Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 02 – Cap. 02.4 – A Heroína Deve um Favor Seguido de uma Onda de Mal-entendidos

— Então eles têm uma grande venda de abertura acontecendo e estão distribuindo cupons, é isso? Mais alguma coisa?

Ashiya estava no meio do seu relatório para Maou, dentro do MgRonald.

— Até onde pude observar, mesmo se considerarmos que as ofertas do SFC são um pouco diferentes do cardápio principal do MgRonald, é difícil saber por que teria tanta diferença assim no movimento. O serviço ao cliente também foi perfeitamente normal.

Ashiya lia um pedaço de papel que usou para anotar os pensamentos enquanto falava.

— Uma coisa que percebi era que o frango frito que lhes dá essa fama toda certamente atende às expectativas. Depende do tipo de pedaço, é claro, mas o sabor era maravilhoso, até a alma. Uma grande surpresa!

— Até a alma? Vish…

Maou olhou de maneira acusatória para Ashiya, que balançou a cabeça em resposta.

— De acordo com o que eu pedi para Urushihara investigar para mim, o Sentucky usa algum tipo de truque especial para cozinhar o frango frito. Muito parecido com a carne que comemos no restaurante yakiniku, as chamas atingem o meio perfeito da cartilagem do frango e assim por diante. O fato de que não há muito resíduo deixado no prato depois que terminar de comer parece um pequeno detalhe, mas acho que isso já esclarece a história toda.

Maou cruzou os braços e assentiu com a cabeça para as opiniões de dono de casa dele.

— Huh. Não é exatamente a melhor forma de se manter uma taxa de rotatividade, mas se estiver disposto a se sentar e descansar por um tempo, parece muito melhor ter uma bandeja limpa à sua frente. Se alguém a levar embora, vai parecer que estão te expulsando do lugar.

— Além disso, se formos acreditar nas placas, eles moem o café fresco para cada copo. Os grãos também são, supostamente, orgânicos.

— Orgânico? Como assim, são feitos de órgãos?

Ashiya corrigiu o erro bastante endemoniado por parte de Maou:

— Não. Orgânico significa que usam grãos que cresceram naturalmente, sem qualquer fertilização artificial ou coisa do tipo.

— Certo, mas se você moer órgãos, não vai ficar parecendo uma lama vermelha? Por que chamam de “Montanha Azul” então?

Era difícil para Ashiya saber o quão sério Maou estava sendo, por isso decidiu ignorar.

— Bem, mesmo assim, certamente mostra resultado com relação à propaganda. À rigor, em questão de sabor, imagino que é refrescante o suficiente para café nessa média de preço.

— Hmm. Agora não é bem a época para café quente, mas isso pode vir a ser um problema daqui alguns meses.

Maou colocou um dedo na testa, com uma expressão perplexa no rosto, antes de fazer sinal para que Ashiya desse uma olhada para a área de refeições.

— Mas… sim, você está certo. Eles não têm nenhuma vantagem de verdade sobre nós, pelo menos é o que acho.

Com o alvo de vendas alto para o movimento de sábado, observadores do escritório estiveram ligando de hora em hora para relatar o número de visitantes do Sentucky. Entre os números deles e a quantidade estimada de vendas que fizeram, o SFC estava à frente do MgRonald por quase cinquenta clientes e quase trinta mil ienes no dia.

Para piorar, os números do MgRonald estavam diminuindo constantemente desde a manhã. Fora Ashiya, apenas um novo grupo tinha visitado durante o período do jantar.

— Você está correto, meu soberano. Mas, depois de ter ficado sentado lá dentro por mais de duas horas, há muito pouco que posso oferecer a mais. Além disso, tudo o que posso supor é que transeuntes estão tendo a atenção atraída pela novidade.

— Pois é. Tem grande chance de ser isso…, mas, então, pode ser qualquer coisa. — Maou deu de ombros. — Bem, não vamos ficar sentados aqui e só assistir. Vou ver que tipo de medidas podemos tomar para dar a volta por cima. Obrigado mais uma vez.

A simples recompensa por duas horas de trabalho de sentinela fez com que Ashiya tivesse dificuldades para não se virar e ir embora.

— Não foi nada. Estou feliz por ser útil a você. Agora, se eu pudesse ser de ajuda para suas vendas, gostaria de pedir dois combos Big Tuna Burger, por favor. Batatas fritas grandes e bebidas em ambos. Não tenho dúvidas de que Urushihara irá choramingar por causa disso, mas deve ser o suficiente para o jantar de hoje.

— Se aquele peso morto no meu Castelo Demoníaco choramingar sobre a comida que ganha de graça de nós, pode ir lá e dar um soco nele por mim. Tem a minha permissão.

— Sim, meu soberano.

Era uma estranha conversa rude entre os dois arquidemônios.

— Além disso — Ashiya virou-se para uma mesa nas proximidades, mostrando um sorriso irônico. — Espero que trate bem aquelas damas.

— Huh? Uh, sim. Que seja. — Maou deu uma resposta vaga.

— Quando voltar para casa, pretendo fazer uma aproximação diferente. Farei com que Urushihara explore mais sobre o lado obscuro da empresa. Talvez haja algum truque secreto no trabalho deles que não seja tão óbvio para os outros.

— Se houver, duvido que vá encontrar na internet. Nós meio que estamos em categorias diferentes mesmo, então não é como se souber quais são seus fornecedores ou métodos de cozinha fosse ajudar tanto. Não exagere demais, pode ser? Você ainda está se recuperando e tal.

— Oh, não precisa se preocupar comigo, Vossa Alteza Demoníaca.

Enquanto os dois demônios murmuravam entre si em voz baixa, Chiho rapidamente montou o pedido, completou as refeições em cerca de um minuto e entregou a Ashiya.

— Obrigada por aguardar, Ashiya, e boa sorte para vocês na luta, beleza?

— Certamente. Muito obrigado. Darei o meu melhor.

Chiho devolveu o agradecimento com um sorriso.

À medida em que Ashiya carregava a sacola pesada para fora da área de refeições, Chiho o observava partir, então seus olhos se viraram na direção do outro grupo ali.

— Uau, eles realmente estão bem conectados, hein? Tanto nos negócios quando na vida pessoal, eu acho. Estão sempre pensando em como melhorar o negócio deles… Profissionais de verdade, hein? Você conhece mesmo muitas pessoas talentosas, Emi. Oh, hã, contando comigo também, assim espero!

— Sim. Aham, você também.

— Esses assentos são mais duros que os do Sentucky…

As três mulheres estavam deixando suas opiniões correrem à solta, apesar de não terem pedido nada. Ao se virar para elas, Maou mostrou um sorriso tenso e desconfortável.

— Hm… com… licença…, senhoritas?

— O que foi?

Uma das mulheres percebeu com mau-humor a presença de Maou.

— Poderiam por gentileza fazer o pedido antes de se sentarem?

— Oh? Hã, um café gelado pequeno. Traz pra mim.

Era o pedido mais barato possível do cardápio do MgRonald. Emi, livre dos olhos bisbilhoteiros de Ashiya, não tinha mais interesse em realizar favores para os demônios, o que fez a têmpora de Maou saltar.

— Trabalhamos com um sistema de pedidos self-service no balcão…, senhorita!

— Okay, você seria gentil o bastante para trazer aqui se eu pedir uma torta de maçã junto?

Emi recusou-se a levantar-se mais do que depressa. Mal conseguindo manter o seu sorriso de atendimento ao cliente, Maou virou-se para Rika, que estava sentada na frente de Emi.

— Senhorita, você…

— Uou, então você é o Maou, hein? Sabe, considerando o quão leal Ashiya é contigo, não posso dizer que está transbordando de carisma. O turno que está supervisionando parece bem morto pra mim também.

— Vocês… poderiam me dizer o que acham que são, suas aberrações?

A péssima avaliação sobre sua aparência e ética de trabalho, que vinha de alguém com quem nunca trocou palavras em sua vida, enfim jogaram Maou do penhasco.

— Ooh, é melhor tomar cuidado com o que fala, né? O RH não vai querer receber cartas sobre isso, não acha?

Rika ria de orelha a orelha enquanto encarava Maou, totalmente tranquila.

— Cale a boca. Até mesmo os clientes têm regras para seguirem aqui dentro. E quem é você mesmo?

Uma das amigas de Emi, sem dúvidas, o que significava que era sua inimiga mortal.

— Me chamo Rika Suzuki, colega de trabalho de Emi. Você é Sadao Maou, certo? Emi, Suzuno e Ashiya me falaram sobre você.

— Não sei o que Ashiya e Suzuno falaram, mas ela não poderia ter dito algo bom sobre mim.

— Bem, Ashiya e Emi meio que tinham uma visão unilateral, por isso pensei em vir aqui para ver por mim mesma.

— Huh, ótimo. Deve amar se intrometer na vida dos outros, não é?

Maou olhou para Emi, que estava com a cabeça preguiçosamente apoiada sobre um cotovelo.

— Ugh… Não estou tendo clientes. Tenho a Emi aqui… vou ficar falido até o final da noite.

— Oh, você não deveria dizer coisas desse tipo, Maou…

Chiho escolheu aquele momento para chegar com a bandeja em mãos.

— Minha nossa! Você certamente parece cheia de vigor, Chiho. — Suzuno foi a primeira a cumprimentá-la.

— Obrigada, Suzuno. Dia corrido hoje? — Chiho ficou ao lado de Maou, parecendo um pouco irritada. — Yusa é uma valiosa cliente nossa, sabia? O que me disse antes? “Contanto que esteja nos pagando, um cliente é um cliente”, não é? — Com isso, colocou a bandeja na mesa. — Um café gelado e uma torta de maçã quentinha direto do forno.

— Oh! Chiho!

Ela deve ter escutado o pedido de Emi, que, mais do que depressa, levantou-se para pegar a carteira.

— Sinto muito! Sabe como fico perto do Maou, então…

— Ah, tudo bem, eu entendo. Não me é permitido preparar os pedidos até que passem primeiro pelo caixa, mas não vamos ter movimento por um tempo ainda. Vai custar trezentos ienes.

Envergonhada, Emi entregou as moedas para Chiho.

— Hã? Então é assim que você trata a Chiho, hein?

— Claro que é assim. Acha que eu colocaria vocês dois no mesmo nível? Isso seria bastante rude com ela.

— Ooh, boa.

— Então essa é a sua amiga, Yusa?

— Sou! Rika Suzuki. Trabalho com a Emi o dia todo.

— Meu nome é Chiho Sasaki. Yusa tem sido de grande ajuda para mim de várias maneiras! — Ela se curvou com educação.

Rika observou bem o seu rosto, pensando em algo, então a chamou com um dedo.

— Sim?

— Chiho, certo?

— Sim… Ahh!

Sem aviso algum, Rika agarrou-a, abraçando-a com força.

— Você é tããããão fofa! Não é? É simplesmente a maior fofura! Tipo, deve ser algum tipo de milagre japonês!

— Agh, agh, agh!

Chiho balançava os braços em um esforço fútil para fugir da atenção súbita.

— Eu não consigo acreditar em todas essas pessoas incríveis que você conhece, Emi! Ela é tão educada, tem uma ética de trabalho super-séria e também é fofa! Devia ser contra a lei ser tão fofa assim! É um tesouro nacional! Eles deveriam fazer dela um Patrimônio Mundial!

— S-Suzuki!?

— Ei, Rika, você está assustando a Chiho…

— Sim, e é tão foooofa!

— Qual é, Rika, está parecendo um bêbado às duas da madrugada!

— Ohhh, tudo beeeem. Sinto muito por ter ficado tão eufórica, Chiho.

— Gah… Tudo, tudo bem… eu acho…

Ao ser solta, Chiho ficou ofegante enquanto tentava recuperar o foco sobre o que acontecia ao redor.

— Então, achou algum trabalho bom?

Depois de observar o sofrimento de Chiho na presença de Rika ao lado, Maou voltou o assunto para Suzuno, que estava em silêncio. Ela hesitou por um momento, surpresa por ter sido questionada.

— Ainda não…

— Oh? Bem, mas parece que pelo menos aproveitou o passeio pelo centro. Isso é bom.

Pelo quimono e o balão que ainda flutuava sobre sua sacola, ela parecia alguém que saiu de férias.

— Aquilo f-foi uma excursão de estudo social!

Suzuno tentava explicar o seu caso com as bochechas ficando em um tom de rosa.

— Estudo social? Sim, ótimo, ótimo. Apenas se certifique de dar uma controlada na carteira, beleza? Sei como é fácil ficar animado por aí, mas irá à falência se gastar dinheiro assim. — Maou virou a sua atenção para Emi em seguida. — E já que ela ainda não encontrou um trabalho, tente não a transformar em uma secretária viciada em compras, pode ser?

Ele tentou parecer o mais exausto possível enquanto falava.

Isso atingiu Emi como uma acusação incrivelmente injusta do nada, mas ela não podia se dar ao luxo de expor a verdadeira identidade de Suzuno para Maou e seus companheiros.

Por que, gemia para si mesma, sou a única aqui forçada a manter segredos enquanto todo mundo está passando cruelmente por cima de mim?

— Pelo que Ashiya falou, parece que você teve algum tipo de problema, é isso?

— Como se você precisasse saber. Não tem problema algum, contanto que não faça nada para bagunçar a vida tranquila e privada dela.

Emi tentou ser clara para Maou e Suzuno ao mesmo tempo, ainda que de duas formas diferentes.

Maou deu de ombros e riu:

— Viu só? Eu disse. Não me culpe se acabar tendo que pagar por isso mais tarde.

O agouro por trás dessa simples observação mexeu com ela.

— Espere aí, o que você…?

Emi sentiu uma estranha inquietação com relação àquele conselho, mas Rika a impediu antes que pudesse continuar perguntando.

— Ei, a propósito, o que você fará com relação a tudo isso? Não parece mesmo que o movimento está bombando aqui. A Emi está cercada por todas essas pessoas talentosas, então tenho certeza de que você não é o idiota que está parecendo ser.

— Oh, então agora está dizendo que pareço um idiota? Não gosto mesmo desse tipo de feedback dos clientes, obrigado. Diga isso ao gerente regional caso se importe tanto assim.

— Ei, pense nisso apenas como um conselho de vendas amigável. — Agora não tinha mais como parar Rika.  — Mas, então, deixe-me só lhe dizer isso: estou aqui hoje porque quero ver como você trabalha.

— O que quer dizer com isso? E quem é você, a propósito?

— Oh, amiga da Emi, da Suzuno e também filha do presidente de uma empresa.

— Isso não me ajuda muito, senhorita! Se não está aqui para comer alguma coisa, pode ir lá para fora, beleza? Posso não parecer, mas estou bastante ocupado no momento.

— Tinha falado que “daria a volta por cima” agora há pouco. Então, o que vai fazer, hein?

— Senhorita, me parece que você não tem o dom de ouvir as pessoas, né? — Maou suspirou, carrancudo.

De repente, outra voz soou da entrada:

— Está aí, Maou?

Um cliente idoso entrou carregando algo grande e verde consigo. Rika, Suzuno e a exausta Emi viraram os olhos na direção dele.

Quando reconheceu o homem, Maou deixou a mesa de Emi para trás e se apressou até ele.

— Nabe! Não precisava vir correndo!

— Não queria te decepcionar, Maou! Achei que seria melhor se fosse mais rápido.

O homem chamado Nabe deu uma risada alegre.

— Bem, obrigado mesmo assim. Sabe que eu poderia ter pegado. Se importa de deixá-la contra aquela parede lá?

— Ohh, certo. Não devia ter trazido algo tão grande assim aqui para dentro, né?

“Nabe” se deu um tapa na testa antes de colocar aquele objeto verde ao lado da porta.

— Passei o dia limpando as partes menores e os galhos baixos o suficiente para chamar a atenção. Está tudo prontinho! Escolhi a melhor que pude encontrar, então se divirta para decorá-la! E agora que está feito, é melhor eu já ir embora.

— Quê? Mas já? Não quer comer algo primeiro? Eu pago.

Nabe balançou a cabeça em resposta.

— Obrigado pela consideração, mas a minha esposa ficou responsável pelo jantar hoje à noite. Na próxima limpeza, talvez, hein? Diga olá para Kisaki por mim.

Com um aceno rápido, virou-se e saiu confiantemente pela porta.

Na mesma hora, os funcionários livres da equipe do MgRonald começaram a sair dos fundos com rolos de papel colorido nas mãos.

— Uau, veja só o tamanho daquela coisa!

— É melhor decorar tudo isso antes da hora de pico!

— Ei, acho que ainda temos aqueles conezinhos de plástico sem tampa no depósito. Acha que podemos colocá-los nos galhos?

Eles se reuniram na área de refeição, conversando animadamente entre si.

— Então… o que é aquela coisa grande lá fora?

Ao perceber a voz de Rika, Maou deixou a equipe trabalhando na árvore e voltou para a mesa de Emi.

— O que acha que é? É um bambu sasa.

— Sasa?

— Está quase na hora do Festival das Estrelas de Sasahata. — Depois de dizer isso, Chiho pegou várias folhas de papel colorido, as quais foram cortadas em finas listras, junto com um marcador preto.

— Festival… das Estrelas de Sasahata?

Chiho continuou quando Emi inclinou a cabeça, curiosa:

— Bem, as vizinhanças de Sasazuka e Hatagaya trabalhavam juntas todo ano para realizar um festival de verão. É daí que vem o nome Sasahata… é só os dois colocados juntos. Para falar a verdade, estamos um pouco atrasados com a decoração, mas o que pode ser melhor em um festival de Sasahata do que uma verdadeira planta sasa?

— Pedi para o chefe de estoque mandar um pedido para o escritório regional como um favor especial. Crianças com idade de doze ou mais novas podem escrever os pedidos nessas fitas de papel colorido e amarrá-las na árvore para decorá-la, e nós lhes daremos uma bebida grátis em troca.

— O Festival das Estrelas começa para valer no final da próxima semana, e teremos toneladas de clientes neste dia, por isso Maou pensou que seria uma boa forma de passar a perna no Sentucky Fried Chicken.

Chiho estufou o peito, justificavelmente orgulhosa.

— Huh, você fez isso? — Rika soava impressionada. — Nós normalmente temos um bambu de plástico que usamos todos os anos, mas achei que não teria aquela atração natural para as pessoas, semelhante à de uma árvore de Natal.

— Maou também nos deu todas as ideias de decorações para fazer!

As tiras de papel tinham sido feitas com todos os tipos de decoração, de flamulas e cisnes de origami a bolsinhas e redes. Considerando que tudo era feito à mão, a equipe fez um trabalho digno de nota. Rika olhava com cuidado para o exemplar que Chiho lhe dera.

— Uau, é bonito. Mas um bambu sasa de verdade não é caro? Não tem como gastarem tanto assim em um pedido de um funcionário de meio período. Ou ele é seu mesmo?

Agora foi a vez de Maou estufar o peito.

— Hehe! Você acha, né? Mas essas são as coisas que um gerente assistente tem para usar como charme, sabia? Aquele cara de antes, o Senhor Watanabe, é alguém que conheci enquanto fazia um trabalho voluntario para limpar a cidade, e ele tem vários desses no seu jardim.

— Você… voluntário com os limpadores de rua?

— Céus! Doou o seu tempo pelo bem da comunidade? Sadao, você realmente realizou tais feitos?

— Huh. Então se importa mesmo com o bairro em que vive.

A surpresa exibida por Emi e Suzuno era um monstro diferente da que Rika mostrou.

— Pois é. Nosso último dia de limpeza foi ontem de manhã, na verdade. Ele disse sim logo que perguntei, e também era para mim ir lá buscar… Me sinto um pouco mal por ter feito se deslocar até aqui. Ele também vem às vezes para fazer um lanche com o neto.

Agora Emi entendeu por que Maou acordou tão cedo e saiu na manhã de ontem. Isso lhe poupou uma ida até o hospital, verdade, mas a ideia de o Rei Demônio se tornando um cidadão modelo pela vizinhança não era algo que achou particularmente agradável, ainda mais quando de frente para essa realidade em público, com todas as suas amigas olhando.

— Então, de qualquer forma, não podemos guardar essa árvore até o ano que vem, é claro, por isso pensei que, no dia do Festival da Estrela, poderíamos cortá-la em pedacinhos e dar para as crianças. Seria tipo uma árvore de festival em miniatura, saca?

— Hmm! Acha que isso vai compensar? Não sei se as crianças dos dias de hoje vão se importar com algo assim.

Maou acenou o dedo para a crítica de Rika.

— Bem, o tipo de criança que escreve o seu desejo e o amarra na árvore compraria a ideia, não acha? Adultos como nós tendem a achar que todas as crianças só se importam com videogames hoje em dia. Entretanto, sabe, cada um desses desejos do Festival das Estrelas tem um significado, assim como cada ornamento em uma árvore de Natal. E ter tudo isso junto em um lugar só é o que deixa tão bonito. É um bambu de verdade, então podem decorar os quartos com ela e coisas do tipo, e, caso enjoem ou ele morra, a árvore e as decorações de papel podem queimar, por isso é só jogar no lixo reciclável.

No bairro Shibuya, de Tóquio, podia-se jogar fora pequenas quantidades de sujeira de jardim, contanto que cortasse os galhos em pedaços de trinta centímetros primeiro.

— Não há garantia de que irá atrair clientes, é claro, mas pensei que, ao invés de termos as mesmas decorações genéricas de todas as temporadas, seria melhor ter algo que ajudasse a nos conectar com os clientes e com a área ao nosso redor.

— Uau, você pensou bastante nisso.

Ao ouvir a explicação, os olhos de Rika lançaram-se animadamente de Maou para a árvore sasa. No fim, virou-se direto para Emi e disse:

— Ele é dos bons.

Foi um elogio puro e autêntico.

— Ooh, ouviu isso, Emi? A sua amiga acabou de dizer que o gerente assistente é bom!

Maou aceitou o elogio mais do que depressa, olhando de maneira desafiadora para Emi.

— Hehe! Não faça ela retirar o que disse, Maou! — Chiho riu da resposta óbvia dele.

Emi, olhando para Maou como alguém que vê a descarga do banheiro depois de esvaziar o estômago, enrugou o rosto com força.

— Você… se esforça no seu trabalho. — Essa foi a única coisa que conseguiu dizer.

Lhe doía bastante ter que fazer, ou dizer, algo que pudessse colocar Maou em uma boa posição quando ele estava por perto. Rika, não muito ciente da extensão da neurose dela, assentiu com satisfação.

Um membro da equipe correu até a mesa com dois grandes objetos de plástico em ambos os braços.

— Maou! Achei os cones de plástico quebrados. E também tem alguns palanques de “não estacione”, daquele que você enche de água no fundo para mantê-lo de pé. Poderíamos colocar neles para deixar mais estável.

— Ah, perfeito! Muito obrigado! Agora só precisamos decidir o local!

Ao pegar um dos cones e os bastões, Maou correu para fora.

Emi observou-o indo. Ao vê-lo direcionando a equipe enquanto preparavam as decorações do Festival das Estrelas, lutando com unhas e dentes para conseguir clientes, pela porta, parecia praticamente impossível ver qualquer motivo secreto ou intenção maldosa nisso.

Tudo o que via era um gerente assistente que tinha a confiança de seus funcionários, os quais lhe apoiavam.

— Está tudo bem, Emi? Não parece estar muito boa.

Chiho sentiu-se obrigada a falar enquanto brigava internamente com isso. Emi sorriu, incapaz de esconder os sentimentos complexos que surgiram em seu interior.

— Oh, nada, estou bem. Só estava pensando em algo.

Os olhos dela não saíram das costas de Maou em momento algum.

Chiho parecia estar prestes a abrir a boca mais uma vez, mas outro funcionário escolheu aquele momento para chamá-la a partir do caixa.

— Então, se estiver cansada, tente não exagerar, entendeu? Vou gritar com o Maou por você quando terminarmos.

Com essa última rodada de gentileza, voltou ao trabalho.

Tirando os olhos de Maou, Emi observava enquanto os dois funcionários atrás do balcão realizavam trabalhos de manutenção em uma máquina ou outra.

A atmosfera de trabalho ali, pensava ela, era algo que a “Senhorita Kisaki” devia ter criado. Mas, agora, Maou, em uma posição de responsabilidade, ainda era perfeitamente amigável e alegre, até mesmo com o número de clientes lá embaixo. Esta era a verdade, a qual não podia ignorar.

Não apenas Chiho, mas toda a equipe sorria perto de Maou por motivos diferentes, pois estavam se sentindo festivos enquanto colocavam em ação o projeto que Maou lhes deu, mesmo que o bambu do Festival das Estrelas não parecesse ter muito a ver com vender hambúrgueres.

Satan, o Rei Demônio, era um inimigo que precisava desaparecer. Mas Emi, observando enquanto Maou tentava e falhava repetidas vezes em manter a planta de pé perto da porta, tinha outros pensamentos nos lábios.

— Mas ele… ele não está fazendo nada de ruim aqui…

Ela não queria admitir. Não podia, em sua posição.

Mesmo que um criminoso admitisse sua culpa, cumprisse pena e se tornasse um membro reabilitado da sociedade novamente, isso não faria com que os crimes que cometera desaparecessem para sempre.

Notou também que Suzuno estava observando as costas de Maou com uma expressão confusa no rosto.

Até depois de testemunhar a cena por si mesma, Emi se perguntou se Suzuno ainda pensava que ele tinha algum tipo de plano mestre para dominar o mundo em mente.

Justo quando conseguiu fazer a planta não se inclinar com a mínima brisa possível, Rika percebeu algo.

— Hã?

A voz fez Emi saltar dos seus pensamentos solitários.

— Rika? O que foi?

— Bem… é que eles estão conseguindo essa grande quantidade de clientes de repente…

Ela apontou um dedo instável para a porta. Seguindo-o, Emi ficou chocada. As ondas de pessoas que se reuniam na direção do Sentucky Fried Chicken pareciam ter se dissipado magicamente. No lugar delas, outra onda começou a vir para o MgRonald.

Maou só notou isso quando a sua luta valente contra o bambu sasa chegou a um encerramento satisfatório.

— Mano, mano, mano!! — Um sorrio surpreso surgiu no seu rosto enquanto corria de volta para dentro. — Chegaram! Chegaram! Preparam-se, posição de batalha! Está na hora de botar pra quebrar!!

Antes que Maou tivesse a chance de ser ouvido com clareza, a onda humana chochou-se contra o MgRonald, deixando a porta automática aberta atrás dela.

As mesas logo se encheram, e um ar de euforia tomou conta da área de refeições.

— Eita… Está brincando, né?! Que tipo de feng shui aquele bambu deu para ele? — Rika não pôde deixar de rir diante da cena absurda.

— Como isso pode…? — Emi não achou nem um pouco divertido.

— … — Suzuno estava focada no bambu ao invés de Maou, e o seu rosto ficou rígido.

— Olá, sejam bem-vindos! Por favor, formem uma fila em frente ao caixa quando decidirem sobre o pedido!

O serviço afiado e persistente de Maou ecoava alto por todo o estabelecimento.

 


 

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Bravo

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