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Uma Elfa Lésbica e Uma Princesa Amaldiçoada – Cap. 03.1 – A Elfa e a Princesa Partem em uma Jornada

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Alferez dormia na mesma cama que Rem desde o dia em que fizeram amor na nascente, e esta noite não era exceção. Ela se deitou ao lado da elfa, enrolada em uma bola branca e peluda, enquanto ronronava suavemente durante o sono.

— Ela é um bebê~. É como se agora eu tivesse uma irmãzinha para tomar conta.

Irmãzinha. Foi então que Rem percebeu a verdadeira natureza das estranhas emoções que provou na nascente. As duas eram iguais; ambas foram expulsas do lugar que costumavam chamar de lar. A simpatia que sentiam uma pela outra deve ter feito seus sentimentos começarem a se assemelhar àqueles entre irmãs. Com esse problema resolvido, se sentiu um pouco mais relaxada.

— Agora, então, o mais importante… — disse Rem enquanto voltava a pensar, acariciando lentamente as costas da gata branca brilhando ao luar.

Ela havia prometido dar tudo de si para ajudar a quebrar a maldição, o que, convenhamos, não era muito. Bem, havia ao menos uma maneira da qual poderia ajudar; se a maldição se revelasse poderosa demais para elas, poderiam caçar a pessoa que a lançou. Conforme havia ouvido de Alferez, a garota havia se transformado em gata no seu décimo quinto aniversário, exatamente quando seu primeiro noivado havia sido estabelecido. Quem estava por trás – ou assim reivindicara – era uma bruxa velha que Alferez nunca tinha visto.

— A maldição ter sido lançada no aniversário dela e quando estava prestes a se casar é muito coincidência. Pelo menos uma dessas coisas deve estar de alguma forma relacionada a isso.

Rem foi capaz de pensar em duas possibilidades. Uma: foi uma tentativa de sabotagem de algum país estrangeiro. O objetivo seria apenas impedir o casamento de Alferez, e a bruxa foi contratada só para isso. Duas: a bruxa estava trabalhando sozinha. Será que ela guardava algum rancor da princesa?

— Ou talvez dos pais dela…

Parecia bem possível que alguém que quisesse se vingar da família real, ou seja, do rei e da rainha, escolhesse como alvo a princesa, a filha deles. Rem tinha ouvido falar que quinze anos era a idade em que as princesas humanas costumavam se casar. A bruxa pensou que atrapalhar o casamento da garota seria uma boa forma de acertar as contas?

— Isso sim é o que eu chamo de uma dedução perfeita — afirmou Rem com orgulho. Por mais tênues que fossem as linhas, se as seguisse com cuidado, poderia resolver qualquer mistério.

— Agora, então, vamos reunir algumas pistas, né.

Rem caminhou em silêncio pela cidade, aproveitando a escuridão da noite. O capuz de seu robe escondia o seu rosto. Era a terceira vez visitando o lugar, mas também a primeira que conseguia andar com liberdade.

Seu objetivo? O castelo gigante erguendo-se à sua frente.

Quando aproximou-se da construção, duas luzes em movimento de repente apareceram meio longe. Eram as tochas de um par de guardas noturnos patrulhando a área. Rem logo deslizou por um beco e esperou que os homens passassem. Por sorte, eles estavam ocupados demais para notá-la e, a julgar pelo cheiro, também deviam estar bêbados.  Cruzar com pessoas suspeitas devia ser algo bem raro e, como resultado, não estavam prestando atenção nas coisas.

É igual em todo lugar, hein…?

Olhando para os guardas desmotivados, Rem não pôde deixar de lembrar do trabalho que fazia na sua aldeia. Provavelmente também faria o mesmo, caso não fosse odiada por ser uma meio-elfa.

— Bem, parece que não terei problemas para entrar no castelo. Valeu, caras.

Rem agradeceu aos guardas que já estavam se afastando da sua localização. Enquanto o número deles aumentava conforme ficava mais perto do castelo, a elfa habilmente evitava todos. Entretanto, logo deparou-se com outro problema; a ponte levadiça que conduzia ao fosso do castelo havia sido erguida, e as muralhas pareciam ser altas demais até mesmo para os saltos de Rem.

— Que bom que eu conheço uma rota secreta~.

Outro dia ela tinha ouvido Alferez falar sobre um buraco nas muralhas do castelo. Pelo visto, uma parte delas havia sido quebrada há alguns anos, mas não foi tocada devido aos altos custos para reparos. E não era só isso, os escombros que caíram ainda estavam no fosso, tornando algumas partes bem rasas.

— Aham, ela não estava brincando, achei o buraco. Mas… está escuro demais para eu ver qualquer coisa através da água!

Embora Rem preferisse pular o fosso usando os pedaços de entulho como plataformas, isso não parecia ser possível. Decidindo seguir com o plano original, ela tirou as roupas, as colocou sobre a cabeça e pulou para nadar.

Rem cruzou o fosso sem qualquer problema e logo estava dentro do castelo. Ela então pulou em um telhado, isso estava se tornando o seu modus operandi. Nenhum guarda estava olhando para aquele lado, é claro, e a elfa rapidamente alcançou o cômodo que estava em sua mira.

— Não gosto do quão boa fiquei nisso… Isso faz eu me sentir como uma ladra…

Ela se sentiu verdadeiramente patética, mas logo lembrou a si mesma que isso era tudo por Alferez. Com o capuz cobrindo os seus olhos, virou para a janela e bateu nela. A moça lá dentro, lendo um livro e usando camisola, deu um pulo com o susto.

— Vossa Alteza, presumo?

Parecia ser uma mulher de meia-idade. Possuía um queixo duplo e também parecia, no geral, um pouquinho rechonchuda. Essa era mesmo a mãe de Alferez?

Ela não parece nem um pouco com a Al…

Seja como fosse, se encaixava na descrição que Rem havia recebido da garota. Além disso, o olhar penetrante em seus olhos deixou claro que não deveria ser subestimada. Com movimentos muito mais ágeis do que se esperaria ao levar em conta a sua aparência, ela agarrou um sabre que estava pendurado na parede e apontou para a elfa sentada atrás da janela.

— Quem é você…?

Rem mal podia ouvi-la do outro lado do vidro, mas teria que fazer algo. Precisava ser rápida e começar a agir antes que a mulher chamasse os guardas.

— Por favor, não se preocupe, não sou suspeita. Bem, acho que meio que sou… De qualquer forma, sinto muito mesmo por incomodar Sua Alteza a essa hora, mas existem coisas que eu gostaria de perguntar a respeito da maldição que foi lançada sobre a Princesa Alferez.

Ela enfatizou a palavra maldição, recebendo um olhar tenso da Rainha. A mulher passou um momento decidindo se confiava ou não nesta pessoa misteriosa, até que abriu a janela e convidou Rem a entrar.

— Muitíssimo obrigada. Parecia que falar pela janela seria um saco — disse a elfa ao pular no chão, o sabre da mulher ainda apontado em sua direção. Porém, ela não ficou realmente surpresa; era uma recepção bem calorosa, conforme já devia esperar. Rem ergueu ambas as mãos, mostrando que chegara desarmada.

— Sua Alteza, você não divide o quarto com o rei?

— Não, não divido. As coisas são assim para impedir que assassinos como você matem nós dois.

— Entendo… Sim, acho que isso é algo que deve ser levado em conta quando se faz parte da realeza… Ah, mas não precisa se preocupar. Não sou uma assassina. Como falei, estou aqui só para perguntar por que a Princesa se transforma em uma gata.

Rem tinha feito o possível para falar da maneira mais amigável possível, para fazer com que a Rainha relaxasse a guarda, mas parecia que o tiro saiu pela culatra. A mulher estava ficando, a cada instante, claramente mais desconfiada.

Eu deveria ter sido mais honesta?

A expressão no rosto da Rainha ficou severa. Ela continuava com sua espada apontada para Rem, parecendo que poderia cortar a elfa pela metade a qualquer momento. Entretanto, ainda não tinha chamado os guardas. Rem inclinou a cabeça um pouco para o lado, sabendo que estava no caminho certo.

— Diga o seu nome. Qual país te enviou até aqui? — perguntou a Rainha com um olhar determinado. Embora a princípio a elfa tenha ficado um pouco confusa com a pergunta, as engrenagens em sua cabeça logo começaram a girar, e ela percebeu exatamente o que a mulher queria dizer.

Pouquíssimas pessoas dentro do país sabiam a verdade sobre a maldição, dissera Alferez. Entretanto, como a Princesa se transformar em gata foi a razão dos seus divórcios, poderia seguramente incluir os seus ex-maridos nessa lista. Em outras palavras, a Rainha presumiu que Rem fosse uma agente de um desses países. Isso explicaria a sua estranha disposição a permitir que uma visitante misteriosa entrasse em seu quarto no meio da noite.

Nem pensei nisso…

A Rainha provavelmente teria a matado na mesma hora no caso de esse mal-entendido não ter ocorrido. Embora Rem pudesse sentir o suor frio escorregando por suas costas, sabia que tirar vantagem disso seria a sua única opção.

— Infelizmente não posso divulgar essa informação. Entretanto, o que posso dizer, Sua Alteza, é que meu rei sente muita pena da Princesa e deseja oferecer o seu apoio.

Nada disso era verdade, é claro. Rem não era uma mensageira secreta ou qualquer coisa do tipo e, assim sendo, não tinha absolutamente nenhuma ideia de como deveria falar em uma situação dessas. Estava tentando o máximo de si para encontrar uma forma de fazer a Rainha lhe contar o que ela queria saber, o tempo todo preocupada em ver sua trama ser descoberta.

— Por que a Princesa foi amaldiçoada? Por quem? Como a maldição pode ser quebrada? Se souber a resposta para qualquer uma dessas perguntas, então por favor…

— E você faria exatamente o que com essa informação? Nada. — interrompeu a Rainha. Havia algo em seu tom que deixou Rem fisicamente desconfortável, quase como se tivesse tomado um banho de água fria.

— Mas… A Princesa e, por extensão, toda a família real com certeza precisam de ajuda, não…

— Isso com certeza é bastante problemático. Entretanto, não há nada que possa ser feito. Essa maldição é algo que poderia ser chamado de carma. Diga ao seu país que eles não querem ser envolvidos nesse assunto por vontade própria.

Rem pôde então confirmar. Não havia qualquer paixão na maneira de falar da Rainha. Ela parecia completamente desinteressada. Embora fizesse sentido que não pudesse confiar em uma visitante desconhecida, todo o seu comportamento com certeza era estranho.

— Quer dizer que… não planeja quebrar a maldição?

Essa era mesmo a mãe de Alferez? O disfarce de Rem estava aos poucos indo por terra, já que a irritação a dominava. O tom de sua voz também havia meio que retornado ao normal. E, ainda assim, a Rainha parecia não se importar.

— Convenhamos. Eu adoraria quebrá-la, mas, infelizmente, não possuo os meios para fazer isso.

Que tipo de motivo para desistência era esse? Ela havia enviado o capitão da guarda real para fazer uma visita a Alferez após o festival e, assim sendo, devia saber da terrível experiência pela qual a garota havia passado. E essa era a sua reação? Essa fria indiferença? Não estava nem um pouco preocupada com a Princesa? A frustração de Rem foi transformada em pura raiva fervente.

— E você se diz mãe dela? O que pode ser mais importante do que ajudar a sua própria filha?!

A mulher não respondeu. Algo havia tomado a sua atenção, e esse algo eram as orelhas de Rem, muito mais longas do que as de um humano deveriam ser.

— Uma elfa…!

— Isso mesmo. Bem, uma meia-elfa, para ser mais precisa. De qualquer forma, isso não vem ao caso!

Havia assuntos mais sérios a serem discutidos no momento. Entretanto, a Rainha torceu a boca em um sorriso diferente de qualquer expressão que havia mostrado até o momento.

— Uma meio-elfa… E uma muito jovem… Espera, você é…? Ahaha! Agora entendo! Que engraçado! Ohohoho!

A mulher então riu bem alto, parecia que tivesse ganhado algo, tendo claramente percebido alguma coisa. Um arrepio percorreu a espinha de Rem.

— O-o que você quer dizer?! E o que isso tem a ver com o resto das coisas?!

Enquanto Rem dava tudo de si para organizar os seus pensamentos, o sabre, que foi abaixado durante a conversa, foi mais uma vez apontado para o seu nariz. Sua ponta afiada cintilou à luz, fazendo com que a elfa desse um passo para trás por reflexo.

— Ah, minha doce criança, isso tem tudo a ver com tudo.

A Rainha se aproximou de Rem, o sorriso em seu rosto ficava cada vez mais perverso.

— Uma meio-elfa… Sim, você com certeza tem o direito de saber sobre a maldição da Princesa… Ou, devo dizer, a responsabilidade. Vou te contar tudo o que eu sei — disse ela enquanto dava outro passo à frente, sua espada ainda apontada para a elfa. As costas de Rem foram forçadas contra o molde da janela; ela não tinha saídas.

— Mas, primeiro, deixe-me esclarecer o seu equívoco. Eu não sou a mãe de Alferez. Não, sou a tia. A mãe dela é a minha irmã mais nova. Bem, era. Ela já morreu.

— Ela… Ela nunca me disse isso!

Alferez estava escondendo alguma coisa? Isso deixou Rem muito mais chocada do que imaginava. As duas tinham praticamente acabado de se conhecer. E nem mesmo eram da mesma raça. Pensar que a garota tinha lhe contado tudo não fazia o menor sentido. Mesmo assim, era algo doloroso para se aceitar.

A Rainha riu, quase como se pudesse ver dentro da mente de Rem.

— A garota não sabe. Provavelmente deve pensar que eu sou a verdadeira mãe dela.

— A… verdadeira?

Rem suspirou de alívio. A mulher podia até estar mentindo, mas ela escolheu acreditar nisso. Embora tivesse plena consciência de que a Rainha só estava brincando com ela, consertar um coração abalado não seria uma tarefa simples.

Foco! Por que eu vim até aqui?

Simples. Para encontrar um jeito de ajudar Alferez. Rem imaginou o rosto da garota e na mesma hora lembrou o seu objetivo, depois de quase perdê-lo de vista. Ela forçou a sua respiração a se acalmar e recuperou a compostura.

— Mesmo assim… Você ainda a ama como a sua sobrinha, não é? Por favor, conte… Conte sobre a maldição que está a afetando. Qualquer coisa, mesmo que seja só uma coisinha.

— Como desejar. Isso é tudo o que você conseguirá descobrir, então preste atenção, meio-elfa.

O sorriso no rosto da Rainha ficou mais malicioso, e ela ergueu o sabre no lugar do seu dedo, tudo para marcar a única resposta que daria. Rem, na mesma hora, se arrependeu das palavras que tinha escolhido. Além disso, mais uma pessoa tinha começado a chamá-la de meio-elfa. Ela franziu a testa diante do tom da mulher, banhado de óbvio desdém, mas também reconheceu que voltar até a Princesa de mãos abanando seria muito mais doloroso.

Rem cutucou suas orelhas longas, não querendo deixar qualquer palavras passar. A mulher sorriu e disse:

— A maldição daquela garota… é culpa sua, meio-elfa.

— Hein?

A Rainha pensava que Rem era burra desse tanto? Ela só conhecia Alferez há poucos dias. Como poderia estar relacionada com uma maldição que foi lançada sobre a garota há mais de um ano?

— Pare com essas falsas acusações.

— Falsas? Não. Você é, sem dúvidas, a causa do sofrimento de Alferez.

— Por que está me olhando com tanto desprezo? Porque sou uma criança? Ou porque sou uma meio-elfa?

— Estou mortalmente séria. Mas, respondendo a sua pergunta, as duas coisas.

Rem sentiu como se estivesse de volta à sua aldeia. A frustração dentro dela chegou a um ponto crítico. Não por causa dos insultos da Rainha, claro. Não, já estava acostumada com isso. O que realmente a irritou foi sua falha em transmitir o que pensava, o quanto queria ajudar Alferez.

— Cale a boca! — gritou ela, incapaz de conter as suas emoções. Um instante depois, a porta do quarto foi aberta pelo lado de fora.

— Sua Alteza! O que está acontecendo?!

Era o guarda da Rainha. Rem acidentalmente gritou alto demais e o alertou.

— Uma ladra! Pegue-a!

E o pior, a Rainha nem pensou e ordenou ao homem que a capturasse. Rem entrou em pânico e quebrou a janela assim que o homem se lançou em sua direção.

— Foi mal! — desculpou-se pela janela que quebrou e correu pelo telhado, embora não tivesse certeza sobre a mulher ter mesmo a escutado. Entretanto, não havia tempo para olhar para trás e confirmar.

— Isso vai me acontecer quantas vezes?! Argh!

Tudo o que Rem queria era uma conversa pacífica e agradável. Por que tinha que ser assim? Ela arriscou a sua vida para uma visita, e para quê? Nada.

Mesmo assim, fugir do castelo passando pela cidade não era uma tarefa fácil. Havia guardas perseguindo-a por todas as partes. Embora lugares altos pudessem ser o forte dos elfos, seus oponentes definitivamente tinham a vantagem geográfica. Rem já estava começando a se arrepender da decisão de fugir pela mesma direção que tinha entrado. Essa era, ao mesmo tempo, a única rota que conhecia, e acabar perdida com certeza resultaria em sua captura.

— O que eu faço…?

— Meow~!

A desesperada busca de Rem por uma rota de fuga foi repentinamente interrompida pelo miado de um gato. Ela o ignorou, pensando que tinha ouvido coisas, só para escutar outro, mais alto, soando quase como se a criatura estivesse irritada com a sua falta de reação.

— Al…?!

No alto do telhado estava a sombra de um gato. O animal moveu a cabeça um pouco para o lado e permitiu que a luz da lua brilhasse na joia vermelha em seu pescoço, parecendo muito irritado com o tempo que a elfa levou para entender. Rem ficou chocada, mas logo balançou a cabeça. As perguntas poderiam ficar para depois. A gata virou o corpo e desapareceu do outro lado do telhado, e a elfa correu atrás dela.

— Está me dizendo para te seguir?

Não recebeu nenhuma resposta, apenas um olhar de soslaio. Certo, não havia tempo para isso. A gata a conduziu de telhado em telhado, e finalmente passaram pelas muralhas do castelo. Rem olhou para trás e percebeu que tinham aberto alguma distância dos guardas. Fazia sentido: essas passagens eram bastante estreitas e só podiam ser percorridas por uma gata ou uma elfa magra. Seriam muito apertadas para um humano, especialmente para um usando uma armadura completa.

Al veio me salvar…

Havia algo na gatinha correndo à sua frente que fez Rem sentir-se segura. Mas ela também queria se desculpar, já que depois disso as duas com certeza teriam que se separar.

— Por quê?! — gritou Alferez furiosa, tendo retornado à sua forma humana. Era cedo pela manhã e Rem acabara de dizer que partiria. Sua raiva era bem justificada; a elfa disse que ficariam juntas para sempre, mas já estava voltando atrás em sua promessa.

— Sinto muito. Fui uma tola. Agora a sua mãe sabe que somos amigas. Neste momento os soldados provavelmente já estão a caminho, e desta vez você não será capaz de enganá-los.

Rem tinha concluído que a Rainha com certeza não pouparia esforços para ajudar a sua filha. Esse era o preço que teria que pagar pela sua ingenuidade.

Provavelmente será melhor se eu não disser que ela não é a sua mãe verdadeira.

E também escolheu ficar em silêncio sobre como era aparentemente responsável pela maldição. A mulher podia até estar mentindo, mas não havia necessidade para deixar Alferez ainda mais confusa.

— Para onde você está indo? E a promessa de encontrar um jeito de acabar com a minha maldição, você vai simplesmente quebrá-la?

— Não tenho um destino. Mas vou manter a minha promessa. Com certeza vou encontrar uma cura e, assim que conseguir, voltarei.

Não havia razão real para acreditar nisso. Ela só queria mostrar a sua determinação.

— Ei, espera!

Rem deu as costas para Alferez e começou a andar. Não queria ver a raiva no rosto da garota. Isso seria doloroso demais. Entretanto, a Princesa não deixaria que escapasse agindo como se ela não tivesse qualquer compaixão.

— Eu mandei esperar!

Ela agarrou Rem pelo colarinho e a puxou com força, fazendo com que a elfa sufocasse.

— Cof, cof… O-o que você está fazendo, Al?

— Sou eu que deveria estar perguntando isso. Rem, você vai procurar uma forma de quebrar a minha maldição, certo? E quando encontrar, vai voltar?

— Aham, foi isso que eu disse.

A declaração da elfa não foi difícil o suficiente para que precisasse ser repetida. Ela não fazia ideia do que Alferez estava falando e a direcionou um olhar confuso, só para se deparar com um sorriso destemido.

— Bem, nesse caso, a viagem de volta vai ser uma grande perda de tempo, não acha? Eu também vou.

— Hein…? Vai… Comigo?!

— Sim, com você. Com quem mais?

Alferez então tirou o vestido sem sequer hesitar, jogou-o de lado e foi até o guarda-roupa só de calcinha, deixando Rem pasma.

— Se você encontrar uma maneira de quebrar a maldição, é melhor eu estar lá para que possa se poupar do trabalho de voltar até aqui só para me contar, certo?

— Bem… Suponho que sim… Mas, mesmo assim, uma princesa partindo em uma jornada é perigoso demais! Além disso, não há nenhuma prova de que eu vou encontrar qualquer…

— Você não acabou de dizer que definitivamente encontrará?

Rem não quis ser literal, mas também sabia que a Princesa não aceitaria desculpas. Enquanto ela procurava palavras que pudessem fazer a garota desistir desses planos, Alferez calçou um par de botas compridas, colocou uma capa com capuz e, desse jeito mesmo, terminou de se vestir.

— Então, como fiquei? Muito chique, hein?

Para terminar de se fantasiar, colocou um chapéu cheio de penas e abriu os braços para se mostrar para Rem. Embora o vestido que normalmente usava com certeza fosse desenhado para ser confortável, esta combinação de blusa branca com mangas bufantes e uma minissaia vermelha parecia muito mais confortável.

— O que é essa coisa?

Havia também uma rapieira pendurada no seu quadril, e ela ainda possuía uma mala de couro cheia de bagagem. Parecia mesmo que já estava se preparando para isso. Alferez percebeu a confusão no rosto de Rem, corou e confessou:

— Bem, a verdade é… A certa altura, fiquei muito frustrada por não ser capaz de criar a poção e decidi que iria sair à procura da bruxa. Preparei as roupas, a espada e tudo o mais, mas não tive coragem de seguir em frente… Mas agora não tenho nada a temer, já que você está comigo.

Rem se encolheu um pouco diante da falta de hesitação nos olhos de Alferez. Parecia que seu comentário espontâneo havia reavivado o plano antes morto da garota.

— Realmente não acho que seja uma boa ideia. Não faço ideia de para onde devo ir ou que tipo de perigos me aguardam. De forma alguma poderia levar uma princesa em uma jornada dessas comigo.

— E você acha que sozinha vai ficar bem? Ontem à noite quase foi pega pelos soldados, lembra? Na verdade, pela primeira vez me senti útil por me transformar em uma gata.

— Bem…

A elfa estava totalmente ciente de quão fraca e inexperiente realmente era. Mesmo assim, a segurança de Alferez estaria garantida, desde que ela permanecesse nesta mansão e, como tal, não havia motivo para partir nesta jornada sem um fim à vista. E, ainda assim, a garota agarrou a mão de Rem e implorou:

— Se é mesmo tão perigoso quanto você diz, então deixe-me perguntar uma coisa: que razão você tem para arriscar a sua vida? Afinal, esse problema é meu. Que necessidade há de uma pessoa sem qualquer relação de parentesco como você ser arrastada para isso?

Sem qualquer relação de parentesco. Isso abalou o coração de Rem. Se o que a Rainha disse fosse verdade, então Rem tinha o dever de procurar uma forma de quebrar a maldição. Mesmo que não fosse, ela ainda estava preparada para partir sozinha.

— Al, você não precisa se preocupar. Eu quero fazer isso — disse Rem, tentando de tudo para persuadir Alferez a ficar. Porém, a Princesa não quis dar ouvidos, e em vez disso começou uma outra discussão.

— É claro que eu fico preocupada com você. Olhe para si mesma, é uma completa covarde. Mas eu também sou. Não sei nada sobre o mundo lá fora. Mas… Mas…! Quando nós duas, covardes, nos ajudarmos, seremos capazes de fazer qualquer coisa. Tenho certeza disso.

Ela entusiasticamente ergueu um braço no ar para enfatizar o seu ponto. E então, antes que a elfa pudesse dizer qualquer coisa, a Princesa deu um passo em sua direção e agarrou as suas mãos com força.

— A-Al…

Alferez olhou bem nos olhos de Rem com um rosto mortalmente sério. O coração da elfa foi abalado.

— Vamos juntas.

Ou ao menos era o que Rem queria dizer. Entretanto, pouco antes de as palavras saírem da sua boca, suas orelhas captaram um ruído estranho.

— Al, cuidado!

— Eeek?!

Ela se lançou para a frente na mesma hora, agarrou a Princesa e rolou pelo chão. Nem um segundo depois, uma série de flechas coou pelo ar, justo por onde suas cabeças estiveram no momento anterior.

As tropas do castelo já chegaram…?

Tinham perdido tempo demais com a discussão? Bem, não era necessariamente isso. Havia três flechas cravadas na parede, todas em uma linha perfeita. Rem reconheceu as penas delas. Havia uma única pessoa que conhecia que seria capaz de atirar assim. A elfa estremeceu de medo ao se deitar sobre Alferez, tentando proteger a garota com o seu corpo. Se ao menos fossem as tropas do castelo. Não, esse oponente era muito pior.

— S-sem chances… Ah?!

A figura sombria chutou a janela e saltou por ela. Rem empurrou Alferez para longe e as garotas fugiram em diferentes direções. Enquanto a elfa ainda estava lutando para ficar de pé, já havia pego seu próprio arco. Entretanto, antes que pudesse encaixar uma flecha, o disparo do intruso já estava mirado em sua testa.

— Te achei, Rem.

— Tia…

Ela esperava que alguém da aldeia saísse à sua procura assim que percebessem sua partida. O fato de ser sua tia, Amita, também não era surpresa. O que ela não esperava, entretanto, era que descobrissem onde estava se escondendo. A mansão podia já ter visto dias melhores, mas ainda era o lar real de uma princesa. Com certeza não seria o primeiro lugar que alguém esperaria estar fornecendo abrigo a uma fugitiva.

— Não deve ter sido fácil encontrar este lugar…

— A floresta é um domínio dos elfos. Ao contrário de uma meio-elfa como você, sou capaz de ler até os mais tênues sinais que as árvores têm a oferecer. Porém, ainda foi muito difícil, já que o espírito da floresta humana é muito fraco.

Amita puxou seu arco enquanto falava. Por mais que Rem quisesse acreditar que sua tia não iria matá-la ali mesmo, também sabia que se os anciãos tivessem dado uma ordem, ela teria que obedecer. Ou isso, ou se sentiria envergonhada por mais uma de suas parentes de sangue ter deixado a aldeia, por isso também faria sentido se ela quisesse matá-la.

— Rem, o que você pensa que está fazendo, criando amizade com os humanos?

Amita pregou por muitos anos sobre o ódio mútuo entre elfos e humanos. Não havia nada além de desprezo por sua sobrinha, que ousou ir contra seus ensinamentos, em seu rosto. Havia tantas coisas que Rem queria dizer, mas como a mulher podia acabar com a sua vida com um simples movimento de um dedo, sabia que não devia agir de forma imprudente. Suor frio escorria pelo corpo da elfa enquanto ela olhava para a ponta afiada da flecha descansando a apenas alguns centímetros do seu rosto.

— Então, já viu o suficiente do mundo humano? Deixe-me adivinhar, seu tempo por aqui foi preenchido com nada além de miséria e dificuldades?

Rem mordeu o lábio diante das palavras frias de sua tia. A mulher estava certa. Os humanos que pensava ser tão bondosos acabaram por odiar os elfos tanto quando os elfos os odiavam. De todas as pessoas que conheceu, apenas uma agiu de forma diferente.

— Tia Amita, eu…!

— Espere aí, sua elfa! Não vou permitir que você coloque as suas mãos na Rem!

Assim que Rem estava prestes a começar a falar sobre Alferez, a própria garota interrompeu a conversa. Ela ficou com as mãos nos quadris, as pernas bem abertas e o queixo erguido, fazendo parecer que estava desprezando a elfa. A repentina mudança de eventos com certeza a assustou, mas ver a vida de Rem sendo ameaçada a fez voltar ao normal.

— E você é?

A Princesa colocou a mão no peito e orgulhosamente declarou o seu nome:

— Me chamo Alferez Viltela, a princesa primogênita desta terra! Não me importa quem seja você, essa meio-elfa é minha serva. Vocês podem ser companheiras elfas, mas se machucar a Rem, farei você pagar!

O nome da garota não significava nada para Amita. Não, foram as palavras que surgiram depois que a deixaram nervosa. Seu rosto estava visivelmente mudando de cor. Ela virou os olhos, cheios de uma mistura de raiva e confusão, para Rem.

— Uma serva…? Ser amiga de um humano é uma coisa… mas uma serva…?

— Bem… Na verdade, há uma boa razão para isso…

Levaria um bom tempo para Rem explicar a situação toda, e não havia como Amita só ficar sentada em silêncio e escutar. Após alguns segundos de confusão, seu rosto se contorceu em um sorriso forçado.

— Não quero ouvir as suas desculpas!

Levada pela raiva, a elfa puxou o seu arco. Ela iria atirar. Mas então…

— Rem! — Alferez gritou e bateu com a mão na parede. Na mesma hora Rem entendeu o que a garota estava fazendo e se esquivou para o lado. Isso não era algo que Amita esperava e, por um breve segundo, hesitou. Essa hesitação acabou sendo a sua falha.

— O que…?!

Um buraco de armadilha se abriu no chão abaixo dela. Alferez ativou uma armadilha. As garotas tiveram um breve vislumbre da elfa caindo antes de agarrarem as mãos uma da outra e fugirem. Porém, pouco antes de conseguirem sair do cômodo, Rem sentiu uma dor aguda no seu braço esquerdo.

— Uuh…

— Rem?!

Parecia que Amita, em um momento de pânico, fez um disparo pro reflexo. E a flecha perfurou o braço esquerdo de Rem. Alferez estava prestes a retirá-la, mas a elfa a deteve.

— Não… Aquela armadilha… não vai segurá-la por muito tempo… Precisamos… nos apressar e sair daqui…

— M-mas…

Uma elfa puro sangue com controle perfeito sobre os espíritos de vento não teria problemas para sair de um buraco tão raso. Rem incitou Alferez, pálida ao ver o ferimento da garota, e as duas saíram correndo da mansão.

— Tente aguentar, Rem. Sei um lugar por perto.

Alferez conduziu a elfa para uma caverna próxima, meio que carregando-a no ombro. A entrada era só um buraco, mal elevado do solo e quase todo coberto de grama. Seria impossível ver se já não conhecesse. Isso, é claro, significava que lá dentro estaria escuro como breu, mas, felizmente, havia espaço de sobra, o suficiente para uma pessoa ferida ficar deitada.

— Agora vou arrancar a flecha. Aqui, morda isso.

Alferez agarrou a ponta da sua capa e colocou na boca de Rem. Então arrancou a manga da elfa e empurrou seu braço para baixo com os dois joelhos, ao mesmo tempo que puxava a flecha.

— Mmmmghh!

Rem não teve qualquer tempo para se preparar, mas isso talvez fosse uma coisa boa. Ela provavelmente só iria entrar em pânico. Mesmo assim, tudo o que restou foi a dor. A dor horrível e agonizante. A elfa sentiu que ia desmaiar a qualquer segundo e todo o seu corpo se contraiu. Usando todo o peso de seu corpo para segurar a elfa, Alferez puxou uma bandagem de sua bolsa.

— Com certeza não pensei que usaria isso tão cedo assim.

A Princesa era surpreendentemente hábil para alguém que, talvez, nunca tivesse prestado nenhum tipo de socorro na vida. Fazia sentido pensar que ela havia adquirido algum conhecimento em medicina durante suas pesquisas sobre poções. Entretanto, sua falta de experiência real ainda transparecia, e a maneira como amarrou a bandagem ao redor do braço de Rem deixou a desejar. Ainda assim, isso era bem melhor do que nada.

— Perdão, Princesa… Por te arrastar para isso… — Rem desculpou-se com uma voz fraca. Alferez suavemente levou as mãos às bochechas da elfa e falou com uma voz cheia de raiva e ressentimento:

— Droga… Sei que isso é algo entre vocês, elfas… não tem nada a ver comigo… mas, ainda assim, por que… por que você precisava se machucar?!

Rem inclinou a cabeça, confusa. Não conseguia entender o que a Princesa estava dizendo. Quando sua visão começou a escurecer, viu os lábios macios da garota tremerem e seu corpo balançar. Em sua cabeça, devia pensar que era a responsável pelo que aconteceu.

— Al… A culpa não é sua…

— Eu sei! Você está ferida, então apenas descanse… Hã? Rem? Ei, Rem?!

Rem podia ouvir a voz de Alferez, mas não conseguia responder. Seu corpo estava quente e sua respiração começando a ficar pesada. De repente, todo o seu corpo ficou coberto de suor. O mundo estava escurecendo bem na frente dos seus olhos. A ferida em seu braço doía muito. E, ainda por cima, não podia gritar. Sua consciência estava desvanecendo. Embora Rem tivesse um palpite sobre o que estava acontecendo, não conseguia mover a boca para contar a Alferez.

— Rem, me responde!

A última coisa que ela escutou foi a voz chorosa da Princesa. Rem queria confortá-la, mas não podia. Após isso, tudo virou escuridão.

Por quanto tempo ficou dormindo? Assim que abriu os olhos, a elfa se sentiu surpreendentemente renovada. Embora a ferida em seu braço ainda doesse, o suor que a cobria já havia sumido. Ainda estava na caverna, o que provavelmente significava que Amita não tinha a encontrado.

— Al…?

Rem se levantou e começou a procurar Alferez. Ao fazer isso, suas mãos encontraram várias bandagens espalhadas pelo chão da caverna. Parecia que a que enrolava o seu braço havia sido trocada algumas vezes enquanto dormia. Ela voltou a procurar pela Princesa, e a encontrou dormindo ao seu lado, em sua forma humana. Porém, havia algo de errado.

— P-por que ela está pelada…?

A bunda redondinha da Princesa estava aparecendo por baixo da capa de penas que ela estava usando como cobertor. Ela estava, sem dúvidas, completamente pelada. Rem ficou confusa. Por que ela estaria dormindo assim? Entretanto, quando a elfa olhou ao redor, notou outra coisa estranha. As bandagens não eram as únicas coisas jogadas no chão. Havia também bolsas e frascos cheios de remédios, bem como um saco de pedrinhas preciosas com metade do conteúdo esparramado.

— Hmm…? Ah, Rem! Você acordou!

Alferez deu um pulo, fazendo com que seus enormes seios nus balançassem. Sem saber para onde olhar, as primeiras palavras que Rem acabou soltando formaram uma reclamação, em vez de um agradecimento.

— E-espera…! Princesa, coloque algumas roupas!

— Quem liga para isso! Mais importante, está doendo? Está com febre?

A garota, com uma expressão de genuína preocupação, colocou a mão na testa de Rem e, então, uma vez que confirmou que não havia nada de errado, soltou um suspiro aliviado.

— Rem… Você estava fazendo tanto silêncio enquanto dormia, apesar daquele ferimento horrível… Pensei que… Eu pensei que você podia…

Você pensou que eu podia o que?, Rem quis perguntar de brincadeira, mas decidiu ficar de boca fechada. Os olhos da garota estavam vermelhos, quase como se tivesse acabado de parar de chorar. Seria extremamente rude começar a fazer piadas às suas custas depois de tudo que fizera pela elfa.

Ela então sorriu um pouco, mas Alferez não se acalmou.

A garota colocou a mão no peito e murmurou com amargura:

— Você está dormindo já faz três dias, sabia?

— Três dias?!

Conseguiram evitar os perseguidores por três dias inteiros? Rem não pôde deixar de admirar Alferez pela escolha do esconderijo. Mas, sério, o fato de que esteve dormindo por tanto tempo não era lá tão surpreendente para ela.

— Não se preocupe. Provavelmente foi por causa da droga para dormir que estava revestindo a ponta da flecha, deve ter sido isso que me fez dormir por tanto tempo.

— D-droga para dormir?! — guinchou a Princesa em resposta. Ela tossiu algumas vezes e recuperou a compostura.

— Aham. É uma das medicinas secretas dos elfos. É usada principalmente para derrubar membros de outras raças que se perdem na floresta, para que possam ser arrastados sem oferecer resistência. Minha tia devia estar planejando me levar de volta para a aldeia enquanto eu dormia.

— Sério…? Eu… achei que você fosse morrer…

Lágrimas começaram a aparecer nos cantos dos olhos de Alferez. Algumas pessoas poderiam ter dito que isso era exagero, mas Rem não era assim. A cena diante dela parecia terrivelmente familiar.

Ela é como eu… quando a minha mãe morreu…

Naquela época, havia chorado muito, sem se importar com o que os outros pensavam. Entretanto, ao contrário de Alferez, suas lágrimas não eram só suas. Olhe bem, como o resto dos aldeões parecia feliz com a morte da mulher, bem no fundo, Rem sentiu que a responsabilidade de todo o luto recaiu sobre ela.

Que coisa mais estranha para se lembrar…

De qualquer forma, Alferez a salvou de ser capturada pela sua tia. Rem queria dizer algo em agradecimento, mas a única coisa em que sua mente focava eram nos seios da garota. Este teria que ser o primeiro problema a ser resolvido.

— Ei, Al… Por que você está pelada?

Parecia que a Princesa finalmente havia se acalmado o bastante para voltar a sentir vergonha. Seu rosto ficou vermelho e ela ajeitou a capa para cobrir os seios.

— Bem, umm… Eu não tinha nenhum remédio em mãos, então meio que… fui visitar a cidade, e…

— A cidade?! Se uma princesa fosse comprar remédios, isso não acabaria causando uma enorme confusão…?

Rem finalmente entendeu o motivo para as joias espalhadas pelo chão. A garota devia tê-las usado como moeda quando foi visitar a cidade. Além disso, o fez não como princesa, mas como gata, tudo para esconder a sua identidade. O fato de ter dormido nua era a prova disso.

— Claro, uma princesa não poderia simplesmente roubar do seu povo sem dar nada em troca, certo? — perguntou Alferez com um sorriso tímido. Embora Rem ainda tivesse dúvidas sobre a invasão à loja ser justificada ou não, não estava em posição para julgar a garota.

— M-mas… Você poderia ter sido pega pela minha tia, ou pelo povo do castelo…

— Eu estava na minha forma de gata, está tudo bem. Bem, no geral.

Ela disse isso, mas a julgar pelo número de curativos e frascos de remédios, devia ter visitado a cidade mais do que algumas vezes.

— Sinto muito por você ter que fazer isso tudo por mim… E obrigada…

— E-eu não fiz isso por você!

Por quem então? Ver a Princesa desesperadamente tentando agir como durona ao mesmo tempo que corava fez Rem cair na gargalhada.

— Bem, acho que então estamos quites.

Não que a elfa realmente acreditasse nisso. Ela abraçou Alferez para mostrar a sua gratidão, fazendo com que o rosto da garota ficasse ainda mais corado.

 


Tradução: Taipan

Revisão: Texugo

 

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