Kirito e Ronie voltaram para seus quartos, vestiram seus trajes normais – espadas inclusas – e começaram a busca a partir do quadragésimo nono andar.
Mas eles não abriram, de fato, todas as portas e verificaram todos os cômodos.
O poder de Encarnação de Kirito era tão forte que ele conseguia sentir o quarto de Sheyta do outro lado do rio, e podia detectar a presença de pessoas ou monstros através das portas e paredes, então simplesmente se concentrar do centro do andar era suficiente para lhe dizer o que precisava saber.
Toda vez que um guarda os repreendia, ele mostrava a corrente com o símbolo do comandante supremo e seguia em frente. Passaram duas horas correndo de andar em andar, descendo pelo castelo.
Nesse ponto, Kirito estava no terceiro subsolo, um enorme depósito no fundo do Palácio de Obsidia. Em um cruzamento de corredores, ele fechou os olhos e se concentrou – apenas para balançar a cabeça.
— Não. Aqui também não. — Ele suspirou e recostou-se na parede de rocha negra. A área de armazenamento estava completamente vazia de pessoas; o único movimento no corredor silencioso era o fraco piscar das lâmpadas de minério.
Ronie perguntou ao seu parceiro pensativo:
— Então isso significa que eles não estão no castelo? Poderiam ter escapado para fora?
— Sim, mas isso significaria que o lacaio ferido voou mais de três kilors em apenas dois minutos.
— Três kilors…? É até onde você consegue sentir?
— Depende do alvo, mas em espaço vazio, e rastreando algo tão grande quanto um lacaio, não há como errar. Então a um kilor e meio por minuto, isso se traduziria em noventa kilors por hora. Não consigo imaginar que qualquer lacaio consiga voar a uma velocidade tão extrema.
— Seria um dragão nesse ponto. Você acha que a cavalaria sombria está envolvida de alguma forma, então? — Ronie sussurrou.
Kirito balançou a cabeça novamente.
— Consigo sentir um dragão a dez kilors. E nenhum dragão conseguiria voar tão longe em dois minutos, embora o dragoncraft talvez pudesse.
Ele parou, murmurando as palavras:
— Sem chance! — Mas, então, descartou essa possibilidade. — Não… se eles estivessem usando o dragoncraft, teriam criado um som tremendo. Nada tão quieto quanto um pilão de pedra moendo em um morteiro. “E… como soaria um pilão de pedra moendo em um morteiro, afinal…?”, ele se perguntou.
Ronie considerou, mas não conseguiu chegar a uma resposta satisfatória. Em vez disso, tudo o que conseguia visualizar era o calor de Leazetta bebendo leite em seus braços, sem nenhuma preocupação no mundo, e o jeito como ela guinchava e ria durante o jantar. Ronie apertou os braços com força ao redor de si mesma.
— Leazetta é a esperança que une os dois reinos. — Kirito murmurou. — Não podemos deixar que ela seja morta. Simplesmente não podemos!
O cerne da pura determinação enterrado no meio da profunda preocupação em sua voz tirou o fôlego de Ronie. Kirito estava recostado na parede com a cabeça baixa, fora de vista. Ela caminhou até ele, como se estivesse em transe, e segurou seus ombros.
— Você não pode, Kirito. Você não pode se sacrificar!
Após um longo silêncio, Kirito resmungou:
— Eu te disse antes, lembra? Se eu morrer neste mundo, eu não morro de verdade. Então é melhor eu do que el—
— Não! — gritou Ronie. — Essa lógica não se aplica… Eu… eu nunca mais te verei. E não quero que isso aconteça! Não quero!!

Ela enterrou o rosto no peito dele. O pingente de brasão prateado cravou em sua testa, mas a dor em sua pele não era nada comparada à dor latejante que rasgava seu coração.
— Serei sua pajem por toda a vida. Decidi que vou servir ao seu lado para sempre. Não quero mais nada… mas se você decidir se sacrificar, eu me juntarei a você. Vou forçá-lo a me executar também!
Era injusto transformar-se em refém, mas também era a verdade nua e crua do que ela queria naquele momento.
— … Ronie… — Ele murmurou, a voz cheia de angústia. Ele ergueu as mãos para segurar os ombros dela.
Se ele realmente quisesse, poderia amarrá-la ou até mesmo deixá-la inconsciente por dois ou três dias – o tempo que levasse para tudo acabar. Mas não adiantaria. Se ele tivesse sido executado quando ela acordasse, ela simplesmente o seguiria para além do véu.
Ele estendeu a mão para acariciar o cabelo dela e sussurrou:
— Obrigado, Ronie. Não vou desistir. Vou encontrar uma maneira de resgatar Leazetta… e voltarei para a catedral com você. Aquele é o nosso lar.
Lágrimas inundaram seus olhos. Sua garganta se apertou enquanto ela tentava desesperadamente conter os soluços que queriam escapar.
— …Sim…sim… — ela conseguiu gaguejar, e deixou todo o seu peso repousar sobre Kirito. Ele continuou a acariciar seus cabelos até ela se acalmar.
Dez minutos depois, eles retornaram ao andar térreo do castelo enquanto os sinos das seis horas tocavam. Sheyta e Iskahn estavam retornando do quartel-general da guilda dos magos sombrios no mesmo momento. Eles se reagruparam e compartilharam informações – infelizmente, nenhuma delas estava diretamente relacionada ao sequestrador.
— Na guilda, eles não têm controle sobre os magos que desapareceram na guerra, e não têm feito nenhuma experimentação para aumentar os lacaios. Eu os interroguei como comandante supremo. Pela Lei do Poder, eles não podem mentir para mim — disse Iskahn.
Sheyta acrescentou melancolicamente:
— Houve uma pista, no entanto. Cerca de um mês atrás, em um local de extração de argila sob o controle da guilda, uma grande quantidade da argila mais fina que já havia sido extraída e ensacada desapareceu.
— Uma grande quantidade? Tipo… quanto? — Kirito perguntou.
Iskahn franziu a testa e disse:
— Cerca do suficiente para fazer três lacaios, eles disseram. Eles lidaram com o incidente internamente e não o relataram ao Conselho dos Cinco… Embora eu duvide que pudéssemos ter previsto que isso aconteceria hoje, mesmo que estivéssemos cientes do roubo.
— Um mês atrás — falou, pensativo. — Então, provavelmente tem algo a ver com o incidente em Centoria. — Kirito murmurou.
— Já recebemos o relatório dos guardas… mas como foi a sua busca? — Iskahn perguntou.
— Bem… Nós procuramos do último andar até o depósito subterrâneo e não encontramos nenhum lacaio ou Leazetta. Nem importaria se houvesse quartos ou espaços escondidos que você não conhecesse. Contanto que não estivessem escondidos em algum lugar completamente isolado do espaço consecutivo, eles não poderiam ter escapado da minha capacidade de busca.
— Se você diz, então deve ser verdade… o que significaria que eles devem estar muito, muito longe agora.
Iskahn coçou a cabeça com o anel de prata em desespero. Sheyta estendeu a mão para segurar a mão dele e a envolveu com as suas.
Com o silêncio preenchendo o grande salão, o som das portas principais do castelo se fechando foi alto e pesado. As portas, incluindo as dobradiças, eram esculpidas em obsidiana, o que tornava o som de toda aquela rocha raspando bastante distinto, quase como o ribombar de um trovão distante.
Ronie sentiu como se tivesse ouvido aquele som não muito tempo atrás, e vasculhou suas memórias.
Foi… sim, foi durante o voo de teste da Unidade Um do Dragoncraft na Catedral Central. Para evitar que a nave colidisse com o topo do prédio, Asuna usou o poder divino de Stacia para deslocar os cinco últimos andares do prédio. O enorme bloco de mármore raspou em si mesmo e fez aquele som.
Pedra com pedra… raspando. Como um morteiro e um pilão.
— …Oh! Hum, Lady Sheyta… — Ela disse, correndo em direção à Cavaleira da Integridade sênior, sua mente um borrão giratório. — perto do seu quarto, existe outra grande porta de obsidiana como o portão da frente aqui?!
— Porta de obsidiana…? Não, todas as portas ao redor são de madeira, e as molduras das janelas são de ferro.
— Existe algum mecanismo que envola pedra raspando em pedra?
Essa pergunta envolveu Kirito:
— Oh…! Quando os guardas disseram que ouviram um som como um pilão de pedra e um morteiro! Sim… Se houver uma porta escondida no exterior do castelo, ela poderia fazer esse tipo de barulho… mas…
— Mas se fosse apenas uma porta escondida, seu faro a encontraria? — Iskahn terminou. Ele cruzou os braços. — Além disso… nunca ouvi falar de nada parecido perto do nosso quarto. E por que colocar uma porta secreta do lado de fora que ninguém pode usar? Não faria sentido a menos que você pudesse voar.
— E se… não for uma porta secreta…? — Kirito murmurou, olhando para o teto do grande salão. — Você mesmo disse, Iskahn. O andar de cima real fica acima do atual último andar do castelo.
O comandante e a embaixadora ofegaram ao mesmo tempo.
— O… o quinquagésimo andar?! M-mas está selado hermeticamente, e os guardas viram que as correntes não foram cortadas.
— E do lado de fora? Existe sequer uma única janela no quinquagésimo andar?
— …Na verdade… na verdade… eu acho… — Iskahn murmurou, esticando o pescoço enquanto pensava. — Quando Vecta apareceu… e ele convocou os dez lordes, havia uma janela enorme na sala do trono. Mas agora… quando você olha de fora, há apenas uma face de rocha sólida acima do quadragésimo nono andar, sem nenhuma janela.
— Deve ter se fechado. — Kirito disse, absolutamente certo agora. — Quando Vecta morreu e as correntes selaram novamente a sala, a pedra do lado de fora deve ter se movido para cobrir todas as janelas. O espaço foi completamente isolado do resto do mundo. O som de pedras rangendo que os guardas ouviram foi a rocha se movendo mais uma vez.
— Mas… mas… — Iskahn gaguejou, sua pele bronzeada empalidecendo — Apenas o Imperador Vecta pode desfazer o selo do quinquagésimo andar… Isso significaria que quem sequestrou Lea é…?
Ele rangeu os dentes, com medo até de terminar a frase. Um silêncio horrorizado se seguiu, até que Sheyta o cortou com uma voz como uma lâmina.
— Vamos para o quinquagésimo andar!
Kirito concordou.
— Sim… Podemos descobrir algo se examinarmos a porta.
Iskahn assentiu
— Qualquer coisa para afastar sua apreensão.
Os quatro correram de volta para o topo do castelo sem pausa mais uma vez. Ronie conseguiu acompanhá-los sem perder o fôlego desta vez. Talvez, ela tivesse pegado o jeito do processo.
O grupo parou no quadragésimo nono andar e olhou para o último trecho de escadas. Seja porque o sistema de aquecimento interno do palácio não chegava tão longe ou por algum outro motivo, Ronie sentiu um ar frio descer pela escadaria escura e agarrar-se às suas pernas.
— …Vamos! — Iskahn disse, começando a subir os degraus. — Os outros três o seguiram.
Era apenas um lance de escadas, mas pareceu ainda mais longo do que a viagem do primeiro andar ao quadragésimo nono. Um conjunto de portas duplas totalmente pretas os encontrou no topo. Como o pugilista dissera, as portas estavam trancadas com enormes correntes de cerca de dez cens de espessura. Estavam absolutamente esticadas, praticamente sem folga.
Iskahn caminhou lentamente pelo curto corredor até as portas, tocou a corrente cinza e recuou, gritando:
— Está fria!
Determinado, ele estendeu a mão novamente e a agarrou com força. Agachou-se, gritou e puxou, mas a corrente apenas fez um leve ruído metálico e não se moveu.
— Então o selo não está quebrado.
Ele soltou a corrente e tocou a porta preta desta vez, depois usou as duas mãos e até pressionou o ouvido contra a superfície.
— Não ouço nada… mas se Lea estiver em algum lugar dentro do castelo, tem que ser depois daqui.
O pugilista deu alguns passos para trás, parou por alguns momentos, depois assumiu uma postura de luta. Chamas vermelhas se enrolaram em seu punho direito cerrado. O ar frio começou a vibrar, e os instintos de Ronie lhe disseram para manter distância.
Ele ia socar aquelas correntes com o punho nu? Kirito deu um passo à frente naquele momento, indiferente à tremenda aura de batalha que envolvia o corpo do pugilista, e colocou a mão em seu ombro.
— Eu faço isso, Iskahn.
— Não… Deixe-me fazer isso.
— Guarde seu punho para a luta contra os lacaios e sequestradores. Além disso, sou bom nesse tipo de coisa. — Kirito disse simplesmente. Iskahn exalou, parou e finalmente decidiu desfazer sua postura.
— Você consegue se safar de qualquer coisa, não é? Tudo bem… É todo seu. — Ele resmungou, recuando para perto de sua esposa.
Agora era Kirito quem estava diante das correntes. Sua mão brilhante roçou delicadamente a superfície do metal. Depois de repetir a ação algumas vezes, ele traçou um ponto no centro da corrente várias vezes com um dedo.
— Aqui… é tão raso que não dá para ver, mas há uma marca aqui. Foi você quem fez isso, Sheyta? — Ele perguntou sem se virar.
— Sim. Como eu disse antes, a Espada Lírio Negro poderia ter cortado. — A Cavaleira da Integridade disse.
— Aposto… Vou usar esta marca agora.
Ele soltou a corrente e deu três passos para trás, depois apertou o cabo de sua espada. Quando a desembainhou com um som baixo e deslizante, Iskahn e Sheyta ofegaram maravilhados.
A Lâmina do Céu Noturno não era feita de metal, mas de um material preto com apenas um traço de translucidez. Parecia muito com a pedra da qual o Palácio de Obsidia fora esculpido, mas esta substância lisa, pesada e de aparência úmida não era rocha: fora esculpida do galho de um cedro gigantesco que outrora pairava sobre a floresta na borda norte do Império Norlangarth. Sadore, o velho que agora administrava o arsenal da Catedral Central, passara um ano inteiro e seis pedras de amolar para transformar o galho em uma espada longa; Kirito a usara para derrotar vários Cavaleiros da Integridade, depois o Primeiro Senador Chudelkin e a Administradora; e, por último, o Imperador Vecta. Era literalmente a espada lendária que salvara o mundo.
Mas não importava quão alto fosse o nível de prioridade da espada, a arma sozinha não seria capaz de cortar as correntes de selamento. Essas correntes, como o exterior da Catedral Central ou as Muralhas Eternas que dividiam Centoria em quatro seções, possuíam uma característica que as tornava inquebráveis. Mesmo Asuna e seus poderes divinos só conseguiam mover as paredes da catedral, não destruí-las.
O que romperia essas correntes não era a habilidade de um espadachim ou o poder de uma espada, mas a habilidade milagrosa de reescrever as próprias leis do mundo – a Encarnação.
Kirito deu mais três passos para trás, estendeu a mão esquerda e puxou a Lâmina do Céu Noturno em sua direita até que estivesse em seu ombro. Seus pés agarraram o chão, afastados para frente e para trás. Ele respirou fundo e prendeu o ar.
Uma luz vermelha brilhou por todo o corpo de Kirito, que agora estava em uma postura pertencente a nenhum estilo tradicional de esgrima. Um redemoinho se formou no chão, fazendo Ronie desviar o olhar, mas ela se manteve firme.
Eventualmente, a luz vermelha se condensou na espada em sua mão, tornando a lâmina negra carmesim. Houve um uivo como o vento entre os galhos, ficando cada vez mais alto, até assumir o tom metálico do rugido de um dragão. O ar estalou e tremeu, e até mesmo o chão e as paredes de obsidiana começaram a tremer.
— In…acreditável…! — Iskahn exclamou.
— Isso tudo é… a Encarnação de Kirito… — Sheyta maravilhou-se baixinho.
De repente, Kirito, vestido com uma simples camisa e calças pretas, tremeluzia como uma ilusão em meio a uma tempestade de luz e ar, de tal forma que se transformou – ou pelo menos, assim parecia. Talvez o efeito de chicotear para frente e para trás fosse apenas a bainha de sua capa de couro preta. Uma armadura de aço brilhava em seus ombros e no lado direito de seu peito.
— Raaah!! — Ele berrou, empurrando-se do chão.
A espada em sua mão avançou, carregando toda a sua Encarnação. O rugido atingiu um nível extremo, e finas rachaduras apareceram nas paredes ao lado deles.
A distância até as correntes era de cinco mels, claramente fora do alcance de sua espada. Mas como se a espada se esticasse e crescesse, a luz carmesim surgiu como uma lança e penetrou um único ponto nas correntes que trancavam as portas.
O som desapareceu, a luz desapareceu, o vento desapareceu – e a aparência de Kirito voltou ao normal.
No silêncio que se seguiu, o pedaço de corrente se partiu silenciosamente em dois, pendendo dos lados. As pesadas portas pareceram estremecer – ou voltar à vida como portas – e gemeram brevemente.
Kirito caiu de joelhos no chão. Ronie correu para o seu lado.
— Kirito! — Ela passou um braço sob seu flanco e o ajudou a se levantar. Sheyta e Iskahn correram um momento depois.
— Você está bem, Kirito?! — gritou Iskahn.
Kirito ergueu a mão livre.
— Sim… Vou me recuperar logo. Rápido, passem pela porta… antes que o sistema… é… antes que as leis do mundo percebam a anormalidade e restaurem a corrente.
— Boa ideia — disse Sheyta, aproximando-se das enormes portas e pressionando as mãos contra as lajes de obsidiana ameaçadoramente esculpidas. Elas rangeram e cederam um pouquinho — Estão abertas. — Ela anunciou, virando-se.
— Rápido, vocês dois! — O Espadachim Negro comandou. — Se o sequestrador estiver lá dentro, eles já terão notado que as portas estão abertas… Eu os alcanço em um momento!
— E-entendido!
Iskahn arrombou as portas com um único chute. O corredor continuava além da porta, mas estava cheio de uma escuridão de um tipo diferente daquela sobre as escadas. Um ar gelado jorrou.
Mas os pais de Leazetta se precipitaram pelo corredor sem um momento de hesitação. Alguns segundos depois que desapareceram na escuridão, Kirito gritou falas de encorajamento e se forçou a ficar de pé.
— Vamos! — Ele disse a Ronie.
Ela reprimiu sua preocupação e respondeu:
— Entendido!
Parecia uma boa ideia chamar os guardas que atualmente procuravam no andar de baixo antes que eles entrassem correndo, mas Kirito estava certo – cada momento contava agora. E se o inimigo fosse um usuário avançado de artes sombrias, alguns guardas com um pouco de treinamento de espada seriam apenas alvos, não uma fonte de ajuda.
Em vez disso, ela tirou um pequeno frasco de solução medicinal de sua bolsa de transporte, removeu a rolha e o entregou a Kirito. Ele o bebeu de um gole e fez uma careta com o gosto amargo e azedo, mas sua aparência já estava mais corada quando ele agradeceu. Eles se alinharam na porta e entraram na passagem escura.
Parecia que tinham acabado de atravessar uma membrana transparente. Um ar gelado os envolveu, tornando visível o branco do ar expirado da respiração deles, como se o sistema de aquecimento interno não funcionasse ali. Mas o frio e o medo desapareceram completamente quando Ronie ouviu um barulho vindo mais adiante no corredor. O som de um bebê chorando.
— …!
Ela e Kirito se entreolharam e começaram a correr.
A passagem virava à esquerda mais à frente. Assim que contornaram a esquina, um segundo conjunto de portas surgiu à vista. O choro vinha da porta aberta. Eles correram desesperadamente por ela e entraram em um vasto espaço aberto.
Um tapete vermelho-escuro cobria o chão. Pilares circulares ladeavam ambos os lados, esculpidos com decorações monstruosas e hediondas. Lâmpadas de minério pendiam das paredes, lançando uma luz branco-pálida. Em frente, havia uma plataforma mais alta, no centro da qual se encontrava uma cadeira muito ornamentada. Aquele devia ser o trono em que o Imperador Vecta voltara a se sentar.
No centro da sala estavam Iskahn e Sheyta. Além deles, uma forma negra monstruosa — um lacaio com as asas abertas.
Finalmente, uma figura sombria estava ao lado do trono. Usava um manto preto com capuz, mas as mangas e o colarinho do manto eram vagos e esfumaçados, escondendo os detalhes do portador. A figura era magra, mas muito alta. Havia uma adaga em sua mão direita, brilhando em um tom roxo venenoso, cuja ponta estava apontada para o bebê embalado em seu braço esquerdo.
Os choros de Leazetta eram fracos, e seu rosto estava contraído. Ela fora exposta a este frio congelante por mais de duas horas, então sua vida devia estar significativamente diminuída. Precisavam salvá-la imediatamente, mas não podiam se dar ao luxo de serem descuidados agora. A raiva e a pressa eram palpáveis nas posturas de Sheyta e Iskahn.
O sequestrador encapuzado falou com uma voz alienígena que soava como algum tipo de besta ou pássaro tentando formar palavras humanas, sua boca imprópria para a fala.
— …Ah, então foi o delegado espadachim quem cortou a corrente. Você é mais problemático do que até mesmo as histórias dizem.
Era impossível avaliar a idade ou raça do falante. Mas uma coisa era muito clara.
— Então… você é um homem! Então você não é um mago sombrio!! — gritou Iskahn. O sequestrador riu, emitindo um silvo fantasmagórico.
— Pelo que ouvi, homens usam artes sacras no reino humano, não? Então um homem pode ser um mago sombrio, não pode?
— Espere… reconheço essa lâmina envenenada… Você é da guilda dos assassinos!
— Tem certeza…? Qualquer um pode usar esta espada. Posso até ser um pugilista que você expulsou da guilda. — O sequestrador riu zombeteiramente de novo, depois ficou imediatamente frio. — O tempo de conversa acabou. Terei que esquecer a execução pública, mas ainda pretendo coletar a cabeça do delegado. Embaixadora, use essa sua mão cortante para cortá-la, ou sua filha morre.
Uma mão cinzenta se estendeu da manga preta, aproximando a adaga do rosto de Leazetta. Iskahn e Sheyta ficaram completamente rígidos.
Naquele exato momento, algo vibrou, e a ponta da lâmina envenenada desviou para o lado. Uma bola de luz branca envolveu todo o corpo de Leazetta. O sequestrador quase deixou o bebê cair, mas rapidamente reajustou seu aperto nela.
Leazetta não fizera nada, é claro. Ao lado de Ronie, a mão direita de Kirito estava estendida em direção ao trono e brilhava da mesma cor. Ele estava protegendo o bebê com uma barreira feita de Encarnação.
— Sheyta! Iskahn! — Ele gritou, a voz embargada de dor. — Não vou durar muito! Rápido…
— Estou nessa!! — gritou Iskahn, seu corpo emitindo uma luz como chamas ardentes.
O homem de manto preto deu um comando estranho e ininteligível. O lacaio reagiu a ele.
— Bshooo! — O monstro rugiu, mas o som foi abafado pelo berro do pugilista. — Raaaaaaaah!!
Iskahn avançou com força tremenda, cravando seu punho flamejante no estômago do lacaio. O grande corpo do monstro se curvou enquanto o impacto se propagava em ondas para fora de sua barriga até seus membros.
Ele explodiu, derramando uma quantidade tremenda de sangue preto e sujo, como uma pele de couro estourando quando cheia de líquido. Iskahn cruzou os braços na frente do corpo para se proteger do veneno que espirrava.
Uma sombra esguia, então, disparou por trás das costas de Iskahn. Tendo sido protegida do caminho direto do sangue por seu marido, Sheyta avançou em direção ao trono, um borrão cinza.
— …!!
Com um grito silencioso, sua mão esquerda disparou. O braço direito do sequestrador, segurando a adaga roxa, soltou-se do ombro e caiu no chão. Sheyta preparou a mão direita para cortar o braço restante, que segurava seu bebê.
Mas na escuridão do capuz, algo pequeno brilhou perto da boca. Uma zarabatana.
Ela rapidamente levantou a mão para bloquear o dardo, mas seu corpo esguio tombou imediatamente.
O homem de manto preto reajustou Leazetta em sua bola protetora de luz e correu para a esquerda do trono, deslizando sobre o tapete. Não havia nada além de uma parede preta naquela direção, no entanto. Não havia escapatória para ele. Exceto…
Vários pensamentos explodiram na mente de Ronie e, no momento em que se somaram em uma imagem, ela já corria com a espada em punho.
Ao longe, o sequestrador corria direto para a parede, seu manto preto chicoteando atrás dele. Uma grande joia abaixo de seu pescoço brilhava em um escarlate intenso.
Uma parte da parede piscou da mesma cor. Uma porção quadrada da parede de obsidiana começou a se erguer com um som de pedras pesadas se raspando… como um pilão de pedra sendo moído contra um morteiro.
O sequestrador correu em direção à janela que não deveria estar ali, carregando Leazetta.
A distância até o atacante era de mais de dez mels. Não era uma distância que Ronie pudesse cobrir em um único salto com a força de suas pernas.
Mas ela o alcançaria. Ela se certificaria disso.
— Yaaaaaaa!! — Reunindo toda a sua força e força de vontade, ela saltou para frente com um grito selvagem.
Ela preparou sua nova espada. Quando ela ficou completamente imóvel, fundindo-se com seu braço como uma única forma apontada para uma altura e ângulo muito específicos, a lâmina começou a brilhar em azul claro.
O corpo de Ronie acelerou como se empurrado por mãos invisíveis. Ela deixou um rastro brilhante no ar enquanto cruzava dez mels em um piscar de olhos.
Este era o impulso ultracarregado do estilo Aincrad, Sonic Leap.
Kirito lhe ensinara tanto o movimento quanto o que seu nome na língua sagrada significava – e a lição valeu a pena quando ela decepou o braço esquerdo do sequestrador a partir do ombro.
Naquele momento, a barreira de Encarnação de Kirito desapareceu, arremessando Leazetta no ar, desprotegida. O homem de manto preto não parou de correr, apesar da perda de seus braços e de tanto sangue. Ele saltou em direção à janela.

Se ela tivesse executado outra técnica, talvez pudesse ter derrotado o sequestrador de uma vez por todas. Mas Ronie optou por parar e pegar o bebê.
O intruso atravessou a janela de cabeça e desapareceu, derretendo-se na luz da manhã. Enquanto isso, Ronie pegou Leazetta firmemente com o braço esquerdo e apertou o bebê contra o peito. Ela imediatamente se agachou, pousando a espada no chão, e cobriu a criança que chorava lastimosamente com ambos os braços para lhe fornecer calor.
— …Eu sei, pobre Lea, isso foi muito assustador. Mas está tudo bem… Você está segura agora… — Ela murmurou, esfregando sua bochecha na dela.
Eventualmente, o choro se acalmou, e uma mãozinha tocou o rosto de Ronie. À sua esquerda, ela ouviu o som da janela se fechando novamente.
Ronie continuou a segurar o bebê até que alguém veio e colocou a mão em suas costas.
Tradução: Gabriella
Revisão: Fabio_Reis
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