Era uma câmara ampla e maravilhosamente projetada, o chão coberto por um tapete luxuriante que uma equipe de artesãos deve ter levado vários anos para tecer.
A mesa de centro tinha madeira esculpida de uma árvore perfumada, proporcionando um cheiro agradável de madeira. Era grande, redonda e podia acomodar confortavelmente uma dúzia ou mais. Entretanto, apesar do tamanho da câmara, apenas três cadeiras foram colocadas ao redor dela. Eram o pináculo do luxo, é claro, o tipo de coisa que até a nobreza de mais alto nível teria dificuldades para conseguir.
Uma parede exibia um mural de uma cena fantástica, mas era realmente um mural? A arte elegante e deliberada para as criaturas de outro mundo quase fazia parecer que se mexiam levemente em suas poses de vez em quando. Era como se pudessem pular da parede e se manifestar neste mundo a qualquer momento. O que fazia sentido, pois era tudo obra de Bismarck, um dos grandes artistas dos reinos controlados por Lordes Demônios. Ele se especializou na criação dos tais Artefatos, obras-primas visuais tão realistas que era como se seu pincel literalmente prendesse essas feras míticas em um estado vivo na parede.
Vender até mesmo um dos itens que adornavam esta câmara permitiria que fosse possível viver como a nobreza por mais ou menos uma década. Tal era a qualidade de cada obra, o suficiente para oprimir qualquer um que entrasse na câmara. Mas, mesmo assim, o tipo de pessoa que visitaria este lugar conhecia o poder do dinheiro. Tinha o suficiente para comprar qualquer arma mágica de alto nível que quisesse ou contratar os melhores mercenários do planeta. Deleitava-se com os bens que possuía, e uma sala como essa tinha menos intenção de impressionar e mais de roubar do visitante qualquer desejo de resistir à vontade de seu anfitrião.
Esse era o papel desta câmara, mas os convidados que se reuniriam naquele lugar em alguns instantes não eram do tipo que se incomodavam com tais demonstrações públicas de riqueza.
Esta sala era propriedade de um homem bonito. Ele era magro, esguio e seus olhos exalavam inteligência, mesmo quando sugeriam que estivesse bastante agitado. Mesmo assim, o Lorde Demônio Clayman tinha a força de vontade de fazer quase qualquer um seguir suas ordens.
Seus olhos deslizaram pela sala antes de dar um aceno de cabeça satisfeito e se sentar em uma das cadeiras fornecidas. Havia uma máscara na mesa com um sorriso moldado nela; ele a pegou, passou a mão carinhosamente e a colocou com cuidado em um dos bolsos. Cada movimento traía a abordagem metódica que adotara em todos os aspectos de sua vida.
Ele sabia que seus convidados chegariam em breve. Lordes Demônios, com o mesmo título que ele. E o objetivo de Clayman era controlar essas criaturas obstinadas e teimosas, mostrando-lhes diversão o suficiente para mantê-las sob seu controle total. Ele havia escolhido um terno branco de aparência ostentosa para a ocasião, e estava verificando as horas em seu relógio de bolso.
Ao pensar que a hora marcada se aproximava, percebeu, de repente, que alguém ocupava outro assento.
— Ei, Clayman, como anda Gelmund?
Ele estava com as pernas cruzadas enquanto calmamente inclinava seu corpo grande e musculoso para trás em seu assento e chamava Clayman de maneira casual. Mas cada movimento seu era tão flexível e elegante quanto os de Clayman. Este não era um idiota feito apenas de músculos; ele exalava um ar de herói militar experiente. Sua própria roupa formal estava obviamente um pouco gasta, mas não o fazia parecer sujo, de forma alguma. Na realidade, enfatizava seu lado selvagem, criando uma atmosfera que fazia a pessoa hesitar um pouco antes de chegar perto dele.
Sua maneira de falar pouco refinada parecia não ser adequada, mas só servia para tornar o homem ainda mais charmoso. Seu cabelo loiro curto e bem cuidado, entretanto, combinava perfeitamente com os contornos masculinos de seu rosto. Seus olhos afiados de falcão estavam fixados em Clayman.
Ele estava intensamente focado, talvez por desconfiar de seu companheiro Lorde Demônio.
— Carillon? — perguntou Clayman. — Chegou cedo, hein? Eu estava planejando conversar com você hoje, na realidade. Mas certamente não esperava que você chegasse primeiro.
O homem chamado Carillon deu de ombros.
— Não há necessidade desse tratamento. Tenho certeza que nossa mocinha está ocupada com seus próprios preparativos — disse ele com um sorriso malicioso.
Carillon era, de fato, um Lorde Demônio, talvez mais frequentemente referido como o Mestre das Feras, pelo fato de ser rei e líder da raça licantropa.
— Heh. “Moça”, agora, não é? Hmm… Sim, talvez. Ah, mas é melhor não falarmos mais dela por enquanto. Afinal…
— Ela é bastante sensível às pessoas falando mal dela, de fato.
Os dois se entreolharam, trocando uma leve risada. Assim que pararam, a porta da câmara foi aberta de repente. Uma jovem estava lá, olhando a sala por um momento antes de perceber que apenas Clayman e Carillon estavam lá.
— Vocês estavam espalhando boatos sobre mim agora há pouco?
Ela era jovem, muito jovem, algo estranho para alguém participando de uma cúpula como esta. Quatorze ou quinze anos, talvez, e, embora as aparências muitas vezes enganavam pessoas nascidas da magia como ela, parecia terrivelmente estranha ali.
Havia uma braçadeira em seu ombro direito, com a forma de uma garra de dragão. Mas não exatamente “nela”; estava, na realidade, flutuando no ar, deixando uma pequena lacuna entre ela e seu corpo. O referido corpo estava, em sua maior parte, mal vestido, apenas uma tanga e um par de roupas íntimas feitas de tecido fino, junto com uma peça no peito para cobrir a mais tênue sugestão de um par de seios ainda em desenvolvimento. Quer fosse para facilitar os movimentos ou alguma outra finalidade, deixava a pele exposta, tanto quanto um biquíni típico.
Seus olhos grandes e obstinados brilhavam de azul, revelando até mesmo um pouco da juventude imatura que restava nela. A força neles provava aos outros dois que esta não era uma mulher com quem se brincar. Seu cabelo rosa platinado estava preso em duas marias-chiquinhas de cada lado da cabeça, e havia um sorriso ousado e dominante em seu rosto. Projetando seu tórax modesto para frente, ela olhou para os Lordes Demônios com os quais compartilhava a câmara.
— E aí, Milim! — disse Carillon com uma gargalhada. — Não, nada de rumores. Você geralmente é tão pontual com essas coisas, só isso. Estávamos muito preocupados com você!
— Exatamente, Milim — acrescentou Clayman enquanto elegantemente levava uma xícara de chá aos lábios. — Claro, eu nunca me preocuparia com você.
Ambos estavam acostumados com ela, o suficiente para saber que era inútil inventar desculpas. Isso só iria irritá-la ainda mais. Em vez disso, se esforçaram para relaxar sua abordagem, garantindo que não a cutucassem mais. Os dois compartilhavam uma leve sensação de nervosismo um com o outro por causa dela, e nervosismo era a palavra correta.
Havia uma razão para isso: apesar de sua aparência, Milim era poderosa. Esta doce e jovem Lorde Demônio, Milim Nava, era da raça dragonoide; aquela que tinha o simples, mas efetivo, apelido de Destruidora.
Com uma fungada irritada, ela deu a Carillon e a Clayman uma encarada de nojo.
— Bem, que seja — murmurou quando nenhum dos dois reagiu. No momento seguinte, enquanto entrava na câmara, outra pessoa estava logo atrás. Uma harpia, a qual tinha grandes asas de águia.
— Ora, ora, Milim — advertiu Clayman, as sobrancelhas arqueadas para baixo. — Acredito que deixei claro que ninguém além dos Lordes Demônios são permitidos aqui. Lamento, mas não posso permitir que seu assistente a acompanhe aqui dentro. Mesmo para você, existem certas regras que devem ser…
— É bom ver você de novo, Clayman. — Soou a resposta desanimada. — Não sou atendente da Milim. Não estou aqui porque quero, mas se é um Lorde Demônio que deseja, então é um Lorde Demônio que terá.
A harpia permaneceu firme, nem um pouco intimidada pelos seres poderosos diante dela. Ela parecia uma mulher graciosa, mas qualquer pessoa perto dela perceberia, imediatamente, a aura substancial que exalava o tempo todo.
Afinal, ela própria era um Lorde Demônio.
— Uou, o que está fazendo aqui, Frey?
Frey, a Rainha do Céu, governante da raça das harpias. Assim como Clayman, Carillon e Milim, ela era um dos pilares de força que sustentava o mundo inteiro em que viviam.
— Olá, Carillon. E, sim, você está certo. Recusei o convite porque estava ocupada, mas a Milim… bem, você sabe…
— Ha ha ha ha! Oh, qual é o grande problema? Ela estava agindo toda mal-humorada e chateada sobre algo, então eu a trouxe para desabafar. Não vê problema nisso, não é, Clayman?
— Não, se for esse o caso…
Esta era a Milim que Clayman conhecia: eternamente forçando seus próprios desejos sobre outras pessoas. Mas não havia razão para desafiá-la abertamente. Na verdade, o lado otimista dele viu isso como algo a ser admirado. Depois de contar a todos sobre como seus esforços com Gelmud foram um fracasso completo, ele teve certeza de que Milim de repente ficaria um pouco menos alegre. Frey deveria ajudar a suavizar as coisas um pouco depois que ele tivesse que soltar a bomba.
Então Clayman começou a planejar uma nova estratégia.
— Então? Podemos colocar outra cadeira para Frey, por favor?
Clayman acenou com a cabeça para a ordem de Milim. Com um movimento de um dedo, uma cadeira se materializou onde não havia nenhuma antes, uma combinação perfeita para o ambiente, como se sempre tivesse estado lá e todos simplesmente não notassem. Milim e Frey tomaram seus assentos, não sentindo nada de incomum nisso.
Havia quatro Lordes Demônios reunidos ao redor da mesa. Agora era a hora de Clayman, o próprio Mestre das Marionetes, flexionar um pouco os músculos. Ele tinha o dom de controlar as pessoas, obrigando-as a fazer o que bem entendesse, e agora havia o traço de um sorriso em seu rosto quando começou a falar.
A cúpula do Lorde Demônio havia começado.
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Clayman optou por começar com um resumo simples e franco dos eventos. Gelmud estava morto, assassinado por uma pessoa qualquer, e seu plano falhou.
— Aquele maldito queria que as coisas fossem rápidas demais para sua própria segurança, hein? — comentou Carillon. — Mesmo que Veldora tenha partido, havia alguma necessidade de mover esta operação mesmo?
— Você pode dizer isso, Carillon, mas o caos estava fadado a acontecer mais cedo ou mais tarde com Veldora, o governante supremo da floresta, fora de cena. Se uma nova muda promissora estivesse destinada a ser arrancada do solo, não seria muito mais satisfatório para todos nós se fossemos nós que controlássemos este destino?
Isso fazia sentido para o homem grande. Com todas as raças influentes variadas chamando a floresta de lar, nunca houve qualquer garantia de que seus próprios peões ganhariam a disputa. Eles também sabiam que cultivar ativamente um Lorde Orc lhes dava a maior possibilidade de vitória.
Outro entre eles, porém, tinha mais dúvidas.
— O quê?! Então, o que aconteceu com a transformação do Lorde Orc em Lorde Demônio?
— O que estou dizendo, Milim, é que voltamos à estaca zero aqui. Gelmud era necessário para controlar o Lorde Orc, e agora ele está morto.
Doía demais em Clayman ter que abandonar essa estratégia. Mas enquanto ninguém percebesse a conexão entre ele e Gelmud, nunca mais precisaria tocar no assunto. Nesse ponto, a ideia de traçar um novo plano para lidar com o Lorde Orc ou com os nascidos da magia, os que tivessem sobrevivido, parecia muito mais interessante para ele. E se pudesse interessar aos outros Lordes Demônios, poderia usar isso para adicionar outra carta efetiva ou duas à sua mão.
Carillon ficou sentado em silêncio, olhos fechados, enquanto ouvia. Ele devia ter suas opiniões, Clayman sabia, mas aparentemente estava pronto para ouvir a história inteira antes de fazer um julgamento final. Ele era muito mais cuidadoso com esses assuntos do que a temperamental Milim.
E acabava sendo muito mais prudente.
— Mas isso é tão chato! E eu achando que teria um brinquedinho novo. E lembra de toda aquela exibição que aquele vagabundo do Gelmud nos deu uma vez? Pena que acabou se revelando um belo idiota, não é?!
— Ora, ora, Milim, não há necessidade de tanta raiva. Clayman ainda não terminou sua história. Por que não esperar até lá antes de gritar com ele?
Exatamente como Clayman esperava, a triste notícia foi o suficiente para fazer Milim sentir raiva dele. Ele esperava despender um grande esforço em acalmá-la deste momento em diante, mas Frey parecia estar fazendo um bom trabalho. Foi um alívio.
Graças aos céus, ela trouxe Frey junto, pensou ele, mantendo um sorriso alegre o tempo todo. E realmente estava feliz por isso. Como seu apelido de Destruidora indicava, uma vez que Milim começava uma violenta farra, não havia como contê-la. Seria necessário que Clayman gastasse todas as suas energias em resposta, e, nesse ponto, qualquer sonho que tivesse de manipular estes Lordes Demônios sem lutar estaria perdido. O comportamento de Milim era fácil de prever, pelo menos, o que significava que poderia conduzi-la. Mas, para Clayman, ela era uma faca de dois gumes. Conduza-a na direção errada, e ele sabia que enfrentaria o impacto das consequências.
Pelo menos Milim trazendo seu próprio tranquilizante na forma de Frey deveria deixar as coisas muito mais fáceis para ele. Além disso, ela não apenas não tinha como meter o dedo, ou a asa, nesta operação, mas parecia não ter nenhum interesse nisso. Essa era a chave. Qualquer outro Lorde Demônio teria exigido um resumo detalhado do plano, do início ao fim. Frey, por sua vez, era muito mais cooperativa.
— Milim — disse Clayman — Acho que a Frey está certa. Dê uma olhada primeiro.
Ele tirou quatro cristais esféricos, uma luz misteriosa queimando em seus olhos. Seus lábios se curvaram em um sorriso, antecipando como isso surpreenderia seus companheiros Lordes Demônios. Em seguida, projetou imagens em todas as quatro esferas, observando suas reações cuidadosamente enquanto o fazia. Assim como imaginava, todos ficaram fascinados com o que viram. O cristal final, em particular, mostrando a perspectiva de Gelmud, capturou sua atenção completa.
— Muito impressionante, Gelmud, deixando essas bugigangas chiques para nós! — gritou Milim, feliz, a voz ressoando através da sala. As imagens não deixaram pistas sobre o destino final do Lorde Orc, mas a maneira como se cortaram repentinamente indicou a todos que Gelmud havia sumido.
— Muito bem. Então isso significa que Gelmud ferrou com tudo e foi morto, certo? Exatamente como disse. Mas não nos contou sobre esses nascidos da magia de propósito, não é?
Clayman acenou com a cabeça para a observação de Carillon.
— Fascinante, não acha? E, com Gelmud morto, não há como saber o que pode vir depois. Mas com todos esses membros de alto nível das raças nascidas da magia em um só lugar, acho que é seguro dizer que o Lorde Orc também encontrou alguém do seu calibre. Entretanto…
— Entretanto — interrompeu Frey —, se sobreviveu, evoluiu por completo para um Lorde Demônio, certo?
Ela havia tirado as palavras de sua boca. Clayman sabia que ela não poderia saber sobre o plano, mas era inteligente o suficiente para adivinhar a maior parte dele.
Muito bem, Frey… Devo ter cuidado com você, ao contrário desses dois guerreiros simplórios.
Ele olhou Frey cuidadosamente, semicerrando os olhos um pouco. Ela parecia distante, não afetada, mas estava olhando para uma esfera de cristal, como se refletisse sobre algo. Ele não sabia o que se passava em sua mente, mas estava claro que ela não estava mais irritada por Milim forçá-la a ir junto.
Isso é uma ameaça…, mas Frey parece ter seus próprios problemas a considerar. Um momento atrás ela agiu sem interesse algum, mas agora…
Agora Frey estava começando a interessá-lo. Quanto às posições deles, Clayman estava certo, ela era mais uma líder tática do que uma lutadora no campo de batalha. Controlá-la não seria nada simples. Ela era muito inteligente para ser enganada com tanta facilidade. Mas se alguma coisa que a incomodasse pudesse ser usada para explorar alguma fraqueza… Um plano novo e sinistro se desenrolava silenciosamente no fundo de sua mente.
— Certo, então… e agora? Você quer que um de nós desça e dê uma olhada?
— Ha ha ha ha! O primeiro que chegar, leva, é isso?
— O primeiro a chegar leva o quê, Milim? — interrompeu Clayman. Descobrir o que fazer com os nascidos da magia tinha que estar em primeiro lugar. Ele voltou seus pensamentos para outro lugar. — Duvido que você ficaria satisfeita simplesmente observando a cena, hmm? Pessoal, acalmem-se por um momento. Estamos lidando com a Floresta de Jura, uma região estritamente proibida.
— Oh? Qual é o problema? Não é como se estivéssemos realmente fazendo algo lá. Você só quer ir para lá e explorar qualquer nascido da magia que pareça decente o suficiente para se juntar ao nosso time, não é? Mas vai saber que tipo de acidentes podem cair sobre quem recusar. Ha ha ha!
— Não há como começar com isso, Carillon. Se o que ouvi de todos vocês é verdade, o objetivo era criar um novo Lorde Demônio que pudesse ser usado como um peão fiel, correto? E se falhou uma vez, por que não reconhece um daqueles nascidos da magia como um Lorde Demônio e o obriga a nos servir?
— Uau, Frey! Você já desvendou todo o nosso esquema!
Ela havia desmistificado o âmago do plano de Clayman e seus companheiros: dar à luz a um Lorde Demônio que fosse uma marionete em suas mãos. E Milim simplesmente disse na lata. Agora Frey pensaria que ela estava certa, e não tinha problema. Ainda estava dentro do que Clayman esperava. Se Frey era parte da cúpula deste dia, ele já havia presumido que isso aconteceria. Não adiantava esconder as coisas caso Milim fosse totalmente incapaz de subterfúgios.
— Mas precisamos investigar, sim. — Arriscou-se. — Sem falar por Carillon, mas não há garantia de que eles serão cooperativos conosco. Se o Lorde Orc venceu mesmo, no entanto, ele pode estar furiosamente fora de controle agora que seu pai, Gelmud, se foi.
Ele queria evitar que os outros Lordes Demônios fossem para lá antes que ele estivesse pronto. Agora, os assistia meditar sobre isso.
Uma investigação parecia ser necessária. Fosse o Lorde Orc ou o outro nascido da magia, o lado que ganhou a batalha agora seria mais poderoso do que nunca. Seria bom se os Lordes Demônios pudessem fazê-lo jurar fidelidade, mas perder qualquer chance com algum gesto desagradável estava fora de questão.
Eles precisavam assumir que, pelo menos, algo no nível de força de um Sub-Lorde Demônio havia nascido. Se precisassem configurar o conselho de forma que tivessem a garantia de dominá-lo, isso seria uma tarefa difícil até mesmo para eles. Isso lhes daria uma vantagem sobre os outros governantes demoníacos da terra, mas também tinham que considerar as consequências substanciais se não desse certo. E se quem quer que tenha sobrevivido à luta decidisse se chamar de “Lorde Demônio”, não haveria escolha a não ser desistir e punir aquela insolência. Mas não era hora para isso.
Os quatro Lordes Demônios se entreolharam, tentando ler a mente um do outro.
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Carillon, o Mestre das Feras, tinha um bom pressentimento sobre isso.
Ele passou vários séculos governando a raça licantropa, travando várias batalhas importantes que foram bem o suficiente para que ele expandisse sua influência. Esse desempenho lhe rendeu o endosso do falecido Lorde Amaldiçoado e da Lorde Demônio Milim, garantindo sua própria promoção ao posto de Lorde Demônio. Leon, aquele que derrotou o tal Lorde Amaldiçoado, certamente tinha algumas objeções sobre isso, mas parecia não ter raiva nem repulsa em relação à nomeação. A sobrevivência do mais apto era a única regra rígida ali. E tinha acabado de ser aplicada mais uma vez. Leon não tinha o direito de protestar.
Além disso, ele era mais do que forte o suficiente. Mesmo depois de chegar ao seu cargo atual, nunca deixou de aprimorar suas habilidades. Carillon sabia que Leon também tinha vários novos e poderosos aliados ao seu lado. Mesmo como um recém-chegado a este escalão, não havia como subestimar o que este Lorde Demônio relativamente recente poderia fazer.
Carillon gostava do poder e de pessoas poderosas. Foi por isso que aceitou Leon tão prontamente. Mas não significa que ficou de braços cruzados enquanto Leon acumulava mais e mais força. Como um Lorde Demônio, ele se sentia na obrigação de reter um amplo suprimento para si mesmo. O suficiente para que não tivesse que se submeter a mais ninguém. O suficiente para proteger o reino que controlava e esmagar qualquer um que ousasse se opor a ele.
Isso era menos sobre Carillon estar nervoso com sua posição e mais sobre seguir seus instintos naturais para aumentar sua força. O resultado era o mesmo. Isso o tornava uma força a ser reconhecida. Alguém que buscava constantemente obter mais força, nunca satisfeito com o que tinha. E, agora, Carillon tinha uma oferta muito atraente lançada diante dele.
Ele havia aceitado o convite de Clayman para o encontro, imaginando que seria uma boa maneira de matar o tempo. Três Lordes Demônios trabalhando em conluio podiam certificar um novo Lorde Demônio a qualquer hora que quisessem, e se este novo Lorde estivesse disposto a cumprir todas as suas ordens, isso lhes concederia uma vantagem decisiva sobre qualquer outro.
Então Carillon estava mais do que disposto a seguir a orientação de Clayman. Havia várias razões para isso, mas a principal era a ausência de qualquer regra afirmando que os Lordes Demônios precisavam ser amigos. Sempre havia disputas entre eles, e todos sabiam que a de Clayman e Leon era particularmente profunda. Era fato que com frequência tramavam para ir um contra o outro, tomando o cuidado de não deixar nenhuma evidência para trás. Seus rostos públicos eram uma coisa, mas, sob a superfície, estavam constantemente tentando verificar os movimentos um do outro.
Assim, Carillon tinha certeza, não havia necessidade de se preocupar com Clayman se tornando um traidor. Se podia confiar nele já eram outros quinhentos, mas em termos de usar um ao outro para o bem comum, achava que tinham uma troca justa. Clayman não era burro o suficiente para colocar as mãos em um Lorde Demônio cooperativo, e o mesmo poderia ser dito de Carillon.
E quanto aos outros dois na câmara? Carillon não viu muito com que se preocupar. Frey, rainha das harpias, provavelmente não estava interessada. Ela teve que ser arrastada até o encontro por Milim, e nem fazia parte desse plano, desde o início.
Além disso, as harpias eram especiais. A sociedade delas era completamente classista, com criaturas aladas no topo e todas as demais abaixo. Não importa o quão poderoso um nascido da magia de nível superior pudesse ser, se não tivesse asas, não poderia esperar um tratamento preferencial por lá.
Parecia que havia uma figura alada entre os nascidos da magia nos cristais…, mas Carillon não achava que isso seria o suficiente para fazer Frey agir. Além disso, pensou ele, se for apenas um, Frey pode ficar com ele. Supondo que ainda esteja vivo. Havia outros na fila, outros nascidos da magia para atrair. Eles não sabiam o que tinha acontecido com o Lorde Orc, mas Carillon tinha certeza de que ele perdeu. Droga, se Frey quisesse um daqueles caras, poderia pegar.
Só sobrava Milim. Carillon pensou sobre isso por um momento. Em termos de interesses pessoais, Clayman provavelmente pensava nela como um inimigo, mas e quanto a Milim? Ela tinha um pavio curto e era quase possível prever o que se passava em sua mente, mas era tão astuta quanto qualquer outro Lorde Demônio. Mas mais do que isso, sempre foi fiel aos seus próprios desejos. Deixava que suas emoções a carregassem, tomando decisões praticamente por capricho. De certa forma, era difícil prever seu próximo movimento.
Carillon devia a ela, talvez, por recomendá-lo ao posto de Lorde Demônio. Mas, pensou ele enquanto olhava para ela, não sei. Simplesmente não consigo compreendê-la.
Milim parecia explodir de confiança, olhando com admiração absoluta para uma das esferas de cristal. Ela era, sem dúvida, o Lorde Demônio mais interessado nesta história. Aparentemente, foi o Gelmud nascido da magia que abordou Clayman com a ideia de criar um novo Lorde Demônio. Carillon não sabia se isso era verdade, mas não importava, de qualquer maneira.
Basicamente, se algo atiçasse sua curiosidade, ele se jogava, e era provável que Milim fosse igual. Ela estava viva há muito tempo e odiava o tédio. Se uma perspectiva atraente aparecesse, avidamente se jogaria, sem se importar se a história era verdadeira ou não. Além disso, seu poder era real, o suficiente para deixá-la evitar um certo nível de contramedidas simplesmente passando por cima delas.
“Destruidora” estava correto. Como um Lorde Demônio, Milim era a personificação da força pura, quase injustamente. E, por causa disso, não importa quão simplória ela fosse, seus movimentos ainda eram difíceis de entender. Era óbvio que queria sair para investigar a cena. A força de seus oponentes e o perigo envolvido não eram grandes coisas para ela. Se quem quer que tivesse sobrevivido à batalha ganhasse seu coração, ela o estaria recomendando como um novo Lorde Demônio… e se não o fizesse, o mataria.
Mas não podia fazer isso. Tudo se desenrolava em um lugar inconveniente. Simplesmente entrar na Floresta de Jura apresentava problemas políticos. Mesmo Milim teria problemas para ceder à sua curiosidade caso todos os outros Lordes Demônios no mundo fossem contra. Uma investigação completa estaria em primeiro lugar.
Carillon sabia que Milim não dava a mínima para aumentar seus próprios poderes. A questão era o que Clayman ganharia com isso. Aos seus olhos, Clayman usava seu comportamento cavalheiresco para esconder suas verdadeiras intenções o tempo todo. Era difícil dizer o que estava pensando… e ainda mais difícil confiar nele de verdade.
Esta seria uma batalha de inteligência e, nesse aspecto, Milim era muito fácil de enganar para ser uma grande preocupação. Frey seguiria o que quer que Milim fizesse, então não adiantava se preocupar com ela. Só sobrava Clayman. Foi a conclusão natural de Carillon.
Ele lambeu os lábios enquanto pensava em sua estratégia.
Agora, como começar…
Tradução: Taiyo
Revisão: ZhX
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