Rei Demônio ao Trabalho

Rei Demônio ao Trabalho – Vol. 02 – Cap. 03.1 – O Rei Demônio e a Heroína Arriscam Suas Vidas Pelas Responsabilidades dos Seus Trabalhos

Estar no topo tem suas vantagens. Sem dúvidas foi por isso que o conselho decidiu colocar todas as responsabilidades de julgamento sobre ela pela crise que eles mesmos criaram. Ela, antiga inquisidora e atual investigadora do Júri de Reconciliação. Era verdade que estava em bons termos com Olba Meiyer, arcebispo da Igreja e diretor de operações diplomáticas e missionárias. Um funcionário duvidando das responsabilidades administrativas do seu gerente era uma coisa, mas em uma organização como a Igreja, que dependia da fé das pessoas para estabelecer sua verdade e justiça, ter os oficiais máximos forçando as responsabilidades pelas falhas daquele que era o confidente mais próximo deles nos ombros de um subordinado e tentar encobrir suas próprias falhas era algo simplesmente impensável.

O Arcebispo Robertio, após recuperar-se de seu desmaio, deu-lhe a ordem:

— Nos limites dos direitos como um membro do Júri de Reconciliação, eu ordeno que encontre uma maneira de entregar o julgamento a ele enquanto prejudica o mínimo possível a autoridade da Igreja.

Sempre foi assim. Sempre trataram a si mesmos com delicadeza, temendo que suas reputações fossem prejudicadas. Não estavam dispostos a sujar as próprias mãos, aproveitando-se da paz que não fizeram esforço algum para conseguir e tomando todo o crédito em seguida.

Quando as forças de Lúcifer ameaçaram um alvoroço pela Ilha do Oeste há muito tempo, provou-se frustrantemente impossível para as forças da Igreja de lá construir uma frente unificada.

Os cavaleiros da Guarda da Igreja discutiram com aqueles que estavam afiliados à Guarda do Reino Unificado sobre quem deveria tomar a iniciativa na batalha que ocorreria.

Os reinos que se situavam na Ilha do Oeste viram a invasão como uma oportunidade de libertarem-se das correntes de influência da Igreja, uma chance que a Igreja estava disposta a negar.

Apesar das probabilidades avassaladoramente ruins contra eles, não era estranho que a humanidade lutasse entre si pelas migalhas que conseguiram recuperar das hordas demoníacas. Lúcifer foi rápido ao perceber esta fraqueza. Como resultado, a Ilha do Oeste viu-se entregando mais da metade do seu território ao exército dele, incapaz de sequer formar uma resistência coordenada.

Mesmo quando estavam diante do espectro da total aniquilação, as lutas políticas entre os portadores do poder da Ilha do Oeste só serviram para avançar a dizimação da população.

Ela já era um membro formado do Conselho de Inquisidores naquela época. Seguindo as ordens de Olba, seu supervisor direto, orquestrou um expurgo em forma de inquisição.

Em um local como a Ilha do Oeste, onde os ensinamentos da Igreja tinham grande influência nas pessoas, ser marcado como “herege” significava, em essência, a retirada do indivíduo da sociedade.

Ao exercer o extensivo conhecimento da divindade e lei, aquilo que lhe foi ensinado com afinco no Departamento de Diplomacia e Missionários, ela perseguiu com crueldade os líderes que começaram batalhas políticas, baixaram a moral das tropas nas linhas de frente e jogaram seus próprios exércitos em meio ao caos.

Até que a Heroína Emília chegasse para se livrar de Lúcifer de uma vez por todas, ela e os inquisidores sob seu comando dificilmente tiveram um dia em que não viram um banho de sangue.

Surtos entre os proprietários de terras santas da Igreja e os reinos vizinhos eram tão sangrentos quanto frequentes. Não importava quanto tempo continuasse os caçando, fosse santo ou secular, os líderes tolos que falharam em entender a crise que a humanidade enfrentava continuaram a chorar como uma rajada de vento da primavera.

Ela era tão humana quanto eles, mas os caçava em nome da justiça. A cruz da Igreja era a arma eterna deles e permitia que executassem assassinatos sem preocupação com a lei.

Ela mesma carregava grande parte desse trabalho sujo, usando a sua Luz de Ferro para o fazer. Aquela magia sagrada lhe deu a habilidade de transformar qualquer coisa na forma de cruz em uma arma.

Era tudo parte do seu trabalho no Conselho de Inquisidores, um trabalho liderado pelo desejo sagrado de espalhar a paz e a prosperidade pelo mundo todo.

As coisas começaram a mudar quando o Império de São Aile, o reino que ostentava o maior território da Ilha do Oeste, foi tomado pelas forças demoníacas, tendo os seus maiores líderes capturados pelas hordas de Lúcifer.

Perder o reino mais poderoso na Ilha do Oeste significava que a Igreja era a única organização de grande escala que poderia fazer uma frente. Os reinos restantes, temendo mais inquisidores da Igreja, logo sucumbiram-se a formar uma força unida, a qual estava sob a legítima liderança da própria Igreja.

E, com Emília assumindo o comando dessa força, os inquisidores rapidamente viram-se com muito pouco do “trabalho dos deuses” para lidar.

Graças a Emília e seus companheiros avançando de maneira aparentemente imparável contra as forças do Rei Demônio, não era mais difícil introduzir um forte senso de união que percorria todo o exército humano. Além disso, os líderes que uma vez disputaram e brigaram entre si com impunidade foram agora forçados à submissão, o que os levou a entraram na linha sob a bandeira da Heroína.

A humanidade poderia fazer frente contra os demônios, afinal. Era uma esperança simples, mas apenas Emília tinha o poder para fazer com que as pessoas acreditassem.

Entretanto, quando a notícia de que perdeu a vida ao derrotar o Rei Demônio espalhou-se a uma velocidade extrema, o mundo que uma vez estava tão unido sob a bandeira da Heroína caiu em pedaços em míseros segundos.

Depois da derrota do Rei Demônio, os reinos da Ilha do Oeste começaram a realizar audiências criminais contra os inquisidores que demonstraram um zelo em particular ao julgar os hereges durante a guerra.

Na tentativa de evitar isso, a Igreja dissolveu o Conselho de Inquisidores, estabelecendo então o Júri de Reconciliação no lugar para instalar procedimentos “mais abertos” contra aqueles que desafiavam a santidade.

Era uma farsa, daquelas que ela tinha dificuldade em suportar.

Se as pessoas da Ilha do Oeste tivessem se unido contra as forças do Rei Demônio quando ainda havia chance, não se sabia quantas mortes sem sentido poderiam ter sido evitadas, quantos julgamentos desnecessários poderiam ter sido deixados sem avaliação.

Sem o Conselho de Inquisidores, a Ilha do Oeste teria vindo a baixo muito antes de Emília ter aparecido.

— Não executamos pessoas porque gostamos da tarefa!

Sua voz passou despercebida.

O privilégio para os reinos unidos ajudou a manter o equilíbrio político, mas, para os antigos inquisidores, foi como se o orgulho, fé e tudo mais tivessem sido arrancados deles.

Mas, agora, com o mundo deslumbrado pela luz de um novo mito, uma Heroína que sacrificou a própria vida para trazer paz à terra, a Igreja e os reinos simplesmente viraram as costas para o passado, incapazes ou indispostos a admitirem a culpa.

O mundo estava no processo de voltar àquilo que era antes do advento do Rei Demônio.

Emília deu sua vida para proteger este tipo de mundo?

Não podia ser.

A paz pela qual muitos sacrificaram a vida para conseguir não poderia ser uma simples extensão do mundo corrupto e estagnado de antes.

Graças ao seu extensivo trabalho por trás das cenas pela Igreja, ganhou uma posição à frente do novo Júri de Reconciliação. Um júri que deveria reconciliar o mundo com seu passado.

Então que assim fosse feito.

Ao invés de uma paz agitada pelas maquinações medonhas de um bando de velhotes, é melhor encontrar paz onde a luz bruxuleante da vida pode brilhar fortemente com esperança uma vez mais.

— Reconcilie… o mundo.

Ela abriu o portal e deixou que seu próprio corpo fosse levado a outro mundo.

Crestia Bell.

Este era o nome da engenheira de expurgos, caçadora de inúmeros hereges em seus tribunais, carrasca temida como “Foice da Morte” e uma mulher de deus sedenta por paz acima de tudo.

 

— Bem, estou indo.

O relógio marcava nove horas da noite. Chiho, depois de ter trocado de roupa, acenou para o Maou de trás do balcão.

— Beleza. Belo trabalho hoje. E obrigado também pelo bento. Vou lavar a caixa e te devolver amanhã.

— M-Maou, você está falando alto demais! — Chiho falava ainda mais alto à medida que tentava pará-lo, mas os outros funcionários pareciam não ter notado a conversa.

— Cara, essa noite foi um alívio, né? Estou bem feliz por ter visto um fluxo constante de clientes na hora do jantar. Espero que tenha sido o suficiente para fazer com que os números voltem ao valor de antigamente.

Maou e Chiho estremeceram como se vissem a imagem de Kisaki e seu sorriso gélido em suas mentes.

— Pois é. Não quero mesmo ser deportada para a Groenlândia antes de terminar o ensino médio.

— É meio difícil saber quando a Kisaki está brincando ou não, né?

Ambos trocaram sorrisos fracos e forçados.

— Bem, tenha cuidado no caminho para casa.

— Pode deixar! E, hã, sinto muito por pegar a sua bicicleta hoje cedo.

— Tudo bem, sério. Oh, ei, Emi!

Ao distanciar os olhos de Chiho, viu que Emi e Suzuno estavam a uma certa distância atrás dele.

— Vocês estão livres agora, não estão? O fato de terem ficado sentadas àquela mesa a noite toda acabou com a taxa de rotação, então poderiam pelo menos me compensar acompanhando a Chi até em casa, né?

Ele dificilmente estava em posição de ficar mandando nelas, mas o fez mesmo assim.

— Tudo bem, mas nós pedimos, tá? Não acho que tenha o direito de falar assim com a gente. — Emi deu uma resposta mal-humorada.

Podia até fazer tempo que Ashiya partiu, mas Emi, com toda certeza, queria evitar ter que ficar devendo algo a demônios. Duas mulheres gastando mais de dois mil ienes no MgRonald tinha sido mais do que o suficiente para compensar isso.

— Ver o Maou realmente me deixa mais tranquila.

Essas foram as palavras que Rika deixou quando partiu, logo antes do horário de pico do jantar começar. Foi ela quem começou com tudo isso, afinal, mas pelo menos Emi ficou tranquila por não precisar apagar nenhuma das suas memórias no final.

Quando quis ir embora com Rika, Suzuno interviu:

— Se possível, gostaria de inspecioná-lo um pouco mais no seu trabalho, Sadao.

Maou, animado graças ao seu possível sucesso como gerente assistente, aceitou mais do que depressa.

Emi não sabia o que levou Suzuno a fazer este pedido, mas não estava disposta a deixá-la sozinha. Ainda não se sabia que tipo de coisas inquietantes Suzuno poderia tentar.

Por isso que ficou até tarde lá. Suzuno só percebeu a situação e se levantou quando Chiho tirou o avental para encerrar o dia.

— Diga ao Ashiya que estamos quites agora, pode ser?

— Hã? Por que eu deveria me importar? A culpa é sua por ter ficado devendo uma para ele. — Maou retorquiu-a, fazendo gestos para mandá-la embora. — O que passou, passou, beleza? Saia logo da minha frente. E quero ver vocês levarem a Chi até em casa, entendeu?

Emi não conseguiu entender de forma alguma por que Maou colocou tanta ênfase no “Chi”.

— É claro. Não precisa ficar me dizendo. Vamos, Chiho.

— Tudo bem. Até a próxima, Maou.

Chiho, já conhecendo bem a forma com que Maou e Emi brigavam entre si, não levou muito a sério enquanto andava atrás de Emi, que estava indo embora.

Observando do outro lado da área de refeição, Suzuno permaneceu onde estava, sem se incomodar em se aproximar de Maou no balcão.

— … Com licença. — Mal era possível ouvir sua voz enquanto se curvava para Maou e ia embora.

— Muito obrigado! Venha novamente! — respondeu Maou, com um sorriso aconchegante e o roteiro padrão do trabalho.

— Então, onde você mora, Chiho?

Chiho virou-se na direção de Sasazuka.

— Hm, é bem oposto à Rua Koshu-Kaido a partir do apartamento de Maou, mas tem certeza que quer ir comigo até lá?

— Sem problema. Eu estava planejando pegar um trem de Sasazuka mesmo, então não é uma viagem muito longe a partir de lá. Não que eu esteja fazendo isso para agradar a ele ou algo do tipo, mas já está de noite e… então, não queria que uma menina fosse para casa sozinha.

— Ei, você também é uma menina, não é, Yusa?

— Sim. Mas meio que sou uma especial. Vamos indo.

Emi, Chiho e Suzuno foram juntas pela Rua Koshu-Kaido. O tráfego ainda era alto naquela hora da noite, sendo cedo demais para ser chamado de “tarde da noite”, como também sendo tarde demais para ser chamado de “noite”.

Não havia muitos outros pedestres na calçada. A maior parte das lojas tinha suas luzes apagadas, fazendo com que o caminho ficasse notavelmente mais escuro do que o esperado.

Com a Via Expressa de Shuto acima delas durante o caminho todo, o efeito era semelhante a estar caminhando em um túnel que passava por uma montanha de concreto e metal.

Elas chegaram ao cruzamento que separava Sasazuka, com a Ponte Terrestre de Hatagaya abrangendo no alto, quando uma luz vermelha as parou.

— Ah, mas ainda estou feliz por termos conseguido todos aqueles clientes. — Chiho espreguiçava-se enquanto falava como se fosse para si mesma.

— Estava tão ruim assim desde manhã?

— Acho que deve ter sido o dia mais parado desde que comecei a trabalhar lá.

 Foi mesmo de tirar o fôlego. Em um minuto, vazio completo. No seguinte, uma onda de clientes vindo para o MgRonald, enchendo o ar com uma euforia crepitante.

A distribuição de bebida do faça um pedido do Festival das Estrelas de Maou foi um sucesso estrondoso. Quando Chiho foi embora, o bambu estava coberto de cima a baixo com pequenos pedaços de papel amarrados.

— Talvez aquele tal de feng shui não seja tão estúpido quanto parece, hein? Não acredito mesmo em coisas como horóscopo, mas temos que admitir, aquilo lá faz com que você pense um pouco.

A luz ficou verde quando Chiho falou, então ela começou a andar em direção à calçada.

— … Mas foi realmente uma coincidência? — A voz vagarosa de Suzuno a parou.

— Hã? — Emi também se virou.

— Ah! Isso me lembra. O que achou da ética de trabalho de Maou, Suzuno?

Chiho tentou alegremente mudar de assunto, mas Suzuno ignorou ambas ao falar com Emi… usando um nome diferente:

— Você notou, Emília?

— Hã…?

— Emília…?

A luz verde começou a piscar, deixando as três em uma situação estranha na calçada.

— Emília é… o nome verdadeiro… de Yusa…? Suzuno, não me diga que você é…

Chiho levou uma mão surpresa à boca, mas Suzuno olhou para ela antes de virar sua atenção para Emi.

— Eu já tinha minhas suspeitas, mas Chiho tem total ciência do Rei Demônio também, não é?

O brilho afiado em seus olhos perfurava Emi.

— Eu sei, Emília, que você tem os seus próprios motivos. Que o seu objetivo é derrotar o Rei Demônio à sua maneira. Porém, ao observar “Sadao Maou” lidar com as tarefas que lhe foram atribuídas hoje, cheguei à conclusão de que devemos nos livrar do Rei Demônio o mais rápido possível.

— O quê?! Como assim, Suzuno?! — Chiho, agitada, começou a se inclinar na direção de Suzuno antes de ser parada por Emi.

— Do que você está falando? Eu não tenho ideia alguma de onde saiu isso.

— Vocês já pararam para pensar sobre o porquê de o Rei Demônio estar agindo como um jovem japonês educado e sensível? — Suzuno falou devagar, permitindo que a atmosfera escoasse por entre suas palavras, como um sacerdote recitando a Escritura Sagrada para o seu rebanho.

— Já pensaram no que pode acontecer caso ele continue sendo promovido, caso comece a ter influência dentro dos sistemas sociais aqui? Um Rei Demônio com total confiança e aclamação das pessoas atrás dele? — Ela abriu bem os braços. — Já imaginaram como pode ser quando ele revelar suas verdadeiras intenções? Quando enfim trair o mundo e torná-lo seu?

— Sinto muito, mas não. — Emi interrompeu o discurso dela. — Sem ofensas, mas ser promovido no MgRonald vai proporcionar o que a ele? Quero dizer, sim, é uma empresa grande, mas mesmo que enlouqueça e incendeie a matriz ou qualquer outra coisa, com certeza não vai machucar tanto assim o mundo! Talvez fará os preços das ações caírem ou agitará a indústria de fast-food, mas não vai fazer o mundo ficar de cabeça para baixo ou…

Residimos, se me permite lembrá-la, em uma nação onde as pessoas com nada além de uma educação fundamental ou técnica se tornaram primeiro ministros que ditam a direção do mundo. Você acredita honestamente que a sede de sangue do Rei Demônio será saciada dentro apenas da estrutura do MgRonald?

— Oh! Você está falando de Kakuei Tanaka, certo?

A interferência de Chiho, como uma aluna balançando a mão euforicamente e dizendo eu eu eu eu eu! na sala de aula, não foi o suficiente para aliviar o humor.

— Seria muito mais lógico, acredito eu, ver isso como um estratagema para nos tirar do caminho. Este tirano cruel, que tanto assolou Ente Isla, agora é um funcionário alegre e trabalhador na linha de frente. Demônios têm uma vida longa, Emília. Não sabemos que tipo de esquemas complexos ele está tendo em mente, por isso devemos atacar agora, enquanto temos chance! Não é mais apenas uma crise de Ente Isla; o Japão e a própria Terra estão em risco.

— N-Não! Você não pode! Maou está se saindo muito bem mesmo como supervisor de turno, também!

Chiho, enfim percebendo que essa possível nova visitante de Ente Isla estava seriamente ponderando sobre o assassinato de Maou, falou em sua defesa mais do que depressa. Suzuno olhou para ela sobre o ombro de Emi.

— E o fato de que ela ainda tem memórias é outro problema que precisamos resolver. Se a notícia de que o Rei Demônio está vivo se espalhar ainda mais, há chances maiores de mais visitantes vindo ao Japão, os quais buscam a simples glória ao derrotá-los, nada sublime como o que eu e você buscamos. Acha que essas pessoas dão a mínima importância para o que acontece ao Japão e ao seu povo no final? Podem até mesmo tentar usar a Chiho e as pessoas próximas dela para machucar você ou o Rei Demônio. Antes que isso aconteça, devemos apagar as memórias de todo mundo que interagiu com o Rei Demônio e dar o golpe final para acabar com tudo isso!

— Não! Não pode! Simplesmente não pode!

A luz do semáforo acendeu mais uma vez, banhando Suzuno em uma luz vermelha à medida que entrava em um novo ciclo.

— Chiho, você sabe qual é o propósito das decorações do Festival das Estrelas na cultura japonesa?

— Hã…?

A súbita mudança de assunto pegou Chiho de surpresa, e o rosto de Emi ficou tenso.

— As cinco cores naqueles tiras de papel que as pessoas escreveram seus desejos representam os cinco elementos que controlam o espírito na filosofia chinesa. Diz a lenda que as folhas da árvore de bambu sasa abrigam as almas dos seus ancestrais, enquanto seus ramos e galhos retos possuem o poder para afastar o mal. Não existe, é claro, nenhuma dessas forças agindo nas decorações do Festival das Estrelas nos dias de hoje. Mas você viu aquilo? No momento em que o Rei Demônio colocou a árvore na frente, o MgRonald foi imediatamente tomado por clientes. O que acha que isso pode significar…?

— Está… dizendo que a árvore de bambu atraiu as pessoas?

Suzuno respondeu com aceno forte de cabeça:

— A árvore sasa, há muito associada com os espíritos da terra e o poder de eliminar todo mal, está infundida com as almas das pessoas que olham para sua decoração sazonal. O Rei Demônio, inconscientemente, infundiu o seu poder demoníaco na árvore enquanto a decorava. Esta é a explicação mais plausível.

— Se considerarmos o tamanho do choque que uma TV de tela plana foi para você, vejo que sabe bastante sobre os costumes japoneses.

— Eu seria uma falha em meu trabalho de missionária se não pesquisasse os costumes religiosos das terras em que viajo.

Suzuno, ignorando completamente a insolência de Emi, deu um passo na direção dela e Chiho. As duas a encararam de volta, incapazes de se moverem, pois isso as colocaria na via.

— Então, me entendem agora? Já não é mais apenas problema de Ente Isla. Se não nos apressarmos, Chiho, MgRonald e, sem demora, este mundo inteiro serão arrastados por um turbilhão de caos. A falha em tomar uma atitude rapidamente custará caro para nós mais tarde.

Ela focou o olhar afiado em Emi.

— Além disso, você já foi atacada por alguém desconhecido. Devo manter este mundo a salvo, mas também sou obrigada a levá-la de volta para Ente Isla. Entendo que possa ser uma decisão dolorosa, mas essas são pessoas que você não deveria ter encontrado, em um mundo que nunca deveria ter tido a necessidade de visitar. Temos que apagar as memórias de Chiho e eliminar todos os traços de Ente Isla que existem no Japão.

Emi olhou para Suzuno enquanto a noite úmida formava gotas de suor sobre sua testa.

A postura de Suzuno era substancialmente persuasiva. Se fosse um ano atrás, quando a Heroína Emília ainda era uma recém-chegada na Terra, teria concordado mais do que depressa com a proposta de Suzuno.

Internamente, Emi viu-se perdida por completo. E ainda que pudesse não ter tido a intenção, Suzuno estava a ajudando a resolver o que mais lhe incomodava — por que, se já possuía acesso ao seu poder mais uma vez, achava impossível querer matar o Rei Demônio?

Mas antes que pudesse responder a Suzuno, uma voz trêmula foi ouvida.

— … Não. — Era Chiho. — Não… você não pode. Eu, eu não quero esquecer.

— Chiho…

— Eu não quero esquecer… de Maou, de você, de Ashiya, de Suzuno… Tudo bem, acho que também de Urushihara, mas… — Ela balançou a cabeça para colocar ênfase nessa parte. — Somos todos amigos, passamos momentos divertidos juntos… e você quer que eu esqueça disso tudo só por causa de coisas que estão acontecendo em outro planeta? Isso… é simplesmente maldoso demais!

— … Eu sei que não tem como pedir perdão por isso, mas… Chiho, também é pela sua segurança.

Suzuno desviou o olhar, parecendo estar verdadeiramente conflituosa. Aquilo não era o suficiente para convencer Chiho, que continuou quase gritando à medida que lágrimas surgiam em seus olhos:

— Não quero me esquecer de Maou! Não importa o quê!!

Mas Suzuno, com um traço de decisão em seu rosto tranquilo, voltou a disparar com outra onda punidora:

— Chiho, o Rei Demônio Satan vai usar esses seus sentimentos à sua vantagem. Não há dúvidas. E o fato de que você está atraída por ele pode também ser parte de um plano elaborado que criou para nos fazer hesitar, para que não quiséssemos enfrentá-lo…

Isso, mais uma vez, é algo que a antiga Emi teria concordado com entusiasmo. Porém… será mesmo? A ideia parecia impossível para ela agora.

E, da mesma forma que não a persuadiu, certamente não persuadiria Chiho.

Não é! Maou não é esse tipo de pessoa! Por que você tem que dizer todas essas coisas horríveis?! Ele está trabalhando duro mesmo, é tão legal com todo mundo… Por que está dizendo tudo isso?!

A normalmente calma e serena Chiho estava deixando que suas emoções explodissem.

— … Ele é o Rei Demônio. Permitiu que suas hordas demoníacas em Ente Isla conduzissem atrocidades inimagináveis. Fez o mundo inteiro sofrer. É o líder de todos os demônios!

O rancor estava ficando claro na voz de Suzuno enquanto tentava discutir com Chiho, que permanecia firme.

Essa era a verdade nua e crua, um assunto de senso comum para todo mundo em Ente Isla que discutia sobre o Rei Demônio.

Mas Chiho recusava-se a sequer piscar.

— Bem, antes de ele se tornar Sadao Maou, você encontrou o Rei Demônio Satan, Suzuno?!

Vários momentos de silêncio se passaram.

Tanto Emi quanto Suzuno tiveram dificuldade para entender de imediato o que Chiho acabara de perguntar. Era algo que ninguém — especialmente Emi, que estava observando tudo — nunca parou para pensar.

— O que você quer dizer…?

Para elas, Chiho estava fazendo tão pouco sentido que não puderam responder à pergunta com outra coisa que não fosse mais uma pergunta.

Os olhos lacrimejantes de Chiho viraram-se na direção de Suzuno.

— Vocês ficam falando de Maou tipo, “ooh, ele é o Rei Demônio, ele é o Rei Demônio”, mas se realmente é um demônio que pensa em todas essas coisas perversas, por que faria algo como consertar a Via Expressa de Shuto, que tinha sido destruída, e apagar todas as memórias horríveis sobre aquela cena da mente de todo mundo?! Quando conseguiu todo aquele poder de volta, poderia ter controlado a mente do primeiro-ministro, do presidente dos Estados Unidos ou de qualquer outro para dominar o mundo inteiro! Por que não fez isso?!

Agora foi a vez de Suzuno hesitar.

— Eu… eu não testemunhei a batalha que Olba Meiyer perpetrou com os meus próprios olhos. Mas tenho certeza de que o Rei Demônio tem seus motivos. Alguma explicação mais profunda que só ele…

— Tem algum outro motivo fora ser um cara legal que quer ajudar as pessoas?! Se causar problemas para as pessoas, deve se desculpar e compensar por isso! Isso é senso comum! E Maou estava simplesmente fazendo o óbvio!

— …

— Foi Maou que me ensinou a fazer o meu trabalho. Ele fez todo o passo a passo comigo. Se eu errava em algo, ele sempre se responsabilizava comigo. Toda vez que eu precisava falar sobre algo, ele estava lá. Mesmo quando se transformou no Rei Demônio Satan, manteve suas promessas. Me ensinou a como limpar a máquina de sorvete. No mesmo dia! Se alguém assim realmente quer invocar suas hordas de demônios ou qualquer outra coisa para dominar o mundo, como você explicaria tudo isso?!

— Então… então está pedindo para deixar o passado de lado e o perdoar?! — Suzuno também explodiu. — Quantas vidas inocentes de Ente Isla você acha que foram destruídas pelos seus exércitos demoníacos?! Acha que aquelas pessoas aceitariam se ouvissem que o Rei Demônio tomou jeito?! Você vive em uma nação pacífica, onde pode acabar nunca sendo exposta a um perigo mortal durante toda a sua vida. E eu não vou deixar que alguém como você questione a vontade por trás da nossa missão de matar o Rei Demônio!

Chiho permaneceu forte.

— O que você sabe?! Só lutou contra aqueles exércitos demoníacos. Nunca viu o próprio Rei Demônio!

— … O quê?

Suzuno fixou o olhar em Chiho, boquiaberta demais para responder.

— Mesmo que Maou se transforme em Satan novamente, eu sei que ele é uma pessoa de boa índole! E também sei que aquela grande igreja de Ente Isla tentou matar a Yusa sem um bom motivo!

Aquela experiência formava aquilo que Chiho sabia sobre a terra natal de Emi.

— Você também nunca tinha visto o Rei Demônio antes de invadir o Castelo Demoníaco dele, né, Yusa? Falou sobre como os exércitos de Satan invadiram a terra e fizeram todas aquelas coisas más, mas foi isso. Entretanto, ao menos sabe o que ele estava fazendo antes disso?

— … Você seria uma exímia advogada da corte algum dia, Chiho. Pelo meu nome como antigo membro do Conselho de Inquisidores, posso garantir. A forma com que vira as palavras dos outros contra eles mesmos é de tirar o fôlego.

— Suzuno! Não fuja da pergunta! Por favor, me responda!

— Ele era o comandante deles! Tem total responsabilidade pelo que seus exércitos fizeram! Acha que um homem que ordena massacres deveria ser inocentado porque foi outro que os realizou?

— Ei, vocês duas poderiam se acalmar um pouco? Não vamos chegar a lugar algum discutindo dessa maneira.

— Espere!

— Não!

As duas protestaram ao mesmo tempo contra Emi.

— Suzuno… Não. Crestia Bell, eu acho que tudo que está nos dizendo está correto. Realmente. Mas eu quero falar apenas uma coisa.

Emi levou as mãos até as costas de Chiho, cujo rosto estava vermelho e cheio de lágrimas agora.

— Yusa…

— A paz pela qual lutei é aquela em que as pessoas sentem vontade de sorrir novamente. Não uma em que o sacrífico é visto como um mal necessário, onde eu tenho que me fazer de cega para algo que faz meus amigos chorarem.

O rosto pálido de Suzuno virou-se para cima.

— Quero matar o Rei Demônio de uma maneira que todo mundo possa sorrir novamente. A ideia de não querermos o Japão envolvido apenas mostra o quão arrogante somos, já que viemos de Ente Isla. Temos nossas ideias sobre o Rei Demônios, mas outras pessoas têm as suas. Não temos direito algum de tomar decisões unilaterais por eles.

— … Você acredita mesmo nisso? — A voz de Suzuno soou trêmula ao perguntar.

— Sim. — Emi foi clara e provocativa.

— É um sonho impossível. Você quer a permissão de cada homem, cada mulher e cada criança de Ente Isla e do Japão antes de matar o Rei Demônio? Uma atitude dessas é impossível. Sempre haverá sacrifícios que serão necessários.

A energia parecia ter sido drenada dos olhos e da voz de Suzuno enquanto falava.

Doía demais para ela. Como suas próprias palavras podiam doer tanto em seu coração?

O fato de ter buscado Emília se deu justamente por querer livrar o mundo do “sacrifícios são necessários”, pois tinha o desejo de se livrar de um mundo tão disposto a virar as costas para estes sacrifícios e motivos pelos quais foram necessários.

— Mas é isso que devo fazer. Eu sou a Heroína Emília, a esperança da humanidade.

Suzuno sabia que Emília teria entendido. Assim como fez no seu mundo, o qual tentou enterrá-la na escuridão uma vez.

Emi aliviou sua expressão por um momento antes de continuar, e suas palavras miravam certeiramente no coração de Suzuno.

— E ainda tem um problema mais recente. Se intervirmos demais com eles e o Rei Demônio, Alciel e Lúcifer despertarem a verdadeira natureza deles ao mesmo tempo, nós duas estaríamos em uma grande desvantagem. A habilidade que aquele agressor misterioso me mostrou… Aquele não era o estilo do Rei Demônio. Se nos precipitarmos para matá-lo, estaremos simplesmente nos jogando em uma batalha dupla sem força o suficiente nem informação. Portanto…

Emi colocou as mãos nos ombros de Chiho.

— Neste exato momento, quero apenas fazer com que continue sorrindo, Chiho. Não vou apagar suas memórias, nem deixarei o Rei Demônio morrer. E se insistir neste assunto, Suzuno, terá que me enfrentar primeiro.

Ela levou uma mão ao peito

— A espada sagrada… Está falando sério?

Sua mão direita acendeu-se quando sua energia sagrada ressoou com a Prata Sagrada dentro do seu corpo, o núcleo de sua arma.

Aquela pequena liberação de poder foi o suficiente para emitir um poderoso clarão de luz por todo o cruzamento à noite, iluminado apenas pelas luzes dos postes e semáforos.

— Você é uma cidadã de Ente Isla. Eu lhe protejo, assim como também protejo todo mundo. Mas se quiser fazer qualquer coisa com a Chiho por causa desses pretextos que disse, lhe enfrentarei. Lhe enfrentarei pelas memórias de Chiho, pelo passado indelével. Ela é uma amiga preciosa, a qual preciso proteger.

— Yusa… — A voz de Chiho estava carregada de pura emoção.

— Além disso, você veio ao Japão porque não gostou de ter que cobrir coisas que eram “inconvenientes” para sua missão, não é mesmo?

— …

Suzuno tomou uma postura corajosa enquanto encarava Emi, mas a coragem era frágil e fugaz, podendo quebrar com o mínimo impacto.

— Se tudo com o que se importa é o bom nome da Igreja, tentaria ter escondido os crimes de Olba no momento em que ficou sabendo deles. Isso criaria a melhor imagem pós-guerra aos olhos da Igreja, não acha? Eu e o Rei Demônio mortos faria com que criassem a lenda dessa grande cavaleira da Igreja que sacrificou a vida para derrotar o mal supremo.

Suzuno cerrou os dentes, com os olhos virados para baixo, na direção da rua.

Isso era exatamente o que todos os velhos arcebispos do santuário queriam.

— Mas mesmo que tenha trabalhado para Olba, não está satisfeita com isso. É por isso que se preocupou em me levar para casa, não é? Quer que eu revele os crimes dele e o lado obscuro da Igreja para todos, para que assim ela possa se purificar e se tornar o farol orgulhoso de fé que uma Ente Isla pacífica merece.

Emi afastou-se de Chiho e começou a se aproximar de Suzuno, cujos olhos estavam apontados para baixo.

— Você ainda é a chefe do Júri de Reconciliação. A ala da Igreja cuja missão é espalhar sua doutrina pelo mundo. Representá-la como uma fé justa.

Emi estendeu uma mão com a intenção de tocar no ombro de Suzuno, que girou o corpo para se esquivar, saltando para trás enquanto o fazia.

— Uou! Tome cuidado!

Mas ela não deu atenção alguma à luz vermelha e pulou no cruzamento. A buzina alta de um carro não a parou também, então mergulhou na escuridão em uma tentativa de fugir da cena com todas suas compras.

Emi, na sua opinião, tinha acabado de dizer que ela era igual.

A fez perceber que não era diferente daqueles velhos monstruosos, os mesmos que ela julgava como estar tão abaixo dela.

Aqueles todo-poderosos distorcidos e feios, incapazes de proteger os que mais precisam de proteção, que viam sacrifícios como um mal necessário, o “mal” que deveria ser ignorado e não percebido.

A derrapagem dos pneus dos carros soava como uma risada alta dos “hereges” que ela eliminou do mundo durante sua longa carreira.

Emi observava com um rosto repleto de preocupação enquanto Suzuno continuava com sua fuga perigosa.

— Sinto muito, acho que talvez tenha ido longe demais.

Chiho estava atrás dela, com lágrimas escorrendo dos olhos.

— Não sei muito sobre Ente Isla. Tudo o que sei é algo que aprendi por acaso. Mas só me importei comigo mesma, com Maou e… e fui maldosa demais com Suzuno…

Emi, internamente conflita, acariciou a cabeça de Chiho, que chorava.

— Está tudo bem. Não tem como você escolher de quem vai gostar.

— Sim, mas fico envergonhada com você dizendo isso…

Emi abraçou-a gentilmente conforme ela tentava ao máximo engolir o choro.

— Yusa…

— Também é difícil para ela. Tenho certeza de que está pensando em muita coisa, então tente lembrar disso, pode ser?

— Tudo bem… sniff… é melhor eu me desculpar mais tarde…

— Certo. E certifique-se de que seja uma conversa longa e tranquila na próxima vez. Ela é muito mais aberta para as pessoas do que parece.

— … Tudo bem.

Chiho retribuiu o abraço colocando um pouco mais de força do que Emi.

— Você é como uma irmã mais velha para mim, Yusa.

— Eu não acho que tenhamos uma diferença de idade tão grande assim. — Emi mostrou um sorriso hesitante enquanto esfregava a mão pelo cabelo de Chiho. — Mas… acho que todas nós precisamos ficar atentas a partir de agora. — O seu sorriso ficou tenso conforme sussurrava.

Suzuno parecia compreender a história de Emi à sua própria maneira caótica, mas sua ansiedade para com Maou não havia desaparecido. Não se sabia o que ela poderia fazer em seguida.

Além disso, também tinha a aberração que portava a foice, o qual mexeu com Emi antes.

Aquilo com certeza foi um ataque planejado. Um assassino da Igreja, talvez, agindo por causa de Olba à própria maneira deles.

Havia todas estas incógnitas à solta, e ela não tinha ideia do que fariam em seguida, mas tinha certeza de que não seria algo bom.

Com a mente pesada pelos pensamentos, Emi deu um longo suspiro incomodado.

Talvez já fosse hora de falar para Maou e os outros sobre o agressor e também da verdade sobre Suzuno. Eles precisavam estar preparados para o inesperado, e Emi tinha que ter certeza de que poderia matar o Rei Demônio da forma que quisesse.

Estava relutante em fazer qualquer coisa que fizesse parecer estar preocupada com a segurança de Maou, mas saber que sua vizinha ao lado era uma figura poderosa da Igreja era a melhor forma de assegurar que os demônios, quase que desprovidos do poder, ficassem na linha. Com relação a isto, não seria tão ruim assim no final.

Ela até tinha pensado nisso para dar uma melhorada na força de vontade para a tarefa.

— Bem, que seja… Eu odeio isso. É como se eu estivesse o ajudando.

— Sabe, se você e Maou estivessem se dando bem um com o outro, isso me deixaria feliz também. — falou Chiho, aproveitando a oportunidade da atmosfera agora um pouco mais leve.

— Sinto muito, mas se quer que nós nos tornemos amigos, eu com certeza não vou poder aceitar.

Ela gostava de Chiho, mas não o suficiente para isso.

— Mas, caso vá contar a ele, quanto antes, melhor! Se deixar uma mensagem de texto e uma de voz no celular dele, é bem capaz que responda assim que sair do trabalho.

Chiho afastou-se um passo de Emi para tirar o celular da bolsa e procurar pelo número de Maou na sua lista de contato.

— Mas quando você descobriu, Emi? Tipo… sobre Suzuno e tal?

— Hoje de manhã, na verdade. Ela me disse tudo logo depois do café, na estação de Sasazuka, então…

Então Emi notou.

— Desculpe, Chiho!

Sua voz ganhou intensidade.

Chiho ficou petrificada no lugar. Emi saltou até ela e, então, um som alto de colisão soou.

— Hã? O qu… o quê…? — Chiho estava com dificuldades para entender por que Emi se jogou nela.

— Por falar no diabo… como dizem. Esses perseguidores devem realmente me amar. — sussurrou ela, em resposta, deixando a raiva óbvia em sua voz.

A figura tinha cerca da mesma altura que Suzuno ou Urushihara. A máscara de esqui preta se destacava, assim como a capa de chuva e as calças camufladas. A falta das manchas de tinta na máscara fizera com que Emi concluísse que o seu agressor havia comprado uma nova.

Em ambas as mãos ele segurava a gigantesca foice, como se tivesse arrancado a lua crescente da noite direto do céu.

— Y-Yusa, esse cara…

— Sim. — Emi mantinha Chiho atrás dela enquanto se preparava para um embate. — O assassino ente-islano. Aquele que se chocou com a porta da loja de conveniência em Eifukucho antes de ser espantado pelo arsenal de bolas de tinta do atendente.

— …

Os olhos de Chiho iam de Emi ao portador da foice.

— Ele é… realmente um assassino?

— Bem, não consigo imaginar ninguém do povo japonês que cai do céu girando aquela coisa lá.

— S-Sim, eu também acho…

— Sabe, foi a mesma coisa antes. Por que esse cara sempre me ataca na via pública? Vamos ter uma tonelada de testemunhas!

Os três recém tiveram uma discussão nervosa, o que poderia ser ignorado, mas armas com lâmina, por outro lado, geralmente não.

A área parecia deserta à primeira vista, mas, quando as coisas realmente começassem, algumas pessoas poderiam chamar a polícia em questão de minutos. Isso era algo que Emi vivenciou dois meses atrás.

Considerando que ele era um inimigo bem disposto a envolver outras pessoas na batalha, ela teria que entrar em um conflito em uma distância muito curta, tanto para manter Chiho segura quanto para manter o seu nome dos registros de ocorrência como de praxe.

— Não posso perder muito tempo nisso, então pode ser que vire uma bagunça.

Desta vez era para valer. Emi focou toda a sua energia em sua mão direita, fundindo a Prata Sagrada com o poder divino dentro do seu corpo. A espada sagrada, Cara-Metade, ganhou forma em um instante, brilhando na noite enquanto se preenchia de força sagrada. Devia ser poder o suficiente para combater pelo menos um ou dois daqueles raios violetas.

No momento seguinte, um clarão roxo disparou dos buracos da máscara de esqui do agressor.

Emi saltou para o lado, prevendo a direção do raio. A luz passou muito perto do seu peito e atingiu o gradil do cruzamento antes de se desintegrar.

Ela e Chiho olharam na direção do metal, o qual não estava retorcido, torto ou apresentando dano algum.

Isso serviu para confirmar que o raio não causava dano físico, mas interagia com a energia sagrada de uma forma que afetava gravemente Emi.

— Passos Rápidos Celestiais!!

Convergindo o Tecido do Dissipador em suas pernas, ela ficou cara a cara com o oponente mascarado em um piscar de olhos. Não havia tempo para deixar Chiho escapar, por isso precisava evitar que ele atacasse primeiro.

Já que a foice dele tinha um alcance de ataque muito maior que a sua espada sagrada, precisava dar um jeito nisso em um combate de curta distância.

O cruzamento escuro soava vivo com o som estridente de metal contra metal conforme faíscas voavam pelo ar. Para Chiho, que observava de longe, parecia como se dois combatentes tinham acabado de começar uma batalha campal.

Mas, enquanto Emi conseguia diminuir a distância, foi surpreendida ao descobrir que seria algo muito mais complicado do que havia imaginado.

Para combater a luz roxa, energizou sua espada sagrada ao máximo, algo que só foi possível pelo seu hábito agora regular de beber a 5-Energia Sagrada β. A investida extremamente veloz e a espada da Heroína foram paradas pelo cabo da foice.

Não importava quanto poder colocasse em sua lâmina, não parecia ser capaz de sequer fazer um arranhão na arma. Na realidade…

 — Eu estou… sendo pressionada…

Mesmo com o Tecido do Dissipador lhe garantindo o seu aumento de velocidade, estava tendo dificuldades para avançar contra o seu inimigo. Incapaz de aguentar contra o ataque opressivo do portador da foice, Emi estava lentamente perdendo chão, algo que ficou claro.

— Quem é você…?!

 


 

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Bravo

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