seu lado.

Quando fugiram do Santuário, estavam as três perto uma da outra.

Rose inclinou a cabeça.

— Onde estamos…?

— Floresta de Lindwurm, eu acho. Posso ver a cidade lá longe — respondeu Natsume. As outras duas verificaram e, claro, também puderam ver a cidade.

Era impressionante que ela tivesse notado, dada a dificuldade para enxergar entre as poucas brechas entre as árvores.

— Acho que devemos voltar.

— Concordo.

Antes que Rose e Natsume pudessem ir longe, entretanto, Alexia gritou para detê-las.

— Espera.

— O que foi?

— Algum problema?

As duas pararam e a encararam.

— Ei, vocês não odeiam isso?

— Do que está falando…?

— Receio que não entendi direito.

Alexia olhou de uma para a outra.

— Estávamos completamente impotentes lá. Mas o pior não é isso. Não podíamos sequer dizer quem era bom ou mau. Éramos espectadoras inúteis que não conseguiam nem distinguir o certo do errado…

— Alexia…

— Se continuarmos assim, se ficarmos no escuro, então com certeza podemos acabar perdendo tudo o que amamos. Não posso ser a única que pensa assim, não é…?

— Alexia, a verdade é… que isso também está na minha mente. Na época em que a academia foi atacada, acho que havia organizações poderosas puxando as cordas por baixo dos panos. Afinal, não sabemos nada sobre o Jardim das Sombras nem daqueles que se opõem a eles…

— Entendo como você se sente, mas o que está planejando fazer, Princesa Alexia?

Alexia cruzou os braços.

— Somos fracas e nos faltam informações vitais, mas, com certeza, há pelo menos algo que podemos fazer juntas. Sou uma princesa do Reino Midgar e Rose é a princesa do Reino Oriana. Você é uma autora, então, graças a isso, deve ter criado algumas conexões. O que acham de coletarmos informações e, depois, compartilhá-las?

— Você traçou a base de um plano. Qual o objetivo?

— Isso depende do que encontrarmos, mas se nós três unirmos forças, provavelmente poderemos lutar ou fazer algo. Ou podemos ao menos tentar juntar aliados, ou…

— Seu plano parece assustadoramente vago.

Quando Natsume apontou isso, Alexia olhou para ela.

— É-é por isso que estou dizendo que precisamos coletar informações, para que possamos examiná-las e decidir o que fazer com base nelas!

— Isso funciona muito bem se você for esperta o suficiente para analisar a informação. — murmurou Natsume bem baixinho.

— Sinto muito, você disse algo?

— Ah, nada.

Alexia continuou olhando feio, e Natsume mostrou um enorme sorriso. As duas se encararam por um tempo.

— Então, e aí? Vocês vão ou não formar uma aliança comigo?

Rose foi a primeira a estender a mão.

— Conte comigo. Vou tentar descobrir tudo que puder no Reino Oriana.

Em seguida, Natsume colocou a mão sobre a de Rose.

— Também vou usar minhas conexões como autora para descobrir as coisas por aí.

Por fim, Alexia colocou a mão junto.

— Então está decidido. De agora em diante, somos aliadas. Somos de diferentes países e origens, e nenhuma de nós realmente sabe o que se passa no coração uma da outra, mas tenho fé de que estamos do mesmo lado.

Rose sorriu.

— Gosto de como isso soa. Aliadas tentando desvendar as verdades ocultas do mundo… É como o início de uma lenda ou coisa do tipo.

— Temos os cargos de herói, sábia e peso morto, todas presentes e contabilizadas. — comentou Natsume, sorrindo para Alexia.

— Com você sendo o peso morto, é claro. — rebateu Alexia, sorrindo para Natsume.

Com o pacto selado, as três caminharam lado a lado.

Lá longe, o sol da manhã brilhava forte na cidade de Lindwurm.

 

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A maior parte do trabalho de Gamma era ocupada pelo gerenciamento comercial da Mitsugoshi Ltda.

Estivesse ela contente com isso ou não, o fato da questão é que sua falta de destreza em combate a deixava com poucas opções.

Na verdade, ela sonhava em lutar ao lado de seu mestre, mas esse era o seu segredinho.

Era isso que a compelia a passar mais um dia zelosamente cuidando dos assuntos da Mitsugoshi.

Seu trabalho a levou a Madlid, que ficava nos arredores do Império Velgalta. No momento, ela estava no meio de uma negociação com um senhor feudal, a respeito da abertura de uma nova filial da Mitsugoshi.

— Srta. Luna, eu, pessoalmente, recomendo esta propriedade.

O sorriso do guia de Gamma, Rude, era bem chamativo. Ele era o filho mais velho do senhor em questão.

Luna era o nome que Gamma usava em público quando atuava como a presidente da Mitsugoshi.

— Fica de frente para a estrada principal e recebe uma luminosidade excelente. A propriedade também possui uma fachada generosa. O lote custava cento e quarenta milhões de zeni, mas, como um favor especial, posso fazer por cento e vinte. Ficaríamos muito felizes em ter a Mitsugoshi aqui.

— Entendo.

O homem estava certo; a localização era excelente. O prédio também não era ruim. Era um pouco velho, mas tinha três andares, era espaçoso e sua construção era robusta.

Uma reforma era tudo que seria necessário para estabelecer uma vitrine utilizável. Demolir o antigo e construir um novo também era uma opção. Afinal, a maior parte do valor da propriedade era devido à localização.

Entretanto, o problema estava no fato de que ele estava disposto a abrir mão de um imóvel de primeira por apenas 120 milhões de zeni.

Um lote idêntico na capital do Reino Midgar seria facilmente avaliado em dez vezes isso, e mesmo em outras áreas provinciais semelhantes, custaria cerca de cinco vezes mais.

Entretanto, havia uma razão perfeitamente boa para esta barganha ainda estar no mercado.

A questão não era o terreno, mas a cidade como um todo.

Madlid era uma região menor do Império Velgalta e, para falar com franqueza, sua população estava em declínio. Existiam vários motivos para isso, mas, deles, havia dois mais proeminentes.

O primeiro era a sua localização. Era horrível.

Uma carruagem carregada de mercadorias levaria mais de um mês para ir de Madlid até a cidade mais próxima. Considerando o tempo e custo envolvidos, logo ficaria claro por que a cidade não era adequada ao comércio.

O segundo era que a capital imperial de Velgalta estava passando por uma nova onda de prosperidade, atraindo todos os jovens e mercadores de Madlid para ir para lá e mudar de vida.

Bem, muito disso se devia à abertura de uma filial da Mitsugoshi na capital e à subsequente reconstrução, mas tanto ela quanto Rude estavam evitando mencionar esse fato.

De qualquer forma, por essas razões, Madlid carecia de mérito como uma cidade.

Além disso, as filiais seriam as únicas que gostariam de comprar um lote tão ridiculamente grande na rua principal da cidade. Lotes semelhantes poderiam ser encontrados por toda a cidade.

Em outras palavras, abrir uma nova loja seria suicídio financeiro, a menos que encontrasse uma maneira de resolver esses problemas mais fundamentais.

Adoraríamos que você abrisse uma loja aqui!

Rude estava visivelmente desesperado. Ele tinha, é claro, ouvido rumores sobre o efeito que a Mitsugoshi teve na capital imperial.

Se a rede varejista abrisse uma loja em Madlid, isso impediria que a população da cidade continuasse caindo, e o gráfico de sua situação financeira decadente melhoraria repentinamente – ou, pelo menos, era nisso que ele se iludia em pensar.

Mas não era assim que as coisas funcionavam.

Até que os problemas paralelos fossem resolvidos, uma nova filial nada mais seria do que uma gota no oceano.

— Será…?

— Eu… te ouço alto e claro. Estou disposto a reduzir para cem milhões de zeni!

Vendo a indecisão de Gamma, ele reduziu ainda mais o preço.

Entretanto, Gama não tinha intenção de dar uma resposta diante da redução de apenas vinte milhões de zeni. Ela já tinha passado mais de uma semana indecisamente andando pelos imóveis da cidade e ainda não tinha dado nenhuma resposta definitiva.

Ela já tinha visto tudo o que precisava.

Agora estava apenas esperando.

— Srta. Luna… — E pronto. Uma jovem atraente, vestida com um uniforme da Mitsugoshi, chegou por trás de Gamma e sussurrou ao seu ouvido. — Terminamos a pesquisa.

— E?

— Vai dar certo.

— Aqui?

— Petróleo? Temos certeza disso.

— Entendo…

Naquele dia, Gamma pela primeira vez sorriu para Rude.

— Vou ficar com esse.

— Minha nossa, vai mesmo?! Nesse caso…

— Na verdade, vou ficar com todos os lotes que estão por aqui.

— Como é…?

— Estou dizendo que se estiver disposto a atender às nossas condições, podemos transformar Madlid na melhor cidade de todo o império.

— O quê…?

— Estaria disposto a expandir os afluentes do Rio Nyle e construir um canal?

— Um… sim?

— Ótimo, então vamos começar. — Gamma começou a dar ordens à sua subordinada. — Compre todas as terras que forem necessárias por perto do Nyle. Estamos prestes a tomar uma bolha imobiliária em nossas mãos…

Com isso, começaram com tudo. No fim, só Rude, pasmo, ficou para trás.

Ele ficou olhando para os lados, boquiaberto, então murmurou:

— Ah, certo… Tenho que reportar isso ao Pai…

 

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“Os fracos são inúteis”.

Nascida e criada como uma teriantropa, ela aprendeu essa lição com a sua família.

Seu clã era grande, mesmo para teriantropos do tipo canino, e seu pai – o chefe – tinha mais de cem filhos com seu nome. Ela era fruto de uma das amantes de baixo escalão, então ninguém esperava muito dela.

Na hora das refeições, suas porções eram escassas e ela vivia magra e faminta.

Quando fez três anos, pararam de lhe dar qualquer alimento.

Na primeira vez que cambaleou para a floresta, por iniciativa própria, para caçar, não era muito além de pele e osso. Lá, matou um javali com o dobro do seu tamanho ao bater no crânio dele, então tomou seu sangue e se empanturrou com seus órgãos.

Então percebeu que não apenas poderia se sustentar com as suas próprias mãos, como isso era surpreendentemente fácil.

Por fim, soube que era isso que significava viver.

A comida que lhe era entregue era inútil.

Só tinha valor se caçasse pessoalmente.

Depois que voltou para a sua aldeia, encharcada do sangue de sua presa, a notícia começou a se espalhar.

Mesmo entre os teriantropos, uma garota de três anos matando um javali não era lá muito normal.

Entretanto, era exatamente isso que ela fez.

Seus sentidos e força física eram superlativos, e ela podia usar até mesmo magia, apesar de nunca ter feito qualquer treinamento formal.

Se uma criança da idade dela aparecesse para brigar, seria derrubada com um único golpe e, sempre que sentia fome, saía para caçar a sua própria comida.

Seu corpo desnutrido logo foi enchendo e, em pouco tempo, ela cresceu e se tornou uma jovem bonita e com músculos flexíveis.

Quando completou doze anos, a única pessoa em seu clã que poderia vencê-la era o chefe.

Dentro de apenas mais alguns anos – ou de só um – poderia muito bem superar inclusive ele.

Entretanto, isso nunca aconteceu.

Em vez disso, hematomas pretos começaram a se espalhar por todo o seu corpo.

Ela era… uma das possuídas…

E os possuídos tinham que ser expulsos da matilha… Essa era uma lei de ferro.

Depois de fugir com todo o seu corpo infestado de doenças, começou a caçar pela floresta e a vagar sem rumo.

Amava caçar.

Caçar era a razão do seu viver. Cada instinto do seu corpo dizia que havia nascido para caçar.

Consequentemente, ser expulsa da matilha não a incomodou tanto.

Contanto que pudesse continuar vivendo e caçando, estava tudo bem.

Entretanto, a doença chegou a ela. Seu corpo adoeceu e foi gradualmente ficando tão fraca que a caça se tornou algo impossível.

Desabou perto de um riacho na floresta e olhou para o céu.

— Eu… ainda… posso… caçar…

Ainda podia sentir o cheiro das bestas, sentir seus passos, ouvir seus rugidos.

A floresta era enorme, mas ela podia distinguir os rastros das presas distantes como se estivessem bem na sua frente. Se seu corpo apenas se movesse como ela queria, poderia caçar todas as bestas sem dificuldades.

— Minha presa… me chama…

Porém, mesmo estendendo sua mão podre e enegrecida, tudo o que conseguiu alcançar foi o ar.

— Eu ainda… consigo… caçar…

Aos poucos, sua visão escureceu.

Sabendo que não tinha muito mais tempo de vida, sorriu quando ouviu um lobo uivando por perto.

O lobo tinha aparecido para caçá-la.

Essa era a sua chance.

Não podia mais se mover, mas poderia atrair a presa em sua direção.

No momento em que o lobo tentasse mordê-la, ela arrancaria a sua garganta com os dentes.

Ela prendeu a respiração e esperou pela chegada do lobo.

Mas isso nunca aconteceu.

— Por… quê…?

A presença do lobo se distanciou e uma elfa loira apareceu no seu lugar.

— Já progrediu muito… Você deve ter muita força de vontade para continuar consciente mesmo nesse estado — observou a elfa. Ela ofereceu a mão, mas foi freneticamente forçada a puxá-la de volta quase na mesma hora.

Chomp.

As presas da garota teriantropa encontraram apenas o ar.

Ela virou o rosto inflamado para a elfa, olhou para ela e sorriu.

— Parece que… encontrei uma… das grandes…

Com todo o resto de suas forças, colocou-se de pé.

Animais não eram as únicas presas que ela conhecia. Conflitos entre tribos teriantropas eram bem comuns, e caçar inimigos era outra das coisas pelas quais ela vivia.

No momento em que colocou os olhos na elfa, soube: A garota diante dela era o tipo de desafio que fazia o seu sangue ferver.

— O quê…?! Como ainda consegue ficar de pé…?! — A elfa começou a recuar.

— Grah!! — E então a garota teriantropa se lançou sobre ela. Nenhuma pessoa doente deveria ser capaz de se mover com tanta rapidez.

— …?!

A elfa se esquivou de suas presas e recuou um bom tanto, mas a teriantropa forçou seu corpo instável a persegui-la.

— Pare com isso! Estou tentando ajudar…! Parece que falar não está servindo para nada. Posso acabar te machucando, então parece que vou precisar pedir a ajuda dele… — murmurou ela, então virou-se e partiu.

— E-espera… es… pera… — A teriantropa deu alguns passos em perseguição, então colapsou e caiu de cabeça.

Ela não tinha mais forças para uma perseguição.

A luta havia drenado todo o resto de sua energia… justo quando pensou que teria sua última chance de caçar uma das grandes… Desanimada, fechou os olhos.

Por um tempo, tudo que ouviu foi o silencioso ambiente florestal, até que passos próximos chegaram aos seus ouvidos. Ela abriu os olhos, surpresa.

Parado ao lado dela estava um garoto de cabelo escuro todo vestido de preto. Ela não conseguia sentir a sua presença.

— Meu nome é Shadow…

Quando olhou nos olhos dele, todo o seu corpo tremeu.

“Não venceria”.

Não seria capaz de vencê-lo, não importa o quanto tentasse.

O que lhe disse isso não era a lógica, mas o instinto, e compreendeu na mesma hora.

A única pessoa mais forte que ela era o seu pai, o chefe do clã, e nem mesmo ele a assustava.

Mas o garoto era diferente.

Sua força como criatura viva estava fundamentalmente além da dela.

Quando a garota viu o seu corpo tonificado, pôde ver que era moldado para o combate.

Quando sentiu suas habilidades mágicas afiadas, pôde ver que eram potentes o bastante para explodir toda a área do reino.

Quando olhou para seus olhos acerados, soube que ele poderia dizer exatamente qual era o nível da força dela.

O abismo entre suas capacidades era tão vasto, porém, mesmo assim, ela não conseguiu juntar forças para lutar.

Temia a sua força e, naturalmente, obedecia ao que seus instintos diziam para fazer diante de um ser mais poderoso.

Em outras palavras — se rendeu.

— Purr…

Ela tombou, expondo a barriga e abanando o rabo.

— Ela parece bem dócil…

— Quando tentei me aproximar, foi bem hostil. — O garoto e a elfa compartilharam de uma conversa intrigada.

— Eh, tanto faz. Vou curá-la.

— Permita-me ajudar.

Com isso, o garoto cercou a teriantropa com sua magia azul-escura. A elfa tentou ajudar, mas foi sem jeito.

— Purr…

Enquanto faziam as coisas, a teriantropa não parava de abanar o rabo enquanto mostrava a barriga.

Um pouco mais tarde, após o término da primeira rodada de tratamento, receberam a companhia de mais duas elfas, uma de cabelo prateado e outra azulado.

A garota não estava totalmente curada, mas havia se recuperado o suficiente para ser capaz de voltar a andar.

— Me chamo Alpha. Sinto muito por jogar isso sobre você, mas gostaria de explicar algumas coisas sobre a nossa organização e o seu corpo…

Quando a elfa chamada Alpha começou a tagarelar alguns absurdos incompreensíveis, a teriantropa examinou o corpo dela.

Graças à magia do garoto Shadow, ela se recuperou de forma notável.

Nunca esqueceria a força e o calor da sua magia.

Ela, então, poderia voltar a caçar.

— E, por causa disso, nós lutamos contra o Culto…

Ela não se tornou uma seguidora cega, mas entendeu que esta era a sua nova matilha.

E não tinha objeções a isso.

Afinal, seu chefe, Shadow, era o ser mais forte que conhecia. Servir aos fortes era o seu orgulho.

Enquanto tivesse Shadow, esta matilha se tornaria a mais forte do mundo.

Rumo à dominação mundial!! Esse pensamento brilhou em sua mente.

— Delta. De agora em diante, esse será o seu nome.

— Del-tuh… O nome que o Chefe me deu…

Ela gostou muito mais desse do que do seu antigo nome. Afinal, era algo que o Chefe tinha lhe dado.

O Chefe era incrível! Ele era o mais forte. Para ela, ele era o melhor do mundo!

Era por isso que existia algo que precisava fazer.

Ela olhou para as três elfas paradas ao seu redor. A azul nem era desafio. A prateada era mais ou menos. A loira, porém, era forte.

Shadow era o chefe da matilha, indiscutível, o que significava que Alpha com certeza era a número dois.

Em outras palavras, Delta precisava…

— Ei, Loira! — Com um olhar penetrante, Delta apontou para Alpha. — De agora em diante, eu sou a número dois!

Para os teriantropos, lutar para estabelecer a hierarquia da matilha era extremamente importante.

— Submeta-se e me mostre a sua barriga!

— Como é …?

Ouvindo isso, a magia de Alpha começou a dilatar.

 

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As manhãs de Epsilon começavam bem cedo.

Ela se levantava ao nascer do sol e ficava parada na frente de um enorme espelho, vestindo sua camisola.

Só dormia por três horas. Entretanto, seu mestre lhe ensinara uma técnica que removia o cansaço com magia enquanto dormia, então três horas eram o suficiente. Amplo sono da beleza.

Por dormir só três horas diárias, era capaz de passar as outras vinte e uma de forma produtiva.

Cuidava de seu treinamento e missões, é claro, mas sua maior prioridade era o autoaperfeiçoamento.

Era por isso que acordava bem cedo para ficar diante do espelho.

A primeira coisa que precisava inspecionar eram seus seios com acolchoamento de slime.

Em pé, diante do espelho, via as enormes bolhas de slime em suas mãos.

Estavam corpóreos e bem torneados?

Eles estavam firmes, mas macios ao toque?

Mais importante ainda, pareciam naturais?

Com certeza não poderia deixar ninguém descobrir seu segredinho do acolchoamento.

Eles tinham que ser mais reais do que os reais, mais naturais do que os naturais. Esse era o motivo pelo qual segurava os peitos enquanto inspecionava o slime.

Depois de passar quase uma hora apalpando e massageando, ela terminava sua inspeção e melhorias.

Depois, garantia que sua silhueta estava bem proporcionada.

O espartilho em sua cintura projetava uma silhueta apropriada?

Seus quadris estavam grossos e bonitos?

E quanto à magreza da sua bunda… o comprimento de suas pernas…?

No momento em que terminava todas as suas verificações, o sol da manhã já havia nascido há muito tempo.

Ela então tirava o roupão, vestia um vestido casual por cima do slime, aplicava a maquiagem e arrumava o cabelo.

Nesse ponto, finalmente estava pronta para aparecer na frente dos outros.

Como toque final, ficava em frente ao espelho por uma última vez, girava e preparava sua Técnica Oculta do Estilo Epsilon: Pose de Encanto do Mestre Shadow.

— Linda como sempre. — Suspirou com um sorriso. Sua voz estava cheia de confiança.

Tudo isso para o bem de seu mestre. Era esta a extensão da seriedade com qual levava a sua rotina diária.

Entretanto, desta vez manteve a Pose de Encanto do Mestre Shadow por mais tempo do que o normal. Enquanto mantinha a posição, que servia para enfatizar os seus seios de slime, um sorriso desagradável se espalhava pelo seu rosto.

— Heh-heh… Heh-heh-heh… Ah-ha-ha-ha-ha-ha! — Estava sorrindo porque estava relembrando.

Especificamente, estava pensando em algo que aconteceu em Lindwurm no outro dia, quando se reuniu com seu mestre após um longo tempo.

Ela elegantemente despachou um dos assassinos do Culto enquanto o derrotava bem na frente do Lorde Shadow.

Sempre que se reunia com o seu mestre, seu coração batia ainda mais forte do que o normal. Desta vez, porém, ele estava olhando direto para ela…

E seu olhar feroz travou nos seus seios…!

A beleza, o glamour e o esforço de Epsilon finalmente chamaram a atenção do seu mestre.

Suas bochechas ficaram vermelhas, mas ela fingiu não notar o fervoroso olhar de seu mestre. Assim que ele saiu, porém, seus sentimentos chegaram ao máximo e ela soltou um poderoso grito de vitória

— Eu ganhei! Eu derrotei a Mãe Natureza!

Logo depois, voltou aos seus sentidos.

Esta não era Lindwurm, a Terra Sagrada. Era o quarto dela.

Entretanto, a memória estava gravada em seu coração: aquele momento fugaz com o olhar de seu mestre queimando em seu peito…

— Heh-heh! Heh-heh-heh…

Por fim, liberou a Pose de Encanto do Mestre Shadow. Entretanto, o sorriso malicioso continuava estampado em seus lábios.

Aquele dia, naquele momento, foi, sem dúvidas, o ápice da sua vida.

Parando para pensar, ela podia retornar ao pico de sua existência.

Se sentia como uma fênix, voltando de novo e de novo… Assim, o dia de Epsilon mais uma vez começava em seu zênite.

Depois de sair de seu quarto, ela caminhou pelo corredor e, pela primeira vez em muito tempo, se deparou com Beta.

Trocaram saudações superficialmente amáveis.

— Bom dia, Beta.

— Bom dia, Epsilon.

A troca foi casual. Entretanto, nenhuma das duas olhou para o rosto de sua companheira por um instante sequer.

Seus olhares estavam focados em outro lugar – nos seios uma da outra.

Cada um de seus seios se projetava como um par de foguetes, e encaravam os ativos da oponente como se olhassem para uma arquinimiga.

Então, ambas estufaram os peitos.

Cada uma sugou o máximo de ar que pôde, projetando os seios para frente até não conseguirem mais.

Esta era uma batalha que nenhuma mulher estava disposta a perder.

Os seios protuberantes e o slime se chocaram, depois balançaram.

— Heh-heh…

— Rrr…

Mais uma vez, a vencedora foi Epsilon. Afinal, ela moldou seu slime especificamente para derrotar Beta.

A princípio, sua batalha havia sido uma hostilidade unilateral da parte de Epsilon.

Entretanto, como ela usou seu slime para fazer o boing boing, um sentimento de rivalidade criou raízes em Beta e, então, Epsilon não era mais a única com algo preto e feio enfiado em seu seio.

Ainda assim, elas eram companheiras de equipe.

Elas sofriam durante um treinamento duro e lutavam lado a lado, e as duas definitivamente compartilhavam de um senso de camaradagem.

Cada uma confiava e considerava a outra importante.

Na maioria das vezes, conseguiam conviver de forma pacífica.

Palavra-chave: na maioria das vezes.

Normalmente, depois de se cumprimentarem, só passavam e seguiam seus caminhos. Tendo passado incontáveis horas juntas desde a infância, sentiam pouca necessidade de compartilhar gentilezas prolongadas.

Entretanto, dessa vez foi diferente.

O montanhoso orgulho de Epsilon se recusava a simplesmente deixar que sua rival fosse embora em silêncio.

— Sabe, recentemente me aconteceu algo bem surpreendente…

— O quê?

Epsilon quebrou o gelo e Beta congelou. Os seios e o slime continuavam naquela colisão macia enquanto as garotas falavam.

— Aconteceu esses dias, durante a missão na Terra Sagrada… Senti o olhar de nosso senhor queimando um buraco em mim…

— O quê?!

— Senti um olhar quente… focado… bem… aqui… — As bochechas de Epsilon ficaram vermelhas e ela se agitou inquietamente enquanto falava.

— O-o-o-o-o…? S-sem chances! V-você deve ter se enganado!

— Ah, não, erro meu. Você deve saber, Beta. Ficamos bem atentas quando as pessoas nos olham.

— Rrr… V-você está certa…

As duas tinham curvas da cabeça aos pés e se viam recebendo olhares de homens o tempo todo. Ambas ficavam naturalmente conscientes de quando isso estava acontecendo.

— Foi isso que achei tão surpreendente. Nunca pensei que ele fixaria um olhar daqueles em alguém como eu…

— Gh… Nosso lorde…? Sem chances… — Mortificada, Beta encarou Epsilon.

— Digo, é mesmo adequado que nosso lorde se apaixone por alguém tão humilde quanto eu…? — Epsilon soltou uma risadinha ao colocar ênfase em suas palavras.

— Bom, pense nisso. Sua silhueta é muito mais bonita do que a minha, Beta, e você também é muito mais linda!

— O q…?!

Epsilon estava dominando Beta.

Seu rosto triunfante deixava bem claro que ela não se considerava nada humilde.

Era a falsa modéstia da vencedora.

Suas palavras eram a proclamação de uma mulher cuja silhueta é melhor, cuja aparência é mais forte e que conquistou o afeto de seu senhor. Cada um de seus elogios era um ataque.

Epsilon falava de uma posição de superioridade. Estimulada pelo seu orgulho, sempre o fazia.

— Seus seios são tão grandes

— Urk…

— E sua cintura é tão fina

— Urrrk…

— E suas pernas são tão compridas

— Urrrrrk.

— Ora, você é tão bonita!

— Urrrrrrrk…

Para fazer o argumento decisivo para sua inimiga ferida, Epsilon revelou a Técnica Oculta ao Estilo Epsilon: Pose de Encanto do Mestre Shadow e exibiu seu poder esmagador bem diante dos olhos de Beta.

As lágrimas logo começaram a brotar.

Você com certeza já deve ter sentido aquele olhar quente dele em você, não é?

— Eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu…

— Não me diga que não.

— Eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu…

— Não pode ser verdade…

— Eu-eu-eu-eu-eu-eu-eu … eu, eu … Boo-hoo! — Beta chorava enquanto fugia.

— Heh-heh-heh… Todas as naturais deviam ser eliminadas do mundo… Agora vou receber o carinho dele… Somente eu… — Epsilon sorria enquanto observava Beta fugindo.

Alguns diziam que seu amado mestre uma vez murmurou em um cômodo vazio: “A cabeça de Epsilon está tão cheia quanto seus enchimentos de slime.”

Assim como ele disse, o orgulho dela estava além dos céus. Se seu ego não fosse tão grande, ela seria incrivelmente doce e atenciosa.

Isso é, se não fosse tão orgulhosa…


 

Tradução: Pimpolho

Revisão: Taiyo

 

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