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A Eminência nas Sombras – Vol. 02 – Cap. 00 – Prólogo – Para Lindwurm, a Terra Sagrada!

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Tudo começou quando Alpha me enviou uma carta, na qual havia apenas uma frase:

“Venha para a Terra Sagrada, se estiver entediado.”

Fim da mensagem.

As férias de verão começaram mais cedo devido ao dano causado pelo incêndio na academia, o que significava que eu não tinha muito para fazer. Por experiência própria, descobri que aceitar os convites de Alpha me geravam todos os tipos de momentos divertidos. No dia após ter recebido a carta, parti para lá.

Lindwurm, a Terra Sagrada. Já estive lá uma vez. É um dos solos sagrados nos Ensinamentos Divinos, a religião mais famosa do mundo. O papo deles era que a Deusa Beatrix abençoou os heróis com força e que ela é a única divindade que existe.

Enfim, leva cerca de quatro dias para ir da academia até a Terra Sagrada de carruagem. Ambas ficam em Midgar, então pode-se dizer que é perto.

Hesitei por um tempo, pensando: “Vou de carruagem, como um personagem de fundo, ou vou correndo até lá?” No final, decidi assumir o meu papel de maneira correta e usar uma carruagem. “Deve-se sempre ter consciência sobre as coisas”, eu disse para mim mesmo, passando a impressão pretensiosa de superioridade.

Uma pena eu não poder voltar no tempo e me dar um soco.

Deveria ter ido correndo. Se tivesse feito isso durante a noite, teria chegado lá num instante.

Porém, por causa da minha decisão, agora estou compartilhando uma carruagem com a nossa presidente do conselho estudantil, Rose Oriana.

A carruagem é chique e espaçosa para nós dois. Depois de eu ter feito uma parada no meio do caminho com a minha carruagem vagabunda, me encontrei com ela por acaso, o que acabou com ela me convidando para ir junto.

Consegui recusar com suavidade, mas não sou páreo para a nobreza. Quando estava tudo pronto, acabamos indo juntos para a Terra Sagrada.

De acordo com Rose, há um tipo de evento rolando lá chamado Desafio da Deusa, e ela foi chamada como convidada especial.

Enquanto ouvia sua explicação, percebi que Alpha devia ter pedido para que eu viesse para assistirmos a essa coisa juntos.

Entretanto, em certo momento ao longo do caminho, parei de dar ouvidos ao monólogo de Rose.

— Teria sido uma tragédia perder um jovem de espírito tão valente como o seu naquele incidente, Cid. — disse ela, com um sorriso gentil.

Tenho uma boa quantia de refutações para essa afirmação: sou apenas um zé-ninguém, então tenho certeza de que não sou valente. Além disso, quando foi que ela parou de me chamar pelo meu nome completo? Bem, pelo menos essa parte ainda faz sentido.

— Quando descobri que você sobreviveu, pude sentir que era a mão do destino. Só estamos aqui, conversando sobre isso, porque o mundo nos garantiu sua benção.

Aqui é a parte em que para de fazer sentido. Primeiramente, não acredito em “destino”, nem tenho ideia do que “benção” possa ser. Se me perguntassem sobre isso, eu mandaria tomar naquele lugar na mesma hora.

— Nosso caminho será, sem dúvida alguma, repleto de espinhos. Ninguém nos dará sua benção, assim como jamais nos reconhecerão por quem somos.

Você, literalmente, tinha acabado de dizer que o mundo nos deu sua benção.

— Mas é dito que, após receber o poder da deusa, os heróis da lenda ganharam riquezas e fama das pessoas e puderam se casar com princesas de grandes reinos. Portanto, embora o caminho seja árduo e penoso, acredito que um futuro reserva um final feliz.

É isso que eles pregam nos Ensinamentos Sagrados? Citar os discrepantes da sociedade — vulgo heróis — para forçar seu objetivo parece muito coisa de igreja.

— Completar o Desafio da Deusa significará um passo a mais nesse caminho espinhento. Após isso, serei capaz de fascinar meu pai com histórias de um jovem valente.

O jovem que vai passar no Desafio da Deusa parece um cara sortudo.

— Nós dois podemos trilhar este caminho árduo com um passo de cada vez. Cada um dos quais servirá para aprofundar ainda mais nosso amor.

Oh, então é tipo… uma corrida de três pernas. O espírito de cooperação mútua, hein? Isso soa exatamente como algo que os Ensinamentos Sagrados pregariam.

— Temos que manter isso apenas para nós mesmos por enquanto, mas vamos tentar transformar em realidade este futuro feliz.

— Aham.

Rose me ofereceu a sua mão, e eu a peguei. Não sei muito sobre religiões nem ensinamentos sobre ela, mas se ela disse que isso serve para trazer um futuro feliz, quem sou eu para negar? Felicidade é importante, afinal. A minha felicidade, pelo menos.

Enquanto sentia o olhar apaixonado de Rose e suas mãos levemente suadas, percebi que talvez devesse ter uma certa distância entre nós. Eu não tenho plano algum de tirar sarro da sua fé, mas isso é meio que uma coisa que ambos deveriam estar de acordo. Quando todos os fanáticos se reúnem para fazer suas coisas, tudo fica melhor.

— Tempo agradável hoje, não? — eu disse, olhando pela janela da carruagem para o céu limpo e campos.

Quando você quer sair de uma conversa que está em um assunto cansativo, falar sobre o tempo sempre é um bom plano.

— Sim. O sol está no alto, e eu imagino que esteja quente lá fora. — respondeu Rose, olhando para fora da mesma maneira.

Embora a carruagem fosse toda fechada, ainda estava quente o suficiente para fazer que suássemos. O pescoço liso de Rose já estava brilhando, e seus cachos cor de mel balançavam com a brisa enquanto ela estreitava os olhos para aguentar a luz do sol.

Por um tempo, falávamos sobre qualquer merda, como escolha e tempo, vez ou outra caindo no silêncio enquanto procurávamos por novos assuntos.

Havia vários tipos de silêncio, os quais podem ser amplamente classificados em confortáveis e desconfortáveis.

Embora a opinião popular seja de que momentos silenciosos em conversas sempre são desagradáveis, eu não acho que sejam tão ruins assim. Afinal de contas, quando você percebe que ambos trabalham juntos para continuar a conversar, isso lhe dá uma sensação boa de satisfação. Só há nós dois aqui, e faz uma eternidade que estamos nesta carruagem. É natural que tenha pausas na conversa. O fato de que estamos trabalhando tão duro para evitar isso é exatamente o que o torna tão recompensador.

Depois de diversas pausas, Rose decidiu acabar com o silêncio.

O sol da tarde já estava quase completamente posto, e sua luz assumia um tom carmesim.

— Suspeito que há coisas acontecendo por trás dos panos com relação àquele incidente na academia.

— Hmm?

Ela virou-se na direção do pôr do sol distante.

— Aqueles homens de preto, que intitulavam-se Jardim das Sombras, deviam ser de uma organização diferente daquela que o homem chamado Shadow faz parte.

— O que te faz pensar isso?

— As técnicas de espada deles são completamente diferentes. Todos os homens de preto estavam lutando com estilos padrões, mas Shadow e as mulheres sob seu comando manejavam suas espadas de uma maneira diferente. Nunca vi aquelas técnicas antes, então pode ser que sejam novas.

— Hm.

— Eu contei isso à Ordem dos Cavaleiros de Midgar, mas mesmo insistindo que Shadow e o grupo de preto estavam se enfrentando, o aviso público da Ordem que fora revelado era que ambos eram parte da mesma organização. Nenhuma das razões era convincente. Tenho certeza de que há muito mais escondido.

— Tem certeza de que só não está pensando demais?

— Espero que eu esteja. Se não estiver… se o Reino Midgar tiver o inimigo errado em mente… a calamidade estará no horizonte. O Reino Oriana começou uma investigação, pois é melhor prevenir do que remediar.

Concordei com a cabeça.

Rose sorriu suavemente, assentindo de volta.

— Devemos chegar em breve à cidade de repouso. Vou pedir para que preparem um quarto para você próximo ao meu.

— Nah, nem se estresse. Vou achar um lugar baratinho pra mim sozinho.

— Não mesmo. É perigoso lá. Vou cuidar da taxa, é claro, então não precisa se preocupar com nada.

— Oh, não, não, não. Eu não poderia fazer algo assim.

— Não precisa ser modesto.

E foi assim que acabei passando uma noite em um quarto top de linha, daqueles que custam trezentos mil zeni. Fomos jantar em um restaurante chiquê, escolhemos trajes de gala enquanto passeávamos e, então, participamos em algumas apostas no cassino antes de voltar para a estalagem. Tudo aquilo era digno de um rei. A cama era macia, e o quarto até mesmo era uma suíte. Incrível, de verdade.

Melhor ainda, não precisei gastar um zeni sequer. Talvez o tipo supremo de personagem de fundo é aquele que se aproveita do amigo rico. Acho que há valor a ser encontrado ao ignorar um pouco a pregação da bíblia.

 

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Chegamos à Terra Sagrada, Lindwurm, por volta do meio-dia, dois dias depois.

Lindwurm era onde ficava localizada uma igreja enorme, a qual parecia ter sido esculpida direto na montanha, e a vista da cidade abaixo dela mostrava seus edifícios esbranquiçados. A rua principal, que percorria toda a cidade, estava repleta de turistas e terminava em uma longa escadaria que levava direto até a igreja.

Depois de almoçar em um dos estabelecimentos de alta classe, como sempre, visitamos as barracas da rua enquanto andávamos pela calçada principal.

Enquanto o fazíamos, vi uma pequena bugiganga. Parecia uma correntinha de metal com um dragão envolto ao redor uma espada, semelhante àqueles que você encontra em locais de turistas no Japão. Acho que algumas coisas ainda são iguais, até mesmo em mundos diferentes. O que chamou a minha atenção, no entanto, foi descobrir que não era um dragão envolto ao redor de uma espada, mas sim um braço esquerdo de aparência tenebrosa, o que me fez pegá-lo.

— Gostou?

— Um pouco. Por que todos têm braços ao redor?

Rose olhou para as minhas mãos.

Com licença, moça, mas está um pouco quente demais para você ficar se debruçando sobre o meu ombro. O calor não é tão grande a essa altitude e tal, mas ainda estamos no verão, saca?

— É a espada do herói Olivier e o braço esquerdo do demônio Diablos. Dizem que o grande herói cortou o braço esquerdo de Diablos e o selou nestas terras. Olhe lá. — disse Rose, apontando para além da escadaria, na direção da igreja no pico. — No topo daquela montanha existem ruínas chamadas Santuário, e é lá que o braço esquerdo de Diablos está selado. Claro, não passa de um conto de fadas. — Ela sorriu. — É uma lembrancinha popular entre os homens.

— Até imagino. Com licença, vou querer um desses, pode ser?

Comprei um para dar de presente para Esquel. Admito que três mil zenis me pegou um tanto de surpresa, mas tive a vergonha na cara de pagar.

Quanto a Bat, ele me deu uma lista de porcarias que queria. Parecia ser um pé no saco, por isso nem olhei ainda.

Depois de guardar aquele negócio no bolso, voltamos a passear. O agito dos turistas e vendedores me faziam sentir uma nostalgia.

De repente, Rose puxou a minha mão.

— Parece que Natsume, a autora, está dando autógrafos. Sou a maior fã dela!

Havia uma multidão enorme na nossa frente, e parecia que estavam todos na frente de uma livraria, mas eu não via placa alguma.

— Se importaria se eu fosse para a fila? Pode levar um tempinho, mas… — Rose olhou para mim com olhos de cachorro sem dono.

— Sim, pode ir. Vou esperar aqui.

— Oh, obrigada! Não quer vir junto?

— Nah, estou tranquilo.

Rose comprou um dos livros à mostra e entrou na fila.

Sem nada melhor para fazer, peguei um dos livros e o abri.

“Eu sou um dragão”1Referência ao livro “Sou Um Gato” (I’am a cat. As yet, I have no name), de Natsume Soseki.

Espere, isso aqui é um plágio descarado.

Não. Algum gênio literário deve ter milagrosamente conseguido a mesma sensibilidade estética neste outro mundo. Me recompus e peguei outro livro.

Romeo e Julietta.

Retiro o que disse. Com certeza foi roubo, e não era o único.

Cinzarella.

Chapeuzinho Carmesim.

Alguns daqueles livros até tinham histórias tiradas de filmes de Hollywood, mangás e animes. Naquele momento, pensei em algo.

Outra pessoa também devia ter reencarnado ali.

Comprei um livro e entrei na fila para ganhar um autografo dessa tal Natsume.

Só queria saber mais sobre essa autora.

A fila continuava a se mover à medida que eu pensava na minha abordagem e, sem demora, a autora apareceu à vista. Era um pouco difícil de ver por causa do capuz que cobria sua cabeça, mas com certeza era uma mulher.

O seu elegante cabelo cor de prata chegava até os ombros, emoldurando seus olhos felinos azuis e a pinta debaixo deles. Sua blusa estava aberta no busto, deixando a clavícula à mostra.

— O que diabos ela está fazendo?

Era um rosto que eu conhecia muito bem. Massageando minhas têmporas, balancei a cabeça e tentei sair da fila.

— Com licença, senhor, para onde pensa que vai?

Entretanto, não consegui. Ela deve ter me visto logo antes de a ter reconhecido.

A fila andou e eu acabei de frente para Natsume. A elfa de cabelos lisos e prateados e eu nos encaramos. Sim, eu conheço bem essa elfa.

Era Beta.

— O livro, por favor. — Ela fingiu não saber quem eu era, então pegou o meu livro com um sorriso enorme no rosto.

Enquanto eu a via assiná-lo com movimentos precisos e práticos, não pude deixar de perguntar:

— E como vai os negócios? — sussurrei baixinho.

— Podiam estar melhores. Mas estou ganhando uma boa reputação.

Oh, entendi. Temos mais uma aqui.

Ela também está ganhando dinheiro com a minha sabedoria.

No passado, eu costumava a contar histórias do meu mundo original para Beta. Já que parecia gostar de literatura, achei que ela pudesse usar os contos da Terra como base para bolar enredos incríveis sozinha, mas nunca imaginei que plagiaria tudo e juntaria uma grana no processo.

Querida Beta, estou decepcionado com você.

Olhei-a de cima, com um olhar frígido enquanto ela me devolvia o livro autografado.

— Sou uma convidada de honra aqui, por isso fui capaz de conseguir acesso a informações internas. Anotei os detalhes dos planos na dedicatória. — informou ela enquanto eu me levantava para sair, movendo a boca o mínimo que podia.

Então nos separamos sem mais do que uma troca de olhares. Isso era demais. Parecia que eu estava em um filme de espião.

Talvez eu tenha sido muito duro com você, querida Beta.

Ao sair da loja, me deparei com Rose estranhamente alegre.

— Eu sabia que você também era um fã da Natsume, Cid.

— Não, eu…

— Entendo. Deve ser difícil conseguir admitir, já que a maioria dos fãs dela são mulheres. Mesmo assim, ainda que quase todo mundo que tenha vindo para pegar autografo seja mulher, Natsume ainda tem uma boa porção de homens como fãs.

— Aham… eu acho.

— As histórias são tão atraentes, pois são inventivas! Os enredos também são novos, a nova visão que eles têm são novidade, e os personagens possuem valores fascinantes e frescos.

Novo, novidade e fresco? Pois é, eu aposto que sim.

— E Natsume é versada em tantos gêneros: romance, mistério, ação, histórias infatis, ficção literária… É quase como se cada história fosse escrita por uma pessoa diferente. Essa diversidade foi o que permitiu que essas obras ganhassem o coração de tantos leitores.

É porque elas foram escritas por pessoas diferentes.

— Oh, e veja esse autógrafo. Consegui pedir para que Natsume escrevesse o meu nome. — disse Rose alegremente enquanto abria o livro. Dentro estava o seu nome e o autógrafo da Fraude, Natsume.

Agora que paro para pensar, ela disse algo sobre ter escrito os detalhes de algum plano no meu. Então, abri o livro.

— Essa são… letras antigas? — perguntou Rose, dando uma olhada.

— Pois é, me parece que sim.

E não consigo ler nada disso.

— Consegue ler?

— Pior que não. Tive dificuldade para aprender a como ler textos antigos. Só consigo diferenciar alguns símbolos, e parece que essa aqui está escrita em um estilo moderno de cursiva, por isso não tenho certeza se consigo, mesmo se fosse fluente.

— Ooh.

Incrível, é tipo um criptograma. Desisti de tentar aprender a ler o alfabeto antigo, por isso fiquei bastante fascinado ao ver isso.

— Por que ela escreveu com letras antigas?

— Porque parece da hora.

— Parece?

— Acho que é o tipo de coisa que atrai a atenção dos homens.

Em seguida, fizemos check-in em um hotel de luxo, mas Rose precisava cumprimentar algumas pessoas importantes ou sei lá, por isso nos separamos.

Ela disse que não podia me apresentar, porque ainda éramos apenas amigos da escola por enquanto. Não sei o que ela quis dizer com “por enquanto”. Está planejando me converter, talvez?

Infelizmente para ela, tenho uma politica de não me envolver com religião. Eu só consideraria isso se fosse para fundar uma.

 

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Sou o tipo de cara que não tem muitas coisas que gosta ou que desgosta… principalmente porque a maioria dessas coisas não valem o meu tempo.

Não estou dizendo que não tenho preferências. Nenhuma delas é particularmente importante, e eu com certeza poderia me virar sem elas, mas ainda gosto das coisas que gosto e desgosto das que desgosto. Mesmo quando tenta fazer essa separação usando da lógica, não pode fazer isso com suas emoções.

Chamo essas coisas de gostos sem importância e desgostos sem importância.

Por coincidência, um desses gostos sem importância é fontes termais.

Na minha vida anterior, teve um tempo em que eu não tomava banho. Naquela época, considerava o tempo que levava para tomar um banho um desperdício. Claro, eu tinha a minha vida de extra inexpressivo a considerar, por isso tomava duchas de três minutos todos os dias, eliminando todo o tempo na banheira para que pudesse treinar mais.

Isso foi por volta da época em que eu estava rompendo os limites da raça humana, a propósito. Em outras palavras, tinha que fazer cada minuto valer a pena. Tipo, foi durante o período em que eu estava planejando pra valer repelir mísseis nucleares com meu soco de direita.

Quando enfim percebi que estava perdendo a cabeça, voltei a tomar banho. O gatilho para isso foi uma fonte termal. Água quente tranquiliza a alma, o que acabou sendo um efeito direto sobre o meu treinamento. Essa foi a razão para eu conseguir fazer os exercícios mentais e perceber que precisava encontrar magia ou auras vibracionais.

Enfim, só estou tentando dizer que estou em uma fonte termal agora.

Lindwurm é famosa pelas suas fontes, motivo pelo qual eu estava secretamente bastante animado.

Era cedo da manhã. Esse era o meu horário favorito para me banhar em fontes termais. Eu certamente não recusaria tomar um banho à noite, mas as manhãs são bem melhores. Afinal de contas, não tem tantas pessoas por perto. Às vezes, até mesmo consigo ficar totalmente sozinho.

Vim hoje na esperança de que isso acontecesse, mas, infelizmente, parece que outra pessoa também teve a mesma ideia. E, para complicar a situação, era Alexia.

O seu cabelo platinado estava amarrado, e seus olhos vermelhos se arregalaram por um momento ao verem os meus próprios. Nós dois desviamos o olhar no mesmo instante.

Depois, concordamos tacitamente de não intervir um com o outro e fingir que o outro não existe. A fonte termal era designada para a nobreza, o que significa que poucas pessoas a usavam, ainda mais de manhã cedo. Por isso todos os divisores foram retirados, tornando este um banho misto, deixando o lugar espaçoso. Tudo abaixo do nível dos olhos estava coberto por vapor, e o sol estava começando a nascer. Teria sido perfeito se eu estivesse sozinho. Me banhava na água e na luz do sol da manhã.

Alexia e eu estávamos em extremidades opostas do banho a céu aberto com a melhor vista, observando o sol nascer com um silêncio desconfortável.

De soslaio, vi a pele branca de Alexia se mover. Ondulações se espalharam pela superfície da água.

Droga, pensei, acho que terei que acelerar esse banho. Justo quando o pensamento passou pela minha mente, Alexia quebrou o silêncio.

— Todos os seus ferimentos já estão curados?

A sua voz foi baixa, mesmo para os seus padrões.

— Pois é, estou bem melhor. — respondi, me perguntando sobre o que ela estava falando.

— Eu acabei pegando pesado quando te cortei. Fico feliz que tenha sobrevivido.

— Valeu, eu acho.

Ah, aqueles ferimentos.

Passei tanto tempo perto dela que posso dizer que essa é a sua tentativa de pedir desculpas. No começo, eu duvidava que alguém tivesse a ensinado o que era um pedido de desculpas, mas acho que essa é a sua versão.

— Já que estamos nos desculpando, sinto muito por ter suspeitado que você era uma assassina em série.

Água quente se chocou contra o meu rosto.

— É claro que não sou.

— Pois é, né? Mas, então, o que está fazendo em Lindwurm?

— Sou uma convidada para o Desafio da Deusa. E você?

— Uma amiga falou que algo animado estava rolando aqui. Minha suposição é que ela esteja participando do Desafio da Deusa. Você sabe o que é isso?

Pude ouvir Alexia suspirar.

— Você veio para cá sem saber? O Desafio da Deusa é uma batalha que ocorre uma vez a cada ano, quando a porta do Santuário se abre. Memórias de guerreiros antigos despertam, e desafiantes vêm para lutar contra elas. Qualquer cavaleiro negro que se inscreve antes pode participar, mas não há garantia de que um guerreiro antigo irá responder ao chamado. Várias centenas de cavaleiros negros entram todos os anos, mas apenas uns dez acabam conseguindo lutar.

Parece interessante. Aposto que Alpha está planejando participar.

— Como são selecionados?

— Supostamente, é baseado se é há um guerreiro apropriado para o desafiador. Na maioria das vezes, o guerreiro é um pouco mais forte que o desafiante, por isso é chamado de Desafio da Deusa. Dez anos atrás, todos estavam comentando sobre como Venom, o Espadachim Errante, conseguiu invocar o grande herói Olivier.

— Ooh, ele ganhou?

— Perdeu, pelo que fiquei sabendo. Bem, eu não vi, então quem sabe? Também não posso ter certeza se era realmente Olivier ou não.

— Hm.

Alpha seria capaz de invocar um herói lendário? Se conseguisse, aposto que seria maneiro.

— Você não vai participar? — perguntei. — Estão falando que você ficou mais forte.

— Não posso. Estou ocupada demais esse ano. Há alguns rumores ruins por aí sobre o arcebispo local, então eu deveria investigá-lo.

— Rumores ruins?

— Não vou dizer novamente. Se quiser saber, junte-se à Ordem Carmesim.

— Não, valeu.

 

— Quando você se formar, ordenarei que se junte.

— Não, valeu.

— Irei submeter a inscrição por você.

— Não faça isso, por favor.

— Você é tão teimoso.

Neste momento, a conversa foi interrompida.

Ficamos sentados em silêncio por mais um tempo. Desta vez, não era mais tão desagradável como antes.

Então, vi de soslaio Alexia se mover. Suas pernas longas flutuavam na superfície, formando ainda mais ondulações na água morna.

— Eu esperava que você estivesse babando em cima de mim, mas suponho que estava enganada.

Ela não mencionou para o que imaginou que eu estaria olhando.

— Alguém aqui parece confiante.

— Quando se é tão linda como eu, é um incômodo ter que aturar os olhares ferozes.

Palavras grandes vindas de alguém que estava pelada.

— Tento evitar de olhar para outras pessoas quando estou nas fontes termais. Desta forma, nós todos podemos compartilhar o banho em paz.

— Que admirável.

— E, sendo assim, poderia fazer o favor de parar de espiar a minha Excalibur?

— Pfft. — Alexia riu. Era como se estivesse tirando sarro de mim. — Excalibur, hein? Você tem certeza que não quis dizer Minhoquinha?

— Se é isso o que pensa, não é problema meu. Minhoca, Excalibur, para mim tanto faz, mas deixe-me lhe dar um aviso.

Me levantei, fazendo ondas na fonte.

— Você não devia julgar as coisas se baseando nas aparências. Às vezes, uma minhoca só não saiu da bainha ainda.

E, com minhas partes à mostra ao mundo, me virei e saí da água.

— O… O que quer dizer…? — gritou Alexia. Suas bochechas estavam com uma tonalidade rosada.

— Quando a lâmina sagrada é retirada da bainha, sua lâmina de marfim será libertada, enviando-a a uma jornada em direção ao Jardim do Caos…

Com essa frase sugestiva, dei uma forte batida com a toalha, fazendo-a ir por entre minhas pernas até bater contra a minha bunda, emitindo um som alto.

Velhotes faziam isso toda vez ao saírem do banho, e eu não me cansava de fazer o mesmo. Não havia necessidade nem motivo para tal, mas a experiencia nas fontes terminas não parecia completa sem que fosse feito. Depois da terceira batida, fui para a sala de troca.

Quando terminei de me trocar, pude ouvir o som de estouro vindo da fonte termal.

 

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A luz quente da lamparina que iluminava a catedral majestosa a fazia parecer mais etérea.

Apenas uma pessoa estava lá dentro: uma belíssima elfa loira. Ela usava um vestido negro, e seus olhos azuis estavam fixados na estátua do grande herói Olivier.

Ela poderia ser a luz que brilhava radiantemente contra a escuridão da noite. Seu nome era Alpha.

— Tudo o que queremos saber é a verdade. — orava ela, quase como se falasse com a estátua. — Grande herói, o que fez no Santuário? Toda vez que removemos uma camada da nossa história sombria, nos deparamos cada vez mais com verdades e mentiras entrelaçadas.

Seus saltos altos estalaram quando começou a andar, ressoando pela catedral enquanto caminhava sobre o piso de mármore, indo em direção à massa vermelha lá atirada.

— Arcebispo Drake, o que estava escondendo? Uma pena não poder falar. Eu gostaria muito de ter uma resposta.

A massa vermelha era composta de sangue e pedaços de carne. O homem corpulento estava em seu último suspiro após ter sido destroçado.

Os saltos altos pararam sobre a poça de sangue. Pernas brancas se estendiam do vestido dela, que ia até o joelho.

— Quem o matou? Quem é que poderia facilmente se livrar de um homem do seu status?

Os olhos do arcebispo que morria estavam preenchidos pela luz sublime da sepultura. Rumores sombrios sobre ele chegaram até a capital real, e era provável que fosse investigado num futuro próximo. Antes que isso pudesse acontecer, entretanto, se livraram dele.

— Amanhã, esperaremos pela abertura da porta do Santuário.

Depois de olhar uma vez mais para a estátua de Olivier, Alpha virou-se.

Do outro lado das portas da catedral, as vozes de pessoas procurando pelo arcebispo se aproximavam.

Não se preocupando com elas, Alpha abriu aquelas mesmas portas e saiu.

À medida que o som dos saltos sumiu na distância, sendo substituído pelo som dos paládios da Igreja entrando na catedral.

Embora tenham encontrado o corpo do arcebispo deles, ninguém falou nada sobre a elfa loira. Sequer perceberam que ela tinha passado por eles…

… mas as marcas de sangue do salto agulha continuavam no corredor de mármore.

 

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Era a noite antes do grande evento, e eu observava Lindwurm do topo da sua torre do relógio.

O Desafio da Deusa era amanhã, e todo mundo estava agitado. Barracas tomavam conta da rua principal, e luzes ao longo da rua a faziam parecer um rio autêntico.

Rose estava em uma festa da igreja, para qual não fui convidado, mas também não era como se eu quisesse ir.

Sorri, enquanto meu cabelo dançava com o vento noturno.

Devo dizer que estou amando essa série de acontecimentos em que posso olhar as pessoas e lugares de cima de um lugar alto. O fato de estar de noite e ter um evento rolando lá embaixo deixa tudo ainda melhor.

— Começou… — murmurei, dando um impulso no ânimo. — Então… eles tomaram uma decisão…

Estreitei os olhos.

— Portanto, farei minha parte para enfrentá-los.

Rapidamente, transformei-me em Shadow.

— Pois esta é uma decisão que não posso tolerar…

Com isso, saltei em direção ao céu noturno. Meu manto cor de obsidiana esvoaça atrás de mim antes de eu fazer meu pouso.

Meu destino era um beco isolado das celebrações. Um homem mascarado estava diante de mim.

Ele parecia suspeito, por isso fiquei de olho nele desde o momento em que saiu correndo de dentro da igreja. Provavelmente era um ladrão ou algo do tipo.

Não, espere, eu sinto cheiro de sangue nele.

Um assaltante, talvez?

— Você realmente achou que poderia escapar…? — perguntei.

O homem mascarado deu um passo para trás.

— À noite, o mundo escurece, transformando-se em nosso domínio…

Ele desembainhou a espada.

— … e ninguém pode escapar.

O homem assumiu uma postura com a espada em mãos.

Deixei minha katana fora da bainha, esperando pelo momento.

Então, aquilo aconteceu. Assim que o homem mascarado tentou mover sua lâmina, sua cabeça voou alto.

Observei em silêncio enquanto esperava a mulher atrás do cadáver se aproximar.

— Já faz um bom tempo, meu lorde.

A mulher ajoelhada diante de mim era Epsilon, quinto membro das Sete Sombras.

Ela descobriu o rosto que escondia com o traje, então olhou para mim. Era uma elfa com cabelo na cor de um lago claro, e seus olhos eram um pouco mais escuros.

A beleza vinha de várias maneiras, e a dela era chamativa. Sua aparência era acentuada pelas suas características faciais bem definidas, e sua silhueta também era exagerada. O corpo dela balançava com cada passo que dava. O suficiente para chamar a atenção de qualquer um, fosse homem ou mulher, estando interessados ou não. Mas eu conheço o seu segredo.

— Um corte limpo. Bom trabalho.

— Estou honrada. — As bochechas de Epsilon ficaram um pouco vermelhas enquanto ela sorria. Seu tom decidido podia a fazer parecer arrogante para alguns, mas eu não achava que soava ruim. Me lembrava um piano.

Dentre todos os membros das Sete Sombras, ela era a melhor em controlar magia com precisão. Magia pode ser extremamente difícil de controlar assim que sai do corpo, mas ela não tem problema algum em atacar de longe.

O seu apelido era Epsilon, a Fiel.

Tinha um orgulho imenso e uma personalidade intensa, mas mostrava maturidade perto de mim. Embora pudesse ser rápida para entender errado as coisas, costumava preparar chá para mim. É uma menina gentil e segue obedientemente as ordens de Alpha. Sei que ela é do tipo que respeita a hierarquia.

Para ser honesto, faz um bom tempo desde a última vez que a vi e tenho muita coisa para perguntar. Pelo seu comportamento, entretanto, posso ver que está no seu modo Jardim das Sombras.

Bem, isso também pode funcionar. Neste caso, é melhor eu responder da mesma maneira.

— Como está indo o plano?

Epsilon fez uma leve carranca. Aposto que está desesperadamente pensando em um enredo adequado para a nossa brincadeira de faz-de-conta.

— O Carrasco do Culto eliminou o nosso alvo. Lidamos com os capangas, mas o Carrasco em questão desapareceu.

— Entendo…

Então é um Carrasco, hein? Gostei.

— Estamos mudando de estratégia.

Oh, então é um daqueles enredos em que o plano A dá errado e colocamos nossas apostas no plano B.

— Muito bem. Mas você sabe o que isso significa…

— Estamos prontas. Nos preparamos para ser inimigos da Igreja e para que a nossa reputação seja arrastada pela lama…

— Agirei sozinho agora. Não falhe comigo…

— Sim, senhor.

Lancei um olhar de soslaio para Epsilon enquanto ela se curvava, então saí do palco ao esconder a minha presença e deslizar para a escuridão.

 


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Vol. 02 – Cap. 00