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Trono do Arcanista – Cap. 71 – A Carta

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Lucien balançou a bolsa de dinheiro para ver o peso. Embora a maior parte do tempo Lucien tivesse sido capaz de permanecer calmo, agora ele estava bastante agitado.

Bem… às vezes eu pareço um desesperado por dinheiro. — Lucien zombou de si próprio em sua mente. Ele estava ciente de que deveriam haver trinta e quatro moedas de ouro no saquinho, ao invés de trinta e três, mas ele não disse nada sobre isso, e, claro, Hank também não mencionou nada. Era uma regra tácita, Lucien já estava ciente.

Depois de deixar o escritório de Hank, Lucien decidiu visitar Pierre na biblioteca. Afinal, eles trabalharam juntos por mais de dois meses. Lucien devia pelo menos dizer adeus a ele como um bom amigo.

Com um olhar perdido, Pierre estava sentado atrás do balcão, que estava coberto por dois jornais abertos.

— Bom dia, Pierre. — Lucien cumprimentou.

Como se ele tivesse subitamente acordado de um sonho, Pierre olhou para a pessoa em pé na frente dele por um momento, perplexo, então ele respondeu lentamente:

— Lucien… — Assim que ele falou o nome, sua feição de repente ficou sombria e sua voz cheia de sarcasmo, — Oh, mil perdões… Acredito que deva ser, Sr. Evans, agora, não é?

A atitude de Pierre surpreendeu Lucien um pouco. Lucien achava que conhecia a personalidade de Pierre relativamente bem após trabalhar junto com ele nos últimos dois meses. Na opinião dele, Pierre nunca foi tolo, ou um babaca arrogante.

— Pierre… Por que… — Lucien estava confuso.

— Vocês arruinaram o cravo! Vocês não sabem nada sobre o cravo! — Os olhos castanho escuros de Pierre estavam cheios de ódio.

Baixando a cabeça para os jornais no balcão, Lucien viu que os artigos nas páginas abertas eram sobre o concerto de piano de Victor. Lucien se lembrava dos detalhes dos dois artigos, já que o conteúdo havia sido armazenado em sua biblioteca espiritual naquela mesma manhã, quando ele estava folheando os jornais com as meninas.

Um dos artigos elogiava a melhoria que Victor fez no cravo tradicional e tecia comentários exaltados pelas características impressionantes da nova música do instrumento piano, enquanto o outro criticava Victor pelas habilidades utilizadas em sua apresentação, acusando o novo dedilhado de Victor de trair os dedilhados clássicos e a longa tradição musical.

— Você pode ter opiniões diferentes, e eu entendo, Pierre. — Lucien tentou mediar, — Mas nós não temos que discutir sobre isso. Basta deixar a discussão para os músicos e críticos.

— Me responda. Você acha que você realmente entende o cravo? — Pierre ignorou diretamente as palavras de Lucien e questionou-o novamente.

Em sua biblioteca espiritual, Lucien pegou o livro que Pierre uma vez recomendou a ele, cujo título era A Arte da Apresentação no Cravo. Então, ele notou que o nome do autor era Antonio Sandor.

— Seu pai é… Antonio Sandor, o autor de A Arte da Apresentação no Cravo? — perguntou Lucien.

Pierre fez uma pausa. Então ele endireitou os ombros e respondeu com orgulho:

— Sim, eu sou o filho de Antonio Sandor, um grande artista do cravo.

— É por isso que você está tão zangado? — Lucien olhou para Pierre com um olhar que pedia calma.

— Os grandes feitos de meu pai nunca poderão ser arruinados por vocês! — respondeu Pierre com emoção.

— O que está falando comigo agora é a sua revolta, Pierre, não é você. — Lucien não queria discutir com ele, — De qualquer forma, eu só queria dizer adeus a você. A partir de hoje, eu não vou estar mais trabalhando nesta biblioteca.

— Eu estava errado sobre você, Lucien, — disse Pierre, com extremo desgosto, — Eu pensei que você honrava a tradição musical, mas na verdade você é arrogante demais para demostrar respeito por ela. Você definitivamente vai se arrepender no futuro se você não utilizar os dedilhados tradicionais. Cuidado, gênio!

Lucien abriu a boca e tentou dizer alguma coisa, mas finalmente desistiu. Ele se virou e saiu direto da biblioteca.

Ele pensou que Pierre e ele trial se tornar amigos. Lucien suspirou em sua mente. Realmente, era mais fácil perder um amigo do que conseguir um.

Já que o concerto foi um grande sucesso, todo mundo estava tirando um fim de semana de folga pela primeira vez em muito tempo. Lucien não encontrou Felícia na sala de prática no quarto andar.

— Talvez Felícia vai estar em casa no período da tarde, — Lucien pensou na possibilidade. Ele ainda não tinha ideia de como persuadir Felícia a ajudá-lo.

Pensando nisso, Lucien voltou para o saguão e perguntou a Elena se ela sabia de alguma casa para alugar no distrito Gesu. Como a maioria dos músicos e artistas em Aalto vivia em Gesu, a Associação dos Músicos também era responsável pelo fornecimento de informações sobre casas e por ajudar os seus músicos a encontrar lugares ideais para viver perto uns dos outros.

Entre as muitas opções, Lucien gostou da casa de dois andares localizada no nº 116. A casa era de propriedade de um músico não muito famoso, que agora estava longe, no Reino de Syracusa, trabalhando para um visconde como seu consultor de música. A localização da casa era um pouco afastada, mas o aluguel também era mais barato — um Thale por ano.

Eram quase dez da manhã. Lucien planejou dar uma olhada na casa à tarde, depois de visitar Felícia. Ele queria se mudar o mais rápido possível. Agora, porém, Lucien tinha que voltar para casa e arrumar algumas de suas coisas.

— Tome cuidado, Sr. Evans. — Elena sorriu para Lucien, enquanto Cathy se curvou um pouco para ele, respeitosamente.

Quando Lucien voltou a Aderon, ele viu muitos dos vizinhos em pé na frente da casa de tia Alisa, como da última vez, quando John se tornou um escudeiro.

Todas as semanas, essas pessoas pobres em Aderon felizmente conseguiam fazer uma pequena pausa no domingo, uma vez que também iam à igreja na parte da manhã.

Com o aprimoramento do seu poder espiritual, a audição de Lucien também estava melhor do que a das pessoas comuns agora. Ele ouviu algumas das palavras da conversa dos vizinhos e um sentimento sinistro caiu sobre ele.

— Oi, Roy. Por que há tantas pessoas reunidas aqui? — perguntou Lucien.

— Ei, Lucien! Faz tempo que eu não te vejo! — Por trabalhar demais, Roy, aparentava ter muito mais do que os seus trinta anos, e ele não sabia que Lucien tinha se tornado o consultor de música da princesa ainda. — Você não está sabendo? Um dia é da caça, outro é do caçador! E o dia de sorte do Joel finalmente chegou! Hoje de manhã, um senhor nobre convidou Joel para trabalhar como músico de sua família.

— O que? Onde está o tio Joel agora? — Lucien ficou surpreso.

— Joel saiu com pressa, e ele levou Alisa e seu filho junto. Aposto que o salário deve ser muito bom. — Roy sorriu.

— Lucien, você não estava sabendo disso? — perguntou uma mulher de meia idade chamada Lizz, com curiosidade, — As pessoas dizem que você é um músico famoso agora e é por causa de sua reputação que Joel foi convidado. É verdade, Lucien? Você é famoso agora?

— Algo está errado… — Lucien murmurou para si próprio e rapidamente perguntou aos outros, — Quem convidou Joel?

Tio Joel nunca sairia com tanta pressa, principalmente sem dizer nada a ele primeiro. Além disso, mesmo se houvesse um nobre que admirava a música de Lucien e quisesse que o tio dele fosse seu músico, Lucien devia ter sido ao menos informado antes.

— Até parece que nós ousaríamos ficar fazendo perguntas a um nobre! — Lizz e alguns outros vizinhos balançaram a cabeça, negando, — Vimos o nobre muito bem vestido. E ele tinha muitos escudeiros e servos.

Algo não estava certo… O coração de Lucien estava se despedaçando de ansiedade, mas ele sabia que devia manter a calma.

— Tia Lizz, você se lembra da aparência desse nobre? — Lucien franziu as sobrancelhas, — Será que o tio Joel me deixou algum recado?

— Seria muita falta de educação ficar olhando para o rosto de um nobre! — respondeu Roy, — Eu só me lembro que ele era um homem muito decente. Seu cabelo era todo branco. Terno preto… e usava uma bengala. Os escudeiros eram tão fortes… Todos deviam ter vinte e poucos anos…

Embora Roy estivesse dando o seu melhor para se lembrar, as informações que ele forneceu não era realmente úteis.

— Joel deixou uma mensagem para você — disse Lizz, — mas nada realmente especial… Ele me pediu para te avisar para não se preocupar com ele, e que ele vai pedir a alguém para lhe enviar uma mensagem quando ele chegar lá.

— Só isso? — perguntou Lucien, tentando suportar a ansiedade que se acumulava em sua mente.

— Só isso. — Os vizinhos não sabiam de mais nada.

— Alguma coisa errada, Lucien? — Alguns dos vizinhos perguntaram.

Respirando fundo, Lucien se acalmou um pouco.

— Nada de mais, — respondeu Lucien. Ele decidiu procurar pistas antes e, em seguida, informar John. Devia haver um propósito para alguém ter levado Joel e sua família.

Lucien tinha uma chave reserva da porta. Assim que ele entrou na casa, o poder espiritual de Lucien lhe disse que algo de fato não estava certo ali. Lucien sentiu o cheiro de um estranho na sala, mas, infelizmente, aquele cheiro invisível e a trilha que ele teria deixado seriam inúteis para fins de rastreamento.

E havia uma carta branca na mesa.

 


 

Tradução: Vermillion

Revisão: Barão

 

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