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A Eminência nas Sombras – Vol. 02 – Cap. 01 – Momentos Divertidos no Desafio da Deusa!

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Que desagradável, Alexia murmurou silenciosamente para si mesma.

Ela estava sentada em um dos assentos para os convidados especiais, esperando pelo início da cerimônia de abertura do Desafio da Deusa. Os assentos em questão eram ocupados por Natsume, Alexia e Rose. Havia muitos outros convidados logo atrás, mas elas eram a atração principal. Era dolorosamente óbvio que estavam sendo usadas como garotas propaganda para atrair a plateia, mas ela podia fazer vista grossa para isso.

Havia duas coisas que achava desagradáveis.

A primeira era Nelson. O arcebispo representante estava ocupado enquanto cumprimentava a todos pomposamente no centro da arena. Quando conversou com ele antes sobre o assassinato do arcebispo no dia anterior, ele recusou-se com teimosia a deixar que investigasse o assunto.

Tudo começou quando Nelson falou algumas bobagens sobre a inspeção ter sido cancelada, pois o assunto já tinha morrido. Alexia tinha respondido ao idiota que aquilo tornava a investigação ainda mais necessária, embora, obviamente, tenha usado de uma linguagem mais diplomática. Nelson insistiu que ela precisava fazer com que o seu pedido fosse aprovado de novo se quisesse conduzir uma inspeção.

Mesmo que apressasse, levaria três dias para voltar à capital, uma semana, no mínimo, para conseguir aprovação e mais três dias para voltar a Lindwurm. Quem sabe quanto tempo levaria para que Nelson aceitasse sua permissão quando enfim trouxesse a ele? Dependendo do humor dele, poderia acabar facilmente fazendo com que ela esperasse mais uma semana. Nem precisava dizer que, depois de todo o tempo que passou, provas cruciais poderiam estar perdidas para todo o sempre.

Dito isso, Alexia sabia que estava agindo como uma representante do seu país, por isso não poderia forçar demais. Os Ensinamentos Sagrados não eram praticados apenas no Reino Midgar, mas em todas as nações próximas também. Se tentasse pressionar o assunto, era capaz de receber represália dos países vizinhos, sem contar a perda de apoio da população. Religião era uma aliada útil, mas, como inimiga, era um incômodo absoluto.

Ela olhou para o Arcebispo Representante Nelson enquanto ele jovialmente continuava dando seu discurso. Pelo menos lamente um pouco, careca, murmurou baixinho para si mesma. A morte do arcebispo não foi reportada ao público, mas ainda assim… Oh, a propósito, Nelson era careca.

Alexia suspirou, então olhou de soslaio para a mulher, chamada Natsume ou algo assim, sentada ao seu lado.

Natsume é a outra coisa que a incomodava.

Ela estava sentada de maneira educada ao seu lado, respondendo aos aplausos da multidão com um grande sorriso. Seu elegante cabelo prateado emoldurava seus olhos felinos azuis e pinta ao lado deles, e suas características serviam para aumentar seu carisma.

Graças ao sorriso de pérola e aceno majestoso, aparência adorável e conduta graciosa, ela acaba sendo freneticamente popular.

Quanto mais Alexia olhava para ela, mais tinha certeza de que havia algo de estranho.

Talvez Natsume fosse o tipo de autora genial que só aparece uma vez a cada milênio, ou talvez não, mas o fato é que Alexia não ouviu muito sobre ela antes daquele dia. Verdade, ela nunca teve interesse algum em literatura, mas, como princesa, colocou um pouco de esforço para saber quem era quem. Em outras palavras, Natsume devia ter ascendido à proeminência recentemente.

Uma novata tem uma presença tão grande, se porta tão bem e é popular assim? Isso é estranho.

Ela não estava com ciúmes! Se fosse algo, seria o tipo de ódio que surge por serem muito parecidas.

Alexia sabia como se portar de maneira impecável diante do público. Ela vivia sua vida reprimindo seu verdadeiro eu e fazendo papel de uma princesa perfeita. A maioria das pessoas em posições de poder atuam, de certa forma, mas é difícil se encontrar com alguém disposto a se sacrificar para executar isso na perfeição. É uma aposta segura dizer que, quanto mais o ator sacrifica para executar uma apresentação suprema, mais sombrio era o seu outro lado.

— Obrigada a todos. — disse Natsume para a multidão, o que fez Alexia estalar a língua.

Ela achava aquela voz suave e tranquila de Natsume irritante. Seu peito exposto estava friamente calculado enquanto se inclinava para mostrar o decote… Bem, você não é a mais fofa?

Enquanto falava mal de Natsume internamente, acenava para a multidão, com um sorriso imutável.

Entretanto, ficou claro que a reação da multidão foi melhor com Natsume. Por um momento, a bochecha de Alexia se contorceu, e ela cruzou os braços. Enquanto usava eles para erguer mais os peitos, inclinou-se para frente, mas apenas um pouco.

Os gritos da multidão aumentaram um pouquinho mais.

Ênfase no pouquinho mais.

B-Bem, meu decote não é tão baixo, então não é minha culpa, assegurou-se em silêncio enquanto voltava ao seu assento.

Ela lançou um olhar fugaz para a sua direita, onde Rose sorria alegremente, passando a manhã toda assim.

Depois, por precaução, a princesa olhou para a esquerda.

Naquele instante, viu algo: os cantos dos lábios de Natsume ergueram-se em um sorriso desdenhoso.

Algo dentro de Alexia quebrou.

 

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Que desagradável, Beta murmurou baixinho para si mesma enquanto desempenhava o papel de Natsume, a escritora.

Há apenas uma coisa que ela achava incômoda, a qual estava sentada à sua direita: Alexia Midgar. Ela era o verme que usou da sua posição como princesa e amiga para se aproximar do amado mestre de Beta.

Tudo é estranho sobre essa mulher, agindo como uma princesa modelo ao bajular a multidão com sua voz doentiamente suave e insinuante e acenando para eles com aquele sorriso duvidoso. Quando se trata de mulheres que fingem ser perfeitas por hábito, era uma aposta segura dizer que elas tinham um lado sombrio.

Não havia dúvidas na mente de Beta que o seu mestre jamais se apaixonaria por uma prostituta como essa, mas ainda podia haver uma chance em um milhão.

E, mesmo que isso não acabasse sendo um problema, a mulher ainda era um incômodo, cuja a presença era a mais indesejada nas páginas de As Crônicas do Mestre Shadow de Beta.

Quando ela ficou sabendo que Shadow salvou aquela mulher durante O Caso da Princesa Sequestrada, seu sangue ferveu. Isso a encheu de raiva por não ter sido ela que… é, espere, hã… pelo fato de todo o problema que a garota causou ao seu mestre. Certo. Não foi ciúmes, obviamente!

A fim de conter sua fúria, Beta reescreveu aquela passagem, substituindo o papel da vítima salva por Shadow por uma adorável elfa de cabelo prateado e olhos azuis que tinha uma pinta. Ela ficou até tarde da noite lendo e relendo a mesma parte várias vezes.

Mas, agora, a vagabunda estava ameaçando se enfiar em As Crônicas do Mestre Shadow novamente. Beta era mais poderosa, bonita e devotada ao seu mestre, então por que aquela mulher achava que podia ir se enfiando? I-Isso era ridículo!

Enquanto Beta, internamente, cuspia ácido sobre a princesa vulgar, ela respondia aos gritos da multidão no modo automático.

Quando deu uma olhada para o lado, viu, dentre todas as coisas, que a princesa safada estava tentando erguer o peito fajuto para agradar as massas.

Doentio.

E, além disso, aquelas coisas não chegavam nem perto dos dela em questão de volume. Estavam apenas na média.

Completamente satisfeita por ter saído vitoriosa mais uma vez, Beta olhou para seu decote farto e deu uma leve bufada.

Oops. Alexia ouviu aquilo?

Virou-se e fez-se de inocente, e foi exatamente nesse momento em que uma dor aguda percorreu o seu pé direito.

— Ah…? — Ela abafou o grito e olhou para baixo, então viu o salto de Alexia sobre seu pé.

Enquanto tentava manter-se calma, dirigiu-se a ela com tranquilidade:

— Com licença, Princesa Alexia, por gentileza, poderia mover o seu pé?

Alexia a encarava à medida que retirava o salto, fingindo ter acabado de perceber o que fizera. Então, sem ao menos pedir desculpas, teve a coragem de dar uma risadinha.

Seu pedaço de merdaaaaa!!

Beta estava prestes a gritar em voz alta, mas, devido à sua devoção para com seu mestre e lealdade ao Jardim das Sombras, conseguiu controlar-se.

Mas foi por pouco.

Uma gota de sangue escorreu dos lábios dela.

Rose continuava a sorrir alegremente.

 

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Eu observava sem muito interesse o Desafio da Deusa a partir da arquibancada.

Estava cedo ainda, então as coisas recém tinham começado. Eles ainda estavam dando discursos, apresentando os convidados e marchando em uma parada. O evento principal, o verdadeiro Desafio, não iria começar até o pôr do sol.

No momento, eu estava no meio da plateia, como só mais um rosto na multidão. Dei um suspiro ao olhar para as três garotas se dando bem na área dos convidados.

Quero fazer alguma coisa.

De preferência algo digno de um agente das sombras. Rebaixar-me ao papel de um espectador normal durante um evento incrível estava me matando.

Tipo, eu deveria estar participando daquele enredo padrão, no qual eu entraria no Desafio com a minha identidade secreta ou algo do tipo. Sabe, aquele negócio em que eu faço uma grande demonstração dos meus poderes e a galera fica: quem é aquele cara?!

Se isso aqui fosse um torneio, seria adorável. Mas, infelizmente, todo mundo só tem uma rodada, e, depois de algumas pesquisas, descobri que é difícil se sair bem enquanto mantenho minha identidade escondida. Considerei entrar à força, mas acho que é melhor deixar isso para algo mais importante.

Enquanto lutava com ideias inúteis sem parar, o evento continuou.

Às vezes é assim mesmo que funciona. Não consegui pensar em um plano decente ontem, e não era como se estivesse esperando alguma ideia brilhante surgir de repente. E, embora pareça que eu estou desistindo, ainda serei capaz de aproveitar na maneira normie. Faltam eventos grandes neste mundo, por isso me vi tendo momentos de folga surpreendentemente bons. Até mesmo consegui ganhar uns trocados apostando.

No fim, o sol fez o seu caminho até se pôr, e a atração principal começou. Uma luz brilhante preencheu o local, e as letras antigas subiram do chão na arena.

Em seguida, elas criaram um domo de luz branca, o que fez a multidão ir à loucura.

Quando o desafiante entrasse naquele domo, o Santuário escolheria um oponente apropriado, então a batalha começaria. É isso. Ninguém ao redor é capaz de interferir até que um dos lados esteja incapaz de continuar. Pelo que fiquei sabendo, até já teve gente que  morreu.

O lance todo de ser forçado a lutar até que um lado não consiga mais faz com que eu reavalie os méritos de fazer o papel de um personagem de fundo neste evento. Há um risco real de a minha força ser descoberta caso eu entre.

Enquanto isso, o primeiro desafiante entra no domo após as instruções. Ele é um cara fortão da Ordem dos Cavaleiros.

Mas o domo não responde.

O homem xinga e deixa a arena.

Não se pode culpar esse cara: a taxa de entrada é de cem mil zeni, afinal. E, ao que tudo indica, tem mais de cento e cinquenta participantes este ano.

Faz sentido, de certa forma. Passar pelo Desafio da Deusa é, supostamente, uma grande honra. É recebida uma medalha comemorativa, e eu fiquei sabendo que todos vão naquela de “você passou pelo Desafio da Deusa? Uou! Aqui, fique com esse emprego!” para o vitorioso.

À medida que vejo os desafiantes irem um por um, pego-me pensando sobre quanto tempo vai levar até a vez da Alpha.

O primeiro guerreiro antigo que apareceu para lutar foi para o desafiante sortudo número quatorze.

Annerose é uma viajante de Velgalta, um país que valoriza a esgrima, e, quando entrou no domo, uma inscrição antiga reagiu e começou a brilhar. A luz tomou uma forma humanoide, um guerreiro translúcido. De acordo com os comentaristas, ele era Borg, um guerreiro dos tempos antigos.

Os dois tiveram uma batalha bastante normal, e Annerose também conseguiu uma vitória bastante normal. Eu estava animado para ver do que os guerreiros antigos eram capazes, mas fiquei decepcionado com o quão mundano acabou sendo a luta. Dedos cruzados para que os próximos sejam mais fortes.

E, enquanto o evento continuava, me caiu a ficha de que eu estava enganado. Annerose era forte. Oito guerreiros tinham sido invocados até o momento, mas ela foi a única desafiante que venceu até agora. Quando parei para pensar, percebi que Borg deve ter sido casca grossa também.

A noite chegou, e o grupo de desafiantes que restavam tinha diminuído para apenas alguns.

Quando senti que o evento estava prestes a chegar à sua conclusão, ouvi o nome do próximo desafiante sendo chamado.

 — Nosso próximo desafiante é da Academia Midgar para Cavaleiros Negros: Cid Kagenou!

Cid Kagenou? Quem é esse? Espera… sou eu!

Com certeza sou Cid Kagenou, da Academia Midgar para Cavaleiros Negros, mas… eu não lembro mesmo de ter me registrado.

— Vamos dar as boas-vindas ao nosso bravo desafiante!

Não! Parem! Tempo!

Uma onda de aplausos caiu sobre mim. Alguém até mesmo assobiou, e gritos eufóricos tomaram conta do estádio.

Não estou gostando da vibe aqui. Minhas bochechas se contorciam enquanto eu pensava.

Dada a situação, tenho três opções:

Opção um: posso desistir e ir lá para lutar. Se nada acontecer, minha posição como um ninguém estará segura, mas, caso um guerreiro super poderoso apareça, corro risco de ter os meus poderes descobertos.

Opção dois: posso dar no pé. Sou apenas um zé-ninguém da Academia para Cavaleiros Negros, afinal. Ninguém sabe como eu me pareço, então será moleza. Infelizmente, eu estaria irritando a Igreja. E se eles reclamarem com a minha escola, posso acabar sendo expulso.

Opção três: posso fazer a merda rolar solta. Parece que essa é a minha única opção.

Apaguei a minha presença, correndo a toda velocidade para encontrar um lugar para me esconder. Quando tive certeza de que estava sozinho, transformei-me em Shadow e saltei.

Sou um crente fervoroso da filosofia de que não há problema algum que não possa ser resolvido com uma explosão.

E, sendo assim…

Início da Operação: Um Fodão Misterioso Faz a Merda Rolar Solta!

Quando pisei sobre a plataforma do domo, meu manto longo flutuou atrás de mim.

— Meu nome é Shadow. Espreito-me na escuridão e caço as sombras…

A multidão se agitou.

— Memórias antigas estão adormecidas dentro do Santuário…

As escrituras antigas reagiram e começaram a tomar a forma humanoide.

— E, hoje à noite, as libertaremos…

Puxei minha katana negra e cortei o céu noturno.

Do assento dos convidados, a boca de Beta estava bem aberta!

 

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— Shadow!!

— Shadow?!

— Mest—?!

Ao perceber que estava prestes a chamá-lo de Mestre Shadow, Beta parou no meio da frase na mesma hora.

Felizmente para ela, todo mundo na cabine dos convidados tinha os olhos grudados em Shadow, por isso não a ouviram. Alexia, Rose e até mesmo o Arcebispo Representante Nelson estavam visivelmente abalados pela aparição do intruso repentino.

Quando fechou a boca arreganhada, começou a pensar. Isso não fazia parte do plano.

Ao mesmo tempo, entretanto, percebeu algo. Sabia que o seu amado mestre jamais tomaria essas medidas sem um bom motivo. Devia haver alguma razão para suas ações, e era o seu trabalho como apoio descobrir qual era.

Algum tempo depois, Beta ficou calma e reservada novamente.

O que ela deveria fazer?

Qual era a melhor atitude a tomar?

— Entendo, então é o Shadow. — murmurou Nelson. — Não sei o que ele está tentando fazer, mas os paladinos da Igreja estão todos estacionados ao redor da arena. Você se superestimou, tolo. Não deixaremos que fuja.

Nelson deu sua ordem para que os paladinos se reunissem.

Eles eram cavaleiros selecionados desde o batismo para proteger a Igreja. Cavaleiros comuns nem podiam se comparar em força. Quando ela era criança, sofreu para conseguir derrotar um enquanto salvava um “Compatível”. Hoje em dia, é claro, não deixaria que algo tão impróprio acontecesse.

— Por que Shadow está aqui…? — murmurou Alexia.

Ele está bem? Espero que não tenha sido pego no meio disso tudo… — disse Rose. Mantendo um olho em Shadow, ela vasculhava sem parar a área.

De repente, a arena se iluminou de branco.

As letras antigas brilharam, então tomaram a forma de um guerreiro.

Beta juntou as descrições minuciosas marcadas nas letras antigas e leu em voz alta:

— Aurora, a Bruxa da Calamidade…

— Aurora? Impossível…

As vozes de Beta e Nelson se sobrepuseram.

Quando a luz se desfez, uma mulher surgiu no lugar. Seu cabelo era longo e preto, e seus olhos tinham uma coloração vívida de violeta. Ela usava um manto preto e fino, e seu vestido roxo-escuro e pele clara eram quase translúcidos. Havia uma beleza artística nela, como se fosse uma escultura que veio à vida.

— Aurora? Quem é essa? — Alexia perguntou a Nelson, ignorando Beta de propósito.

— Ela é a Bruxa da Calamidade. Há muito tempo, causou caos e destruição ao nosso mundo.

— A Bruxa da Calamidade… Nunca ouvi falar dela.

— Nem eu. Senhorita Natsume, acredito que você tenha, correto? — perguntou Rose.

— Sim, mas não muito mais do que o nome. — respondeu Beta.

O que era verdade.

Aurora, a Bruxa da Calamidade. Toda vez que Beta descobria mais sobre a história antiga, o nome de Aurora aparecia. Mesmo assim, ela não tinha ideia de que tipo de caos Aurora semeou, nem a destruição que causou. O Jardim das Sombras estava dedicando os maiores esforços na pesquisa sobre a história dela, depois dos mistérios que cercavam Diablos.

E, agora, ela estava ali pessoalmente. Essa era uma descoberta avassaladora. Beta puxou seu caderno de anotações do espaço em seu decote e desenhou um esboço rápido de Aurora. Então desenhou Shadow prestes a enfrentá-la. Ela usou um tempo consideravelmente maior neste último.

— Reunindo ideias para seus romances? — comentou Rose.

— … Algo assim.

Depois de escrever “Mestre Shadow estava sublime como sempre”, fechou o bloco de notas.

— Se não se importar, poderia me falar um pouco mais sobre a Aurora? — perguntou ela, sedutoramente.

Nelson se encheu de orgulho.

— Não posso culpar vocês duas pela ignorância. Na verdade, estou mais surpreso pelo fato de a Senhorita Natsume ter ouvido falar sobre ela. Apenas um pequeno grupo de pessoas sabe sobre a Aurora, até mesmo dentro da Igreja. — disse ele, com um sorriso. O seu olhar não deixou de espiar o decote de Beta em momento algum. — Ainda assim, acho que não precisaremos dos paladinos. A sorte de Shadow parece ter esgotado.

— Aurora é tão forte assim? — perguntou Rose.

— Ela é a mulher mais poderosa da história. Poderia esmagar alguém como ele com uma mão amarrada atrás das costas. Infelizmente, isso é o máximo que posso contar.

Nelson ficou em silêncio, como se dissesse vejam por si mesmas.

Beta ficou indignada, pois não havia dúvidas em sua mente de que o seu lorde iria sair vitorioso, mas não queria dizer que estava completamente livre de preocupações.

Aurora, a Bruxa da Calamidade, era resiliente o suficiente para fazer o seu nome ficar marcado nos anais da história. Se a batalha contra esse inimigo cansasse o seu mestre, os paladinos poderiam se aproveitar desta oportunidade e…

É impensável…, mas não impossível.

Além disso, tempo o suficiente passou para que Beta tivesse uma ideia sobre o plano de Shadow. Ele mencionou algo sobre libertar as memórias adormecidas do Santuário, então invocou Aurora. Devia haver algum mérito ao fazer isso.

Se o seu mestre julgava que Aurora era a chave disso tudo, Beta pretendia seguir a sua liderança.

Ela tocou gentilmente a pinta na bochecha. Este era o sinal que indicava uma mudança de planos. Espreitando-se em algum lugar na área, Epsilon provavelmente percebeu o sinal. Mesmo que não tivesse, Beta tinha confiança de que Epsilon agiria de maneira apropriada.

— Está prestes a começar.

Avisada por Nelson, Beta virou o olhar em direção à arena. Lá em cima, viu Shadow com sua katana negra e Aurora de braços cruzados e sorriso tranquilo. Isso a fazia parecer tão viva e linda, sendo difícil acreditar que era composta por apenas memórias distantes.

— Acho difícil acreditar que Shadow cairá com facilidade… — sussurrou Alexia. A sua expressão estava séria, e ela observava Shadow com atenção.

Beta viu-se um tanto impressionada. Alexia não era tão cega assim, pelo menos.

O ar no estádio ficou tenso. O silêncio era sufocante.

Shadow. Aurora. Eles continuavam parados, encarando-se.

Talvez o momento fosse crítico para eles. Talvez estivessem tentando entender um ao outro antes.

No fim, com um ar de relutância aparente, a batalha começou.

 

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Não me sentia dessa forma há muito tempo.

Enquanto estava diante de uma mulher de olhos violeta, cerrei os dentes por trás da máscara.

Ela também estava sorrindo.

Não havia dúvidas na minha mente que ela sentia a mesma coisa que eu.

Na minha opinião, cada batalha é uma conversa.

Um tremor na ponta da espada, uma mudança de olhar, a posição dos pés… Havia sentido a ser encontrado em todas essas coisas minuciosas, e buscar esses sentidos e descobrir qual é a melhor maneira de lidar com eles é do que se trata a luta.

Não é exagero dizer que os mais habilidosos em combate têm o poder de perceber o propósito nas menores ações e preparar uma resposta superior.

 

É por isso que considero uma conversa.

Com habilidades de comunicação mais fortes, você pode antecipar muito mais à frente, permitindo que responda de maneira apropriada, o que eles podem supor antes que você possa dar sequência e reagir, e assim por diante, em uma troca sem fim.

Por outro lado, se suas habilidades de conversa são fracas, ou se a diferença entre você e o outro cara são grandes demais, não será capaz de conseguir que um diálogo se inicie.

Um lado, ou, às vezes, os dois, irá agir por impulso até que a luta acabe.

Isso não é conversa, nem mesmo um processo, apenas um resultado. Na minha opinião, se planeja ter uma discussão, pode também ir em frente e decidir a sua luta em um belo jogo de pedra, papel e tesoura. Delta, estou falando de você aqui. As regras dela fazem com que a pedra dê uma surra ferrada no papel e na tesoura.

 Dito isto, dificilmente estou em posição de falar alguma coisa. Faz muito tempo que tive algo que se parecesse com uma conversa.

Diferentemente de Delta, entretanto, eu, pelo menos, tento me comunicar… O problema é que sempre termina comigo jogando pedra e esmagando o rosto deles.

É por isso que essa mulher está me deixando mais animado do que já estive há muito tempo. Ela me observa. A ponta da minha espada, meu olhar, meu jogo de pés… Enquanto finge sorrir despreocupadamente, observa cada movimento sútil que eu faço.

Acho que a chamarei de Violet. Minha querida e amada Violet.

Durante os primeiros momentos, nossa conversa consistiu em apenas observar um ao outro.

Pouco a pouco, aprendíamos. Ela é do tipo que gosta de manter sua distância, e eu, a princípio, sou do tipo que gosta de acompanhar o ritmo do meu oponente. Com toda certeza não sou daqueles que gostam de esmagar o oponente com a pedra.

E, por causa disso, comecei a nossa conversa ao ceder a iniciativa.

Depois de você, impliquei.

No instante seguinte, saltei para trás com o impulso da perna que estava mais à frente.

Quando o fiz, algo parecido com uma lança vermelha irrompeu do chão onde meu pé estava.

Recuei meio passo e, devo dizer, não esperava que o primeiro ataque dela viria do chão.

A lança vermelha dividiu-se em duas, disparando na minha direção de ambos os lados.

O primeiro passo era observar.

Quero julgar a velocidade, mobilidade e capacidade destrutiva.

Por estes motivos, esquivei-me da lança na minha esquerda, então bloqueei a da direita com minha katana. O impacto foi forte, o suficiente para me matar.

A lança da qual me esquivei continuou a se dividir. Havia, provavelmente, mil fios vermelhos agora, e todos pareciam afiados como agulhas.

Então, convergiram na minha direção.

Reuni magia em minha lâmina e derrubei todos com um corte da minha lâmina, obliterando a lança vermelha por completo.

— Um enxame de mosquitos jamais irá derrubar um leão. — eu disse a ela.

Violet sorriu com graça. Voltamos a nos encarar por um tempo.

Com habilidades de comunicação mais fortes, leva menos tempo para avaliar o adversário, incluindo grande parte de sua condição.

Sei como essa batalha irá terminar. Violet talvez saiba também.

De repente, o silêncio é quebrado quando uma série de lanças, tão espessas quanto troncos de árvore, irrompem do chão.

Havia nove delas ao todo.

Sou capaz de me esquivar das maiores, mas elas podem mudar de forma como tentáculos e continuam vindo — tentando me perfurar com lanças, envolvendo-me com fios, mordendo como se tivesse presas.

Essa é a forma com que ela gosta de lutar: um jogo letal e unilateral com esses tentáculos que mudam de forma.

Continuei observando. Enquanto assistia como elas operam, refinava meus movimentos.

Ao fazer isso, sou capaz de remover quaisquer movimentos desnecessários ao me esquivar. Um passo completo torna-se um meio passo. Dois movimentos tornam-se um.

Mesmo que me esquive para sempre, não posso vencer, mas a esquiva é o primeiro passo necessário para o contra-ataque.

Quanto menos tiver que me mover para me esquivar, mais rápido virá o meu contra-ataque.

No fim, minha evasão e contra-ataque irão se coincidir.

Com um único passo, vou direto até a frente de Violet.

Em certo momento, uma foice apareceu nas mãos dela, a qual cortou na minha direção.

Enquanto evitava o golpe com minha katana, chutei-a na perna.

Uma espada de slime estendeu-se da ponta do meu pé e a perfurou. Até hoje, estive usando isso mais como uma apresentação para quando quisesse ser mais teatral, mas é inestimável contra inimigos fortes, pois faz com que percam o equilíbrio.

Por um momento, ela parou de se mover, e isso era tudo o que eu precisava.

Violet sorriu, aceitando o resultado.

— Queria ter lutado com você quando estava com a sua força total.

À medida que sangue jorrava no ar, sussurrei em voz baixa, algo que apenas Violet pôde ouvir.

 

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— Como eu disse, Shadow não tem chance alguma. — disse Nelson, orgulhoso, mas Alexia o ignorava.

Desde o começo da batalha, Aurora esteve pressionando Shadow sem parar. Alexia observava em choque a velocidade aterrorizante das gavinhas vermelhas.

Aquelas coisas eram diferentes de qualquer arma que já vira. Podiam trocar de forma com tamanha liberdade, era como se fossem uma extensão do próprio corpo de Aurora. Ela poderia, talvez, até mesmo estendê-las ainda mais e atingir um grupo inteiro de uma só vez.

Qualquer um que insistisse em enfrentá-la com uma espada estaria condenado desde o começo.

Então esse era o poder de antigas técnicas de batalha. Alexia foi forçada a admitir que não seria párea para Aurora.

— Ele é mais persistente do que imaginei, mas a diferença de habilidade é clara.

Você está enganado. Alexia rejeitou em silêncio a observação de Nelson.

Embora pudesse parecer que Shadow estava sendo pressionado pelos ataques de Aurora, ele ainda não havia tentado atacar. Estava apenas observando, analisando esses golpes diferentes.

Aurora era forte, sem dúvidas. Era poderosa o suficiente para dar a Shadow uma luta decente, afinal.

Mas aquelas lanças vermelhas ainda não haviam encostado nele uma vez sequer.

— Um enxame de mosquitos não pode derrubar um leão.

Quando Shadow falou, derrubou mais de mil dardos finos com um único golpe.

As lanças vermelhas se reagruparam, formando bastões grossos, e dispararam até ele de todas as direções.

Elas zumbiam pelo ar enquanto caíam sobre ele com força o bastante para matar um leão, separando-se e mordendo como se fossem presas.

Mas elas simplesmente não eram capazes de alcançá-lo.

Muito pelo contrário, com cada passada, as evasivas de Shadow ficavam mais suaves.

Em cada vez que parecia que não poderiam ser mais eficientes, acabavam ficando.

Em cada momento, Alexia pensava que a batalha chegara ao ápice, mas tudo era reescrito com um ápice ainda maior.

— Incrível…

— Como sempre…

Alexia e Natsume sussurram juntas.

Os fortes de verdade são capazes de levar seus oponentes a um beco sem saída apenas com a defesa. O instrutor de Alexia lhe disse isso uma vez.

Essa luta era o exemplo perfeito.

— O que você está fazendo, sua bruxa estúpida? Acabe logo com ele! — gritou Nelson, em um tom provido de irritação.

Mas era chegado o momento.

Aurora já não era mais capaz de parar Shadow.

A luta foi decidida em um piscar de olhos.

Alexia foi capaz de apenas distinguir uma fração da disputa.

Shadow se aproximou, Aurora moveu sua foice e, antes que Alexia percebesse, sangue jorrou para todo lado.

E quem caiu… foi Aurora.

O resultado foi rápido e insatisfatório. Foi como assistir a um leão quebrar o pescoço de um cordeiro.

Ninguém sabia dizer o que Shadow tinha feito, nem o que aconteceu naquele último golpe, por isso foi tão decepcionante.

O estádio ficou em um silêncio mortal, como se uma luta feroz jamais tivesse tomado lugar ali.

— Ela… acabou de perder? Isso é impossível! Ela estava na ofensiva! — gritou Nelson.

Talvez ele tenha pensando que Aurora fosse a favorita até o último momento.

Quando o jogo virou em questão de um instante, levou um minuto para que as pessoas processassem a situação. Nelson não estava sozinho nessa, pois a maioria dos espectadores ainda não tinha certeza que não tinham confundido o derrotado com o vitorioso.

— P-Pare aí mesmo! Peguem ele! Não deixem que fuja! — gritou Nelson depois de voltar a si.

Os paladinos, confusos, passaram a se mover e correram na direção de Shadow.

Alexia percebeu de repente que esteve segurando a respiração. Quando exalou, tentou memorizar o trabalho de espada dele para que não esquecesse.

— Os truques dele continuam incríveis como sempre… — A voz de Rose escapa como um suspiro.

Justo quando Alexia estava prestes a concordar, uma luz cegante surgiu na arena.

 


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