Dark?

Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas

A+ A-

Foi combinado que, após a noite inicial, Rem seria paga a cada dez dias. E hoje marcava o fim de seu segundo período de dez dias.

— Gerente, tem certeza de que isso não é muito?

O peso do saco cheio de moedas que recebeu confundiu a elfa. Chamar isso de duas vezes mais pesado do que o primeiro pagamento seria exagero, mas estava perto. A única explicação que ela conseguiu encontrar para esse repentino aumento era um erro de contabilidade.

— Não, não há engano. Comparado a como isso era antes da sua chegada, atualmente quase não há brigas acontecendo. Os pratos e as mesas também não estão sendo quebrados com tanta frequência, e isso é de grande ajuda. Além disso, essas últimas semanas foram uma espécie de período de treinamento, então pense nisso como o seu salário mais adequado.

— Bem, nesse caso… — disse Rem enquanto aceitava o dinheiro com toda a gratidão. Sabendo o que o futuro poderia lhe reservar, não tinha como rejeitar.

Quando a elfa enfiou a bolsa de dinheiro no fundo do bolso, a porta do bar foi aberta. Entrou um homem, vestindo uma capa preta e um enorme chapéu. Ele parecia um viajante e, com base em seu cabelo branco e bagunçado, era bastante velho. Tanto Rem quanto o gerente ficaram bastante surpresos, já que nenhum cliente costumava aparecer no raiar do dia. Com as palmas das mãos juntas em um sinal de desculpas, o gerente aproximou-se do estranho.

— Sinto muito~. Estávamos quase fechando ~.

— Entendo… — resmungou o homem em resposta e começou a se virar. Entretanto, ao ver Rem de canto de olho ele virou para trás. — Espera, será que… Você é aquela meio-elfa?

Com um olhar confuso em seu rosto, Rem inclinou a cabeça e apontou para si mesma, como se perguntando “eu?” Seu cuidado, que vinha diminuindo sem parar nos últimos doze dias, estava agora totalmente de volta.

— Al, Al! Al!!

Rem voltou para a pousada, ofegante. Ela precisava compartilhar a boa notícia com Alferez o mais rápido possível.

— Rem, o que houve? Você voltou mais tarde do que o normal.

A princesa, sentada na beira da cama com o seu vestido, virou a cabeça em direção à elfa com um gesto elegante. Em seu colo estava um grimório de nível elementar que Rem tinha comprado em outro dia para que ela pudesse suportar o tédio. De qualquer forma, seu comentário foi certeiro; já era quase meio-dia. Ela costumava voltar para casa mais cedo. Mas não era como se a essa altura isso importasse. A informação que Rem finalmente conseguiu obter era tão boa que essas perguntas poderiam esperar até depois.

— Achei! Achei a bruxa que colocou a maldição em você! Bem, para ser precisa, um viajante humano que disse conhecer algum especialista em maldições foi ao bar, e…

Embora o aventureiro todo vestido de preto parecesse suspeito, na verdade tinha vindo de uma cidade vizinha após escutar os rumores de uma garota meio-elfa procurando por uma bruxa. Rem não pôde deixar de ficar animada.

No entanto, essa empolgação foi rapidamente sufocada. Alferez quase não reagiu. Esse era exatamente o tipo de informação que estavam procurando, mas ela não parecia nem um pouco interessada.

— Al, você está ouvindo?

— H-huh? Claro que estou!

Claramente não gostando da nota de acusação no tom de Rem, a princesa endireitou as costas. Sendo assim, a sua atitude apaixonada que persistiu desde o início da jornada estava longe de ser vista.

— Bem, conhecendo você, eu esperava que ficasse… mais feliz. Mais tipo “Uau, Rem! Sério?!”

— É assim que você me enxerga?

Alferez sorriu ironicamente ante a tentativa de Rem de imitá-la. Ela não parecia estar de mau humor, embora a elfa ainda desejasse que a princesa a elogiasse abertamente.

Isso talvez tivesse acontecido tão de repente que a garota não soube como reagir. Não era que fosse algo ruim. Mas, em vez disso, vê-la toda surpresa faria com que toda a luta de Rem valesse à pena.

Ou talvez…

A vida de Alferez na pousada se resumia ao que sempre tinha sido: confinamento. Ela tinha voltado a ser trancafiada em um ambiente chato, e fazia sentido supor que graças a isso não tinha emoções. Pensamentos ruins de repente preencheram a mente de Rem. Ela foi tomada pela culpa e caiu de joelhos.

— O-o que houve?!

Alferez ficou muito chocada com a repentina mudança de atitude de Rem.

— Sinto muito, Al… Se eu tivesse encontrado a bruxa antes, então…

— Por que você está falando como se já fosse tarde demais? Independentemente de qualquer coisa, você a encontrou muito rápido.

O sorriso brilhante em seu rosto era de fato tão elegante quanto seria esperado de uma princesa, mas ela ainda não estava agindo como de costume. Só então, talvez tendo percebido por si mesma, a garota fechou os olhos e soltou um enorme suspiro. Ela então se levantou e olhou para Rem, ainda agachada no chão.

— Pois bem, então vamos indo.

— Indo? Aonde?

— Para pedir mais detalhes, é claro. Se eu for junto, você vai poupar o trabalho de ter que repetir tudo. Agora, Rem, guie-me até aquele humano!

Alferez esticou o braço com um movimento exagerado e apontou para a porta. A elfa ficou feliz ao vê-la tão motivada, mas infelizmente havia um problema. Ela colocou a bunda na cama, ergueu o dedo e corrigiu o erro da garota.

— Bem, o bar já está fechado. Ele disse que voltaria esta noite.

Entretanto, a princesa ficou claramente insatisfeita com isso. Ela deu um olhar penetrante em Rem e afirmou:

— Você perguntou onde podemos encontrar a bruxa, certo…?

— Digo, você não acabou de dizer que queria ouvir direto dele? Achei que seria rude perguntar a mesma coisa duas vezes, por isso que pedi para que ele voltasse mais tarde.

— Por quê?!

Ela ficou furiosa. Mas por quê? Não era exatamente isso que ela queria?

— Poxa, para de ser apressada. Eu só não tinha chegado nessa parte.

Rem fez beicinho e rebateu a repreensão absurda da garota. Ao fazer isso, Alferez começou a se envolver ainda mais.

— E-eu não estou apressada! Enfim, por que precisamos esperar?! Vamos perguntar agora mesmo! Em que pousada esse viajante está hospedado?

— Huh? Eu não perguntei.

— Droga!!

Por quão desinteressada a princesa parecia antes, com certeza estava agindo como uma criança, pensou Rem. Entretanto, ela falou cedo demais, já que Alferez ainda não estava preparada para esse tipo de informação. Com os punhos tremendo no ar, a garota começou a gritar. Que temperamento horrível. A elfa finalmente entendeu porque ela tinha sido transformada em uma gata.

Bem… Acho que fui eu quem disse para ela ficar mais feliz.

Embora a reação de Alferez não tenha sido exatamente o que Rem esperava, a falta de reação era ainda mais estranha.

Depois de um tempo, chegou a hora da elfa começar a trabalhar. O viajante havia prometido estar lá, por isso Alferez a acompanhou. A elfa pediu que ela colocasse alguma fantasia para se certificar de que ninguém perceberia que era uma princesa. Sua sugestão foi de ir como uma cavaleira, mas a garota tinha outras ideias.

— Pois bem, já que estou carregando esta bolsa, por que não me visto como uma viajante?

Embora ela tenha passado a maior parte do dia fazendo beicinho, sua atitude mudou no mesmo instante que começaram a se preparar para sair. Porém, o disfarce era terrível, ainda mais ao se considerar que as duas eram verdadeiras viajantes. Ainda assim, Rem não queria ser muito dura com ela. A garota já não saía há algum tempo e, como parecia tão feliz, a elfa decidiu deixar que fizesse como bem entendesse.

As duas chegaram ao bar mais cedo do que Rem normalmente comparecia. Felizmente, o gerente sabia que chegariam nesse horário e já tinha aberto o estabelecimento.

— Muito obrigada por fazer isso em nosso favor…

— Não se preocupe com isso. Quando tem um pouco de comida e bebida envolvidas, fica mais fácil fazer as pessoas falarem, certo?

Rem se forçou a rir. A oferta do gerente de deixá-la usar o bar parecia generosa, mas, no fim das contas, ele não planejava fazer isso de graça. Parecia que Rem precisaria comprar algumas bebidas como compensação.

Só então, aparentemente tendo ouvido de algum lugar que o bar estava abrindo mais cedo, os clientes regulares entraram em marcha. Havia muito mais do que o normal e, em pouco tempo, todos os assentos foram ocupados.

— Então, isso é um bar…? — disse Alferez com uma cara-fechada. O lugar era barulhento, cheirava a álcool e havia bêbados em todo canto que olhava. Se comparado com a aldeia dos elfos ou o castelo no qual as duas garotas passaram a maior parte de suas vidas isoladas, este era um mundo completamente diferente. Até mesmo Rem precisou de algum tempo para se ajustar; era demais para a princesa.

— Espere aqui.

A elfa guiou Alferez até uma mesa no canto, já que o viajante ainda não tinha aparecido. Entretanto, quando estava prestes a se afastar e começar a trabalhar, a garota agarrou a sua manga com olhos que imploravam um “não vá”.

— V-v-você p-planeja me d-deixar aqui s-s-sozinha?! — disse ela, gaguejando tanto que chegava a ser cômico. Rem não podia culpá-la. Fazia sentido que ficasse ansiosa por ser deixada sozinha em um lugar com tantos caras que pareciam não estar tramando nada de bom.

— Certo… Vou perguntar ao gerente se você pode ficar na cozinha… Ah, ali está ele! Olha, Al! Bem ali!

A porta foi aberta e um viajante usando uma capa preta entrou. Rem deu um aceno de mão para ele, e o homem habilmente abriu caminho até ela, mesmo com o caos que havia no salão. Ele então tirou o chapéu, levou-o ao peito e cumprimentou as garotas.

— Como vai, jovem meio-elfa? Poderia ser esta a moça que você disse que gostaria de ouvir o que tenho a dizer?

Assim que terminou, o homem se sentou em frente a Alferez. A princesa logo recuperou a compostura e, com uma voz consideravelmente mais baixa do que a de sempre, começou a questionar o estranho.

— A qual palácio real você serve?

Foi então que Rem percebeu. Os maneirismos do homem eram de classe muito alta para um simples viajante.

— Certo. Eu costumava ser um cavaleiro, embora não possa dizer onde. Porém, há muito tempo estou aposentado assumindo uma vida de viajante. O país de onde venho é muito avançado em termos de pesquisas mágicas, é por isso que tenho um palpite de quem poderia ser a bruxa que a jovem meio-elfa procura.

Ao terminar de falar, o homem ergueu o dedo para pedir uma cerveja.

— Um homem não pode simplesmente vir a um bar e não pedir nada, pode? Vocês não me pagarão uma cerveja? Pensem nisso como o preço pela informação.

Alferez acenou com a cabeça e enviou Rem à cozinha para buscar o pedido. Quando chegou, a elfa foi recebida por um gerente de testa franzida e braços cruzados. Ele estava resmungando para si mesmo, como se tentasse se lembrar de algo.

— Algum problema, Gerente?

— Não, tudo bem. Eu só estava pensando se já tinha visto aquele cara antes… — disse ele enquanto olhava para o cavaleiro de capa preta.

— Bem, nós recebemos muitos clientes. Você não pode já ter visto alguma pessoa parecida com ele?

— Não, não acho que o vi por aqui… Droga, eu gostaria de conseguir lembrar.

— De qualquer forma, pode, por favor, anotar os pedidos enquanto eu falo com ele? Isso é muito importante mesmo. Não vou demorar a voltar.

— Claro… Espere, quem vai cuidar da cozinha?!

Rem se desculpou furiosamente, dizendo que não demoraria muito, e correu de volta para a mesa onde Alferez a esperava. Ela colocou um grande caneco de cerveja que trouxe consigo diante do homem, que começou a beber de uma só vez. As duas garotas olharam maravilhadas quando o líquido rapidamente desapareceu descendo pela garganta do cavaleiro. Ele olhou para elas e começou a falar calmamente.

— A bruxa que você procura é provavelmente uma velha bruxa chamada Galina, que vive no Monte Kedros. Trata-se de uma especialista em maldições e, pelo que ouvi falar, não há trabalho sujo demais para ela.

Rem ofegou bem alto. A bruxa batia perfeitamente com a descrição. Ela virou a cabeça para Alferez, mas, para a sua surpresa, a garota não parecia muito feliz. Em vez disso, parecia até zangada. E, ao mesmo tempo, um pouco solitária.

— Galina do Monte Kedros, hein? Muito obrigada. Eu realmente não esperava ser capaz de obter o nome dela e tudo mais.

A princesa curvou-se profundamente e Rem logo a imitou. O homem ergueu um pouco a mão, como se dissesse que não havia necessidade para agradecimentos, e riu.

— Não, não. Não foi nada. Podemos dizer que isto é, na verdade, meu pedido de desculpas a vocês. Achei que precisava te dar ao menos alguma esperança.

— Desculpas? Esperança?

O que o homem quis dizer com isso? Rem parecia confusa, assim como Alferez.

— A verdade é que recebi uma outra missão relacionada à mocinha. A meio-elfa, disseram-me que eu poderia ficar com ela como parte da minha recompensa.

O cavaleiro pegou a espada antes mesmo que qualquer uma das duas pudesse compreender as suas palavras. Sua fala tinha chamado a atenção de Rem e, assim que ela percebeu o que estava acontecendo, a lâmina afiada já estava indo em direção à sua cabeça. Não teria tempo para se esquivar.

— …!

Entretanto, uma fração de segundos depois, continuava viva. Uma bandeja de metal voadora passou direto sobre a sua cabeça e acertou o pulso do homem, parando o seu ataque. Com a espada mal posicionada em suas mãos, ele virou a cabeça na direção de onde o objeto tinha surgido. Ao fazer isso, viu o gerente se preparando para jogar a próxima bandeja.

— Rem, esse homem é um assassino! Ele está vestido como um cavaleiro, é por isso que demorei um pouco para lembrar!

— Tsk! — o homem estalou a língua em resposta. Ele provavelmente não esperava que houvesse alguém presente que o conhecesse. Então voltou-se para Rem e preparou a sua espada para o próximo golpe.

— Exatamente. Fui contratado por Sua Majestade para encontrar vocês, pirralhas. Ah, mas não se preocupem. A coisa sobre a bruxa é verdade. Entretanto, o único lugar que  a princesa irá, é ao castelo, junto comigo. Quanto à meio-elfa… Sim, você será um excelente brin… Gueh!

O homem, depois de lamber o corpo de Rem com os olhos, deixou a espada cair no chão e começou a segurar a própria cabeça.

— Quem diabos… me acertou…?

Ele se virou para olhar para trás e, ao fazê-lo, o fogo em seus olhos se extinguiu. A razão era simples; um anão segurando um enorme porrete o havia atingido, e havia também uma dúzia de outros clientes o cercando.

— Você acabou de dizer que transformaria a nossa Rem no seu “brinquedo”?

— Acha mesmo que vamos deixar você se safar dessa, hein?!

Rem ficou tão chocada quanto ele. As pessoas estavam todas a protegendo. Antes que pudesse perguntar o motivo para isso, o gerente bateu no seu ombro.

— Achou que poderia simplesmente colocar as mãos em uma das minhas funcionárias? Se foi, então com certeza tem coragem para começar uma briga em um bar lotado de caras durões… Fingir ser um cavaleiro te deixou todo convencido, huh? Agora, então, garotos, peguem-no!

Os clientes cercando o homem atacaram assim que o gerente deu o sinal. Ele tentou pegar uma adaga, mas como estava em uma enorme desvantagem numérica, a arma logo foi tomada. Não demorou muito para que o falso cavaleiro começasse a clamar por misericórdia.

Nesse momento, a porta foi aberta com um chute e um grupo de soldados entrou. Vendo como correram para ajudar o homem, pode-se presumir que já estavam esperando do lado de fora. Parecia que o seu plano original, seja lá qual fosse, tinha falhado, e era chegada a hora de usar a força. Entretanto, não chegaram reforços suficientes para mudar a maré de batalha a seu favor. Se estivessem usando armadura, por exemplo, a situação poderia ser diferente, mas não estavam. Assim sendo, embora tivessem aparecido para ajudar o homem, até os soldados acabaram gritando por ajuda. Alimentos e bebidas voaram por todos os lados, e o som de cadeiras e garrafas quebrando preencheu o local.

— Rem, o que devemos fazer…?

— N-não me pergunte!

Alferez estava assustada. Embora as brigas fossem algo comum no estabelecimento, foi a primeira vez que Rem viu uma tão feia. As duas garotas ficaram congeladas, até que alguém as puxou para a cozinha.

— Por que as duas estão aí paradas?! Apressem-se e corram!

— Mas, Gerente, a culpa disso ter acontecido foi nossa…

— Não, você está errada! A culpa não é sua, Rem, é minha! Além disso, brigar com os guardas do castelo vai acabar te colocando em apuros depois!

— Argh! Vocês duas, agora não é hora para se preocupar com isso!

Embora nem Alferez nem Rem quisessem deixar a bagunça que sentiam ter criado para trás, não tinham muita escolha, já que o gerente as empurrou pela porta dos fundos.

— Preocupem-se primeiro com a própria segurança, depois com a nossa. Ter um assassino no encalço de você já é um problema bem sério.

Com um olhar muito mais sério do que qualquer coisa que tinha mostrado antes, o gerente bateu a porta com força. As duas garotas ficaram congeladas onde estavam, ainda capazes de ouvir os rugidos e sons de coisas quebrando lá dentro.

— Como você mesmo disse, temos os nossos objetivos. Entretanto, não há como permitir que todos se envolvam e logo depois fu… Hyaah?!

O gerente não estava interessado em ouvir o protesto de Alferez. Ele ergueu a garota como se ela fosse feita de penas e a colocou na parte de trás de uma carruagem estacionada do lado de fora do bar. Todos aqueles anos carregando e descarregando as mercadorias do estoque fizeram dele um mestre nisso, e antes que Rem pudesse abrir a boca, também foi lá colocada.

— Gerente!

A elfa tentou pular, mas o homem a empurrou de volta. Ele então fechou um dos olhos, sorriu um pouco e afirmou:

— Certo, ouçam bem. Brigas com soldados não são coisas tão raras por aqui. Além disso, um olhar para vocês já é o suficiente para me dizer que não fizeram nada de errado. Os Barmen são muito bons quando se trata de avaliar as pessoas, sabem?

— Mas… Nós causamos tantos problemas… — Rem pediu desculpas, assim como Alferez. O gerente só afagou a cabeça da elfa e entregou-lhe uma bolsa cheia de moedas.

— Este é um adiantamento do seu salário. Pode voltar a trabalhar assim que os ânimos acalmarem. Certifique-se de pagar pela viagem da carruagem, viu?

— Gerente…

Ela poderia só fugir e deixar todos para trás? Rem estava confusa e, embora suas mãos estivessem segurando as rédeas, não conseguia movê-las. Ela se virou e olhou para Alferez. A expressão no rosto da princesa era tão sombria quanto a sua. Entretanto, ao contrário da elfa, ela estava decidida. A garota colocou as mãos nos ombros de Rem e declarou:

— Vamos, Rem. Não podemos jogar a boa vontade de um homem no lixo.

Apesar das suas palavras, não havia dúvidas de que ela era a mais preocupada. Provavelmente só disse o que era preciso para tirar a responsabilidade dos ombros de Rem. Sabendo disso, a elfa mordeu o lábio e afastou qualquer hesitação.

— Nos veremos de novo.

O gerente acenou para elas enquanto sorria, e as duas garotas curvaram-se para ele. Rem então sacudiu as rédeas, fazendo o cavalo correr em direção ao pôr do sol.

Ao que parecia, o gerente e os demais tinham realmente dado tudo de si. Embora as garotas tenham precisado dormir ao ar livre, seus perseguidores não as alcançaram. A família real também não queria que o escândalo da fuga da princesa se tornasse público, o que significava que não deveria haver nenhuma punição muito pesada para os envolvidos na briga, disse  Alferez a Rem. E, no momento, a elfa não tinha escolha a não ser acreditar nisso.

— Mudando de assunto, este lugar é realmente bom.

Elas tinham decidido passar a noite na base de uma montanha, a uma boa distância da estrada principal. As grandes pedras cobertas de grama espalhadas ao redor formavam uma espécie de labirinto e serviam como uma excelente cobertura. O lugar, por enquanto, é ótimo para se esconder dos perseguidores.

— Precisamos mesmo voltar e pedir desculpas quando isso tudo acabar — disse Rem a Alferez; agora uma gata, em frente a uma fogueira que tinham preparado. Ela soltou um miadinho, aparentemente concordando. Era possível ouvir até uma pitada de tristeza no seu tom. Rem tinha certeza de que não era só na sua imaginação. Embora a garota pudesse às vezes parecer mal-humorada, ela estava mais ciente da sua posição como princesa do que qualquer outra pessoa. Não existiam dúvidas de que envolver aquelas pessoas em seus próprios problemas também a machucou profundamente.

Não é justo que ela tenha que passar por isso…

Qual era o problema em querer quebrar uma maldição estranha que a afetava? Nada. Outros poderiam até alegar que era egoísmo, mas Rem não. Ela nunca deixaria o lado da garota. Com esses pensamentos em mente, acariciou a cabeça da gata.

— Por que não vamos dar uma voltinha? — sugeriu a elfa depois de pegar alguns vegetais na carruagem para alimentar o cavalo. Embora no começo Alferez tivesse se comportado com desinteresse, uma vez que começaram a caminhar, tornou-se óbvio que ela estava com uma boa disposição para isso. As duas passearam pela grama, circularam pelas árvores e pularam alegremente de pedra em pedra. Depois de um tempo, chegaram a uma rocha consideravelmente maior, na qual Rem se sentou. A gata logo seguiu o exemplo e rolou para o seu colo.

Enquanto a elfa olhava para o céu estrelado e silencioso, mal podia acreditar que, há pouco, ambas estavam correndo pelas suas vidas. O peso suave da gata em suas coxas era tão bom. Ela talvez tivesse finalmente se acostumado a ver a garota desta forma. Rem a acariciou com gentileza e, ao fazer isso, uma estranha sensação de paz tomou a sua mente.

— Acho que é assim que eu me sentia quando a minha mãe me abraçava… Me pergunto o motivo. A Al não parece nada com ela…

Um sorriso se formou no rosto de Rem e uma pulsação dolorosa tomou o seu peito. Lembrar de sua mãe por algum motivo a fazia se sentir mais feliz do que triste.

— Al… Quero ficar com você, para sempre…

Essas palavras escaparam da boca de Rem. Embora não pudesse responder no momento, a garota iria, sem dúvidas, graças a essas palavras, provocá-la na manhã seguinte. E a atmosfera noturna também tinha feito a elfa ficar mais falante.

— Ei… Mesmo se você ficasse para sempre como uma gata, eu…

Quando Rem percebeu o que estava prestes a dizer, cobriu a boca com as mãos e parou de falar. A gata inclinou o pescoço, então estendeu a patinha para a elfa e lambeu a sua mão. Ela não podia falar e, por isso, Rem não tinha como dizer que tipo de respostas isso devia ser. Entretanto, não parecia estar com raiva, e isso fez a elfa suspirar de alívio, o tempo todo se arrependendo por ser tão descuidada com o que dizia.

— Sinto muito. Não vou mais falar essas coisas estranhas. De qualquer forma, vamos dar o nosso melhor. Não quero desperdiçar a ajuda do gerente.

Olhando para as estrelas lá no céu, ela reafirmou a sua determinação. E, ainda assim, não ouviu nenhuma resposta de Alferez, sequer um miado. Quando Rem olhou para baixo, notou que a gata já tinha adormecido. Ela estava, sem dúvidas, exausta. A elfa a pegou lentamente, tomando cuidado para não a despertar, e a colocou perto da fogueira. Ela então pegou alguns cobertores da carruagem, espalhou-os pela grama macia e, dividindo calor com o corpo quente de Alferez, também adormeceu.

 


Tradução: Pimpolho

Revisão: Guilherme

 

💖 Agradecimentos 💖

Agradecemos a todos que leram diretamente aqui no site da Tsun e em especial nossos apoiadores:

 

  • Decio
  • Exon
  • Nyan
  • Leonardo
  • Kovacevic
  • Another
  • Rafa
  • Tat
  • Raphael Conchal
  • Lyo
  • Morningstar
  • Bamu
  • Gabriel Felipe
  • Thiago Klinger
  • Diego
  • Enrig
  • Leonardooc
  • Rodemarck
  • Rublica
  • Cael
  • Khan Sey Jah

 

📃 Outras Informações 📃

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!

 

 

Tags: read novel Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas, novel Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas, read Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas online, Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas chapter, Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas high quality, Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas light novel, ,

Comentários

0 0 votos
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Mais antigo
Mais recente Mais votado
Inline Feedbacks
View all comments
Cap. 04.1
Content Warning
Aviso, a obra "Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 04.1 – O Segredo que Foi Escondido Delas" pode conter violência, sangue ou conteúdo sexual impróprio para menores.
Entrar
Sair