Um Trabalho Misterioso Chamado Oda Nobunaga – Vol 03 – Cap. 07 – A Filha da Casa Real

Imediatamente enviei um mensageiro para parabenizar Talsha pela gravidez. A carta que entreguei ao mensageiro dizia que me arrependia por não poder estar ao seu lado como marido. Esses eram meus mais honestos sentimentos a respeito do assunto.

Mas eu não estava tão ocioso a ponto de deixar Maust sem vigilância por muito tempo.

Estava fazendo um censo dos territórios sob meu governo. Havia muitas terras onde eu não tinha ideia de quantos soldados poderia reunir. Poderia deixar que cada lorde declarasse seus números para mim, e nenhum propositalmente anunciaria mais pessoas do que tinha, mas era necessária uma contagem precisa.

— Isso é perfeito, já que parece que você está superficialmente lidando apenas com a governança interna — disse Laviala enquanto me ajudava com o trabalho.

— Sim, prefiro que a capital pense que estou focado na administração dos meus territórios. Além disso, vim até Maust para afastar as suspeitas, então seria problemático se pensassem diferente.

— Claro, isso é apenas superficial.

Laviala sorriu se divertindo. Não parecia o tipo de atmosfera para uma conversa política, era algo mais relaxado.

— Isso deixará seus exércitos muito mais fortes, Lorde Alsrod. Sim, isso o deixará com o maior e mais poderoso exército do reino! Um exército que eliminará qualquer inimigo quando Lorde Alsrod o enviar para batalhar!

— Espero que seja esse mesmo o caso.

Em comparação com a otimista Laviala, não pude deixar de sentir que eu estava sendo cauteloso, até mesmo para mim.

Muitas pessoas foram pegas desprevenidas, apesar de serem as mais poderosas do mundo. Sempre pode existir alguma armadilha ou escassez não percebida.

Afinal, Oda Nobunaga morreu um passo antes de terminar a unificação do seu país.

— Não me use de exemplo para isso, maldito patife.

Minha profissão reclamava para mim.

— Mas é verdade que morri quando restava pouco a ser feito. Na verdade, uma revolta era injusta. Ninguém pode eliminar o risco de rebelião ou assassinato. Maldição! E maldição de novo! Se eu tivesse outra oportunidade, poderia trabalhar para evitar que Mitsuhide saísse atrás de mim!

Bem, não posso fazer nada quanto a isso. Pode até ser possível renascer com uma vida nova, mas não é possível reviver a antiga.

— Sim, suponho que seja uma forma de pensar sobre isso.

Parecia que Oda Nobunaga havia chegado a certa conclusão.

— Não se pode reviver a velha vida. Isso é verdade. Mas, colocando de outra forma, mantenho as memórias daquela vida e vivo dentro de você. Posso não ter um coração batendo ou braços e pernas à minha disposição, mas permaneço como uma consciência.

Certo. A ponto de eu achar que você às vezes é meio barulhento. Mas, no geral, agradeço pelo que você fez.

— Em outras palavras, eu talvez esteja pegando seu corpo emprestado para mais uma vez tentar unificar o mundo. Deve ser por isso que surgi como uma profissão neste mundo, não? Sim, deve ser. Senti algum arrependimento ao morrer.

Era uma teoria que não poderíamos provar a menos que deus aparecesse para nós e nos contasse, mas entendi o que ele estava tentando dizer.

Isso explicaria por que Oda Nobunaga existia como a minha profissão.

Considerando a proporção de nobres entre a população, embora ele tivesse se tornado uma profissão e mantido a consciência intacta, a probabilidade de que se tornasse a profissão de alguém efetivamente sem status, como um fazendeiro ou camponês citadino, era muito, muito mais alta. E teria sido mais difícil criar um reino se seu ponto de partida fosse um fazendeiro, e não um lorde regional.

— Se for esse o caso, isso explicaria por que a garota anã que é Mitsuhide deste mundo não o traiu. Mitsuhide, sem dúvidas, se arrependeu de me matar. Afinal, o resultado disso foi o extermínio de todo o clã dele. Eu não ficaria surpreso se ele desejasse não ter se rebelado e silenciosamente continuado a me servir.

Ou seja, quando ele emergisse como profissão, apareceria em uma posição na qual poderia ser um apoiador leal.

Entendi. Kelara me serve tão fielmente, talvez por se sentir culpada e se arrepender de trair a minha profissão em uma vida anterior. É uma teoria bem atrativa.

— Sim. Isso prova tudo. A razão pela qual a mulher Shingen o desafiou foi por Shingen sempre ter desejado lutar comigo, e faria sentido que ela desistisse depois de testemunhar a sua força. Shingen acreditava que ele era o mais forte, mas acreditava que depois dele estava eu. No momento em que soube que não poderia vencer, ele deve ter optado por servi-lo. Sim, isso faz sentido.

Oda Nobunaga parecia bastante satisfeito.

Eu realmente não poderia dizer nada, já que não sabia os detalhes sobre as pessoas originais, mas…

Era verdade que pessoas de uma era específica, de um mundo específico, renasceram ao mesmo tempo nesta era.

Ao realizar o censo, tive a oportunidade de verificar os registros do censo anterior para proceder com confirmações. Existiam outras regiões que também registravam profissões: Espadachim, Mago, Fazendeiro, Rancheiro – todos trabalhos comuns.

Nunca surgiram profissões misteriosas que parecessem nomes de pessoas. Mesmo entre a nobreza, para a qual havia mais registros do que para o campesinato, não havia qualquer exemplo de nomes de profissão tão estranhos no passado.

O que parecia significar que existia uma grande possibilidade de que fosse algo único desta era.

— …rod, Lorde Alsrod.

Laviala estava me chamando.

— Ah, foi mal. Eu estava pensando em uma coisa.

— Lorde Alsrod, você às vezes parece estar olhando para bem longe. Não, essa não é a maneira certa de expressar isso. É como se você estivesse tão focado que não consegue prestar atenção no mundo.

Eu não tinha contado nem a Laviala sobre ser capaz de conversar com minha profissão. Eu ainda não conhecia ninguém que tivesse passado pela mesma experiência, então, sem dúvidas, seria difícil fazer ela acreditar.

— Parece que Yanhaan chegou — anunciou Laviala. — Provavelmente veio com informações da capital.

Isso me lembrou – Yanhaan tinha uma profissão chamada Sen no Rikyuu.

— Rikyuu era um homem bastante interessante. Ele parecia ser iluminado, mas ao mesmo tempo esquematizador. O mundo com alguém como ele ficava ainda mais interessante.

Brevemente me questionei se reunir gente assim ao redor era o motivo pelo qual Nobunaga sofreu rebeliões, mas isso seria apenas argumentar a respeito do passado.

— Muito bem. Vou providenciar para vê-la de imediato.

Eu já havia construído um salão de chá no Castelo Maust.

Yanhaan, que já não via há algum tempo, estava vestida com roupas folgadas dignas de uma comerciante.

— Já faz um tempo, Sir Regente.

Ela curvou-se com um sorriso calmo e maduro.

— Como está a capital? Não, suponho que começar com esse tipo de conversa seja rude. Primeiro, há algo que quero te mostrar. Venha comigo.

A levei para uma sala de chá cerimonial pequena o suficiente para parecer quase uma miniatura.

A entrada era tão pequena que era preciso ajoelhar-se para passar.

Dentro havia uma mesa, projetada para que um anfitrião e um convidado pudessem ficar de frente um para o outro.

— Mandei construir para propagar a arte da cerimônia do chá. Gostaria de ouvir a sua opinião.

— É tão amáááááável. — Yanhaan imediatamente se ajoelhou e entrou na sala de chá. — Entendo, entendo… O interior também é bem construído. Se tivesse que criticar algo, é que parece um pooooouco ostentoso demais. Materiais mais simples cairiam melhor.

— Isso foi pelos trabalhadores temerem tornar as coisas muito grotescas. Sem dúvidas temiam que eu os punisse. Falei antecipadamente para não fazerem algo muito elegante.

— Ainda assim, vai servir para uma cerimônia do chá. Vamos tomar uma xícara? Eu trouxe as coisas necessárias.

Essa já era a minha intenção. Foi praticamente por isso que construí esta sala.

Yanhaan começou os preparativos para o chá com toda a calma que tinha. Uma atmosfera digna dominou o pequeno espaço.

O amargo chá verde não caía mal, mesmo quando consumido fora da capital.

— O sabor do chá está diferente. Você mudou alguma coisa?

— Cada serviço de chá é um momento especial. Sem dúvidas, cada ocasião oferece um sabor diferente.

Quando ela estava conduzindo uma cerimônia do chá, o cinismo mercantil de Yanhaan parecia desaparecer. Em vez disso, eu sentia como se estivesse sentado com uma freira.

O fato de ela poder mudar a atmosfera ao seu redor com tanta facilidade era, sem dúvidas, em parte graças às suas próprias habilidades, mas provavelmente também se devia ao espaço apertado que ocupávamos. Entrar nesta sala me permitia redefinir minhas emoções.

— O que achou do sabor?

O rosto de Yanhaan estava sereno, como o de uma mãe em uma pintura.

— Amargo. Mas não é um amargor desagradável. Tem um sabor reconfortante.

— Fico feliz por ouvir isso.

Yanhaan mostrou um sorriso embaraçado, era como se fosse uma escultura.

A sala foi velada por um breve silêncio.

Não foi um silêncio incômodo.

Em vez disso, parecia que a minha alma estava sendo limpa.

— Agora, posso falar sobre a situação na capital? — perguntou Yanhaan.

— Por favor, fale, e em detalhes.

Finalmente tocamos no assunto principal. Mas, claro, o assunto principal adequado a uma sala de chá deve ser a própria cerimônia de chá.

— Os planos para a campanha ao oeste foram finalmente concluídos. O Comandante Supremo será, de fato, Sua Majestade. Quanto aos comandantes subordinados, foram escolhidos três entre os duques e marqueses, que são parentes dele.

Yanhaan continuou apresentando informações adicionais. Foi uma descrição terrivelmente precisa da situação militar.

O fato de que essa quantidade de informações chegou aos ouvidos dela era a prova de que Hasse era ruim em manter as informações críticas em sigilo. Imagino o que ele pretendia fazer se as informações sobre os planos da estratégia real vazassem para o inimigo.

— Eu sabia que os lordes não queriam participar, então acho que isso significa que, no final, ele só escolheu alguns com sangue real. E se ele falhar, pode jogar a responsabilidade para os generais subordinados.

— Sim, parece que ele convenceu os lordes a dividir as forças, deixando claro que mesmo em caso de falha, a responsabilidade permanecerá com a família real.

Os membros da família real não podiam continuar rejeitando as súplicas do rei e, de certo modo, estavam ligados ao destino dele, por isso estariam motivados a lutar contra o rei anterior.

— Acho que é melhor do que depender de nobres esgotados pela guerra. Mas só melhor, não ideal.

— Então é melhor considerar esta guerra como perdida? — perguntou Yanhaan.

— É possível que o inimigo seja ainda menos competente do que as forças de Hasse, mas os comandantes do exército real são bem amadores. Se perderem o engajamento inicial, duvido que terão impulso para lutar e sobreviver.

Se o exército real pudesse vencer a primeira batalha, poderiam ter uma chance – o inimigo provavelmente também entendia isso. E isso ao menos não era algo que estava fora de alcance.

— Vão atacar as tropas de elite pela linha de frente e quebrar o ímpeto do exército real logo no início e, se possível, derrotarão um ou dois generais. Se puderem fazer isso, a maioria dos lordes que foram arrastados para o meio disso devem desistir.

— Seja lá o que for, o exército real de alguma forma conseguiu reunir vinte e duas mil tropas, enquanto o inimigo é uma aliança centrada em torno do Visconde de Kark da Prefeitura Orba. Sua Majestade deve ter quase o dobro de homens.

Embora Ferth Morrissey, o Visconde de Kark, não tivesse muito território, em questão de habilidade estava ao menos uma cabeça acima dos outros lordes de sua região. Devia ser por isso que foi escolhido para liderar a coleção de forças reunidas pelos apoiadores do rei anterior.

Ri com malícia.

— E pensar que o veremos perder com mais do dobro de tropas. O exército de Hasse entrará em colapso durante a noite.

Portanto, era hora de considerar o caminho que o exército tomaria.

— Uma vez que o exército real perder e começar a retornar, só preciso esperar aqui em Maust. Mas se Hasse morrer, preciso avançar para a capital na mesma hora.

— Vejo que deseja que Sua Majestade morra em batalha.

— Não falei isso. Me preocupo com a facção do rei deposto ganhando muito poder. Não sei qual opção seria melhor. Mas…, vou considerar todas as possibilidades quando for agir.

Também recebi confirmação de Yanhaan a respeito de quando a expedição partiria.

Ainda havia tempo. A expedição começaria um pouco depois da data prevista para o parto de Lumie.

— Parece que estamos prestes a ver alguns combates de grande escala. — Yanhaan olhou fixamente nos meus olhos. — Daqui a três anos, você estará em um trono ou em uma tumba.

— Rezo para estar no trono, mas só rezar não será o bastante.

Enquanto ainda estávamos na sala de chá, não notei que minhas mãos ficaram um pouco úmidas.

Parecia que eu estava um pouco agitado.

Sua Majestade, de certa forma estarei lutando de longe, então, por favor, vá e lute o quanto quiser. Do contrário, o inimigo sairá atrás de você.

Lembre-se de não usar aqueles em quem não se pode confiar. Lembre-se do básico das táticas.

Caminhando pelos jardins do castelo, encontrei Altia e suas duas filhas enquanto plantavam flores.

— Escutem. Vocês terão que regá-las todos os dias. Se fizerem isso, conseguirão flores lindas.

Assim que Altia disse isso, a filha mais velha balançou a cabeça e respondeu:

— Combinado.

— Flores, hmm? Espero que consigam enormes flores.

As duas garotas, ao verem meu rosto, correram para se esconder atrás de Altia. Parecia que ainda estavam com medo de mim, mas supus que era melhor que me odiassem como o assassino de seu pai, embora eu pudesse achar mais fácil se não me odiassem por isso.

Visto que eu tinha matado inúmeras pessoas, tinha certeza de que existiam muitos que me odiavam e que eu nem conhecia, mas isso nunca foi algo em que parei para pensar. Provavelmente era por esse motivo que conseguia continuar lutando. Aqueles que se sentiam culpados a cada vez que matavam pessoas deviam ter seus espíritos quebrados em pouco tempo.

Altia, entretanto, parecia ter mudado um pouco.

Ela sorriu para mim como costumava fazer.

— Irmão, você não deveria estar trabalhando? Tem certeza de que deveria estar vagando por aí?

— Já passei as instruções necessárias. Agora só preciso observar o progresso da situação. Além disso, há outra coisa que preciso conferir.

Altia semicerrou os olhos enquanto sorria.

— O parto de Lumie, certo?

— Sim. O primeiro parto é particularmente assustador.

— Sim, tenho quase certeza de que sei melhor sobre o que Lumie está sentindo do que você, Irmão. Isso é tão difícil quanto ir para a guerra.

Provavelmente não era exagero. Na verdade, alguns livros antigos descreviam o parto da mesma maneira.

— Se eu pudesse suportar um pouco da dor dela… Mas não existe magia para isso. Existem, no máximo, alguns medicamentos e magias que reduzem a dor.

— A dor física é suportável. É algo que pode ser justificado como parte do processo.

Altia parecia olhar para longe.

— Tenho certeza de que Lumie também estará suportando o destino da família enquanto estiver lutando. Isso deve ser muito mais difícil.

Quando ditas por Altia, havia um peso nessas palavras. Embora houvesse uma diferença entre família biológica e família de casamento, ela experimentou a perda de uma família.

— Mas isso é esperado. É assim que as mulheres lutam.

Altia sorriu gentilmente e colocou uma única flor na minha túnica.

— Você só precisa continuar lutando para acabar com a guerra. Haverá pessoas como eu que vão acabar chorando, mas nada vai acontecer se você parar em cada vez que isso acontecer.

— Não espero que você me perdoe.

Eu tive minhas razões, mas isso não era o suficiente para fazê-la me perdoar por matar o seu marido.

— Perdão, ressentimento… essas coisas não são nada quando se trata de você, Irmão. É por isso que você não precisa pensar no assunto — insistiu Altia. — Não é algo com que um rei deve se preocupar.

Ela ficou muito mais forte enquanto eu não a observava.

Imaginei o que teria causado isso. Era por ter se tornado mãe de duas crianças? Apesar de tudo, não havia sinal da garota frágil que ela costumava ser. Altia era digna o suficiente para que pudessem acreditar que era uma lorde com o título conquistado por mérito próprio.

— Assuma o trono, Irmão. O que mais me preocupa é que você possa se preocupar demais com as coisas menores e perder o objetivo real. Se houver alguém no seu caminho, essa gente só precisa ser eliminada. Não existe outro meio.

Era essencialmente um comando.

— Se você acabar não se tornando o rei, então terei que ficar ressentida. Porque vou acabar sentindo que, se você não podia pegar a coroa, deveria ter deixado meu esposo matá-lo.

Ah, então agora eu também estava carregando a vida dos mortos sobre meus ombros.

Portanto, se não conseguisse alcançar o meu objetivo, suas vidas perderiam o sentido.

— Muito bem. Juro que me tornarei rei, mas preciso que você espere um pouco mais. Não acho que isso vá demorar muito.

Altia sorriu.

Parecia que a minha resposta não foi tão ruim.

— Ah, e outra coisa — acrescentou Altia. — Irmão, você está constantemente subestimando a força das mulheres. Deve ser porque você julga tudo em termos de guerra. Mas não precisa ser tão protetor.

Agora ela possuía a expressão de uma irmã alertando o seu irmão.

— Pense nisso. Seraphina, Fleur… são todas muito fortes. Elas têm nervos de aço. E te amam.

Quando ela colocou dessa forma, pude apenas voltar a balançar a cabeça.

— Verdade — respondi. — Nenhuma delas viveu uma vida tranquila.

As únicas pessoas restantes ao meu redor, homens e mulheres, eram as fortes. A conquista não era alcançada de forma solitária. No final, eu teria que confiar em meus vassalos e minhas consortes.

Se não pudesse confiar, perderia o ponto de apoio.

— Altia, fico orgulhoso de que você seja minha irmã.

— Sim, porque sou irmã de um rei.

— Posso te abraçar?

— Fique à vontade, Irmão.

Lentamente dei um passo à frente e puxei Altia para um abraço.

Seu corpo continuava tão frágil e esguio quanto sempre. Mas, então, imaginei que sua força provinha de seu espírito.

— Você é sempre tão caloroso, Irmão. Mas talvez um pouco forte demais.

— Por enquanto, apenas aguente. Essa é uma ordem de um futuro rei.

Altia riu baixinho para si mesma. Também me peguei rindo.

As duas filhas dela, que estavam se escondendo de mim, começaram a dar tapinhas leves nas minhas pernas. Talvez agora confiassem um pouco em mim.

Espero que as duas cresçam fortes. Assim como sua mãe.

Quando tiverem idade suficiente para se casar, terei certeza de que será uma era na qual não perderão seus maridos para a guerra. Juro que vou conseguir isso.

Depois que me afastei de Altia, Oda Nobunaga falou comigo.

— Ela é muito parecida com minha irmã mais nova. É forte; muito mais forte do que um guerreiro comum.

Não é de se surpreender que a irmã de um conquistador seja assim.

— Sim. Você deve se tornar rei. E torne as filhas de sua irmã felizes.

Naquele dia descobri que concordava com Oda Nobunaga em muitas coisas.

>

Quando Hasse estava prestes a partir da capital com o seu exército, a bolsa de Lumie estourou.

Levei Altia e Laviala comigo e fiz uma oração no templo da cidade castelo de Maust.

Os sacerdotes diante de mim acenderam uma fogueira e fervorosamente ofereceram rituais para um nascimento seguro.

Como estavam repetindo o mesmo tipo de frase sem parar, gradualmente caí em um estado de transe semi-embriagado.

Cruzei os braços sobre o peito e encarei os sacerdotes.

De cada um dos meus lados, Altia e Laviala assistiam em poses semelhantes.

Embora esses fossem ritos para um nascimento seguro, continuei pensando na segurança dela. Em um caso extremo, eu não veria problemas em um natimorto, desde que Lumie estivesse bem.

Eu estava dividido entre querer um garoto ou uma garota. E parecia que pensar em considerações políticas valia menos do que se preocupar com a saúde de minha esposa.

As vozes do cântico que durou cerca de uma hora desapareceram, e o sacerdote responsável declarou: “Terminamos.” Ele estava se referindo ao rito do qual estávamos participando. Os cânticos em si continuariam até Lumie dar à luz, mas se participássemos até o fim, minhas concubinas e eu acabaríamos exaustos.

— Muito bem. Vamos descansar um pouco em um lugar diferente antes de partirmos. Não, eu talvez devesse ficar até ela terminar o trabalho de parto. Não quero ficar andando ao redor do castelo.

— Lorde Alsrod, vamos indo mesmo assim. Aqui está quente por causa dos incensos…

Com o comentário de Laviala, saímos rapidamente do cômodo.

— Você é um homem estranhamente crente.

Oda Nobunaga, por outro lado, não me parecia muito crente.

Na verdade, não acredito em um deus. Mas a única coisa que posso fazer agora é oferecer minhas preces. Não é como se outra pessoa pudesse dar à luz à criança no lugar de Lumie.

— Isso é verdade. Se você acredita que a sorte depende de um elemento divino, então suponho que já pensei bastante em deuses.

Não é? Nenhum de nós lutaria se as coisas simplesmente corressem de acordo com o plano.

Claro, neste caso em particular eu não sabia qual era o meu plano.

Falei para Lumie para me dar realeza. Mas não disse para me gerar um filho. Embora o plano fosse mudar dependendo de o bebê ser menino ou menina, eu ainda não tinha pensado nessa parte.

— Bem, em momentos assim você pode ser perdoado por se preocupar apenas com a segurança da sua esposa. Posso ter sido chamado de Rei Demônio, mas, no final, fui apenas um humano. Afinal, se eu fosse um deus, não morreria por causa de uma simples rebelião.

Sabe, ultimamente você parece ter amadurecido bastante. Pode ser só a minha imaginação.

— Isso é provavelmente porque a sua posição está mais próxima da que eu tinha em minha vida. Posso dar um conselho a respeito de derrubar um ou dois lordes, mas, de agora em diante, tudo o que resta é você tomar suas decisões. Então deixo isso em suas mãos. Deixe-me sonhar com você.

Não pude deixar de sorrir. Oda Nobunaga estava menos para uma profissão e mais para um velho amigo, um firme companheiro em armas.

— Você parece alegre, Irmão. Como se Deus tivesse dito que ficará tudo bem — observou Altia enquanto caminhávamos pelo corredor.

— Bem, duvido que ficarmos deprimidos vá mudar alguma coisa. Na verdade, estou me preparando para saudar minha esposa com um sorriso.

— Verdade. Sim, o parto provavelmente vai correr bem.

Eu esperava que as palavras de Altia se tornassem verdadeiras.

— Sim. Afinal, ninguém que deu à luz uma das crianças de Lorde Alsrod morreu durante o parto. Podemos continuar estendendo esse recorde — brincou Laviala.

Vê-la dizendo isso na frente da minha irmã foi um pouco embaraçoso.

— Nossa filha está começando a agir como você, Laviala. Ela também tem as orelhas pontudas como uma elfa.

Falei de nossa Pequena Laviala. A batizei com o nome da sua mãe, na esperança de que fosse tão enérgica e saudável quanto sua homônima.

— Na verdade, acho que ela seria uma garotinha ativa, não importa com qual dos pais ficasse parecida. Nesse sentido, não há real diferença em quem ela puxar — disse Laviala.

— Bem, nunca esperei que ela fosse crescer e ser bem-educada, então tudo bem.

— Sabe, quando você fala de forma tão direta assim, acaba me incomodando um pouco…

Altia riu enquanto ouvia nossa conversa.

Assim que chegamos a outro cômodo, passamos algum tempo de conversa fiada. Conversamos sobre todo tipo de bobagem, como se tivéssemos voltado a ser crianças.

Quando eu era criança, nem pensava em herdar o título de visconde. Apenas vivia como se fosse um dos vassalos do meu irmão.

Como filho de um lorde regional, eu sabia que seria arrastado para situações e conflitos complicados assim que crescesse, mas tentei não pensar muito a respeito.

Altia tinha uma constituição frágil e não podia brincar fora, então Laviala e eu íamos ao quarto dela e levávamos coisas como frutas das árvores e contávamos histórias sobre a floresta. Foram dias normais, mas à sua maneira foram bons.

Já fazia um bom tempo desde aquela época.

Todos nós tivemos nossos próprios filhos, e Laviala e eu tivemos uma filha juntos. Se nossos eus do passado pudessem ouvir o que aconteceria conosco, será que acreditariam em nós? Não, duvido.

Após cerca de duas horas de conversa fiada, a criada encarregada de receber os convidados anunciou a chegada de um mensageiro.

Dada a expressão de alegria dele, eu sabia que seriam boas novas.

— Trago notícias, Sir Regente! Sua esposa deu à luz uma criança saudável!

— Entendo. Obrigado por me informar. — Tentei parecer distinto, mas não consegui conter o sorriso. — Então, é um garoto ou uma garota?

— Uma princesa, Sir Regente.

— Ah, então uma garota.

Por enquanto, precisava deixar a questão da sucessão real de lado.

— Odeio pedir isso, mas volte ao castelo e diga “Obrigado” a ela. Não irei até que mãe e criança estejam acomodadas.

Depois que o mensageiro partiu, sentei em uma cadeira e soltei um longo suspiro.

— Parece que acabei de travar três batalhas consecutivas.

— Você só estava preocupado, apesar de parecer que estava gostando do nosso bate-papo — apontou Laviala.

— É claro. Eu também estava assim quando você teve a nossa filha.

Por ter sido criada como uma princesa e não ser tão fisicamente forte quanto alguém como Laviala, Lumie passou um bom tempo de cama após o parto. Mesmo assim, seu corpo estava saudável e me disseram que ela iria se recuperar bem.

Quando visitei Lumie pela primeira vez após ela dar à luz, sua feição não parecia tão ruim.

— Dei o meu melhor.

— Sim, eu sei muito bem disso. Você foi incrível. Temos uma filha que carrega o sangue de reis.

— Mas você não acredita que as coisas poderiam ser melhores se fosse um garoto? — disse Lumie com um tom levemente provocante.

— Sinceramente, nem pensei nisso. A única coisa que eu queria era que você e o bebê estivessem bem. E tenho testemunhas. Se quiser, pode perguntar a Altia e Laviala.

— Entendi. Você pode até ser um conspirador, mas no fundo é um bom homem. Não tenho motivos para duvidar das suas palavras.

Senti como se o rosto de Lumie fosse agora o de uma mãe.

Os rostos das mulheres mudam quando dão à luz.

— Ela pode ser uma garota, mas vem da realeza. Isso não é problema algum.

De qualquer forma, minhas políticas seriam muito flexíveis e mudariam dependendo de como Hasse pretendesse agir.

— Também fui informada da situação na capital. Acredito que a expedição está prestes a começar.

— Certo. O inimigo é liderado pelo Visconde de Kark, um lorde da Prefeitura Orba que fica na entrada da esfera de influência do rei anterior. As forças de Paffus se reuniram por lá e somam cerca de dez mil tropas. Bem, é basicamente uma escaramuça inicial.

Graças à distância, o núcleo da facção inimiga – os Condes de Talmud e Samuur – não se comprometeram com muitas tropas. Decidiram esperar até que Hasse enviasse forças mais adentro de seus territórios.

As prefeituras que Talmud e Samuur, os dois gigantes da facção do rei anterior, ocupavam estava na Região da Grande Ilha, do outro lado do Canal Sanado. Assim que as forças chegassem lá, não teriam escolha a não ser lutar em terreno inimigo. Isso aumentaria muito os riscos para as forças da campanha para o oeste de Hasse.

— Sei que pode estar se preocupando com Sua Majestade, seu irmão, mas, por agora, concentre-se na sua recuperação. Aqueles que o acompanham na expedição sabem que precisam protegê-lo a qualquer custo. Duvido que ele receberá um arranhão que seja.

— Sim. Obrigada.

Fiz o possível para evitar mentir para minha esposa.

O exército da campanha para o oeste com certeza não era incompetente ao ponto de deixar o rei morrer em batalha. Isso pode ser algo estranho de se dizer, mas para a maioria daqueles participando da campanha, contanto que o rei não morresse, a derrota não teria tanto efeito. Não era como se as forças do rei anterior pudessem se mover em direção à capital real logo após travar uma batalha.

— Também temos que decidir um nome para a nossa filha — disse Lumie.

Eu já tinha escolhido um.

— Acho que Lumie vai servir — respondi.

— O mesmo nome que eu?

Lumie parecia perplexa. Com base em sua expressão, a ideia parecia nunca ter passado pela sua cabeça.

— Ela é uma filha da realeza. Seu nome deve ser da família real. Mas não posso simplesmente escolher um nome por conta própria, sem permissão… isso estaria fora de questão. Nesse caso, qual é o único nome que resta que posso usar sem que ninguém reclame?

Lumie sorriu, entretida.

— Isso mesmo. Ninguém reclamaria se eu desse meu próprio nome à minha filha.

— Não é? Além disso, tenho uma confissão a fazer: Não sou muito bom com nomes… Pessoalmente, gostaria de colocar o nome de todas as minhas filhas como o de suas mães…

Dei o nome de Laviala para nossa filha. A Pequena Laviala parecia gostar do seu nome. Ela ainda não estava em uma idade em que ficaria de adulação, então pensei que podia confiar nisso.

— Além disso, conheço algumas pessoas que colocam o mínimo de esforço possível na nomeação dos filhos, então achei melhor evitar de fazer isso.

Lumie parecia completamente confusa com esses comentários. Não era de se surpreender, considerando que não sabia do que eu estava falando.

— Esse comentário foi dirigido a mim?

Oda Nobunaga parecia irado.

Sim, isso mesmo. Você chamou a sua criança de Cachorro ou coisa do tipo, não foi? Talvez tivesse algum significado mágico, mas por que você nomearia sua criança de Cachorro?

— No meu país, as pessoas raramente são chamadas pelo nome, então não importa como você chama alguém. Além disso, dei nomes estranhos aos meus garotos, mas apenas durante a infância. Quando se tornaram adultos, dei nomes adequados.

Claro, as convenções de nomenclatura podem ser diferentes entre o seu mundo e o meu, mas ainda assim, chamar sua criança de Cachorro? Isso já é exagero.

— Bem, sim, suponho.

Eu sabia disso; o problema era o seu gosto para nomes. Não, na verdade… ele escolheu esse nome mesmo sabendo o quão estranho era.

De qualquer forma, não tenho coragem de chamar minha própria criança de Cachorro. Afnal, sua mãe é irmã do rei; chamá-la de algo assim pareceria um claro sinal de que eu planejo me rebelar.

— Suponho que sim. Acho que Lumie é uma boa escolha.

Já que minha profissão concordava, então ninguém poderia reclamar.

Depois que nomeei a filha com Lumie, mensageiros a cavalo começaram a regularmente visitar o Castelo Maust.

O motivo era simples: a guerra estava prestes a começar.

Porém, a informação mais importante estava sendo repassada pelos rappas. A inteligência deles também era a mais confiável.

Naquela noite, Yadoriggy apareceu em meu quarto. Se ela estava pessoalmente presente, devia haver algum movimento no campo de batalha.

— Não tem ninguém mais aqui. Pode falar livremente. Se houver alguma coisa, entre em detalhes.

Yadoriggy, ajoelhada, respondeu de forma seca:

— Como desejar.

Sua aparência não havia mudado desde o dia em que a conheci. Ela parecia, por esse tempo todo, uma jovem lobisomem. Eu não sabia a sua idade verdadeira.

— O exército real e as forças do Visconde de Kark colidiram. O primeiro tem quase o dobro dos números.

— Parece correto. O inimigo tinha pouco mais de dez mil, enquanto o exército real tinha pouco mais de vinte mil.

— Sim. Quanto às condições no campo de batalha, as defesas inimigas são resistentes e o exército real não foi capaz de passar. Estão atacando vários fortes, mas não parecem ter muitos generais com experiência em cerco.

Isso parecia mais ou menos preciso. Os números por si só eram suficientes para uma batalha em campo aberto, mas não quando se tratando de derrubar fortes. Nessas circunstâncias, a discrição de cada um dos generais era essencial.

E o exército de Hasse não teria generais decentes, visto que havia escolhido todos eles na família real.

Além disso, antes de seu reinado ele esteve vagando por aí, então não tinha nenhum vassalo de confiança. Embora pudesse reunir um exército para fazer uma demonstração de força, seria muito difícil realmente realizar um ataque a um inimigo.

Nesse ritmo, havia uma chance extremamente boa de que Hasse acabasse derrotado. Não havia sentido em reunir duas vezes mais pessoas do que o inimigo se suas próprias tropas não fizessem a menor ideia de como lutar.

— E o que Hasse planeja fazer? Planeja seguir em frente a qualquer custo? Ou parece que ele vai desistir e bater em retirada?

Essa era a questão importante.

O dano poderia mudar drasticamente, dependendo de quando ele decidisse recuar. Embora os mensageiros a cavalo fossem suficientes para me contar sobre as mudanças gerais no campo de batalha, quando se tratava dos próprios pensamentos do rei, eu precisava do poder dos rappas.

Na posição dele, eu recuaria de imediato. Claro, era preciso tomar cuidado para não ser atacado durante a retirada, mas, no momento, a situação estava em um impasse graças à baixa qualidade de suas tropas. Nesse caso, se o exército real forçasse um ataque, iria apenas acumular baixas. Estaria tudo bem se os generais fossem decentes, mas não havia nada a se fazer quando esse recurso simplesmente não existia.

— Parece quase certo que forçarão um ataque — respondeu Yadoriggy. — O rei deseja evitar que sua primeira expedição termine em fracasso.

— Nesse caso, não será apenas uma perda, será uma derrota.

Eu sorri.

Se ele iria jogar a sua autoridade fora, então era uma boa notícia para mim.

Além disso, se ele me pedisse ajuda, isso automaticamente melhoraria a minha posição.

Meu sonho de unificar o reino estava caindo bem no meu colo.

— Claro, não está evidente se o rei irá pedir reforços a você, Sir Regente. Isso seria o mesmo que admitir a própria falta de competência, então ele provavelmente tentará encontrar uma solução que não o envolva.

Yadoriggy ainda não tinha piscado. Ela provavelmente estava se certificando de que não havia intrusos por perto.

— Ele não pretende me chamar, hmm? Tudo bem… sem problemas.

Vá em frente e continue cavando a sua cova.

Então, quando ficar sem opções, venha e implore por ajuda.

Nesse ponto, eu estaria enfrentando um exército bem motivado na facção do rei anterior. Seria um desafio interessante.

— Yadoriggy, de agora em diante, concentre seus esforços não nos movimentos do exército real, mas na facção do rei anterior. Gostaria de saber o que o inimigo estará tramando quando eu o enfrentar.

— Como desejar.

Com isso, Yadoriggy saiu do meu quarto pela janela.

Pude ver um lobo correndo pelo quintal.

Voltar para Maust foi um tipo de aposta. Se Hasse ganhasse muitos louros enquanto eu estava distante, meus sonhos de unificação ficariam um pouco mais distantes.

Mas eu parecia ter ganho a aposta.

Só precisava continuar acumulando mais poder e sair no melhor momento para resgatar o rei da sua situação complicada.

Comecei a treinar os soldados recém-adicionados ao meu exército em treinamento de combate completo.

Demorava para aprender a manejar uma lança Tri-Jarg, mas assim que pegavam o jeito, o resto ficava bem fácil. Isso, especificamente, tornava a guerra mais simples.

Qualquer arma capaz de impedir a aproximação do inimigo é muito poderosa.

Ninguém queria sentir a morte se aproximando, exceto eu, que me alegraria com essa sensação. Nesse aspecto, a maioria dos guerreiros famosos era um pouco diferente das pessoas comuns.

Também comecei a produção de uma arma de alcance ainda mais longo: as armas de fogo que estava pedindo para Ortonba, o anão, produzir.

Atirei em um alvo de madeira com a minha arma pessoal.

Depois de um rugido agudo e ensurdecedor…

O alvo foi perfurado, ficando com um buraco do tamanho de um polegar…

Esta arma de fogo parecia mais precisa do que antes. Mas, no final, o uso faz o mestre. Embora custasse um pouco de munição, a precisão aumentava imensamente assim que o portador adquiria suficiente prática.

Ao meu lado estava o criador da arma, Ortonba.

— Sir Regente, este é um protótipo de um modelo melhorado. O que achou?

— Não sei exatamente quais são as melhorias, mas funciona bem.

— É mais leve que os modelos antigos. Além disso, adicionei uma capa de chuva para que possa disparar mesmo em clima úmido.

Ortonba continuou com uma longa descrição da nova arma. Ele sentia imenso prazer ao falar sobre suas invenções. Era um engenheiro estereotipado a esse respeito.

— Tudo bem, então, Ortonba. Preciso que você prepare cerca de três mil dessas armas. Consegue fazer isso?

— Três mil…?

A expressão dele congelou por um momento. Eu sabia que estava pedindo muito.

— Você também pode incluir os modelos antigos nessa conta, mas precisa ser um total de três mil armas. Com esse tanto, devo ser capaz de obter uma vitória decisiva contra as forças do rei anterior.

Após uma breve pausa, Ortonba bateu em seu peito grosso.

— Muito bem! Vou me certificar de que até então esteja tudo pronto! Esta será uma oportunidade que posso nunca mais ter para brilhar!

— Bem colocado. Bom, isso significa que todos os preparativos estão prontos.

Primeiro, eu pegaria todas as terras que levam aos domínios de Talmud e Samuur – ou seja, as terras entre onde eu estava e a Região da Grande Ilha.

Depois disso, poderia ser uma longa campanha. O inimigo nos enfrentaria com certo grau de comprometimento e defesas. Se necessário, eu mesmo interviria e derrubaria o inimigo pessoalmente.

Se pudesse eliminar a facção do rei anterior, isso removeria todos os inimigos que pudessem resistir a mim.

Então, tudo o que restaria seria assumir a posição de rei. Teria muitas opções, desde obrigá-lo a abdicar até recorrer à força bruta.

— Idealmente, Sua Majestade pode aguentar por mais ou menos um mês.

— Entendo — respondeu Ortonba. — Você precisa desse tempo para se preparar para poder usar todas as suas forças. — Ele não parecia ter lido nas entrelinhas.

— Essa é uma maneira de ver as coisas — falei.

Se Hasse recuasse depois de arrastar a luta por uma semana, sua posição despencaria. Os soldados voltando para a capital sem dúvidas pareceriam sujos e desgrenhados.

Ele então não seria capaz de declarar que voltaria a liderar o exército e me pediria ajuda.

Tudo bem, então, Hasse, faça de mim um herói. Vou rasgar os inimigos que te incomodam ao meio, como se fossem feitos de papel.