Um lírio de um branco puro e um falcão de asas abertas, gravados sobre um fundo negro: o brasão do Império Norlangarth. Estampado em um estandarte na parede, era engolido por chamas vermelhas.
O fogo se alastrava aqui e ali pelo grosso tapete que cobria o chão da sala do trono. Os sons de metal se chocando e vozes gritando fluíam incessantemente à distância, por todo o Palácio Imperial e pela própria Centoria do Norte.
A cerca de vinte mels de distância de Ronie e Tiese, que esperavam com as espadas em punho, um homem estava sentado relaxadamente no trono chocantemente alto de ouro e couro preto. Ele estava com as pernas cruzadas e um punho apoiando a bochecha, como se não tivesse a menor preocupação com as chamas que se espalhavam pela câmara.
— Pensei que os Cavaleiros da Integridade seriam os primeiros a chegar até mim — entoou o homem de forma imperiosa, acariciando sua barba grisalha e pontuda. — Em vez disso, não são cavaleiros, nem mesmo soldados, mas duas garotinhas. Vocês são estudantes da Academia de Esgrima, então?
Elas não tinham obrigação de responder, mas Ronie sentiu uma pressão invisível que parecia querer forçá-la a baixar a cabeça em uma reverência. Ela se livrou da sensação com esforço e disse:
— Aprendiz primária Ronie Arabel, da Academia Imperial de Esgrima de Centoria do Norte!
Tiese a seguiu, gritando para esconder seu desespero.
— Igualmente, Tiese Schtrinen!
— Ahhh, aquele brutamontes finalmente foi exposto como a fraude que é por perder uma batalha para crianças tão pequenas que mal aprenderam a segurar uma espada de aço. — O homem zombou e olhou para a sua direita.
Caído sobre o tapete, com os membros estendidos, jazia um homem muito alto, vestido com uma armadura de placas pretas com detalhes em branco-prateado. A incrustação em seu peitoral era o brasão da Guarda Imperial de Centoria do Norte. Ele não estava morto, mas havia recebido as técnicas consecutivas de Tiese e Ronie simultaneamente — ele não se levantaria tão cedo.
Elas haviam lutado contra aquele homem, o capitão da guarda pessoal do imperador, em uma batalha furiosa que durou mais de vinte minutos. Se fosse apenas uma delas, não teria vencido, e mesmo juntas, não teriam ganhado um duelo de espadas tradicional sem o uso de artes sagradas. As chamas que lambiam várias superfícies da câmara real vinham dos elementos térmicos que Ronie lançara contra ele em desespero.
Ele fora um adversário formidável, mas o capitão lutara com honra. Então, ouvir este homem falar mal do servo leal que arriscara a vida para protegê-lo deixou Ronie furiosa.
Ela não sofrera nenhum ferimento profundo, mas os golpes violentos do capitão deixaram seus braços com uma dor entorpecente, e os inúmeros pequenos cortes e contusões latejavam incessantemente. Mas, concentrando sua atenção, ela conseguiu esquecer momentaneamente toda a dor e o medo.
— Esta guerra acabou! Renda-se agora e retire suas ordens à Guarda Imperial!
À sua esquerda, Tiese gritou com uma voz nítida e clara:
— Os Cavaleiros da Integridade e o Exército de Guardiões Humanos chegarão em breve! Não há para onde escapar!
Na verdade, este aviso deveria ter sido dado pelo oficial comandante da operação para conquistar o Palácio Imperial de Centoria do Norte, Deusolbert Synthesis Seven. E ele estivera liderando a unidade que continha Ronie e Tiese, até o corredor que levava à sala do trono.
Mas quando Deusolbert recebeu a notícia de que a força que atacava o portão oeste do castelo estava sendo repelida, ele ordenou que a unidade continuasse e partiu para apoiar o outro grupo. Então, os soldados da unidade chamaram a atenção dos Cavaleiros Imperiais estacionados no corredor e disseram às garotas para continuarem. Então, no final, eram apenas as duas na sala do trono.
Havia uma razão para a operação ser tão apressada.
Esta guerra, mais tarde conhecida como a Rebelião dos Quatro Impérios, foi provocada quando os quatro imperadores que controlavam os quadrantes do Reino Humano emitiram éditos conjuntos declarando o recém-formado Conselho de Unificação Humana, de um mês de idade, um ato de traição que tentava controlar a Igreja Axiom, e enviaram os Cavaleiros Imperiais sob seu comando para invadir a Catedral Central.
Esses soldados imperiais não eram inimigos jurados como os cavaleiros vermelhos que invadiram durante a Guerra do Outromundo, mas sim, companheiros residentes de Centoria. As baixas tinham que ser mantidas ao mínimo absoluto, de acordo com Kirito, o Delegado Espadachim do Conselho de Unificação Humana.
Se todos os Cavaleiros da Integridade e conjuradores de artes tivessem permanecido dentro da Catedral para se concentrarem na defesa, e tivessem ordenado que as forças do Exército de Guardiões Humanos estacionadas em Centoria atacassem por trás, eles poderiam ter aniquilado os Cavaleiros Imperiais, se assim desejassem.
Mas Kirito escolheu não fazer isso. Em vez disso, ele evacuou quase todos os Cavaleiros da Integridade da Catedral, pareando-os com as forças do exército de guardiões e enviando-os para atacar os quatro palácios imperiais. A única maneira de minimizar os danos seria capturar os imperadores o mais rápido possível e forçá-los a retirar seus éditos. Assim, os outros soldados da unidade assumiram o papel de isca, desviando a atenção dos Cavaleiros Imperiais para que Ronie e Tiese pudessem correr para a sala do trono.
Neste exato momento, Kirito e sua Subdelegada, Asuna, estavam com um punhado de cavaleiros de patente inferior, guardas e artífices defendendo a Catedral Central. Mas mesmo o espadachim mais forte do mundo não poderia defender facilmente quatro portões, cada um em uma direção cardeal e com um exército imperial tentando arrombá-lo.
Então, agora elas precisavam anular aqueles éditos o mais rápido possível e encerrar a batalha de Centoria do Norte.
Mas, apesar de seu fervor, o homem no trono — o Imperador Cruiga Norlangarth VI — apenas as encarou de volta, com suas feições frias e compostas.
— Garotinhas de algumas casas nobres inferiores cujos nomes eu nem saberia, recusando-se a se curvar diante de mim, ousando em vez disso apontar suas lâminas. Até mesmo este único incidente fala da devastação que este Conselho de Unificação busca desencadear sobre nossa ordem e segurança, não é mesmo?
Ele falava como se estivesse sendo perfeitamente razoável e pegou suavemente um cálice de cristal de uma pequena bandeja ao lado de seu trono. Ele tomou um gole do líquido roxo-escuro contido nele.
O vinho do imperador era criado nas terras mais ricas com as bênçãos de Solus e Terraria, propriedades particulares das famílias imperiais e de outros nobres de alta estirpe. Uma única garrafa custava mais do que o estipêndio de um mês para uma família nobre inferior, de acordo com o que o pai de Ronie lhe dissera uma vez. Tudo isso. Mesmo que aqueles vinhedos fossem transformados em campos de trigo, eles supririam a demanda de toda a Centoria do Norte pelo ano.
Nenhuma ordem de coisas que permitisse tal extravagância poderia ser outra coisa senão corrupta.
— E o que os altos nobres fizeram pela humanidade?! — gritou Ronie, a ponta de sua espada apontada para o rosto do imperador.
— As pessoas que lutaram pelo nosso lado na Guerra do Outromundo… Aqueles que se levantaram para proteger os cidadãos eram guardas comuns e nobres inferiores!
— Isso mesmo! Todos vocês, altos nobres, ficaram seguros em seus castelos e propriedades, preocupados que pudessem perdê-los! — acrescentou Tiese, apontando um dedo para o imperador.
Este foi um ato que lhe teria valido a ira do sistema de “autoridade judicial” que os nobres de alta estirpe exerciam contra os de escalão inferior. Pela primeira vez, a fina ponte do nariz do imperador franziu-se em desagrado.
— …Mas é claro que ficamos — disse ele, girando o vinho em sua taça. — Esse é o trabalho dos nobres inferiores e dos guardas: dar suas vidas para proteger a minha. E meu trabalho é liderar adequadamente o povo comum do império. Sim… até este ponto, apenas as terras do império do norte estavam ao meu alcance, mas não posso ter essa ralé amaldiçoada monopolizando a Igreja Axiom enquanto Sua Santidade, a Pontífice, está em seu longo sono. É um erro que deve ser corrigido. Se alguém for unificar as terras humanas, não será um espadachim sem nome que apareceu do nada. Serei eu, Cruiga Norlangarth!
O imperador bebeu o resto de seu vinho de um só gole e atirou a taça ao chão. O fino recipiente de cristal se estilhaçou, e o homem que governava o império se levantou, alcançando uma espada longa que repousava ao lado do trono.
Da bainha carmesim, decorada tão finamente que Ronie nunca vira igual, ele puxou uma lâmina que brilhava como vidro polido.
Instantaneamente, do topo do estrado do trono de três degraus, algo como um vento frio soprou por ela. Ronie recuou o pé direito inicialmente, mas se manteve firme e se inclinou para frente contra a força.
Só porque não apareciam em batalha não significava que as famílias imperiais ou nobres não sabiam lutar.
Claro, nobres superiores que se dedicavam a um treinamento diário feroz como Volo Levantein, o ex-discípulo de primeiro assento na academia, eram muito raros. Mas, segundo Kirito, os níveis de autoridade daqueles nobres eram aumentados pela caça regular que realizavam nas florestas fora da cidade, um privilégio que apenas eles podiam desfrutar. As crianças nobres iam para a Academia de Esgrima quase sem exceção, então todas tinham a oportunidade de aprender um sólido básico de luta com espadas.
E para um imperador, havia tutores particulares especiais que podiam lhe dar o melhor treinamento desde a tenra idade — e muitas oportunidades para caçar presas maiores. A lâmina cravejada de joias que o imperador segurava era claramente de uma prioridade de item superior às espadas de dotação padrão que Ronie e Tiese usavam também.
O som de soldados e Cavaleiros Imperiais se chocando flutuava incessantemente do corredor atrás delas. Os estandartes tingidos com o brasão imperial nas paredes de ambos os lados continuavam a queimar e a se desfazer. A espada do imperador brilhava em um vermelho vivo, refletindo a cor das chamas.
Ronie era a herdeira de uma casa nobre, por mais humilde que fosse. Mesmo com uma espada nas mãos, o medo e a obediência à família imperial com os quais crescera não desapareceram. Mas agora ela sabia que havia coisas mais importantes do que a obediência cega.
Quando Kirito e Eugeo eram apenas estudantes na academia, como Ronie e Tiese, eles lutaram contra a Administradora, o ser semidivino que governava todo o mundo humano. E agora que Kirito estava lutando para proteger a Catedral Central e para trazer uma nova e melhor era, ela não podia falhar com ele e recuar. Não neste momento. Nunca.
— Se você não vai retirar o édito… então eu vou te derrubar aqui! — gritou Ronie, erguendo sua espada de dotação padrão.
Ao seu lado, Tiese também assumiu a postura estilo Aincrad em altura média.
O Imperador Cruiga não estava mais sorrindo. Ele ergueu a espada cravejada de joias como se estivesse dividindo os céus, assumindo a postura ousada do estilo Alto-Norkia.
Quando as chamas começaram a lamber o maior dos estandartes, localizado atrás do trono, Ronie avançou.
Instantaneamente, o chão sob seus pés perdeu a forma, tornando-se um buraco negro e profundo.
Antes que pudesse sequer gritar, Ronie despencou no buraco, caindo e caindo, até que…

Tradução: Gabriella
Revisão: Fábio_Reis
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