Dark?

Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 01.1 – O Nome de uma Nação

A+ A-

 

Ao lembrar-se do relatório do seu informante disfarçado, Gazel Dwargo, rei dos anões, ponderou sobre a informação. Ele havia pedido a esse espião para que observasse um certo slime que o preocupava, mas o resumo que recebeu parecia próspero demais para que acreditasse.

 

Os monstros estão construindo uma cidade de grande porte.

O dossiê entregue ao Rei Gazel começou com essa frase. O resto apenas o deixou mais confuso. No começo ele pensou que fosse algum tipo de piada, mas a sua equipe não era capaz de lhe pregar peças. Esse espião estava lhe dando a verdade nua e crua, e por isso ele permaneceu calmo e percorreu os olhos pelo resto do relatório.

Dizia o seguinte:

Hordas de orcs começaram um alvoroço.

Quantia: aproximadamente duzentos mil.

Os ogros, uma raça proeminente da floresta, foram erradicados, segundo informações.

Os homens-lagarto estão organizando suas instalações militares para se prepararem para a guerra.

A existência de um Lorde Orc foi confirmada. Nível de perigo: estimado em A.

Um confronto grande na Floresta de Jura é inevitável.

 

Nível de perigo geral: A Especial (estimado).

 

Tudo isso foi preciso como a entrega do outro dia, resultado das investigações da sua equipe disfarçada, entregue ao rei através de meios mágicos. Essa equipe, enviada para ficar de olho no slime misterioso, descobriu uma junção de monstros construindo uma cidade. Enquanto continuava os vigiando, a equipe descobriu outros eventos incomuns pela floresta. Com a permissão de Gazel, mais homens foram adicionados à equipe para executarem operações mais efetivas no local… e este foi o resultado.

O nascimento de um Lorde Orc não poderia ser ignorado. O Rei Gazel imediatamente declarou estado de emergência. Não por causa do orc, apenas… Dependendo de como a batalha na floresta se desenrolasse, o Reino dos Anões poderia muito facilmente ser exposto a hostilidades, mais do que depressa. Se um exército de orcs com seis dígitos chegasse à porta deles, o destino de todo o reino estaria em risco. Os espiões do rei relataram que os orcs estavam avançando para longe do Reino dos Anões, mas isso não era um grande alívio.

Portanto, por decreto real, ele invocou os Cavaleiros Pégasos, um grupo de lutadores fortes, armados com as melhores armas que um artesão poderia criar, cada um montado em um corcel alado. Juntos, cada cavaleiro trabalhava como um com sua montaria no céu, tornando-os facilmente oponentes de nível A. Eram quinhentos, ao todo, e, dentro da Nação Armada de Dwargon, eram considerados os mais fortes dos cavaleiros.

Se o pior acontecesse, esses Cavaleiros Pégasos poderiam ganhar tempo para o reino, para que a infantaria se preparasse para a batalha. Era um último recurso, o qual doía ao Rei Gazel ter que recorrer, mas até mesmo uma Nação Armada precisava de tempo para se mobilizar por completo.

Logo, Dwargon passou para uma economia de guerra, silenciosamente se preparando para o conflito. A atmosfera estava tensa no reino enquanto o Rei Gazel esperava por mais relatórios. Quando enfim chegaram, foi-lhe dito o seguinte:

A guerra acabou graças à intervenção de vários nascidos da magia de alto nível.

Nossos esforços de vigilância foram descobertos e houve interferência, por isso os detalhes continuam desconhecidos.

Acredita-se que os nascidos da magia estão sob o comando do slime de antes…

Adendo: A fim de continuar nossa missão totalmente preparados, requisitamos que nosso equipamento seja substituído pelo de mais alto nível disponível.

 

Rei Gazel usou uma vela nas proximidades para queimar os documentos.

— O que os seus espiões disseram, Vossa Majestade? — perguntou o capitão dos cavaleiros quando ele tirou um momento para pensar, com os olhos fechados.

— Parece… que estamos fora de perigo. A guerra acabou.

— Acabou?!

O capitão não conseguiu esconder sua surpresa, e os Cavaleiros Pégasos atrás dele também murmuravam entre si.

— Espera! Não estou pronto para acreditar nisso por completo.

Os cavaleiros ficaram em silêncio, endireitando-se ao ouvirem as palavras do rei.

Sua equipe disfarçada relatou que um dos nascidos da magia havia descoberto sua rede de vigilância. O fato de que uma equipe tão proeminente na arte da camuflagem seria descoberta era algo difícil de engolir, mas parece que tinham conseguido despistar os perseguidores.

Entretanto, o líder dos espiões, julgando que qualquer abordagem extra seria perigosa demais, mandou pedidos de acesso a todos os níveis de armamentos, o que refletia ao nível adicional de perigo no trabalho deles.

Eles tinham razão. Gazel precisava de mais detalhes. Outra investigação seria conduzida quando o caos pós-guerra tivesse sido acalmado.

— Darei mais ordens depois. Por enquanto, quero que os Cavaleiros Pégasos fiquem a postos e permaneçam em prontidão para a batalha. Quanto ao resto das forças, baixarei o nível de alerta para um estado de preparação de batalha elevada. Devemos nos preparar para todas as contingências.

— Sim, meu lorde!

A notícia de que tudo estava calmo na floresta era boa, mas ainda não era hora para suspirar de alívio. Sendo assim, o Rei Gazel decidiu aceitar o pedido da sua equipe disfarçada e pedir para que conduzissem uma investigação mais detalhada na área.

 

https://tsundoku.com.br

 

Passaram-se três meses.

Os líderes do reino estavam reunidos na sala de recepção do rei, esperando pelas suas palavras. Seja lá o que for que tivesse a dizer, marcaria a conclusão final dos últimos vários dias de debates e discussões, conduzidos sem muito intervalo para um descanso.

Por enquanto, pelo menos, todos os danos causados pela onda repentina de atividades de monstros na floresta foram surpreendentemente baixos. As coisas estavam estáveis em suas fronteiras, não dando pistas de que uma guerra tinha acontecido. Havia alguns monstros a mais ao redor do que nos dias de Veldora, talvez, mas não mais do que algo que poderia ser considerado um ano “agitado” para Jura. Dwargon esperava pelo menos o dobro de danos.

O slime, todos acreditavam, tinha um grande envolvimento nisso. Assim como o gigantesco exército de orcs que dominava e que desapareceu. E a presença de um nascido da magia de alto nível de origens misteriosas que era poderoso, e observador, o suficiente para perceber que o reino os observava.

E, então, de acordo com relatórios, aquela horda de duzentos mil se dispersando na floresta… pacificamente. Além disso, tinham evoluído para Orcs Superiores; uma situação muito além da compreensão de Gazel.

A cidade que o slime estava construído possuía uma grande população de hobgoblins, todos nascidos como goblins comuns, e Gazel sabia que a bola misteriosa de gelatina devia estar envolvida nessa súbita onda de evolução.

Não posso ignorar, pensou, enquanto relia o relatório. A Especial é uma coisa, mas isso poderia facilmente ser classificado como um S Especial…

Em outras palavras, outro perigo atingiu o âmago de Dwargon. Como rei, ele não poderia ficar sentado e esperar que algo acontecesse.

Níveis de perigo eram dados dependendo do nível de dano que poderiam ser gerados, como explicado a seguir:

S Especial: Também conhecido como nível Catástrofe. Poderia ser designado a alguns Lordes Demônios, assim como dragões e sua espécie, e refletia o tipo de ameaça que nenhuma nação sozinha poderia lidar. Seria necessário pedir cooperação internacional para dar uma chance de sobrevivência à raça humana.

S: Também conhecido como nível Desastre. Normalmente dado a Lordes Demônios. Pequenas nações não teriam chance contra uma ameaça dessas, e uma maior precisaria explorar todos os seus recursos para lidar com ela.

A Especial: Também conhecido como nível Calamidade. Uma ameaça que poderia derrubar o governo de uma nação, causada pela ação de nascidos da magia de alto nível e demônios.

A: Também conhecido como nível Risco. Uma ameaça que poderia potencialmente causar danos de larga escala a uma cidade ou região.

Essas eram apenas diretrizes gerais, mas tinham sido amplamente adotadas como uma maneira útil para referenciar a força de um monstro. E a equipe disfarçada de Gazel tinha dado A Especial para aquele grupo.

Um Lorde Orc por si só já era um A, nada a ser desprezado, mas também nada em que a equipe dos Cavaleiros Pégasos não poderia facilmente dar um jeito. Mas, se uma multidão de orcs de armadura e frenéticos adentrassem uma cidade, as casualidades seriam inimagináveis. Um reino pequeno seria engolido por inteiro.

Não havia como saber se, ou quando, a atenção da ameaça potencial poderia mudar de foco para Dwargon. Não era um problema que poderia ser resolvido apenas pela boa sorte. Além disso, um A Especial soava mais correto para o rei.

Mas, de alguma forma, esse nem era o problema. A verdadeira preocupação era aquela pessoa, ou presença, que parou tamanha ameaça. Uma que tinha vários nascidos da magia à sua disposição; criaturas poderosas o suficiente para descobrirem os espiões nível A do rei e sua magia de ocultação, e promulgava algum processo misterioso de evolução em todos os seus seguidores. A conclusão da equipe reunida na câmara do rei foi que a verdadeira natureza desta presença deveria ser revelada, e mais do que depressa.

Se cometermos um erro ao lidar com isso, pode significar o fim do reino.

E, assim, ele concluiu que precisava avaliar a situação com os próprios olhos.

A câmara estava tomada pelo silêncio. Todos lá dentro engoliram em seco, nervosos, esperando pelo discurso do rei. Gazel olhou para os rostos exaltados por um momento, então começou, sério:

— Sinto que devo me encontrar com o líder deles.

A declaração visivelmente abalou os outros na sala, mas ninguém falou. A palavra do rei era final, e eles sabiam que não havia como desafiá-la. Por outro lado, respostas surgiram de quatro pessoas entre eles.

— Permita-me acompanhá-lo, meu lorde.

— E eu também. Não posso permitir que arque com todo o fardo sozinho.

— Hee hee hee hee! Talvez dar uma voltinha depois de um tempinho seja bom, sim.

— Neste caso… permita que os Cavaleiros Pégasos garantam pessoalmente a sua segurança.

Eles eram, em ordem: Henrietta, o bonito cavaleiro assassino e líder da equipe disfarçada de Gazel; Vaughn, paladino almirante e maior oficial militar da nação; Jaine, arquimaga e uma velhota astuta; e Dolph, capitão dos Cavaleiros Pégasos e um oficial que reportava diretamente ao rei. Juntos, comandavam as mais poderosas forças militares de Dwargon, e seria a primeira vez que os quatro deixariam o reino juntos desde que Gazel foi coroado como Rei Heróico.

— Muito bem. Então permitam-me ir ver tudo isso… pessoalmente.

Com as palavras do rei, todo mundo na sala começou a agir.

Para que lado o pêndulo balançaria? Gazel queria evitar fazer inimigos desnecessários, mas se as intenções deles fossem malignas, então esta era uma erva daninha nociva que precisaria ser arrancada mais cedo ou mais tarde. Tais eram seus pensamentos… e, de qualquer forma, essa possível raiz do mal não poderia ser deixada de lado.

Com sua decisão tomada, o rei começou a agir.

 

https://tsundoku.com.br

 

Devo dizer, essa cidade está realmente começando a ficar boa. Muito melhor do que eu imaginei que seria.

Graças ao planejamento da cidade desde o zero, os prédios foram todos reorganizados de maneira ordenada. É legal ver meus esforços não sendo desperdiçados. Entretanto, tudo que fiz foi gritar para as pessoas fazerem o que eu queria.

Os lares estavam em fileiras tão bem organizadas, como peças em um tabuleiro de damas, que poderia ser complicado caso perdesse seus bens, mas sinto que isso não importava tanto.

Minhas principais preocupações eram coisas como banheiros, suprimentos de água, prevenção de pestes e equipamentos de banho. Sei que os padrões eram iguais aos do Japão, mas eu não tinha motivos para baixar minhas expectativas. Conhecia os níveis de civilização com os quais estava trabalhando, entre todas as raças de monstros, e eu tinha todo o direito de ignorar os seus padrões. Por isso planejei tudo da forma que queria, desde o começo.

Estava mais ou menos do jeito que imaginei que estaria, quando tivéssemos água e esgotos funcionando… Mas, sério, estava ainda mais perfeito do que planejei.

Basta ver os banheiros. No início, eu tinha um banheiro feito de madeira, o qual não funcionava, por isso pedi para que trocassem.

Um banheiro de madeira, diferente dos banheiros agachados que são vistos na Ásia, tornava a limpeza um pesadelo. Jogue o negócio lá dentro, e o cheiro nunca mais vai sair, acredite se quiser. Atrase um pouco a limpeza, e tudo começa a apodrecer. Não se deve deixar a limpeza no banheiro de “lado”, é claro, mas, mesmo assim, usar só madeira apresentava muitos problemas de durabilidade para ser aceitável. Aço ou metal era melhor… tínhamos poucos recursos, e gastá-los em luxos como esses estava destinado a ser visto de maneira torta.

Então decidi optar por um banheiro feito de algo próximo à porcelana que havia em minha memória. A boa e velha Comunicação de Pensamento me ajudou um monte nisso. Era capaz de usar isso em qualquer um que eu preferisse, o que fez a minha ideia ser entendida com muita facilidade. Conceitos muito complicados para serem repassados por palavras ou imagens poderiam ser “imaginados” em minha mente e transmitidos sem quaisquer problemas surgindo no caminho.

O resto deixei para nossos artesãos anões. Porcelana existia mesmo neste mundo, e uma boa quantidade de necessidades diárias era feita com ela, por isso o assento em si não era difícil de ser feito. Só tivemos que selecionar o tipo correto de solo da área local, então cozinhar em altas temperaturas com a fornalha que preparei. Foi um processo de tentativa e erro para eles, mas, quando acertaram em cheio na fórmula, o resto foi tranquilo. Recriaram rapidinho o tipo exato de banheiros com vaso que via pela Terra. Junte eles com os assentos de madeira que já fizemos e temos tudo pronto.

E, com isso, cada lar agora tinha um banheiro utilizável e um sistema de drenagem. Nunca deixo de me surpreender com o quão úteis esses anões são. Mas essa foi apenas a primeira surpresa.

Água corrente, por exemplo. Eu tinha um projeto na mente deles, a imagem de uma maçaneta sendo torcida para fazer sair água de uma torneira, e tinha feito de tudo para que conseguissem implementar aquilo. Falaram de mecanismos que usavam pedras mágicas altamente refinadas para coletar água da atmosfera, mas eram caras e grandes. Coisas dessas só estariam em uma vitrine que apenas os burgueses safados poderiam se dar ao luxo de ver.

Aliás, nem mesmo os anões tinham visto uma descarga de banheiro em ação. A ideia de usar pedras mágicas e outros equipamentos de ponto para algo daquele jeito devia parecer boba para eles. Casinhas eram a moda em Dwargon, e até mesmo isso era considerado o ápice da tecnologia de banheiro para os padrões de cultura deste mundo.

Ainda assim, o conceito de um sistema de transporte de água potável era claro o suficiente para eles, até mesmo quando transmitido pelos olhos de um “forasteiro” como eu. Então começaram o desenvolvimento disso… sem me avisar. Nunca pediram por aprovação de orçamento, por isso fui pego completamente desprevenido.

Parando para pensar, construir um novo sistema de água e esgoto do zero teria custado uma porrada de dinheiro. Não poderíamos simplesmente estalar os dedos e resolver isso porque parecia útil ou coisa do tipo. Eu esperava uma implementação gradual, talvez algo que levasse várias décadas. Mas o meu senso comum não se aplicava a esta cidade. Começamos com uma terra vazia. Afinal, eu era o líder. Poderia desenvolver esta cidade da forma que quisesse. Tínhamos colocado nossos projetos para o sistema de água na mesa; juntar o conhecimento dos anões para instalar a encanação e afins foi moleza.

Entretanto, não foi perfeito. Fornecer uma pressão constante de água, como no meu mundo, foi um problema complicado. Foi por isso que tomamos vantagem da gravidade, como torres de água em telhados vistos em arranha-céus. Não tínhamos bombas de pressão, por isso essas caixas d’água precisariam ser reabastecidas manualmente. Isso, por sorte, não era problema para um monstro. Se tivesse um Estômago como o meu, ou Armazenamento Espacial como outros, o transporte jamais seria um problema.

Porém, essas estruturas ultramodernas eram restritas apenas aos edifícios que tínhamos no centro da cidade. A família de monstros comuns ainda precisaria puxar água de um poço. Tínhamos caixas d’água menores posicionadas perto de cada banheiro residencial e instalações movidas a água, bastava enchê-las e tudo ficaria certo. Um especialista tinha que dar uma passada uma vez por semana, mais ou menos, para purificar as caixas em cada casa, mas, apesar dos pesares, as coisas estavam funcionando como eu imaginava.

Eu tinha que dar o crédito a Kaijin e Mildo. No começo pensei que fossem apenas uns cabeções de bigorna. Acho que nunca se sabe de fato até perguntar. Nosso sistema de água seria uma enorme dor de cabeça, pensei uma vez, mas acabou ficando pronto em tempo recorde.

Depois disso, precisávamos fazer os monstros terem os hábitos de manter as áreas ao redor da água sempre limpas, assim como lavarem as mãos e limparem a boca. Eu não tinha ideia se germes poderiam sobreviver muito tempo neles; posso estar desperdiçando nosso tempo com isso. Mas era só por precaução.

Kaijin me disse que a maioria dos aventureiros rapidamente contratava alguém que sabia a habilidade “Limpeza de Purificação”, permitindo que purificassem os itens ou pessoas nas proximidades, ou aprendiam por conta própria. Higiene era a maior prioridade entre eles, tanto que falhar nisso fazia com que fosse impossível começar uma missão. Jornadas longas acabavam gerando sujeira aqui e ali, suponho, e por isso recorriam à magia. Não consigo imaginar isso tendo mais do que um efeito placebo, entretanto. Até mesmo os goblins conhecem a Limpeza de Purificação, por isso pensei que fosse fácil assumir que monstros podiam pegar doenças.

E aí está. Realizamos muitos sonhos com os banheiros de descarga, e, contanto que a residência tivesse uma caixa d’água cheia, poderia girar uma válvula e tirar água da torneira. Éramos de fato uma cidade de cultura, mesmo que essa seja uma combinação ruim para o resto do mundo.

O próximo problema que tínhamos em mãos eram os insetos.

Estávamos em uma floresta, e havia muitos deles. Precisávamos estar vestidos, ou então todas as picadas seriam incrivelmente dolorosas. Não me incomodava, mas os hobgoblins pareciam bastante incomodados.

Uma preocupação maior eram insetos que podiam carregar doenças. Não importava quão higiênicos fôssemos, não faria diferença alguma se algum vírus estivesse literalmente voando entre nós. Manter tudo limpo, é claro, mantinha os insetos longe. No entanto, não tinha muito que pudéssemos fazer contra nossos visitantes da floresta.

Era por isso que tínhamos um problema em mãos, e a minha primeira ideia foi telas mosquiteiro. As residências nesta cidade eram estruturas de madeira ao estilo japonês, feitas de material natural, e precisávamos de uma forma de fazer com que os insetos não passassem pelas frestas.

Usamos seda de aranha processada para criar as telas. O resultado não só manteve os insetos longe, como a seda até mesmo forneceu um pequeno sistema antirroubo, repelindo monstros de baixo nível. Um efeito colateral inesperado, mas deveras agradável.

Dizia-se que cidades humanas usavam uma barreira mágica, ou algo do tipo, para repelir os insetos… uma por cidade. Construir uma por residência seria inviável no quesito financeiro, e os donos das residências não teriam fundos o suficiente para mantê-las funcionando. Além disso, ter um sistema contra invasão de residências em cada casa da cidade certamente não era o jeito correto de fazer as coisas neste mundo. Mas, bem, eu não ligava.

Por fim, precisávamos de banho… algo que completa uma civilização.

Para nossa casa, no centro da cidade, tínhamos uma casa de banho com água vinda de uma fonte termal vulcânica muito distante e que eu poderia usar quando quisesse. Soei e eu usamos o Movimento das Sombras para instalar toda a encanação necessária. Movimento das Sombras servia para manter a temperatura original da água de onde era transportada, por isso eu sempre tinha um banho de água quente garantido saído direto da fonte.

Deixei o design da casa de banho para os anões, e eles criaram uma maravilhosa peça de mármore. Toda a instalação poderia abrigar cerca de dez pessoas, e, sério mesmo, não tinha como ser mais luxuosa e confortável. Um trabalho mais do que satisfatório, pensei, para alguém como eu, trabalhando duro como o chefão por aqui. A casa de banho era dividida em seções masculina e feminina, permitindo que qualquer um usasse quando bem entendesse, sem precisar se preocupar com outras pessoas; outra vantagem. Alguns dos monstros eram ignorantes para essas coisas, pelo que parecia, mas era isso que dava não usar um pouco o cérebro.

Então eu tinha o banho ideal na nossa sede principal, mas isso não resolvia o maior problema. Seria fácil instalar áreas de banho em cada uma das residências, mas prover água quente através de canos já era outros quinhentos. Mesmo que quiséssemos dividir a encanação da fonte termal, o truque do Movimento das Sombras envolvido acabaria deixando de ser útil. Estaríamos construindo mais residências de agora em diante, sem dúvidas, e não era realístico pensar que Soei e eu estaríamos instalando banhos em todas. Também nem precisava dizer que, lá no fundo, seria um baita pé no saco.

Se o ato de tomar banho ficasse mais popular e as pessoas começassem a querer água quente em seus lares, suponho que poderiam aprender Movimento das Sombras. Que seja um problema deles, não meu.

Por isso tinha desistido da ideia, mas ainda tinha que admitir: os inversos seriam complicados. Precisava pensar em uma maneira de fornecer algum tipo de água quente.

Parte da minha motivação para isso vinha da montanha de problemas que enfrentávamos. Os goblins não tinham tanta oportunidade para aproveitar o fogo em suas vidas. Se usassem para algo, seria para assar carne. Agora, com todos esses orcs superiores em nossa equipe, isso estava sendo vital.

Por enquanto, tínhamos uma quantidade suficiente de restos de madeira e afins para usar. Entretanto, não duraria para sempre. Cortar árvores na floresta e transformar os troncos em lenha daria um trabalho gigantesco. Só não tínhamos tempo para pensar em assegurar uma fonte estável de combustível, e aplicar qualquer tipo de plano prático precisaria de mais investigação. Neste meio-tempo, porém, não poderia deixar que as pessoas queimassem o que bem entendessem.

Justo quando pensava que era hora de fazer alguma coisa, Dold, o irmão do meio entre os três anões irmãos, fez uma sugestão. Ele havia se devotado a produzir tinturas e acessórios, mas, quando quase toda a cidade já estava bem equipada, acabou ficando com um pouco de tempo livre em mãos. Foi por isso que pedi para fazer algumas ferramentas usando a magia de inscrição que ele conhecia.

Essas normalmente eram conhecidas como ferramentas mágicas, e, diferente da maioria dos itens mágicos e seus preços absurdos, eram feitas para uso em geral. As ferramentas mágicas usavam pedras mágicas, as quais eram extraídas e processadas a partir de cristais mágicos removidos de núcleos de monstros. Pedras mágicas eram, em sua maioria, criadas por humanos, que usavam engenharia de espírito para produzi-las; elas também existiam na natureza, mas eram bastante raras.

Um cristal mágico puro o suficiente era, de acordo com Dold, uma matéria-prima muito mais efetiva para a criação de uma ferramenta mágica do que pedras mágicas comuns, mas um monstro, para oferecer um nível de pureza desses, teria que ser de nível A ou acima.

Como ele disse, não havia muitas maneiras de se obter pedras mágicas, para começo de conversa. A produção delas necessitava de uma área de trabalho de grande escala, e apenas uma delas já tinha sido construída, no centro da sede principal da Guilda Livre. Filiais da guilda pegavam cristais mágicos colhidos em raras ocasiões de monstros e as mandavam para o escritório principal, o qual, por sua vez, fazia os pagamentos em troca. Esse era o esquema. Isso significava que aventureiros também enfrentavam monstros por motivos comerciais, não apenas pela segurança dos outros.

Foi isso que os anões me falaram, e parecia deveras eficiente, sério mesmo. Tentei ir direto ao ponto.

— Então não acha que podemos construir uma oficina dessas aqui?

— Ooh, não, não, chefe, isso já é pedir demais…

É exagero mesmo. Teremos que comprar pedras mágicas com o bom e velho dinheiro, então?

Entendido. Não seria problema aproveitar diretamente a energia do núcleo de um monstro. Pelo uso de certas revisões em métodos de gravura…

O Grande Sábio de repente sugeriu uma ideia surpreendente.

Não era um problema? Hm. Eu tinha minhas dúvidas, mas mesmo assim falei a Dold. Também com suas dúvidas, ele começou a criar uma ferramenta.

— Só mudar a gravura aqui?

— Pois é. Parece que é só isso.

— “Parece”, chefe…?

— Hahaha! Não se preocupe. Vai dar tudo certo!

Tentei rir para acabar com as preocupações de Dold enquanto ele criava um chuveiro e aplicava uma gravura em sua haste. Segurá-la ativaria uma resposta mágica que aqueceria a água que passava por ele. Usaria a magia do corpo do usuário, mas não mais do que seria usada para outros feitiços na casa. Com apenas um pouco de magia, qualquer um poderia usar, e isso valia ainda mais para os monstros.

Era uma ferramenta mágica inovadora, e, com pouco esforço, também poderia usar para criar um banho quente sempre que quisesse. Com a gravura de ajuste correto de temperatura na banheira, só precisava encher de água, aplicar magia por um tempinho e boom, estaria aquecida a uma temperatura agradável.

Por ironia, o próprio criador era o que estava mais chocado.

— Uou, é sério isso? Tipo, um equipamento igual a esse instalado em todas as residências? Não acho que vá encontrar outra cidade como essa, chefe…

Claramente, entretanto, essa invenção estimulou a criatividade de Dold. Ele estava curioso sobre o que mais poderia pesquisar, e, ao longo do caminho, poderíamos criar um ambiente que usava uma fonte infinita de magículas para garantir que nunca ficássemos sem combustível. Apenas uma cidade de monstros poderia criar algo do tipo, e logo teríamos uma pilha de ferramentas mágicas que não precisavam de mágicas em mãos. Tenho certeza de que ele vai desenvolver uma pancada de outras coisas úteis para nós rapidinho.

Então, basicamente, todas as minhas maiores pendências foram resolvidas.

 


 

Tradução: Taiyo

Revisão: ZhX

 

💖 Agradecimentos 💖

Agradecemos a todos que leram diretamente aqui no site da Tsun e em especial nossos apoiadores:

🌟 Decio
🌟 Exon
🌟 Nyan
🌟 Leonardo
🌟 Kovacevic
🌟 Another
🌟 Rafa
🌟 Tat
🌟 Raphael Conchal
🌟 Lyo
🌟 Morningstar
🌟 Bamu
🌟 Gabriel Felipe
🌟 Thiago Klinger

📃 Outras Informações 📃

Apoie a scan para que ela continue lançando conteúdo, comente, divulgue, acesse e leia as obras diretamente em nosso site.

Acessem nosso Discord, receberemos vocês de braços abertos.

Que tal conhecer um pouco mais da staff da Tsun? Clique aqui e tenha acesso às informações da equipe!

 

 

Tags: read novel Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 01.1 – O Nome de uma Nação, novel Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 01.1 – O Nome de uma Nação, read Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 01.1 – O Nome de uma Nação online, Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 01.1 – O Nome de uma Nação chapter, Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 01.1 – O Nome de uma Nação high quality, Sobre Quando Reencarnei Como um Slime – Vol. 03 – Cap. 01.1 – O Nome de uma Nação light novel, ,

Comentários

Vol. 03 – Cap. 01.1