Quando Akira e Sheryl terminaram a discussão, saíram.
Não havia nada de notável em um menino bem armado andando com uma garota vestida melhor do que um morador comum da favela: apenas um típico caçador novato e sua parasita. No entanto, eles conseguiram atrair olhares ocasionais.
Sheryl levou Akira em um passeio pelas favelas, começando com o território de Syberg e expandindo para fora. As várias gangues dividiram as favelas em áreas de todas as formas e tamanhos, cada uma com suas próprias regras. Aqueles que não cumpriam os costumes locais, por ignorância ou de outra forma, vagavam pelas ruas em seu perigo.
Até mesmo o beco de trás, onde Akira fez sua cama fazia parte do território de alguma gangue. Ele sobreviveu, sabia, apenas porque ninguém se importava em expulsar os posseiros de um lugar tão fora de mão. E também sabia evitar outros bairros, caso não estivesse familiarizado com as regras. Então, embora tenha crescido nas favelas, estava longe de estar familiarizado com a maioria delas.
— Nunca estive aqui antes. — observou, examinando uma parte desconhecida da cidade com algum interesse. — Parece incrivelmente limpo e arrumado por fazer parte das favelas.
Edifícios robustos alinhavam-se às ruas ao redor. As lojas dos comerciantes mantinham um fluxo constante de negócios enquanto comercializavam seus produtos: pistolas remendadas, facas lascadas, jóias baratas e uma ampla variedade de outros produtos questionáveis. Um bairro tão seguro e estável era um testemunho do poder da gangue local.
Sheryl sorriu.
— Ouvi dizer que a cidade construiu essa área em preparação para uma expansão planejada do distrito inferior. Mas o projeto teve um revés, então o chefe local assumiu.
— Sim?
Akira ficou um pouco impressionado com a loja de trivialidades da favela de Sheryl, ele nunca poderia ter chegado a esse conhecimento enquanto acampava nos becos.
— Você também sabia disso?
Perguntou a Alfa, por curiosidade.
— Não, eu não sabia. — respondeu.
— Sério?
Akira parecia surpreso, havia assumido vagamente que não havia lacunas no conhecimento de Alfa.
— Acho que nem você sabe de tudo.
Mas Alfa rapidamente o colocou em seu lugar.
— Claro que não. — disse. — No entanto, o desenvolvimento nesta área estagnou porque assim foi planejado. A cidade nunca quis realmente construir este lugar, mas alguém financiou uma iniciativa de qualquer maneira porque era mais fácil conseguir que a área se desenvolvesse a seu gosto, sob os auspícios de um projeto municipal.
— Então você sabe tudo sobre isso.
Akira respondeu com reprovação.
— Eu não sabia a versão divulgada. Parece-me que o mentor queria cobrir seus rastros, então espalharam essa história que a gangue assumiu ilegalmente. Isso os ajudará a evitar responsabilidades se alguém souber o que estão tramando.
Akira se perguntou como Alfa havia encontrado um relato que alguém havia tentado esconder, mas decidiu que não tinha sentido em perguntar. Alfa era uma anomalia, e não apenas porque praticamente ninguém mais podia vê-la ou ouvi-la, contudo tentou não se concentrar em seus muitos segredos. Ela estava do seu lado e isso importava mais do que seus enigmas.
Afinal, sempre acreditou que ninguém estenderia uma mão amiga para um garoto de rua desalinhado como ele, ainda acreditava nisso. Alfa foi a exceção que provou a regra. Então fechou os olhos para as esquisitices dela. Melhor do que se intrometer em seus segredos e arriscar perdê-la, pelo menos por enquanto.
De repente, Alfa ficou toda travessa.
— Sabe? — sorriu — Você e Sheryl estão num encontro, andando lado a lado assim.
Akira quase explodiu e virou em direção à Alfa sem pensar. Sheryl fingiu não notar; Akira já lhe havia dito para não perguntar, e estava perfeitamente disposta a fazer vista grossa para as suas peculiaridades. Melhor isso do que correr o risco de perder um estilo de vida estável.
Você não pode estar falando sério, Akira surtou.
É um encontro, é um encontro! É um fato que você não pode debater! Alfa estava gostando da confusão de Akira, e o menino se viu perdido. Vá em frente, compre um presente para ela!
— Muito bem. Vou dar algo a ela se isso significa tanto para você — murmurou.
Não via realmente o objetivo do presente, mas não havia nenhum risco para si, e queria manter Alfa feliz – e evitar uma longa palestra sobre porque achava que deveria dar um presente a Sheryl.
Akira aproximou-se de um dos estandes próximos e Sheryl ficou perto dele. Uma variedade de mercadorias estava espalhada no balcão da frente e seu olho passou por uma arma que já tinha visto dias melhores. Mesmo uma arma de terceira categoria como essa poderia ser útil contra os perigos das favelas.
Não, má idéia, ele decidiu, balançando a cabeça.
Uma arma que poderia ser um tiro pela culatra era mais um incômodo do que uma ajuda. Além disso, nunca havia dado um presente antes, mas as pessoas realmente não davam armas em encontros, davam? Ele procurou por uma escolha mais segura, embora não soubesse por onde começar.
Alfa, o que devo dar a ela? perguntou quando nenhuma opção clara se apresentava.
Decida por si mesmo, ela respondeu com uma risada.
Você não prometeu responder às minhas perguntas? Mesmo falando telepaticamente, estava claramente irritado.
Sim, e mantive minha palavra. Dê algo que você mesmo escolheu. Essa é a resposta.
— Isso é realmente importante?
Absolutamente. Na pior das hipóteses, você a dará algo estranho, ela fará uma careta e você aprenderá algo. Boa sorte, disse alegremente.
Com um suspiro telepático, Akira desistiu e voltou a examinar a mercadoria.
— O que você está procurando? — Sheryl perguntou, apenas tentando puxar assunto. Akira franziu a testa e hesitou. — Você quer alguma coisa aqui?
— O quê?
— Oh, bem, como você disse ontem, eu sou seu patrocinador – quero dizer, conhecido – quero dizer… O que foi mesmo?
— Você quer dizer associado?
— Sim, isso. Um presente vai ajudar a provar que somos associados próximos, certo? Eu lhe darei um presente para usar para isso – apesar de não saber o quanto isso lhe fará bem. Akira aproveitou a oportunidade para contornar as instruções da Alfa. Ele pode ser ignorante quando se trata de encontros, mas até mesmo ele preferiria evitar dar a Sheryl algo que lhe fizesse ficar com um visual engraçado.

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Sheryl ficou chocada. Nunca em um milhão de anos esperava que Akira mostrasse esse tipo de consideração. E, na verdade, estava certa: por conta própria, ele não teria. Não tinha como adivinhar que estava seguindo a sugestão de Alfa, então ficou ainda mais surpresa.
— Então, o que você quer? — Akira perguntou novamente, trazendo Sheryl de volta à realidade.
Ela deu um sorriso que parecia mais encantador do que realmente sentia antes de responder. — Hum, você poderia escolher algo para mim, Akira? O presente significará mais dessa maneira. Sheryl adotou um tom e uma postura sentimental que significava que se importava mais com a consideração de Akira do que com seu presente.
Se pudesse fazer do seu jeito, teria escolhido o presente mais caro que pudesse encontrar. Quanto mais caro fosse o presente, mais forte seria a prova de que ele estava do lado dela – e por mais dinheiro poderia ser vendido mais tarde, se necessário. Mas mendigar bugigangas caras agora só lhe causaria um grande prejuízo, e as barracas de rua não negociavam com luxos, então havia decidido por uma outra forma de ataque. Ela esperava que seu ato o fizesse sentir-se mais afetuoso com ela. Mas tal sutileza foi desperdiçada com ele. Um olhar terno da bela garota não só falhou em iluminar seu rosto, como o fez parecer ainda mais preocupado.
— Se você diz. Mas não reclame se não gostar, — disse ele. — Esta é sua última chance de escolher você mesma.
Mais uma vez Sheryl ficou surpresa, embora escondesse seus sentimentos. Nada sobre sua última tentativa teimosa de obter sua opinião se assemelhava ao tipo de reações favoráveis a que estava acostumada. No entanto, percebeu claramente que ele não confiava em seu próprio gosto, então escondeu sua confusão e brincou.
Depois de fingir fazer uma pausa para pensar, sorriu e respondeu: — Eu nunca reclamaria de um presente seu, mas já que você perguntou, que tal algum tipo de jóia? Acho que isso daria a impressão certa.
— Ok, claro, — disse Akira, inequivocamente aliviado. Seu rosto mostrava mais confiança, agora que tinha uma seleção menor de possíveis presentes para escolher. Se não fosse a sugestão de Sheryl, poderia muito bem ter se contentado com uma arma afinal.
Depois de procurar e hesitar, acabou comprando para Sheryl um pingente de aparência um tanto cara, alegando que era uma jóia e que provavelmente iria conseguir um preço decente no posto de trocas.
— Muito obrigada, — disse ela. — Eu o guardarei como um tesouro.
O melhor sorriso de gratidão de Sheryl teve pouco impacto em Akira, que se sentia exausto com toda esta provação.
— Claro que sim, — respondeu ele. — Faça como quiser.
Eles vagaram pelas favelas até o pôr-do-sol. Sheryl fez uma profunda reverência a Akira quando se despediram. — Muito obrigado por hoje. Tenho certeza de que formaremos uma grande equipe.
— Ótimo. Tome cuidado no caminho de casa, — respondeu.
— Eu vou. Você também se cuida. Sheryl deixou Akira com um sorriso que deu a entender que preferia ficar. Ela se contentou com seu sinal de amizade, embora lamentou não ter conseguido conquistar o afeto dele em particular. Uma vez de costas para ele, seu olhar se tornou grave ao considerar seus próximos passos.
Akira observou em silêncio Sheryl partir por algum tempo. Mesmo depois que ela estava fora de vista, ele não fez nenhum movimento para sair.
Você não quer voltar? Alfa perguntou, intrigada.
Hmm? Não, não neste momento, disse ele. É o primeiro dia, e não tenho nada melhor para fazer, então, bem, vamos fazer com cuidado.
Com isso, ele começou a andar na direção oposta de seu hotel.

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A dissolução da gangue de Syberg significava que seu território agora era território não reivindicado. Nenhuma das gangues vizinhas iria tentar uma aquisição violenta já que a guerra por território resultante só levaria a perdas que poderiam ter sido evitadas. Em primeiro lugar, tentariam discutir o assunto e dividir o território para sua satisfação mútua. O derramamento de sangue poderia esperar até que as negociações fracassassem.
A antiga fortaleza de Syberg ficava no centro daquela terra de ninguém. Além de algumas coisas sem valor, toda a riqueza e bens que o ex-caçador havia acumulado foram levados pelos sobreviventes como presentes para facilitar sua passagem para outras gangues. O prédio em si, no entanto, continuou sendo um prêmio valioso para qualquer morador da favela que o ocupasse com sucesso.
No momento, porém, estava em silêncio e deserto. Se alguma das gangues vizinhas tentasse se mover, as outras ficariam indignadas e reagiriam com violência. Até os ocupantes desafortunados, não filiados a nenhuma gangue, poderiam desencadeá-los.
Sheryl permaneceu na estrutura recentemente abandonada, sem esperar por ninguém em particular. Não tinha feito uma chamada e não tinha nenhuma garantia de que alguém apareceria, mas achava que alguém provavelmente apareceria. No entanto, não teve que esperar muito para que sua previsão se mostrasse correta.
— Bem-vindo à minha base — disse ela, mascarando seus nervos com um sorriso destemido.
Perseguiu vários sobreviventes da gangue de Syberg. Nem todos os seus membros haviam conseguido se juntar a outras gangues, e aqueles que conseguiram nem sempre encontraram uma boa condição. Alguns tiveram dificuldade para se encaixar em um novo grupo, enquanto outros foram maltratados ou até expulsos depois de terem entregue seus presentes. Assim, quando avistaram Sheryl andando com Akira, naturalmente vieram investigar.
— O que significa sua base? — perguntou um homem, olhando-a com ameaça e desconfiança. — E o que você estava fazendo com aquele garoto? Não foi ele quem matou o Syberg?
Sheryl manteve seu sorriso confiante.
— Quero dizer que esta base é minha. — respondeu — A partir de hoje, minha gangue administra este lugar. Akira e eu chegamos a um acordo, ou seja, que eu sou a chefe agora.
— Akira? Aquele nanico?!
— É ele mesmo. Ele não tem um nome adorável? Agora, o que o traz aqui? Você esqueceu alguma coisa quando fugiu? — Sheryl perguntou, depreciando-os abertamente. Sabia que agindo cheia de si provocaria uma reação, mas o fez de qualquer maneira. Queria que todos soubessem que tinha o apoio necessário para se safar.
Como esperado, os homens ficaram mais cautelosos e mais hostis. — Vimos você com a criança e viemos perguntar o que estava acontecendo. — disse um deles. — O que você quer dizer com “chegou a um entendimento”?
— Eu preciso soletrar tudo para você? — Sheryl perguntou. — Como eu disse, estou no comando. Convenci Akira a ajudar minha gangue, mas ele está muito ocupado caçando para se preocupar com coisas pequenas. Pense em mim como sua substituta. Seu sorriso assumiu uma vantagem altiva enquanto continuava, — Akira ainda tem uma reputação a defender. Então eu sou a chefe, eu dou as ordens. Entendeu?
— Aquele pequeno punk matou Syberg! — Um dos homens gritou. — Nós nem estaríamos nessa bagunça de outra forma!
— Syberg!? Quem se importa com aquele perdedor? – Sheryl perguntou, sua voz cheia de desprezo. — Mesmo com uma multidão inteira para apoiá-lo, não pode matar uma única criança e a criança o matou. Quão estúpido você pode ser?
— Cuidado, Sheryl, — ameaçou o homem, irado. — Não importa o quão durão esse garoto seja, ele não está aqui para te proteger.
— Desculpe-me? Isso era para ser engraçado? Sheryl parecia estar perdendo a paciência, passando do ridículo para o puro nojo. Os homens começaram a procurar nervosamente na sala por qualquer sinal de Akira.
— Você não vai encontrá-lo, — disse Sheryl. — Ele não está aqui. Como eu disse, a caça o mantém ocupado.
— Sua vadiazinha, um homem rosnou e avançou sobre ela, até que suas palavras o impediram.
— Você honestamente acredita que eu não contei a Akira sobre vocês, perdedores? Ou que ele não virá te caçar se algo acontecer comigo? Imaginei que vocês apareceriam aqui, sabe.
— Por que ele iria tão longe por você? Se você se matar, aposto que ele vai rir. O homem estava meio convencido de que Sheryl estava blefando, e meio ansioso de que suas ameaças a levariam a mostrar a mão, mas seu sorriso permaneceu confiante e imperturbável.
— Por que ele não faria isso? Sou a favorita dele. Veja o que ele me deu? — Ela disse, balançando seu pingente ostensivamente.
— Você deve estar louco se acha que ele riria do meu assassinato.
Ela não parecia estar blefando. Os homens ainda tinham suas dúvidas, mas ninguém queria arriscar a ira de Akira. Aquele que estava discutindo com Sheryl estalou a língua e saiu da base. A maioria dos outros seguiu sua pista, deixando apenas algumas crianças carrancudas para trás.
Ainda sorrindo, Sheryl se arrepiou quando se virou para os jovens. — O que vocês querem? — perguntou. — Se vocês não precisam de nada, por favor, saiam.
— Você sabe o que queremos! — uma das crianças respondeu mal-humorada. — Vamos nos juntar à sua gangue.
— Vocês vão me reconhecer como sua chefe e seguir minhas ordens?
— Sim. Você é a chefe e dá as ordens.
Sheryl parecia satisfeita. — Nesse caso, bem-vindos a bordo. Mas me deixe em paz por hoje. Tenho muito o que fazer. Volte amanhã à noite. Vou apresentá-lo a Akira em breve.
As crianças preferiam ter ficado na relativa segurança da fortaleza, mas não podiam desobedecer a alguém que haviam acabado de aceitar como líder. Trocaram olhares e depois, relutantemente, partiram.
Quando todos se foram, Sheryl recuou para um quarto interno. Lá, ela ouviu atentamente os sons de qualquer outra pessoa no prédio. Cinco minutos se passaram, depois dez. Assim que ela teve certeza de que estava realmente sozinha, uma transformação surpreendente a tomou. Todo o medo e ansiedade que estava lutando para esconder surgiram. Mal reprimiu um grito, respirando profundamente para acalmar os nervos.
— Essa foi por pouco! — disse a si mesma. — Tão perto! Eles quase me mataram! Mas eu consegui sobreviver!
Sheryl tinha o apoio de Akira, mas ele nem sempre estaria por perto para protegê-la. Sua perigosa façanha havia acabado de ser seu primeiro passo para criar um santuário onde pudesse estar segura sem ele. Por um tempo, pelo menos, estaria segura – ou pelo menos, tinha feito tudo o que podia para estar assim. O resto estava ao acaso, pensou, enquanto lentamente se abaixava em uma posição sentada. Assim que relaxou, a fadiga a alcançou e caiu no chão.
Eu gostaria de poder tomar um banho como ontem, pensou abruptamente enquanto o sono consumia sua mente.

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Alguns dos homens que partiam permaneciam do lado de fora da base.
— Ei, vamos mesmo seguir em frente com isso?, — perguntou um deles. — Estaremos na merda se Sheryl estiver dizendo a verdade.
— Você quer que apenas entreguemos este lugar para aquele nanico? — outro respondeu. — Uma base como essa seria um grande reforço para nós. Não podemos deixar isso escapar por entre nossos dedos.
— Mas estamos falando de um caçador – alguém que fica cara a cara com monstros. Vamos ficar bem?
— Ela provavelmente estava blefando. Isso, ou o caçador apenas disse o que ela queria ouvir. Ela estava se gabando sobre aquela bugiganga que ele lhe deu, mas parecia tão barata que aposto que você poderia encontrá-la em uma barraca de rua. Ela está muito cheia de si porque o caçador a chamou de favorita, mas tudo vai acabar se a matarmos agora.
— M-mas ainda assim…
Quando os homens conspiraram um ataque a Sheryl, rachaduras começaram a aparecer em suas fileiras. Eles compartilhavam o mesmo objetivo geral, mas alguns pareciam nervosos, outros obviamente impacientes, e outros ainda escondiam sua ansiedade com uma demonstração de desprezo e aborrecimento.
Agora que Sheryl havia feito um acordo com o caçador para reviver a gangue extinta, sua sede e a área circundante não eram mais não reivindicadas. Para aqueles que viviam nas favelas, parecia que o caçador havia assumido a gangue e o território de Syberg em retaliação pela tentativa de roubá-lo. Alguém desafiaria o caçador pelo controle do território? Normalmente, qualquer rival esperaria e veria se valia a pena o risco. Mas se Sheryl estivesse mentindo, poderiam matá-la e reivindicar a base sem medo de vingança. E mesmo que ela estivesse dizendo a verdade – ou parte dela – o caçador pode não estar tão comprometido em construir sua gangue. Então ainda poderiam ser capazes de varrer seu assassinato para debaixo do tapete.
E se conseguissem, ganhariam um grande prêmio, uma fortaleza e território que poderiam oferecer a alguma outra gangue em troca de um aumento significativo no status. Pesando esses benefícios contra o risco de que um caçador poderia vir atrás deles dividiu os homens em otimistas e pessimistas.
— Até mesmo Shijima quer este lugar, — apontou um deles. — Nós o teríamos feito se o entregássemos. De jeito nenhum vamos deixar um idiota qualquer roubar isso debaixo do nosso nariz. Quem está comigo?
— Mas se Sheryl estiver dizendo a verdade, aquele caçador vai ser um problemar
— O que faremos se ele descobrir?
— Se o caçador estivesse por perto, Sheryl o teria trazido para aquela reunião. Agora é nossa chance.
— Talvez ele esteja se escondendo.
— Como o diabo poderia estar. Quem sabe se Sheryl realmente fez um acordo com ele?
Talvez ele tenha dito o que fosse preciso para mantê-la quieta enquanto estava transando com ela. Que caçador fica preso a uma promessa a uma garota falida?
— B-bem, sim, mas…
A confusão de opiniões não se qualificou como um debate, mas ainda assim serviu para dividir os homens em dois grupos distintos: aqueles a favor da ação e aqueles que preferiram recuar.
O líder dos supostos atacantes estalou sua língua, desapontado com a falta de coragem dos outros.
— Muito bem, nós mesmos o faremos. — disse ele. — O resto de vocês permaneça por aqui e fiquem de vigia. É melhor vocês servirem ao menos para isso, ou para que estão aqui?
— Bem, tudo bem. Se isso é tudo.
— Bom. Vamos andando.
O grupo de ataque acenou com a cabeça um para o outro, preparou suas armas e se preparou para invadir o prédio. Um instante depois, tinham sido baleados. Alguns morreram instantaneamente com balas na cabeça, enquanto outros sofreram ferimentos intestinais, e uns poucos sortudos até escaparam com ferimentos graves, mas que puderam sobreviver. Mas todos desabaram no chão.
Gritos irromperam dos homens que permaneceram de guarda, aqueles que tinham preferido a retirada. Olharam em volta com desconfiança até que Akira emergiu de um beco próximo, com seu rifle pronto para atirar. Parou a uma curta distância deles, totalmente inabalável apesar dos homens que acabara de matar, parecendo tão calmo que os sobreviventes tremeram.
Um gaguejou:
— V-você está…
— Eu sou o caçador com quem Sheryl fez um acordo, — disse Akira secamente — eu não deveria precisar dizer isso, mas apenas por precaução: não ponham as mãos em Sheryl. Entenderam?
— S-sim.
Akira acenou com a cabeça e se virou para ir. Antes de chegar longe, porém, um dos homens no chão, tremendo de agonia, reuniu sua última forças para apontar sua arma para o garoto. Sem quebrar os passos, Akira balançou o fuzil e puxou o gatilho, disparando vários tiros contra o homem. Em seguida, ele também matou os outros sobreviventes do ataque. Os homens incólumes, que tinham, afinal, feito a escolha mais sábia, saíram gritando silenciosamente enquanto observavam.
— E-Ei, — um deles gritou para as costas de Akira. — Se você fez um acordo com Sheryl, por que não estava lá com ela?
Akira olhou para trás e apontou calmamente para os cadáveres:
— Você não pode dizer?
E com isso, ele se foi.
— Ele não se reuniu de propósito? — murmurou o homem. — Que idiota louco!
Tanto quanto podiam dizer, Akira havia se ausentado da reunião a fim de atrair os inimigos de Sheryl. Eles se afligiram quando olharam para os cadáveres, percebendo, aterrorizados, quão facilmente poderiam ter se juntado a seus antigos companheiros na morte. Justo quando se libertaram de um ex-caçador cruel, um outro caçador ainda mais cruel, de sangue frio, tomou seu lugar.
— Ele os matou como se não fosse nada. Eu sempre soube que todos os caçadores eram podres, — um resmungou. Então olhou em volta em pânico, no caso de Akira tê-lo ouvido por acaso. Ele suspirou em alívio quando percebeu que o caçador não estava em nenhum lugar à vista.
Os homens que ainda estavam de pé trocaram olhares e se apressaram, deixando para trás apenas os cadáveres daqueles que haviam feito a escolha errada.

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Tem certeza disso, Akira? Alfa perguntou no caminho de volta do massacre dos inimigos de Sheryl.
Sim. Eu nunca ia ter tempo para guardar Sheryl 24 horas por dia. Esse susto deve mantê-la viva por algum tempo – o resto é com ela. Depois de uma pausa, acrescentou: — Por quê? Isso a incomoda?
Alfa determinou que Akira parecia improvável que se colocasse em perigo por conta de Sheryl se isso fosse desnecessário, um outro passo à frente em sua análise de sua personalidade.
Não, desde que você esteja bem com isso, eu não me importo, ela respondeu. Apenas esteja ciente de que você estará treinando duro amanhã para compensar o tempo que perdeu hoje. Ela parecia ameaçadora, mas enquanto falava, adotou um sorriso alegre e bastante descarado.
C-claroAkira imaginou nervosamente o quão cansativa seria sua rotina.
Sheryl, que não sabia nada sobre o que havia acontecido, ficou surpresa ao descobrir corpos caídos na frente de sua base no dia seguinte.

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Pela manhã, Sheryl esperou do lado de fora do hotel de Akira, na esperança de conversar com ele. Não demorou muito, ele surgiu, preparado para uma jornada pelas terras devastadas.
— Bom dia, Akira. — ela chamou, dando a ele sua melhor tentativa de um sorriso vencedor. Esses olhares sempre apareceram para ela no passado.
— Bom dia, — ele respondeu com indiferença. — O que você quer agora? Estou a caminho das ruínas, por isso, seja breve.
— Oh, está bem. Sua resistência aos encantos dela a incomodou, mas rapidamente a sacudiu e foi direto ao ponto: o estado atual de seu bando, a localização de sua sede e a questão de como se manteriam em contato. Também sugeriu, de uma maneira bastante tímida, que ela realmente, realmente gostaria que ele passasse pela base naquela noite para conhecer seus novos recrutas.
— E se possível, eu gostaria que você aparecesse regularmente na base, — continuou ela, destemida mesmo que ele continuasse a não mostrar nenhuma reação aos seus encantos. — Apenas quando você tiver um tempo livre, mesmo.
— Então eu nunca teria a chance de ir, — respondeu ele — Não há descanso para os pobres, e eu estou sempre ocupado.
O sorriso de Sheryl ficou tenso. Ela podia dizer que ele estava falando sério.
Embora o próprio Akira não estivesse ciente disso, parte dele se rebelou contra se comprometer com qualquer coisa que pudesse limitar suas opções no futuro. Um caçador nunca sabia o que o dia seguinte traria, então sua profissão poderia forçá-lo a perder rotineiramente seus compromissos. E assim, Akira raciocinou inconscientemente, não deveria fazer promessas que não pudesse cumprir.
Mas Sheryl não conseguia ler tão profundamente o funcionamento interno de sua mente, e começou a se preocupar.
— V… você poderia, por favor, encontrar alguma maneira de arranjar tempo, então? — ela persistiu. O futuro de sua gangue estaria em perigo se ela não conseguisse sequer uma vaga promessa dele.
Se os outros moradores da favela se convencessem de que Akira a havia abandonado, e o fariam se ele nunca tivesse visitado seu quartel general, ela não duraria muito. Então colocou toda a sua experiência em uso no olhar desesperado que deu a Akira enquanto implorava.
Mas a resposta de Akira foi tão silenciosa como sempre:
— Vamos resolver isso mais tarde, — disse ele.
Não se preocupou em esconder seu aborrecimento, pois encurtou a conversa de forma brusca:
— Acho que passarei por lá esta noite, se puder. Então podemos conversar sobre os detalhes.
— T-tudo certo. Discutiremos os detalhes na base, então. Estarei esperando por você, — respondeu Sheryl, aliviada , ou então disse ela mesma, que tinha conseguido assegurar uma promessa por enquanto. Também não queria tornar o humor de Akira pior do que já estava.
— Isso é tudo? — ele perguntou.
— É. — Mas um momento depois, ela se corrigiu. — Ah, eu quase esqueci. Encontrei um monte de cadáveres na frente da minha base.
— E daí? Há corpos por toda a favela.
— Bem, sim, mas havia tantos deles que isso me preocupou um pouco. Tenho certeza de que você ficará bem, mas achei que deveria avisá-lo para ficar atento quando vier.
— Ah, tudo bem. Até mais. Cuide-se.
Uma vez que Akira estava fora de vista, o sorriso amigável de Sheryl deu lugar à perplexidade. Eu falei sobre os corpos porque pensei que ele poderia tê-los matado, pensou. Adivinhei errado? Ainda assim, parecia evasivo, então talvez fosse ele, afinal.
Supondo que ele tivesse feito isso, por que não contou a ela? Não conseguia pensar em uma explicação satisfatória. Se queria que ela se sentisse em dívida ou simplesmente não se importasse, não tinha razão para esconder seu envolvimento.
Eu não consigo entender. Claro, eles poderiam ter sido mortos em uma briga.
Ela olhou distraidamente para o pingente que Akira lhe dera no dia anterior.
Essa coisa é mesmo barata. Me ajudou a me passar como a favorita de Akira ontem, mas não acho que fui tão convincente. Devo convencê-lo a me comprar algo melhor, mesmo que eu precise pagar por isso?
Sheryl ponderou seu próximo passo enquanto caminhava para casa. Ela pediu a ajuda de Akira, mas suas perspectivas ainda pareciam sombrias.
Tradução: Nagark
Revisão: Mini
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