Quando estavam prestes a retornar de sua patrulha de costume, eles ouviram os sons da batalha de antes. Gobchi, o assistente de Gobta com tapa-olho, notou primeiro.
— Gobta, ouço uma batalha em algum lugar.
O capitão do pelotão fingia ignorar o barulho, na esperança de fazer uma viagem agradável e tranquila de volta à cidade, mas sua equipe não aceitou.
— Eu acho que sim, hein? Devemos ir dar uma olhada?
— Ooh, bem, eu diria que é uma boa ideia, sim. Não quero que gritem conosco depois, não é?
— Sim, sim… Vamos apenas verificar isso, então.
Seguindo o conselho de Gobchi, o pelotão foi em direção aos sons.
E então…
Gobta encontrou alguns rostos familiares lutando contra uma aranha-cavaleira.
— Uau! Droga, é você, Gobta! Não fique aí parado como um idiota; nos ajude! Estamos ficando sem tempo!
Kabal parecia um pouco mais atormentado do que Gobta, esquivando-se da enxurrada de ataques da aranha enquanto gritava. Ele estava claramente perto do fim da linha, simplesmente permitindo que os ataques de várias pernas que ele não conseguia desviar totalmente se chocassem contra sua armadura. Não demoraria muito para que aquela armadura cedesse e com ela, sua vida, talvez.
— Ooh, este é Fuze, não é? Ei! Fuze! Sou eu, Gobto!
— Você também, Gobto?! Apresse-se e tome o meu lugar!!
Assim que Gobto avistou Fuze e gritou em saudação, Kabal foi quem gritou de volta quando a aranha tirou o capacete de sua cabeça para ele.
— Bem, certo. Vou assumir o lugar de Kabal. Gobchi, você faz todo mundo distrair a aranha!
Por ordem de Gobta, o pelotão começou a se mover.
Desmontando agilmente de seu lobo estelar, Gobta caminhou para seguir a liderança de Kabal enquanto os outros cavaleiros goblins direcionavam seus parceiros para desviar a atenção de seu inimigo. Os lobos atacaram com suas presas afiadas e suas garras e, embora nenhum dos dois encontrasse qualquer abertura em seu exoesqueleto rígido, sua velocidade superou a da aranha, permitindo-lhes fazer uma abordagem segura de bater e correr.
Os lobos estelares de rank B não poderiam nem arranhar uma aranha-cavaleira, mas em termos de agilidade, eles eram iguais. Então, desistindo da abordagem direta, eles mudaram de estilo para que seus parceiros hobgoblins assumissem o ataque. Graças às mãos hábeis de Gobchi e do resto da tripulação de Gobta, isso permitiu que eles aumentassem lentamente os danos.
— Droga, aquelas lanças deles são afiadas. Parece que eles também podem alongá-las e encurtá-las à vontade.
— Elas são. E são um pouco mais afiadas do que a minha espada larga, até. Talvez pudéssemos ter uma chance de lutar se eu tivesse algo assim, hein?
Kabal murmurou maravilhado enquanto fazia uma pausa para se curar e Yohm apareceu ao lado dele para fazer uma pausa também.
— Simplesmente não posso acreditar nisso. O que são esses lobos? Algum tipo de mutante de lobos negros ou lobos cinzentos? E por que um bando de hobgoblins tem armas tão incríveis também? E por que eles são tão fortes?!
Fuze escolheu esse momento para se juntar a eles, ainda ofegante e surpreso. Nenhum de seus companheiros tinha uma resposta pronta, então eles se acomodaram e começaram a assistir.
Considerando a batalha brutal que eles acabaram de travar, era difícil imaginar o que eles estavam vendo agora. Os goblins estavam atacando ousadamente, ou pelo menos pareciam estar, embora parecessem estar dando a si próprios uma margem de segurança bastante grande. Nenhum deles sofreu danos. Enquanto isso, Gobta era o único que enfrentava a aranha-cavaleira a pé, saltando para um lado e para outro para atrair a atenção de seu inimigo. Ele não teve que lutar por isso. Parecia que ele tinha um controle total sobre cada contração das pernas da aranha.
— Cara… Aquele hobgoblin… Gobta, ele disse? Quem diabos é ele, hein? E, tipo, mesmo antes disso… — Yohm se interrompeu.
Queria muito perguntar, mas resistiu. Agora não era a hora. Ele queria capturar cada momento desta batalha enquanto durasse.
Gobta se ocupou em torcer, saltar e se esquivar do ataque da aranha. Hum… Meio lento se comparado com o inferno que Hakuro me fez passar, fácil fácil.
Olhando mais de perto para a aranha, ele percebeu que ela sempre parava de se mover por um momento antes de liberar um de seus combos de pinça de perna. Os ataques com várias pernas também seguiam um ritmo definido, tornando simples prever onde eles atacariam em seguida.
— Tudo bem, vamos acabar com isso!
Com um único grito animado, ele removeu a espada curta de sua cintura e, com extrema precisão, cortou em um pequeno ferimento causado anteriormente por um de seus cavaleiros goblin. Uma das longas pernas da aranha em forma de lança se arqueou no céu. Foi cortada de forma limpa de seu corpo.
— Minha nossa!
— Uau, Gobta! Isso é incrível!
— Isso sim é uma espada curta. Acho que estou apaixonado pela forma como corta!
Gobta não era de ignorar todos os elogios de seus amigos. Foi forjado por Kurobe para ele, graças à promessa de Rimuru. Certamente não era um item de barganha em uma loja de armas local, era uma obra-prima de uma lâmina, feita para ser o mais afiada possível.
Também era mágica, imbuída de um certo efeito extra graças à habilidade única Divergente de Rimuru. Quando Gobta desejava em sua mente, a lâmina se fechava em gelo, transformando-a em uma lâmina denteada e frígida que também poderia ser lançada como uma Lança de Gelo. Gobta não a invocou aqui; usar magia consumia uma grande quantidade de suas próprias magículas, então ele não podia simplesmente sacá-la por um capricho. Kurobe o havia lembrado uma e outra vez sobre como seu ás na manga só deveria ser usado quando chegasse a hora certa, e ele seguiu esse conselho fielmente, nunca desperdiçando seu arsenal.
Além disso, agora ele tinha uma arma ainda mais eficaz do que uma Lança de Gelo.
— Isto é ainda melhor!
Ele segurou a bainha da lâmina bem alto, ainda apertada em sua mão esquerda. Ele não queria soar como um fanfarrão, mas sem dúvida parecia.
— Uma bainha…?
Em vez de responder à pergunta de Gido, Gobta fez sua jogada. Ele apontou a bainha para a aranha, primeiro o buraco. No momento seguinte, ele emitiu uma espécie de brilho vermelho-escuro.
Todo o interior da bainha foi forrado com magiaço, com fio elétrico isolado enrolado em torno dele como um solenoide. Energizar este fio com Raio Negro, a habilidade que Divergente lhe concedeu, criou um poderoso campo magnético, que então lançou a bala na parte inferior da bainha para fora do buraco. Em outras palavras, uma espécie de espingarda helicoidal.
Chamava-se Canhão de Estilhaços e, embora Rimuru o fizesse principalmente para se divertir, Gobta era um grande fã.
A bainha ejetou um pedaço de ferro com cerca de dois centímetros de diâmetro. Não fez nenhum som, mas os efeitos foram dramáticos. A aranha se contorceu de dor intensa, sua boca estremecendo e rangendo. Os ruídos sobrenaturais resultantes soaram como pura angústia. E porque não? O tiro havia arrancado ou achatado vários de seus olhos, que agora jorravam jatos de um líquido azul.
— Uau! Isso foi ótimo, Gobta! — gritou um dos outros goblins.
Os humanos, entretanto, não tinham nada a dizer. Nem mesmo Fuze conseguiu analisar totalmente o que havia acontecido.
— … Que raios foi aquilo?! — gaguejou ele.
Gobta tinha outras coisas em mente.
— Bem, vamos ter um baita banquete hoje! Deve ter uma boa carne nesta aranha!
Seus olhos estavam na aranha-cavaleira, não como um inimigo, mas como uma deliciosa presa.
— Ei, ei, esse é um chefe de área A menos! E você está preocupado em comê-la?!
Fuze foi ignorado mais uma vez, sua voz perdendo rapidamente a força. Sua mente tinha dificuldade em acompanhar o que via à sua frente. Tudo o que ele podia fazer era sentar lá e assistir distraidamente.
Yohm e seus homens eram iguais, olhando para aquele perigo claro e presente para suas vidas que havia sido abatido como um inseto. Yohm não gostou muito, embora não conseguisse articular por quê. Uma espécie de decepção natural se espalhou por seu rosto quando os cinco goblins o ignoraram e continuaram brincando com a aranha.
Poucos minutos depois, os humanos foram apresentados a uma aranha-cavaleira dissecada.
Gobta estava ao lado dele, parecendo incrivelmente satisfeito consigo mesmo e conversando com alguém via Comunicação por Pensamento.
— Eles terão uma equipe de recuperação aqui em breve. Deixa três dos nossos aqui para ficar de guarda. Eu vou guiar Kabal e seus amigos de volta à cidade.
— Entendi. Tome cuidado.
Depois de terminar a conversa, ele discutiu brevemente com seu braço direito, Gobchi.
— Bem, pronto para ir?
E com aquela pergunta animadora, Kabal e os outros partiram.
Fuze estava muito pasmo, o grupo de Kabal muito feliz e Yohm muito irritado para formular qualquer resposta.
Cabia ao bando de Yohm gritar sua aprovação em vez disso. Eles não tinham certeza de como tudo funcionou, mas independente disso, estavam todos a caminho de Tempest, a terra dos monstros.
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Gobta certamente parecia triunfante em suas instruções.
Estávamos na sala de reuniões de costume, Milim sentada ao meu lado como se tivesse ganhado o direito. Shion e Soei estavam atrás de nós, com Rigurd e Benimaru sentados à frente.
Ao lado de Gobta estavam Kabal, seus dois amigos e um cara de meia-idade desconhecido. Ele foi acompanhado por um homem bronzeado de aparência rude e um tipo de mago de aparência bastante nervosa. Shuna tinha acabado de se sentar, ordenando que um de seus assistentes trouxesse chá para o grupo e então Gobta começou a falar.
Assim que ele terminou, todos nós decidimos nos apresentar. O cara de meia-idade era Fuze, o cara mais importante da guilda no reino de Blumund. Deve ter sido o cara que disse a Soei que queria uma audiência comigo.
O cara bronzeado era… bem, muito bonito. Não tanto quanto Benimaru ou Soei, mas ele tinha músculos lisos e tensos somado a uma aparência selvagem que deve ter construído em uma taverna. Seu nome era Yohm e ele se autodenominava capitão da Força de Expedição da Fronteira, enviada por um dos condes do reino de Farmus. O cara magro e vacilante ao lado dele realmente era um mago, no fim das contas, Rommel era seu nome e, a julgar pela aparência das coisas, ele era o cérebro para os músculos de Yohm.
Depois que todos deram seus nomes, decidi dar o meu.
— Acho que é melhor eu falar também. Meu nome é Rimuru Tempest e sou o líder desta cidade, ou nação, ou como você quiser chamá-la. A Federação Jura-Tempest é o nome oficial dela. E como pode ver, sou um slime!
Pareceu necessário mencionar isso, visto que eu era o único não humano na sala. Isso fez com que o cara mais velho, quero dizer Fuze, arregalasse os olhos.
— É verdade? Um slime…?
Ele parecia saber pelo menos um pouco sobre mim, mas acho que deveria ter esperado que ele ficasse um pouco chocado. Se não tivesse acontecido comigo pessoalmente, acho que teria dificuldade em acreditar que um slime andava agindo como o rei de sua pequena nação de monstros.
— Então, uh, Rimuru — perguntou Kabal. — Quem são todos os rostos novos na sala? — Ele deve ter se referido aos ogros magos. Eu dei a todos eles uma introdução. Só sobrou Milim, que falou antes que eu tivesse a chance de apontá-la.
— E eu sou Milim. Prazer em conhecê-los!
Uma introdução bem casual, especialmente para uma Lorde Demônio propensa a ataques de crueldade como ela. Esperançosamente, ninguém se deixou enganar pelo rosto bonito.
Fuze foi o único a responder ao nome “Milim” com algum tipo de suspeita; talvez ele soubesse sobre o lado Lorde Demônio dela. Kabal e Gido, entretanto, estavam alternando seus olhares entre Shuna e Shion. Milim pode ser fofa, mas eles já devem tê-la rejeitado por ser muito mais como uma criança. Certamente são honestos consigo mesmos, pelo menos.
Yohm e Fuze não deviam estar muito interessados em um romance em potencial, ou talvez eles estivessem apenas nervosos, tendo que lidar com monstros como estes. Seus rostos permaneceram duramente sérios. Gostaria que Kabal e seu bando pudessem aprender um pouco com eles. Eu posso entender como eles se sentem.
Foi estranho, no entanto. Gobta contou toda a história para mim, mas ainda não entendi nada sobre o que aconteceu. Por que Fuze e Yohm estavam lutando juntos?
Exatamente como eu pensei, Fuze abriu a boca.
— Permita-me explicar, talvez…
Ele deve ter percebido que o relatório de Gobta não era o bastante. Fico feliz em ver que alguém tem algum tato por aqui. Testemunhar minha forma viscosa deve tê-lo confundido um pouco, mas ele ainda estava sendo extremamente educado comigo. Melhor ouvi-lo.
………
……
…
.
Depois que terminou, acho que comecei a ter uma ideia. Acho que as notícias do Lorde Orc haviam gerado tanto caos que ele decidiu ter Kabal o guiando até aqui para verificar as coisas por si mesmo.
Rommel também forneceu algumas informações complementares. Ele estava basicamente no mesmo barco, conduzido pela guilda do feudo do conde Nidol Migam em resposta aos rumores que se espalharam por Blumund. O mago me contou tudo o que parecia saber sobre os pensamentos de Nidol sobre o assunto e, a julgar por isso, ele tinha uma noção bastante precisa do que estava acontecendo.
— Por que você está sendo tão honesto comigo? — perguntei.
Ao que ele respondeu:
— Bem, para ser franco, não tenho certeza do que deveria estar fazendo aqui, agora. Eu apenas imaginei, você sabe, a honestidade seria a melhor política, enquanto tentamos fazer as coisas avançarem.
Eu solenemente balancei a cabeça para ele. Isso com certeza me ajuda também.
De repente, o antes silencioso e taciturno Yohm gritou, como se alguém tivesse girado um botão.
— Essa porcaria não importa! O que estou pensando é: por que esse slime está agindo como se fosse o rei do mundo por aqui? Tipo, vocês sabem que isso é loucura, não é? E como os slimes falam mesmo? Quer dizer, que diabos? Por que ele tem todos vocês sob seu feitiço?
— Como você ousa ser tão rude! — rugiu Shion.
— Cale a boca, mulher! — gritou Yohm de volta.
Ooh. Má ideia, pensei, mas antes que eu pudesse terminar esse pensamento, houve um baque surdo quando Shion usou sua espada longa embainhada para enviar Yohm ao chão.
— Ah! Me desculpe, eu só…
— Você só o quê?!
Eu deveria ter esperado por isso, mas realmente preciso fazer algo sobre o temperamento de Shion. Yohm pode ter saído da linha, mas esse recurso instantâneo à violência tem que ser resolvido mais cedo ou mais tarde. Eu imediatamente a fiz cuidar de Yohm, ela não havia colocado muita força nisso, então pelo menos ele não estava morto. Algumas doses de poção de cura e ele acordou imediatamente.
Ele estremeceu ao ver Shion olhando diretamente para ele, mas por outro lado voltou sem dizer uma palavra ao seu acento. Eu tinha que dar o braço a torcer. Foi preciso muita coragem para poder fazer isso.
— Desculpe pela Shion ali. Ela tende a perder muito a paciência. Espero que a perdoe.
Yohm acenou com a cabeça, tenho certeza que com muita relutância.
— Mas isso foi tão terrível! Sou conhecido por minha resistência ao fogo, você sabia?! — Isso era novidade pra mim. Achei que era seguro ignorar seu balbucio.
— Wah-ha-ha-ha-ha! Está perdendo a paciência, hein? Vejo que você tem muito que aprender, Shion. Precisa ampliar seus horizontes, como eu! Não me admira que seja tão temperamental!
Senti como se pudesse ouvir Milim alegremente deixando escapar algo assim, mas tenho certeza de que estava imaginando coisas. Sem dúvidas, era a última coisa que Shion queria ouvir dela.
Mas mesmo assim.
Era hora de colocar todos esses relatórios juntos.
Fuze estava aqui porque ouviu sobre esse slime misterioso, ou seja, eu, e queria descobrir o que havia nele. Descobrir se eu era amigo ou inimigo era sua principal prioridade.
— A própria ideia de monstros criando cidades… Ah, me perdoe. Eu posso entender bem o suficiente semi-humanos construindo assentamentos, mas uma cidade onde várias raças vivem juntas? Nunca ouvi tal coisa. Tenho o hábito de não acreditar totalmente em algo, a menos que testemunhe com meus próprios olhos, entende? E se toda essa história fosse verdade, eu queria descobrir como e o quanto interagiríamos com ela. Os relatórios que recebi me disseram que esta terra não era uma ameaça…, mas achei que verificar por mim mesmo seria a melhor jogada. Então é isso que me traz aqui. Esperava que você me permitisse ficar um pouco para que eu possa examinar a totalidade de suas operações.
Isso fez sentido para mim. Eu odiaria ser temido como uma ameaça potencial, então prontamente dei permissão a ele.
Também dei a ele minha própria visão. Ser o mestre da guilda sugeria que Fuze estava em uma posição bastante elevada, um homem influente, talvez, em Blumund. Ser capaz de falar francamente com alguém como ele e solicitar sua cooperação parecia uma boa ideia para mim.
— Você pode não acreditar — eu expliquei. — Mas realmente gostaria de ser amigo dos humanos. Já falei a Kabal e seus amigos sobre isso. Não estou pedindo isso imediatamente, mas você sabe, acho que seria bom se pudéssemos começar a nos envolver em comércio ou algum outro tipo de interação. Já abrimos relações formais com o Reino dos Anões nesse sentido, que você pode confirmar por si mesmo. Acho que seus comerciantes achariam muito conveniente se pudessem transportar caravanas por esta área, o que acha?
— Espere… quero dizer, por favor, só um momento. Você quer dizer a Nação Armada dos Anões?! Eu sei que é um reino neutro, que teve relações estreitas com muitas raças semi-humanas…, mas está dizendo que ela reconheceu esta terra de monstros como uma nação? Porque acho isso extremamente difícil de acreditar…
Eu tinha pedido que confiasse em mim, mas estava se mostrando um osso duro de roer. Portanto, chamei Vester como testemunha. Acontece que Fuze o conhecia.
— Ministro Vester!… Ou não mais, suponho, mas independentemente disso, nunca imaginei encontrar alguém de seu status aqui… Tudo isso é verdade?
— Ah, muito bem, senhor Fuze! Já faz um bom tempo, não é? Bem, você está correto. Por meio de uma reviravolta bastante singular, agora estou vivendo muito pacificamente nesta terra. Tudo o que o senhor Rimuru lhe disse é verdade, o Rei Gazel e o senhor Rimuru assinaram eles próprios o pacto.
A conversa passou por alguns outros tópicos, mas ainda tive a impressão de que Fuze pensava que ele estava sonhando com tudo isso. Talvez a ideia de monstros se unindo e estabelecendo uma nação fosse um pouco selvagem para qualquer um neste mundo começar a acreditar ainda.
Os motivos de Yohm, entretanto, eram um pouco mais complexos.
Ele e seu bando de homens pretendiam fingir suas próprias mortes para ganhar sua liberdade. Iam buscar asilo em algum país mais seguro do que o seu, onde pretendiam ingressar na Guilda Livre local. Também pretendiam informar o conde Nidol Migam, a velha raposa gananciosa, como o chamavam, sobre o que encontraram aqui. Isso não era por amor ao conde, mas para que eles pudessem potencialmente salvar tantos de seus compatriotas quanto pudessem. Um homem de honra, certamente, não importa o que sua aparência e atitude sugerissem. Rommel claramente começou a gostar dele, a ponto de trair Nidol, seu benfeitor, para se tornar o principal assessor de Yohm.
Ouvir tudo isso me fez pensar um pouco.
— Tudo bem, então… Fuze, as pessoas do seu reino já sabem que o Lorde Orc foi derrotado, certo?
— Não… Apenas o rei e algumas pessoas selecionadas estão cientes.
E isso significava…
— Tudo bem. Então, Yohm, quer firmar um contrato comigo?
— Hã? O que diabos você… erm, o que quer dizer, senhor?
Agora, Shion e Shuna estavam olhando para ele. Elas não devem ter gostado desse tom de voz. Talvez fosse mais gentil da minha parte fingir não notar.
— Bem, para simplificar…
Para simplificar, Yohm e seu bando de trinta homens se tornariam os salvadores do dia, os matadores do Lorde Orc.
Aquele monstro foi muito bem derrotado, mas Fuze ainda me olhava com desconfiança, pois eu era um slime, um monstro. Nesse caso, por que não estruturamos os rumores que espalhamos de forma que eu meramente cooperei com Yohm e foi ele quem realizou a façanha?
Haveria algumas contradições não naturais relacionadas ao tempo nessa história, mas o público em geral não precisava saber todos os detalhes. Se a cúpula que soubesse a verdade estivesse disposta a manter a história, as pessoas comuns lá fora, poderiam espalhar e trabalhar o resto do conto por si próprios. Quanto aos orcs sobreviventes, podemos dizer que houve um motim no exército e pronto. Uma história bonita e simples; fácil de acreditar, desde que aquele número de duzentos mil não fosse mencionado.
Enquanto isso, eu poderia ter ajudado Yohm com suprimentos, armaduras, ou o que quer que seja, em vez de participar diretamente do combate. Dessa forma, eu poderia me estabelecer como esse slime realmente prestativo e confiável que deu suporte material ao nosso homem da hora, certo? Isso, eu imaginei, me pintaria em uma luz melhor do que ser essa ameaça misteriosa de um monstro para todos.
— … Essa é a ideia básica, mas o que você acha?
Nossos convidados ficaram em um silêncio mortal. Muito congelados para reagir. Kabal e seus amigos, entretanto, estavam tão perdidos nesta conversa que decidiram sentar lá e desfrutar de seu chá.
Comparado a isso, Benimaru e Shuna assentiram pensativamente, impressionados com a ideia. Milim e Shion eram todos sorrisos e peitos estufados, mas não tenho certeza se elas me entenderam.
Milim não teve nada a ver com isso de qualquer maneira. Ela está se comportando, pelo menos, mas talvez eu deva dar a ela um pouco de mel antes que ela fique entediada e comece a causar estragos em outro lugar.
— Quem você acha que eu sou? … Bem, sem problemas. Vou levar isso.
Ela aceitou de bom grado o pote de mel que apresentei a ela. Shion lançou um olhar de ciúme para ela, mas… bem, me desculpe, nenhum para você.
— Espere… espere, espere, espere, que tipo de ideia é essa?! O que você quer dizer com “o que você acha”?!
— Ora vamos lá. Eu, batendo naquele cara? Você quer que eu seja um herói de contos de fadas ou algo assim?
Fuze e Yohm protestavam em histeria. Eu não esperava que eles fossem muito receptivos a isso no início. Essa reação era esperada.
— Uou! Nada de “herói”. Isso é alguém especial, então você não pode simplesmente sair chamando alguém assim. Ser um herói traz muita bagagem do passado. Em vez disso, chame a si mesmo de… Campeão — respondeu Milim.
Hum. Interessante. Então, assim como com os Lordes Demônios, as pessoas não gostavam de caras se declarando heróis com H maiúsculo. Herói, campeão, seja o que for, eu queria que Yohm fosse isso para mim.
— Esse não é o problema, sua pirralha! Além do mais…
Booom!!
Um vento frio soprou pelo corredor.
— Ei!! — eu gritei.
— Lady Milim… — Shion parecia querer dizer algo.
— E-espere! Não! Não é minha culpa!
Milim já estava em pânico. Eu não disse nada ainda, mas ela já estava quase chorando.
— Não quero ouvir desculpas, Milim, mas esta é sua última chance, entendeu?
— Tudo bem. Acredite em mim, Rimuru! — Milim jurou se comportar, balançando a cabeça fervorosamente.
Senti-me meio mal pelo nosso novo campeão aqui, mas sério, isso era culpa de Milim. Mimá-la não faria nada de bom para mim, então dei a ela a repreensão que ela merecia. Shion, por sua vez, sorriu um pouco, apenas mereceu o que aconteceu com ela antes, talvez. Resisti ao impulso de lembrá-la de que ela estava no mesmo barco. Esperançosamente, ela entendeu bem a mensagem sem isso.
— Milim…? Eu sinto que já ouvi esse nome antes.
Opa. As sobrancelhas de Fuze se franziram com a menção do nome de Milim. Ele não a tinha identificado ainda, mas eu precisava ficar em guarda. Esta Lorde Demônio era muito mais famosa do que eu acreditava, eu acho.
Vamos, hum, evitar essa pergunta por enquanto.
— Bem, uh, Yohm está bem?
Eu estava preocupado. Foi um baque e tanto que ouvi.
— Sim, senhor Rimuru. Já administrei a poção — relatou Shuna com um sorriso, assim que o próprio Yohm acordou.
— Nngh… O que… O que exatamente…?
Ele ainda estava um pouco confuso, mas não havia nada de errado com ele. Ser espancado por Shion e Milim em uma rápida sucessão como aquela me deixou maravilhado com sua resistência natural. Essa poção é uma coisa incrível, mas ele merecia crédito por sobreviver.
— Hum, Rimuru… sim? Bem, sem problema. Eu farei o que você disser. Todas essas ameaças à sociedade que você tem a seu serviço, tenho que admitir, você é um slime infernal. De agora em diante, no que me diz respeito, sou todo seu, amigo. Me diga o que quer.
Foi uma surpresa ouvir isso no momento em que ele colocou o tico e teco pra funcionar de novo. Não gostei de como nós tivemos que meio que espancá-lo para isso, mas se isso o convenceu, não havia necessidade de intimidá-lo sobre isso.
— Sim, com certeza. E obrigado. — Balancei a cabeça para ele em concordância.
Agora estávamos juntos e todo o evento foi o suficiente para fazer Fuze esquecer de Milim.
— Nesse caso, não tenho objeções sobre trabalhar com você nisso também. No entanto, se importaria se eu tivesse certeza absoluta, primeiro, de que está do lado da raça humana?
— Hmm? Tudo bem, isso é justo.
E agora Fuze estava comigo também.
Tradução: Nero
Revisão: Taiyo
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