Só então alguém bateu na porta. O som por si só me deu uma boa ideia de quem estava do outro lado.
— Sinto muito, Laviala. Ainda estamos em horário de trabalho, então qualquer pessoa pode entrar.
Ela rapidamente se endireitou, embora parecesse um pouco insatisfeita.
Quando abri a porta, lá estava Kelara.
— Os planos provisórios para a invasão das Terras do Norte estão concluídos, então eu os trouxe.
— Bom trabalho, mas você não deve trazer isso enquanto estou em uma expedição.
Seu timing foi um pouco infeliz. Laviala parecia sentir que nosso encontro foi interrompido.
— Você me disse para trazer assim que estivessem prontos.
— Você está certa, sinto muito. Vejamos. Laviala também está aqui, então isso é perfeito. Vamos discutir um pouco sobre isso.
Esses planos eram, falando francamente, subjugar os lordes do norte que ainda não haviam dobrado os joelhos perante mim. Claro, o plano era ostensivamente sobre subjugar os lordes que não se curvaram ao rei.
No momento, as regiões que não estão sob a autoridade do rei podem ser divididas em duas áreas principais. Uma era as Terras do Oeste. Este era o lugar para onde o ex-rei, Paffus VI, havia fugido, então representava um inimigo poderoso. Claro, as Terras do Oeste não estavam completamente unidas. Estavam em um conflito interno pela supremacia. Externamente, tinham Paffus VI como rei, mas as brigas permaneceram.
Por outro lado, as Terras do Norte eram tão distantes da capital real que sempre tendiam a ser culturalmente atrasadas. Talvez fosse por isso que ainda estavam no estágio prévio à unificação por um pequeno número de lordes poderosos; ao mesmo tempo, poderes menores estavam rastejando por toda parte como formigas fervilhando em doces.
— O plano é primeiro depor o Margrave de Machaal na Prefeitura Machaal. Não sei se ele vai se render de imediato ou se vai resistir até o fim. Ainda assim, se o depusermos, os lordes menores com certeza se entregarão.
— Acredito que esse plano não seja ruim — respondeu Kelara sem sequer sorrir. Com seu comportamento estoico, ninguém descobriria que se tratava de minha amante.
— Umm… tenho uma pergunta bem simples… Se importam? — Laviala ergueu a mão. — Falando sequencialmente, não deveríamos estar atacando os poderosos inimigos das Terras do Oeste? — perguntou ela. — Os senhores das Terras do Norte estão mais longe, e eles não são uma ameaça particular, e também…
— Isso é verdade. Também entendo o que você quer dizer, Lady Laviala. O maior perigo está no oeste, onde estão apoiando o ex-rei.
Pelo visto, a atitude relaxada de Kelara deixou Laviala ainda mais irritada, tanto que parecia até um pouco desanimada. Este era um problema de compatibilidade. Kelara era uma oficial com o distinto ar de uma nativa da capital real.
— Seu rosto me diz que você já sabia disso, Senhorita Kelara — disse Laviala. — Uff…Sempre sinto que estou ficando para trás.
— Nada disso, Lady Laviala. Você é uma pessoa notável e acredito que Sua Excelência a ama muito. No mínimo, a ama mais do que a mim.
Mas que ressalva. Não me lembrava de ter dito nada parecido.
— I-isso é verdade… — disse Laviala. — Tenho a sensação de que Lorde Alsrod faz muito mais visitas ao meu quarto…
Isso não é uma competição! Pense em como isso é estranho para mim!
— Sim, eu… gostaria de poder conversar mais com Sua Excelência durante a noite, mas tenho uma personalidade fria, então ele talvez esteja me evitando.
Verdade, Kelara não era a mais calorosa e amigável, mas essas palavras claramente foram espinhosas. Eu pensei que ela não era do tipo que se preocupava com essas coisas, mas pelo visto isso também mudou com o tempo…
— Kelara, é a primeira vez que ouço sobre isso.
— Achei que não valia a pena mencionar. Vamos continuar com o plano. Posso começar? Se houver algum erro, por favor, corrija-me.
— Muito bem. Siga em frente…
Kelara espalhou um mapa que havia trazido com ela e começou a apontar para vários pontos com uma vara.
— Avançaremos do Castelo Maust desta forma.
— Certo — disse Laviala. — Dado o nosso caminho, isso faz sentido. Mas ainda não sei a resposta à minha pergunta.
Sim, isso ainda não respondia por que estávamos atacando os lordes das Terras do Norte. Kelara então suavemente moveu sua vara para um lorde perto do Castelo Maust.
— É possível que isso faça com que Ayles Caltis, Marquês de Brantaar, e Brando Naaham, Conde de Olbia, movam seus exércitos.
Como marido de minha irmã, Brando recebera a patente de conde e o título de Conde de Olbia há quatro anos.
— Não, eles iriam…? — Laviala fez uma careta. Eu disse a ela que tal conflito poderia algum dia acontecer, mas ela provavelmente não tinha levado aquilo a sério.
— Então é por isso. O verdadeiro inimigo são as pessoas relativamente próximas do meu domínio da capital, que no fundo não se submetem de todo a mim. Esses caras vão pensar em tentar se livrar de mim assim que tiverem a chance. Enquanto pensam em mim como um aliado, ao mesmo tempo não querem ficar abaixo de mim.
— Então quer dizer que se vai haver uma grande rebelião enquanto está atacando as Terras Ocidentais, prefere atacar as Terras do Norte primeiro para tirá-los de lá? Porque seria uma guerra em escala mais segura?
Laviala, com certeza, era muito inteligente. Ela podia avaliar a situação com muita rapidez.
— Claro, isso é uma suposição, presumindo o pior cenário possível. Se os parentes de Sua Excelência não começarem uma rebelião, isso já será considerado um bom resultado.
— Ninguém roubaria as moedas de ouro de uma mesa enquanto toda a multidão olha. Mas se não houvesse espectadores presentes, algumas pessoas seriam capazes de furtar as moedas. Em uma palavra, vou testar meus parentes; direi a eles: Se você quer me matar, agora é a hora.
Eu sabia pelos meus rappas que os meus parentes provavelmente não pensavam bem sobre mim. Entretanto, isso não significava que iniciariam uma rebelião. A maioria dos suseranos com certeza não ganhava a plena confiança de seus subordinados. Podia ser mais comum que os subordinados servissem sem gostar de seus senhores. Portanto, eu não saberia a menos que os testasse.
— Eu entendo o que você está dizendo. No entanto, se matassem Lorde Alsrod agora, aquela área cairia em completo caos. Não consigo imaginar que isso lhes faria muito bem.
— Bem, nem todo mundo pensa muito no futuro, sabe.
Eu pretendia construir uma nova era, mas até pessoas sem o mesmo vigor poderiam ficar no meu caminho.
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Tendo destruído os Santiras, voltei para a capital real. Não recebi as boas-vindas de um herói, mas mesmo assim foi uma boa recepção. Após meu retorno, fui imediatamente a Sua Majestade, o Rei Hasse I, para trocar saudações de vitória. Não queria fazê-lo pensar que eu de alguma forma o desprezava.
Hasse I podia até ter sido estúpido, mas já governava há algum tempo, então sua atitude se mantinha mais régia do que antes. Nem todos os reis da longa história do Reino de Therwil foram competentes. A burocracia estava em ordem o suficiente para ser capaz, mesmo que não fosse excelente.
— O reino está um passo mais perto da unificação, graças a você. Vamos continuar avançando juntos como irmãos. — Hasse disse irmãos porque me casei com sua irmã mais nova, o que nos tornou cunhados. — Você ainda está na casa dos vinte. Se continuarmos a refazer este reino juntos pelos próximos dez ou vinte anos, a unificação um dia com certeza chegará.
— De fato. Embora esta seja apenas a minha esperança… gostaria de unificar todas as nossas terras em cerca de cinco anos.
Na época em que as coisas se acalmaram após tomarmos a capital, eu esperava que a unificação acontecesse em mais ou menos uma década. Em outras palavras, este era o ponto intermediário.
— Cinco anos, hein? Com certeza ficarei ansioso por isso. As pessoas podem me chamar de Restaurador. Gosto do som disso — disse Hasse profundamente. Havia uma linha tênue entre se tornar um restaurador e se tornar o último monarca do Reino de Therwil. Claro, este rei não parecia ter muitas suspeitas sobre a segunda alternativa. Se eu pudesse continuar a enganá-lo até o fim, seria perfeito.
Eu tinha usado esses cinco anos basicamente para conquistar a sua confiança. O poder, bem aos poucos, convergiu para quem comandava o exército, já que ele era constantemente enviado para a guerra. Claro, havia uma chance de que ele pudesse começar a se preocupar em me dar liberdade demais. Na verdade, durante o passado, muitas pessoas haviam ganho poder suficiente por meio de repetidas vitórias para que pudessem se afastar ou até mesmo expulsar o rei.
No entanto, fazer isso cedo demais acabaria rendendo no ganho apenas do poder na região da capital, já que não importa quanta justificativa fosse apresentada, os lordes distantes veriam o novo rei como não mais do que um usurpador. Seria impossível manter poder suficiente para subjugar todo o reino. E então, em algum ponto, o sujeito seria derrotado por algum inimigo e teria que fugir da área central para o campo, apenas para ser morto em algum lugar – era assim que as coisas costumavam acontecer. Portanto, trabalhar com o rei ao visar a unificação, no momento, era a decisão certa.
Sim, Oda Nobunaga também dizia isso.
— Você está ouvindo? Use as autoridades superiores enquanto pode. Ashikaga Yoshiaki foi um saco para se lidar, mas nunca o matei. Para ser sincero, eu não queria o exilar, já que isso era problemático… Até sugeri que tornássemos o filho dele no próximo shogun, mas ele recusou…
Eu sei. Não pretendo cometer os mesmos erros que você.
— Não aprecio o seu tom, Alsrod. Não me lembro de ter lidado mal com Yoshiaki. Até me tornar mais poderoso do que ele, nunca o venci por completo.
Mesmo assim, surgiu uma aliança contra você, certo? E então você passou por algumas situações desagradáveis. Não estou com vontade de fazer mais inimigos do que o necessário.
Oda Nobunaga gargalhou. As reverberações dentro da minha cabeça eram bastante irritantes.
— Mentiroso. No fundo, você não se cansa da guerra. Vai até enviar tropas para as Terras do Norte, isso tudo só porque quer lutar contra seus próprios parentes, não é? Você quer cruzar espadas com todos que podem lutar.
Isso era difícil de dizer com exatidão. Eu talvez não pudesse negar isso.
Você pode dizer que o líder de Mineria, Ayles Caltis, foi o primeiro general que eu admirei, assim como a primeira parede que enfrentei. Como o clã Nayvil estava à beira do colapso, despertei para o meu poder.
Ayles Caltis já devia estar na casa dos quarenta. Deixado sozinho, se enfraqueceria tanto física quanto mentalmente. Eu… realmente desejava lutar com ele há muito tempo.
— Faça como quiser. Sua esposa pode te odiar do fundo do coração, ou poder, surpreendentemente, não dizer nada – isso é difícil de dizer.
Oda Nobunaga havia derrotado seu próprio sogro em um cerco, então parecia um tanto sentimental quanto a esse tipo de coisa. Claro, ele baniu o filho do homem que matou seu sogro, então não haveria nenhum problema moralmente falando.
Meu relatório pós-vitória continuou.
— Além disso, Senhor Regente, eu tenho uma pergunta — disse o rei um pouco hesitante.
— Sim, pois não?
— Você está se dando bem com a Lumie? Como irmão dela, me pergunto sobre ela. E ela se casou enquanto era uma ingênua garota de treze anos, então pensei que poderiam surgir muitos mal-entendidos…
Ahh, então ele estava se perguntando sobre isso. Em certo sentido, o rei poderia estar com mais liberdade para se preocupar com sua irmã neste momento. Quando o conheci, ele não tinha nada, e estava pensando apenas em se tornar rei. Uma vez satisfeitas as necessidades básicas da pessoa, pôde se preocupar com assuntos mais além de si mesmo.
Como pude oferecer uma resposta favorável neste assunto, também fiquei aliviado.
— Bem, então, deixe-me falar com franqueza. — Fiz um rosto solente.
— C-claro…
— Quando nos casamos, ela ainda era um pouco infantil, mas agora que mais de cinco anos se passaram; para ser sincero, nunca imaginei que ela se tornaria tão bonita. Talvez seja graças ao sangue real.
Hasse parecia aliviado. Nesse momento, alguém saiu de trás das cortinas. Não senti qualquer hostilidade, então nem me assustei. Eu já sabia que alguém estava lá.
— Ah, me agrada muito ouvir isso. Meu coração estava disparado. — Lumie se revelou. Ela levou a mão ao seu seio, aliviada, e eles já eram de fato grandes o bastante para serem chamados de seios. Nunca pensei que cresceriam tanto…
Algum poeta da corte ou coisa do tipo disse que ela era agora a mulher mais bonita da capital, e não estava errado. Com a idade, ela havia se tornado naturalmente mais bonita, e mesclado o brilho de inteligência com a sua bondade inata. Podia ser realmente a princesa ideal. Entretanto, seu hábito de se esconder por trás das cortinas não havia mudado.
— Não incomode muito a Sua Majestade, Lumie.
— Eh? Mas você disse que tem que fazer o que puder para vencer na guerra. — Quando ela ria assim, parecia um pouco com a garotinha que era quando nos conhecemos.
Droga, era para ser um casamento político, mas eu realmente me apaixonei por ela. Seraphina vai se divertir com isso.
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Depois de passar algum tempo com Lumie, naquela noite fui ao quarto de Seraphina. Quando a conheci, ela devia ter quinze ou dezesseis anos. Vários anos se passaram desde então, mas ela não parecia diferente.
Isso era graças à minha profissão, Oda Nobunaga. Todas as minhas esposas ficaram lindas para mim. Realmente tinha que agradecer por isso.
— Ah, você quer ficar comigo? Não devia passar a noite com a sua esposa oficial? — De onde estava, em sua cadeira, Seraphina riu de mim. Sua atitude indomável nunca mudou.
Mas ela devia ter uma boa ideia para o motivo da minha presença.
— Vou lutar para unificar este reino, Seraphina. Tenho certeza de que você sabe do que estou falando.
— Claro que sei. Você sabe que, quando nos casamos, eu disse que queria estar com um homem que seria rei.
Seraphina se aproximou e se encostou em mim. Sua tendência de me testar com olhos sugestivos também não havia mudado.
— Se sua família e clã tivessem que ser destruídos para que isso acontecesse, você seria capaz de aceitar isso? — perguntei, afastando um pouco o meu corpo do dela. — Seu pai pode se rebelar contra mim, e quando isso acontecer, pretendo enfrentá-lo com força total. Não saber quando Brantaar poderia me trair prejudicaria os meus planos futuros. Especialmente quando se trata do meu sogro, isso pode fazer que outros também debandem.
O rosto de Seraphina ficou um tanto sombrio. Mas ela não disse nada de imediato. Esperei pacientemente. Não importava a resposta dela, o que eu tinha que fazer já estava decidido.
Lágrimas rasas brotaram de seus olhos.
— Que estranho. Antes, eu pensava que não me importava com o que sacrificaria se você fosse rei, mas agora que é a minha realidade, estou com tanto medo. Me pergunto se todas as pessoas que eu conheço podem morrer…
Eu não disse nada, silenciosamente a abraçando. Já sabia que isso era o máximo que poderia fazer. Infelizmente, não importa o quanto isso a entristecesse, eu não podia deixar de levar em conta como tratei todos os rebeldes que apareceram. E então tudo que pude fazer foi ficar em silêncio.
Seraphina deve ter chorado no meu ombro por algum tempo. Eu sabia que ela era delicada, mas ela com certeza era leve. Parecia até que poderia derreter como um doce.
— Isso tudo presumindo que ele pegue em armas contra mim, é claro. Juro para você que nunca faria uma coisa como matá-lo por suspeita de traição.
Se eu fizesse isso, mesmo as pessoas que me obedeciam perderiam a confiança em mim. Depois disso viria um período infernal no qual ninguém me seguiria. Garantir que protegeria qualquer um que te obedecesse era definitivamente uma ideia bem melhor.
— Não, tenho certeza de que a minha família vai te atacar. Não são flexíveis o suficiente para aceitar o novo mundo que você está criando, querido.
Seraphina foi até uma caixa de cosméticos trancada no quarto. O que pegou não foram cosméticos, mas, estranhamente, uma carta.
— Leia isso, querido.
Olhei a carta que ela me entregou na mesma hora.
— Diz que ele quer me mostrar hospitalidade em sua casa e que você deve ir junto.
— Hospitalidade é uma palavra-código no clã Caltis — disse Seraphina. — Isso significa “destruir”. É um truque para reduzir os riscos de ser descoberto.
Então ele estava optando para o que parecia ser uma simples conversa familiar. Quando isso era mencionado em meio a uma infinidade de outros tópicos, ninguém notaria.
— Também recebi várias cartas solicitando informações. Acho que ele realmente quer fazer isso.
— Obrigado por me avisar. Você realmente me entende melhor do que ninguém.
Beijei os lábios de Seraphina. Então, talvez tendo se decidido, ela se sentou na cadeira.
— Na verdade, eu sei a resposta, mas vou perguntar assim mesmo — disse ela.
— Claro, como quiser. Você tem o direito de fazer isso.
Eu tinha certeza de que ela me pediria para não atacar sua família ou poupar suas vidas. Mas isso foi ingênuo da minha parte. Eu tinha esquecido que Seraphina era uma pessoa muito mais apaixonada do que isso.
— Mate-me por traição — disse Seraphina com um sorriso. — Então você será capaz de atacar o clã Caltis sem qualquer restrição. Se eu estiver aqui, seu julgamento pode ser comprometido. — Seraphina, pelo visto, havia pensado nisso como uma forma de cuidar de suas emoções conflitantes.
Suspirei e forcei um sorriso. Eu não conseguia ficar com raiva.
— Qual é a sua profissão?
— Um, Santa…
Isso aumenta a sorte das pessoas próximas a ela em 30 por cento – era isso que a habilidade de uma Santa deveria ser.
— Exatamente. Você é uma santa para mim. Quem mata a santa que o protege não passa de um tolo sem esperanças. Não pretendo viver de forma tão tola. Afinal, você só tem uma vida.
— Você não vai nem se divorciar de mim e me mandar embora…?
— Não sou tolo o suficiente para me divorciar de uma pessoa tão encantadora quanto você. Quero mantê-la como minha.
Me perguntei por que eu estava tão seriamente bajulando a minha própria esposa, mas era verdade que não desejava a perder.
— Se eu fosse a sua única esposa, esse seria um argumento convincente.
— Foi você quem me trouxe uma concubina para que eu pudesse construir mais alianças. Sou grato a você por me juntar com Fleur. Você é também aquela que mais ficou entusiasmada com meu casamento com Lumie.
A tensão havia aliviado o suficiente para que eu prosseguisse com tais gracejos. Além disso, Seraphina me deu uma ideia.
— Seraphina, sinto muito por tocar no assunto agora, mas quero tomar outra esposa.
— É claro. Quem você tem em mente? Você sabe que estou aberta a essas coisas.
— A filha de Soltis Nistonia já deve estar maior de idade.
Antes da minha grande operação militar, eu queria pavimentar melhor o caminho. Soltis Nistonia era um lorde poderoso na Prefeitura Siala que me ajudou enquanto eu expandia minha influência ao longo da costa. Depois que o clã Antoini – que governava a maior parte da prefeitura – perdeu para mim, ele se tornou o maior poder em Siala. Além disso, no outro dia recebi a notícia de que o chefe vagabundo dos Antoinis morrera de doença, essencialmente extinguindo o clã da existência.
Economicamente, os lordes com portos marítimos superavam os lordes sem litoral com a mesma área de terra. Deixá-lo controlar tudo em Siala representaria um risco de traição, então eu não tinha feito isso, mas agora com certeza era uma época de ouro para os Nistonias.
Na verdade, conheci a filha de Soltis, Yuca, uma vez antes, quando convidei sua família para o Castelo Maust para formar uma aliança. Para o caso de que fossem mortos durante a visita, deixaram seu filho em casa e partiram com o resto da família. Entre eles estava Yuca.
Vários anos se passaram desde então, então ela devia estar na adolescência. Ainda era solteira, talvez porque meu poder tivesse tomado toda a área circundante, o que significava que não precisavam pensar em cooperar com outros lordes.
Durante a guerra que se aproximava, eu também queria transportar tropas e suprimentos pelo mar. Para tanto, queria reafirmar meus laços com os Nistonias, especialmente porque eram os governantes originais daquela área, tornando-os meus vassalos conquistados. Quanto mais seguro contra uma traição, melhor.
Depois de ouvir o que eu tinha a dizer, Seraphina perguntou:
— Então as pessoas dizem que essa Yuca é linda?
— Nenhum desses rumores chegou aos meus ouvidos. Se você estiver em dúvida, examine você mesma.
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Pela primeira vez, convidei Soltis para ir à capital real para discutir o casamento. Meu pretexto era que, por ainda ser visconde, deveria fazer uma visita para receber a patente de conde.
Na mesma hora convenci o rei a permitir a investidura. Soltis então se tornou o Conde de Siala.
Após o banquete de celebração, chamei-o a uma sala vazia e tive a conversa. Chamei Seraphina, Fleur e Kelara para entretê-lo. Nesta ocasião não convidei Laviala, mas mesmo assim ela se juntou a nós. Pelo visto, Lumie estava brincando com meus filhos.
— E então eu gostaria de ter sua filha como esposa… Eu teria dificuldade em responder se você perguntasse por que tenho tantas esposas… Mas apenas pense nisso como servindo aos relacionamentos dos respectivos clãs. De qualquer forma, meus próprios filhos e filhas ainda são jovens demais.
— Você é tão vigoroso que não consegue mulheres o suficiente, certo, querido? — disse Seraphina; era difícil dizer se ela estava falando sério ou se era uma piada. Devia estar sendo ao menos meio sincera.
Por outro lado, Fleur estava reabastecendo a xícara de Soltis com bastante calma.
— Talvez este não seja o meu lugar, mas atualmente faria pouca diferença para seus relacionamentos com lordes próximos se você casasse sua filha com eles ou não. Sendo esse o caso, casá-la com Sua Excelência não seria uma má opção, eu acho.
Fleur sempre fazia as coisas de forma lógica, provavelmente por causa de seus esforços para manter o pequeno clã Wouge vivo. Clãs de pequeno a médio porte eram rapidamente destruídos quando não pensavam nas consequências de suas ações. Um único erro levaria à destruição instantânea.
— Bem… estou muito honrado com a proposta em si… mas há algo que me preocupa por um motivo completamente diferente…
Soltis estava começando a ficar com alguns cabelos grisalhos, mas ainda servia como chefe do clã Nistonia. Seu filho ainda não tinha idade para herdar toda a autoridade.
— Ora essa, o que poderia ser isso? — perguntou Fleur sem sorrir . Eu a trouxe ao local porque ninguém era tão bom quanto ela em ir direto ao ponto. Ela era muito mais útil do que algum burocrata não qualificado.
Laviala, aliás, estava sentada lá apenas para assistir. Não importa o quanto ela tenha tentado, sempre teve uma honestidade simplória – ou, para dizer de outra forma, seus hábitos rurais nunca a deixaram. Para uma habitante nascida e criada da capital real, todos nós, além de Kelara, éramos caipiras.
— Bem… isso é constrangedor de dizer… mas vendo os rostos das esposas de Sua Excelência, minha filha está completamente fora de mão; ou melhor…
A julgar pela expressão de Soltis, ele não parecia estar brincando.
— Ainda não transferi a chefia do clã para o meu filho, mas ele já é casado e eu até mesmo tenho netos. Portanto, não há preocupação com a continuação do clã, mas por isso, ao pensar na felicidade da minha filha, quero que ela se case com um marido que a ame.
— Entendo — disse Fleur. — Você quer dizer que não quer que sua filha se torne concubina de Sua Excelência apenas no nome. Você deseja o melhor para ela.
Soltis respondeu a Fleur com um tímido “Isso mesmo”.
Eu não esperava me sentir como me senti. Podia dizer com muita clareza que Soltis realmente desejava a felicidade de sua família – isso em si não era nada estranho. Na verdade, era algo bem natural. Eu, entretanto, há muito deixei esses sentimentos de lado. Talvez não tivesse realmente os esquecido, mas também não tinha pensado muito nesse tipo de coisa.
Me perguntei se me sentiria assim quando meus filhos crescessem. Ou será que o envelhecimento lento devido à minha profissão de Oda Nobunaga faria com que eu sempre me sentisse da mesma forma?
Eu não sabia como responder a isso. Para ser sincero, fui muito abençoado no que diz respeito a esposas. Laviala, que sempre me tratou como um irmão mais novo, assim como Seraphina e Fleur – eram todas lindas. Lumie parecia completamente angelical, e minhas amantes Kelara, Yanhaan e Yadoriggy tinham suas próprias qualidades atraentes.
Nesse ponto, se me perguntassem se eu poderia amar uma garota comum se a tomasse como concubina, eu não tinha certeza. Se Soltis soubesse que eu estava sendo negligente com sua filha, dando a ele uma má impressão de mim, isso com certeza iria contra o meu propósito.
— Entendo — disse Fleur. — Eu acho que é uma preocupação natural de se ter. Bem, por favor, deixe-nos nos encontrar com sua filha ao menos uma vez? Vou mostrar a capital real a ela, assim como mostraremos o castelo em Maust.
Soltis concordou. Depois que ele saiu da sala, Kelara me perguntou:
— Você vai adiar a invasão das Terras do Norte?
— A partir de agora não irá demorar muito.
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A filha de Soltis, Yuca, veio para a capital real mais cedo do que eu esperava – doze dias após meu encontro com seu pai. Ele deve ter enviado um mensageiro a cavalo para seu território na mesma hora, não querendo que pensássemos que estava hesitando. Talvez tenha passado por problemas desnecessários por nossa causa.
Sem saber como me sentir ao conhecer Yuca, decidi acalmar minha mente com a cerimônia do chá de Yanhaan. Na verdade, mandei construir uma sala para a cerimônia do chá dentro do palácio real; precisar visitar a residência de Yanhaan em todas as ocasiões era um incômodo. Por causa da minha posição, eu tinha que ter cuidado com assassinos e coisas assim.
Ao tomarmos nosso chá, não conversamos mais do que o necessário. A cerimônia do chá era um ritual consagrado pelo tempo em que as relações hierárquicas mundanas desapareciam.
Lentamente tomei todo o chá verde-escuro. O chá parecia um pouco amargo, mas talvez estivesse apenas refletindo meu estado mental.
— Você parece perturbado. Posso dizer isso só de te ver — comentou Yanhaan quando eu terminei de beber.
Guru é uma palavra que descreve perfeitamente o rosto de Yanhaan durante a cerimônia do chá. Ela era digna e benevolente, como se dissesse: Eu sou a mestra desta arte. Não parecia em nada com a aparência de uma pessoa que construiu uma fortuna com os negócios.
— Vou me encontrar com a filha de Soltis. Parece que vai ser uma entrevista, então me distraí.
Tínhamos terminado nosso chá, então não importava se discutíssemos algo no momento.
— Desnorteado e sempre em dúvida, não importa quantas vezes você tenha passado por isso; isso é amor.
— Na sabedoria convencional, claro, mas eu nunca pensei que me sentiria assim. Quero ouvir o que você acha.
Yanhaan semicerrou os olhos e mostrou um sorrisinho. Ela também era excelente como burocrata, mas sua expressão, no momento, era toda não burocrática.
— Se parece ser uma entreviiiista, então por que não tenta agir como faria em uma? — respondeu ela lentamente. — Se é isso que seu coração diz, acho que você deveria aceitar as coisas como elas vêm, em vez de resistir. Quais são seus pensamentos sobre o assunto? De qualquer forma, nããão existem respostas corretas quando se trata de amor. Quanto mais você tentar encontrá-las, mais irá falhar.
Essas palavras pesaram em meu coração.
— Muito bem. Vou tentar fazer isso.
— De fato, senhor. Você também é humano, Sua Excelência — disse Yanhaan, sorrindo.
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Era hora de conhecer Yuca, e ela entraria na sala onde eu estava esperando. Kelara estava lá comigo, já que Yuca poderia ficar nervosa se de repente ficasse cara a cara comigo.
A porta, por fim, foi aberta. Engoli em seco. Qual de nós ficaria mais nervoso?
Tentei ver como ela era, mas não consegui ver seu rosto. A garota estava o protegendo de vista com ambas as mãos. Achei que parecia até com uma criminosa que fora capturada.
— S-sinto muito… Não estou acostumada com esse tipo de coisa…
— Ninguém está. Por que não tenta respirar fundo? — Kelara deu alguns conselhos pertinentes.
Yuca respirou fundo e então tirou as mãos do rosto. Fiquei impressionado com seu cabelo azul e seus olhos igualmente azuis. Parte dela parecia quase como uma boneca, mas ela com certeza não era nada atraente. Era uma jovem moça muito graciosa.
— Você tem um cabelo lindo — comentei, e depois me perguntei se isso era um elogio muito monótono para se fazer.
— Um dos meus ancestrais se apaixonou pela filha de um comerciante em outro continente, então ouvi… que isso é por causa desta cor…
— Afinal, o clã Nistonia governa os mares. Isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.
— Sim… Estou muito nervosa… Sinto como se meu coração pudesse pular do meu peito.
Seu tremor não era simplesmente adorável; isso me fez querer cuidar dela.
— Senhorita Yuca, por favor, sente-se. Vou buscar um pouco de chá para você. O que você quer? — Kelara esperou com ela por mim.
Depois, fiz a Yuca várias perguntas sobre ela. Ela disse que não tinha um corpo muito forte, então quase nunca tinha brincado fora ou feito esforço físico. E então, disse ela, ir para Maust quando jovem tinha sido uma experiência nova.
Para ser franco, tive a impressão de que essa jovem realmente não sabia muito sobre o mundo. As mulheres que conheci até o momento tinham força para forjar seus próprios destinos, mas Yuca não tinha vontade de assumir o comando.
Dito isso, eu sabia que a disposição dela era típica de uma nobre. Homens e mulheres geralmente considerados com um espírito indomável e não feminino como o de Seraphina, e certas qualidades desenvolvidas apenas em alguém como Fleur, carregavam o destino de todo o seu clã sobre seus ombros.
Essa garota, Yuca, era o resultado de uma educação regada a amor e completamente normal. Agora, como era o destino de uma mulher nobre, se tornaria uma ferramenta política.
Nesse sentido, eu não tive um romance normal.
Um romance normal, hein? Isso pode não ser tão ruim.
— Então, Senhorita Yuca, você tem algum sonho ou aspiração?
Tentei fazer uma variedade de perguntas em forma de entrevista. Dei o meu melhor para tirar a minha posição de regente da cabeça, já que isso tornaria a busca por um romance normal realmente difícil.
— Sonhos? Umm… — Ela continuou a hesitar enquanto vasculhava em seu cérebro. Se eu tivesse perguntado a Seraphina, ela teria respondido na mesma com algo ambicioso, como querer ser uma monarca.
— Senhorita Yuca, se nada vier à sua mente, por favor, não se esforce — disse Kelara gentilmente, como se fosse uma serva de longa data de Yuca.
— Ah, certo, já sei. Eu tenho um sonho. — Yuca parecia ter lembrado de algo. — Quero ter e criar uma criança saudável.
Essa certamente não era uma resposta que eu esperava, e Kelara também parecia confusa.
— Por que diz isso? — Se eu não soubesse, teria que perguntar. Era assim que se conduzia uma entrevista.
— Bem, eu sou… uma pessoa muito comum, sabe… Ah, não estou tentando ser autodepreciativa; só acho que isso deve ser verdade. Com vocês dois na minha frente, posso dizer que vocês vivem em um mundo diferente do meu… — Yuca olhou para Kelara e para mim e então olhou para baixo.
— Nunca pensei que eu fosse uma pessoa particularmente notável — disse Kelara com uma expressão séria. Pensei que isso poderia fazer Yuca se sentir ainda pior. Kelara era muito bem educada, mas muitas vezes se subestimava.
— Nunca fiz nada heroico, nem sou particularmente inteligente… Na verdade, sou apenas a filha de um lorde. Cada vez que eu ouvia sobre Lady Seraphina ou Lady Fleur, pensava que eram indivíduas muito fortes. — Yuca falava sem confiança, mas estava muito claro que estava fazendo o possível para expressar seus sentimentos mais honestos. — Mas eu não poderia realizar o mesmo tipo de coisas que elas. E meu corpo também é fraco. Só aprendi um mínimo de etiqueta no castelo; realmente não tenho nada de demais. Dizem que uma dama é a diplomata de seu clã, mas também não acho que seria adequada para isso…
Yuca ficava cada vez mais pessimista enquanto falava. Devia ser por causa da personalidade desta garota.
— Então, sendo esse o caso, — continuou ela — eu gostaria de deixar isso para os meus filhos. — Ela ergueu um pouco a cabeça. — Não posso ser uma pessoa extraordinária, mas talvez poderia criar os meus filhos como heróis. Acho que então haveria sentido em minha vida. Além disso, posso ensiná-los sobre fraqueza, então isso talvez me ajude a criá-los para serem fortes… — Só então o seu rosto se iluminou, como uma flor desabrochando.
Seu sonho, sem dúvidas, estava regado pelo amor de uma mãe. Seu sorriso era genuinamente atraente e ao mesmo tempo muito reconfortante.
Se eu tivesse nascido um plebeu humilde e continuado assim, provavelmente teria desejado passar minha vida junto com uma esposa dessas.
Claro, Yuca era comum apenas em relação ao seu conjunto de habilidades; se alguém dissesse que sua aparência era comum, os deuses o destruiriam. Ela era dotada de beleza e bondade o suficiente para ser usada em um mural religioso, sem a necessidade de qualquer enfeite.
Quero fazer essa garota feliz, pensei, como se por reflexo. Não, ainda havia algo altivo pertencente a um regente remanescendo ali. Eu quero ser feliz com essa garota. Então, se pudéssemos ter um relacionamento em que pudéssemos rir juntos das pequenas coisas, talvez meu coração pudesse ficar tranquilo.
— Esse é um sonho muito altruísta e maravilhoso de se ter — elogiou Kelara de uma forma meio parecida com uma entrevistadora.
— Não, também é perfeitamente egoísta. — Ela na mesma hora rejeitou o elogio em sua cabeça. — Meu corpo é muito frágil, então não tenho certeza se posso ter filhos ou mesmo viver o suficiente para criá-los. Portanto, meu sonho inclui a esperança de poder cuidar deles até que cresçam. — O sorriso comovente de Yuca então a fez parecer ainda mais com uma boneca. Na verdade, parecia até que era uma boneca cara que alguém tinha feito à sua semelhança.
— Mas que mulher mais indefesa.
Ei, não adicione seu comentário em um momento como este. Você está totalmente fora de lugar.
— Ela, entretanto, tem um certo charme indefinível. Às vezes é bom ter uma mulher como ela por perto.
Concordo. Eu sabia que minha profissão veria do meu jeito.
Ela sabia que era fraca – provavelmente sabia tão bem que isso a deixava com raiva. Olhando de outra forma, essa era uma enorme força. Pessoas que sabiam que eram fracas não cometiam grandes erros. Eram muito mais fortes e inteligentes do que as pessoas que erroneamente acreditavam que eram fortes.
— E-essa resposta é aceitável…? Lamento falar de algo tão desinteressante… — Sua expressão ficou mais uma vez tímida.
— Não, isso foi muito interessante. Acho que Kelara diria o mesmo.
— Sim. Acredito que tenho muito o que melhorar em mim mesma. Devo ser mais diligente. — Ela não estava sorrindo, mas com certeza estava falando de coração. Kelara deve ter pensado que isso era revigorante, assim como eu. Yuca viveu em um mundo diferente de nós, oficiais militares.
— Voltaremos a entrar em contato com o seu pai muito em breve. Obrigado por ter vindo hoje.
— Ah, claro… Er, Sua Excelência… — Ao se levantar, Yuca olhou nos meus olhos de uma forma ansiosa e suplicante. — Não acho que você será capaz de fazer de uma mulher patética como eu a sua amante… mas, por favor, não abandone meu pai e o clã Nistonia…
Ela estava terrivelmente curvada, então, embora provavelmente não fosse algo para se rir, eu senti que estava prestes a rir.
— Você não precisa se preocupar. Eu nunca abandonaria um lorde que é leal a este reino.
Depois que ela saiu, conversei com Kelara sobre as nossas impressões.
— O que acha? Seja honesta; não vou ficar chateado.
— Acho que aquela jovem teria encontrado a felicidade um pouco mais facilmente se não tivesse nascido na era da guerra.
— Depois de passar todo esse tempo vagando com Sua Majestade, não deveria ficar surpreso que eu dissesse isso.
Pessoas impróprias para o conflito nasceriam mesmo em tempos de guerra. Eram geralmente sacrifícios à violência.
— Eu não a vi apenas como uma fraca, então gostaria de tentar trazer a felicidade a ela do meu próprio jeito.
Kelara lentamente acenou com a cabeça.
— Bem, de qualquer maneira, não achei que Sua Excelência descartaria as discussões sobre casamento.
— Espera… Você está tentando me chamar de mulherengo, não é…? — Eu me considerava perfeitamente fiel às minhas esposas. — Bem, eu pelo menos nunca te deixei infeliz… não é?
— N-não… — disse Kelara, um pouco envergonhada. — Recentemente, eu gostaria que você me desejasse um pouco mais, mas isso perturbaria o equilíbrio, não é?
Cada vez mais eu percebia que ela era surpreendentemente possessiva.
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Na mesma hora notifiquei Soltis Nistonia de que tomaria sua filha como concubina. Ele parecia um tanto incrédulo, dando-se ao trabalho de aparecer para verificar comigo.
— Aquela garota é boa o bastante para você…? Se só quer derrubar o clã Nistonia, então não precisa se casar com ela caso não queira. Não vou pensar em nada se você recusar…
— Não, estou profundamente apaixonado por ela, de todo o coração. Por favor, não se preocupe. Também não pretendo escolher uma esposa por obrigação. Minha única preocupação é a sua fragilidade, mas não há o que se fazer quanto a isso. Em vez de fazer os sacerdotes orarem por ela, eu mesmo orarei tanto quanto puder.
Eu agora tinha uma boa ideia de por que Soltis estava preocupado. Se ela fosse gasta apenas em um casamento político sem qualquer amor, ele sentiria pena dela. Nesse caso, preferia deixá-la construir uma boa família com outro homem, mesmo que ele não tivesse muito poder.
— Meu caro conde, eu realmente me importo com ela. Vou fazê-la tão feliz quanto eu puder. Não pense que isso é apenas uma formalidade — declarei claramente, minha expressão estava séria.
Quando Yuca veio até mim, entretanto, também parecia não estar convencida.
— Eu sou boa o suficiente para você…? — perguntou ela, assim como seu pai havia feito.
— Você não percebe o charme que você tem. Caso se degrade ainda mais, estará insultando o homem que a escolheu.
— Ahh… sinto muito… Só não conseguia acreditar que alguém como eu poderia se tornar a concubina de Sua Excelência…
Yuca já estava nervosa há algum tempo, então tive que tranquilizá-la, tirando a rigidez do seu corpo.
Mais tarde naquele dia, Seraphina me contou um segredo:
— Os homens são fascinados por mulheres que nunca provaram. Como glutões. — Essa era uma maneira infernal de se dizer, mas ela talvez não estivesse tão errada.
— Você é muito conhecedora — falei. — Mesmo se houvesse uma mulher como você, não acho que ela seria capaz de competir.
— Com meu atrevimento, diz?
Eu provavelmente nunca teria esse tipo de conversa com Yuca, mas isso não me incomodou. Todos tinham seus pontos fortes.
— Bem — disse Seraphina —, devemos tirar algum tempo para mostrar o Castelo Maust novamente à sua nova concubina.
— Claro, mas ultimamente tenho estado muito ocupado, então não tenho tempo. Não tenho tempo nem para brincar com os meus filhos.
De fato, com meus laços mais estreitos com os Nistonias, finalmente colocaria a operação contra as Terras do Norte em andamento. Se tivesse sucesso, metade do reino seria meu.
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Reuni meu exército no Castelo Maust e finalmente o enviei para o norte, no início do verão. Mandei o velho comandante Kivik cuidar do Castelo Maust na minha ausência. Ele era eloquente e nada senil, mas, com a idade, suas pernas e costas estavam ficando desgastadas. Sua barba e cabelo estavam completamente brancos; ele parecia até uma divindade consagrada em algum templo.
— Quando Kivik morrer, quero dar a ele um grande funeral e sepultamento, mas ele simplesmente não morre.
— Lorde Alsrod, que desrespeitoso — advertiu Laviala. — Mas é verdade que, se ele viver muito, chegará a hora de seus netos tomarem as rédeas, o que pode ser difícil para seu filho, o Senhor Pequeno Kivik.
— Você disse essencialmente a mesma coisa que eu.
Kivik me ajudou a fazer grandes coisas por muito tempo, mas eu não poderia mandá-lo para a linha de frente na sua idade. Este era provavelmente o primeiro grande trabalho que eu designava a ele desde que deixei que liderasse as minhas tropas na entrada na capital pela primeira vez.
— Como vão as coisas para você, Pequeno Kivik? — perguntei a ele enquanto marchávamos. Eu o chamava de “Pequeno”, mas ele era mais velho do que eu. Já devia ter quase quarenta anos.
— Preciso acalmar a mente do meu pai, fazendo um nome para mim o mais rápido possível.
O Pequeno Kivik era uma pessoa mais comum do que Kivik; ele não tinha o espírito de um guerreiro. Porém, assim como seu pai, havia me servido por muito tempo, mesmo que não tivesse recebido tanta atenção ao fazê-lo. Quanto ao tempo de serviço, a família Kivik ficaria em segundo lugar, atrás apenas de Laviala.
— Não se preocupe. Mesmo depois de você fazer isso, Kivik não vai querer se aposentar. Ele não ficará satisfeito a menos que esteja correndo em batalha por toda a sua vida.
— Tenho certeza de que ele vai, sem dúvida, acabar morrendo em batalha.
— No entanto, ele já deve estar com mais de setenta. Nessa idade, pode ser melhor deixá-lo morrer da maneira que quiser. Tenho certeza de que não terá nenhum rancor contra nós.
— Sua Excelência, isso não é uma piada do clã… — As palavras do Pequeno Kivik pararam por aí, provavelmente porque eu não parecia estar brincando.
— Pequeno Kivik, sei que seu pai está enfermo, mas não estou dizendo que ele é menos capaz de comandar. — Eu precisava fazer o Pequeno Kivik entender isso bem claramente. — Por que eu confiaria meu castelo a um ninguém? Você acha que é apenas um cargo honorário?
— Não, de modo algum… Ainda mais porque pode ser o cenário da batalha, na pior das hipóteses…
— Então é disso que se trata. Estou dando a ele um trabalho importante no qual não importa se ele está imóvel. Agora também me dê o máximo de seus esforços.
— Sim, senhor! — gritou o Pequeno Kivik, parecendo envergonhado.
Ele não era tão capaz quanto o seu pai, mas o homem era mais jovem do que parecia. Poderia alcançar mais dias de glória no futuro.
Todas as pessoas do clã Kivik podem vir a ter um grande papel na proteção do clã Nayvil se fizerem grandes contribuições nas guerras que estão por vir.
— A propósito, quantos anos tem o seu filho? — perguntei ao Pequeno Kivik.
— Meu herdeiro tem treze anos.
— Então, tem idade suficiente para ir para a batalha, hein?
— Temo que ele seja bastante tímido.
Ao meu lado, Laviala disse: “Ter um pouco de timidez é mais reconfortante”, como que para me alertar.
Suponho que eu saio muito na linha de frente…
— É verdade, mas esse tipo de coisa realmente faz meu sangue pulsar.
À medida que avançávamos nas Terras do Norte, quanto mais para o norte íamos, mais entusiasmado eu ficava.
Tradução: Pimpolho
Revisão: ZhX
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