Alguns raios do sol da tarde iluminavam o interior do bar caótico. Bardos cantavam de um lado e mercenários tagarelavam alto de outro. Lucien notou que havia umas primas bonitas sentadas ao lado das mesas do bar.
Se espremendo pela multidão, Lucien finalmente chegou até o balcão.
— O que quer beber? — perguntou Cohn sem sequer levantar a cabeça.
— Sou eu, Lucien.
Cohn ficou surpreso ao ver o rosto de Lucien todo arrebentado.
—O que é que aconteceu com a sua cara? — A barba sobre a boca dele estava torcida de preocupação, — Espere aí… Jackson veio aqui mais cedo e perguntou sobre você… Você por acaso entrou numa fria, meu garoto?
Lucien não estava disposto a repetir o que aconteceu mais uma vez.
— Estou bem, Cohn. O problema foi resolvido… Estou aqui para procurar um professor que possa me ensinar a ler.
—Hô hô! Você conseguiu?! Você não roubou dos gangsters, né? — Agora Cohn ficou ainda mais surpreso.
Lucien não teve escolha senão explicar brevemente o que aconteceu. Depois de ouvir isso, Cohn ficou muito impressionado.
— Lucien! Você e John são finalmente homens de verdade agora! Eu estou orgulhoso de vocês rapazes! — Bebendo sua cerveja, seu rosto ficou vermelho, — Mas tenha cuidado, você e John. Embora as chances sejam pequenas de eles se atreverem a se vingar de um escudeiro, ainda assim, fique de olho naqueles bastardos… nunca se sabe.
Lucien concordou, sério. Cohn pegou um papel onde havia uma lista de símbolos estranhos.
— Eu não sei ler, — ele riu e continuou, — mas como um dono de bar, você tem que ter algo para te ajudar a lembrar de todo mundo.
Na lista, havia um grupo de estudiosos, que deixaram suas informações aqui e estavam trabalhando com aulas. Enquanto Cohn estava falando os nomes em voz alta, Lucien notou um nome familiar, que estava escrito em uma nota ao lado da lista.
— Victor? Você acabou de dizer o nome do Sr. Victor? — Lucien parou Cohn.
— Sim, você o conhece?
— Eu o conheci uma vez na associação. — Lucien olhou para o nome, — Mas ele é um músico, não é? Você colocou uma nota ao lado do nome dele também.
Futricando o bigode, Cohn olhou outra vez para a lista e assentiu.
— Sim, é o mesmo Victor de quem estamos falando.
— Ouvi dizer que ele vai apresentar uma peça no Teatro. Da última vez que o vi ele estava muito ocupado.
Cohn riu.
— É por isso que ele tinha que dar aulas. Ter uma chance de tocar no Teatro dos Cantos é mais difícil do que você pensa. Ouvi isso de outros hóspedes também. — Cohn sentou em uma cadeira de bar, — Seis meses atrás, o Sr. Victor recebeu o convite do Teatro. Desde então, ele recusou todas os outros convites, mesmo o de Siracusa, para se concentrar em sua preparação. Ele estava vivendo só de suas economias nos últimos meses. — Cohn deu de ombros.
— Mas por que ele não encontra outro emprego relacionado à música? — Lucien perguntou.
— Eu não faço ideia, garoto. — Cohn tomou outro gole de sua cerveja, — Esses músicos tendem a ser bastante… sensíveis, dá até pra dizer loucos às vezes. Eu acho que provavelmente o Sr. Victor também precisava de algo como distração. Vai saber, esses artistas…
Victor causou uma boa impressão em Lucien da última vez, quando se encontraram na associação. Comparado aos os outros de quem ele nunca ouviu falar, Lucien sentiu que o músico seria uma boa escolha.
— Então como eu acho o Sr. Victor? — Perguntou ele.
O distrito de Gesù recebeu seu nome do instrumento, o violino de Gesù, e era o local onde a maioria dos músicos de Aalto moravam.
Havia árvores grandes em ambos os lados da rua, e a luz do sol se espalhava em fragmentos dourados pelos ramos que se moviam ao vento, formando diversos padrões no chão. As luzes se misturavam com as sombras. A rua era como uma pintura.
Demorou muito para encontrar o endereço que Cohn lhe deu. Depois de se perder algumas vezes, ele finalmente estava em frente à casa de Victor, na rua Snehva, nº 12.
Era uma casa de dois andares coberta de videiras bem verdinhas. Tudo parecia tranquilo e elegante. Se tudo corresse bem, Lucien ia fazer aulas pra aprender a ler nos dois meses seguintes, o que poderia ajudá-lo a mudar toda a sua vida.
Tocando a campainha gentilmente, Lucien ficou um pouco nervoso. Logo um criado apareceu no portão de ferro. Vendo Lucien, um menino vestido com roupas mal-acabadas e velhas, ele franziu o cenho.
— Pois não? — Ele perguntou friamente.
Mesmo depois de Lucien explicar o que veio fazer ali, o criado ainda tinha suas dúvidas.
— Serão cinco Nars por mês, pagos adiantado. Você tem certeza?
Como Lucien já esperava aquilo, ele tirou seu dinheiro do saquinho.
— Sim eu tenho certeza.
O criado ficou surpreso. Ele não podia acreditar que esse jovem pobre tivesse condições de pagar aquele preço. Como criado de um músico famoso, ele ganhava dez Nars por mês e só conseguia economizar um a cada mês, às vezes até menos.
— Sr. Victor goza de reputação ilibada. Ele tem alguns conhecidos na prefeitura. — Disse casualmente o criado enquanto abria o portão, ainda olhando para Lucien com suspeita. — De onde será que ele arrumou tanto dinheiro… — ele pensou.
Lucien apenas sorriu sem dizer nada. A atitude do criado estava dentro de suas expectativas. Sentir-se ofendido? Isso era para os ricos e poderosos.
Ele seguiu o criado através do jardim e parou em frente à porta de madeira, esperando lá. Alguns minutos depois, o criado apareceu novamente.
— Acompanhe-me, por favor. Mais tarde você pode pagar a mensalidade ao Sr. Athy, o mordomo.
Era uma sala de estar espaçosa, decorada com uma mesa de chá, alguns sofás castanhos e mesas pequenas. Do outro lado, havia uma mesa de jantar longa, feita de jacarandá de qualidade.
Também havia alguns alunos aqui. A sala de estudos de Victor era pequena demais para todos os alunos, então eles simplesmente se sentavam na sala de estar. Havia cinco meninos e três meninas sentados lá, todos muito jovens, provavelmente entre treze e vinte anos.
Em frente a eles haviam papéis e nanquins, nas pequenas mesas redondas. Alguns deles estavam copiando algo, enquanto alguns estavam cantarolando ou lendo baixinho.
De acordo com a observação de Lucien, os estudantes daqui também tinham históricos diversos: alguns eram de família humilde, e os outros estavam vestidos de forma impecável. Esses últimos eram geralmente de famílias nobres. A maioria deles não estava qualificada para herdar os títulos de nobreza e nem conseguiam ativar a Bênção para se tornar um cavaleiro. Para eles, se tornar um músico de renome era uma opção muito boa.
Victor, usando seu casaco vermelho, estava se movendo pelos cômodos e ajudando os alunos um a um.
Olhando ao redor, Lucien encontrou o mordomo com um terno preto requintado. Pelos seus cabelos pretos e brancos e seu rosto enrugado, podia-se dizer que ele não era muito jovem. Porém, ele estava ali ereto, com uma expressão séria.
O mordomo parece um nobre, — pensou Lucien. Ele caminhou em sua direção e perguntou, tentando manter sua voz baixa.
— Com licença, você é o Sr. Athy?
— Sim, sou eu. Posso saber seu nome e seu histórico de estudo?
— Sim, claro… eu sou Lucien. Lucien Evans. Eu nunca aprendi a ler antes. — Enquanto falava, Lucien passou para ele os cinco Nars.
Athy pegou o dinheiro, impressionado. Aparentemente, o rapaz era do bairro pobre. Com base em sua experiência, a maioria dos jovens de Aderon era bastante grosseira, porém Lucien parecia muito educado e maduro. Então Athy foi até Victor e lhe sussurrou algo. Victor se virou e acenou para Lucien gentilmente, apontando para uma poltrona vazia.
Os alunos então notaram a presença de Lucien na porta e estavam olhando para seu novo colega com curiosidade. Cabelos negros, olhos e traços bem definidos… o novato tinha um rosto até bonito, mas ele estava usando roupas de algodão cru e sapatos simples. Embora estivessem limpos, era fácil dizer sem olhar duas vezes que Lucien vinha de uma família pobre.
Um pobre querendo aprender a ler? — Esse foi em geral o primeiro pensamento deles.
Logo a maioria deles abaixou a cabeça e voltou a estudar. Apenas os de famílias humildes ainda o espreitavam com atenção. Assim que Lucien se sentou, o menino ao lado se afastou inconscientemente, como se Lucien fedesse.
Lucien não se sentiu ofendido. Ele cumprimentou o menino e pegou seu papel e nanquim. Eles eram novinhos. Lucien os comprou com seus Fells remanescentes.
Victor chegou a Lucien um pouco depois, com um livro de capa dura preto em suas mãos.
— Pronúncia Padrão da Língua Culta e Gramática Básica, muito apropriada para um iniciante. Vire para a página 1, capítulo 1. Começamos a partir da pronúncia das trinta e duas letras. — Victor disse gentilmente.
Tradução: Vermillion
Revisão: Barão
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