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A Eminência nas Sombras – Vol. 01 – Cap. 03.1 – Minha Estreia Oficial como Mentor em Ação!

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Fui interrogado em uma sala comparável a uma cela de detenção e solto após cinco dias. Já estava de noite.

— Vai andando. Suma daqui.

Eles me jogaram para fora do prédio e arremessaram a minha mochila logo atrás de mim. Não estava usando nada além das roupas de baixo, vasculhei a mochila para me vestir e enfiei os pés nos sapatos. Levei um tempo até ficar vestido. Acho que tem muito a ver com o fato de todas as minhas unhas terem sido arrancadas.

Quando me vesti por completo, soltei um grande suspiro e comecei a andar. Me destacava entre as pessoas na rua agitada, pois estava todo ferrado e coberto com o meu próprio sangue.

Suspirei mais uma vez.

— Calma, relaxa. Não tem motivo para ficar nervoso por qualquer coisinha. — Consegui me acalmar ao bloquear em minha mente os rostos dos cavaleiros que me interrogaram. — Só estavam fazendo o trabalho deles.

Os socos tinham deixado apenas ferimentos leves no meu corpo. Se eu quisesse, poderia fazer com que as unhas que me faltavam crescessem novamente, mas não estava afim, já que estou totalmente imerso em executar o meu papel como um zé-ninguém.

— Sim, sempre calmo e reservado.

Isso mesmo. Calmo.

Exalei mais uma vez, e o meu campo de visão ficou claro. Prestei atenção nos meus arredores e senti sombras estranhas espreitando-se atrás de mim.

— Dois deles estão me seguindo.

O sequestrador não foi pego, o que, obviamente, significava que a atual situação de Alexia ainda era desconhecida.

Só porque me soltaram não significava que seria tudo um mar de rosas. Apenas não tinham provas o suficiente para me incriminar, e o meu nome ainda não havia sido limpo.

Caminhava de volta até o meu quarto no dormitório, fingindo estar de cabeça baixa devido à exaustão.

— Mais tarde… — sussurrou uma voz baixa, a qual chegou aos meus ouvidos, acompanhada pelo fraco aroma de um perfume já conhecido.

— Alpha…?

Mas não a encontrei em lugar algum entre o pessoal que passava de um lado para o outro na rua principal após o pôr do sol.

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Quando acendi as luzes do meu dormitório, a silhueta de uma garota surgiu da escuridão.

— Deve estar com fome.

O seu traje preto combinava perfeitamente com ela, acentuando as curvas femininas. Segurava um sanduíche com um pedaço grosso de atum do Tuna King, o famoso restaurante da capital.

— Valeu. Já faz um tempo, Alpha. E a Beta?

Eu estava faminto por não ter comido uma refeição decente havia cinco dias, por isso devorei o sanduíche. Deveria ser a vez de Beta estar me ajudando.

— Ela entrou em contato comigo. Que bagunça. — Alpha sentou-se de pernas cruzadas na cama.

Havia uma certa nostalgia naquele seu cabelo brilhante dourado que descia até as costas e naqueles olhos azuis com formato de amêndoa. Ela cresceu desde nosso último encontro.

— Sim. — Enfiei o último pedaço de sanduíche na boca.

— Tem água ali.

— Valeu. — Bebi de um copo grande. — Ahhh! Sinto-me vivo novamente.

Tirei minha jaqueta e sapato, então me atirei na cama.

— Ei, ao menos troque a roupa.

— Nem. Vou dormir agora.

— Não sabe a situação em que se encontra no momento?

— Deixarei as preparações para você.

Alpha é brilhante. Vai preparar o melhor palco para o nosso show caso eu lhe dê liberdade. Até lá, vou tirar um cochilo… Quero dizer, recarregar as energias.

Alpha soltou um suspiro frustrado.

— Tenho certeza de que você já sabe disso, mas se não fizer nada, vão pensar que você é o culpado.

— Isso é verdade.

Caso o verdadeiro culpado nunca fosse encontrado, posso quase garantir que o próximo suspeito na fila será punido. Ainda mais quando envolve o sequestro de um nobre. Alguém tem que morrer para que o caso seja fechado.

A Idade Média devia ser top mesmo, hein?

— Acorde. Tenho mais sanduíches.

— Estou acordado.

Alpha me entregou eles.

— Alguém está tentando piorar a situação e incriminá-lo.

— Huh. Tipo, serei considerado culpado mesmo que eles não façam nada?

— Acredito que queiram acabar logo com essa situação, e um aluno comum de uma família nobre miserável é o alvo perfeito.

— Concordo. Eu faria a mesma coisa.

— Não se pode confiar na Ordem dos Cavaleiros.

— O Culto está infiltrado entre eles?

— Sim, sem dúvidas. O sequestrador é um membro do Culto. O objetivo deles é obter as altas concentrações de sangue dos heróis.

As garotas estão fingindo que existe um Culto… por mim. Que grupo maravilhoso.

— Ela ainda está viva?

— Se morrer, não serão capazes de extrair mais sangue dela.

— Verdade.

— Entretanto, não entendi por que decidiu cortejar a princesa. — Alpha olhou para mim.

— Não foi bem assim que aconteceu.

— Tenho certeza de que você tem seus motivos, os quais não pode nos contar.

Não olhei mais para ela e virei o rosto para evitar o seu olhar. É claro que não tinha um motivo especial para isso.

— Entendo. Sei que está lutando com algo no fundo do seu coração.

Como faço para responder que esse com certeza não é o caso?

— Mas espero que possa confiar um pouco mais em nós. Se tivesse nos falado antes, não teria saído do controle. Não concorda?

— S-sim.

— Tudo bem. Nosso trabalho é certificar que você está protegido — disse, com um sorriso. — Quando resolvermos este caso, vai me pagar um Tuna King. Aquele último sanduíche era para ser meu.

— Pode deixar. Sinto muito por roubar o seu, Alpha.

— Não se preocupe com isso — insistiu ela, levantando-se e indo até a janela.

Quando a abriu, colocou um pé para fora do quarto e balançou seu quadril delicado.

— Agora estarei participando. Descanse por um tempo.

— Entendido. Qual é a nossa estratégia?

— Vamos reunir um exército. Não temos membros suficientes na capital e acredito que devemos convocar a Delta.

— Vai chamar a Delta?

— Ela deseja vê-lo.

Disparo Delta. Também conhecida como Arma Suicida Delta. De maneira mais simples, é uma idiota que gasta todos os seus pontos de experiência em suas habilidades de batalha.

Uma pequena reunião seria bacana, eu acho. Espero que todas elas estejam bem.

— Lhe informarei sobre os detalhes assim que as preparações estiverem completas. Até mais.

Alpha me mostrou um último sorriso antes de puxar o seu traje para esconder o rosto e passar da janela para a noite.

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— Esse é o final do seu relatório? — perguntou uma ruiva bonita.

Seu cabelo fogoso e liso chegava até a metade das costas, iluminado pela luz bruxuleante de uma vela, e os seus olhos cor de vinho estavam voltados a documentos investigativos em sua mesa. O cavaleiro que reportava ficou corado na presença da elegância e fascínio dela.

— S-sim, Princesa Iris. Continuaremos com a busca com todo o nosso empenho.

Iris assentiu, gesticulando para que ele partisse.

Quando a porta se fechou atrás dele, ela foi deixada sozinha com um homem loiro e bonito.

— Marquês Zenon, obrigada pela sua cooperação.

— O incidente ocorreu no território da escola. Eu era responsável por mantê-la segura e, mais importante, estou preocupado com seu bem-estar…

Ele baixou os olhos e mordeu o lábio inferior, frustrado.

— Você tinha que atender aos seus deveres como um espadachim especialista. Ninguém o culpa e nós não temos tempo para dizer quem errou. Precisamos nos focar em resgatar Alexia sã e salva.

— Suponho que esteja certa…

— Além disso — Iris parou de falar por um momento e fechou o relatório. — É verdade que Cid Kagenou é o maior suspeito?

— Não quero acreditar que um dos nossos alunos possa ser o culpado, mas, baseando-se nas circunstâncias, devo dizer que acho que seja suspeito… embora não o considere forte o suficiente para derrotar Alexia em um duelo. — O Senhor Zenon adicionou a última parte, escolhendo as palavras com cuidado.

— O que significa que ele tinha um cúmplice ou que a drogou. Mas ainda assim não abriu o bico durante o interrogatório. Acha mesmo que possa ser ele? — perguntou Iris.

— Não posso dizer de certeza, mas quero acreditar nele.

Iris concordou e estreitou os olhos.

— Coloquei meus cavaleiros de maior confiança para observá-lo. Vamos esperar pelo próximo relatório.

— Rezo pela segurança de Alexia. — O Senhor Zenon curvou-se antes de partir.

Justo quando abriu a porta, uma jovem garota entrou no cômodo.

— Vossa Alteza! Por favor, ouça!

— Claire! O que está fazendo aqui? Perdoe-nos, estamos de saída!

Senhor Zenon agarrou a garota de cabelos pretos, Claire Kagenou, na tentativa de empurrá-la para fora da sala.

— Marquês Zenon, quem é ela?

Ele parou.

— É…

— Claire Kagenou! Sou a irmã mais velha do Cid!

— Claire! El-ela é, atualmente, um dos melhores alunos e já está aprendendo para participar da Ordem dos Cavaleiros.

— Entendo. Tudo bem, irei ouvi-la.

— Muito obrigada! — disse Claire, em voz alta, aproximando-se de Iris e fazendo sua súplica. — Meu irmão jamais sequestraria a Princesa Alexia! Deve ser um engano!

— A Ordem dos Cavaleiros está assumindo todas as precauções em sua busca para evitar qualquer erro. Ainda não foi confirmado que o seu irmão é o criminoso.

— Sim, mas se ninguém encontrar o verdadeiro culpado, ele acabará sendo sentenciado!

— Nossos cavaleiros estão investigando o caso cuidadosamente. Posso assegurar-lhe que ninguém será condenado de maneira errônea.

— Mas!

— Claire! — gritou o Senhor Zenon, evitando que Claire pressionasse ainda mais. — Acalme-se. Sei como se sente, mas se continuar, será um insulto para a Ordem dos Cavaleiros.

— Tsk…! — disse, antes de olhar para Zenon e, em seguida, para Iris. — Se alguém encostar um dedo no meu irmão, irei…!

— Já chega!! — Senhor Zenon a interrompeu e a jogou para fora da sala, então fechou a porta com um baque.

Iris soltou um suspiro, encarando a porta que foi fechada logo atrás deles.

— Hm. Nos sentimentos da mesma forma pelas nossas famílias… — murmurou. — Alexia, espero que esteja bem…

As duas irmãs costumavam ser próximas, mas, em algum momento ao longo do caminho, começaram a se distanciar. Na realidade, não se falavam havia anos, e Iris sabia que podiam nunca mais o fazer.

— Alexia…

Fechou os olhos cor de vinho e deixou uma lágrima escorrer pelo rosto.

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Quando Alexia abriu os olhos, viu-se em um local mal iluminado, sem janelas, tendo apenas uma vela como fonte de luz. Uma porta pesada estava presa à parede de pedra diante dela.

— Onde estou…?

Não se lembrava de nada após dizer tchau para o Totó enquanto voltava para casa depois da escola.

Ao virar o corpo, ouviu o tinido de metal contra metal e olhou para baixo, então viu que seus membros estavam presos a uma mesa baixa.

— Uma restrição mágica…

Isso significava que sua magia estava sendo suprimida e seria complicado fugir sozinha.

Quem a trouxe para ali e qual era o seu objetivo? Foi de cima a baixo em uma lista de possibilidades: sequestro, chantagem, tráfico humano… Não havia uma resposta definitiva. Ainda que pudesse não ser a herdeira do trono, sabia que tinha influência o suficiente como princesa para atrair criminosos.

Dito isso, tinha pouca informação para entender qual era a sua situação atual.

Deu um passo para trás e um novo pensamento surgiu em sua mente.

O Totó está bem?

Sim, Totó. Aquele amigo miserável. Mas ela gostava dele por falar o que dava na telha, sem qualquer medo.

Se foi arrastado para essa confusão, sua vida será… Parou antes de terminar o pensamento, balançando a cabeça para não pensar nisso, então observou a sala.

Uma parede de pedra, uma porta de aço, uma vela e… algo que parecia uma pilha escura de lixo. Aquela coisa estava, por algum motivo, acorrentada e sentada ao seu lado.

Alexia estava encarando aquilo, curiosa, quando pensou ter visto se mover.

Estava respirando… algo que usava roupas esfarrapadas.

— Pode me ouvir? Consegue me entender…?!

O ser se virou para encará-la.

Era uma criatura.

Alexia nunca tinha visto algo tão desnutrido assim antes. Teve dificuldade para distinguir os olhos, nariz e boca no seu rosto escuro e purulento. Todo o seu corpo era distorcido e inchado, e o seu braço direito era mais comprido que as pernas de Alexia. Em contrapartida, o esquerdo era mais curto que o dela, e também havia uma protrusão no seu corpo, como se carregasse algo no estômago.

A criatura estava próxima de Alexia.

As mãos e pés dela estavam acorrentados à mesa, mas aquilo só estava preso pelo pescoço. Caso estendesse o braço, a monstruosidade poderia tocá-la, muito provavelmente.

Alexia silenciou a respiração, desviando os olhos para evitar provocá-la.

Ela estava sendo observada.

Teve uma longa pausa, a qual pareceu congelar o tempo… e, então, suas correntes começaram a fazer barulho.

Alexia moveu os olhos para o lado, e a criatura estava deitada com o rosto para baixo, como se estivesse adormecida. Só então soltou um grande suspiro de alívio.

Não demorou muito para que a porta se abrisse.

— Finalmente. Finalmente te peguei. — Um homem esquelético, usando um jaleco branco, entrou na sala.

Suas bochechas eram chupadas, seus olhos, afundados, e seus lábios, rachados. Os poucos fios de cabelo que restavam em sua cabeça estavam penteados para baixo com o óleo do seu couro cabeludo, de onde saía um fedor terrível.

Alexia calmamente observava o homem.

— Sangue real, sangue real, sangue real.

Sangue real.

Conforme o homem de jaleco branco repetia essa frase, pegou um dispositivo equipado com uma seringa fina. Talvez estivesse planejando tirar sangue dela. O médico do castelo já fizera isso diversas vezes.

Mas ela não sabia por que esse homem sequestraria uma princesa por causa do seu sangue.

— Posso fazer uma pergunta? — perguntou Alexia, tranquila.

— Hmm, hmm? — Um gorgolejo estranho veio do homem.

— Vai usar isso aí para quê?

— V-v-você tem o sangue de um demônio. Usarei para ressuscitá-los nos dias atuais.

— Entendo. Ideia excelente essa sua.

Embora não pudesse entender o que ele estava querendo dizer, estava ciente que tinha ficado completamente louco e percebeu que devia estar motivado por alguma religião… ou algo do tipo.

— Ei, vou ter bastante dificuldade para continuar viva se tirar esse tanto de sangue. Não estou pronta para morrer, sabe?

— Hehehehe… Eu s-sei. Quero todo o sangue que puder me dar. Sugarei aos poucos, todos os dias.

— Sim, pode ser.

Enquanto precisasse do seu sangue, não a mataria. Por isso manteve-se dócil e não tentou resistir. Por agora, decidiu esperar até ser resgatada.

— I-i-isso não devia acontecer. A culpa é de todos aqueles idiotas.

— Aham, também odeio idiotas.

Ela encarava o homem de jaleco branco enquanto murmurava para si mesma.

— Porque lidar com eles me cansa.

— Destruíram o meu… meu laboratório. Tudo começou com aquele lixo do Grease.

— Aham, foi o lixo do Grease que começou.

— E continuam vindo sem parar e… Aaaghh!

— É uma pena. Sinto muito por isso.

— Sim! Sim, é isso! Minha pesquisa está quase finalizada! Se não terminar logo, serei banido… banido…!

— Isso parece terrível.

— D-dane-se tudo! Aquele inútil de uma figa… figa!

O homem de jaleco branco aproximou-se da criatura acorrentada e puxou-a até onde a corrente permitia. Chutou-a sem parar e pisou no seu corpo, mas ela continuou parada, curvando-se.

— Você não ia tirar o meu sangue?

— Ó, é mesmo. Sim. Com o seu sangue… Com o seu sangue, tudo ficará completo.

— Bom para você.

Ele preparou o dispositivo e colocou a seringa contra seu braço.

— Com isso… Com isso, ficará pronto… N-não serei banido.

— Não me machuque.

Isso vai fazer com que eu queira socar a sua cara, pensou Alexia consigo mesma.

A agulha entrou em seu braço, e ela observava como se fosse o sangue de outra pessoa entrando no tubo de vidro.

— Hehe… hehehe…

Quando ficou cheio, o homem de jaleco branco levou aquilo alegremente para fora da sala, e Alexia esperou até que a porta se fechasse antes de soltar um suspiro pesado.

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Preparei tudo para o dia de hoje.

Dois dias depois que fui liberado das minhas interrogações, vasculhei a minha coleção premiada de mentor que possuía em meu dormitório e peguei tudo que pudesse ter bom uso.

Esses cigarros… não são adequados para a minha idade. Mas esse vinho vintage… uma garrafa rara, para colecionadores, que valia novecentos mil zeni, vindo de Pordeaux, no sudeste francês. Sim, é perfeito para hoje à noite, quando a lua estiver escondida atrás das nuvens. Agora, vou juntar com a minha melhor taça… Esse Buitton1Referência a uma marca francesa, Louis Vuitton, considerada uma das mais caras do mundo. é o melhor da França e custa quatrocentos e cinquenta mil zeni. E, com essa luminária antiga e pintura indescritível de O Grito, a qual achei por acaso, na parede… Voilà. Fantastic.

Ó, meu coração está transbordando.

Cacei bandidos e me rastejei de quatro por moedas, apenas por isso.

Lágrimas de alegria manchavam minhas bochechas enquanto eu olhava para o meu quarto, produto da minha coleção superior. Tudo o que tenho que fazer é me preparar para o convite que acabei de receber e apenas esperar.

Vou esperar pela hora certa.

Esperando.

Esperando…

E esperando…!

Então… é chegada a hora.

Murmurei para mim mesmo no mesmo instante em que a garota de preto entrou pela janela.

— O momento é propício… As sombras percorrem o mundo hoje à noite…

Sim. Preparei tudo por este dia…

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— O momento é propício… As sombras percorrem o mundo hoje à noite…

Essas foram as palavras usadas para cumprimentar sua subordinada, Beta.

Ele estava sentado em uma poltrona e com as pernas cruzadas, de costas para ela. Podia parecer estar desprotegido, mas Beta sabia que estava distante e que vivia em um mundo completamente diferente do dela.

A taça de vinho em sua mão brilhava com a luz da luminária antiga. Era óbvio até para ela, que não sabia muito sobre álcool, que ele estava casualmente bebendo do mais raro vinho de todos os tempos, o qual era impossível de se conseguir.

Não ficou chocada apenas pelos itens de luxo que coloriam seu quarto, mas também pela pintura que viu na parede. A obra-prima mirífica, O Grito. Dinheiro algum poderia comprar aquela obra de arte. Beta quase perguntou como ele acabou conseguindo-a, porém, de repente, percebeu que não faria sentido e parou a si mesma a tempo.

Tudo caía em suas mãos, pois era dele que se tratava.

Isso explicava tudo.

É natural que seja o dono de O Grito. Na realidade, mesmo que buscassem em cada canto do mundo, jamais encontrariam um proprietário mais adequado do que Shadow.

— Um mundo de sombras. As nuvens cobrem a lua esta noite. Mais do que adequado… para nós — disse Beta.

Shadow olhou silenciosamente para ela e colocou a boca na borda da sua taça.

— Estamos prontos.

— Sim.

Ele sabia tudo. Ou, talvez, em seu tom onisciente, criava esta ilusão. Bem, a verdade é que sabia de quase tudo que Beta estava prestes a dizer, mas ela continuou a falar mesmo assim, pois era seu dever:

— Sob o comando de Lady Alpha, reunimos todas as pessoas na área e as mobilizamos para a capital. Há cento e quatorze no total.

— Cento e quatorze?

— Gh…!

É muito pouco?

Se considerar a força do Jardim das Sombras, ela imaginou que cento e quatorze novos membros seriam mais do que o suficiente.

Mas não levou muito tempo para Beta perceber que havia o interpretado mal.

Afinal de contas, essas pessoas eram personagens de suporte, e menos de dez por cento eram qualificadas para o trabalho. Ele era a estrela do show desta noite. Como apoios para trazer à luz a história do protagonista, cento e quatorze parecia um número vergonhosamente baixo demais.

— Sinto m-mu…!

— Contrataram mais figurantes…? — perguntou Shadow, interrompendo-a, mas aquela última palavra não estava no vocabulário de Beta. — Esqueça. Estou apenas falando comigo mesmo.

— Entendido.

Beta não perguntou mais, pois sabia que as palavras dele tinham mais profundidade do que ela poderia compreender, e também não tinha o direito nem poder para pedir por mais detalhes.

Dito isso, não conseguia parar de pensar no dia em que ficaria ao seu lado e seria apoio para cada um dos seus segredos. Mas, até lá, manteria esses sentimentos de lado.

Ela continuou a falar:

— Nossa estratégia é lançar ataques sincronizados contra os esconderijos da seita Fenrir no Culto de Diablos espalhados pela capital. Ao mesmo tempo, procuraremos por traços de magia da Princesa Alexia. Assim que localizarmos seu paradeiro, mudaremos de plano e daremos prioridade à segurança dela.

Shadow assentiu, encorajando-a silenciosamente para que continuasse.

— Gamma irá lidar com os comandos táticos. Lady Alpha comandará o campo de batalha e eu servirei como sua assistente. Epsilon liderará o apoio pela retaguarda e Delta irá emboscá-los, o que marca o começo de toda a nossa operação. As tropas serão formadas por…

Shadow ergueu a mão, parando a sua explicação detalhada.

Ele segurava uma carta.

— Um convite — disse, jogando-a para trás.

Beta pegou o envelope de papel, o qual ele exigiu que lesse.

— Isso é… — gaguejou, chocada e irritada pela mensagem grosseira.

— Envie minhas desculpas para Delta…, mas o prelúdio será desempenhado por mim.

— Sim, nos certificaremos para que assim seja.

— Venha comigo, Beta. — Ele se virou para ela. — Hoje à noite, o mundo descobrirá quem somos.

Beta tremia de alegria depois de saber que lutaria ao lado dele.

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A nota de resgate o levou até o caminho da floresta que ficava nas profundezas do bosque. Shadow fez sua aparição em seu uniforme da escola, perto de onde a Princesa Alexia foi sequestrada, e Beta espreitava-se a uma pequena distância dele.

Não levou muito tempo até que sentisse duas energias se aproximando.

Algo voou em sua direção, o que pegou com uma mão e olhou.

— Esse é um dos… sapatos de Alexia? — murmurou.

Então, eles apareceram… dois homens no caminho.

— E aí, garanhão. O que está fazendo com o sapato da Princesa Alexia?

— Ooh, e contém traços de magia. Você é o culpado, Cid Kagenou.

Ambos usavam a armadura da Ordem dos Cavaleiros. Não havia dúvidas de que eram eles que o interrogaram antes.

— Entendi. É isso o que estão tentando fazer.

Os homens zombaram descaradamente das palavras de Cid.

— Se tivesse aberto o bico antes, não teríamos que ser arrastados para essa confusão.

— Podia ter passado por tudo isso sem que virasse uma bagunça.

Os dois empunharam suas espadas e, sem vergonha alguma, diminuíram a distância entre eles e Cid.

Que estúpidos… Beta não conseguia encontrar palavras para descrever a idiotice deles.

— Tudo bem, Cid Kagenou. Você está preso pelo sequestro de uma princesa.

— Não revide. Lutar não o levará a lugar algum.

Um deles ria altivamente enquanto movia a espada na direção de Cid.

— Hmm?

Mas Cid parou a lâmina com dois dedos. Então, um clarão de luz surgiu enquanto o seu pé direito atingia o pescoço do homem.

Em seguida, sangue saiu daquele mesmo lugar.

Uma adaga escura saía do sapato direito de Shadow.

— AAAH… Agh… Augh!! — O cavaleiro caiu no chão, segurando o pescoço.

Ele logo morreria.

— Maldito! — O seu parceiro entrou em pânico e tentou cortar Cid, mas seu ataque foi simples e descuidado.

Cid esquivou-se ao inclinar a cabeça, então, tirou o homem do chão, literalmente, deixando-o sem nada dos joelhos para baixo.

— Aaaaaaggghhhhhh!! — O cavaleiro gritava enquanto sangue jorrava das suas coxas, as quais ele segurava. — Minhas… minhas pernaaaaaas…!

Depois, começou a arrastar-se para longe de Cid.

— N-não ache que pode se livrar depois de ferir a Ordem dos Cavaleiros, seu lixo…! S-se morrermos, você será o primeiro suspeito!

Cid andava tranquilamente sobre a trilha de sangue do homem e se aproximava.

— E-eek…! É-é o seu fim…! Acabou…! — gritava sua presa, desesperada e desajeitadamente rastejando pelo chão.

— Quando amanhecer… encontrarão os cadáveres de dois cavaleiros.

— S-sim! De manhã, será fim de jogo…!

O homem continuava em frente, enquanto Cid seguia sua trilha de sangue.

— Mas você não tem mais com o que se preocupar.

Foi naquele momento que percebeu que ele já estava logo atrás.

— Eek!

Houve um clarão de luz vinda da perna direita de Cid.

— Pois, quando amanhecer… já estará tudo terminado.

A cabeça do homem voou para o céu, e Cid virou-se, com sangue caindo sobre ele. Enquanto isso, Beta estremecia diante daquela cena.

Entretanto, não era mais o uniforme da escola que vestia. Agora, era Shadow, vestido de preto da cabeça aos pés. Adornado por um traje negro e botas, segurava uma katana enquanto seu manto esvoaçava com a brisa. Seu capuz pendia sobre a testa, escondendo a parte superior do rosto. Apenas a parte inferior ficava à mostra na luz. Era como se usasse a máscara de um mágico, onde as únicas partes visíveis eram sua boca e olhos vermelhos, que espiavam por entre a escuridão.

Depois de quase desmaiar ao ver sua silhueta dominadora e chamativa, Beta rapidamente pegou As Crônicas do Lorde Shadow, que guardava entre os peitos, e fez um esboço rápido da cena.

Perto dele, registrou seus murmúrios naquele dia. E voilà, levou menos de cinco segundos.

Uma observação, a qual não viria ao caso: esses desenhos e listas de frases de efeito formavam o papel de parede no quarto de Beta. Escrever um novo verso em As Crônicas do Lorde Shadow toda noite trazia uma das maiores felicidades da sua vida.

O rugido de uma explosão distante a trouxe de volta à realidade.

— Foi a Delta…? A noite começou. Vamos, Beta.

— S-sim! Estou indo!

Ela enfiou o bloco de anotações de volta em seu decote e correu atrás dele. E, é claro, Shadow não fazia ideia alguma do que ela tinha feito, para começo de conversa.

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— Eek… O que diabos é você? Não fizemos nada para merecer isso!

Um mar de sangue. Era isso. E um homem gritava em meio àquilo.

Isso veio do nada. Sem qualquer aviso ou declaração de motivos, explodiu a parede e deu início ao massacre.

E outro homem tornou-se a presa para sua lâmina negra.

Ninguém queria enfrentar aquilo. Os homens desejavam fugir o mais rápido possível, nada mais. Mas aquilo bloqueava a única saída.

— O que fizemos a você?! Nada, não é?!

Ela se virou para o homem e começou a sorrir.

— Eek…!

Por trás da máscara negra, ria maldosamente.

— S-socorro…! — falou cuspindo.

O seu corpo foi dividido ao meio, cortado do topo da cabeça até a virilha. Sangue jorrou de ambas as metades que caíam para a esquerda e para a direita.

À medida que encharcava o seu corpo em sangue, deixava com que cada gota caísse sobre si com ternura. Podia ter a aparência de uma mulher, mas o temperamento era de um demônio.

Ao notar que havia apenas alguns despojos na área, estendeu a arma, alongando sua lâmina negra.

Sem exagero, a katana literalmente se estendeu o suficiente para destruir uma parede.

Com um manejo poderoso…

— P-pare…!!

Destruiu o edifício e tudo que tinha dentro…

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— Começou.

Do topo de uma torre de relógio, uma belíssima elfa observava a aniquilação completa e a queda de um edifício. Era quase uma piada. A brisa movia suas mechas douradas, as quais brilhavam na escuridão da noite.

— Ai, Delta… Ela sempre exagera. — Suspirou, balançando a cabeça.

Mas não podia chorar pelo leite derramado, então continuou observando a capital do topo da torre.

Toda a capital havia começado a se mover freneticamente. Tudo começou como planejado, e grande parte da sua atenção se dirigia a Delta, que transformava edifícios em ruínas.

— Tenho que reclamar com Delta por deixar mais fácil para os outros começarem…

Se pudesse simplesmente ignorar as vítimas, poderia admitir que os movimentos de Delta eram excepcionais.

— Acho que também devo ir — murmurou.

Alpha então escondeu seu rosto com a máscara escura.

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Algo acontecia do lado de fora.

Alexia abriu os olhos pela primeira vez em horas.

Os únicos que entraram na sala eram uma mulher zeladora e o homem de jaleco branco, então só lhe restava dormir na mesa que prendia suas mãos e pés. Nem ela nem a criatura incomodavam uma à outra, o que significava que estavam se dando bem. O clamor se intensificou, indicando que havia algum tipo de conflito para além daquele lugar.

Alexia sorriu, na esperança de ser resgatada.

— Será que vão entrar arrebentando a parede de maneira dramática? — murmurava por nenhum motivo em particular.

O estresse devia estar pesando para ela e, ainda que soubesse que não fazia sentido, balançou as correntes que a prendiam.

— Sinto muito por te acordar.

A criatura ali perto ergueu a cabeça.

— Mas acho que é melhor ficar acordada. Não vai querer perder a diversão.

Alexia sabia que ela não responderia, mas conversou mesmo assim. O tédio poderia gerar efeitos estranhos na mente.

Levou um tempo até que o som de uma chave destrancando a porta ecoasse pela sala de uma maneira agitada e apreensiva.

— Merda, merda, merda!! — O homem de jaleco adentrou a sala.

— Bom dia para você também.

— Eu estava tão perto! Tão perto!! — Ele ignorou Alexia, que claramente achava graça da situação toda. — Aqueles malditos… Estão aqui!! É o fim! É o fim…!

— Desista. Resistir é inútil. Se me desacorrentar agora, pedirei para que poupem a sua vida — disse Alexia a ele. — Mas não garanto nada — adicionou, baixinho.

— A-aqueles brutos jamais me deixariam sair impune…!! Vã-vão matar todos… todos!!

— A Ordem dos Cavaleiros não mata sem motivo. Se não resistir e ficar em silêncio, não irão tirar a sua vida.

Uma voz na mente dela badalava um Não.

— Ordem dos Cavaleiros? Não dou a mínima para eles! O-os demônios vão matar todo mundo, todo mundo, estou te avisando!!

— Não está falando da Ordem?

Mas, então, de quem? Alexia não conseguia imaginar mais ninguém. Porém, mais uma vez, teve o pensamento de que ele havia endoidado.

— De qualquer forma, é o seu fim. Entregue-se.

— Não, não, não, não, não!! N-não até que esteja completo!! — O homem de jaleco branco arranhava a cabeça e virou os olhos maníacos na direção da criatura. — E-eu fiz um protótipo. S-se usar isso, até mesmo uma merda sem serventia como você pode ser útil.

Ele enfiou o dispositivo com seringa contra o braço da criatura.

— Não faça isso. Não tenho um bom pressentimento — avisou Alexia, parecendo bastante séria.

Mas ele, obviamente, apenas a ignorou, enfiando a agulha e injetando um fluido desconhecido.

— C-contemple! Vou lhe dar um vislumbre de Diablos!!

— Nossa, estou bastante animada.

A criatura começou a inchar, e os músculos dela aumentavam diante dos seus olhos, e até mesmo a sua estrutura esquelética começou a se expandir. Seu braço direito, que era longo e grosso, tomou uma forma maligna e aterrorizante. Das pontas dos seus dedos, unhas mais compridas do que pernas humanas saltaram. Seu braço esquerdo parecia segurar algo, o que ficou preto em seu corpo.

Aquilo soltou um grito agudo.

— I-incrível! Estupendo!!

— Isso… é surpreendente.

Mas as correntes não aguentaram o crescimento veloz da criatura e estouraram.

— Eu disse que era uma má ideia.

Esmaga.

O homem de jaleco branco não teve tempo para um último grito de agonia antes de ser esmagado pelo braço direito dela.

— Muito bem, então.

Ambas trocaram olhares.

Alexia estudou seus movimentos. Suas mãos e pés estavam presos, o que significava que não tinha muito o que pudesse fazer. Mas ainda podia se mover um pouco. Além disso, não suportava a ideia de morrer como consequência do erro de um idiota.

A criatura moveu o braço direito.

Alexia afastou-se o máximo que podia do caminho. Contanto que seus ferimentos não fossem fatais, poderia sobreviver…!

— Gh…!

Ela evitou Alexia e destruiu a mesa que a prendia. O impacto a jogou contra a parede, onde se contorceu de dor.

— Augh…!

Mas não tinha quebrado nenhum osso nem possuía ferimentos visíveis, e ainda conseguia se mover. Quando terminou de procurar por ferimentos, rapidamente ficou de pé.

Entretanto, a criatura desaparecera, deixando uma mesa estilhaçada e uma parede demolida.

— Ela… realmente me salvou…?

Mesmo que não tivesse se esquivado, aquele braço não chegaria nem perto de atingi-la. E isso significava que… não, não pode ser. Talvez tivesse errado.

— Bem, que seja.

Pegou as chaves do cadáver do homem e removeu suas restrições mágicas. Com isso, sua magia agora podia fluir livre. Alongou-se para soltar os músculos e, então, passou pela parede que a criatura destruiu.

Havia um longo e mal iluminado corredor diante dela. Pilhas de soldados esmagados tomavam conta do chão.

— Vou pegar essa aqui.

Pegou uma espada de mithril de um cadáver. Era de baixa qualidade, mas daria conta do recado.

Ao andar pelo corredor e virar em uma curva, viu alguém.

— Não podemos deixar que saia sozinha.

— V-você. Por que está aqui…? — Os olhos dela se arregalaram de medo.

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O que está acontecendo?

O cabelo vermelho de Iris voava para trás enquanto percorria a capital à noite.

Lhe disseram que um edifício foi destruído. No começo, pensou que fosse uma informação que entendeu errado, mas, à medida que corria em direção à cidade, ainda um tanto descrente, seus subordinados continuavam recebendo relatórios sem parar.

Havia muitas emboscadas ocorrendo ao mesmo tempo na capital.

Não demorou muito até chegar a essa conclusão. Mas não tinha nada de lógico que ligava esses vários locais sob ataque: empresas, armazéns, restaurantes, residências de nobres… Os crimes deviam ser premeditados, mas ela não conseguia pensar qual poderia ser o objetivo.

Ainda assim, a capital tremia.

A Ordem dos Cavaleiros foi mobilizada em um estado de emergência e começou a evacuar os líderes mais influentes. Mesmo que fosse tarde, os residentes abriam as janelas para conferir o que estava acontecendo. E havia ainda mais pessoas do lado de fora. Iris gritava para quem estava na rua, mandando que fossem para casa, enquanto corria até o local.

Algo estranho acontecia. De forma alguma poderia ser um incidente normal.

Ela sentia isso.

E foi justo naquele momento que um grito chegou aos seus ouvidos.

— M-monstro!! Socorro..!!

Eram gritos da Ordem dos Cavaleiros. Eles não estavam muito longe. Iris mudou de trajetória e foi em direção aos gritos de socorro. Quando virou a esquina em uma rua que levava até a avenida principal, viu o monstro.

Era uma besta colossal e medonha.

Com um movimento das suas enormes unhas encharcadas de sangue na sua mão direita, transformava os cavaleiros em pilhas de carne.

— O que é aquilo? — murmurou enquanto corria em sua direção. — Afastem-se!

Com um movimento fluido, sua lâmina desembainhada cintilou na escuridão enquanto cortava o peito da criatura, abrindo-a completamente.

Ela cortou o seu corpo imenso ao meio com um único golpe.

— Estão feridos? — gritou Iris para a Ordem dos Cavaleiros e deixou de prestar atenção na criatura enquanto caía no chão.

— Princesa Iris, você nos salvou!

— Essa é a nossa princesa! Ela matou o monstro com um único golpe!

Os homens não estavam feridos. Quase todos os soldados não tinham um arranhão sequer. Bem, ao menos os que sobreviveram.

— O monstro matou oito dos nossos homens.

Um único golpe os levou à morte.

Os seus olhos cor de vinho tremeram de tristeza quando viram os cadáveres destroçados.

— Reúnam os corpos e retornem. Informem o tenente que…

— Princesa Iris! — gritou de repente um dos cavaleiros.

Ele apontava para algo atrás dela, e outros cavaleiros tentaram erguer a voz engasgada.

— O quê…?!

Iris virou-se e golpeou sem hesitar.

Sua espada colidiu com o braço direito da criatura.

— Ksch…!

Por um momento, pareceu como se tivesse sido atingida, mas rapidamente liberou uma enorme quantidade de magia que explodiu o poderoso braço direito. A partir dali, atirou-se em seu peito, feriu sua perna e saltou para trás a fim de se preparar para um contra-ataque.

No instante seguinte, o monstro moveu o braço direito na direção em que Iris pousou e arrancou algumas mechas do seu cabelo.

— Está se regenerando…?

O ferimento do corte desapareceu, e o novo ferimento em sua perna começava a se curar.

— Ridículo… Como pode se regenerar depois que a Princesa Iris o cortou em dois…?

— Não pode ser…

— Afastem-se! — gritou Iris para os cavaleiros agitados enquanto bloqueava o ataque seguinte.

Seus movimentos eram rápidos, poderosos e pesados, mas simples.

— É apenas uma criatura, afinal.

Ela atacou cruelmente. Cortou o seu braço em pedaços, arrancou suas pernas e cabeça. Golpes sucessivos choviam sobre a criatura, como se zombasse: Tente se curar disso tudo.

A princesa não daria brecha para que pudesse retaliar, sendo a única a atacar.

— Ainda está se curando?

Mas a criatura sobrevivia. No breve momento em que Iris parou o seu ataque, aquilo recobrou sua forma e golpeou com o braço direito. Então, gritou para o céu noturno.

Como se a respondesse, chuva começou a cair do céu sem lua. Começou como uma garoa, mas logo se transformou em uma torrente. Um vapor branco se erguia do local em que as gotas atingiam o sangue da criatura.

— Isso pode levar um tempo…

Iris reforçou sua postura, preparando-se para uma longa luta.

Não achava que pudesse perder. Mesmo agora, nunca considerou que acabaria derrotada. Porém, essa batalha tomaria mais tempo.

Ela preparou sua espada e, quando o monstro terminou de se curar, correu em sua direção.

No instante seguinte, sua espada foi arrancada de suas mãos, acompanhada por um som estridente, e o impacto deixou o seu braço formigando.

Ela olhou para o intruso repentino, ignorando o fato de que sua amada espada voava para longe. O recém-chegado a encarou.

Ambos trocaram olhares, mas quem quebrou o silêncio primeiro foi o intruso.

— Por que não vê que ela está sofrendo?

O convidado infiltrado era uma garota em traje negro. Iris não conseguia ver o seu rosto, entretanto, percebeu que a voz dela parecia jovem.

— Quem é você? — Com cuidado, manteve a intrusa e a criatura em seu campo de visão.

— Alpha. — Depois de dizer uma única palavra, a garota virou as costas para Iris, como se tivesse perdido o interesse na conversa.

— Espera, o que planeja fazer? Se o seu plano é se opor à Ordem dos Cavaleiros, não pegaremos leve…

— Me opor…? — Alpha interveio, rindo condescendentemente enquanto permanecia com o rosto virado para longe de Iris.

— O que é tão engraçado?

Oposição… acho que pode ser a palavra mais engraçada do mundo. Se opor a uma ignorante não faria sentido.

— Como é…?! — A magia de Iris começou a se expandir, transformando-se em uma onda massiva que afastou toda a chuva e formou rajadas violentas de vento.

Todavia, Alpha sequer olhou em sua direção. Permaneceu inabalada, com suas costas viradas para ela.

— Execute o seu papel de espectadora e mantenha os olhos no palco. Não atrapalhe o nosso show — disse, antes de se aproximar da criatura.

Por trás, parecia solene. Esquecendo-se completamente de Iris.

— Você acabou de me chamar de espectadora…? — Iris apertou as mãos formigantes enquanto a encarava.

— Pobrezinha. Deve ter doído — disse Alpha, caminhando em direção ao monstro. — Não há mais dor. Não há mais tristeza.

Estendeu sua espada negra, mais longa do que o próprio corpo.

— Não precisa mais chorar.

Então, com um passo à frente, cortou a criatura ao meio.

Ninguém teve tempo para reagir.

Iris e a criatura só puderem observar enquanto Alpha a dividia ao meio. Tudo parecia ter sido tão natural. Não havia intenção assassina, como se essa fosse a única solução plausível.

O corpo gigantesco do monstro chocou-se contra o chão, e fumaça branca saía de sua carcaça à medida que encolhia até ficar do tamanho de uma garotinha. Uma adaga caiu da sua mão esquerda.

Uma joia vermelha estava incrustada nela, junto com as marcações no cabo: Para minha amada filha, Milia.

— Rezo… para que consiga ter paz na próxima vida.

Com isso, Alpha desapareceu dentro da fumaça branca.

Um estrondo de trovão ressoou ao longe. Iris continuou parada, em choque. Gotas de chuva percorriam seu cabelo e caíam sobre o rosto.

Tremia, mas não sabia por quê.

— Alexia… — murmurou. Sentiu que sua irmãzinha era o epicentro desse caos, e essa premonição a encorajou a continuar. — Por favor, esteja bem…

Pegou sua espada e começou a correr enquanto a tempestade se intensificava.

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