Suzuno arregalou os olhos enquanto contra-atacava verbalmente na tentativa de inventar palavras novas e criativas para criticá-lo.
— Eu nem ia queimar tudo isso! Essa lenha serve para que eu possa fazer uma fogueira no jardim dos fundos! Só vou usar esse conjunto de ogara, e… Ou! C-Como se atreve a me atacar enquanto minhas mãos estão cheias?!
Maou disparou seu segundo golpe de karatê.
— Isso é pior ainda! Você viu a Chi comprar apenas um fardo delas! E agora está construindo uma fogueira no seu jardim?! Quantos ancestrais você está tentando trazer pra cá?! Não é como se estivesse fazendo um acampamento!
A porção de terra ocupada pelo Vila Rosa Sasazuka era cercada por uma parede de blocos de concreto. O jardim, se fosse grande o suficiente para ser chamado desta forma, não passava muito de um pedaço de terra seca.
Uma única árvore de madeira de lei foi capaz de se enraizar lá. Todos os anos, uma metrópole inteira de cigarras formava moradia entre suas folhas, sempre na busca de refúgio da selva de concreto da cidade e recitando sua cacofonia incompreensível e aguda por todo verão.
— Ei, vamos nos acalmar por um segundo, beleza? Tenho um pouco de sorvete de baunilha para você, Suzuno.
— Pode deixar comigo!
Se o Castelo Demoníaco não tinha AC, era fato que o apartamento de Suzuno não era nem um pouco menos quente. Isso poderia meio que explicar o motivo de Suzuno saltar ao lhe oferecerem sorvete, colocando uma cobertura de xarope de kuromitsu e flor de soja torrada do seu apartamento. Ela passou um tempo o saboreando antes de tentar voltar a se defender.
— Bem, então como você deveria acender um mukaebi?! Pelo que vi na minha pesquisa, há monges que constroem aquelas fogueiras gigantescas! Enormes piras de fogo, incendiadas em fogueiras alinhadas com palha de arroz makomo!
Não havia como saber que tipo de pesquisa Suzuno poderia ter feito em tão pouco tempo após voltar da compra da bicicleta. Mas, como sempre, foi excêntrico. Ela estava descrevendo cerimônias de Obon ainda mais elaboradas, do tipo realizada em templos budistas e festivais de grande escala.
— Ashiya.
— Sim! Estou aqui.
Com um estalar de dedos do Maou, Ashiya moveu-se, trazendo um prato de argila, um isqueiro e uns pedaços retorcidos de jornal.
— Você pode comprar isso tudo em uma loja de cem ienes, a propósito. Eles colocam o jornal de graça para embalar o prato. Isso aqui é um horoku, por falar nisso, uma panela de argila usada para secar folhas de chá.
Maou pegou um fardo da pilha que Suzuno trouxera e saiu do apartamento.
— E o ogara aqui custa noventa ienes o fardo, pelo menos no lugar que a Chi comprou. Então quer dizer que não estamos gastando mais do que duzentos ienes na coisa toda.
Chiho e a desanimada Suzuno seguiram Maou até o lado de fora enquanto ele descia a escadaria externa e colocava o prato de argila no chão, perto do portão que dava para a rua.
Então, removendo o pouco plástico que segurava o fardo de gravetos ogara, ele quebrou os maiores para deixá-los em tamanhos menores e para maior facilidade de manuseio.
Foram necessários cerca de dois terços do fardo para encher o prato. Maou passou o restante para Suzuno, então acendeu um pedaço de jornal retorcido com o isqueiro.
Apontando-o para o fundo, com vários outros retalhos de papel amontoados para servir como ignição, ele instantaneamente acendeu o ogara. Fumaça erguia-se devagar.
— Ta-dá! Essa é a forma mais fácil de acender um mukaebi.
— O quê?
— Aliás, se você vive em um conjunto habitacional como esse, certifique-se de fazer isso do lado de fora, entendeu? Caso contrário, pode ativar o sensor de incêndio. Alguma dúvida?
O olhar de Suzuno ia de Maou para a pequena fogueira no prato, seus olhos duvidosos.
— Simplesmente… ridículo. O mukaebi é uma cerimônia familiar querida, a qual tem o objetivo de atrair as almas dos ancestrais reverenciados. Você se atreve a chamar esse trabalho simples e comum de cerimônia?
— Bem, tipo, o que você queria? Quero dizer, é isso aí, sabe? Não é?
Maou olhou para Suzuno e então para Chiho, na busca por apoio. Suzuno virou-se na direção de Chiho, esperando por uma voz de razão para apoiá-la.
— Foi meio simples, sim, mas não há nada de errado com o que ele fez. É ainda melhor se puder usar a chama de uma das lanternas que usam para o Obon, ou de um templo dedicado a reverenciar os falecidos, mas aqui, na cidade, é mais fácil falar do que fazer. Oh, além disso…
Chiho curvou-se perto do prato.
— Você pode colocar as suas mãos juntas assim e, então, orar pelos seus ancestrais para que voltem para casa sem que se percam.
— E… só isso?
— Ah, caso tenha um butsudan, aqueles altares pequenos que as pessoas às vezes têm em casa, pode fazer um cavalinho de pepino e colocá-lo lá.
— Oh, sim, fazemos isso todo ano lá em casa.
— De… pepino? O… O que em nome do Paraíso é isso?
Os olhos de Suzuno vagavam, confusos. Maou lançou um olhar a Chiho, então riu um pouco.
— Então, quando o Obon termina, você tem que construir um okuribi, um fogo que leva as almas dos seus ancestrais de volta para o além. Mas uma coisa que você faz para o mukaebi é pegar um pepino, colocar algumas pernas de palito de dente nele, para que se pareça com um cavalo, e colocá-lo no seu altar. Isso encoraja os seus ancestrais a montarem nele para que venham ao fogo mais rápido. Então, quando terminar, você faz uma vaca de beringela, e, desta forma, eles vão embora mais devagar.
Maou explicou tudo isso o mais simples que conseguia, e Chiho assentia em concordância com cada descrição. Suzuno olhou para um e depois para o outro, então levou uma mão à têmpora e gemeu.
— Eu… me deparei com uma vasta gama de religiões no passado, mas uma cerimônia como essa é rara. Algo tão simples nunca me pareceu tão complexo assim… ou vice-versa.
— Bem, se queria ir com tudo nessa, faria coisas como alinhar um monte de velas rua abaixo, ou construiria uma fogueira enorme, assim como você estava tentando fazer. Mas aqui, no meio da cidade, isso é o máximo que vai conseguir. Algumas seitas budistas não fazem nem isso. Além do mais, não existem muitos lugares por aqui em que podemos acender fogueiras. Se quiser ver o bagulho todo, pode ir para um daqueles festivais do interior em algum lugar por aí em agosto.
— Uou, você está sabendo mesmo, Maou.
Chiho arregalou os olhos de surpresa.
— Sim, bem, você tinha que ter visto as outras porcarias que tentei no ano passado enquanto tentava recuperar a minha força demoníaca. Estava esperando que, talvez, algum demônio pudesse captar o meu mukaebi e vir pra cá, por exemplo.
Aha! Esse era o Maou sacrílego e ritualístico que Suzuno bem conhecia!
— Mas não é como se algum dos meus ancestrais estivesse aqui na Terra mesmo. Foi meio que um desperdício de fogo, sabe?
— Você fala como se os seus ancestrais estivessem esperando por você no seu reino.
Maou estremeceu com a fala de Suzuno.
— Pfft. Acha que é a cegonha que entrega os bebês demônios no submundo? Tenho pais e família assim como todo mundo.
— Pais…? Você?
Chiho poderia conhecer o passado de Maou, mas era difícil para ela imaginar um Rei Demônio tendo uma Rainha Mãe.
— Claro, os dois já se foram. Então… tipo, se está perguntando se eu quero acender um mukaebi e trazê-los para cá, para ser honesto, não me importo muito.
Mas havia algo na maneira que usou para dizer essas palavras que fez traços de tristeza cruzarem a mente de Chiho.
— Oh… algo meio triste de se dizer assim, não é?
— Bem, qual é, acha que somos o tipo de demônios bonzinhos que deixam flores na sepultura da família ou coisa do tipo? Mesmo que tenham uma, eu não faço ideia de onde fica. Eu acho que nem me lembro de alguma coisa sobre os meus pais.
— S-Sério…? Hm, sinto muito. Talvez não devesse ter perguntado.
— Nah, sem estresse. Eu que toquei nesse assunto. Enfim…
Maou inclinou-se na direção de Chiho e do prato, abanando a chama bruxuleante.
— Não se esqueça de também tomar conta do fogo quando ele se extinguir. Na cerimônia de verdade, deve-se apagá-lo com gotas de água coletadas de folhas de lótus, mas ainda é bom ter um balde com água de torneira, por precaução. Pode jogar as cinzas em um vaso de planta ou no lixo inflamável.
— Quase nem um traço de emoção, pelo que vejo. Sinto que ganhei mais conhecimento sobre as contradições espirituais que guiam o Japão moderno.
— Ei, quando em Roma, faça como os romanos. Pense nisso como eu mantendo uma mente aberta, beleza? Ei, se importa de encher um balde de água para mim?
Justo quando Maou deu a ordem…
— Ei! Maou! — Urushihara colocou a cara para fora da porta do Castelo Demoníaco. — Temos um problema vindo aí!
— Problema? — Maou olhou escada acima, confuso, então ouviu.
— Que tipo de problema, exatamente?
Ao ouvir a voz logo atrás dele, o lorde do Castelo Demoníaco convulsionou em um tremor completo.
Ela soou alta e clara enquanto Maou lenta e relutantemente virava-se.
E lá…
— Oh, bom dia, Yusa!
— Ah, Emilia! Oh, já está na hora?
Lá ele viu o rosto de coruja de Emi Yusa, mais conhecida em certos grupos de outro mundo como Emilia Justina, a Heroína e salvadora de Ente Isla.
Uma sombrinha fechada estava em sua mão direita, enquanto a esquerda segurava uma bolsa de papel com algo pesado dentro.
Ela apontou a sombrinha para Maou, tirando-o do caminho enquanto olhava para Urushihara no topo das escadas.
— Lucifer! Como sabia que eu estava vindo?! Não enfiou outro dos seus transmissores de GPS em algum lugar, né?!
— N-Não! Nada do tipo! Só te vi na câmera que instalei do lado de fora! Cara, fica fria, pode ser? Temos sorvete!
— Estou o mais “fria” que consigo, congelando de tão fria, o pepino mais coberto de gelo do mundo! E ficarei ainda “mais fria” quando finalmente acabar com todos vocês!
— N-Não, sério! Não estou mentindo! Olha só!
Urushihara correu para dentro do apartamento e pegou uma taça de sorvete e a câmera hackeada que instalou entre as barras da janela e balançou ambas no ar.
— …
Os olhos de Emi foram atraídos pelo sorvete de menta Haggen-Boss1Referência à marca de sorvetes de luxo, Häagen-Dazs. na frente da câmera, mas logo voltou a si e virou-se bruscamente na direção de Chiho e Suzuno.
— E aí, Chiho. Aquele sorvete é seu?
— Oh, hã, sim. Ganhamos de presente, mas os meus pais não são muito chegados em doces.
— Faz sentido… Não é como se esses vagabundos fossem bons o bastante para comprar Haggen-Boss.
— Você percebeu como isso te faz parecer insignificante? Avaliar o nível de sucesso de um cara pelo tipo de sobremesa que ele compra?
Maou, ao lado, reclamou em voz alta daquele tratamento brutal. Emi não deu bola para ele, pegando um lenço e limpando o rosto.
— O Haggen-Boss sabor menta é vendido apenas como parte daquelas caixas de presente. Você nunca os vê individualmente. Cara, eu só consigo imaginar as lágrimas de alegria que todos devem ter derramado no momento em que a Chiho deu isso para vocês. Tenho certeza que os reinos dos demônios ficariam chocados e horrorizados ao ver isso, hmm? Rei Demônio ou não, eu não chamaria isso de “bom o bastante”.
— Sinto muito… Maou. Não consigo mesmo pensar em nada para refutar.
Chiho curvou-se para ele como pedido de desculpas.
— Então… só veio aqui para tirar sarro da nossa pobreza miserável ou o quê? Sentada em seu maldito escritório com ar-condicionado o dia todo, seu maldito apartamento com ar-condicionado a noite toda… Para uma Heroína, você que deixa o maior rastro de carbono no mundo!
— Bem, foi mal-zz. O ar-condicionado já vem pré-instalado, então seria um desperdício não usar, não acha? É um modelo novinho e mais econômico também, e eu deixo programado em vinte e sete graus célsius, não importa a temperatura do lado de fora. Não acho que você tem algum direito de reclamar.
— Ugh! Droga! Você obviamente está tentando se aparecer com essa sua coisa de classe média!
Maou bateu o pé, frustrado. Emi recusou-se a enfrentá-lo, virando-se na direção de Suzuno ao invés disso.
— Está pronta? Sinto muito por ter vindo um pouco mais cedo.
— Ah, peço perdão. Só preciso de um momento. Farei as preparações mais do que depressa.
Suzuno partiu em direção à escada.
— Oh, espere. Antes disso…
Parada por Emi, Suzuno a encarava enquanto ela entregava sua bolsa de papel.
Pela boca da bolsa, pôde ver uma caixa de bebidas energéticas, um logotipo conhecido estava marcado no topo. Maou e Chiho não teriam como saber, mas as caixas, naturalmente, continham a 5-Energia Sagrada β enviadas pela amiga de Emi em Ente Isla.
— Ah, sim… É o suprimento sobre o qual conversamos?
— Sim. Duas garrafas por dia, tudo bem? Elas são valiosas, então é melhor não perder.
— Que tipo de operação secreta de contrabando é essa?
Maou intrometeu-se na conversa delas sobre a bolsa de papel. As duas olharam para ele.
— Tenha cuidado especialmente com ele.
— Nem precisa me avisar.
— Ei! — Maou cerrou os dentes. — Não me lembro de ter feito algo que pudesse fazê-las pensar que vou fuçar nas coisas de vocês!
— Acredito que essa seria a menor de todas as coisas desprezíveis que já fez.
A reação de Emi foi fria, e teve o efeito pretendido em Maou.
— Desprezível? Como pode me chamar disso? Eu consegui virar gerente assistente em menos de um ano!
— Não acho que seja disso que ela esteja falando, Maou. — Chiho, ao seu lado, foi tão fria quanto ela.
— Você vai a algum lugar com a Suzuno, Yusa?
— Aham. Vamos dar uma olhada em alguns eletrodomésticos e celulares.
— Eletrodomésticos e celulares.
— Sim. Parece que estou destinada a uma estadia mais longa por aqui, por isso preciso atender às necessidades da vida diária, mas parece que a minha pesquisa pré-viagem saiu um pouco atrasada. Pensei que seria melhor pedir para que a Emilia me acompanhasse no caso de ficar perdida.
— Ohh, entendi.
Por um lado, Chiho ficou feliz por saber que sua nova amiga não partiria tão cedo. Por outro, a ideia de ter uma mulher — a nêmesis do seu crush, na verdade — vivendo como vizinha de Maou temperava um pouco a sua alegria.
— Não que ela precisasse ficar se eu pudesse cortar esse pobre Rei Demônio ao meio.
Emi, como se lesse a mente de Chiho, ria enquanto analisava Maou, o qual começou a suar frio, incapaz de saber como responder. Chiho, olhando para ela, não sabia se Emi estava brincando ou não.
— Claro… eu acho que já disse que não faria isso por enquanto. E, como não sou o tipo de Heroína que quebra as suas promessas, vou ter que estacionar ela até que eu consiga pensar em um plano B, sabe?
— Uh… sim.
Ela não estava brincando. A resposta de Chiho parecia drenada de emoções.
— Hahaha! Oh, sinto muito. Está tudo bem. Não vou fazer isso na sua frente, Chiho.
— Estou… um pouco preocupada sobre o que fará quando eu não estiver aqui, mas…
Chiho enfim sentiu-se segura para rir.
— Bem, suponho que isso depende de como o Rei Demônio age, hein?
— Gah! Não… Não existe um Rei Demônio por aí que seja mais dócil, diligente e consciente sobre o ambiente do que eu! E não me importo nem um pouco com qualquer tipo de contrabando de droga ilegal que vocês acabaram de fazer na minha frente! Então pode ficar tranquila e meter o pé daqui!
Maou colocou as mãos para frente enquanto fazia beicinho como se fosse uma criança, espantando Emi com ambos os braços.
— Você não tem vergonha alguma disso? Tentar convencer a sua inimiga mortal de que é um Rei Demônio dócil, diligente e consciente sobre o ambiente?
— Meu objetivo é ser um Rei Demônio que não precisa sentir vergonha, cara!
— Hm. De qualquer forma, o povo de Ente Isla talvez devesse ter vergonha do trabalho que teve para acabar com você.
Emi deu de ombros exagerando, parecia que dizia “o que faremos com você”. Então olhou, com dúvidas, para o prato quase extinguido de ogara aos seus pés.
— O que é isso e por que está acendendo fogo com um calor desses? Notei a fumaça enquanto vinha para cá. Pensei que você estivesse queimando.
— Uh…
— Sobre isso…
— Você não sabia, Emilia?
Agora foi Maou, Chiho e Suzuno que trocaram olhares.
— Você… não sabe mesmo? Cara, você realmente é uma vergonha para o pessoal que mora por aqui. Até consigo ouvi-los dizendo “as crianças de hoje em dia! Tão ingratas!”.
— Sinto muito… Yusa. Não posso te defender contra essa.
— Que seja. Vou explicar para ela mais tarde.
— Hã? Heeeeein?
Emi sentiu um ligeiro pânico. Ela não tinha ideia do que gerou aquela resposta indelicada de Chiho e Suzuno — embora esperasse aquilo de Maou — e começou a se perguntar em que mina terrestre pisara sem querer.
— Mesmo assim, Emilia, agradeço pela sua doação. Ficarei pronta em um minuto.
Com a bolsa em mãos, Suzuno curvou-se para Emi e virou-se para subir a escadaria.
Ainda sem saber onde foi que errou, Emi olhou para Suzuno, então para as cinzas quase mortas aos seus pés. Chiho sorriu distraidamente, tentando deixar aquele momento estranho para trás. O último pedaço de ogara apagou, fazendo com que a fumaça parasse.
O palco fora preparado para o momento seguinte.
— Oh?
— Hã?
— O quê?!
— Yaghh!
— Uou, uou, uou, uou!
Maou, Chiho, Suzuno, Emi — e até mesmo Urushihara, ainda olhando a cena pela porta da frente — reagiram em choque ao verem a luz.
Não era do tipo de luz forte e cegante disparada em salvas pelo sol. Era uma explosão brilhante, algo com peso real por trás, e materializou-se de repente logo acima do ogara queimado.
— Oh, merda!
Maou foi o primeiro a agir rapidamente.
— Agh!
Ele segurou Chiho, protegendo-a do prato de argila ali perto antes de arrastá-la para a árvore do apartamento, que ficava a uma distância segura.
Maou emitiu um grito entre a torrente de luz, agora tão brilhante que era impossível manter os olhos abertos.
— Agarrem-se em algo! É um Portal!
— !!
— Como é?!
Emi e Suzuno reagiram rapidamente, largando tudo que tinham em mãos enquanto seguravam-se no corrimão da escadaria com ambas as mãos.
A bolsa de papel nas mãos de Suzuno caiu nas escadas com um baque alto e pesado.
O comportamento do Portal entre dois mundos dependia muito do objetivo do mago que o criava, assim como a natureza do poder usado para invocá-lo.
Mas uma coisa que todos os Portais tinham em comum era que qualquer coisa que o tocasse, assumindo que fosse transportável, era imediatamente sugada para dentro dele, sem chance alguma de escapatória.
E, com uma crise inesperada como essa, Chiho, sem a proteção de poder sagrado nem demoníaco, era a que estava exposta ao maior perigo.
— Qual é a direção dele? Ida ou vinda?! — gritou Maou, com as mãos tentando segurar Chiho.
— Algo está vindo!
Ele já não conseguia mais vê-la, mas Suzuno forneceu a resposta.
Um Portal de “vinda”. Em outras palavras, alguém estava passando pelo Portal para vir ao Japão.
Ao perceber que o Portal não tinha o poder para sugar nada nas proximidades, Maou soltou Chiho, mantendo-a atrás dele enquanto se virava na direção da luz.
— O que… é aquilo?
Uma grande sombra esférica podia ser vista dentro dele.
— Não… é humano nem demônio!
Emi também devia ter visto.
Quando a silhueta apareceu, a luz rapidamente começou a se dissipar.
A magnificência do Portal ainda estava brilhante demais, mesmo que estivessem em plena tarde de verão, mas com a torrente inicial de energia se esvaindo, cores e detalhes tornavam-se gradualmente mais claros pela esfera que apareceu dentro do Portal.
— Um tipo de… fruta? Não, não pode ser…
— É bem grande…
Suzuno e Emi, mais próximas do Portal que Maou, aproximaram-se da esfera com cuidado.
Em um instante, o brilho do Portal se desfez, como um fluxo de água cortado ao fechar uma torneira.
As cores voltaram ao mundo, o sol de verão reapresentou-se ao jardim da frente do Vila Rosa Sasazuka.
O objeto que chamava a atenção deles, o qual tinha acabado de aparecer sem aviso algum, caiu sobre as cinzas do ogara com uma pancada.
— Cara, mano do céu…
— Uou, uou, uou.
— Ah! Ah… Ah…
O problema não era o fato de o objeto ser estranho, mas sim a sua presença sobre as cinzas queimadas que fizeram os três agirem rapidamente.
Maou o ergueu, Emi moveu com agilidade o prato para o canto, a fim de não o quebrar, e Suzuno foi rápida para limpar o restante das cinzas dele com um lenço que tinha consigo.
Por sorte, o ogara tinha queimado por completo, e o objeto não parecia ter queimado.
O trio soltou um suspiro de alívio antes de…
— Meus olhos! Meus olhos!
A voz agoniada de Urushihara, que aparentemente tinha encarado a luz intensa, ressoou de cima das escadas. Maou, Emi e Suzuno ficaram surpresos e voltaram a si.
Trocando olhares entre si, o trio olhou para o objeto pego por Maou e limpo por Suzuno.
— Por que está gritando, Urushihara?!
— Mano, meus olhos! Agh…!
— P-Pare de ficar girando no piso! Eu posso acabar te dando um chute!
— Você já me chutou!
— Isso é o que ganha por estar deitado na porta da frente! Vossa Alteza Demoníaca, o que é essa enorme fruta em suas mãos?
Até o momento da pergunta casual de Ashiya, os três conhecidos no jardim abaixo estavam tendo problemas para analisar a situação.
Era uma espécie de fruta com um tamanho que chegava a ser engraçado, grande o bastante para fazer um homem crescido como Maou precisar das duas mãos para carregá-la.
Era amarela, com formato de maçã e muito pesada.
Ninguém conseguiria ter coragem de comê-la. Não aquilo. Era algo pelo qual o pessoal do Livro dos Recordes faria festas de champanhe.
— É… uma maçã, mesmo?
— Acho que pode ser uma pera, dependendo de como a encare…, mas…
— Elas não crescem até ficar desse tamanho. Nem mesmo no reino dos demônios. Não me diga que é um demônio em forma de maçã. Alguém poderia ter pelo menos colocado uma etiqueta nessa coisa para nós…
Havia, entretanto, demônios que podiam imitar a vida de uma planta no reino de Maou. Mas a maioria era humanoide, com corpos curvados e de madeira como antigas árvores sencientes. Ele nunca ouviu falar de um dos seus capatazes se transformar em uma fruta vencedora de um prêmio de feira do interior.
Portais não eram algo que apareciam naturalmente. Era necessário haver um mago ou alquimista enviando essa maçã para eles.
Porém, ainda era impossível saber quem tinha enviado. Essa resposta poderia chegar quando descobrissem se fora enviada de propósito ou por simples coincidência.
— Ugh. Só me dê um tempo.
A mente de Emi foi a primeira a desviar do assunto atual.
— Quantas vezes já foram? Uma coisa incrivelmente estranha acontece sempre que o Rei Demônio e a Heroína estão no mesmo lugar? Mal faz uma semana desde toda aquela treta com Sariel! Eu juro, nada de bom acontece ao seu redor!
— Eu podia dizer a mesma coisa para você, moça.
Maou recusava-se a ficar em silêncio enquanto Emi o acusava de mal exemplo.
— Além disso, a maioria das merdas recentes foram armadas por vocês, humanos, não é mesmo?!
— Ngh…
— Sim… bem, sinto muito.
Quando Emi ficou em silêncio, Suzuno virou o olhar para o céu.
— Quero dizer, você acha que tem algum demônio lá que pode abrir um Portal tão forte como esse?! É provável que seja outro problemático do Paraíso de novo, sem dúvidas! E aqui! Pegue! Por que não enfia na sua geladeira por algumas horas para que fique geladinha antes de começar a comer?!
Maou levou a maçã para mais perto de Emi, que deu um passo para trás, confusa.
— Você é idiota, por acaso?! Estávamos prestes a ir ao centro para fazer compras! Como vamos carregar essa coisa por aí?!
— Não dou a mínima! Isso aí é problema seu! É você que fica vindo pro meu lado e se metendo nos meus negócios o tempo todo! Sua Heroína esquisitona perseguidora!
— Como… como se atreve a me chamar de perseguidora?! Se você não fosse um demônio, acha que eu sequer sonharia em ficar andando perto de você, seu Rei Demônio do Bem-Estar?!
— Ngh… Cale a boca de uma vez! Veja só você, toda vestida como se fosse a dona do mundo! Heroína de Negócios Estúpida!
— Pfft! Deve ser um saco ter que andar por aí em lixo da UniClo já desbotado e desgastado o dia todo, seu Rei da Camisa Apertadinha!
Enquanto as palavras voavam de um lado para o outro, parecendo menos com argumentos e mais com uma batalha de rap realizada de maneira incompetente, Maou enfim cometeu o erro de dar um passo a mais.
— Bem, uma senhorita como você precisaria usar um sutiã esportivo de tamanho infantil da UniClo! Heroína Mais Reta do Mundo, não é mesmo?!
Emi, cansada do calor incessante e dos golpes assassinos, arregalou bem os olhos, chamas de agressão de repente queimando atrás dela.
— Chega disso! Vou te arrebentar aqui e agora!
— Uh… ah, uou, espera um segundo, Emi! As pessoas podem acabar vendo! Qual é, sem a espada sagrada! Por favor, podemos conversar sobre isso!
— Cale-se, maldito!! Meu poder deverá acabar com todas as suas perversões malignas!
Uma explosão de energia sagrada fez brilhar uma cor dourada no ar, disparando através do braço direito de Emi enquanto ela invocava a Cara-Metade à sua mão.
Era a única espada sagrada na Terra, uma arma portável apenas pelo Herói imbuído pela Prata Sagrada, a qual era protegida pela Igreja de Ente Isla desde os tempos imemoriais. Seu propósito: matar demônios, nada mais.
— Agh! Ahhh, ahh, ah, está falando sério, Emi?!
— Meu soberano!
Emi invocou a sua arma mais poderosa, um desenrolar que estava muito além da sua discussão nada amigável. Ashiya, incapaz de continuar parado, desceu dois degraus da escada.
— Ah, ah, aahhhhhhh?!
Ainda com seus chinelos de usar dentro de casa, os pés de Ashiya não encontraram tração alguma nos degraus meio apodrecidos. Com um estrondo e grito, ele caiu escada abaixo.
— Oh, bom trabalho, bailarino.
Urushihara, enquanto isso, com a visão enfim recuperada depois da luz cegante, observava por trás, ainda jogado no chão.
— Hmm? Onde está a Chiho Sasaki?
Ele olhou ao redor, percebendo que Chiho, estranhamente, ainda não estava presente nessa confusão.
Ele a viu encarando de longe sob uma árvore cheia de cigarras, então deu de ombros, um feito incrível realizado por alguém deitado de barriga pra baixo.
— Você tem minha total permissão. Mate-o. — Por algum motivo, Suzuno estava repleta de raiva enquanto encarava Maou.
— Ei! Não jogue mais lenha na fogueira! Pare-a por mim! Oh, merda, você está do lado da Emi, é verdade! Droga!
— Rei Demônio! Prepare-se para morrer!
Quem teria imaginado que o comentário obsceno sobre um sutiã esportivo barato causaria um fim tão abrupto ao seu sonho de dominação mundial?
Um traço de arrependimento passou pela mente de Maou. Nada do tipo “a vida passando diante dos seus olhos”. Isso era algo dos humanos.
Ele não tinha para onde correr, sem chance de se esquivar do golpe na velocidade da luz de Emi. Seu único recurso, mesmo sabendo que era inútil, foi erguer a maçã que tinha em mãos, bloqueando a espada sagrada enquanto Emi a cortava de cima.
— Hã?
Mas a lâmina da sua espada, que rompia o ar e dilacerava a terra, em momento algum passou cortando Maou na vertical.
Temendo o pior, ele lentamente ergueu o rosto.
— …
Viu Emi, olhos parecendo pontinhos, enquanto ela olhava para a maçã entre sua espada e seu nêmesis.
— …?
Maou ficou perdido, e ainda não conseguia se mover.
— V-Vossa Alteza Demoníaca… rrngh…
Ashiya falou por ele, apenas agora se recuperando do seu tombo escada abaixo.
Era uma visão estranha com a qual se deparou. O Rei Demônio protegendo a própria cabeça com uma maçã gigante. Crestia Bell, com as mãos na bochecha por causa da surpresa. Emilia, com a espada sagrada ainda mirada para baixo. E…
— Aquilo é…?
Mas o que de fato chamou sua atenção foi a mão humana que saiu da maçã.
Firmando os pés, Ashiya precisou de um momento para pensar no que fazer.
Mas mesmo com a sua experiência como chefe comandante da força de invasão da Ilha do Leste e sua reputação como estrategista mais inteligente da horda demoníaca, nunca se preparou para uma situação em que o Rei Demônio ficaria preso debaixo de uma maçã gigante com braços enquanto era confrontado pela Heroína portando a sua espada.
Suzuno, por sua vez, parecia semelhantemente hesitante, sem se mover por um centímetro que fosse, com o martelo preparado em mãos.
— Uh… então, tipo assim, o que acabou de acontecer?
Apenas Maou, incapaz de ver o outro lado da sua maçã, não tinha noção da cena. Ele olhou ao seu redor com cautela, com a fruta ainda erguida no alto.
— M-Maou?
Foi Urushihara quem enfim respondeu, de pé e olhando do outro lado do corrimão do corredor.
— Acho que você, tipo, talvez queira largar essa maçã por agora.
— A maçã…? Aghh! O que é isso?!
Maou gradualmente a baixou, então deparou-se com dois braços de criança balançando. Aquilo fez com que a fruta fosse jogada sem qualquer hesitação no chão.
— Ahh!
O grupo ao redor do objeto misterioso ofegou ao mesmo tempo, instintivamente com medo de que tipo de dano uma pancada daquelas poderia fazer. Então observavam enquanto a maçã gigante rolava pelo chão.
— Ah, ahhhh…!
Emi, estando na mira da maçã, saiu correndo sem pensar duas vezes.
Mas a maçã continuou sem parar. Maou não havia jogado com tanta força. E também não a curvou como uma bola de beisebol para que seguisse o caminho de Emi.
— Iaaaaaaaaah! Qual é, qual é, pare-a!!
A maçã perseguia Emi pelo jardim da frente do apartamento, balançando os braços como se fossem hélices.
Maou e Suzuno, sem ideias na cabeça para responder, apenas observavam.
No fim, a maçã parou no meio do jardim — enfim sem suco, talvez. Emi ofegava em um canto, como se fosse um rato contra um muro de concreto.
Mas a fruta recusava-se a desistir. Mãozinhas rechonchudas continuavam a ir na direção dela, mesmo com a maçã agora firmemente estagnada.
— Ei, uh, Emi, você tem que admitir, ela está de olho em você, ou mãos, ou sei lá, cara.
— Huff… huff… Q-Quem? Tirem isso de perto de mim!
O ódio de Emi para com Maou agora dissipara, substituído por pura confusão sobre essa virada chocante de eventos. Seus olhos vagavam entre a espada em sua mão direita e os braços estendidos em sua direção.
Aqueles braços eram fortes o suficiente para resistir contra um golpe de força total da espada sagrada.
Ou, para ser mais preciso, parecia como se uma força de amortecimento tivesse parado o golpe, como se batesse a palma contra a superfície da água.
Emi estava começando a ter a impressão de que tinha mais inimigos resistentes contra a Cara-Metade do que imaginava. Se essa maçã fosse um deles, isso queria dizer que tinha relação com o paraíso, ou Sariel, ambos com a intenção de retirar a espada dela.
Fazia sentido em sua mente, o suficiente para que optasse por puxar a espada de volta para dentro do seu corpo, só por segurança.
O que aconteceu bem na hora para o próximo cataclisma.
No momento em que a espada de Emi se foi, as mãos rechonchudas caíram para os lados, como se tivessem exaurido toda a energia.
Observando-as caírem como uma marionete sem cordas, invocou outro grito da garganta de Emi enquanto ela se afastava para trás.
— Yaghh! O que foi agora?!
A maçã se descascou, como se a casca amarela se desenrolasse como curativos firmemente enrolados.
Debaixo da casca, construída como um abrigo reforçado para proteger o conteúdo, a maçã estava vazia. E lá, diante dos olhos de todo mundo, exceto de Chiho, a maçã gigante com braços disse:
— Bipf!
Ela era agora uma garotinha, e seu espirro rígido ressoou pelo jardim da frente da embasbacada Vila Rosa Sasazuka.
— …
— …
— …
— …
— …
Todos ficaram em choque com aquela última metamorfose.
Nem mesmo conseguindo perceber a reação uns dos outros, os olhos do grupo estavam fixados no bebê que apareceu da maçã.
— Bipf!
Como se respondesse ao segundo espirro, a casca amarela largada ao redor da garota flutuou de novo pelo ar ao seu redor, lentamente mudando de forma até que se transformasse em um vestido amarelo que lhe servia de maneira confortável, como se estivesse o usando o tempo todo.
— Hm?
Maou foi o único a perceber o emblema que apareceu na testa da garota no momento em que o vestido tomou forma. Era de cor roxa, na forma de uma lua crescente.
— Ohhhh!
E, então, desapareceu no instante seguinte.
A garota coçou a cabeça por um momento, bem onde a marca estava. Então olhou pelos arredores, fazendo com que as mãos gordinhas, as quais pararam a espada sagrada de Emi com um aperto, esfregassem os olhinhos bem devagar.
Depois de um momento encarando o nada, deitou-se no chão.
— … snif…
Então adormeceu.
O Lorde de Todos os Demônios, a Heroína meio-anjo, o Grande General Demônio, o Clérigo do Júri de Reconciliação e o cidadão caído do paraíso ficaram olhando.
Todos eles, cada um nascido de circunstâncias semelhantes, ultrajantes e improváveis, achavam igualmente impossível compreender o que acabaram de ver.
— Beleza… Só um segundo aí.
Maou, para seu crédito, foi o primeiro a voltar a si.
— O.. . O… O que… que tipo de… quem…
Sua fala, entretanto, ainda tinha que acalmar as ondas de confusão que devastavam a sua mente.
— Como, como, não sei, como eu…?
Emi não estava diferente.
— Ma-Maou!
Urushihara conseguiu espremer um grito do seu lugar vantajoso na escadaria acima. Suzuno e Ashiya estremeceram com o choque da fala e olharam para cima.
Mas os olhos de Urushihara estavam virados para longe, na direção da estação de trem de Sasazuka.
— Mano, alguém está vindo!
As palavras foram o suficiente para fazer todos voltarem ao silêncio.
Independentemente do que fosse aquela garota maçã, não havia como saber quantas pessoas perceberam o enorme clarão de luz. Não importava o quê, tinham que evitar os olhares dos vizinhos.
— E-Ei, Emi!
— O… O que foi?!
— Pegue… essa criança? Ela é uma criança, né? Leve-a para o segundo piso!
— P-Por que eu?!
— Ela é uma garota! E você também! Pegue ela! Nunca carreguei um bebê humano antes!
— Como é, você acha que eu já? Tipo, já abracei uma, beleza, mas ela não estava deitada na terra quando o fiz!
— Heroína! Rei Demônio! Vocês são dois tolos!
Suzuno começou a agir.
Com gentileza para não acordar a menina, usou suas mãos práticas para pegar a garota aparentemente sobrenatural, agora dormindo depois de ter dado um choque mortal na vizinhança.
— Oh, boa.
— Clérigos como eu devem aprender a como lidar com jovens para as suas cerimônias de batismo! Você! Alciel! Eu queria levá-la para o Castelo Demoníaco! Prepare alguns lençóis!
— N-Não fique me dando ordens, Crestia! Ai ai ai ai…
Ashiya resmungou para si mesmo enquanto subia dolorosamente as escadas.
Seguindo logo atrás, Suzuno habilmente removeu suas sandálias zori na base das escadas, subindo cada degrau coberto de poeira com suas meias tabi brancas.
— Ei, você também vai lá pra cima, Emi! Por que Suzuno tirou as sandálias? Traga-as para ela!
— Talvez para não escorregar, eu acho! Uou! Bell! A bolsa!
Agarrando as coisas que Suzuno largou quando o Portal se abriu, Emi subiu as escadas de maneira estranha.
— Então, e… Ei, Chi! Chi, qual foi? Não vi… Hã?
Maou, naquele momento, enfim percebeu que nem Chiho nem a sua voz de pânico comum tinha se feito presente nessa confusão.
Olhando ao redor, ele a viu ao lado de onde a tinha protegido da luz do Portal, encarando o nada em frente à árvore.
— Uh… olá? Chi?
Eventos malucos sobrenaturais como esse não deveriam ser o suficiente para deixar Chiho em choque a essa altura do campeonato.
Será que a torrente de luz do Portal teve algum efeito de dano sobre a Chiho, a qual não tinha proteção alguma contra energia demoníaca nem sagrada? O pensamento temeroso passou pela mente de Maou.
Mas, olhando de mais perto, um traço de vermelho estava presente em suas bochechas enquanto um sorriso alegre cruzava seus lábios. Ela estava perdida em seus devaneios.
— Ei, Chi? Chi?
— Nós fizemos aquilo…
— Hã?
Ele aproximou o ouvido para ouvir seus sussurros.
— Maou… me segurou. Ele veio pra cima e me segurou com força. Hehe! Com força…
Uma mão foi até seus lábios aliviados e alegres enquanto sussurrava.
— Ahhhhhh… — Maou gritou para si mesmo. — Ei!
— Agh!
Ele tinha batido as mãos na frente do rosto dela, elicitando um grito.
— Por favor, Chi, volte para a realidade!
— Ahh! M-Maou! Eu, uh, eu, aquilo…!
— Sim, sim, sinto muito, mas não temos tempo para conversar sobre o assunto, beleza? Vamos voltar para o Castelo Demoníaco!
— Hm? Ah, ah, ah! M-Maou! Mão, mão!
Sem vontade de esperar por Chiho enquanto ela navegava pelo caminho de volta à realidade dentro do seu cérebro, Maou agarrou sua mão e subiu as escadas correndo.
Todo mundo, incluindo a garota maçã, estava agora abrigado dentro do Castelo, cada um morto de exaustão devido aos seus próprios motivos.
Tradução: Taiyō
Revisão: Milady
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