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A Eminência nas Sombras – Vol. 01 – Cap. 02 – Assumindo o Papel de Personagem Secundário na Escola!

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Completei quinze anos e comecei na Academia de Midgar para Cavaleiros Negros que ficava na capital real. Esta academia era conhecida como a melhor das escolas do nosso continente e era onde os cavaleiros promissores não só da nossa nação como também de todo o mundo se reuniam. Mantive minhas notas no nível meh para me misturar com a multidão e foquei meus olhos nos protagonistas dos meus sonhos.

Um deles era a Princesa Alexia Midgar, a mais famosa de todos eles.

Para ser honesto, até mesmo um chimpanzé saberia que ela é de alto nível.

Ouvi dizer que tinha uma irmã mega famosa e toda poderosa chamada Princesa Iris Midgar, mas já havia se formado, para a minha aflição.

De qualquer forma, vou contar a você que desbloqueei um evento especial com a Princesa Alexia… é… quero dizer, minha punição por perder um jogo. Pois é, não ouviu errado, estou prestes a tomar parte na famosa punição conhecida como se confessar para uma garota.

O que nos traz ao telhado da escola. Estou de frente para a Princesa Alexia, a uma certa distância dela.

Seu cabelo platina passava dos ombros, e seus olhos vermelhos tinham a forma de amêndoa e, hm, bonita? E ela parece toda indiferente com o seu rosto perfeito. É tipo: Sim, sim, já entendemos. Ela é linda. Sim, que seja.

Odeio cortar o seu barato, mas estou cansado de mulheres bonitas graças a Alpha e o resto. Prefiro um toque de feiura. Isso te torna único, sabe.

De qualquer forma, não sou o único desafiador imprudente que foi atrás de Alexia. Faz dois meses desde que comecei na escola e mais de cem bobalhões já tentaram conquistá-la.

E todos se depararam com a mesma dura resposta: “Não estou interessada”.

Tipo, eu entendo. Acho que ela tem um casamento político ou algo do tipo pronto para quando se formar e aposto que está tentando dizer que não tem tempo para entrar em uma brincadeira de crianças.

Dito isso, os alunos aristocratas apaixonados por ela compartilhavam do mesmo destino — casamento político e tudo mais. Mas acho que é por isso que querem ter um pouco de diversão enquanto ainda estão na escola.

Bem, não importa mesmo. No final, é apenas a diversão daqueles que não sabem de nada sobre o reino das sombras.

E é o meu dever, como personagem de fundo, juntar-me à brincadeira. Ser rejeitado brutalmente pela garota mais popular da escola? Não consigo imaginar um papel mais digno para um personagem extra. Se puder passar por este evento e assumir o papel de um verdadeiro perdedor, me tornarei aquilo que quero e darei outro passo para ser um mentor secreto.

Fiquei acordado a noite toda para me preparar para este momento. O que deveria dizer? Como vou me confessar para ela…? Essa será a melhor confissão de um personagem minúsculo de todos os tempos.

Escolher as palavras certas é de extrema importância. Todavia, dei um passo a mais ao testar com articulação, afinação e vibrato, e assim dominei a confissão suprema.

Neste dia, neste exato momento, estou em um dos campos de batalha mais importantes da minha vida.

Preparado, lute.

É uma batalha importante para um personagem de fundo.

Certo, agentes das sombras têm sua própria forma de combate, mas lutar como um personagem secundário tem o seu próprio charme.

O que significa que usarei todos os meus truques de uma só vez.

Assegurei-me da minha decisão ao me virar na direção dela.

Princesa Alexia… Ela está logo ali, parecendo toda poderosa, mas eu podia desembainhar minha espada e separar o pescoço dela do torso em uma fração de segundo. Você é humana assim como todos nós.

Olhe com cuidado.

Apresento-lhe a melhor confissão do mundo!

— Purinceja A-A-A… Alexia.

Ouviu só como eu gaguejei no A-A-A? E o staccato? Usei um pouco de vibrato, mudei a afinação no meio do caminho e adicionei uma pronúncia ruim no Purinceja para mostrar um desempenho convincente.

— Eu… eu te amo…! — Baixei os olhos para evitar o olhar dela, certificando-me de que meus joelhos estavam se batendo. — Vo-você quer ser minha namorada…?

Escolhi usar a confissão comum… mais clichê, senão chata. Mas deixei a minha afinação e tom rincharem. E aquela caída de tom no final? Isso mostra uma total falta de confiança.

Foi perfeito…!

Esse é o desempenho dos meus sonhos. Estou satisfeito! Completamente satisfeito!

— Sim.

— Hã? — Estava feliz comigo mesmo e prestes a partir quando tive uma alucinação auditiva. — O que você acabou de dizer?

— Eu disse… sim.

— Hm, beleza.

Algo de errado não estava certo.

— V-vamos voltar juntos para o campus.

A partir dali, acompanhei a Princesa Alexia até o seu quarto no dormitório. Depois de um “Te vejo amanhã” com um sorriso no meu rosto, fui para o meu quarto, enfiei a cara no travesseiro e gritei com toda a minha força:

— Quando foi que me tornei o protagonista de uma comédia românticaaaaaaaaaa!!

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— Que estranho, né?

— Bizarro.

— Absolutamente fora do normal.

No dia seguinte, eu estava almoçando no refeitório e tinha acabado de falar sobre o que acontecera. Todos nós chegamos à mesma conclusão: com certeza havia algo estranho rolando.

— Sem ofensas, mas a Princesa Alexia é muita areia para o seu caminhão. Mas se ela dissesse sim para mim, eu ainda teria minhas dúvidas, sabe?

 Era Esquel, o segundo filho do Barão Eto. Ele era magro e alto, e ainda que parecesse se importar com sua aparência, não era nada estiloso. Se olhasse de longe, podia te enganar, fazendo-o pensar que era bonitão. É… talvez não. Retiro o que disse.

De qualquer forma, a Princesa Alexia também era areia demais para o caminhãozinho de Esquel. Eu tinha certeza disso, pois o considerava meu amigo “personagem secundário”.

— Se o Cid é bom o bastante para ela, também acho que eu seria. Aiai, eu deveria mesmo ter me confessado antes.

Era Bat, o segundo filho do Barão Ata. Ele era baixinho e um tanto atarracado. Sabe como todo time de baseball tem um cara com aparência de batata? Então, era basicamente ele.

Não importava se olhasse de longe, de perto ou de qualquer outro ângulo. Com a sua aparência, jamais poderia fazer alguém pensar que era maneiro. Nem precisava dizer que não tinha chance alguma com a Princesa Alexia. Afinal, é aquele personagem de fundo, esquecido e ignorado.

Ah, a propósito, o meu nome é Cid. Quando estou assumindo o papel de Cid Kagenou, também assumo a parte do famoso zé-ninguém.

— Para ser honesto, é terrível. Tenho a sensação de que ela tem um motivo secreto, o que me assusta. Além disso, nós vivemos em mundos completamente diferentes, de certa forma.

— Pois é, pode crer. E, diferente de mim, você não foi abençoado com o dom da aparência. Eu diria que em uma semana ela romperia com você.

— Três dias. É só olhar ao redor.

Observei o refeitório e vi que todos estavam sussurrando e olhando para mim.

— Ali! Aquele é…

— Está brincando! Ele é super comum…

— Ah, acho que é bonitinho…

— Sem chance!

E assim por diante.

— Ouvi dizer que ameaçou ela… de acordo com o Esquel Eto.

— Vou matar aquele filho da puta…

— E fazer com que pareça um acidente durante a prática…

— Se eu não fizer isso agora, trarei vergonha à raça humana…

E coisas do tipo.

Tenho uma audição muito boa e consegui ouvir quase toda a conversa. Então aproveitei o momento para encarar Esquel.

— Hmm? O que foi?

— Nada.

Acho que amizades entre personagens secundários podem ser passageiras.

— Mas, sério mesmo, o que eu faço? Seria estranho se falasse sobre terminar logo depois de confessar o meu amor por ela.

E estragaria o personagem se desse o fora em uma princesa, embora eu ache que pessoas neste papel não sairiam com uma, para começar.

— Qual é, só tenta. Se tiver sorte, pode conseguir algumas memórias bacanas. — Esquel encorajou, com um sorriso astuto.

— Ele tem razão. Vamos dizer que é tudo um mal-entendido. Você ainda estaria saindo com uma princesa, então não perca tempo lidando com valentões — disse Bat.

— Não é desse jeito que funciona.

Mesmo enquanto perdemos tempo agora, rumores sobre mim continuarão a circular pela escola, o que quer dizer que eu seria jogado para ainda mais longe da minha existência como um zé-ninguém qualquer.

— Mas agora que os dois estão realmente saindo — devaneiu Bat —, você tem que ficar quieto sobre ter perdido aquele jogo.

— Pois é. Já consigo ver as coisas saindo do controle se descobrirem. Por favor, não diga nada. E estou falando isso para você, Esquel.

— Eu? Minha boca é um túmulo!

— Estou falando sério aqui.

Suspirei enquanto pegava o meu almoço diário para aristocratas falidos, o qual custava exatamente novecentos e oitenta zeni. Estava começando a ficar incomodado com a atmosfera daquele lugar, por isso iria comer o mais rápido possível e dar o fora dali.

É, bem, esse era o plano.

Mas um grupo de criadas colocou o almoço de burgueses safados, o qual custava uma facada de dez mil zeni, logo à minha frente com uma eficiência digna de nota.

— Esse lugar está livre?

Alexia apareceu. Ugh, eu já sabia que ela estava por perto, por isso estava tentando acabar logo com o meu almoço.

— P-p-pur favô!

— V-v-você pode se sentar aqui! O prazer é todo nosso!

Esquel e Bat responderam, tremendo sem parar. Esses são os mesmos caras que estavam se achando sobre como poderiam namorar com ela caso quisessem. Pois é, já era o esperado dos meus amigos.

— Sim, beleza. À vontade — falei à Princesa Alexia, que esperava pela minha resposta.

— Com sua licença, então — respondeu, sentando-se.

— O tempo está bom hoje. — Parece uma maneira óbvia para quebrar o gelo.

— Pois é.

Nossa conversa inócua continuou, e, com o movimento elegante da sua mão, ela começou a saborear o almoço extravagante.

— Tem bastante comida nesse almoço de burguês.

— Sim. Eu nunca consigo comer tudo.

— Que desperdício.

— Eu não me importaria em pegar o almoço mais barato, porém, se não pegar o mais caro, os outros podem se sentir envergonhados para pedi-lo.

— Aham, compreendo. Posso comer o que sobrar?

— Sim, mas…

— Ah, não se preocupe em ser educada perto de mim. Quero dizer, essa é a seção para aristocratas de classe baixa.

Alexia parecia desconsertada quando peguei a carne do prato principal dela e enfiei na boca antes que pudesse ouvir qualquer coisa.

Oh, é bom.

— Hmm…

— Me passe o peixe.

— Espere…!

Isso aí, que dia de sorte. Graças à princesa, consegui encher a barriga, a qual está morrendo de alegria agora. Você pode perceber que a minha atitude para com ela mudou de um dia para o outro e que estou agindo de maneira bem casual perto dela.

E, caso queira saber o porquê…

É porque estou no meio da Operação: Leve um Fora o Quanto Antes!

— Aiai… tudo bem, que seja.

— Obrigado pela refeição. Te vejo depois.

— Pare!

Droga, o meu plano de comer e meter o pé falhou e eu, relutante, voltei para o meu lugar.

— Assumo que estará pegando Bushin Real como sua aula prática eletiva na parte da tarde.

— Isso aí.

A academia exigia que os alunos pegassem cursos em geral pela manhã e práticas eletivas à tarde. Enquanto uma era realizada na sala de aula, a outra era uma mistura de alunos de todas as turmas e séries. Basicamente, nos era permitido escolher a eletiva que mais nos adequava entre as várias artes de armas.

— Estou na mesma turma. Achei que seria legal se fizéssemos juntos.

— Pois é, não. Quero dizer, você está na seção um, eu, na nove.

Artes Bushin eram tão populares que tinham nove seções diferentes, com cinquenta alunos em cada, os quais eram divididos pelo nível de habilidade. Por enquanto, estou me saindo mal o bastante para estar na seção nove, a fim de observar as coisas. Planejava depois partir para a seção cinco.

— Não, está tudo bem. Com a minha recomendação, te coloco na seção um.

— Mas não está tudo bem mesmo. Tenho certeza disso.

— Então prefere que eu vá para a seção nove?

— Não, pode parar. Isso faria com que eu parecesse o vilão.

— É um ou outro. Escolha.

— Não.

— É uma ordem real.

— Estou indo para a seção um.

E, assim, o almoço terminou. Esquel e Bat ficaram completamente parados do começo ao fim, basicamente misturando-se com o cenário ao fundo.

 

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— Esse lugar é enorme… — Fiquei surpreso no momento em que entrei na sala da seção um, não conseguindo me segurar.

Para simplificar, parecia um ginásio gigantesco. Além da sala de armários padrão, era bem equipada com uma área para banho, um café e uma criada que abria a porta, o que tornava aquilo, tecnicamente, em uma porta automática.

Quanto à seção nove, nos encontrávamos do lado de fora, fizesse chuva ou sol, granizo ou neve. Não tinha nem uma porta para uma criada abrir, que dirá criada.

Para evitar ser oprimido pelos outros alunos, troquei o meu uniforme rapidamente e esperei pela Alexia em um canto durante um tempo.

— Vamos nos soltar — sugeriu ela assim que entrou na sala com o seu uniforme Bushin.

Pense em um vestido chinês, daqueles apertados nas pernas que são vistos em filmes sobre o ano 1920, com um corte reto na perna. Este era o uniforme das garotas. O dela era preto, que servia para indicar que era uma das lutadoras mais fortes. No Bushin, cada cor representa um nível diferente de força, sendo preto o melhor e branco o pior.

Eu estou no branco, obviamente. E já que sou o único de branco em toda essa sala, chamo bastante atenção.

Ignorei os olhares dos outros alunos — 70 por cento hostis, 30 por cento curiosos — e me aqueci com pequenos alongamentos.

— Interessante — disse Alexia, copiando meus movimentos.

Neste mundo, todos sabem que é benéfico soltar os músculos antes de se exercitar. Mas, sem manuais sobre alongamentos, todos fazem à sua própria maneira. Tipo, se você for um apaixonado por esportes, vai se machucar caso não se alongue direito. Ouvi dizer que outras pessoas usam magia para forçar os músculos a se soltarem, mas isso também afeta o desempenho.

Alexia é bastante versada neste sentido, o que é bacana. Quero dizer, sou extremamente perfeccionista quando se trata de batalha. Tipo, não vou perder para um esnobe pretensioso qualquer.

Estávamos nos preparando quando a aula começou.

— A partir de hoje, teremos um novo amigo se juntando a nós. — Nosso instrutor começou apresentando-me.

— Me chamo Cid Kagenou. É um prazer conhecê-los.

Ah, seção um. Uma rápida olhada ao redor e já pude ver alguns VIPs. Aquele cara gostosão ali é o segundo filho de um duque, e aquela gatinha é a filha do atual líder dos Cavaleiros Negros. E tem também o nosso professor, que é o melhor instrutor de esgrima do país. Além disso, é um maromba novinho e loiro que só tem vinte e oito anos.

— Vamos dar a ele as boas-vindas à nossa turma.

Com isso, começamos a treinar, primeiro suprimindo nossa magia através de meditação antes de praticar nossos movimentos e passar pelos básicos de esgrima.

Ótimo, ótimo. Estou animado para revisar os básicos. É importante conhecê-los. Na seção nove, manejávamos nossas espadas por alguns segundos e brincávamos de lutinha o tempo todo. É legal ver os lutadores mais fortes e avaliar os seus básicos. Além disso, todos os alunos eram habilidosos. Posso dizer que era um ambiente organizado, e não estou querendo bajular nem nada do tipo.

E, mais importante, as técnicas ensinadas nesta turma eram muito mais lógicas. Participar de um treinamento que não me deixaria entediado me dava uma sensação ótima.

— Gostando do nosso método Bushin Real? — O nosso instrutor maromba loiro se aproximou de mim.

Acho que o seu nome é Zenon Griffey.

— Parece?

— Sim, parece que você está curtindo bastante.

— Acho que estou.

O Senhor Zenon sorriu de uma maneira tranquila.

— Como já sabe, o método Bushin Real é um estilo de luta relativamente novo, um ramo do Bushin tradicional. No começo havia uma certa resistência entre os apoiadores tradicionais e os pioneiros. Mas, graças à Princesa Iris, agora é reconhecido como uma herança artística de sua contrapartida tradicional.

— E eu fiquei sabendo que você é o espadachim que espalhou esta arte pelo país, Senhor Zenon.

— Sim, mas minhas contribuições não são nada se comparadas com as da Princesa Iris. De qualquer forma, o método Bushin Real praticamente me criou, por isso fico feliz em ver os outros gostando também. Ah, sinto muito. Eu não queria interrompê-lo.

Com isso, o Senhor Zenon foi checar os outros alunos. Eu entendia muito bem os seus sentimentos. Tipo, fiquei todo animado quando Alpha e as outras garotas me viram demonstrar minha esgrima. Desenvolvi estas técnicas sozinho, o que me deixa ainda mais animado quando os outros também aprendem.

— O que vocês dois estavam conversando? — perguntou Alexia.

— Sobre o método Bushin Real.

— Hmm. Estaremos disputando em seguida. Vamos formar um par.

Disputar era, basicamente, uma forma de treinamento leve em que avaliaríamos as técnicas, reversões e processos de batalha sem acertar de verdade o oponente.

— Você não é forte demais para mim?

— Vai ficar tudo bem.

Pegamos nossas espadas de madeira e começamos a trocar golpes.

Eu manejei e ela bloqueou.

Ela golpeou e eu protegi.

Não nos acertávamos, movendo-nos a um passo lento e poupando energia mágica. Ao nosso redor, os outros pares estavam focados em lutas acirradas, explodindo uns aos outros com feitiços. Mas, para minha surpresa, Alexia estava acompanhando o meu ritmo.

Não. Não era isso… Era normal para ela. Afinal de contas, o propósito desta atividade era avaliar nossas estratégias, o que significava que velocidade e poder não faziam sentido. Alexia estava focada neste objetivo… apenas nele. Posso ver pela forma com que move a espada.

O país inteiro canta elogios à Princesa Iris, irmã mais velha de Alexia — brilhante e demoníaca, a combatente mais forte do reino. Por outro lado, não tem muito o que dizer sobre Alexia. Ela possui magia e técnicas delicadas, mas é inferior à irmã. É isso que as pessoas normalmente dizem quando estão falando dela.

Mas à medida que disputava com ela, passei a achar que era boa. Adere-se aos básicos e compreende as fundações de combate, ainda que pareça sem inspiração.

Pois é, acaba sendo comum. Mas esse é o fruto do seu trabalho. Sua esgrima é polida, refinada e sem excessos. Essa é a prova de que dominou os básicos passo a passo.

Delta, você poderia aprender algumas coisinhas com ela, pensei, entrando em uma conversa fictícia com uma besta híbrida, cuja esgrima eu achava difícil perdoar.

— Sua esgrima não é ruim — disse Alexia.

— Valeu.

— Mas não gosto dela.

Ela gosta de me elevar para depois me passar uma rasteira.

— É como se eu estivesse vendo a mim mesma lutando. Vamos encerrar por hoje. — Então começou a guardar as coisas e foi embora.

A aula terminara.

Nunca em meus sonhos mais loucos eu imaginaria que passaria por essa eletiva sem problema algum. Se pudesse só reunir minhas coisas, me trocar e partir para o meu quarto, poderia ser capaz de…

— Espere.

Minhas esperanças se foram.

Alexia me arrastou pela nuca.

— Essa é a sua resposta, acredito eu. — Senhor Zenon observava, por algum motivo na minha frente.

— Decidi namorar com ele.

— Você não pode continuar fugindo para sempre — avisou, estreitando os olhos.

— Sou apenas uma criança. Essa situação é adulta demais para mim — respondeu Alexia, seguindo com uma explosão pomposa de risada.

Isso foi o suficiente para que eu pudesse descobrir como pude entrar nessa seção e por que ela escolheu sair comigo. Observando a cutscene deles e me misturando com o fundo, rezava que esses dois protagonistas não me arrastassem para a novela deles.

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— Sei que o Senhor Zenon é o seu noivo e que você está empurrando a obrigação pra cima de mim. — Confrontei Alexia depois da escola, atrás do prédio da academia.

— Ele não é o meu noivo, apenas um dos pretendentes — corrigiu Alexia, parecendo calma e composta.

— Dá na mesma.

— Não dá. Ele continua pressionando o assunto como se fosse algo certo e isso está me estressando.

— Mas eu não tenho nada a ver com essa história. Odeio ter que ser direto com você, mas não tenho planos de me meter nessa confusão.

— Você é terrivelmente frio para um namorado.

— Namorado? Qual é. Você só quer uma distração para levar a culpa no seu lugar. Não é isso?

— Tudo bem. Porém, vale para nós dois — disse ela, com um sorriso maldoso que se espalhava pelo rosto.

— Nós dois? Do que diabos está falando?

— Se fazendo de bobo agora, hein? Senhor Eu-Me-Confessei-Para-Uma-Garota-Como-Punição, Cid Kagenou. — O sorriso dela se alargou.

Beleza… espera aí. Vamos nos acalmar por um segundo.

— Oh, brincar com o coração e pureza de uma dama — lamentou. — Quanta crueldade.

Disse a garota sem um traço sequer de pureza no corpo. Alexia deixou algumas lágrimas falsas escorrerem pelo rosto.

Tudo bem. Estou totalmente calmo.

— Não tenho ideia do que você está falando. Tem alguma prova?

Certo, evidências em primeiro lugar. Contanto que os caras não tenham me apunhalado pelas costas, não vai importar quão suspeita está sobre as minhas intenções…

— Acho que o seu nome era Bat. Quanto me aproximei dele, ficou todo vermelho e falou tudo, inclusive as coisas que não perguntei. Belo amigo esse seu.

Eu me imaginei dando uma surra nele para transformá-lo em um purê de batatas para recobrar a minha compostura mental.

— Está tudo bem? Suas bochechas parecem estar inchadas.

— Estou bem. Estou sorrindo pelo fato de estar quebrado por dentro.

— Ah, hm.

— Mas não sou tão ruim quanto você.

— Hmm? Disse alguma coisa?

— Não, nada. O que quer de mim…?

Não tive escolha a não ser aceitar a derrota. Meu erro fatal foi escolher os amigos errados.

— Bem… — Alexia cruzou os braços e inclinou-se contra a parede do prédio da academia. — Por enquanto vamos fingir que estamos juntos, pelo menos até que aquele homem desista.

— Sou apenas o filho de um barão, sacou? Não sou o bastante para impedi-lo.

— Eu sei. Só preciso ganhar tempo, então vou pensar em algo.

— E não quero que me coloque em perigo. Tipo, o cara é um mestre espadachim. Se as coisas não funcionarem, vou ter o traseiro chutado.

— Pare de reclamar — disse Alexia, então pegou algumas moedas do bolso e as jogou no chão. — Junte — ordenou.

Cada moeda valia dez mil zeni, e eu contei no mínimo dez no chão.

— O quê? Acha que eu seria seduzido por dinheiro? — perguntei, de quatro no chão, juntando cada uma das moedas do chão com todo o cuidado.

— Acho.

— Acertou em cheio.

Onze… doze… treze moedas… Oh, boa! Achei mais uma!

Na mesma hora em que estendi a mão para pegar a última, ela pisou no trocado com o seu sapato loafer.

Olhei para Alexia, e seus olhos vermelhos me encaravam de cima.

Pude ver sua saia frisada.

— Vai fazer o que digo? — perguntou, com um sorriso que transbordava maldade.

— Com toda certeza. — Eu sorri de orelha a orelha.

— Bom cachorrinho.

Ela fez carinho na minha cabeça antes de se virar subitamente e se afastar, com sua saia curta esvoaçando logo atrás. Limpei a marca de pisada da moeda e gentilmente a coloquei no bolso.

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Mesmo enquanto frequento a academia, continuo deixando o sono de lado para me manter treinando, mas esse falso namoro com Alexia está realmente acabando com o meu tempo.

— Venha comigo.

Com esta ordem, fui arrastado para a sala dos alunos da seção um na eletiva de Bushin Real nas primeiras horas da manhã. Éramos os únicos ali. O sol entrava no recinto, e estava pacífico.

Era hora da prática da manhã.

Alexia manejou sua espada, e eu segui o movimento próximo dela.

Ela é bastante séria quando se trata da prática. É a única coisa que não me importo com relação a ela. Nunca conversamos, apenas praticamos em absoluto silêncio, e não me sinto incomodado em passar tempo em sua companhia — pela primeira vez na minha vida.

— Sua esgrima é estranha. — comentou. — Você tem os básicos dominados. É isso, mas… — Então parou.

Eu obviamente estou suprimindo minha força, magia e habilidades enquanto corto o ar. O que me deixa com os fundamentos.

— Não consigo tirar os meus olhos dela…

— Valeu.

Pude ouvir um pássaro cantando do lado de fora, mas sei que não estão assoviando em um tom específico. É um grito de guerra para reivindicar seu território, o que significa que estão lutando para valer.

— Mas ainda não gosto — adicionou.

Não falamos mais nada depois disso, apenas continuamos praticando.

 

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Mais duas semanas passaram e eu, de certa forma, consegui sobreviver como “namorado” de Alexia.

De vez em quando, os outros alunos me importunavam, mas nada que eu não pudesse lidar. Só estava aliviado pelo Senhor Zenon não ter me dado uma surra ou pensado em algum truque rápido e selvagem para me apagar da existência.

Na realidade, o Senhor Zenon era educado conosco durante as aulas, nos instruindo como se não existisse uma disputa entre nós. Ele não se aproximava mais de mim para jogar papo fora, mas eu diria que é um adulto decente que consegue manter separados o trabalho e a vida pessoal.

E tinha também a pé no saco real.

— Aquele idiota me dá nos nervosos. Acha que é todo-todo só porque é bom com uma espada.

Alexia agia tranquila na frente dele, mas, pelas costas, era um tornado de boca suja.

— Aham, sim. Tanto faz.

Me tornei uma máquina que repetia a palavra sim. Agora, já sabia que discordar só seria perda de tempo.

— Totó, acredito que também tenha visto o sorriso falso dele.

— Sim, sim. Já vi, sim.

Estávamos voltando para casa depois da aula.

Recentemente, adquirimos o hábito de pegar um pequeno atalho por um caminho silencioso através de uma floresta até o dormitório dela. Eu passava o tempo todo dizendo sim para ela e raramente participando de dez por cento das conversas.

Era pôr do sol enquanto andávamos a um passo excruciantemente lento pelo caminho. Devia levar menos de dez minutos para fazer todo o trajeto, mas sempre andávamos por meia hora.

Havia dias em que demorava tanto que estrelas já apareciam. Porém, mantive-me tranquilo. Em outros dias, sentia vontade de mandá-la ir conversar com uma parede, mas também me contive na ocasião.

Paciência, paciência, paciência. No entanto, havia algo que eu precisava dizer.

— Ei, posso te perguntar algo?

— O que foi, meu cachorrinho? — Alexia sentou-se em seu toco favorito e cruzou as pernas.

Não fique aí sentada. Vamos andando, eu não disse isso e me sentei ao seu lado.

— Por que não gosta do Senhor Zenon? Para ser sincero, ele é um maridão de tirar o chapéu.

— Você não me ouviu falando ainda? — perguntou Alexia, levemente irritada. — Odeio tudo nele. Odeio a existência dele.

— Quero dizer, ele é um espadachim especialista gostoso e com títulos, prestígio e dinheiro, sem contar que tem um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e uma boa personalidade. Também é popular com as meninas.

Alexia bufou:

— Sim, é o que parece. Qualquer um pode fingir. Pode me considerar como um exemplo.

— Uou, de repente fiquei completamente convencido.

Agora que mencionou isso, ela é super popular porque é mestra em usar uma máscara na frente dos outros.

— É por isso que não julgo as pessoas pela aparência.

— E o que avalia, então?

— Suas falhas. — Alexia sorriu, presunçosa.

— Que abordagem negativa. Combina perfeitamente com você.

— Bem, obrigada. E, só para ficar sabendo, não tenho nada contra você, mesmo que não tenha nada de bom.

— Obrigado. Nunca recebi um cumprimento que fez eu me sentir pior.

Ela riu secamente.

— Você é um lixo completo, e gosto disso. Também é por isso que não consigo suportar nosso instrutor.

— Quais são as falhas dele?

— Ele não parece ter.

— Me aparenta ser um partidão.

— Eu te disse antes: pessoas perfeitas não existem. Aposto que ele é um grande mentiroso ou alguém completamente louco da cabeça.

— Entendo. Obrigado pela resposta totalmente arbitrária e tendenciosa.

— De nada, meu totó falho. Agora, pega! — Alexia jogou uma moeda no ar e eu corri para pegá-la.

Ebaaa! Mais dez mil zeni. Tenho que pegar!

Enfiei a moeda no bolso e voltei até Alexia, que batia as mãos, feliz.

— Bom menino. — Ela esfregou a minha cabeça.

Paciência, disse para mim mesmo.

— Ohh, você odeia tanto isso. — Observou enquanto despenteava o meu cabelo.

Aproveitei esta oportunidade para me lembrar que ela era a pior.

— Posso ver o nojo em seu rosto — disse ela.

— Estou deixando que veja de propósito.

Alexia riu e se levantou.

— Tudo bem, vamos embora.

— Sim, sim.

— E, cachorrinho, pode anotar aí, vou acertar a minha espada de madeira na cara daquele maldito instrutor amanhã. Certifique-se de estar observando.

Isso fez com que eu fizesse outra pergunta:

— Você faria isso mesmo?

— O que quer dizer? — respondeu, virando-se para me olhar.

Acho que estou me intrometendo em algo que não deveria, mas não posso deixar essa passar.

— O Senhor Zenon com certeza é mais forte do que você, porém, não tanto a ponto de você não ser capaz de contra-atacar.

Gosto da forma com que maneja a espada. As habilidades dela evoluem a cada dia com seus esforços, um passo de cada vez. Mas, em uma luta de verdade, haveria muitos movimentos extras. Eu odiaria ver isso manchar sua esgrima, até porque acho que é boa.

— Faz parecer tão fácil, mesmo que seja você quem está usando branco.

— Não se importe comigo. São apenas os murmúrios de um iniciante.

— Tudo bem, vou te contar a verdade. Não é tão fácil quanto acha.

— Hmm?

— Não tenho talento. Nasci com uma quantidade boa de energia mágica e trabalhei duro para chegar onde estou. Acho que estou boa agora, mas sei que não tenho chance contra um verdadeiro gênio.

— Talvez.

— Sempre fui comparada com a minha irmã mais velha, Iris. Todo mundo espera grandes coisas de mim. E, mais importante, respeito ela e quero chegar ao seu nível. Porém, percebi que jamais serei tão boa assim. Quero dizer, não nascemos com chances iguais. Tentei meu melhor para ficar mais forte, entretanto, acho que já sabe como as pessoas descrevem o meu estilo de luta.

Havia uma certa frase que sempre era dita quando as duas irmãs eram comparadas.

— A esgrima de uma amadora.

— Isso mesmo. E a sua também é. Que má sorte. — Alexia mostrou um sorriso pretensioso.

— Não acho que é má sorte, pois gosto da sua esgrima.

Ela reagiu ao segurar a respiração por um momento e fazer uma carranca.

— Já me disseram isso. Foi a Iris, quando me deu uma surra na arena do Festival Bushin. — Curvou os lábios e imitou a sua irmã: — “Gosto da sua esgrima”. Ela não me entende nem um pouco. Me senti patética e ela nem percebeu. Desde então, sempre odiei a forma como luto.

Alexia sorriu, mas eu não sabia o motivo, pois tinha certeza de que não estava feliz.

Tinha algo que eu precisava contar a ela. Se não dissesse agora, estaria apunhalando a mim mesmo pelas costas.

— Sabe, sou tão apático quanto pensam que sou. Se ocorrer uma catástrofe que acabará com um milhão de pessoas do outro lado do mundo, não me afetaria. Se você endoidasse e se tornasse uma assassina em série, não me incomodaria — falei.

— Se eu perdesse a cabeça, você seria a primeira pessoa que eu mataria.

— Mas, há certas coisas com que eu me importo. Podem ser insignificantes para os outros, porém, para mim, são mais preciosas do que qualquer outra coisa. Vivo essa vida para protegê-las e por este motivo  estou falando sério ao te dizer isso.

Uma simples frase.

— Gosto da sua esgrima.

Depois de um breve silêncio, Alexia respondeu:

— E daí?

— Nada. Acho que só queria dizer que me incomoda quando outras pessoas falam do que eu posso ou não gostar. Só isso.

— Entendo. — Ela girou sobre os calcanhares. — Hoje vou para casa sozinha.

E, então, foi embora.

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— Faz um tempo desde que nós três comemos juntos — disse Bat, o Traidor.

— É porque ele está comendo com a princesa todo o dia — adicionou Esquel.

— Essas merdas acontecem — falei.

É a primeira vez depois de um longo tempo que nós três nos reunimos no refeitório. Alexia não estava ali, o que era raro.

— Qual é, Cid, se anime.

— Sim! Homens de verdade não guardam rancor, sabia?

— Até mesmo compramos o almoço para aristocratas falidos hoje, custando novecentos e oitenta zeni.

— Por nossa conta! Vamos deixar o passado no passado e ser amigos novamente.

— Já chega, beleza. — Soltei um suspiro forte.

— Isso aí, esse é o nosso cara!

— Obrigado por nos perdoar, Cid.

— Tanto faz.

— Então, até onde você foi? — perguntou Esquel, segurando sua euforia.

— Como assim?

— Bem, você fez aquilo lá com a princesa? Já faz duas semanas que estão saindo, então devem ter feito algo.

Sei que estávamos prestes a ter uma conversa idiota baseando-me apenas no fato de que ele disse “aquilo lá”.

— Não fizemos nada. Isso jamais aconteceria.

— Hm. Você é um cagão. Eu teria ido até o final, com certeza.

— Né? Eu teria dado um beijinho… no mínimo.

— Já disse, nossa relação não é assim. — Desviei da pergunta e assenti com a cabeça indiferentemente durante a conversa enquanto mastigava.

— Pode nos dar licença por um momento?

O marombado loiro, Senhor Zenon, apareceu.

— Sim, é claro!

— Com toda certeza!

Com isso, os meus dois companheiros misturaram-se mais uma vez ao fundo.

— Posso ajudá-lo? — perguntei, ligeiramente preparado. Estou ciente de que ele pode puxar algo enquanto Alexia não está por perto.

— Sim. Você pode já estar sabendo, mas Alexia não voltou para o dormitório desde ontem.

Essa foi a primeira vez que ouvi isso. Imaginei que tinha ido em uma jornada para encontrar a si mesma ou algo do tipo. Parecia já estar na época de fazer isso na idade dela.

— Estava procurando por ela esta manhã quando encontrei isso. — O Senhor Zenon segurava um sapato loafer em uma das mãos.

Era o de Alexia.

— Há evidências de luta nas proximidades. A Ordem dos Cavaleiros está investigando o caso como um possível sequestro.

— Sem chance…! — gritei atormentado enquanto vigorosamente erguia um punho para cima em minha mente.

Ha! Bem feito, princesa!!

— Diminuímos os suspeitos até chegarmos à pessoa que esteve em contato com ela por último. — O Senhor Zenon me encarava diretamente nos olhos. — A Ordem dos Cavaleiros gostaria de ter uma conversa com você.

Percebi que toda a Ordem estava equipada, ameaçadoramente em frente à entrada do refeitório.

— Assumo que você irá cooperar, não é mesmo?

Foi então que percebi.

Nada bom.

 


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Vol. 01 – Cap. 02