Dark?

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 04.1 – O Avanço da Malícia

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A nascida da magia Mjurran empurrou suas emoções profundamente enquanto caminhava pela floresta.

Mjurran já foi uma bruxa, vivendo nesta floresta. Perseguida pelos outros, ela fugiu daquele lugar trezentos anos atrás, silenciosamente pesquisando sua magia, interagindo com nenhum humano ou nascido da magia, mas aqueles dias estavam chegando ao fim. Prolongar a vida com magia só funcionava por algum tempo.

Enfrentando a morte, Mjurran teve uma leve sensação de arrependimento. Ainda tinha que perscrutar a grande fenda escura que era o mundo da magia e ela não tinha sucessor para assumir o conhecimento que ganhou. Ela não pôde deixar de se perguntar para que servia sua vida.

Em meio a esse impasse, foi saudada pelo Lorde Demônio Clayman. Ele estava naquele posto por cerca de trezentos anos e negociava com os monstros mais conhecidos e mágicos da área na época — ou quebrando-os em pedaços, um ou outro. Ele estava construindo um exército de subordinados em um ritmo surpreendentemente rápido e foi isso que o levou a conhecer Mjurran neste dia.

Buscando a magia da bruxa, ele lhe fez a seguinte oferta: “Deixe-me te dar uma vida eterna e um corpo jovem que nunca envelhecerá. Em troca, peço que jure sua lealdade a mim”.

Mjurran aceitou e, agora, achava que tinha sido um erro. Ela realmente ficou mais jovem, ganhando como presente a vida eterna, mas no processo perdeu sua liberdade. Foi uma barganha terrivelmente injusta e desigual. Para o Lorde Demônio, enganar alguém com tanto conhecimento mágico e tão pouca experiência com o mundo exterior quanto Mjurran era como tirar doce criança.

No momento em que ela fez o juramento, um selo amaldiçoado foi esculpido em seu coração. O chamado Coração de Marionete era uma das habilidades místicas mais secretas de Clayman, permitindo-lhe usar uma mistura de ilusão mágica fabulosamente cara com as magículas do alvo para transformar o receptor em um nascido da magia.

Essa habilidade foi executada com sucesso e Mjurran renasceu. E então se tornou uma marionete, incapaz de desafiar a vontade de Clayman.

Com a habilidade mágica que já possuía, Mjurran provou ser uma nascida da magia de alto nível. Não foi nada que deixou a bruxa cativa contente; a partir daquele momento, ela era a eterna marionete de Clayman.

Não conseguia entender pessoas como Gelmud: nascidos da magia que desejavam voluntariamente serem governados. Ela estava sempre procurando por uma brecha, uma brecha que pudesse usar para se libertar da maldição e contra-atacar Clayman, mas seu conhecimento lhe dizia que isso era quase impossível. No momento em que rompesse o Coração de Marionete, o Lorde Demônio disse a ela, voltaria à forma humana. O tempo congelado começaria a fluir para ela novamente e haveria pouco, ou nenhum, tempo sobrando em sua vida natural. E havia outro motivo: Clayman era muito mais poderoso do que ela, o suficiente para fazê-la se contorcer de desgosto.

Então Mjurran continuou a servir ao Lorde Demônio, sabendo que ela nunca teria forças para desafiá-lo e sonhando com o dia em que seria libertada dessa maldição detestável.

E agora…

A última missão de Clayman para ela era uma investigação.

— Não tenho certeza se estou apta para a batalha…

— Não. Você não está, independentemente de quão alto nível você seja. Então quero que observe como aqueles que servem a outro Lorde Demônio lutam e então relate a mim. Você não estará em contato direto com eles. Tenho certeza de que é capaz disso, certo?

Mjurran esperava que ela fosse convidada para procurar novos membros para sua força de combate. Ficou desapontada. Em vez disso, o Lorde Demônio mostrou um sorriso sereno e deu suas ordens.

O Lorde Demônio Clayman, o próprio Mestre das Marionetes, podia manipular seus subordinados como fantoches e agarrar os corações daqueles que encontrava.

Apenas um bem pequeno e seleto grupo de pessoas poderia chamar a si mesmos de amigos de Clayman. O resto de sua força eram meras ferramentas, incapazes de resistir até que fossem reduzidas a nada. Se quisessem viver, sua única opção era cumprir as tarefas que lhes eram confiadas. Essa missão também já estava gravada em pedra, no que dizia respeito a Clayman. Se Mjurran dissesse mais alguma coisa, isso iria apenas irritá-lo.

— Eu entendo — disse ela, suprimindo suas próprias emoções. Ela tinha que segui-lo. Tudo o que pôde fazer foi acenar com a cabeça.

Se arrependimento matasse, sussurrou. Algumas lembranças de seu passado, quando era livre, a estavam deixando sentimental.

Tirando-se disso, voltou a se concentrar em sua missão, espalhando a habilidade ilusória de Detectar Magia pela área local. A magia era usada para sentir as magias ao seu redor, mas quando combinada com a habilidade extra Sentido Mágico, ela podia ler informações de um raio ainda mais amplo.

Os séculos de vida de Mjurran não eram resultado de boa sorte. Foram construídos com base em habilidade absoluta. Ela era, de fato, fraca no combate direto, mas não porque era impotente. Ela era uma maga, mestre em três sistemas diferentes de magia. Embora nada disso fosse adequado para a batalha, em termos de utilidade, ela estava em um nível muito mais alto do que Gelmud jamais poderia esperar estar. Clayman entendia isso muito bem, certificando-se de atribuir a ela os trabalhos para os quais era adequada.

Alguma reação…?

Com o feitiço, veio uma grande quantidade de dados que fluíram em sua mente. Ela tinha examinado tudo de momento a momento e agora detectou a presença de outro nascido da magia, um com um vasto estoque de energia mágica.

Ela se preparou. Devia estar perto do território que lhe foi pedido para observar. Focando sua mente o mais intensamente que pôde, voltou os olhos para seu alvo…

 

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Ela foi saudada com uma imagem estranha.

Um grande número de monstros estava derrubando árvores e, em seguida, processando-as de várias maneiras. As árvores maiores foram transportadas para longe, as menores desaparecendo no ar, alguma habilidade espacial, ela pensou.

Eles pareciam estar construindo uma estrada. Atrás dessa equipe havia um caminho bem construído que, de seu ponto de vista, parecia se estender até o horizonte distante. Alguns nesta equipe estavam cavando grandes pedras enterradas na terra e pulverizando-as em seixos; outros então as levariam embora e as cobririam ao longo do solo. Estas foram então ainda mais trituradas e distribuídas uniformemente por grandes cilindros de aparência pesada, como toras de ferro.

Essas toras de ferro eram um tipo de rolo-compactador encomendado por Rimuru. Estavam sendo puxadas por trabalho human… bem, trabalho monstro, mas haviam alças na frente e atrás, com três membros da equipe designados para cada extremidade. Era um trabalho pesado, mas com um fluxo constante de empurrões, a equipe puxou facilmente o rolo para frente e para trás, eles deixaram um caminho bem cuidado de cascalho amassado.

Um monstro de nível superior servia como capataz para esta equipe e todos pareciam estar trabalhando juntos para traçar este caminho. Era diferente de tudo que Mjurran já tinha visto antes.

Tudo isso estava sendo realizado por orcs superiores, um deles de alto nível e emitindo uma aura incomum por baixo de sua armadura completa. Esta deve ter sido a massa de magículas que ela detectou antes.

Então o Lorde Orc venceu… e ele evoluiu.

Esse era o julgamento de Mjurran, mas não era seu papel tirar conclusões, então abandonou o pensamento. Tudo o que uma observadora tinha de fazer assistir e registrar, algo que continuou a fazer nos dias seguintes enquanto a equipe avançava.

Ao observar e registrar o que via, começou a se perguntar o que havia no final da estrada concluída.

Hmm… Pode ser melhor continuar observando o monstro-alvo, mas acho que devo ampliar um pouco minha coleta de informações.

Clayman era um Lorde Demônio cauteloso e pragmático. Ele sem dúvida perguntaria. Conhecendo-o há tanto tempo, Mjurran poderia facilmente imaginar isso, embora ela não pudesse negar que também queria fugir do estresse de observar continuamente um nascido da magia mais forte do que ela sem ser detectada.

Então se afastou de seu trabalho atribuído e começou a se mover. Fazendo um desvio pela floresta, ela furtivamente se afastou da equipe e entrou na estrada de cascalho. Então, vendo-a se desdobrar diante dela, correu na direção oposta à da equipe de construção. Ela estava invisível graças à magia de bloqueio de percepção e assim permaneceu enquanto corria sem interrupções por várias horas.

Agora Sentido Mágico estava dizendo a ela algo mais.

Esta é… uma presença de alto nível chegando. Isso é… Phobio, a Presa do Leopardo Negro?! Carillon deve estar levando a sério, já que enviou um dos Três Licantropos…

Este era um nascido da magia extremamente poderoso, um contra o qual Mjurran não teria chances. Nem mesmo o Lorde Orc daria muito trabalho, mas o que era mais estranho eram os movimentos de Phobio, ele estava viajando direto para além da posição do Lorde Orc, indo para outro lugar. O mesmo destino dela. As estradas devem ter sido conectadas.

Ela começou a se perguntar o que havia de tão importante do outro lado da estrada.

Sua missão de coleta de informações significava que não tinha permissão para chegar muito perto de seu alvo. Com seus olhos mágicos, no entanto, ela não precisava. Podia vê-los bem de longe e sua curiosidade a estava levando a rastrear Phobio agora. Ela continuou fazendo isso por um tempo, até que finalmente avistou uma grande área aberta à frente. Ainda estava muito longe para ser visto sem suporte mágico, mas aparentemente foi lá que Phobio pousou.

Então foi para lá que ele foi. A fortaleza do Lorde Orc, talvez? Pode ser que ele quisesse destruir seu quartel-general primeiro.

Mjurran não tinha certeza do que fazer com isso, até que voltou seu “olhar” para o ponto de aterrissagem de Phobio. Ela imediatamente se arrependeu.

A… A Lorde Demônio Milim?!

Foi uma onda de violência absoluta, desencadeada por aquela garota de cabelo rosa platinado.

A garota estava sorrindo, esta presença infalível que dominava os outros Lordes Demônios.

Milim, a própria Destruidora, estava lá e, apesar do ponto distante de onde Mjurran a estava observando, ainda foi notada. Com um sorriso, ela revirou os olhos em direção a espiã distante. Mjurran rapidamente desfez o feitiço, mesmo quando o medo a abalou, embora ela soubesse que provavelmente era tarde demais.

Sua posição era conhecida e ela precisava fugir, por mais fútil que achasse que era. Se havia alguma fresta de esperança nisso, era que Milim não tinha pressa em agir. Ela estava disposta a deixar esse “observador” ir.

— “Não interfira com ninguém”, esse era o acordo, certo? Suponho que devo minha vida a isso — disse ela para si mesma.

Lentamente, Mjurran se levantou. Trocar olhares com Milim foi um choque, mas as duas pareceram concordar tacitamente em não interferir. Muito bem, então.

Alguns dos misteriosos nascidos da magia que lhe foram mostrados nas imagens também estavam perto de Milim, os quais também devem ter sobrevivido, junto com o Lorde Orc.

Como devo relatar isso a Clayman…?

Pensando consigo mesma, ela deixou o local.

 

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Depois de terminar seu relatório para o Lorde Demônio, Mjurran deu um suspiro profundo e deprimido. Sua primeira resposta foi dura: “Avistada por seu alvo de observação? Isso é muito desleixado para você”. Só lembrar disso já a deixava enojada.

— Se você não consegue nem realizar o trabalho que lhe foi atribuído, realmente não tem valor para mim. Não posso deixar que morra de qualquer jeito, então, por favor, tente ser mais cuidadosa no futuro. Continue observando e espere por suas próximas ordens — continuou Clayman maldosamente.

Para ele, Mjurran não tinha valor, assim como Gelmud. Esse era o tipo de homem que ele era. O Mestre das Marionetes era, como seu apelido sugeria, um excelente comandante do trabalho de outras pessoas, mas nunca tratou seus servos como algo especial. Era uma relação mestre-escravo.

Eu falhei. Falhei completamente… Por que eu tive que prometer minha fé a um homem assim…?

Empurrando suas emoções de volta, Mjurran voltou seu foco para outro lugar. Se ela queria viver, não podia se dar ao luxo de falhar na próxima vez. Só tinha recebido a tarefa de reunir informações, mas contra a Lorde Demônio Milim, essa era uma tarefa difícil. A observação contínua dela seria suicídio. Sabia que Milim não era nada burra, seu temperamento frequentemente faria as pessoas a julgarem mal, mas era verdade. Além do mais, seu instinto de captar os pensamentos de outras pessoas tornava quase impossível esconder as coisas dela.

Outra preocupação para Mjurran eram as “próximas ordens” que Clayman tinha para ela. Algo lhe dizia que continuar a seguir seus comandos estaria longe de ser uma boa ideia. Esqueça de seguir os passos de Gelmud, pensou. A situação dela não era boa. Se continuasse ficando parada, temia que seria o seu fim.

Isso é horrível, mas…

Estava preparada para o que poderia vir. Não tinha esperanças, mas de alguma forma, Mjurran pensou que essa também poderia ser sua grande chance. Servindo ao Lorde Demônio por tanto tempo, ela sentiu que podia ler seus pensamentos um pouco agora. Estava ciente de que Clayman estava planejando algum tipo de operação nova em grande escala, uma para a qual, previa, teria que servir como cordeiro de sacrifício.

Se não podia escapar da coleira de Clayman, então a morte estava esperando por ela. Talvez ela pudesse fingir sua morte e vencê-lo… ou talvez ela pudesse se libertar do Coração de Marionete e recuperar sua liberdade. Essas eram as esperanças em que Mjurran estava apostando sua vida.

Se ela pudesse encontrar alguma informação que agradasse a Clayman, seria perfeito. Se fosse suculenta o suficiente para ganhar sua liberdade, melhor ainda.

Apesar de tudo, queria fazer parecer que tinha morrido, como em seu pensamento inicial. Fazer isso pode levantar suspeitas, mas ter a Lorde Demônio Milim por perto tornou isso mais conveniente. Se Milim decidisse causar um pouco de confusão, isso atrairia a atenção de todos os cantos. Seria mais do que suficiente para atrair os olhos de Clayman e, depois disso, Mjurran significaria pouco ou nada para ele.

Ela tinha se decidido.

Não conseguia saber o que Milim poderia fazer, mas se a Destruidora estivesse em movimento, seria uma grande pedra que ela estaria jogando no lago. Quanto mais ondulações resultassem, menos a presença de Mjurran se destacaria.

Não havia necessidade de pressa nisso. Clayman não era um Lorde Demônio com quem se devia brincar. Ele perceberia um plano de ação incompleto. Por enquanto, ela precisava permanecer na obscuridade, cumprindo fielmente suas ordens.

Então Mjurran ficou sentada em silêncio, esperando o tempo para continuar.

 

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O Lorde Demônio Clayman fechou sua conexão com Mjurran e zombou.

Ele tinha sido um pouco duro com a bruxa, mas até agora tudo ainda estava de acordo com o plano. Dado o comportamento de Milim na cúpula, ele presumiu que ela iria direto para a floresta. Com base nisso, não seria bom para ela pensar que ele não estava interessado nesses monstros misteriosos. Foi ele quem idealizou e apoiou esta conspiração em primeiro lugar.

O que Clayman queria era um Lorde Demônio que servisse como seu fiel fantoche e agora que algumas incertezas estavam se tornando conhecidas, apoiar quem quer que sobrevivesse como um futuro Lorde Demônio parecia perigoso para ele. Eles seriam muito perigosos para lidar, muito menos se tornar um de seus subordinados. Se ele pudesse agarrar algum tipo de fraqueza inerente a seu alvo, isso era uma coisa, mas Clayman não tinha intenção de dominar com força total, como Carillon faria.

Mas não havia necessidade de explicar tudo isso. Apenas indicar que ele estava interessado, ou fazer Milim pensar isso, funcionaria bem sem plantar nenhuma semente de dúvida em sua mente. Além disso, sua verdadeira missão era atrair Frey para se juntar a ele e, enquanto isso, manter a atenção de Milim focada no misterioso nascido da magia liberava um pouco seus próprios movimentos.

Ele tinha certeza de que Milim estava se regozijando agora, rindo sobre a vantagem que ela tinha sobre ele. Graças ao seu aguçado senso de intuição, qualquer tentativa de enganá-la geralmente terminava em fracasso. É por isso que ele precisava que Mjurran levasse sua missão tão a sério quanto possível e se Milim se livrasse dela no processo, isso também não seria um grande problema. No momento em que Milim a viu, o papel de Mjurran e sua vida acabaram. Ter Milim apagando-a não faria mal a Clayman.

— A esta altura, Mjurran é um peão do qual posso me livrar. Eu obtive todo o seu conhecimento. Ela é praticamente inútil na batalha. Já era hora de se livrar dela de qualquer maneira. Isso funciona bem para mim — ele meditou friamente.

Mas então…

— Tão terrível como sempre, não é, Clayman? Triste ouvir isso. Você precisa tratar suas ferramentas da maneira certa, ou então elas irão quebrar. Laplace não te disse isso?

A aparente resposta aos sussurros de Clayman veio de uma presença nebulosa em um canto da sala. Ela se revelou uma jovem usando uma máscara de palhaço, uma com marcas de lágrima escorrendo de seus olhos.

Sua voz estava igualmente desamparada. Isso não incomodou o Lorde Demônio, que vagarosamente se virou para encarar a garota.

— Ah, você voltou, Teare? Isso foi rápido.

Ele se dirigiu a ela com uma espécie de profundo afeto, apesar de ela ter entrado na sala sem avisar. Isso era raro para Clayman, mas mesmo assim era esperado. Esta era uma das poucas amizades verdadeiras do Lorde Demônio. Teare, a Palhaço Triste, muito parecido com Laplace, o Palhaço Maravilha, seu colega de trabalho e vice-presidente dos Palhaços Moderados, era uma velha companheira de Clayman.

— Uh-huh. Foi muito difícil dessa vez. Eu não conseguia me mover com muita liberdade no território de Frey. Afinal, ela é uma Lorde Demônio.

— Eu posso imaginar. Você não foi notada, foi?

— Sem problemas lá. Missão completa! Eu sou parte dos Palhaços Moderados, você poderia aprender a confiar em mim um pouco mais!

Clayman deu a ela um sorriso satisfeito.

— Ha-ha-ha-ha-ha! Ah, sim, sim, Teare. Só me preocupo que você esteja colocando seu pescoço em risco demais.

A preocupação que sentia por Teare era evidente em sua voz. Era um tom muito diferente do que ele usou com Mjurran um momento atrás. Qualquer um podia ver que qualquer preocupação que ele tivesse por Teare era uma coisa genuína.

— Ugh! Você já pode parar de me tratar como uma criança?!

— Ha-ha-ha-ha-ha! Sim, claro, Teare, mas você ouviu a notícia? Milim parece ter gostado bastante daqueles nascidos da magia. Isso está ficando ainda mais interessante do que eu pensava. Quem diria que a própria Milim iria espancar um dos Três Licantropos de Carillon? É um prazer ver o desenrolar disso.

— Bem, é justo — respondeu Teare interrogativamente. — Mas como você acha que está indo? Eu não vi suas gravações de bola de cristal ainda, mas essas gravações mágicas são realmente incríveis o suficiente para manter o interesse de Milim?

Clayman podia sentir sua curiosidade. Ele não fez nenhuma tentativa de esconder seu próprio coração dela.

— Bem, para ser honesto, suponho que eles não possam continuar sendo ignorados. Só em termos de força, eu seria facilmente capaz de despachá-los… — Ele parou para pensar por um momento, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Mas Laplace estava… cismado com eles. Ele “sentiu” algo, foi assim que ele colocou. Achei que ele estava pensando demais, mas se tanto o Lorde Orc quanto esses misteriosos nascidos da magia sobreviveram, isso me faz pensar melhor sobre isso.

— Hmm… Sério? — Teare parecia convencida com essa avaliação — Bem — ela continuou — Se foi o suficiente para enervar aquele pequeno sorrateiro do Laplace, tem que haver algo aí, não é? Ou eles e o Lorde Orc fizeram as pazes, ou um lado está subjugando o outro… ou talvez algo mais? É difícil julgar isso agora, eu acho, enquanto não sabemos. Precisamos pelo menos saber o que a Lorde Demônio Milim acha tão fascinante sobre eles.

— Certamente… não posso discordar disso.

— Certo? Você não está agindo como você mesmo, Clayman. Você geralmente é muito mais cauteloso com essas coisas do que isso.

Esse comentário mordaz forçou Clayman a reconsiderar sua abordagem. Se algum monstro sob seu controle fizesse essa declaração, ele não teria pensado nisso com sinceridade. Poderia tê-lo enfurecido a ponto de matar a pobre criatura.

— Talvez eu esteja um pouco precipitado aqui. Suponho que seria melhor coletar mais informações de uma variedade de ângulos antes de tirar conclusões.

— Sim, acho que você está certo!

Então, seguindo o feedback de Teare, Clayman decidiu investigar um pouco mais os nascidos da magia. Ele não tinha interesse em recrutá-los; seus objetivos ainda eram os mesmos.

A única questão que ele queria resolver: em que Milim estava tão interessada neles? Essa era uma grande preocupação para ele e ele pensou que aprender mais sobre os nascidos da magia poderia levar a uma resposta.

Caso contrário, para um Lorde Demônio como Clayman, nascidos da magia de alto nível dificilmente importariam.

Recompondo-se, Clayman decidiu ouvir o relatório de Teare.

— Então, como sua investigação acabou?

— Bem, parece que Frey não tem intenção de se envolver na Floresta de Jura.

— Ah… então ela não vai se mover? Você entendeu o que estava acontecendo lá?

— Oh, absolutamente! — Teare sorriu.

Ela aceitou este trabalho porque Laplace estava ocupado com outra tarefa.

Sua missão era investigar a Lorde Demônio Frey e coletar informações sobre qualquer fraqueza potencial da qual eles pudessem se aproveitar. Foi isso que levou Teare ao território de Frey.

Teare podia parecer uma garotinha, mas muito semelhante ao Lorde Demônio a quem servia, ela era uma superpotência de primeira classe.

— Então, hum, minha impressão era de que Frey estava em alerta máximo sobre uma coisa ou outra. Ela tinha harpias voando por todo o reino, como se estivesse se preparando para uma guerra ou algo assim.

— Ah. Faz sentido. Você descobriu?

Teare riu um pouco. 

— Descobri. E adivinha?! Ela está assustada porque Charybdis pode ressuscitar! — relatou ela alegremente.

Fazia muito sentido para Clayman. 

— Entendo, entendo… Bem, Teare, gostaria de fazer outro pedido a você, mas como está sua agenda?

— Eee-hee-hee! Achei que você poderia dizer isso. Também tenho Footman me esperando, então, se envolver alguma coisa difícil, podemos cuidar disso!

— Heh-heh… Muito bem Teare, mas gostaria que você evitasse que isso se tornasse violento. Em primeiro lugar, gostaria que viajasse para onde Charybdis está selado e ver se é possível ganhar esta criatura para o nosso lado.

— É claro! Deixe tudo comigo, Clayman!

— Eu acredito que a localização seja…

Eu disse, deixe tudo comigo! Tenho que ir, ok?

Com isso, Teare mais uma vez mergulhou na escuridão lamacenta. Ao vê-la partir, Clayman exibiu uma pontada de preocupação nos olhos, uma coisa extraordinariamente rara para ele. E um instante depois, eles estavam de volta ao seu brilho ousado e destemido.

— Bem… Charybdis, hein? Muito bom. Se seu poder está realmente à altura dos padrões de um Lorde Demônio, mal posso esperar para ver o que ele oferece.

O sussurro foi entregue com um sorriso alegre enquanto ele descia em seus próprios pensamentos.

 

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Carillon, rei dos licantropos, declarou-se Lorde Demônios pela primeira vez há quatrocentos anos, em sua sede por mais poder. O mundo estava em uma grande era de revolta naquela época, com Lordes Demônios entrando e saindo de cena em um ritmo vertiginoso e ele fez a mudança perto do fim de uma grande guerra mundial, uma lenda que ocorreria a cada quinhentos anos.

Frey foi uma das outras sobreviventes daquela época a se juntar ao clube dos Lordes Demônios, com Clayman reivindicando sua posição um século depois. Leon Cromwell, entretanto, assumiu o título duzentos anos atrás, com sua vitória sobre o Lorde das Maldições sob seu cinto.

Juntos, os quatro novos Lordes Demônios eram conhecidos como a Nova Geração.

Os mais velhos, por sua vez, eram generais enrugados em comparação, todos sobrevivendo a pelo menos duas guerras mundiais e sua força estando em um nível completamente diferente da nova geração. Isso levou muitos na Nova Geração a se esforçarem para expandir suas próprias forças e Carillon era um deles.

Não era de se admirar, então, que ele agora estivesse tentando recrutar um pouco mais de força para seu lado.

Phobio, a Presa do Leopardo Negro era um dos Três Licantropos de Carillon e entendia os sentimentos de seu mestre melhor do que ninguém. Era por isso que, mesmo depois de ser espancado em um grau terrível pela Lorde Demônio Milim, ele ainda estava se escondendo nas profundezas da floresta.

Não havia nenhuma maneira de que ele pudesse fazer algo tão completamente vergonhoso quanto voltar para casa agora. Se ele explicasse tudo para Carillon, seu mestre sem dúvida iria rir e perdoá-lo, mas o orgulho de Phobio se recusou a permitir isso. Não corresponder às expectativas de Carillon, o homem que salvou sua vida, seria insuportável.

— Eu não posso deixar isso acontecer! — Ele meio que uivou no ar.

— Por favor, acalme-se, senhor Phobio!

— Essa derrota era inevitável. Nem mesmo Lorde Carillon conseguiu conter a raiva de Milim…

— Calem-se! Lorde Carillon nunca iria mostrar sua cara feia novamente se isso acontecesse com ele. Eu era muito inexperiente para o trabalho…, mas meu orgulho me proíbe de voltar sem nada para mostrar.

A raiva na resposta amarga de Phobio fez seus homens ficarem em silêncio.

Eles estiveram escondidos por uma semana, fazendo turnos enquanto vigiavam a cidade. A Lorde Demônio Milim ficou lá o tempo todo e eles também viram monstros envolvidos em uma variedade de tarefas, desde a construção de edifícios até a expansão de estradas. Também havia monstros encarregados de obter comida e patrulhar a área, a ordem preservada pela cidade era incrível de se ver. Nem mesmo Phobio conseguiu esconder seu choque.

— Basta olhar para aqueles bastardos. Criando e construindo uma cidade para eles… Eu os rejeitei como monstros humildes, mas eles têm tecnologia da qual nem eu tenho conhecimento…

— Você claramente está certo. Não gostaria de subjugá-los, mas sim abrir relações formais com seu líder.

Era Enrio, um macaco licantropo, fazendo uma abordagem intelectual da questão. Ele tinha razão. Esses monstros trabalhavam em equipes ordeiras, sob o comando de seus líderes. Isso era claramente uma engenharia de ponta. Era incomparável com o que Enrio conhecia em sua terra natal, o Reino Animal de Eurazania, com suas casas de pedra bruta e estradas de terra nua e achatada.

— Sim, mesmo que Milim não estivesse aqui, adotamos a abordagem errada. Tentamos conquistá-los sem nenhuma chance deles nos contra-atacarem e isso nos custou a oportunidade de ganhar sua confiança, mas o que está feito está feito. E mesmo que eu esteja curado, minha humilhação nas mãos de Milim não desapareceu. Tenho que encontrar uma maneira de me vingar dela! De alguma forma que não causará problemas a Lorde Carillon. Eu sei em meu cérebro que é impossível, mas isso é sobre meu coração. — A voz de Phobio era sombria, fantasmagórica e desprovida de sua alegria usual.

Até agora, Phobio era um governante absoluto. Ninguém poderia desafiar sua força, mas agora seu primeiro revés o estava fazendo hesitar. Ele nunca tinha perdido para ninguém antes, exceto Carillon. Sua mente lógica lhe disse que perder para Milim era inevitável, mas as chamas da humilhação ainda fervilhavam lá no fundo.

— Eu sei o que você quer dizer, senhor, mas…

Enrio sabia exatamente como Phobio se sentia, mas exigir vingança contra Milim não estava no âmbito da realidade. Ele tentou fazer Phobio desistir da ideia, mas foi interrompido.

— Ahhh, eu entendo completamente. Toda aquela raiva e frustração… Sou um velho veterano desses sentimentos.

— Quem está aí?!

— Desde quando você está aqui?

As tropas de Phobio chegaram tarde demais para reagir. A figura já havia se aproximado deles enquanto se sentavam ao redor da fogueira e a julgar pela maneira como evitaram a detecção por um grupo inteiro de nascidos da magia de alto nível, deviam ser muito talentosos, de fato.

— Hohhhh-hoh-hoh-hoh! Um bom dia a todos! Me chamo Footman, membro dos Palhaços Moderados. Eles me chamam de Palhaço Zangado e estou muito feliz em fazer todos vocês meus conhecidos! 

A saudação educada da figura rotunda foi ligeiramente prejudicada pela expressão enfurecida em sua máscara. O tom gregário da voz do palhaço fazia sua presença parecer, de certa forma, bastante surreal.

— Hm-hmm. Vocês não precisam serem tão cautelosos conosco. Meu nome é Teare, uma camarada palhaço moderado. Somos uma espécie de pau pra toda obra e eu prometo que não vamos lutar contra vocês!

E então, uma palhaça saiu de trás de Footman, esta com uma máscara com uma lágrima. O homem zangado e a garota chorando, uma coisa muito estranha de se ver ao lado de uma pacífica fogueira.

Pedir a Phobio e seus companheiros para não serem “cautelosos” com eles era uma tarefa difícil, mas a maneira como eles apareceram do nada certamente indicava seus poderes. Se eles não fossem inimigos, talvez fosse melhor acreditar nisso.

— Hohh? Eu nunca tinha ouvido falar desse grupo de Palhaços Moderados antes. Um pau pra toda obra? Bem, tanto faz. Afinal, do que vocês estão atrás? — perguntou Phobio, tentando descobrir seus objetivos.

Footman parecia que mal podia esperar para responder — Hohh-hoh-hoh-hoh! Bem, fui chamado aqui por seus sentimentos de raiva e humilhação. As ondas de raiva que senti surgindo daqui eram bastante notáveis, de fato! Você foi a fonte delas? Eu adoraria saber o que o deixa tão furioso. Poderia fazer a gentileza de me dizer? Porque tenho certeza que poderia oferecer alguma ajuda!

Ele transformou sua máscara enquanto falava, fazendo-a explodir em um sorriso estranho.

— Você espera que falemos com alguém tão estranho quanto vocês dois? — retorquiu Enrio. — Senhor Phobio, não há razão para cair nessa polidez. Podemos despachá-los para você?

— Ele tem razão! — Outro dos homens de Phobio acrescentou. — Não é normal alguém vir aqui sem pedir. Vocês dois parecem ser nascidos da magia de alto nível também, mas escolheram o grupo errado para lutar. Pertencemos à Aliança Guerreira do Mestre das Feras, parte dos exércitos do Lorde Demônio Carillon. Vocês acham que um par de nômades errantes nascidos da magia como vocês poderiam nos derrotar?

 

 

 

O grupo teve pouco interesse em ouvi-los. Os estranhos pareciam suspeitos demais e a maneira como ousaram oferecer ajuda aumentou sua raiva. O grupo de Phobio estava no escalão de elite das forças de Carillon, eles não haviam caído ao ponto em que precisavam da ajuda de criaturas aleatórias.

Ignorando-os, Footman continuou: 

— Você busca poder, não é? Bem, o poder é apenas o que temos. Bastante! Isso vem com um nível de perigo, é claro, mas se você puder vencer esse perigo, a força que você pode ganhar com isso é tremenda!

— … Oh?

— Sim! Quer derrotar a Lorde Demônio Milim, não é? Então, por que não se torna um Lorde Demônio também?

A pergunta de Teare silenciou o acampamento. O som de um licantropo engolindo nervosamente parecia ecoar contra as árvores.

— Um… Lorde Demônio? Vocês acharam que poderia nos enganar com algo tão ridículo…

— Charybdis. Você já ouviu falar?

A única palavra de Footman teve efeitos de quebrar a terra. No momento em que ele pronunciou, Phobio congelou no lugar.

E então…

— Os poderes do mal que os peixes gigantes detêm são incrivelmente enormes! Se você não precisar dele, sempre podemos oferecer a outra pessoa. Até mais!

…Teare desferiu o próximo golpe.

Gesticulando para Footman, ela se virou e se preparou para ir embora. É assim que o diabo o tenta, fazendo você entrar em pânico, roubando sua capacidade de tomar decisões e bloqueando sua capacidade de pensar racionalmente.

— …Esperem.

Phobio a deteve, derrotado por suas próprias ambições.

— Não, senhor Phobio!

— Você não pode dar ouvido a essas pessoas!

— Me falem mais — perguntou Phobio, ignorando seus homens.

As chamas do desejo enlouquecido dançavam em seus olhos enquanto ele os virava na direção de Footman. Talvez essa fosse sua chance de assustar Milim com todo o seu poder. Poderia até deixá-lo governar as terras como um Lorde Demônio. Nada disso era mais um sonho. E imaginar isso fez Phobio perder toda a compostura.

Não. Eu nunca gostei disso para começar. Por que o Lorde Demônio me escolheu para despachar um único Lorde Orc fracote? Não preciso aceitar essa merda. Sim… Se é um novo Lorde Demônio que eles precisam, ninguém deve reclamar se eu assumir o elmo. Se isso me deixar mais forte, tenho certeza de que Carillon vai rir disso de qualquer maneira!

Phobio, propenso a pensar precipitadamente mesmo nos melhores momentos, ficara completamente fascinado pelas palavras doces de Teare e Footman.

— Ooh! Uma bela decisão, senhor Phobio. E a correta! Quem além de você poderia se tornar um Lorde Demônio?

— Você está pronto para isso, então? — acrescentou Teare. — Bem, faz sentido para mim. Alguém forte deve ser o Lorde Demônio, senão seria um erro terrível! É o que eu também acho e você é o homem certo para o trabalho, senhor Phobio!

No entanto, Phobio não era tolo. Ele ainda tinha autoridade final sobre esses dois que o lisonjeavam e não havia se esquecido de uma pergunta muito pertinente a fazer.

— Parem com essa merda! Eu disse, me falem mais. Se eu disser sim a essa oferta, o que vocês ganham com isso? Vocês têm que ter algum tipo de vantagem nisso! Então, parem com isso!

Teare e Footman já esperavam isso.

— Nós tiramos algo disso, sim. Se você se tornar um Lorde Demônio, senhor Phobio, esperamos que possa nos fazer um pequeno favor depois. Com sorte, você será capaz de nos acomodar em algumas áreas?

— Hoh-hoh-hoh! E dificilmente poderíamos subjugar Charybdis sozinhos. Nós descobrimos onde ele foi confinado e tudo mais, mas se não pudéssemos domar, seria um desperdício! E quando estávamos pensando sobre o que fazer a respeito, quem deveríamos encontrar senão você, senhor Phobio!

Isso era aceitável o suficiente para convencer Phobio.

— Huh. Tudo bem, mas como vocês sabem que posso domar Charybdis mais do que…?

— Hohhhhh-hoh-hoh-hoh! Não se preocupe! Tenho certeza de que você terá sucesso na tarefa, senhor Phobio! E mesmo se falhar por algum evento incrivelmente improvável, não exigiremos nenhuma reparação de você. Só cobramos dos nossos clientes se eles ganharem, ganharem, ganharem! Com relação a isso, pelo menos, você pode colocar toda a sua confiança nos pau-pra-toda-obra dos Palhaços Moderados!

Huh, Phobio pensou. Então, quando eu me tornar o Lorde Demônio, eles querem que fique claro quem me ajudou mais.

Nesse caso, talvez fosse melhor deixar o exército do Lorde Demônio Carillon. Esse movimento poderia lhe fazer bem, quer ele tivesse sucesso ou não.

Phobio tinha sede de poder. Ele também se sentia confiante de que poderia domar Charybdis. Em vez de temer o fracasso, ele já tinha certeza do sucesso, pronto para aceitar o negócio. Todos os elogios extravagantes desse par o fizeram sentir como se ele já estivesse sentado no trono de um Lorde Demônio, ou talvez, Phobio já estivesse preso em seu feitiço desde então.

— Tudo bem. Eu aceito sua oferta!

Seguindo seus instintos, Phobio acenou com a cabeça, assinando os papéis que Teare lhe entregou.

 

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Phobio então se voltou para suas tropas e deu suas ordens finais.

— Quero que vocês voltem para Lorde Carillon e digam a ele o que eu concordei.

— Senhor Phobio?!

— Mas…

— Escutem, rapazes — disse ele, interrompendo-os. — Eu não vou causar nenhum problema para o senhor Carillon, então diga a ele que estou desistindo de meu posto nos Três Licantropos e deixando sua força. Ninguém vai reclamar do que eu fizer se eu for apenas um mago que não é afiliado a ninguém. Além disso… estou indo a lugares. Eu vou ficar mais forte. Forte o suficiente para devastar o mundo. E vou fazer Milim reconhecer isso!

Nada poderia mudar a mente de Phobio, uma mente que estava quase anormalmente voltada para a vingança contra a Lorde Demônio que o desprezou. Como se seus sentimentos imperecíveis de humilhação e raiva o estivessem empurrando para frente.

Enrio o observou em silêncio, pensando e observando enquanto seus companheiros exortavam Phobio a reconsiderar. Depois de todos os anos em que fora seu confidente mais próximo, ele sabia muito bem que, uma vez que se decidisse, não seria fácil fazê-lo reconsiderar. A vontade de Phobio era firme e seu coração não se comoveu. Assim…

— Muito bem, senhor. Vou me reportar primeiro a Lorde Carillon. No entanto, a força de Charybdis ainda é desconhecida. Eu sugiro que você tome cuidado com isso, não espere que coma de sua mão tão facilmente.

E com isso, ele partiu, levando seus companheiros com ele. Considerando o pacto de não agressão que os Lordes Demônios tinham uns com os outros, Phobio começar uma briga com Milim poderia se tornar uma crise séria. Enrio precisava conversar com Carillon e tomar medidas antes que isso acontecesse. Foi com alguma relutância que ele saiu, mas não podia se dar ao luxo de fazer nada tão estúpido quanto deixar que suas emoções ditassem suas prioridades. Além disso, era uma ordem e feita com o poder de raciocínio que ainda tinha em mente.

O senhor Phobio não é idiota. Não posso pensar que ele será enganado por muito tempo por aquela dupla estranha. E mesmo que este Charybdis realmente exista, o senhor Phobio deve ser capaz de domesticá-lo.

Ele escolheu ter fé em Phobio.

Com Enrio a caminho, as únicas pessoas que restaram foram Teare, Footman e Phobio.

— Bem, vamos indo então?

— Sim! Mal posso esperar para mostrar a este Charybdis meu poder e quebrá-lo no chão. E com nossas forças combinadas, vamos transformar aquela Lorde Demônio Milim em um bebê chorão!

— Sim! Você com certeza vai! Estou totalmente torcendo por você também, então não baixe a guarda! Pronto para ir?

Teare e Footman acenaram para que Phobio os seguisse. Após uma curta jornada, eles chegaram a uma pequena caverna, bem no coração da Floresta de Jura.

— Charybdis está aqui?

— Claro que está!

— Ele ainda não ressuscitou, entende, mas você ainda pode sentir seu desejo de destruição borbulhar no ar. Amamos essas emoções, então foi assim que as descobrimos.

Havia um sorriso maligno no rosto de Footman enquanto ele falava. Phobio não percebeu, extasiado como estava com a estranha aura que podia sentir da caverna.

— Agora — continuou o palhaço —, deixe-me explicar como isso funciona. Ressuscitar Charybdis requer um grande número de cadáveres. Charybdis é uma espécie de forma de vida espiritual, essencialmente como um demônio. Temos que dar a ele um corpo físico, para que possa exercer seu poder neste mundo. Assim…

Ele deu a Phobio um olhar de soslaio. Phobio podia ler o que significava. Ele engoliu em seco, nervoso.

— Esperem. Você está…?

— Porque sim! Nós estamos! Para domar Charybdis, você deve instilá-lo em seu próprio corpo. Você se tornará um com ele! — a voz de Footman cresceu, revelando sua óbvia excitação.

— Hmm-hmm — acrescentou Teare. — Se você quiser parar, agora é sua chance, ok? Este selo não durará muito mais tempo e, quando se quebrar, Charybdis acabará ressuscitado em algum campo de batalha ou luta de monstros ou o que quer que seja. Na verdade, ele provavelmente tentará usar os restos de seu poder para preparar os cadáveres de monstros de que precisa para ressuscitar e se isso acontecer, teremos passado por todos esses problemas por nada!

Isso era verdade? Pode ser. Havia uma leve pontada de impaciência na voz de Teare.

— Se Charybdis ressuscitar automaticamente, duvido que seríamos capazes de controlá-lo. É apenas um puro impulso para a destruição, então não receberá ordens de ninguém, eu acho. Nem mesmo se o derrotarmos. Então… temos que abrir o lacre antes de ressuscitar e tirar seus poderes, ou não vai funcionar — continuou ela, escolhendo as palavras com cuidado.

Seus olhos se voltaram diretamente para Phobio. Eles o esfaqueavam, assim como os de Footman. Não haveria maneira mais eloquente de fazer a pergunta que eles estavam fazendo.

— Tudo bem — respondeu Phobio com firmeza. — Eu já estou comprometido com isso; não vou sair como um frango agora. Estou pronto para fazer o poder de Charybdis o meu próprio!

— Sim! Esse é o espírito!

— Hohhh-hoh-hoh-hoh! Bem dito, Lorde Phobio. Realmente devo agradecê-lo e brindar nossa boa sorte também por encontrar um parceiro tão confiável!

Então foi decidido.

Phobio se aventurou na caverna sozinho, os olhos cheios do orgulho que ele tinha como um nascido da magia de alto nível. Uma vontade purificada que acreditava na vitória sem temer a derrota, mas, infelizmente, seu coração ainda estava, lá no fundo, cheio com seu rancor contra Milim e sua raiva enterrada de sua própria imaturidade.

Para a forma de vida espiritual conhecida como Charybdis, nada poderia ser mais delicioso.

No momento em que se apaixonou pelas palavras doces de Teare e Footman, seu destino estava selado, um fato que ele não percebeu enquanto mergulhava na escuridão da caverna.

Tempo passou.

— Ele foi, não é?

— Ele certamente foi.

— Hohh-hoh-hoh! Hohhh-hoh-hoh-hoh!

— Ha-ha-ha… Ahh-ha-ha-ha!!

A risada veio alta e rápida, uma vez que eles tiveram certeza de que Phobio estava totalmente dentro.

— Exatamente o tipo de pessoa que alguém esperaria estar servindo aquele cabeça-dura do Carillon, hein? E depois de todas as desculpas que praticamos de antemão, ele mal nos questionou.

— Totalmente, totalmente! Aquele macaco parecia muito mais inteligente do que ele.

Eles haviam arquitetado uma quantidade bastante ampla de argumentos e estratégias para convencer Fobio a aceitar a oferta deste par de estranhos de aparência estranha, mas os olhos de Phobio estavam tão nublados pela raiva e ganância que foi muito mais fácil do que o previsto. Eles o ridicularizaram por isso em sua ausência, tão fácil que foi quase uma decepção.

— É o fim do trabalho, então, Teare?

— Mm-hmm! Tudo o que ouvi de Clayman foi para reviver Charybdis e mandá-lo para Milim.

— E nenhum novo pedido depois disso?

— Não. Este trabalho está concluído! Oh e que tal simplesmente descartarmos os cadáveres de dragão inferior que trouxemos? Não vamos precisar mais deles.

— De fato. Nós passamos por todos os problemas para preparar um corpo temporário e então aquele idiota se ofereceu para o trabalho! Não há mais necessidade desses cadáveres, não.

Então eles jogaram os corpos no chão.

Havia uma dúzia ou mais de dragões inferiores ao todo; eles mataram um rebanho inteiro para o trabalho. Os dragões inferiores não faziam parte das raças dracônicas às quais Veldora pertencia; não havia nada inerentemente mágico sobre eles. Eles eram criaturas pouco inteligentes, incapazes de lidar com magia, mas eram protegidos por um corpo resistente e escamas fortes, dando-lhes uma vantagem assassina em combates próximos. A raça humana geralmente os classificava em torno de rank B+ ou A-, mas nem mesmo uma besta tão poderosa era páreo para dois nascidos da magia de alto nível.

Suas vidas foram cruelmente tiradas e agora eles estavam sendo tratados como lixo. Trazê-los para uma cidade humana e vender suas peças variadas poderia render uma pequena fortuna, mas para Teare e Footman, eram apenas um estorvo.

Assim que removeram os cadáveres de seu depósito de magia espacial e os jogaram no chão, eles deixaram a cena, satisfeitos com um trabalho bem executado.

 


 

Tradução: Nero

Revisão: Taiyo

 

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