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Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 03 – Cap. 04.2 – O Rei Demônio Sente a Dor da Perda

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A cortina da noite se enrolou firmemente em torno do Castelo Demoníaco.

— Ooghooo!

Satan, senhor do castelo, o Rei Demônio que uma vez planejou conquistar toda Ente Isla e mergulhá-la em um terror inimaginável, sentou-se cara a cara com Emilia Justina, a Heroína que se levantou para esmagar suas vis ambições.

— Daouuu!

A ansiedade e a fúria assassina encheram cada canto e recanto do Castelo Demoníaco. Uma única provocação, por mais leve que fosse, bastaria para desencadear um banho de sangue.

— Naaarrhh…

Uma brisa leve, uma gota de chuva, até mesmo uma pedra tilintando contra a beira da estrada poderia fornecer a faísca para engolfar a sala nas chamas da batalha.

— Mamããããããe, Mamããããããe…

Assim que as ondas brutais de fúria e força atingiram seu pico:

— Wapph!

A garota correndo ao redor da Heroína e do Rei Demônio tropeçou, quase batendo com a cabeça na mesa no meio do único cômodo do Castelo.

— …!!

O Rei Demônio e a Heroína responderam ao mesmo tempo, estendendo a mão de apoio.

Isso salvou a garota do perigo, mas estender os braços ao mesmo tempo fez com que a mão do Rei Demônio roçasse na da Heroína.

— N-Não me toque!

— Ai! Caramba, não me arranhe…

Com um grito frenético de consternação, a Heroína deu um tapa na mão do Rei Demônio, deixando uma linha vermelha e ardida em sua mão. Foi apenas um arranhão, não sendo o suficiente para cortar a pele.

— Então, pode me dizer qual foi o seu problema esta noite? — perguntou ele.

— Você tem confiado em outras pessoas para tudo aqui! E escolhe este momento para se envolver?

— Oh, como se você fosse a mãe ideal!

— Papai, não! Sem briga!

Uma figura muito menor do que o Rei Demônio ou a Heroína interveio para encerrar o duelo entre os dois inimigos natos.

— Oh, uh, não, Alas Ramus, não estamos brigando nem nada.

— N-Não! De modo algum! Então não chore, tudo bem?

— Sério?

Alas Ramus olhou atentamente para os dois. Algo em sua defesa apressada cheirava mal para ela. Ela precisava de uma confirmação mais segura.

— S-Sério! Tipo, sério, sério!

— Sim, com certeza!

— Neeheehee!

A garota, colocando sua confiança na Heroína e no Rei Demônio enquanto eles se atiravam para mentir para ela, sorriu de alívio enquanto agarrava Emi.

— Você vai ficar aqui para sempre, Mamãe?

— Isso… hmmmm…

— …! …!

Maou enviou a ela um sinal invisível, mas Emi o ignorou.

— E você, Alas Ramus? Quer que eu… quer que a Mamãe esteja aqui?

— Sim! Junto com a Mamãe! Para sempre!

— Ahhhhh…

Emi tentou sorrir para esconder o desespero em sua mente.

— E o Papai também!

— Ohhhhh…

Maou também não tinha como se esquivar dessa segunda salva.

Então, um silêncio constrangedor caiu novamente.

Alas Ramus, não percebendo isso, começou uma busca ousada para escalar as costas de Emi.

Graças à intromissão de Chiho na hora certa, Maou e Emi conseguiram manter Alas Ramus segura sem que ninguém se machucasse. Mas parecia apenas atrasar o inevitável.

Não importa o quanto Alas Ramus protestasse contra isso, Maou sabia — e Suzuno, com todo o seu treinamento teológico, certamente sabia — que a Sephirah chamada Yesod era propriedade do Paraíso.

E agora, nenhuma das pessoas envolvidas com Alas Ramus tinha qualquer habilidade de se defender contra Gabriel.

Emi e Suzuno mantiveram uma porção de poder de luta, barrando algo como a habilidade especial de drenagem de energia sagrada de Sariel.

Mas — e isso era outra coisa que  já sabiam — não tinham motivação para arriscar o pescoço por causa disso.

Depois que Gabriel saiu, foi Chiho quem primeiro questionou o termo desconhecido “Árvore de Sephirot”, naturalmente.

— A Árvore de Sephirot é a árvore no Paraíso da qual tudo no mundo brotou. Qualquer pessoa que comer o fruto da Sephirot, pelo que dizem, ganhará a imortalidade e os dons de conhecimento ilimitado. Os primeiros seres humanos criados pelos deuses consumiram um desses frutos, segundo a história, quebrando uma promessa divina e fazendo com que os deuses os expulsassem do Paraíso em que viviam.

— Uau, isso é muito parecido com o que temos na Terra. Tipo, Adão e Eva na bíblia e tal… — Suzuno acenou com a cabeça para Chiho.

— A árvore deu dez frutas, conhecidas como Sephirah, cada uma correspondendo a um aspecto diferente do mundo, ou da própria vida. Cada uma tem seus próprios planetas, cores, metais, pedras preciosas e assim por diante associados a ela… Por exemplo, diz-se que a primeira Sephirah, Keter, governa a alma, o pensamento humano e a imaginação; corresponde ao número um, sua joia é o diamante, sua cor, branca, seu planeta, o do deus do submundo e seu anjo da guarda, Metatron. A quarta Sephirah é conhecida como Chesed, governando sobre o amor divino; seu número é quatro, seu elemento metálico é estanho, sua cor é azul, seu planeta é o do deus do trovão e seu anjo da guarda é Zadkiel… e assim por diante. Todas as dez Sephirah possuem aspectos que correspondem aos elementos do mundo, e imagino que Alas Ramus se sinta atraída por objetos coloridos porque eles a lembram das cores que cada Sephirah representa. Yesod, a propósito, é a nona Sephirah; rege os planos astrais e a autoconsciência, seu número é nove, seu elemento metálico é prata, sua cor, púrpura, seu planeta é o dos céus azuis e o seu anjo da guarda é Gabriel.

A sala ficou em silêncio por um bom tempo após o rápido resumo de Suzuno. Maou foi o primeiro a falar.

— Você realmente memorizou toda essa porcaria?

— Estes são os princípios fundamentais da nossa teologia!

— Você pode nos dar um resumo de trinta segundos, cara?

— Que direito tem um ex-arcanjo de dizer isso?! — Suzuno repreendeu de volta ao pedido jovial de Urushihara.

— Calma, calma, calma… Isso é apenas Urushihara sendo Urushihara, então…

O comentário de Chiho foi suficiente para conter a raiva de Suzuno, embora ela ainda permanecesse insatisfeita com sua falta de dedicação à sua origem celestial.

Em seguida, Emi falou:

— Então por que ela se chamou de “Alas Ramus”   desde o início? Por que não disse “Yesod” em vez disso?

— Pode ser porque essa criança é simplesmente um fragmento da Sephirah, ou pode haver alguma outra razão ainda desconhecida. Parece claro, pelo menos, que Gabriel não lhe deu esse nome. Ele nunca se referiu a ela como Alas Ramus. Mas independentemente disso, supondo que devamos aceitar as antigas lendas como verdade, se Alas Ramus for de fato um fragmento… um segmento da Sephirah Yesod da Árvore de Sephirot, então tudo que Gabriel nos disse faria sentido. Em outras palavras, os elementos do mundo governados por Yesod estão enfrentando um perigo iminente, o qual pode afetar o mundo inteiro. E se Gabriel quer proteger o equilíbrio do mundo, como é seu trabalho como anjo da guarda, então precisaria de Alas Ramus.

— Ah, então… — Chiho tristemente levantou a voz. — Então Alas Ramus precisa ir afinal…?

— Não necessariamente.

A mudança repentina de Suzuno pegou Chiho de surpresa.

— A presença dos frutos das Sephirot como o núcleo que forma o mundo e os anjos da guarda que os administram são apenas algo exposto por nossas sagradas escrituras e mitologia. Não é como se alguém já tivesse visto com os próprios olhos. Não houve confirmação disso.

— Confirmação…?

— Por exemplo, a décima Sephirah, Malkuth… — Suzuno foi interrompida no meio da frase.

— Market!

Alas Ramus reagiu imediatamente ao termo. Maou interveio:

— Pensando bem, ela falou sobre ser amiga de “Market” na roda-gigante. Malkuth e a outra Sephirah têm personalidades como Alas Ramus?

Suzuno balançou a cabeça com desânimo.

— Nunca ouvi nada parecido…, mas acho que o fato de isso ser novidade até para mim pode levar ao que estou tentando dizer.

— Oh, certo, desculpe interromper. Continue.

— Sim. Malkuth está localizada no nível mais baixo da árvore da vida, governando sobre o mundo físico. Seu número é dez e sua pedra preciosa é o cristal. Está associada a várias cores, incluindo amarelo brilhante e verde oliva, e seu planeta é a Terra da Vida, que simboliza Ente Isla. Segundo a lenda, pelo menos, se Malkuth deixasse de existir por algum motivo, isso colocaria a existência de cristais, a cor amarela e até mesmo a própria Ente Isla em perigo.

Suzuno parou por um momento, olhando ao redor para os seus ouvintes.

— Mas pare um momento para considerar isso. Você poderia imaginar todos os cristais do mundo desaparecendo de uma só vez, simplesmente porque algumas frutas caíram de uma árvore em outro mundo? Que tipo de fenômeno seria necessário para um único objeto engendrar tais desastres massivos através do mar e da terra? Mesmo a história em nossas escrituras sobre os “primeiros seres humanos” comerem o fruto proibido está sujeita a muitas interpretações. Essa fruta está relacionada a Sephirah ou não? A Igreja ainda não chegou a uma resposta conclusiva. Como o Rei Demônio acabou de dizer, pode realmente haver algo na Sephirah que possamos interpretar como personalidades individuais. Mas, no final das contas, a ideia de que a Árvore de Sephirot sustenta tudo no mundo é simplesmente algo contado na lenda. Não há evidência disso. Muitos de nós mantemos uma conexão com o Paraíso, mas nenhum ser humano jamais pôs os pés nesse reino divino. Assim, em minha opinião, duvido que o mundo mergulhe em uma crise devido ao fato de Alas Ramus não estar disponível.

— Cara, foi mal, mas por que sinto que estou na faculdade agora?

Dito isso, não há dúvida da existência do Paraíso, ou dos anjos, e se desejam ter este fragmento de Yesod de volta, não temos como resistir a eles. É uma situação terrivelmente cruel.

Os olhos de todos estavam focados em Alas Ramus, apoiada nos joelhos de Maou.

— Cara, isso é um pé no saco.

Maou alegremente cutucou sua orelha em resposta.

— Yo. Alas Ramus.

— Oiiii, Papai!

— Aquele cara de agora há pouco queria te levar de volta para a casa dele, mas você quer ir?

— Não!!

A recusa foi clara e intensa.

— Certo.

Maou deu um tapa em uma de suas pernas cruzadas.

— Certo, fim de papo. Se aqueles caras amanhã fizerem qualquer coisa que Alas Ramus não goste, estaremos lutando até o fim.

— E-Ei! Espere um segundo!! — Emi não estava aceitando. — Você não entende em que tipo de situação estamos?! Bell e eu não temos a menor chance de enfrentar alguém como Gabriel cara a cara, e Alciel e Lucifer nem mesmo têm seus poderes de volta!

— Eu sei. Se chegar a esse ponto, vou enfrentá-los sozinho.

— Sozinho? Você é louco?! Como pode dizer isso?! Percebe em que estado se encontra?!

— Tudo bem. Aiai, relaxa um pouco. Como se eu levar uma surra dele fosse ruim para vocês, né?

— Eu…, espere, você está…?

— Isso é o que eu quero, beleza? Não quero devolver Alas Ramus, porque ela não quer voltar. E para vocês, humanos, se eu perder, então ding-dong, o Rei Demônio está morto e o fragmento de Yesod está de volta onde deveria estar, no Paraíso, certo? Qual é o problema?

— Mas… mas…!!

— Rei Demônio! Você não vê problema nisso, mesmo?!

— Maou!

Emi não se convenceu, e Suzuno e Chiho se encontraram igualmente incapazes de permanecer em silêncio. Maou revirou os olhos enquanto o confrontavam.

— Ei, Ashiya? Urushihara? Uma ajudinha aqui?

— V-Vossa Alteza Demoníaca, isso é simplesmente…

— Uhh… bem, não que eu me importe de qualquer maneira, mas estou realmente começando a gostar da minha vida neste armário, então isso meio que estragaria minha paz, saca?

— Oh, vocês também não…

— E apesar de tudo o que dizemos, você ainda não consegue entender?! — Suzuno atacou Maou novamente.

Alas Ramus, surpresa com a rapidez disso, caiu do colo de Maou.

— Não! Mana Suzu, você é má com o Papai!

Ela se manteve firme, estendendo seu corpinho o mais reto possível para proteger o Papai do perigo. Suzuno rapidamente a empurrou de lado enquanto se movia para agarrar Maou pelo colarinho.

— Pouco importa aqui se você é o Rei Demônio ou não! Mas todos nós… até Lucifer, à sua maneira, acha a ideia de Alas Ramus ir a algum lugar que ela não gosta como abominável! Se Alas Ramus fosse levada para um lugar como aquele… eu preferiria mantê-la em seu muquifo!

— Não tenho certeza se é assim que uma clériga deveria falar…

— Posso ser uma clériga da Igreja, mas também sou uma política! Sei como me comprometer pelo bem maior! Além disso, veja a arrogância daquele homem, agindo como se fosse o único administrador de um objeto que ele deixou perdido por centenas de anos! Toda a Árvore de Sephirot é uma pilha de lixo!!

— Então… é isso que vocês estão dizendo?

— O quê?!

— Dizendo como?

— O que quer dizer com isso?

— Sim, meu soberano?

— O que…

Maou deu um sorriso irônico, mostrando os dentes para o grupo.

— Vocês realmente gostam de Alas Ramus, não é?

— …!

Suzuno engasgou suavemente.

— Bem, valeu.

Era a única palavra que nenhum Rei Demônio diria, mas uma que ele vinha repetindo continuamente nos últimos tempos.

— Mas quando se trata de começar uma luta contra alguém sagrado, o Rei Demônio meio que tem o monopólio disso. Isso é demais para vocês. Tenho algo que pertence aos deuses aqui, e vou esconder deles porque quero. Então, se o problema rolar com Gabriel amanhã, não precisam intervir, beleza?

Suzuno, perplexa, tirou as mãos do colarinho de Maou.

— E se der certo no final, ótimo, certo? Dê tudo de si ou vá embora.

— Ei!

— Espera!

— Maou!

— Meu Soberano!

— Cara…

— Pessoal, calem a boca!

Maou acenou com as mãos contra a parede de reclamações ao seu redor.

— Isso não é um filme. Toda a violência do mundo não vai me ajudar a superar esse cara. Sou um homem adulto, certo? Espere o melhor, mas planeje o pior! Ei, Emi!

— O quê?!

— Você vai dormir aqui esta noite!

Esse não era o tipo de gerenciamento de risco que alguém havia imaginado.

— Quêêêêêêêêêêêê?!

— Como isso é possivelmente gerenciamento de risco?!

Emi olhou para Maou, que ainda tinha Alas Ramus em suas pernas estendidas. Ela pegou a menina, a criança balançando com alegria as pernas no ar em resposta.

— Ei, se eu acabar lutando com Gabriel, imaginei que isso forçaria você a se envolver na luta por mim. Sabe? Sempre pensando dois passos à frente! Minha mente é uma armadilha de aço! — anunciou Maou com orgulho.

— Você está falando sério?

— Bem, mais do que parece. Acho que disse isso antes, mas é hora de você se preparar para lidar com algo para variar, certo?

— Oh, eu lidando com os problemas do Rei Demônio? Sim, eles estariam gritando meu nome em casa se ouvissem isso.

— Yaaaayy!

A alegria repentina de Alas Ramus nos braços de Emi foi provavelmente uma coincidência. Ainda assim, foi o suficiente para fazer Maou e Emi se sentirem ridículos por um momento.

— Enfim. Mais do que parece, como eu disse, mas estou tentando pensar sobre isso usando um pouco de lógica. Não estou pedindo que fique do meu lado nem nada, mas se acabarmos lutando, você pode pelo menos garantir que Alas Ramus não se machuque.

— Oh… bem, se isso é tudo que está pedindo… Mas o que quer dizer com “tentando pensar” sobre isso? — respondeu Emi — Você tem um plano ou só vai aproveitar sua última noite com essa criança? Pois, se quiser, eu gostaria de ouvir, senão não sei o que posso fazer aqui.

Maou não estava falando como se tivesse a intenção de perder sem lutar, mas não deixou de mostrar nenhuma evidência de qualquer coisa parecida com uma chance de luta. Aparentemente, sua postura era aproveitar ao máximo o tempo que tinham para que ela tivesse algo agradável para lembrar do outro lado.

Então ali estavam eles, todos dormindo no mesmo quarto.

Em geral, Alas Ramus tinha sido uma boa menina até aquele ponto, exceto por um ataque ocasional que ela lançava sobre a Mamãe não estar por perto. Como familiar, era natural querer dormir com a Mamãe para variar, mesmo que apenas por uma única noite.

Chiho apoiou de todo o coração e Suzuno também aprovou, embora o fizesse com a expressão facial mais amarga possível. Ashiya foi totalmente contra, mas no final das contas concordou com a condição de que ele ficasse no quarto de Suzuno caso algo de ruim acontecesse. Urushihara, por sua vez, podia dormir em qualquer lugar, desde que seu laptop estivesse por perto.

Não havia garantia de segurança de ninguém esta noite, então Emi, não vendo outra opção, concordou em passar a noite no Castelo Demoníaco, desde que Chiho saísse no início da noite.

Ashiya acompanhou Chiho de volta para casa, então se convidou para o quarto de Suzuno ao lado de Urushihara. Era uma divisão de quarto muito improvável, dada a história passada de todos como confidentes próximos/inimigos mortais.

Maou lançou um olhar para Emi, bastante indiferente à sua pergunta.

— Só estou arriscando minha vida por uma criança. Como qualquer pai faria. Mas, sabe, eu não me preocuparia muito. Se alguma coisa acontecer, provavelmente não será grande coisa para você.

— Eu gostaria de saber de onde vem essa sua confiança.

— Se está esperando alguma base para isso, espere sentada. Mas é estranho, sabe? É como se eu sentisse que pudesse fazer qualquer coisa, se for por Alas Ramus.

— Oh, então agora o Rei Demônio está interpretando o corajoso herói do filme contra todas as probabilidades de novo? Você não acabou de dizer que uma atitude positiva não vai ajudar ninguém aqui?

— Sim, e provavelmente estarei pagando por isso em breve. Mas, você sabe, todos os caras que morreram contra mim e minhas forças demoníacas… eles provavelmente continuaram até o fim por seus próprios filhos também. E se podem fazer isso, por que o Rei Demônio não pode, hein?

Emi estava totalmente preparada para reagir a Maou, mas a serenidade em sua voz a fez hesitar.

— O qu… O que é isso… Pare de agir como se estivesse começando um novo capítulo glorioso em sua vida.

No final, foi tudo o que saiu. Mesmo isso foi em um murmúrio quase inaudível ao desviar os olhos, pois o sentimento de Maou a lembrou da cara que seu pai fez quando ela foi levada para longe de sua aldeia.

E, assim como ele mesmo disse, era vingança. Apenas sobremesas para o rei de todos os demônios, o monstro que tirou inúmeras vidas e a separou de seu pai.

E, no entanto, estranhamente, Emi se viu abatida.

O Rei Demônio está enfrentando o mesmo tormento, a mesma tristeza que enfrentei. Então, por que meu peito está doendo tanto?

— Mamãe?

Alas Ramus olhou para Emi, preocupada.

Maou, observando as duas, sorriu um pouco. Virou-se em direção ao relógio de parede em uma tentativa de melhorar o clima.

— Isso! Melhor dormir um pouco, então!

— O-O quê?! Ainda não são nem dez horas! É muito cedo!

— É muito cedo para nós, adultos, mas Alas Ramus precisa ir para a cama. Quer fiquemos acordados a noite toda ou não, Gabriel ainda virá amanhã.

— M-Mas… mas…

— Vamos dormir juntas, Mamãe! Todos dormem juntos!

— Oooooh…

O Castelo Demoníaco não tinha camas macias nem futons para dormir. Havia apenas alguns cobertores de peso médio para compartilhar. O efeito não foi se aninhar como uma família grande e feliz, mas sim três indivíduos se jogando no chão com o que estava à mão.

Mas, para Emi, a ideia de deitar perto de Maou, quer Alas Ramus estivesse entre eles ou não, devia ser difícil de engolir. Afinal, isso foi voluntário, muito diferente da última vez em que passou a noite lá.

E era a mesma coisa para Maou. Ele teve dificuldade em se virar de lado, a visão das mãos de Emi sobre o pescoço de Alas Ramus no momento em que adormeceu vívida em sua mente.

Mas Alas Ramus estava ansiosa demais para dormir com a Mamãe e o Papai. Mesmo agora, estava puxando excitadamente os cobertores do armário, espalhando-os em uma série de configurações caóticas.

— Ei, ei, não tropece de novo.

— Venha aqui, Alas Ramus. Aquele seu Papai idiota vai cuidar disso.

Emi observava enquanto Maou vagarosamente ajudava a arrumar a cama.

— É melhor você acender uma luz em algum lugar.

Ela disse isso por algo entre cautela e confirmação.

— Bem, sim. Ela fica com medo quando está muito escuro.

Não foi por que ela pediu, mas… oh, certo, crianças usavam luzes noturnas às vezes, certo? Bom, tudo bem. Também podia ser.

— Oh, Alas Ramus tem roupas para dormir?

— Quer dizer pijama…? Sabe, essas são todas as roupas que ela tem, eu acho.

Maou olhou para o vestido amarelo de Alas Ramus enquanto colocava três cobertores no chão.

— Uhh… Tem lavado a roupa dela, certo? Já deu banho nela?

Emi não conseguiu esconder sua surpresa com esta nova informação. Aparentemente, Alas Ramus usava uma única roupa desde que apareceu há vários dias. No auge do verão, ainda por cima.

— Lavei a roupa dela, beleza? Eu a levei para o banho público. Você não tem que me tratar como um idiota. Suas coisas secaram muito rápido com o calor, e ela só ficou trotando pelo apartamento de fralda.

— Não consigo acreditar no que diz.

Ignorando o olhar descontente de sua parceira para dormir, Maou olhou para o chapéu de palha de Alas Ramus pendurado na parede.

— Sim, bem, não compramos nada para ela além daquele chapéu, então… Esqueci se a UniClo em Sasazuka vende roupas infantis.

— Uuniclórnio?

— Eu realmente gostaria que você parasse de tratar a UniClo como a solução para todos os problemas em sua vida. Ela é uma garota, esqueceu? Nunca pensou em encontrar algo bonito para ela vestir?

— O que quer que eu faça? Não sei onde vendem essa porcaria.

— Ugh… Eu deveria ter imaginado que homens como você não se importavam com isso.

— Bem, sabe…

Maou casualmente se levantou, levando a mão ao cordão pendurado na luz do teto.

— Que tal nós apenas nos preocuparmos em resolver essa situação, beleza? Assim eu teria com o que me preocupar depois.

— Hm, sim. Certo.

Pega de surpresa, Emi se viu balançando a cabeça em concordância. Alas Ramus, tendo problemas para acompanhar a conversa, saltou de pé.

— Mamãe! Mamãe, aqui!

Ela bateu com o braço no chão de tatame ao lado dela.

— Tá bom, tá bom.

De olho em Maou, Emi desconfortavelmente se deitou no chão.

Esperando o momento em que ela se deitava, Maou cutucou Alas Ramus.

— Ei, é melhor abraçar a mamãe com força, entendeu? Dessa forma, ela não irá fugir de você.

— Certo!

— Agh!

Confusa, Emi se viu abraçando lentamente a criança sorridente e alegre.

— Hein? Ei… o que você tem aí, Alas Ramus?

Algo fino e inflexível fez sua presença ser sentida entre Emi e a garota.

— Foto!

Era a foto personalizada que compraram na roda-gigante.

— Uau, você deve realmente gostar disso… Mas ficará toda dobrada e nojenta se a levar para a cama. Coloque ao lado do seu travesseiro, tudo bem?

— Sim.

Emi gentilmente pegou a foto e colocou-a ao lado da cama enquanto Alas Ramus observava com tristeza. Maou sorriu um pouco.

— Tudo bem, vou desligar.

Após um rápido aviso prévio, Maou desligou a luz, deixando uma luz noturna menor acesa de lado.

— Oof.

Emi, seus olhos não estavam acostumados com o quarto escuro, sentiu arrepios em seu corpo ao ouvir Maou grunhir de muito mais perto do que esperava.

— S-Sai daqui!

— Eu não vou te abraçar também, beleza? Não tem como ficar mais longe enquanto Alas Ramus estiver assim, então…

Olhando para o lado na escuridão, Emi percebeu que a criança sonolenta de alguma forma agarrou as camisas de Emi e Maou.

— Tente qualquer coisa estranha e eu vou te matar.

— Você ainda está sendo uma má influência para ela, sabe.

— Olha só quem fala. Você é como uma má influência ambulante e falante na sociedade.

— E ainda há alguém lá fora que ama seu pai. Certo, Alas Ramus?

— Mm… Hee-hee!

— Acho que ela está negando.

— Ah, ela é tímida. Diz isso perto de outras pessoas.

— Papai, conta uma história!

A voz de Alas Ramus já estava pesada de cansaço.

— Hmm? Uma história? Não quer ouvir uma história da Mamãe?

— Hm… Mamãe, conta uma história amanhã…

— …!

Uma adaga foi cravada no peito de Emi enquanto Alas Ramus revelava seus planos futuros.

Um sorriso aflito também cruzou o rosto de Maou, antes que ele desse um tapinha gentil na barriga de Alas Ramus e erguesse os olhos, pensando.

— Hmm… vejamos… Que tal continuarmos a história de ontem?

— Tudo bem.

— Ótimo! Uhh, onde chegamos da última vez…

— O viajante e o anjo.

— Ah, certo, certo. Você tem uma boa memória.

— Ee-hee-hee!

Emi, olhando com curiosidade enquanto Alas Ramus falava com Maou, engasgou um pouco quando Maou se virou para ela.

— Comecei a contar histórias para ela porque isso a impedia de fazer uma grande cena ou reclamar de estar sozinha à noite. Eu não tinha ideia de que a fralda dela era a causa naquela primeira noite, embora…

— Não te perguntei.

Maou não deu atenção à resposta áspera, lentamente começando sua história.

— Certo… então o pobre viajante, que foi ferido no meio de sua jornada, foi resgatado pelo anjo.

O pobre viajante, ferido depois de um infeliz encontro com um demônio cruel e asqueroso, foi resgatado por um anjo gentil e amoroso.

O anjo contou ao viajante todos os tipos de histórias que ele nunca tinha ouvido antes.

Contos de montanhas muito altas. Contos de oceanos largos e vastos. Contos de florestas profundas. Contos de reis, princesas, lojas e ouro. Contos sobre plantas e peixes. Contos sobre soldados. Contos sobre deuses e o mundo das estrelas…

O viajante ficou muito entusiasmado com tudo isso e ouviu o anjo continuar falando.

Um dia, o anjo deu ao viajante um encanto especial de presente. O viajante ficou feliz ao recebê-lo e, com o encanto e tudo o que o anjo lhe disse, partiu mais uma vez.

Graças a tudo o que aprendeu, o viajante acabou se tornando um rei sábio e justo, que governou por anos e viveu em grande felicidade.

Snrrrf

— E é isso. Boa noite.

Foi difícil saber quando ela adormeceu, mas assim que Maou encerrou sua história, ele imediatamente se virou e se afastou de Emi.

O único som era o grito do reino dos insetos de verão lá fora.

— Ei.

— Sim?

Emi acariciou o cabelo da adormecida Alas Ramus.

— O que aconteceu com ele depois que se tornou rei?

Maou virou a cabeça para trás. Mesmo na penumbra da luz noturna, ela poderia ver que estava olhando para ela como um pai acompanhando sua filha bêbada para longe de sua recepção de casamento.

— Eu só inventei isso para fazê-la dormir, cara. Como vou saber? Ele viveu feliz para sempre, o fim, certo?

— Ele não voltou para sua terra natal ou saiu em busca do anjo ou algo assim?

— Sabe…

— Credo, me diz logo… Vou precisar de material para minha vez amanhã.

— …

Maou não conseguiu entender o que fez Emi dizer “amanhã”. Ele lançou um olhar de desprezo muito deliberado antes de se afastar dela novamente.

— Ela não será capaz de seguir algum tipo de história de fundo épica, você sabe. Basta inventar o que quiser. Vai ser perfeito.

Para ele, o assunto estava encerrado. Emi franziu as sobrancelhas em insatisfação.

— Ei, posso perguntar…

— Vai dormir. Se você começar a falar comigo, vamos brigar e Alas Ramus vai acordar.

— Se o viajante se tornasse rei e tudo mais, por que ele queria ir para outro país? Achei que viveu feliz para sempre.

— …

— Não?

Agora era o mais suave dos sussurros.

— Bem, ser rei provavelmente o deixou ganancioso.

— Hm?

— Se Alas Ramus perguntar sobre isso, vou inventar algo por ela.

Maou repetiu a frase com pressa antes de começar a roncar alto e artificial.

Ele não era Alas Ramus. Não havia como adormecer tão rapidamente. Era apenas sua maneira de expressar sua falta de interesse em responder a mais perguntas.

Como se chamado à ação pelo som, Alas Ramus tirou a mão da camisa de Emi e se aproximou de Maou.

— …

Observando, Emi deu a Alas Ramus outra carícia antes de trazer o cobertor até os ombros e virar as costas para os dois.

Ela agora enfrentava a parede que os separava do quarto 202.

— Ele tem uma mente tão distorcida… Estou tão preocupada que não sei se ousaria deixar isso com ele.

O pensamento saiu de sua boca.

No quarto 202 dos apartamentos da Vila Rosa de Sasazuka, Suzuno e Urushihara sentaram-se em silêncio.

Havia um suporte de espelho antigo decorado com um desenho de flor de cerejeira acompanhado por uma tradicional mesa de chá redonda. A cômoda de madeira paulownia ao lado era nova em folha.

Embora a mobília da sala fosse estritamente do “Japão antigo”, a geladeira era grande e apresentava todos os recursos de economia de energia mais recentes, e a combinação de lavadora/secadora externa oferecia desinfecção integrada e um suporte para passar. O micro-ondas, no entanto, era tão compacto e simples quanto o do Castelo Demoníaco, provavelmente devido a problemas de amperagem com a fiação antiga da Vila Rosa.

O ventilador elétrico era o último modelo da Tyson, um daqueles tipos sem lâmina em que o ar parecia fluir magicamente de uma moldura oval vazia. Urushihara enfiou a mão para dentro e para fora várias vezes para se divertir.

— Nada?

Ashiya entrou pela porta da frente.

— Você levou Chiho em segurança, sim? — perguntou Suzuno imediatamente.

— É claro. Ela estava muito preocupada com meu soberano até o momento em que nos separamos.

— De fato. Mas certamente não podemos nos dar ao luxo de trazê-la para este caso.

— Com certeza. Se algo acontecesse com a Sra. Sasaki, não seríamos capazes de continuar nosso acordo atual. Eu disse a ela para não colocar os pés perto de nosso Castelo Demoníaco até que algum tipo de fechamento fosse alcançado.

— Bem. Uma decisão sábia.

Ashiya preguiçosamente se sentou no centro do cômodo.

— Alciel, eu preciso te perguntar uma coisa.

— O quê? Se está esperando aluguel, esqueça.

— Quem sonharia em dizer coisas tão mesquinhas? Afinal, não sou você. Eu gostaria de perguntar a você sobre suas forças demoníacas. — Suzuno levantou a cabeça apoiando-se nas pernas dobradas. — O que o levou a tentar conquistar o mundo?

Era uma pergunta incomum a ser lançada para dois homens que pareciam ter vindo de uma cidade fictícia.

— Pois… tenho me tornado cada vez menos capaz de entender por que o pensamento de invadir nossa terra ocorreu a você. — concluiu ela.

— Devo dizer que invejo sua geladeira.

— Hm?

A resposta de Ashiya parecia completamente sem relação. Mas, quando ele avaliou a geladeira top de linha, amiga do ambiente, que Suzuno comprou por recomendação de Emi no outro dia, seu rosto estava mortalmente sério, assim como sua voz.

— Abra a porta e tenho certeza de que encontrará a carne, o leite e os vegetais que comprou ontem. Qualquer coisa faltando no cardápio de hoje, você pode correr até a loja para comprar. Pode preparar pratos maravilhosos e comê-los quando quiser… Eu e Sua Alteza Demoníaca também, imagino, invadimos Ente Isla em busca dessas coisas.

— …?

— Não estou pedindo que me entenda. Apesar de tudo, é meu trabalho me esforçar o máximo que puder até o dia em que possamos voltar para Ente Isla… Você me entende, Urushihara?

— Ei, eu vou me esforçar, cara. Assim que eu puder.

— Escuta, você…

Em consideração ao Quarto 201 e seus ocupantes atuais, a briga verbal de Ashiya e Urushihara procedeu em um tom abafado.

Suzuno, ouvindo-os, colocou a cabeça para trás em direção aos joelhos dobrados.

 


 

Tradução: Taiyō

Revisão: Flash

 

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