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Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 04 – Cap. 02.1 – Convite do Rei Gazel

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Eu podia ver uma criança sofrendo de febre intensa, com um pano frio e úmido em sua testa. Antes de esquentar, um novo pano foi molhado e torcido. Foi um esforço valente, considerando que nem mesmo era seu próprio filho.

— Está tudo bem — disse ela, sorrindo para a sonolenta criança que forçava os olhos a abrir antes de fechá-los novamente, aliviada.

O sonho continuava vindo e vindo. A cada cena, a escuridão desaparecia e a criança mudava, parecendo estar com uma dor terrível.

Era para ser apenas um sonho, mas, de alguma forma, pesou muito na minha alma.

Hmmm…

Depois de todo aquele trabalho que tive para tentar dormir, fui recompensado com uma soneca ocasional. Porém, os sonhos que eu tinha estavam começando a ficar bem intensos. Estou sendo punido por alguma coisa?

Duvidei disso. Não adianta ser pessimista, tenho que manter a cabeça erguida. Sempre preocupo as pessoas quando pareço sombrio, devo ser otimista.

 

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Se aproximava o dia do encontro prometido com o Rei Gazel. Benimaru finalmente estava de volta após sua ausência prolongada, então agora eu poderia ir para o Reino dos Anões com um pouco de paz de espírito. Se ele tivesse se atrasado, eu também planejava atrasar minha própria viagem, temendo que nossas ausências simultâneas deixassem minha própria nação desprotegida.

Benimaru e Rigur me informaram sobre o que viram na Eurazania, Benimaru reportou primeiro.

— A aliança de guerreiros deles é tão formidável quanto eu esperava. São uma equipe de combate totalmente treinada, até o último soldado. Senhor Rimuru, sem incluir você e o Carillon na equação, não tenho certeza se sairíamos vitoriosos apenas com nossas próprias tropas.

Ele havia se concentrado principalmente em observar a situação militar do domínio e, a julgar por sua avaliação, eram uma força a ser considerada.

— Sim, a delegação deles também elogiou muito nosso treinamento de batalha.

— Tenho certeza de que sim, meu senhor, e temos que agradecer a Hakuro por isso. Em termos de prontidão para a batalha, estamos de igual para igual, mas eles têm a vantagem em número e habilidades. Para ser franco, um exército de duzentos mil orcs representaria menos ameaça do que uma força licantropa com um quarto desse tamanho. Evitar a guerra com eles é, sem dúvida, a escolha certa.

Considerando a confiança extrema que Benimaru normalmente transmitia, foi estranho ver ele não dar nenhuma garantia de vitória dessa vez. Em qualquer caso, uma guerra era nossa última opção. É por isso que resolver através da diplomacia era o mais inteligente a se fazer.

— Bem, falando em escalas menores por enquanto, acha que devemos desenvolver algumas táticas para lidar com eles que não envolvam um grande ataque direto?

— Táticas, senhor?

— Sim. Digo, em uma batalha militar, se você derrotar o líder principal, você vence, certo? Não precisa eliminar toda a força que está te atacando. Basta derrotar seu comandante. Isso vai bagunçar a cadeia de comando e tornar impossível a comunicação entre as unidades, não é?

— Ataque o comandante… entendo…

— Não é nada tão complicado, cara. Lembra do Lorde Orc? Não matamos todos os duzentos mil soldados, não é? Bastou decapitar o chefe. Só estou dizendo que também podemos fazer isso da mesma forma com outros oponentes. Acho que treinar para derrubar comandantes inimigos nos dará uma grande vantagem na batalha.

— De fato. Sem comandantes para liderá-los, eles se transformarão em uma multidão simples e desorganizada.

— Sim, isso mesmo. E seria uma pena se o inimigo fizesse isso conosco também, certo? Portanto, antes de tudo temos que ficar em uma posição vantajosa. Não é fácil desenvolver as habilidades individuais de um soldado, mas o que podemos fazer é treiná-los para trabalharem em equipe. Então, podemos usar Comunicação de Pensamento ou qualquer outra coisa para confundir nossos inimigos e fazê-los perderem a noção de quem está comandando nossas próprias forças. Isso ajudaria nosso exército a melhorar, não é?

— Muito interessante, senhor. E acho que tenho o método perfeito para isso. Nossos lutadores têm estado muito melhores em acompanhar o treinamento de Hakuro ultimamente. Agora seria o momento perfeito para avançar para o próximo nível.

— Excelente. Vamos ver o que podemos fazer.

Benimaru sorriu com entusiasmo. A visão das orgulhosas forças de Carillon o enervou, mas minha sugestão pareceu acender algo dentro dele que dissipou qualquer inquietação. Então ele prometeu trabalhar com Hakuro para treinar nossos soldados monstros enquanto vigiava a cidade. Isso seria bom para ele.

O próximo foi Rigur.

— Os edifícios da Eurazania eram um pouco inferiores aos nossos, meu senhor. No entanto, o palácio real no meio do domínio ostentava muita extravagância, marcando uma diferença notável do resto das terras. As riquezas do domínio parecem centradas nesse palácio, mas talvez de uma maneira até doentia, parece ser o que o povo de Carillon deseja para seu líder. O Lorde Demônio exerce uma tremenda influência sobre os seus esquadrões da Aliança Guerreira, e ele parece bem empenhado em tornar a vida de todos os seus cidadãos seguras e pacíficas.

Eu tinha que reconhecer os méritos do cara. Seu domínio parecia um lugar incrivelmente seguro para se viver. Simplesmente relembrar a ambição absoluta que mostrou durante sua visita me fez estremecer, então eu esperava esse relato impressionante de Rigur.

— E não apenas com os edifícios — continuou Rigur. — Sua indústria, de forma geral, demonstra tecnologias notavelmente inferiores às nossas.

— Oh? Sim, com certeza, visto que temos Kaijin e seus homens, além de Kurobe, Shuna e os outros. Acho que realmente estamos muito bem. Fico feliz em ouvir isso.

— Rigur está certo — disse Benimaru. — Pelo que vi, os licantropos, junto com as diversas raças sob sua proteção, viviam em circunstâncias bastante modestas.

Hmmmmm. Então, ambos sentiram isso. Suponho que signifique que o conforto da nossa cidade melhorou um pouco, se comparado com o domínio pessoal de um Lorde Demônio.

— No entanto — interrompeu Rigur —, houve uma coisa bastante impressionante que chamou a minha atenção.

— E o que seria?

— A agricultura deles. No domínio de Carillon, os campos são mais largos e espalhados do que qualquer um dos nossos, com uma grande variedade de colheitas abundantes. Senhor, as terras deles são férteis, e eles são altamente qualificados em administrar seus esforços agrícolas.

Entendo. Terras férteis, hein? Eu tinha acabado de concordar em aceitar algumas dessas safras em troca de produtos manufaturados… Mas também poderíamos arrancar algum conhecimento agrícola deles?

— Podemos obter alguma dessas habilidades?

— Acredito que seja possível, meu senhor.

— Excelente! Nesse caso, gostaria que Lilina recomendasse alguns dos nossos membros administradores de terras para a próxima viagem da nossa delegação. Quero que estudem profundamente o sistema que usam e vejam se podemos adaptá-lo para nossas próprias terras.

— Uma ótima ideia — disse Rigurd. — Nossa situação alimentar melhorou muito, mas ainda estamos adotando uma abordagem de tentativa e erro com muitos dos nossos problemas. Talvez isso nos ajude a acelerar as coisas.

Agora sabíamos no que a próxima expedição deveria concentrar sua atenção.

Deixando Rigurd e os outros anciões para resolverem os detalhes, deixei a sala de reuniões. O Reino dos Anões estava à espera, e era hora de resolver todas as pequenas coisas que eu precisava cobrir antes disso. Sendo elas, escolher um ou dois presentes para o Rei Gazel, construir um portfólio de tudo que tínhamos em desenvolvimento e decidir o que eu usaria para a minha visita, havia muitos problemas chatos… ou, devo dizer, questões espinhosas para resolver.

Benimaru, é claro, se juntou a mim.

— Hmm? Você não deveria ficar naquela reunião? Você que vai liderar a próxima equipe, não é?

— Senhor, sobre esta questão, acredito que estamos em boas mãos. Descobrimos que o Lorde Demônio Carillon é totalmente confiável. Podemos precisar de guarda-costas ao longo do caminho, mas com o relacionamento que temos, não vejo razão para me preocupar com emboscadas repentinas. O senhor Rigur e eu estávamos de acordo a esse respeito, então já decidimos que ele lideraria a próxima missão.

— Oh? Bem, parece bom. Acho que Carillon então não é apenas um idiota que confia em seu próprio poder.

— De forma alguma. Tentei começar uma briga com ele, mas ele só riu.

Peraaaaaaaaaaa aí! O que foi isso, do nada?!

— Hm, tem certeza de que foi uma boa ideia? Ele não estava muito zangado, estava?

— Não senhor. Eu não poderia exatamente usar a Chama do Inferno, então ele me venceu com tudo. Ainda tenho muito a aprender. Isso me lembrou do familiar ditado do Hakuro: Nunca confie na força pura para direcionar seus movimentos. Pensei que o treinamento da senhorita Millim havia melhorado minha técnica até certo ponto, mas…

Ele me contou essa história com tanta indiferença que parecia que estava falando do clima. Eu talvez não devesse permitir que Benimaru saísse fora das nossas fronteiras. Se Rigur estivesse liderando a futura delegação, pelo menos não teria que me preocupar com isso. Na verdade, talvez seja por isso que Rigur se ofereceu para a posição.

Apesar de tudo, eu precisava de Benimaru para manter nosso domínio seguro na minha ausência – uma tarefa da qual ele já estava ciente.

— Conto com você.

— Entendido, senhor. Já derrotei Phobio, a Presa do Leopardo Negro. A menos que um inimigo do calibre de um Lorde Demônio apareça, prometo manter todos seguros!

Sim… eu não queria elogiá-lo muito depois que ele admitiu ter começado uma briga com um “inimigo do calibre de um Lorde Demônio”, mas acabar com Phobio daquele jeito foi muito foda, eu tinha que admitir. Ter um oponente tão forte como Millim nos treinando devia ter ajudado.

Benimaru estava realmente crescendo junto com o resto de nós. Sua natureza agressiva me deixou nervoso sobre ele nos representar em terras estrangeiras, mas devia manter nossas terras seguras em minha ausência. Eu faria cada vez mais viagens ao exterior, sendo assim, Benimaru precisava se tornar o pilar das nossas defesas.

 

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O grande dia chegou. Coloquei minhas roupas e saí. Todos estavam muito ocupados com a preparação para a partida; eu era o único sem muito o que fazer. Bem, eu, Kaijin e os três irmãos anões, na verdade. Eles estavam circulando do lado de fora, vestidos em elegantes trajes formais, os quais normalmente não usariam nem mortos e parecendo tensos com isso. Eles estavam tão nervosos que quase tive que rir.

— Bom dia, senhores!

— Uau! E aí, Chefe!

— Bom dia!

— …

Mildo estava com seu jeito taciturno de sempre. Era sempre estranho como, apesar disso, eu entendia o que ele queria dizer. Os quatros voltariam para casa pela primeira vez em muito tempo; então não era de se admirar que todos tivessem muito em que pensar.

— Realmente temos que te agradecer, Chefe — acrescentou Kaijin. — Se não fosse por você, acho que nunca veríamos nossa pátria novamente.

— Você disse! Não foi, pessoal?

— Maldição, ele disse.

— …

A reação de Mildo me fez rir. Eles estavam sendo elogiosos demais, mas pensei que se estavam animados com a viagem, estava tudo bem. Afinal, eu os forcei a deixar a única casa que tinham. Isso sempre me preocupou.

— Bem, também fico feliz por vocês. E por vir a conhecer todos vocês. Kaijin, você fez maravilhas para nós, como armeiro e gerente de todos os nossos esforços de produção. A oficina de Garm é responsável por toda a ferraria de nossa nação; Dold está lidando com tudo, desde artesanato até ferramentas mágicas. E Mildo, com sua ajuda na gestão do nosso departamento de construção, ajudou no projeto de cada edifício ao nosso redor. Todos vocês têm sido de grande ajuda para mim.

— Heh heh heh! Como artesãos, não poderíamos pedir maiores elogios a você!

Os três irmãos concordaram com Kaijin. Sim, vocês realmente são artesãos, rapazes. Isso me deixou tão feliz que não pude deixar de rir junto com eles.

Depois de esperar um pouco mais, estávamos todos prontos para partir. Essa conversa com os anões me ajudou a esquecer completamente aquele sonho sombrio que tive antes. É sempre bom começar uma jornada com uma conversa dessas.

As coisas correram bem no caminho. Os esforços de Geld valeram a pena – agora tínhamos uma estrada lindamente construída para viajar. Ela foi alargada para um tamanho confortável, facilitando a travessia dos vagões. Nos aproveitando disso, estávamos viajando em grande estilo com duas carroças puxadas a cavalo.

Bem, na verdade não eram puxadas a cavalo. Os enviados Eurazanianos tinham carroças de tigres; suponho que isso signifique que estávamos indo com carroças de lobos. Elas estavam sendo puxadas por lobos estelares sob a liderança de Ranga, e ter essas bestas liderando o caminho tornou a travessia mais fácil para todos nós.

Havia um pouco menos de dez pessoas se juntando aos anões e eu nesta viagem. Dentre elas, Shion, minha principal assistente, e Shuna, minha secretária adjunta. Shuna era mais minha cozinheira pessoal do que ajudante, mas imaginei que ela poderia ajudar a apresentar algumas coisas como nossa operação de fabricação de tecido para os anões.

Na verdade, eu pretendia que Shion ficasse para trás e ajudasse Hakuro no forte, mas ela demonstrou uma resistência tão intensa que a deixei ir junto. Me disseram “não é justo!” e “Não pode ser”, inclusive “Só a Shuna, sozinha… em uma jornada com você, senhor Rimuru” e assim por diante, com acessos de soluços e violência no meio de tudo. Uma provação e tanto. Tentei explicar a ela que esse era um assunto sério, que não era uma viagem de verão divertida, mas ela não me ouviu e, no final, não valia a pena tentar convencê-la.

Ela estava, é claro, sorridente enquanto me segurava perto de seu peito, aproveitando o passeio a bordo de uma das carroças de lobo. Estávamos na frente, ao lado de Shuna, o que significava que eu seria suavemente envolvido por um ou outro, em turnos, durante todo o caminho. A segunda carroça estava ocupada pelos quatros anões e, em comparação a isso, eu não poderia reclamar de ser acompanhado por duas lindas mulheres.

O próprio Ranga estava conosco, embora fora de vista, me protegendo das sombras. Graças ao Movimento das Sombras, ele estava literalmente me seguindo quase o tempo todo durante esses dias. Eu podia senti-lo fechando os olhos muito feliz enquanto se aquecia em minha aura. Perguntei a ele se estava se sentindo apertado, escondido em minha sombra, e ele me disse: “De jeito nenhum, mestre! É bastante confortável!” Então o deixei. Tê-lo como uma ajuda para emergências me fez sentir melhor, além disso, todos concordaram com essa ideia, então ele ficaria escondido nas sombras por um tempo.

Por último, Gobta, que estava reforçando nossa guarda com vários hobgoblins – patrulheiros sob seu comando.

Um dos hob-gobs, um aprendiz chamado Gobzo, me pareceu especialmente lerdo. Inventei esse nome por capricho, e ele… sei lá, parecia um idiota.

— Você acha que aquele cara está bem?

— Quem, Gobzo? Com certeza, senhor!

Gobta jurou que o cara estava bem, só era um pouco estúpido. Um hobgoblin descrito como “um pouco estúpido” por Gobta, que também é um pouco estúpido. Gobzo tinha a tendência de olhar fixamente para o nada, boquiaberto, o que me preocupava. Ele não parecia muito capaz para mim, mas parecia útil o suficiente quando montado nas costas de um lobo estelar, então achei que seria muito estúpido da minha parte perder o sono por causa disso.

Logo, descemos a rodovia, escoltados por Gobta e os outros seis cavaleiros goblins. A carroça era resistente o suficiente para tornar o passeio confortável – especialmente considerando que estávamos percorrendo cerca de vinte e cinco milhas por hora, velocidade a qual uma carroça puxada por cavalos comum simplesmente não era feita para lidar.

A tecnologia exclusiva de amortecedores que desenvolvemos era o segredo por trás da robustez do vagão, permitindo que os eixos se movessem de forma independente, sem baterem no veículo. Além de fazer maravilhas para cancelar os solavancos ao longo do caminho, outra marca registrada da qualidade da precisão dos produtos fabricados na nossa forja movida a anões. E não parou por aí: nossos pneus também eram de última geração. Normalmente, os pneus eram feitos apenas para reforçar a roda, quando usados excessivamente logo ficavam arranhados e danificados. Os nossos eram feitos de uma resina endurecida especial que, além de reforçar, também proporcionavam um efeito adicional de absorção de choque. A resina era mais flexível e resistente do que eu pensava,  uma combinação muito boa até mesmo para os pneus do meu mundo.

Gobta estava demonstrando grande interesse por esses eixos e rodas, examinando-os de perto com curiosidade. Ele tinha feito um carrinho para si mesmo há muito tempo, e deve ter comparado isso com sua construção anterior.

— Uau! — Ele suspirou, surpreso. — Eu sabia que deveria ter construído o meu assim!

Depois devo ajudá-lo a construir outro.

Mas estou apenas divagando. A questão é que essas invenções estavam tornando essa jornada bastante rápida. Talvez tenha sido menos por causa disso e mais graças à estrada plana e sem obstáculos que a equipe de Geld fez para nós, mas ainda era verdade.

Vimos as longínquas Montanhas Canaat no segundo dia de viagem. As coisas haviam corrido muito bem ao longo dessa estrada bem cuidada até o momento. A viagem tinha pouco mais de seiscentas milhas só de ida, mas viajar pela floresta não desmatada levava uma quantidade absurda de tempo. Passar o mesmo tempo em uma estrada como essa tornava a experiência muito mais fácil. Eu era um convidado do estado desta vez, e pensei que mostrar a bagunça suja da viagem não seria muito adequado.

Tínhamos nos esforçado para poupar tempo. Ao contrário de antes, havia casas de descanso posicionadas em intervalos regulares ao longo do caminho. Serviam como alojamento para os trabalhadores durante a construção, a ideia é que poderiam se tornar simples pousadas, uma vez que a estrada se tornasse uma rota de comércio público. Assim, estávamos todos preparados para a hospedagem noturna.

 Ao longo do caminho, também encontramos alguns orcs trabalhando na pavimentação das estradas. Eles trabalhavam como uma equipe unificada, sob o comando de um capataz de aparência presunçosa. Como se tivessem nascido para isso, executaram o trabalho com exímia habilidade. Inferno, bem que poderiam ensinar algumas coisas para algumas das equipes de construção com as quais lidei na minha vida anterior.

Era realmente o ambiente ideal. Falei a eles um “Bom trabalho, pessoal!” Quando passei, e todos se ajoelharam e acenaram para mim.

— S-Senhor Rimuru! Nosso trabalho está progredindo dentro do cronograma. Preparamos o solo que estamos usando e não tivemos problemas, agora estamos terminando a superfície. Estamos voltando do Reino dos Anões, então a estrada à frente está totalmente concluída!

Olhei para frente. O capataz estava certo, vi uma estrada bem construída esperando por nós. Era simples, sim, coberta de cascalho, com pedras britadas dispostas uniformemente acima dela. Isso era tudo que realmente precisávamos, mas, acima disso, a equipe havia colocado um material de pedra recém-extraída para fazer um tipo de superfície pavimentada.

 Conseguir todas essas pedras e colocá-las uniformemente em uma extensão de estrada tão larga seria quase impossível em meu mundo anterior. Nesse ínterim, nossos operários possuíam uma profusão de habilidades úteis para ajudarem em seu trabalho. O Estômago que Geld mantinha com sua habilidade Gourmet tornava o transporte em pequena escala (teletransporte, na verdade) entre os orcs algo instantâneo, permitindo que despachassem as pedras processadas das pedreiras direto para o local de construção. Quanta eficiência. Meu trabalho teria sido tão fácil com essas coisas na minha vida anterior. Não se preocupar com o armazenamento do material, nem com os problemas de envio; apenas algumas habilidades extraordinárias aproveitadas ao máximo. Uma abordagem típica de monstros.

No entanto, estava claro que os orcs superiores não estavam apenas deixando suas habilidades fazerem todo o trabalho. Eles davam 110 por cento de si a todo momento. É por isso que eu queria agradecê-los por seus esforços.

— Vejam isso! Todos vocês fizeram um ótimo trabalho por nós. Sintam-se à vontade para terminarem mais cedo e descansar pelo resto do dia! — Tirei vários barris de bebida do meu estômago, jogando cada um no chão. — Não exagerem!

Os aplausos irromperam na estrada e, com todos os agradecimentos que me deram, decidimos passar a noite lá.

No dia seguinte:

— Bom dia, Senhor Rimuru!!

No momento em que Shion me carregou para fora da cabana, fomos recebidos por várias centenas de orcs organizados em fileiras.

— Uau! — gritei. Todos os trabalhadores que não pude cumprimentar pessoalmente no dia anterior deviam ter se reunido ali no início da manhã.

— Bom trabalho pessoal! — Shion acenou com a cabeça, tentando soar o mais presunçosa possível.

Shuna riu disso enquanto cumprimentava todos. Os hobgoblins sussurravam entre si, maravilhados com o espetáculo.

Renga, por sua vez, ficou rolando na minha sombra, ele não ligava para isso, já que as condições das estradas realmente não importavam para a sua espécie. Ao contrário de Ranga, eu tinha grande interesse em como estaria a estrada concluída à frente. Tive que agradecer a esses orcs.

— Estou feliz em ver o magnífico trabalho que vocês estão fazendo. Continuem assim!

Um sentimento simples, mas ainda assim um grande impulso moral. Segui subindo e descendo na hierarquia, oferecendo meu apreço pessoal enquanto eles me cumprimentavam. Todos sorriram para mim do início ao fim, o que também ajudou muito a levantar meu ânimo. A cerveja que dei a eles na noite anterior aparentemente foi um grande sucesso, então dei ao capataz mais alguns barris antes de partirmos. Era fundamental para um líder mostrar o devido apreço quando os tempos exigiam. Achei que não haveria maneira melhor de demonstrar isso do que dar a eles um pouco de álcool de qualidade ao visitar um local de trabalho como este.

Completamos a parada observando as equipes enquanto voltavam ao trabalho. Em pouco tempo, estávamos novamente na estrada.

 

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Percorrer a estrada pronta tornou o passeio da carroça de lobo mais agradável do que nunca. Parecia que estávamos indo um pouco mais rápido. Esse esforço de construção estava começando a valer a pena. As pedras que ladeavam a rodovia eram ásperas ao toque, combinando bem com os pneus de resina dos nossos vagões e evitando que escorregassem. Foi tudo construído dessa forma para fornecer tração em um tempo chuvoso; eu não esperava que isso também facilitasse o percurso, mas tinha certeza de que os comerciantes que realizavam seu comércio ao longo da rodovia apreciariam.

Observei tudo isso enquanto a carroça de lobo acelerava. Seria a tarde do quarto dia quando chegássemos ao nosso destino.

A Nação Armada de Dwargon.

Da última vez que estive ali, nos fizeram ficar enfileirados em frente ao portão. Olhando para aquela grande e opressiva entrada, fechei os olhos e refleti sobre o passado, ou assim teria feito, se eu tivesse olhos. Em vez disso, assumi a forma humana dentro da minha carroça e coloquei meu traje cerimonial.

Quando saí da carroça, encontrei um pequeno furor explodindo na frente do portão. Oh, merda, o Gobta de novo?! Eu pensei reflexivamente, mas estava errado. Acontece que os anões já haviam saído da sua carroça, tentando abrir o portão sozinhos, para o grande desgosto dos outros mercadores e aventureiros por perto.

— Ei, mano. Fico feliz em ver que você está bem.

Este era Kaido, chefe da guarda local e irmão mais novo de Kaijin.

— Ah, Kaido! Faz quanto tempo? A vida tem sido de altas emoções trabalhando para o meu velho chefe Rimuru, tenho que te contar!

— Tenho certeza. Está escrito no seu rosto. A propósito, onde está o Senhor Rimuru? Ele pode ser seu “chefe”, mas também é o nosso convidado do estado. Primeiro precisamos dar uma saudação calorosa a ele…

Estavam tendo uma conversa bem ao meu lado. Vamos pessoal, por que estão me ignorando? Oh, certo, estou na forma humana, não estou?

— Kaido, Kaido! Sou eu! Rimuru! Aquela linda garotinha genial que tem a magia para se transformar em qualquer coisa que quiser! Hehe!

Não pude deixar de entrar na diversão, por mais que isso fizesse eu me odiar, graças ao questionamento extremamente rígido de Kaido na minha última visita. De alguma forma eu havia me tornado uma jovem atraente com habilidades mágicas, e, embora tenha sido Shizu quem me concedeu esta forma, era uma combinação estranhamente perfeita para a minha chegada em Dwargon.

— O quê…?! Não pode ser! Er… Senhor Rimuru? Quer dizer… você realmente foi amaldiçoado por um feiticeiro maligno?!

Claro que não! Chega de formalidades! Este é o Rimuru, Capitão Kaido!

Ele me encarou fixamente, incapaz de formular uma resposta. Devo ter deixado ele extremamente confuso e consigo entender o porquê. Eu provavelmente também ficaria muito assustado se um slime se transformasse em uma garota bonita.

— Eu… fico feliz que esteja bem, er… Senhor Rimuru…

Só depois do portão estar completamente aberto que ele conseguiu me responder.

Passamos pelo portão, guiados por Kaido e seus guardas. Normalmente, os vagões e os veículos seriam direcionados para outra entrada, onde seriam estacionados em uma área de espera para descarga. Porém, como convidados oficiais, tínhamos a permissão para entrar direto com nossas carroças de lobo. Os lobos estelares, feras deslumbrantes e musculosas, nos acompanhavam e isso chamava a atenção de todos. Mas o simples fato de o governo ter aberto o portão principal para nós foi o suficiente para atrair uma multidão do outro lado.

Eu podia ouvir os comentários de ambos os lados enquanto cavalgávamos.

— Domando feras tão magníficas… Um grupo definitivamente poderoso!

— São mágicas? Eu nunca tinha visto gente como eles antes…

— As carroças também são estranhas. As rodas se movem de forma independente umas das outras! Consegue ver como balançam para cima e para baixo ao longo do caminho, mesmo quando a própria carroça permanece estável? Com certeza são ótimas peças de ferraria.

— Mas quem são eles? E por que recebem um tratamento tão privilegiado? Nós não fazemos isso nem mesmo pela realeza de pequenos reinos, não é?

— Não fazemos. Talvez sejam de um dos maiores poderes? Se for o caso, estão acompanhados por um contingente de guardas bem pequeno.

— Além disso, com todo esse tratamento que estamos dando a eles, eu estava esperando por um rei ou algo parecido…, mas, em vez disso, enviaram uma princesa?

— Ooh sim! Ela é muito fofa, não é?

Oh, droga. Eu ainda estava na forma humana, já que estava com preguiça de voltar ao normal, mas eu realmente deveria pelo menos ter tentado parecer mais masculino. Fazer isso gastaria um fluxo contínuo de magículas, o que seria um incômodo. Mas agora já era tarde demais, e eu era um convidado de honra de Dwargon, então acho melhor manter as coisas naturais. Vamos com isso mesmo.

Enquanto ouvia os comentários da multidão, percebi que Kaido se juntou à minha carroça, nos ajudando a liderar a procissão.

— Sabe, devo dizer que vir aqui com um grupo tão pequeno em resposta a um convite da realeza é um pouco descuidado da sua parte, não é? Sei que estou sendo um pouco rude, mas temo que em resposta você terá que aceitar alguns olhares de dúvida.

— Oh, não, eu agradeço o conselho. Tenho que admitir que sou meio novo nesse tipo de coisa. Mas o contingente parece tão pequeno assim?

— Parece, sim. Normalmente se esperaria um grande desfile ostentoso passando por aqui, uma demonstração de força inspiradora. Tenho que te dizer que a visita anual da nobreza em Farmus é no mínimo linda.

— É mesmo…?

As relações internacionais estavam começando a parecer muito mais dolorosas do que eu imaginava.

— Talvez — comentou Shion ressentida —, devêssemos ter trazido toda a força dos cavaleiros goblins conosco. Com eles, e com uma equipe de dragonatos patrulhando os céus, seríamos capazes de expressar o quão majestoso você é, Senhor Rimuru.

— Não, rejeitei essa ideia porque deixaria nossas terras desprotegidas. Você não se lembra de quando decidimos sobre tudo isso na reunião?

Pensei que Shion estava indo longe demais com a ideia que apresentou na reunião, mas talvez ela estivesse certa o tempo todo.

— Ainda assim — interveio Shuna com um sorriso —, não acho que a nossa procissão esteja abaixo dos padrões. Gobta e sua força estão completamente equipados com a gama mais recente de armas mágicas. Um olho treinado reconheceria seu valor e força em um piscar de olhos.

Ela estava certa. Todo o equipamento era Único e de fabricação excepcional. As armas foram feitas por Kurobe, as armaduras por Garm, e todas fortificadas com as gravuras mágicas de Dold. Parte da nossa missão era mostrar nossa tecnologia para o mundo, por isso era importante para nós que todos fossem equipados com o que existe de melhor e mais recente.

Essa magia de inscrição ainda tinha baixas chances de sucesso. Demoraria um pouco até que pudéssemos equipar todos os nossos lutadores com equipamentos Únicos. Mas também não era necessário e eu estava bastante satisfeito com o que já havíamos conquistado.

— Certamente — disse Kaido acenando com a cabeça e sorrindo —, não pude deixar de notar. Não consigo dizer o que outras nações pensariam sobre isso, mas pelo menos nossos camaradas estão muito pasmos.

Chegar com um grupo tão pequeno foi um passo em falso, mas em termos de qualidade, acho que estávamos no mesmo nível que qualquer outra nação.

— Bem — falei com um sorriso satisfeito —, então não tenho com o que me preocupar.

 


 

Tradução: Another

Revisão: ZhX

 

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