Sobre Quando Reencarnei Como um Slime

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 04 – Epílogo – O Inimigo Natural dos Monstros

 

 

Me separando de Yuuki e das crianças, cheguei aos arredores da cidade. Longe do olhar de outras pessoas, achei que poderia usar o Movimento Espacial para voltar para casa sem mais delongas. Eu pensei em fazer isso, mas por algum motivo, a habilidade não ativou.

O que está acontecendo?

Relatório. Você está no meio de uma barreira de longo alcance. Não é possível usar nenhuma habilidade de intervenção espacial direcionada para além da barreira.

 

Hã?

 Eu não gostei de ouvir isso. De certa forma, me senti em mais perigo agora do que em qualquer outro momento. Quando Millim nos atacou, ela realmente não tinha a intenção de matar ninguém, então eu não fui oprimido por uma sensação de ameaça. Mas agora, essa sensação estava deixando meus sentidos mais aguçados do que nunca.

Minhas suspeitas foram confirmadas quando vi Soei aparecer diante de mim, gravemente ferido.

— Senhor, Senhor Rimuru, você deve fugir imediatamente.

Esta Réplica de Soei deve ter gastado todo o resto de sua força para chegar até aqui. Seu corpo já estava começando a desaparecer no ar.

— O que aconteceu?

— Inimigos, senhor. Mais poderosos do que eu jamais poderia imaginar —

E então, ele desapareceu completamente. Eu tinha certeza de que seu corpo original estava bem, mas essas Réplicas deveriam estar no mesmo nível que o original em termos de resistência, não deveriam? Ele caiu em uma armadilha ou algo assim?

Chamei Ranga que estava na minha sombra. Sem resposta. Assim como o Grande Sábio avisou, eu estava tão isolado do mundo exterior que nem mesmo Ranga poderia vir a mim. Esta barreira deve ser do tipo que divide o espaço, isolando totalmente o alvo do que estiver fora dela. Eu não podia pedir ajuda, nem fugir.

O mau pressentimento que eu estava sentindo agora estava me fazendo entrar em pânico. Por segurança, tomei algumas precauções. Felizmente, não havia restrições ao uso de minhas habilidades dentro da barreira em si, eu acho… Mas então, ouvi outro aviso.

Relatório. Você está no meio de uma barreira de longo alcance. Não é possível usar nenhuma habilidade dentro da barreira… Resistência bem-sucedida. No entanto, todas as habilidades mágicas serão menos eficazes.

 

Quê? O que está acontecendo aqui?! Habilidades mágicas englobam, tipo, toda a minha magia e tudo que envolve o controle de magículas! Habilidades como Chama Negra e Trovão Negro eram igualmente restringidas, assim como aquelas baseadas no controle de magículas como Fio de Aço Pegajoso. Este tipo de barreira era muito mais poderosa do que aquela no Reino de Englesia, durante o ataque do Dragão do Céu de antes.

Se houvesse alguém capaz de implantar uma barreira como essa, de jeito nenhum Soei não teria notado. E para eu ser pego nela antes que ele pudesse me avisar por meio da Comunicação de Pensamento, ela teria que cobrir uma área enorme. Posso tomar como certeza de que esse ataque não era para mais ninguém além de mim.

Mas com que propósito?

Esperei que meu inimigo se revelasse, me preparando contra a ameaça potencialmente letal que me cercava. Mesmo se eu quisesse me libertar dessa barreira, o Sábio precisava de tempo para analisá-la. Eu até podia começar a fazer isso agora, mas com um terreno tão amplo para cobrir, eu precisaria esperar um pouco. Tudo que eu podia fazer era esperar pelo meu inimigo.

Isso era muito ruim. Pela primeira vez, pensei ter sentido meu coração tremer de ansiedade. Não era uma emoção que senti muitas vezes desde que vim a este mundo.

Me tornar um slime mudou a maneira como eu pensava, sim, mas a maior razão para isso era porque o Grande Sábio sempre podia prever os resultados com antecedência para mim. Sempre que eu pensava em um plano, ele me dava uma ideia genial para que funcionasse. Era isso que me permitia enfrentar monstros poderosos sem medo. Eles podiam parecer fortes, mas as previsões, as chances, já estavam do meu lado. Caso eu me encontrasse com um inimigo impossível de derrotar, eu não tinha nada a temer. Afinal, se eu não pudesse vencer, poderia simplesmente correr. E se eu não pudesse correr, poderia pelo menos tentar resolver na base do diálogo.

Porém, desta vez, eu estava lidando com um desconhecido. Eu não tinha como prever nada, mas sabia que o inimigo estava em busca de sangue. Eu não sabia se conseguiria vencer e se poderia escapar. Eu não tinha ideia dos seus números. Várias pessoas devem ter sido necessárias para lançar uma barreira com tanto alcance como esta, mas meu Sentir Fonte de Calor me disse que apenas uma estava se aproximando.

As magículas pareciam desaparecer dentro dessa barreira. O Sentido Mágico não estava funcionando. Se eu voltasse à minha forma de slime, não seria nem capaz de enxergar. Sem minha visão multifacetada, seria muito mais difícil entender a situação ao meu redor. A partir do momento em que fui pego aqui, minhas chances de vitória despencaram.

Mas selas as habilidades do seu inimigo antes mesmo da batalha começar… Sim, essa é outra maneira de lutar, eu acho. Entre no alcance sem ser notado e, em seguida, implante uma barreira antes que seu inimigo perceba. Era o trabalho de um profissional experiente no combate contra monstros. Se eu tivesse que adivinhar, essa barreira cobria um raio de pelo menos um quilômetro de extensão. Me pegaram completamente desprevenido. No entanto, tive que admirar o quão bem foi planejado.

O tempo passou devagar…

— Olá. Suponho que seja a primeira vez que nos encontramos. Se bem que será um adeus logo, logo.

Com essa saudação, uma mulher apareceu, bem na minha frente, sozinha. E com uma enorme autoconfiança. Ela devia ter uns vinte anos, talvez nem isso, e seus olhos assustadoramente frios continham o brilho de uma inteligência profunda. A beleza de seu semblante tornava o gelo em seu olhar ainda mais impressionante. Eu não me lembrava de tê-la visto antes, mas algo nela era familiar para mim. Seu cabelo preto lindo e brilhante era da altura dos ombros, penteado para baixo e para trás no lado direito e naturalmente caído no lado esquerdo, sem esconder seus olhos. Em seu olho esquerdo quase coberto, havia um monóculo; talvez apenas um acessório de moda, já que ela rapidamente o removeu e o colocou no bolso.

Suas roupas eram quase todas brancas, soltas, fáceis de mover e que faziam lembrar de trajes de trabalho. Suas pernas, visíveis sob a saia curta, eram longas, finas e cobertas por meias pretas. O resto de seu corpo estava coberto por um manto puramente branco, como algo que um clérigo usaria. Havia o símbolo de uma cruz na frente de seu colarinho, indicando que ela ocupava uma posição elevada na Santa Igreja Ocidental. Ela era uma paladina, uma guardiã da lei e da ordem sob comando da igreja; e uma inimiga jurada de todos os monstros.

— Suponho que sim. O que é que você quer de mim? Meu nome pode ser Rimuru, mas talvez você tenha me confundido com outra pessoa?

Não fazia sentido, mas pensei em confirmar mesmo assim. Ela estava obviamente mirando em mim. Eu duvido que ela tenha pegado a pessoa errada, mas se esse fosse o caso, eu não gostaria de ser morto por isso.

— Você é bem-educado para um lorde de uma nação de monstros. E não, eu não me enganei. Sua cidade, sabe… É um incômodo para nós. Então, decidimos esmagá-la. É por isso que não podemos deixar você voltar para casa ainda. Entendeu agora?

Não havia escárnio maligno nessas palavras. Era apenas um fato simples e frio; um do tipo que eu me recusava a aceitar. Além disso, eles sabiam que eu comandava Tempest? Como?

— Por que você está me chamando de monstro? De lorde dos monstros ainda. Eu sou apenas um aventureiro comum, como você pode ver.

— Oh, bancando o bobo? Bem, não vai funcionar. Temos um informante. Não vou te dizer quem, mas foi assim que soubemos. Temos “olhos”, sabe, por toda a Englesia. É melhor você manter seus olhos bem abertos; não há como dizer quem pode estar observando.

Informante? Eu não conseguia imaginar ninguém. Eu sempre estive de olho nas pessoas que me seguiam, e qualquer habilidade de teletransporte eu executava com o máximo de cautela. Eu não entendi, mas percebi que ela realmente acreditava no que estava dizendo. E sobre me matar.

Isso é muito ruim.

Ela estava armada apenas com o florete pendurado no quadril. Não vestia nenhuma armadura, mas parecia estar totalmente à vontade. Ninguém mais estava por perto, não havia nenhum indício de que a pessoa ou as pessoas que construíram a barreira estariam se preparando para ajudar. Eles fizeram uma armadilha perfeita para me matar, mas só tinha ela aqui? Ou essa mulher é tão forte que já é o suficiente?

Eu não tinha tempo para pensar nisso. Se ela estava dizendo a verdade, havia uma força lá fora tentando destruir Tempest. Se eles já começaram a atacar, eu não podia ficar aqui sentado de braços cruzados.

Qual era a Nação? Ou era um Lorde Demônio? Não, não era nenhum desses. A Santa Igreja Ocidental nunca se associaria com monstros. Fazíamos fronteira com Dwargon, Farmus, Blumund e Thalion. Eu poderia descartar a possibilidade de ser Dwargon e Blumund, restando apenas dois países. Thalion não faria muito sentido, já que não havia um caminho construído para lá, então seus exércitos teriam que passar por outro país primeiro. Soei teria percebido isso na hora.

Isso fez do Reino de Farmus o meu principal suspeito. Presumindo que Farmus tivesse um exército armado, levaria pelo menos duas semanas para marchar até Tempest. Eles precisariam encontrar estradas largas o suficiente para movimentar suas tropas, o que significava uma jornada longa e tortuosa. Mesmo que avançassem sem descansar, ainda demoraria dez dias. No entanto, este mundo tinha algo chamado magia de legião, que se usada com eficiência o suficiente, poderia reduzir esse tempo.

Eu não podia supor nada, mas agora não era a hora de vacilar.

— Então eu acho que você não acredita em mim quando digo que você pegou o cara errado.

— Não mesmo. Já me falaram que o nome do lorde dos monstros era Rimuru.

— Oh.

Ah, ótimo. Ela me conhecia pelo nome.

— Então, está pronto?

— Não — respondi rapidamente enquanto a mulher movia seu braço para desembainhar o florete —, mas você poderia pelo menos me dizer o seu nome primeiro?

A mulher deslumbrante olhou para mim, perplexa.

— Desde quando os monstros ligam para nomes? Não me importo com isso, então esqueci de te contar — ela deu um meio sorriso. — Eu sou Hinata Sakaguchi, capitã dos Cavaleiros Comandantes da Sagrada Guarda Imperial, os servos fiéis de Luminus no Sagrada Império de Lubelius.

Ah. Então esta é a Hinata Sakaguchi.

— Hinata? Ouvi dizer que você era a líder dos paladinos, mas também comanda a guarda imperial de Lubelius?

— Você estava ciente disso? Não que ser conhecida por monstros me agrade. Mas sim, ocupo os dois cargos, embora isso não faça sentido. Eu sirvo Luminus, e não ao mortal Santo Imperador.

Ela então puxou o florete, indicando que a conversa havia acabado. A empunhadura era decorada com sete pequenas joias, sua lâmina era de um tom de prata coberta pelo semelhante fraco brilho da cor arco-íris da força mágica. Eu tinha ouvido falar que ela era uma espécie de racionalista extrema quando se tratava de atingir seus objetivos, mas se realmente fosse assim, então suas ações de agora estão sendo meio contraditórias. Sair para derrotar seu inimigo sozinha… Se ela realmente quisesse ter sucesso, deveria ter trazido gente o suficiente para resolver o problema com facilidade. No entanto, eu tenho que reconhecer suas habilidades de coleta de informações. Ela sabia de tudo sobre mim e a Federação de Jura Tempest.

Mas eu ainda não gostava dessa situação. Hinata estava pronta para o combate, mas a ideia de lutar contra uma ex-aluna de Shizu meio que me incomodava. Talvez possamos conversar um pouco sobre isso…? Saquei minha espada, preparando-a, mas ainda assim tentei mais uma vez.

— Espere um minuto. Há algo que eu gostaria de dizer, algo que eu gostaria de falar com você.

— Eu não ligo para o que monstros têm a dizer — Ela respondeu friamente enquanto me atacava com a velocidade de um raio. Eu mal conseguia acompanhá-la. Se meu sistema nervoso não estivesse diretamente conectado ao meu cérebro, eu poderia ter sido acertado. Sinto tanta falta do Sentido Mágico que tiraram de mim.

— Não, espere! Você é do Japão, certo? Eu também. A Shizu me pediu para—

— Estou um pouco surpresa que tenha se esquivado disso. Suponho que realmente seja o monstro que matou minha mentora… Mas a vingança logo será minha. E um monstro sendo japonês? A Senhorita Shizu te pediu um favor? Não me faça rir.

Parece que ela não está muito interessada em acreditar em mim. Ou de ter qualquer tipo de conversa. Mas eu tive mais uma ideia.

— < Não, eu juro que sou do Japão! É que eu morri lá e renasci como um slime aqui>

Eu disse isso em nossa língua nativa. Hinata tinha que acreditar em mim dessa vez. Mas sua voz soou mais fria do que nunca.

— Então você fala japonês. Eu já esperava por isso. Não há mais necessidade de continuar com essa atuação.

Em vez de acreditar em mim, ela agiu como se eu tivesse a enfurecido ainda mais. E o que ela quis dizer com “Eu já esperava por isso”?! Quem vazou informações sobre mim para a Hinata também sabe que eu era japonês? Porque apenas um punhado de pessoas estava ciente disso… Ou ela deduziu que eu falava japonês porque eu dizia ser de lá? Ou por acreditar que eu havia matado a Shizu, ela concluiu que eu devia saber sobre os invocados, o Japão e a sua língua?! Isso não é apenas um chute. É mais como se tivesse sido planejado

— Você realmente quer continuar com isso? — perguntei. — Você, sozinha?

Mesmo que ela fosse uma invocada e paladina, minha força ainda era equivalente ao de um Lorde Demônio. Minhas habilidades foram enfraquecidas, mas não há como eu perder para uma humana como a Hinata. Pelo menos era isso o que eu pensava.

— Você é engraçado. Realmente acha que pode me vencer? Dentro dessa barreira?

Ela deu um pequeno e encantador sorriso enquanto sussurrava a pergunta. No momento seguinte, um arco-íris de cores foi disparado da ponta de seu florete – um corte supersônico. Tentei esquivar, mas meu corpo parecia pesado e minhas habilidades estavam enfraquecidas. Muito lento para reagir, tomei três ou mais golpes.

Sério isso?! Comecei a me preocupar enquanto uma dor excruciante percorria meu corpo.

Dor? Mas e a minha Dor Ignorada?

— Hmm… Apenas três golpes? Talvez eu tenha te subestimado.

Ela pode ter dito isso, mas sua expressão indicava que tinha tudo sob controle. Talvez essa pausa fosse outra parte de seu plano, porque ela continuou atacando, não me dando um único momento de descanso. Segurando minha katana em minha frente, tentei desviar os golpes. Mas era como se ela pudesse passar direto por minha espada, assim conseguindo me acertar.

Impulsionado pelo meu instinto que dizia que algo ruim estava acontecendo, recuei. Esse foi o quarto golpe. Senti que ser acertado mais vezes seria perigoso.

— Você notou o perigo por trás dessa habilidade? — Ela me deu um olhar curioso. — Há alguns tolos arrogantes que deixam ser acertados, apenas para morrerem sem saber o que aconteceu. Vejo que você tem alguma inteligência.

— Agradeço o elogio, mas eu ficaria ainda mais feliz se você estivesse disposta a ouvir toda a minha história…

Entendido. Acredita-se que essa habilidade baseada em artes místicas ataque diretamente o corpo espiritual, ignorando o material.

Então, de acordo com o Sábio, esses golpes estão ferindo meu espírito…? Não é à toa que atravessaram minha espada. Não havia como me defender, e a falta de sangue e cortes na minha pele provavam isso.

Além do mais, se o que o Grande Sábio me disse estiver certo, eu seria morto em mais três ataques. Meu corpo não morreria, mas meu espírito sim. Inacreditável. Eu não sabia se isso era uma habilidade ou algum efeito daquela espada mágica, mas se alguém subestimou seu inimigo aqui, fui eu. Eu sabia que Hinata tinha uma ou duas habilidades únicas, mas ela nem precisava usá-las para me dominar.

Sem conhecer nenhuma de suas habilidades, e com as minhas seladas, eu estava em mais desvantagem do que imaginei. Tentar fugir teria sido a melhor escolha, embora isso fosse uma aposta por si só.

Toda a minha iniciativa se foi. Eu estava tentando há um tempo, mas a Chama Negra e o Trovão Negro ainda não estavam funcionando. Nem a Mudança de Forma Universal, não sem as magículas para executá-la. O simples ato de manter minha forma atual já era um desafio, e com a Chama do Inferno também desabilitada, eu não tinha nenhum ás na manga para confiar.

Mas eu não estava desamparado.

— Hmm… Está tentando ganhar tempo? Não se incomode. Você está encurralado. Este Campo Sagrado impede que monstros de rank menor que A consigam fazer qualquer coisa. É a barreira anti-monstros definitiva – o orgulho da Santa Igreja Ocidental.

Ela não apenas viu através do meu plano, como também revelou algo surpreendente. Este Campo Sagrado que me restringia, deixava meu corpo e meu espírito mais fracos. Se estes eram os efeitos em alguém como eu, então muito provavelmente para monstros abaixo do rank C a morte seria a consequência. Meus subordinados hobgoblins dificilmente conseguiriam se mover e morreriam sem resistência. Saber disso me deixou ainda mais frustrado.

— Entende agora? Todas as magículas dentro desta barreira foram purificadas. Mesmo monstros de alto nível como você têm a maior parte da energia consumida só de estarem presos aqui. Seus poderes latentes foram tirados de ti.

Eu não precisava que Hinata soletrasse isso para mim. Experimentando em primeira mão, eu podia dizer na hora quão perigosa era essa barreira. Se eu tivesse que adivinhar, foi criada para caçar monstros de rank A ou superior – a chamada classe perigo. Uma espécie de arma definitiva para esses Cruzados caçadores de monstros. Só de implementá-la tornava as condições propícias para a vitória – e eu tinha certeza de que a Hinata pensava que não havia como perder. Agora ela estava tentando me deixar em pânico para que eu tomasse uma decisão ruim. Até mesmo falar mais alguma coisa poderia ser letal – nunca que ela me deixaria comprar tempo com uma conversa.

— Imagino que tenha ficado triste quando o abordei sozinha, mas normalmente, eu nem precisaria lidar com trabalhos como esse com minhas próprias mãos. Há apenas uma razão pela qual a capitã do batalhão dos paladinos está lidando pessoalmente com esse caso…

Mantive distância de Hinata. Tentei medir o alcance daquele perigoso florete – e no momento em que pensei nisso, senti uma dor na perna esquerda. Ela acertou outro golpe. Faltavam dois.

— É porque você matou a Senhorita Shizu. Já te disse, eu quero vingança. Vingança com a sua morte, por minhas próprias mãos.

— Vingança? Olha, eu meio que a matei de certa forma, mas isso foi…

De certa forma? Não importa. O resultado final é o mesmo. Ela foi a única mulher que me mostrou um pingo de bondade neste mundo, e agora ela se foi… Eu realmente não entendo esse sentimento…

Sua voz diminuiu para um sussurro enquanto olhava para mim. Seus olhos estavam sem emoção; ela me via como indigno de ser sua presa. Ela apenas ficou lá, mostrando quão insignificante eu era.

Hinata veio para cá porque tinha certeza de que poderia me matar. Essa confiança não vinha da barreira. E sim de sua própria habilidade, da qual eu ainda nem tinha conhecimento. Talvez ela sozinha fosse até um exagero. Hinata estava me tratando como um completo covarde, mas eu não tinha como provar o contrário. Dentro dessa barreira, minhas chances de vitória eram quase nulas. Se eu não me apressasse e fizesse alguma coisa, com certeza perderia.

Mas quem disse a essa mulher que a Shizu estava morta? Alguém tinha me transformado no vilão da história. Mas agora não era hora de me preocupar com isso. Os cidadãos de Tempest eram prioridade.

— Está preocupado com seus amigos? Tenho certeza que sim. Se ficar perdendo muito tempo aqui, não terá nenhuma casa para onde voltar. Não que eu pretenda deixar você escapar.

Se eles usarem uma barreira como essa para atacar, seremos eliminados. Eu não tinha tempo a perder lidando com essa mulher, mas ela era um grande problema. Difícil demais de enfrentar, e as únicas habilidades com as quais eu podia contar eram aquelas que não dependiam de magículas, ou minha espada, ou minhas habilidades únicas. Hinata me acertou com seu florete. Mesmo sem minhas habilidades físicas, pude dizer desde o momento em que cruzamos as lâminas que ela ainda não estava dando tudo de si. Era difícil para mim acreditar, mas apenas Hakuro tinha essa força pura e avassaladora.

Com isso, apenas as habilidades únicas estavam à minha disposição. Meu trunfo. Hesitei em usá-las, mas que seja. Usei Vontade de Batalha para melhorar minhas habilidades físicas, juntamente com Força de Ferro e Fortificação Corporal. Assim como eu pensava, habilidades e magias que eram ativadas com minhas próprias magículas internas ainda estavam disponíveis.

 — Acho que é um pouco cedo para começar a se gabar!

Segurando minha katana à minha frente, bati com minha força renovada. Através do meu treinamento com Hakuro, eu ganhei algumas habilidades de espada bastante decentes. Se ela tivesse presumido que essa batalha já era dela, então talvez esse ataque fosse—

Hinata, talvez surpresa com o ataque, imediatamente assumiu uma postura defensiva. Ou talvez apenas cautelosa. E tinha aqueles olhos. Aqueles olhos frios e calculistas, guiados apenas pela razão.

Não havia surpresa; nenhuma indicação de que sua guarda estava baixa. Também não havia orgulho; apenas uma mulher desapaixonada fazendo o seu trabalho. Ela observou meus movimentos, procurando cuidadosamente um ponto fraco. Suas palavras foram movidas pelas previsões que havia feito para si mesma. Deve ter sido óbvio para ela que não precisava estar aqui. Ela não tinha me subestimado. Ainda estava observando meus movimentos, prevendo como eu agiria em seguida, calculando o aumento da minha velocidade e respondendo de acordo. Era como lutar com o Grande Sábio…

No momento em que meu golpe de katana fortificado foi desviado por seu florete, eu entendi de onde vinha essa enorme diferença de força. Meu golpe de espada, seu fio que viajava quase na velocidade da luz, foi suave e levemente desviado, sem danificar a própria lâmina dela. Ela tinha lido perfeitamente a trajetória, a velocidade e a força da minha katana. Apenas alguém no nível do Hakuro poderia realizar uma façanha como essa.

Então, quando perdi o equilíbrio, ela aproveitou a brecha para me atacar.

— Este é o fim. Estou impressionada que consiga se mover tão bem dentro dessa barreira. Sendo sincera, eu te subestimei. Mas sabe, você não pode me vencer.

— Por que será preciso de apenas mais um golpe para me matar?

— Oh, está ciente disso? Esta espada é infundida com uma habilidade especial conhecida como Arco-íris Final. No sétimo golpe, a morte do meu oponente é certa – mesmo que eles existam apenas na forma espiritual. Você lutou bem, ainda não teve o suficiente?

Eu pensei que seria capaz de fazer alguma coisa, mesmo sem minhas habilidades. Mas minha oponente era forte demais. Uma adversária sem ponto fraco, sem orgulho, e que sempre tomava a melhor decisão para levá-la à vitória. Além de ter a capacidade de me analisar por inteiro. Mesmo confiante na vitória, ela nunca parou de analisar.

 

 

 

Não havia nada que eu pudesse fazer, nada que eu pudesse usar. Nunca pensei que algum dia estaria tão desesperançoso com a vitória.

— Não — respondi —, vou continuar lutando. Eu não sou otário o suficiente para aceitar a morte, obrigado!

Então testei tudo que pude. Reconhecendo que minha oponente era superior a mim, procurei qualquer coisa que pudesse me ajudar. Se não dá para usar magículas, que tal magia espiritual? Funcionava com um tipo diferente de energia; talvez o Campo Sagrado não a bloqueasse. Eu poderia invocar elementais, apenas os que não estão fora da barreira. Mas eu tinha um certo espírito desviante dentro de mim.

Relatório. Usando a habilidade única Divergência, o elemental de nível superior Ifrit foi separado em um elemental puro.

 

Ifrit, transformado em um meio-monstro, retornou à forma espiritual completa.

Eu poderia usá-lo para tirar proveito da magia elemental, mas tinha minhas dúvidas se funcionaria. Além disso, um pequeno ardil como esse não me salvaria. Eu precisava de algo grande, algo que virasse o jogo.

— Ó Ifrit, o maior dos elementais, derrote meu inimigo!!

Então eu o soltei.

A força do elemental, acima do rank A, era tremenda, contendo uma enorme quantidade de força de calor. Elementais tinham que recorrer à força mágica do invocador, mas Ifrit e eu tínhamos um canal de magia correndo entre nós, então isso não era um problema. Minha energia se converteu em força elemental, fluindo livremente para o espírito.

Ifrit começou a atacar Hinata. Ela provavelmente assumiu que este era meu último trunfo. Mas – Ifrit era apenas uma distração. Meu verdadeiro objetivo – meu boleto premiado – estava em outro lugar.

Focada inteiramente em lutar contra Ifrit, Hinata não conseguia mais se concentrar totalmente em mim. Eu poderia ser morto com apenas mais um golpe. Então Ifrit, que era uma ameaça bem maior, era prioridade. Esta era exatamente a situação que eu queria criar.

Saltando para trás de suas costas, tentei acertar um ataque fortificado, o mais poderoso possível. Mas quando ia acertar—

— Você pode controlar um elemental de alto nível mesmo isolado do lado de fora. Eu não esperava por isso. Mas ainda não é o suficiente para competir contra mim.

Dando um giro para trás, Hinata virou sua espada contra mim, ignorando completamente Ifrit. Ele parou. Como não era um monstro, o Campo Sagrado não o afetava – e ainda assim, a realidade podia ser cruel.

Diante dos meus olhos, Ifrit estava preso em uma bola, com as mãos na cabeça… Como se estivesse lutando contra o comando de duas ordens diametralmente opostas.

— O que você fez?

— Vou te falar, se me disser qual era o seu objetivo com isso.

Até parece que eu contaria. Essa é uma das minhas últimas cartas na manga.

— Volte Ifrit.

Com minhas palavras, Ifrit desapareceu e voltou para dentro de mim. Logo em seguida, usei Analisar e Avaliar para descobrir o que aconteceu.

Entendido. Ifrit parece ter sido pego nos efeitos do Controle Forçado. Acredita-se que o canal mágico que o conecta a você impediu que o controle mental fosse bem-sucedido.

 

Controle forçado?! Isso faz com que ela possa usar a habilidade de outras pessoas, ou…?! Essa era a sua habilidade única? Essa invocada, Hinata Sakaguchi, era um monstro maior do que eu imaginei…

Aparentemente, eu estava com a ideia errada desde o início. Minha atenção estava focada na barreira, que eu assumi que era seu ás na manga. Achei que era a barreira que tornava essa batalha tão difícil. Mas eu estava enganado. Era apenas algo para apoiá-la e distrair minha atenção.

Olhando para Hinata, vi um sorriso carinhoso em seu rosto. Ela era uma senhorita assustadora, tenho que admitir. Ela deve estar certa da vitória, com barreira ou não.

— Você tentou tirar Ifrit de mim?

— Estou chocada. Como você soube? Mas já que descobriu, não tenho mais por que esconder – você está certo. Eu tentei, usando minha habilidade única Usurpador.

Usurpador? Ela conseguia usá-la para capturar demônios e espíritos servos? Ou até mesmo habilidades?! É muito parecido com o Glutão, então. Que habilidade definitiva forte. Não é de admirar que as nações tratassem de forma tão especial os invocados, assim como Yuuki mencionou. Se você está lutando contra um invocado, você tem que assumir que eles têm alguma habilidade única em mãos. A maneira como decidem usá-la serve como a chave para todo o duelo.

Se eu tivesse confiado demais em minha própria força sem perceber o que meu oponente estava escondendo, os resultados teriam sido totalmente minha culpa. Agora eu entendia por que Hinata nunca se gabava, constantemente me observando e analisando. Era como uma batalha de inteligência. Eu podia ver o quanto seus combates passados neste mundo, a tornaram uma lutadora experiente.

Eu não conseguia dizer exatamente o quão superior sua habilidade única era, mas a diferença de poder absurda entre seu portador e eu era descaradamente óbvia.

Eu precisava tomar uma decisão. Se eu não estivesse preparado para morrer, nunca venceria. Mas mais um golpe, e eu estava morto. Achei que poderia usar a Regeneração Ultrarrápida para curar a maior parte dos ferimentos — mas essa presunção foi um erro tático.

Ifrit, minha arma final, foi facilmente derrotada. Isso me deixou com apenas uma opção. Eu esperava poder fazer um ataque surpresa e pegar a Hinata desprevenida, sem matá-la, mas não havia mais como fazer isso.

Eu não sabia quais seriam as consequências de usar isso com força total. Talvez eu nem viva o suficiente para ver os resultados. Mas eu tinha que fazer.

—  Hinata… A Shizu me pediu para cuidar de você, mas não tenho tempo para isso. Peço desculpas, mas não posso mais pegar leve com você. Vou decidir este confronto no próximo ataque.

—  Hee-hee! Você está me dizendo que ainda não deu tudo de si? Bem, que seja. Vou te mostrar algo que estava guardando, então espero que esteja pronto. Este golpe vai fazer a dor que sentiu antes parecer brincadeira de criança.

Trocamos olhares. Então partimos para o ataque.

—  Morra! Arco-íris Final!!

—  Desperte, Glutão!!

Entendido. Pedido aceito. Executando imediatamente.

Assim que dei a ordem, senti minha consciência afundar na escuridão – antes de perdê-la completamente, como se estivesse adormecendo.

 

 


 

Tradução: Another

Revisão: ZhX

 

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