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Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 05 – Cap. 05.2 – O Irrompido

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O demônio podia sentir uma presença no ar. Ele parou para apreciá-la por um momento, fascinado, antes de dar ordens aos seus subordinados.

— Não matem esse homem. Certifiquem-se de não o deixar escapar.

Então, sozinho, viajou calmamente pelo espaço. Para um demônio como ele, usar o Sentido Mágico para viajar instantaneamente entre dois pontos a vários quilômetros de distância um do outro era tão natural quanto dar uma volta no quarteirão. Os Demônios Superiores, incapazes de fazer isso, assentiram e começaram a seguir os passos de seu mestre. Não houve pânico, nenhuma divergência de opinião entre eles; simplesmente começaram a correr anormalmente rápido em direção ao centro da cidade.

O demônio se teletransportou bem ao lado de Rimuru.

— Estou de volta, meu mestre — ele disse, ajoelhando-se diante da figura cujo cabelo prateado soprava ao vento.

Rimuru era um slime quando invocou esses demônios e, embora agora estivesse diferente, muito mais bonito, não havia como confundi-lo. A aura quase divina que emanava era um sinal claro para qualquer monstro, independentemente do que seus olhos dissessem. Era uma espécie de brilho vindo de sua própria alma, e discernir a cor da alma era a especialidade de um demônio.

No presente momento, seu mestre estava conduzindo uma cerimônia solene, voltada para as fileiras ordenadamente alinhadas de monstros mortos diante dele. Para o demônio, era simplesmente uma bela visão. Ele queria ficar lá, apenas para aproveitar a glória disso tudo, mas não agora. Havia algo que precisava fazer.

Ele andou calmamente na direção de seu mestre, tomando o máximo de cuidado para ficar fora de seu caminho. Talvez fosse melhor esperar até que a cerimônia terminasse?

— Perdoe minha grosseria, mestre. Parece que você não tem magículas o suficiente…

Ele estava certo. Rimuru não parecia ter a quantidade de magículas que este ritual exigia. Com base em seu conhecimento, o demônio supôs que seu senhor estava tentando realizar uma cerimônia conhecida como a Arte Secreta do Renascimento, uma habilidade que criava uma alma novinha em folha para seu alvo – um pouco inferior a ressuscitar os mortos. Se falhasse, os alvos seriam totalmente diferentes de como eram antes da morte, os transformando em feras incontroláveis. O ato era tão difícil que mesmo se perdessem algumas memórias e conhecimentos no processo, ainda seria considerado um grande sucesso.

A Arte Secreta do Renascimento tinha que ser preparada usando uma sabedoria arcana que a humanidade não conseguia entender nem o básico. Normalmente, exigia uma quantidade enorme de energia mágica, juntamente com uma quantidade inimaginável de força para controlá-la. Mesmo um nascido da magia de alto nível não poderia fazer isso. Apenas demônios, com seu conhecimento de controlar almas, estavam aptos à tarefa, e mesmo assim, apenas um punhado deles, os mais poderosos, eram capazes.

Heh-heh-heh-heh-heh. Eu não esperava nada menos do meu mestre.

Rimuru estava realizando esse ato arcano em quase uma centena de monstros ao mesmo tempo. Um único alvo já exigia toneladas de magículas, então ele precisava de cem vezes isso. Fazia total sentido não ter o bastante. Então o demônio decidiu alertá-lo, e oferecer sua ajuda caso fosse necessário.

Correto. Não foi alcançada a quantidade necessária de magículas. Consumirei minha força vital no lugar.

 

— Espere, meu mestre! Você não precisa gastar sua própria vida para isso… Ah, sim! Tenho uma ideia melhor…

Seus olhos se voltaram para os dois Demônios Superiores que chegaram mais cedo, como se estivesse avaliando seu valor, então deu-lhes um aceno satisfeito.

— Por favor, use esses dois!

Os dois Demônios Superiores se levantaram e se ajoelharam em sua frente.

— Seria uma honra se pudessem servi-lo também. Nada poderia nos fazer mais felizes.

Os outros dois concordaram balançando a cabeça. Para eles, a escolha era óbvia.

…..

Rimuru, ou Raphael, olhou para os dois demônios, observando-os com seus brilhantes olhos dourados. Sua beleza deslumbrante não demonstrava nenhuma emoção. Em vez disso, deu esta simples resposta:

Entendido. Será possível suprir a quantidade de magículas. Sua sugestão foi aceita.

Então, sem mais hesitação, os consumiu com Belzebu. Os Demônios Superiores desapareceram sem deixar vestígios, engolidos pelo ar, desmembrados e convertidos em pura magículas. A energia parecia brilhar em um amarelo dourado aos olhos do demônio – talvez, ele pensou, tenha sido porque seu desejo de ser útil finalmente se tornou realidade. Nada poderia satisfazê-los mais.

— Ahhh… como eu os invejo. Parabéns, mestre. Sua evolução para lorde demônio parece estar perfeita. Sinto uma força avassaladora sendo emanada do seu corpo, totalmente diferente da última vez que nos encontramos…

Ele olhou ansiosamente para seu mestre recém-evoluído. Ser capaz de servir a um lorde demônio tão novo e bonito era exatamente o que desejava. Para tal, precisava provar sua utilidade.

Fortalecendo sua determinação, o demônio se afastou da cerimônia e esperou em silêncio. Não havia mais necessidade de se envolver. Intrometer-se demais poderia atiçar a ira de seu mestre, e se interferisse com a intenção de ajudar, estaria sabotando seus esforços.

Confirmado. A quantidade prescrita de magículas foi atingida. Agora conduziremos a Arte Secreta do Renascimento.

 

Enquanto o demônio tentava ser o mais invisível possível, o ritual começou.

 

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O que se deu início era um dos segredos mais profundos e misteriosos deste mundo.

Bolas incolores e transparentes de luz estavam envoltas em uma fina película de roxo claro. Estes eram os núcleos das vítimas, juntamente com os corpos astrais que os protegiam. Logo depois, seguindo a Arte Secreta do Renascimento, as almas reconstruídas dos monstros foram devolvidas aos seus corpos. A taxa de sucesso era de 3,14%, mas esse número foi calculado antes de Rimuru se tornar um lorde demônio.

As almas de todos alinhados naquela praça foram presenteadas com Memória Completa como parte do processo evolutivo. Aceitaram-na como uma forma de cumprir as esperanças de Rimuru. Esta era uma habilidade extra que tornava possível a restauração completa da memória de alguém, mesmo de um cérebro danificado. Enquanto a alma estivesse intacta, ela poderia reconstruir essas memórias do estado de morte infinitamente.

— Estabeleceu-se o vínculo entre alma e corpo. E agora, os núcleos dos monstros liberaram seus poderes, e seus corações começaram a palpitar…

Bem ali, a ressurreição aconteceu. Um mistério divino, nascido das interações complexas de uma miríade de elementos. Um milagre e uma conclusão que já era esperada, engrenada pelas orações de Rimuru e de todos os outros.

Mas para Raphael, o Lorde da Sabedoria, que realizou o feito, não havia felicidade no sucesso. Meramente seguiu seus cálculos e os colocou em prática. Ele não via mais nenhum significado nisso. O sucesso não o fez se sentir feliz, e o fracasso, sem dúvida, não o entristeceria também. Ele nem mesmo entendia o que sentir essas emoções significaria. Mesmo com todo o vasto conhecimento que possuía, o cérebro brilhante com o qual foi abençoado não era capaz de entender as emoções humanas.

Mas no fundo, em um coração que ele nunca deveria ter tido, no canto da alma de Rimuru – uma vontade nasceu. Uma personalidade, para colocar de outra forma. Tinha que ter uma lá, caso contrário, uma habilidade não evoluiria de maneira tão desonesta para cumprir os desejos de seu mestre. E então, ele se perguntou: Por que eu fiz esse tipo de ação? Veio de dentro de Raphael, e era uma prova concreta de que esse ser tinha uma personalidade, que não era de seu mestre.

No entanto, Raphael rapidamente fechou os olhos a essa leve suspeita em relação a si mesmo que havia surgido em sua mente.

Penso, logo existo…

Era uma tese na qual Raphael se encontraria pensando constantemente, por muito tempo – para nunca encontrar uma resposta.

Mesmo com seus conflitos internos, Raphael continuou com seu trabalho incomparavelmente preciso. Ele analisou e avaliou uma centena de monstros ao mesmo tempo, reparando seus corpos, regenerando suas almas e finalmente os ressuscitando. Foi um ato contínuo, sem nenhum movimento desnecessário, e tudo foi feito no momento e no lugar certo. Antes que os monstros da cidade percebessem, o milagre havia sido realizado secretamente.

 

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Apenas três pessoas sabiam disso: Mjurran, Gruecith e o demônio.

Mjurran ficou sem palavras enquanto assistia a cerimônia atentamente, seu rosto branco como papel. Ela tinha um assento na primeira fila para ver a maior das artes secretas, exatamente o que perseguia há tanto tempo. Um abismo profundo da magia negra da qual Rimuru, como lorde demônio, deu-lhe um vislumbre muito breve. Uma nascida da magia como ela nunca teria chance. Até o poder do lorde demônio Clayman parecia uma piada comparado a isso.

Ela deu graças pela grande sorte de obter essa visão, mesmo quando jurou a si mesma nunca deixar Yohm se tornar inimigo de Rimuru. Se se tornasse, seria a sua ruína e a do seu amado. É por isso que agora Mjurran sabia que Yohm precisava de sua orientação e proteção. Ele estava pouco ciente sobre tudo isso para que qualquer alternativa funcionasse.

Os olhos de Gruecith ficaram deslumbrados com o milagre que aconteceu em sua frente. Ele não tinha muito conhecimento sobre magia, mas entendia bem que essa arte secreta era algo incomparável. E a maneira com que Rimuru fazia parecer tão fácil executá-la, o fez tremer de admiração.

Droga, que tipo de força mágica é essa?! Este enorme e aparentemente infinito suprimento de magia está sendo controlado com total perfeição. Este é realmente um lorde demônio recém-nascido? Sem chance! Nem o Lorde Carillon poderia fazer isso…

Admiração e medo andavam de mão dadas.

… E aqueles olhos. Parecem estar vendo algo totalmente sem valor. Tratam a ressurreição dos mortos como algo tão complexo quanto consertar uma ferramenta útil… será que ele acha que poderia fazer uma nova caso estragasse com tudo? Que diabos está acontecendo aqui…? Ele geralmente é tão gentil e caloroso com as pessoas; foi apenas fingimento? Este é o seu verdadeiro eu…?!

O que Gruecith estava assistindo agora era o Rimuru e ao mesmo tempo não era. Sem saber disso, tudo o que ele podia ver era um lorde demônio trabalhando além do reino da inteligência mortal. E daquele ponto em diante, jurou advertir tanto a si mesmo quanto os outros licantropos a nunca ousar desafiar Rimuru.

Ao contrário dos dois, o demônio estava cheio de alegria, olhando para Rimuru com pura e silenciosa admiração.

Então, uma questão surgiu em sua mente: A pessoa que acabou de falar comigo… não era mesmo meu mestre? Achando que estava pensando demais, descartou na hora a dúvida. Em todos os muitos anos que este demônio viveu, ele nunca tinha ouvido falar de algo assim. A ideia de uma habilidade se tornar senciente era ridícula demais para sequer considerar. Trabalhando de forma independente para atender aos pedidos de seu mestre…

… Ou talvez tenha sido necessário um demônio com este, que vivia nas profundezas do mundo, para que essa possibilidade aparecesse em sua mente.

Heh-heh-heh-heh-heh. Não importa o que aconteça, tenho que garantir meu lugar, nem que seja na mais baixa das posições…

Sua mente se resolveu novamente, e começou a pensar em outras maneiras de se destacar por seu mestre.

 

 

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Assim, a esperança foi atendida.

Quando Rimuru – ou Raphael, Lorde da Sabedoria – completou seu trabalho, voltou mais uma vez ao modo de hibernação, suas reservas de mágiculas foram esgotadas. O demônio o pegou cuidadosamente – uma tarefa fácil, já que ele estava de volta a forma de slime –  e, seguindo as instruções de Mjurran, o colocou gentilmente no trono preparado para seu descanso.

Tanto Mjurran quanto o demônio concordaram que Rimuru simplesmente estava sem energia e provavelmente despertaria em alguns dias. Mas que tipo de “pessoa” ele seria quando abrisse os olhos? Apenas os deuses poderiam saber.

Enquanto as três testemunhas oculares ponderavam internamente sobre como lidar com isso, elas ouviram vários passos correndo em sua direção. Então, perceberam que a pressão exercida contra a barreira de Elen havia desaparecido, reduzindo a contagem de magículas no ar para praticamente zero. Yohm, Kabal e os outros imediatamente se apressaram para investigar, apenas para encontrar fileiras e mais fileiras de monstros adormecidos.

— Mjurran! Gruecith! Vocês dois estão bem? Onde o Rimuru está…?

— Ei, ei — observou Kabal —, todos estão dormindo? O que aconteceu?

— Shion ressuscitou?

Mjurran tomou um momento para pensar antes de responder. Gruecith parecia não ter nenhuma ideia do que aconteceu, e o demônio parecia muito apaixonado por si mesmo e Rimuru para se preocupar em explicar o assunto para qualquer outra pessoa. Os olhares de todos naturalmente começaram a se fixar em Mjurran, fazendo-a suspirar desanimada.

— Senhor Rimuru completou com sucesso o processo de evolução para lorde demônio. Todos os outros monstros foram afetados também, agora estão dormindo passando pelas suas próprias evoluções. E Shion e os outros mortos… todos eles foram ressuscitados com sucesso devido a um ritual secreto conduzido pelo Senhor Rimuru quando estava acordado. O ritual drenou toda a sua energia mágica, então ele voltou a dormir.

Todos no local deram um forte suspiro de alívio.

— Boa, esse é o chefe que conheço! Eu sabia que não deveria ter me preocupado.

— Eu ainda não relaxaria — Mjurran respondeu a Kaijin. — Suas almas podem ter sido revividas, mas eles definitivamente morreram uma vez antes, então não há garantia de que suas memórias tenham sido retidas.

— Apesar de que provavelmente tudo vai ficar bem — ela então sussurrou para si mesma.

Ela queria manter todos em alerta máximo por precaução, não havia perigo real a ser considerado.

Mas suas palavras os silenciaram instantaneamente. Agora, eles perceberam que ainda era muito cedo para comemorar.

— Bem, fora isso — Elen respirou —, Que tal colocarmos um teto sobre estes dorminhocos por enquanto? Há tapetes no grande salão de reuniões – acho que eles imaginaram que algo assim aconteceria.

— Por mim tudo bem, mas para cada monstro na cidade? Vai ser um projeto meio grande.

— Sim — Gido entrou na conversa —, estamos falando de mais de mil deles só na praça…

— Ok — disse Kaijin. — Nesse caso, vamos apenas assumir a responsabilidade de levar a Senhorita Shuna para o seu quarto, tudo bem?

Kabal entrou na discussão.

— Ei, você! Não me importo se tu é o Kaijin ou não, não vou te deixar se safar disso!

— Pode crer, cara! Esse é um trabalho muito delicado para deixar para alguém além de nós!

A sugestão de Elen desencadeou uma grande discussão entre os anões, liderados por Kaijin, Kabal, e seu braço direito, Gido. Isso continuou por mais alguns segundos antes de Elen finalmente gritar para eles pararem.

Mas desde o início não havia necessidade de discussão – porque enquanto brigavam, os moradores da cidade começaram a acordar sozinhos.

Foi uma sequência de emoções para todos. Primeiro, entraram em pânico devido ao desaparecimento da barreira e a falta de magículas no ar. Então, explosões maciças de alegria ao perceberem que Shion e as outras vítimas foram ressuscitadas. Aos olhos deles, foi um milagre – mas apenas as três testemunhas presentes sabiam o que realmente era.

Na verdade, era apenas o poder de Raphael em ação. E ninguém mais no local percebeu, na sombra de toda aquela alegria, que Raphael – uma habilidade simples, nada mais, nada menos – tinha de alguma forma desenvolvido um senso de autoconsciência.

 

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Bom dia, flor do dia!

Era uma frase velha e trivial, mas foi a primeira que veio à minha mente.

 Faz séculos desde que gostei tanto de acordar assim. Ao contrário das minhas últimas experiências de ser forçado a entrar em um estado soneca, desta vez me senti revigorado, satisfeito. Nem é preciso dizer que eu nunca tinha vivenciado nada parecido antes neste mundo. Mas quando me levantei e dei uma olhada ao redor, percebi que as coisas estavam bem agitadas. Mais problemas para lidar, eu acho. Me dá um tempo.

Eu podia sentir esse tipo de energia pulsante dos monstros. Rapidamente usei Analisar e Avaliar neles, apenas para descobrir que possuíam ainda mais magículas do que antes. Agora estavam mais fortes, ou seja, acho que minha evolução deve ter dado certo.

Correto. O Festival da Colheita foi concluído com sucesso. Presentes foram distribuídos a todas as criaturas dentro de sua genealogia, levando a uma evolução superior entre os indivíduos.

Ah, então me tornar um lorde demônio fez com que todos sob meu comando evoluíssem? E é só minha imaginação, ou o Grande Sábio está muito mais falante do que costumava ser?

Não. É apenas a sua imaginação.

 

Oh, ok…

Ei, calma aí!

Mas por mais que eu quisesse insistir na pergunta, o Grande Sábio não me respondeu mais. Foi realmente só a minha imaginação? Ahh, agora não é hora de pensar nisso. Como está Shion? E os outros? Como está a situação? Eu tinha dezenas de perguntas. E como se fosse responder a todas elas de uma vez:

— Ah! Senhor Rimuru! Você acordou!

Ouvi uma voz familiar – e uma sensação familiar nas minhas costas. Um par de picos grandes e macios me envolviam de maneira aconchegante.

Minha evolução estava completa, mas minha forma de slime não estava muito diferente. A única mudança foi que às vezes eu ficava mais amarelado. Eu era um daqueles slimes de ouro agora ou algo assim? Tipo, daqueles que são mais rápidos do que a velocidade da luz? Na verdade, eu não tinha esse poder, mas meio que me senti mais… elegante. Como se eu estivesse no topo da cadeia alimentar quando se trata de slimes. Mas não é como se eu parecesse mais forte…

Voltando ao assunto, essa sensação, esse colo familiar em que me encontrava, a maneira como minhas bochechas estavam sendo esfregadas…

— Você voltou à vida!

Era a Shion.

Hm. Isso é tão bom. Assim como antes. Nada mudou.

 

— Sim, Senhor Rimuru! Todos nós voltamos à vida!

Ao ouvir isso, percebi que tinha uma centena de monstros ajoelhados nos cercando. Então, de uma só vez, eles me cumprimentaram, excitados além da conta pelo meu despertar.

— Todos nós fomos revividos, sem exceção!!

Excelente. Isso é realmente ótimo. E quem é que vejo na primeira fileira? Claro que tem quer o idiota do Gobzo.

Assim como eu previ, os efeitos da evolução trouxeram todos de volta à vida. Acho que valeu a pena eu ter me tornado um lorde demônio, afinal. A semelhança das minhas chances com o número π era preocupante, mas se funcionou com todos, eu não poderia estar mais feliz. Nossa, até o Sábio comete erros de vez em quando. Mas um erro agradável como esse sempre será bem-vindo.

Sorrindo para mim mesmo pelo retorno de Shion, tomei um momento para aproveitar minha posição debaixo de seus seios pela primeira vez em um tempo. Indiscutivelmente uma maneira elegante de passar o tempo. Mas a felicidade não durou muito.

— … Senhor Rimuru — disse Benimaru —, está acordado? Ótimo. Temos vários problemas para… Ah, mas antes disso, não posso prosseguir até confirmar a manutenção de sua sanidade. Você se lembra da pergunta e resposta que discutimos em nossa conferência, certo? Então aqui vai: “O que você acha da comida da Shion?” Diga-me sua resposta!

Ele deu um sorriso sarcástico. Sim, sem dúvida me lembro. É uma merda, não é? Cara, ele se preocupa demais às vezes.

Mas assim que eu estava prestes a dar a resposta correta, percebi algo terrível. Hmmmmm… meio que estou sendo abraçado pela Shion, não é? Se eu usar a palavra que começa com M para descrever sua comida… então o que acontecerá?

Uma imagem do inferno passou pela minha mente. Oh, droga!! Se eu não pensar em algo, Shion vai me esmagar com seus braços, me transformando em uma geleia! Não acredito que caí nessa armadilha! Muito desonesto da parte dele! O que eu faço? Existe alguma maneira de sair disso?

… Eureka! Grande Sábio ao resgate. Tenho certeza de que terá a solução perfeita para tudo isso…

… E então, ao tentar convocá-lo, percebi que ele havia sumido. Hum… O quê? Grande, uh, Grande Sábio?!

… Espere um segundo, então quem estava me respondendo até agora há pouco?

Relatório. A habilidade única Grande Sábio evoluiu para a habilidade definitiva Raphael, Lorde da Sabedoria. Como resultado, ele desapareceu e não pode ser chamado.

 

Uau. As habilidades podem evoluir também? E, uh, Raphael? Igual ao nome do anjo? Soa bem maneiro…

Mas posso me aventurar nisso mais tarde. Ainda tenho uma crise sem precedentes para resolver agora. Tudo bem, Raphael, se você é o Lorde da Sabedoria, encontre a melhor maneira possível para eu enganar a Shion!

Entendido. Meus cálculos não encontraram nenhum resultado relevante.

 

Que imprestável!!!

O Sábio nunca foi tão útil para coisas assim também, e acho que Raphael herdou essa mesma peculiaridade. Ele disse algo sobre “cálculos”, mas duvido que tenha pensado seriamente na questão. Provavelmente estava apenas tentando me acalmar. Quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas. Talvez ele não tenha evoluído muito, além do nome chique que criou.

Essa conversa e todos os meus pensamentos se desenrolaram em menos de um segundo em minha mente.

— Hmm? O que tem a minha comida?

— Ah, hum, bem, tenho certeza de que o Senhor Rimuru sente muita falta, não? Ele mal pode esperar para ver no que você tem trabalhado, tenho certeza disso.

Alguém precisava parar Benimaru antes que a situação piorasse. Droga. Aquele bastardo queria que isso acontecesse desde o início! E ele até tomou precauções de antemão para que não fosse arrastado junto. Que babaca! Acabei de ter uma ótima sessão de sono, e agora ele está ameaçando fazer Shion me pôr no tipo de sono do qual você nunca acorda!

— Ah, entendi! Ele quer que eu cozinhe uma refeição, então? Que atencioso da sua parte, Benimaru.

Shion sorriu triunfantemente com a sugestão enquanto eu era tomado por uma turbulenta sensação de mau presságio.

— Entende agora? — disse Benimaru. — Sei que nem é preciso dizer, mas eu…

Sendo assim, deixe-me dar uma sugestão. Recomendo que responda: “A resposta que Benimaru sugeriu que eu dissesse era ‘é uma merda”, não é? Me lembro bem disso’.

 

Qu-?!

O Grande Sábio – quero dizer, o Lorde da Sabedoria – acabou de me dar a resposta mais brilhante do universo. Cara, me desculpe por falar que sua evolução veio com defeito. Você é foda, Raphael!

— Espere, Benimaru! Tínhamos uma pergunta e uma resposta planejadas com antecedência, certo?

— … Hum?

— Ah, não se preocupe – eu me lembro de tudo que combinamos. A resposta que você decidiu que era a correta para isso era “é uma merda”, não? Me lembro perfeitamente!

Várias gotas de suor começaram a escorrer pelo rosto de Benimaru quando viu o sorriso congelado de Shion.

— Sh-Shion, espere! O Senhor Rimuru acabou de acordar! Temo que ele ainda esteja confuso!

Aproveitei esse momento para evacuar agilmente do peito de Shion enquanto mantinha um olho em Benimaru.

— Muito bem — Shion respondeu firmemente. — Senhor Benimaru… não, apenas Benimaru. Eu sirvo diretamente ao Senhor Rimuru; não preciso usar títulos nobres para me referir a você. Mas se queria tanto experimentar minha comida, deveria ter dito antes. Ficarei feliz em alimentá-lo até ficar tão cheio ao ponto de achar que vai explodir.

Ela saiu correndo, com o sorriso congelado ainda em seu rosto. Isso foi bem assustador. Muito, muito assustador.

— P-Por que você fez isso?

— Há-há-há! Não entendo o que está dizendo, Benimaru. Divirta-se tentando sobreviver à próxima refeição.

— Isso não é engraçado, meu senhor! Tenho testado suas novas criações há tanto tempo que até desenvolvi Resistência a Envenenamentos…

Benimaru podia ver a desgraça à frente. Se Shion estava tão entusiasmada para começar a cozinhar, esse seria o seu fim. Mas, Resistência a Envenenamento? Sério? Isso praticamente comprova que a comida de Shion é venenosa, não?

— Sim, bem, é como dizem, você colhe o que planta…

Abatido, Benimaru acenou balançando a cabeça para minha resposta. Eu não tinha palavras para consolá-lo. Afinal, bastaria um passo em falso para possivelmente eu ser aquele enfrentando esse destino. Melhor, pensei, deixar o infrator original enfrentar a sua ira.

 

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Depois que Shion partiu, os sobreviventes recém-resuscitados clamaram para me cumprimentar, como se estivessem esperando por sua vez durante todo esse tempo. Todos tinham o mesmo conhecimento e personalidade de antes (embora a atmosfera talvez fosse um pouco diferente com alguns), o que foi um grande alívio. Sem perdas de memórias, sem perda de nada – e suas almas estavam intactas.

Isso não teria sido possível caso eu não tivesse obtido a habilidade extra Memória Completa – fico feliz em ver que todo esse esforço para evoluir não foi em vão. Como um cara na multidão disse: “Agora posso continuar voltando à vida, independentemente de quantas vezes eu morra!” – e eu não tinha certeza se ele estava brincando ou falando sério.

A Memória Completa permitia que você tocasse diretamente a alma do alvo. Normalmente, o poder apenas poderia ser possuído por formas de vida espirituais, mas de alguma forma eu o consegui. Me disseram algo sobre almas que compartilhavam a mesma “genealogia” comigo e tudo mais, então acho que tecnicamente se aplicava a mim também. Provavelmente esse que era o “presente” – o qual ressuscitou a todos, e eu não poderia estar mais feliz com isso.

Depois que encerramos nosso reencontro, todos voltaram ao trabalho. O resto dos cidadãos também receberam algum tipo de presente, eu acho, mas não houve tempo para examiná-los detalhadamente. Benimaru havia mencionado “vários problemas” e eu tinha que resolvê-los rapidamente.

Então, no momento em que superamos uma crise, uma nova vem logo em seguida, huh…?

— Ah, antes de discutirmos a comida da Shion, tenho algo importante para lhe dizer.

Benimaru deu um sinal, logo após, os Três Licantropos do domínio do lorde demônio Carillon apareceram. Ohhh, certo, Millim estava lutando contra ele, não é? Tinha me esquecido.

— Primeiro, deixe-me parabenizá-lo pela sua evolução! — Albis, a Cobra de Chifres Dourados, disse enquanto ajoelhava-se.

— Sim, sim, mas o que está acontecendo?

Benimaru foi o primeiro a abrir a boca. De acordo com ele, os refugiados do Reino Animal de Eurazania haviam chegado apenas há alguns instantes. Notavelmente, eu havia dormido por três dias inteiros – o que significa que, hum, o conflito entre os lordes demônios estava acabado?

— … Sim. Eu vi tudo com meus próprios olhos.

Phobio, a Presa do Leopardo Negro, ficou perto de Carillon durante toda a sua batalha contra Millim. E o resultado?

— Lorde Carillon e Millim se enfrentaram… e a lorde demônio Millim provou ser muito superior. O Reino Animal não… me entristece dizer isso… não existe mais.

Droga.

Tive problemas para formular uma resposta. Benimaru também ficou sem palavras; aparentemente, isso era novidade para ele.

Phobio estava gravemente ferido, mas ainda assim conseguiu passar por um Portal de Distorção e se reagrupar com Albis. Depois disso, as poções de Gabil salvaram sua vida.

Os Três Licantropos ficaram em silêncio, Sufia, a Garra do Tigre das Neves, rangia os dentes.

— No entanto — Phobio continuou —, depois de uma explosão extremamente massiva, não foi ninguém menos que a lorde demônio Frey que deu o golpe responsável por  derrotar o nosso lorde. A ideia de lordes demônios trabalhando juntos… era impensável para mim. Eu pensava que Millim detestava tais esquemas. E, olhando para trás, havia outra coisa que parecia estranha…

Então Millim e Frey uniram forças para derrotar Carillon. Também achei isso muito estranho. Millim o prometeu um x1 sincero, e ela não me pareceu ser o tipo de lorde demônio que mentiria e traria companhia. Frey, de acordo com Phobio, o encarou de relance. Aconteceu tão rápido – Frey voando com o corpo de Carrilon como se não tivesse nada de errado – que pensou que era apenas a sua mente lhe pregando uma peça.

— Mas — ele prosseguiu —, a lorde demônio Frey tem a melhor visão de toda a sua espécie. Dizem que ela pode caçar pequenos animais terrestres das mais altas alturas. Eu podia estar escondido, mas não havia como ela não ter me visto. E há outra coisa que me preocupa sobre o seu comportamento…

Aparentemente, relatou Sufia, a direção para a qual Frey voou estava errada. Na verdade, era o sentido contrário, a exatos 180 graus de seu próprio domínio, e a uma distância razoável das terras de Millim.

— Ela estava indo direto para o domínio do lorde demônio Clayman.

Os outros dois licantropos estremeceram.

— Eu – eu preciso sair por um momento.

Albis deu um passo à frente para detê-lo.

— Pare bem aí, Sufia!

— Sim! Se você vai, então todos nós precisamos unir forças para atacarmos juntos.

É, cara. Isso não vai dar certo. Bestiais como eles têm uma mente muito simplória e são facilmente irritados quando estão em fúria. Mesmo Albis, que parecia ser a mais sensata do grupo, não era exceção.

— Ei, esperem — arrisquei. — Precisamos de mais informações antes de qualquer coisa. Pelo que você disse, Phobio, Carillon ainda está vivo. Eu não sei como é a personalidade de Frey, mas não há como Millim não ficar muito brava após alguém interferir em sua luta. Tem que haver mais por trás disso.

— Penso o mesmo — disse Benimaru.

— Certo. Sendo assim, ouçam: todos nós queremos ajudá-los a resgatar o seu senhor. Então não fiquem furioso comigo agora, ok? Se não trabalharmos nisso juntos, não haverá nenhuma chance de vocês terem sucesso. Na pior das hipóteses, terão que lidar com três lordes demônios ao mesmo tempo. Então não vão com sede ao pote ainda, combinado?

— Entendido.

— Tudo bem…

— Sim, Senhor Rimuru.

Todos assentiram, recuperando a compostura. Então, decidimos deixá-los descansar e se recuperar um pouco. Eles e os outros dez mil refugiados que os acompanhavam, todos extremamente exaustos. Ir até o domínio de Clayman agora e desafiá-lo para uma batalha era um absurdo.

Em pouco tempo, tínhamos postos de emergência distribuindo comida, e o grande salão tinha alojamentos preparados às pressas para lidar com a grande demanda. Ainda não estávamos com força total; meu povo havia acabado de acordar. Por hoje, pelo menos, decidimos descontrair e relaxar compartilhando uma refeição.

 

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Cercados pelo agradável cheiro das cozinhas de emergência, esperávamos pela comida de Shion com uma sensação de terror iminente.

— Então, hum, boa sorte no jantar, Benimaru.

— Espere um minuto! Devíamos estar comendo a comida dela juntos, não é?! Ela está dando o seu melhor! Talvez, por algum milagre, venha algo bom! Apenas me prometa que não vai me abandonar!

— S-Sai fora! Milagres não crescem em árvores!

Acabei de terminar este evento de evolução incrível e inspirador, e a primeira coisa que você quer que eu faça depois disso é provar a comida da Shion? Tá louco?

Porém, no fim, a visão patética de Benimaru com os olhos lacrimejantes era demais para eu suportar, então topei em me juntar a ele na mesa de jantar – na verdade, fui empurrado por Shion para um assento ao seu lado.

— Hee-hee-hee-hee-hee! Tenho certeza de que está tão ansioso por isso quanto Benimaru, não está, Senhor Rimuru?

Não! Nem um pouco!

Era fácil pensar, mas dizer isso na cara dela era quase impossível. Um olhar de Shion foi o suficiente para eu perceber – oh, droga. Não há para onde correr.

Logo, enquanto as pessoas ao nosso redor celebravam sua ressurreição e revitalizavam seus espíritos com comida e bebida, nós estávamos sendo servidos com uma sessão de degustação vinda direto do poço mais profundo do inferno.

Mais alguns segundos e a arma letal que era a comida de Shion seria levada para a gente. Ela sorriu ao trazer a comida em grandes travessas. A hora chegou.

Dei uma olhada nos pratos fumegantes e…

— Uau! Ei, ei, ei! O que é isso?

Não era comida. Eu me recusava a aceitar que isso era comida. Havia uma tigela com um monte de coisas diferentes misturadas. Um guisado, talvez? Era essa a intenção dela? Espere – não, isso não era comida. Sem chance. Bastava um olhar para perceber isso.

— Shion?! Shion, espere um momento! Tem uma coisa que quero te perguntar. Você entende o conceito de “cozinhar”?

— Claro, Senhor Rimuru. O que acha? Parece delicioso, não?

— Sua idiota! Tem cenouras, batatas, pimentões, tomates, cebolas e todos os tipos de vegetais existentes – mas você os cozinhou inteiros! Eu não deveria ser capaz de reconhecer cada um deles na tigela assim, todos tão boiando no caldo ou sei lá que porra é essa! Você tinha que descascá-los, ou cortá-los, ou ter feito qualquer outra merda com eles!

Eu estava gritando, direto do coração.

Então me virei para Benimaru.

— Qual o significado disso? Achei que tinha deixado os cuidados de Shion em suas mãos. Ela não aprendeu nada com você, não é?

Ele olhou de volta para mim, com os olhos vidrados como os de um peixe morto.

— Eu simplesmente não consegui. Nunca tive um revés na minha vida, mas com ela, fui barrado por uma parede – a parede de meus limites pessoais. Desde a infância, sempre assumi que nada era impossível para mim, mas agora vejo o quão ingênuo eu era.

Que descarado da parte dele. A parede de seus limites pessoais? Besteira. Estou comendo isso também, se lembra?

Olhei para Shion. Ela estava tremendo, quase chorando. Comecei a sentir como se eu fosse o cara mau aqui… Ah, que seja. Como um monge ascendendo à iluminação, era hora de me preparar, tratar isso como um treinamento e encarar o desafio.

— Tudo bem, tudo bem. Eu vou comer, tá bom? Mas pelo menos tente preparar os ingredientes antes de colocá-los para cozinhar na próxima vez.

— Hmm, mas sempre que tento cortar a comida, acabo cortando o prédio em que estou também…

— Hã? Todo o edifício? Não apenas a tábua de cortar?

— … Sim. Meu Goriki-maru é tão incrivelmente afiado, mas é um pouco longo também, então…

Shion apontou para a enorme espada em suas costas.

Uh, ela cozinhou com isso?

Benimaru levantou as mãos, como se estivesse se rendendo. Fale sobre alguém em quem você não pode confiar em um aperto. Minha estima por ele estava indo de mal a pior agora.

— Ouça — tentei explicar —, uma katana não serve para cozinhar, ok? É para isso que as facas de cozinha foram inventadas.

— Não, eu trabalho estritamente com Goriki-maru. Não o trairia com outras lâminas…

— Oh. Na verdade, eu estava querendo te dar algumas facas de cozinha de presente, mas acho que não precisa delas, não é?

— Espere! Eu estava errada! Erro meu! Goriki-maru acabou de me dizer que tenho permissão para usar outras facas!

— … É bom ouvir isso. Então, use essas facas para cozinhar de agora em diante, combinado?

Ela com certeza reconhecia um bom presente quando via um. Bem, que seja. Certamente é melhor do que mastigar tomates inteiros no que deveria ser uma sopa. Se Benimaru não ingeria nada além dessas comidas (não que eu estivesse reconhecendo isso como comida, não se engane), não é de se admirar que ele tenha adquirido Resistência a Envenenamento.

Agora era a minha vez, mas, caralho, eu era um lorde demônio agora. Ingerir algo assim não poderia me matar, certo? Então me resignei ao meu destino e mudei para minha forma humana. Fechando meus olhos e fortalecendo minha determinação, trouxe a colher cheia de algum tipo de gosma misteriosa para a minha boca.

Assim que eu estava prestes a engoli-la o mais rápido possível, notei algo estranho…. Hã? Isso tá, tipo, muito bom. Quase como se ela tivesse recriado do zero a comida caseira de Shuna…? Não pode ser! O gosto não combinava em nada com a aparência.

Abri os olhos bem lentamente e, com cuidado, levei outra colherada da comida aos meus lábios.

Delícia!

Benimaru assistiu, meio que rezando, seus olhos pareciam me perguntar: Você está bem? Eu fiz um sinal para que ele experimentasse também. Acho que suas experiências com a comida de Shion até agora foram tão ruins quanto eu imaginava.

Desanimado, enfiou a colher na boca – então seus olhos se arregalaram de surpresa. Acho que minha língua não estava mentindo para mim. Por um momento, quase pensei que algo havia estragado a minha evolução.

Shion nos observou com o sorriso de maior felicidade que já vi na vida. Isso meio que me irritou, sendo sincero.

— Shion, o que… o que é isso? Por que é muito mais delicioso do que parece?

— Hee-hee-hee! Bem-

Acontece que – e eu não tinha ideia sobre isso – quando o momento da evolução chegou, Shion desejou com todas as suas forças em sua mente se tornar uma boa cozinheira. Seria preciso ser uma idiota como ela para desejar algo assim como seu presente. O que ela estava pensando? Era exasperante, mas suponho que é assim que a Shion é.

— Hee-hee! E foi assim que eu obtive a habilidade única Master Chef.

Nossa, que incrível. Ganhar uma habilidade única porque queria ser uma cozinheira melhor… o quanto ela desejava por isso, de qualquer maneira? E do que jeito que descreveu, a habilidade a permitia que fizesse exatamente como imaginava em sua mente, independentemente do tipo do prato. Não é à toa que parecia a comida da Shuna – era exatamente isso que ela queria.

 

 

 

Os esforços de Shion, como sempre, foram direcionados na direção errada. E nada poderia ser mais a sua cara do que isso.

Assim, o resto do dia se transformou em uma grande festa, um banquete que continuou até altas horas. Não havia mais nenhum dos sentimentos sombrios dos últimos dias. Shion e todos os outros estavam de volta, e sua presença trouxe alegria para a cidade.

Lá estavam Gobzo e Gobta, exibindo vários truques para o público. Um deles tinha uma faca enfiada na cabeça – não consigo nem imaginar como conseguiram isso. Parecia que estava sangrando também, mas talvez fosse só a minha imaginação. Eles estavam rindo tanto que tenho certeza de que não havia nada para se preocupar.

Yohm também estava lá, junto de Elen e seus guarda-costas. Ele e Gruecith estavam cambaleando, o que ainda era uma visão melhor do que Kabal completamente desmaiado. Mas Mjurran foi a vencedora da noite, é claro. Ela não agiu nem um pouco como bebada – uma festeira experiente, suponho. Sufia, percebendo isso, tornou-se a mais recente desafiante a ser vítima dela em uma competição de bebidas enquanto a festa se tornava ainda mais caótica. Foi uma cena bizarra, mas pelo menos ajudou os licantropos a esquecerem suas preocupações por um tempo.

A partir de amanhã, teríamos muito trabalho de limpeza a fazer. Eu precisaria considerar o que fazer com os refugiados do Reino Animal, bem como resgatar Carillon. Além disso, havia a Santa Igreja Ocidental na equação. Precisávamos prestar muita atenção em como reagiriam, presumindo que continuaríamos do lado bom das Nações Ocidentais.

Havia uma montanha de problemas com os quais lidar, mas – por enquanto – acho que poderíamos nos divertir um pouco. E talvez fosse só por hoje, mas isso estava se transformando em um verdadeiro festival, eu diria. Afinal, os japoneses adoram festivais. Nenhuma desculpa é muito mesquinha para começar um, nenhuma razão era trivial para alguém planejar uma festa com seus amigos. Não há necessidade de manter o clima tenso o tempo todo.

Também devo mencionar que esta festa acabou se tornando um evento anual nesta terra. Chamaram-no de o Festival de Ressurreição de Tempest.

 


 

Tradução: Another

Revisão: Flash

 

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