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Reconstruir o Mundo – Vol. 01.1 – Cap. 06 – Confiança

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De volta ao hotel, Akira sorriu enquanto estudava o fuzil de assalto AAH que havia comprado na loja de Shizuka, emocionado por finalmente estar armado como um verdadeiro caçador. A arma, projetada e fabricada especificamente para combater monstros, parecia mais pesada do que esperava, tão pesada quanto a confiança que ele teria que depositar nela. Enquanto imaginava os tipos de batalhas que teria de enfrentar no futuro, seu aperto na arma aumentou e seu sorriso desapareceu.

Observando-o, Alfa parecia igualmente sombria, mas seus pensamentos estavam em um assunto completamente diferente.

— Aquela mulher era o seu tipo? — perguntou.

— A quem você se refere?

— A gerente da loja onde você comprou essa arma, Shizuka, não é? Você estava totalmente interessado nela.

— Eu estava? — Akira parecia intrigado. — Apenas comprei alguns equipamentos dela. Fiquei feliz por ter incluído a roupa e a mochila de graça, só isso.

Alfa persistiu.

Não, não foi só isso. Eu posso dizer.

— Não sei o que te dizer. — Akira não estava tentando ser evasivo, seus sentimentos simplesmente não eram claros para ele. Então deixou o assunto morrer, parecendo vagamente perplexo.

Embora Alfa considerasse de vital importância aprender sobre o gosto de Akira por mulheres, seus cálculos lhe diziam que não era o momento de prosseguir.

— Tanto faz. — disse ela com desdém. — Vamos discutir nossos planos, incluindo seu treinamento com essa nova arma. De um modo geral, visitaremos as ruínas uma vez por semana e dedicaremos o resto do nosso tempo a exercícios e educação. Não reclame disso, mesmo que você queira caçar relíquias e ganhar dinheiro com mais frequência.

— Entendi.

Alfa parecia surpresa.

Sério? Esperava que você fizesse mais barulho.

— Resolvi confiar em você sobre esse tipo de coisa. — respondeu sinceramente.

 — Confiança.

Akira não tinha dado nenhuma atenção particular à sua escolha de palavras, mas o termo evidentemente significava algo especial para Alfa, que ficou pensativa.

— Entendo. — disse.Nesse caso, vou pular direto para a parte mais importante do nosso trabalho futuro. Akira, estou prestes a lhe dizer algo muito importante, então ouça cuidadosamente.

Akira assentiu com a cabeça, igualmente sério. No passado, só a tinha visto assim quando a sua vida estava em perigo iminente. Ver a mesma expressão no rosto dela agora o fez sentar-se automaticamente e prestar atenção.

Alfa retribuiu seu aceno, de repente toda profissional. Permaneceu em silêncio por um tempo.

— Alfa? — Akira perguntou, intrigado.

Quando falava, tanto sua voz quanto sua expressão pareciam desapegadas e impessoais.

Posso realizar diversas operações em você sem consentimento prévio ou explicação, a fim de facilitar um suporte mais sofisticado? Isso inclui a aquisição e o uso de Informações Pessoais de Nível 5 sem consentimento. A aquisição de informações adicionais relativas a esta explicação é opcional.

— Significa o quê, exatamente? — Akira perguntou. A mudança de comportamento de Alfa o deixou tão confuso quanto suas palavras.

— Você precisaria de aproximadamente 120 anos para obter uma compreensão geral desses regulamentos e seus componentes individuais por meio de explicação verbal. No momento, sou incapaz de calcular o tempo necessário para um conhecimento aprofundado. A Lei de Prevenção de Viés estipula que eu apresente os artigos em uma ordem de prioridade estabelecida usando o Método de Computação de Conscientização de Regulamentação A887. Para obter uma compreensão geral desses regulamentos e seus componentes individuais por meio da explicação verbal de artigos relevantes, você precisaria—

— Hum, eu realmente não entendo o que você quer dizer, mas um “sim” é bom o suficiente?

— Vou considerar esse consentimento para todas as cláusulas específicas que não violem a descrição geral. Isto inclui orientação mental no sentido estrito e interferência com o livre arbítrio de forma mais ampla. A preservação da vida e do pensamento do sujeito equivale às restrições à vida e ao pensamento do artigo 213.873 da Lei de Auto-Restrição de Autossuficiência. Isto inclui todas as disposições relativas a colaboradores especiais em regiões não qualificadas. Simultaneamente…

Nada disso fazia sentido para Akira. Quando tentou interrompê-la para obter explicações, seus esclarecimentos ficaram cada vez mais complicados, Akira finalmente desistiu.

No entanto, entendeu que estava pedindo permissão de algum tipo. E também lembrou que desobedecer às ordens dela colocava sua vida em perigo ainda maior do que já estava. Então, embora estivesse hesitante, chegou a uma decisão.

— Minha resposta à sua primeira pergunta é “sim” — disse ele, com o rosto resoluto.

— Por favor, confirme. Posso realizar diversas operações em você sem consentimento prévio ou explicação, a fim de facilitar um suporte mais sofisticado?

— Sim!

E de repente a antiga Alfa estava de volta.

Obrigada. — disse. — E não se preocupe você não vai se arrepender.

Akira ficou aliviado por Alfa ter voltado ao normal. Então, de repente, sentiu um lampejo de aborrecimento.

— Então, por que você faria isso parecer tão complicado?!

— Essas são as regras. — respondeu. — É sempre assim, você tem que passar pela burocracia para evitar problemas mais tarde.

Olhou timidamente para ele.

Agora, Akira, quando estávamos no banho ontem, o que você achou dos meus seios?

— De-de onde veio isso? — Akira gaguejou.

— Porque quando eu lhe perguntei o que você achava de mim nua, você os chamou de “grandes”.

Akira hesitou.

— Eu disse isso?

— Bem, soou superficial. Mas se foi isso que você pensou quando estava tão fora de si, então deve estar bastante encantado com eles. Você gostaria de tocá-los? perguntou, brincalhona e sedutora.

Ela estava provocando-o novamente, Akira se irritou com sua atitude, não querendo lhe dar uma resposta direta. Mas também não queria mentir, ele havia prometido construir confiança com ela, então respondeu evasivamente.

— Eu não posso de qualquer maneira, posso?

— Agora não. — admitiu Alfa. — Mas você poderia, uma vez que termine de explorar as ruínas que eu tenho em mente. O que você acha? Você gostaria disso? Parece atraente?

— Como explorar ruínas me permitiria tocar em você?

— É complicado. Apenas me diga: você não gostaria de sentir?

Akira olhou, desconfiado.

— Por que você está sendo tão insistente?

Ela sorriu de volta docemente.

Estou tentando motivá-lo com uma recompensa que até você pode agarrar.

— Quer dizer, para me seduzir a fazer o que você quer?

— Bem, sim. Só de olhar para mim não adianta muito para você; até mesmo ver meu corpo nu de perto só mexeu um pouco com você, seu caipira casca-grossa! Mas e se você me tocasse, hmm?

Akira suspirou com seus comentários ridículos.

— Tente novamente quando eu for um pouco mais velho. Farei todos os olhares e toques que você quiser quando for adulto, certo?

— Muito bom. — Alfa respondeu com confiança. — Eu planejo fazer disso uma parceria duradoura, então divirta-se quando chegar a hora.

E com isso, abandonou o assunto, para alívio de Akira.

Tendo distraído Akira de perguntar sobre seu discurso estranho e técnico alguns minutos antes, Alfa voltou para assuntos mais sérios.

Agora, é hora de começarmos seu treinamento. Está pronto?

Akira acenou com a cabeça, com toda a seriedade.

— Estou pronto.

Ela acenou com a cabeça de volta, satisfeita.

Você começará aprendendo telepatia.

— O que é isso?

— Por enquanto, pense nisso como conversar sem usar sua voz, trabalharemos a partir daí. A comunicação rápida e precisa é vital, dentro e fora de combate. E uma vez que você aprenda isso, poderá falar comigo sem parecer que está murmurando para o vazio, então vamos fazer primeiro.

— Fácil para você dizer. — Akira não queria reclamar de seu treinamento, mas a telepatia não era o que tinha em mente. — O que exatamente eu devo fazer?

— Ouça e fale com seu cérebro em vez de seus ouvidos e boca. Todo mundo é diferente, então é difícil explicar isso em palavras. Você terá que pegar o jeito sozinho.

Akira só parecia mais confuso, então Alfa adotou uma abordagem mais concreta.

— Tente imaginar-se falando comigo. Não importa o que você diga, talvez uma ordem simples, como “Vire à direita”. Se eu responder, você saberá que conseguiu. Comece.

Akira ainda não entendia muito bem, mas fez o que lhe foi dito. Depois de praticar por um tempo sem resultados, começou a murmurar suas mensagens sob sua respiração sem perceber, até que Alfa o avisou que isso tornava o exercício inútil.

O processo de tentativa e erro foi árduo. Akira se concentrou e desejou intensamente. Apelou para Alfa em sua mente enquanto olhava fixamente para ela. fechou os olhos e a chamou em silêncio. Mas, apesar de seus intensos esforços, ela não respondeu. Mesmo assim, perseverou em seguir suas instruções vagas.

O ponto de virada veio depois de cerca de uma hora. Alfa virou-se para a direita em resposta aos repetidos e desesperados gritos mentais de Akira. Que ficou atordoado e ela riu.

— É assim, disse ela. Você está pegando o jeito. Continue.

— T-Tudo bem.—  Akira respondeu telepaticamente sem sequer perceber.

Depois disso, fez um rápido progresso e sua telepatia ficou mais precisa com a repetição.

— Você está ficando muito bom nisso. — observou Alfa. — Está aprendendo a ouvir minha voz telepaticamente também. Quando trabalho através de seu sentido de audição, você pode não me ouvir por causa de tiros e coisas assim, mas agora você me entenderá claramente não importa o barulho que haja ao seu redor.

— Ah, entendo. — Akira respondeu. — Isso com certeza é conveniente. Certo? Tudo isso faz parte do seu treinamento de combate.

— Mas não poderíamos ter feito isso lá fora?

Alfa sorriu, divertindo-se com sua ingenuidade.

Você realmente gostaria que as pessoas o vissem falando consigo mesmo como um esquisito?

— Acho que não. — Imaginando como ele deve ter parecido no passado, Akira sorriu de volta com tristeza.

Em pouco tempo, foi capaz de manter uma conversa telepática com facilidade, Alfa passou para a próxima fase de seu treinamento.

— Eu diria que você domina a comunicação linguística no nível verbal. Em seguida, você aprenderá a enviar e receber com precisão informações menos concretas, como intenções, desejos e imagens mentais.

Akira franziu a testa, perplexo novamente com a explicação abstrata de Alfa, mas ela continuou independentemente disso.

— Uma imagem vale mais que mil palavras e, durante o combate, transmitir imagens com rapidez e precisão é mais fácil do que descrevê-las. Considere isso como outra parte do seu treinamento de combate e dê o seu melhor.

— Está bem — respondeu Akira —, mas como saberei se estou conseguindo chegar até você?

— Comece imaginando roupas para mim e tente enviar essas imagens. Vou mudar para o que quer que eu receba de você e se parecer com o que você imaginou, você foi bem sucedido. Tente.

Akira fez o que ela disse, e as roupas de Alfa mudaram, em uma bagunça feia de diferentes tecidos aparentemente costurados ao acaso. Mal teve tempo de fazer uma careta com a visão antes que as roupas começassem a se distorcer ainda mais e então desaparecessem.

— Isso foi um fracasso. — disse ela, de pé totalmente exposta diante de um Akira perturbado.

— Você não comunicou adequadamente sua imagem mental da roupa, a menos que quisesse me ver nua.

— EU… Eu não! Coloque alguma roupa!

Não. Este é um exercício de treinamento. Se você quer que eu use roupas, então fique melhor na transmissão de imagens.

Akira apressou-se em fazer outra tentativa e mais uma vez a vaga sugestão de uma roupa cobriu o corpo nu de Alfa. Mas sua pressa o tornara ainda menos preciso, logo ela estava nua novamente. Repetidas vezes tentou e repetidas vezes ela vestiu uma tentativa bizarra de roupas que imediatamente desmoronavam em nada. Poderia tê-la impedido de ficar completamente nua apenas imaginando algumas roupas íntimas simples, mas ele estava muito perturbado para perceber isso, e Alfa não ia dizer.

Só depois de uma série de fracassos e um jantar tardio é que Akira finalmente conseguiu vestir Alfa com uma roupa branca totalmente lisa.

— Isso é o suficiente por enquanto. — disse Alfa. — Acho que você se saiu bem para o seu primeiro dia.

— Não sei por que, mas estou exausto. — respondeu.

— Nesse caso, tome um banho e tenha uma boa noite de sono.

— Mm, parece bom. — suspirou.

No entanto, apesar de sua fadiga mental, Akira não estava tão exausto quanto no dia anterior. Relaxou vagarosamente no banho por um tempo, foi direto para a cama e se entregou ao sono.

Tinha sido um longo dia. Akira tinha confiado o suficiente em Alfa para dar-lhe sua permissão sem entender para quê. Ela não estava mentindo – seu treinamento aumentaria as habilidades de Akira e sua permissão o ajudaria a sobreviver, uma vez que lhe permitia fornecer um melhor apoio à medida que conquistavam as ruínas. Mas havia mais do que isso. Em seu sono profundo, Akira nunca sequer se perguntou com o que havia consentido.

 

Separador Tsun

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No dia seguinte, Akira não estava mais preso no quarto do hotel, praticando telepatia; seu treinamento nas terras devastadas havia finalmente começado. Estava usando a roupa de proteção que Shizuka lhe vendera e carregava o fuzil de assalto AAH. Em suma, era uma figura impressionante em comparação com quando se arrastava pelo deserto com apenas uma pistola na mão.

Isso também o fez se sentir nervoso com antecipação.

— Agora, vamos começar seu treinamento, de pontaria. — Alfa anunciou, de pé diante dele com um sorriso no rosto. — Akira, segure sua arma pronta para disparar.

Ele fez o seu melhor, mas sem treinamento em armas de fogo, teve que confiar em memórias vagas de posições de tiro. A posição resultante mostrou sua inexperiência.

— Não. Você entendeu tudo errado. — Alfa comentou alegremente. Use seu corpo para estabilizar a arma, assim.

Um AAH apareceu em suas mãos, demonstrando a forma adequada. Akira ficou um pouco surpreso por ela poder exibir mais do que apenas roupas. Mas percebeu que fazia sentido se pensasse na arma como parte de sua aparência, que poderia alterar à vontade.

Assim que copiou o exemplo, ela começou a apontar inúmeras pequenas falhas em sua postura, desde a posição de seus braços e pernas até a tensão geral de seus músculos e seu preciso centro de gravidade. Suas correções ficaram cada vez mais detalhadas até que, finalmente, o instruiu sobre exatamente quanta força colocar em seus dedões dos pés. Akira estava muito absorto em seu treinamento para perceber com que precisão ela captou detalhes finos que não eram aparentes a olho nu.

Eles passaram uma hora apenas praticando a postura adequada. Akira já estava ficando cansado, apesar de não ter disparado um tiro, mas seu cansaço e a instrução de Alfa haviam pago dividendos, sua postura de tiro já havia melhorado drasticamente.

— Lá, aquilo deve servir. — Alfa assentiu, satisfeita por ele não mais segurar sua arma como um amador. — Preste atenção em como você está de pé agora. Agora, atire naquela pedra.  Apontou para a frente. Ele forçou os olhos naquela direção e franziu a testa, não tinha como saber que estava apontando diretamente para uma pequena pedra a cem metros de distância.

— Que pedra? — protestou.

O sorriso de Alfa era destemido.

Você vai ver. Prepare-se para ser surpreendido! Estou prestes a lembrá-lo de quão incrível é a minha ajuda! Olhe de novo.

Akira fez isso, um pouco cético, e viu um retângulo verde aparecer, com um círculo verde dentro dele. Quando instintivamente se concentrou no círculo, ampliou o que estava olhando, como a função de zoom automático dos binóculos de ponta. Ele parou de se concentrar, surpreso e a exibição ampliada voltou ao normal.

— Alfa! — exclamou. — A minha visão ficou louca! Você fez alguma coisa?!

Ela sorriu, satisfeita com sua reação.

Graças a mim, sua visão agora tem uma função de zoom! Tente ampliar a pedra.

Um ponto vermelho apareceu na visão de Akira. Se concentrou nela e, mais uma vez, uma parte do que viu aumentou, revelando uma imagem borrada de uma pequena pedra delineada em vermelho.

— A ampliação só pode fazer muito com seus olhos nus. — acrescentou Alfa. — Agora tente usar a mira de seu fuzil.

Ao olhar através da mira, lutou para encontrar a pedra. O campo de visão que a mira lhe proporcionava era bastante estreito. Então um marcador apareceu na borda direita de sua visão, lentamente moveu sua mira em sua direção até que a pedra veio à tona. Uma linha azul estendida do cano de sua arma em direção à pequena rocha.

— Essa linha azul é a trajetória que calculei. — explicou. — Alinhe-a com o seu alvo quando disparar, você provavelmente o atingirá.

A linha azul continuou oscilando, mas Akira fez o possível para alinhá-la com a pedra e puxou o gatilho. Bang! O recuo o desequilibrou. Uma bala saiu do rifle, perfurando o ar enquanto voava. O tiro passou longe de sua marca e desapareceu na distância.

— Eu errei. — disse um momento depois.

— É apenas uma previsão, não uma profecia. — Alfa respondeu. — Fatores fora dos meus cálculos podem alterar significativamente a trajetória de voo da bala. O principal problema desta vez é que você perdeu o equilíbrio quando disparou. Lembre-se da postura de disparo que lhe mostrei antes, mire com cuidado e tente novamente.

Akira se concentrou e manteve sua mira no alvo, mas não chegou nem perto de acertá-lo. Nem conseguiu ver o impacto de seus tiros pela mira, provando que errou por uma ampla margem. Cada vez que sua postura vacilava, Alfa era rápida em apontar, e em cada vez a corrigiu e atirou novamente.

— Em combate, você estará atirando em monstros, não em pedras. — disse. — A menos que você acerte tiros precisos em seus pontos mais vulneráveis e os mate rapidamente, ou pelo menos os incapacite, você cairá em seus contra-ataques. Se você errar, você morre. Então atire como se sua vida dependesse disso.

Depois de mais uma hora, começou a distinguir buracos de bala através da mira do rifle.

Exausto, sua mente começou a vagar, distraidamente expressou seus pensamentos.

— Hey, Alfa. Tenho me perguntado; não poderíamos ter feito todas essas coisas de zoom e telepatia antes?

Para Akira, era apenas uma pergunta ociosa. Alfa, no entanto, determinou que uma resposta errada o faria desconfiar dela. Então escolheu suas palavras cuidadosamente por trás de seu sorriso imutável.

— Farei o que puder, sempre que puder, desde que ajude. Quando aqueles dois caçadores nos atacaram, eu não pude fazê-lo porque você ainda não tinha me dado sua permissão.

— Tenho quase certeza que a teria se você tivesse pedido. — replicou. — Você só queria saber se poderia me apoiar sem minha autorização, certo?

— Eu nem sequer tinha permissão para pedir essa permissão naquela época. São as regras, regras tão longas que não tenho tempo suficiente para explicá-las.

— É? Huh? Isso parece uma chatice.

— E eu não teria feito isso então, mesmo que eu tivesse tido permissão. De repente mudando sua visão no meio do combate? Isso definitivamente teria desorientado você e prejudicado seus movimentos. Então, tenho certeza de que teria decidido contra isso.

— Ah. Você pode estar certa sobre isso. — Akira assentiu com a cabeça, sua curiosidade foi satisfeita.

Observando sua resposta, Alfa acrescentou:

Se alguma vez parecer que eu me esforcei para evitar fazer algo que você acha que deve ser fácil para mim, assuma que há uma razão semelhante. Ou é fisicamente impossível, tecnologicamente impossível ou legalmente impossível, ou pioraria a situação. Nem eu posso fazer tudo. — sorriu incisivamente. — Se eu pudesse explorar as ruínas sozinha, eu não teria pedido a você. Mas há muitas restrições que me impedem.

Alfa quase dando desculpas? Akira ficou surpreso: ele a considerou inspiradora, de uma maneira vaga.

— Parece que você também tem muitos problemas. — desabafou. — Desculpe dizer isso, mas acho que eu deveria ser grato, nunca teria te conhecido de outra forma.

Imediatamente, sentiu que talvez devesse ter segurado a língua.

Alfa aproveitou a oportunidade para provocá-lo. Aproximou seu rosto do dele, sorrindo maliciosamente.

Não há necessidade de fazer cerimônia! — disse convidativamente. — Sinta-se livre para exibir sua gratidão! Como por exemplo, melhorando sua precisão. Ou sendo mais receptivo as minhas insinuações para você.

— Farei o meu melhor com esse primeiro.

Akira puxou o gatilho. Sua bala passou longe novamente.

Quando estava quase anoitecendo, sua pontaria estava mostrando alguma melhora. Com o apoio de Alfa, poderia agora mirar com firmeza em uma rocha de tamanho decente a cem metros de distância e atingi-la uma vez em cem.

Ele encerrou o dia e voltou na calada da noite para a cidade, onde se hospedou no mesmo hotel de antes. Pagar sua conta lembrou-o novamente de quão escassos eram seus fundos que diminuíam rapidamente, mas deixou essa preocupação de lado em favor de um banho. Quando saiu da banheira, deixou seu cansaço para trás; em seu lugar havia uma grande sonolência. Então caiu na cama e imediatamente adormeceu.

Akira passou o dia seguinte em seu quarto de hotel, realizando manutenção em seu fuzil de assalto AAH. Este foi outro aspecto de seu treinamento: não conhecendo os procedimentos adequados, trabalhou cuidadosamente enquanto ouvia as instruções detalhadas de Alfa.

— Este fuzil será sua tábua de salvação para o futuro próximo. — disse ela. — Se você não cuidar bem dele, você não estará cuidando da sua vida. Portanto, seja minucioso!

— Eu sei, eu sei.

Apesar dos conselhos incessantes de Alfa, Akira lutou com sua tarefa. Com um olhar determinado, desmontou o fuzil, cuidadosamente fez a manutenção de todos os componentes e, em seguida, remontou-os com uma peça sobrando. Apressou-se a desmontar o fuzil e a montá-lo novamente com a peça em seu devido lugar, mas desta vez sobrou outra. Ele olhou para ela e gemeu.

— Eu não recomendaria dispará-lo nesta condição. — avisou-o alegremente.

— EU… Eu sei disso.

Novamente Akira desmontou e montou o fuzil. Desta vez, não havia peças sobrando, mas isso não significava que a arma funcionaria, Alfa naturalmente encontrou falhas em seu trabalho. Ele lutou com o processo várias vezes mais e, a essa altura, metade do dia já havia se passado.

— Do jeito que as coisas estão indo, vou precisar de um dia inteiro apenas para manutenção se eu conseguir uma arma sobressalente. — resmungou.

— Você só terá que praticar até aprender a fazê-lo de forma rápida e eficiente. — respondeu Alfa. Você não pode se dar ao luxo de ter alguém fazendo isso por você. De qualquer forma, isso é treinamento suficiente para hoje.

— É só isso? — Akira perguntou, assustado. — Não vamos fazer mais tiro ao alvo agora?

— Você não fez nada além de explorar ruínas e treinar desde que nos conhecemos, você também precisa de descanso. Há algo que você gostaria de fazer?

— Alguma coisa que eu gostaria de fazer? — repetiu. Ponderou, mas nada lhe veio à mente. Ele havia passado seu tempo nas favelas coletando sucata de ferro e qualquer outra coisa que pudesse vender, ou mais recentemente, explorando as ruínas em grande parte com o mesmo propósito.

Tendo gasto cada momento acordado na sobrevivência, Akira tinha uma compreensão extremamente tênue do conceito de tempo livre. Seus pensamentos vagaram, respondeu Alfa com um gemido.

Ela entendeu o que Akira estava pensando e por quê, sem precisar perguntar.

Nesse caso — sugeriupor que não gastar seu tempo livre aprendendo a ler e escrever? Você não será capaz de coletar informações de forma eficiente para entretenimento ou educação se for analfabeto. Tirar isso do caminho em breve irá ajudá-lo a desfrutar de todos os tipos de coisas também.

Então Akira visitou a loja do hotel e comprou vários cadernos e algumas ferramentas de escrita e começou suas aulas com Alfa. Ela era uma professora altamente eficaz, logo foi capaz de ler e escrever seu próprio nome.

De repente, se lembrou do erro em sua identificação de caçador. Então a puxou para fora e olhou para o nome: “Ajira”. Finalmente foi capaz de reconhecer o erro por si mesmo.

— Acho que isso significa que fiquei um pouco mais inteligente. — disse ele com satisfação e apenas uma pitada de sarcasmo.

 

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Akira estava de volta ao deserto para mais prática de tiro. Segurou seu fuzil com firmeza, ajustou sua postura, olhou atentamente através da mira e alinhou sua mira com seu alvo, outra pedra. A linha de trajetória azul que Alfa sobrepôs em sua visão balançou ligeiramente com sua respiração.

Respirou fundo, prendeu a respiração e se concentrou. Por um breve momento, a linha azul ficou parada. Em seguida, puxou o gatilho.

Sua bala voou pelo ar e atingiu a pedra, quebrando-a em fragmentos voadores.

— Isso! O que você acha disso?

Akira sorriu. Três acertos seguidos indicaram melhora óbvia. Sim, ainda contava completamente com o apoio de Alfa e, sim, estava longe de se tornar um atirador de elite de sucesso por conta própria. Ainda assim, havia feito grandes progressos desde aquele primeiro dia de erros.

Alfa sorriu alegremente também.

Você não é mais um amador. — disse. — Muito bem. Estou impressionada.

Até mesmo o teimoso Akira recebeu elogios de alguém que constantemente criticava seus esforços. Um tom de autossatisfação entrou no sorriso que deu a Alfa; que sorriu de volta, divertida e astuta.

— Continue assim. — disse. — Agora que você pode mirar razoavelmente bem, estamos passando para o seu próximo exercício. Seu alvo será um pouco diferente, mas continue mirando como se um erro o matasse, assim como eu lhe disse.

Alfa apontou e Akira se virou para olhar, um pouco nervoso. Congelou de terror.

Lá estava o cão armado que quase havia tirado sua vida alguns dias antes. O medo havia gravado sua aparência indelevelmente em sua memória, seu rosto retorcido, o enorme canhão crescendo de suas costas, suas oito pernas desigualmente distribuídas. Akira estava certo de que teria notado sua aproximação, nada tão grande deveria ser capaz até mesmo de ser furtivo, mas o havia apanhado completamente de surpresa.

Recuperando-se, se virou para fugir, mas Alfa interveio.

— Não se preocupe. É apenas uma imagem, como eu. — riu enquanto falava.

O olhar de Akira correu instintivamente para Alfa, que sorriu tranquilamente, ele recuperou uma certa compostura. Então olhou desconfiado para o cão armado, sentindo o bater de seu coração o tempo todo. O gigante parecia absolutamente autêntico, mas ficou perfeitamente parado. Deveria ter sido capaz de vê-lo facilmente, mas não conseguiu reagir à sua presença. Akira finalmente se sentiu convencido de que não estava realmente lá e soltou um suspiro de alívio.

— Não me assuste assim. — disse ele, olhando com reprovação para Alfa.

— Você estará lutando contra hordas de monstros como este a partir de agora. — respondeu sem uma pitada de vergonha. — Você precisa se acostumar com eles agora e estar pronto para responder quando encontrar um sem aviso prévio. Se esta fosse uma luta real, esse pânico teria matado você.

Então fez sinal para Akira retomar seu treinamento. Ele não estava satisfeito, mas preparou seu fuzil novamente.

— Seu ponto fraco está bem entre os olhos. — instruiu. — Faça valer o seu primeiro tiro.

Akira viu o cão armado através da mira de seu fuzil. O monstro apareceu delineado em vermelho, um indicador marcou o ponto fraco em sua testa. Tentou se acalmar e alinhar a linha azul com seu alvo, mas isso se mostrou difícil. Seus braços trêmulos sacudiram o fuzil, fazendo com que a linha azul balançasse.

— Calma. — disse a si mesmo. — É apenas uma imagem, um alvo. Isso é como mirar em pedras.

Mas saber disso não significava que deixaria de ter medo. Embora estivesse parado, o alvo parecia idêntico a uma besta que quase o matou, teve que olhar diretamente para poder mirar. Tentou manter a cabeça fria.

Após várias respirações profundas, sua mente e corpo começaram a se acalmar. Tencionou seus braços trêmulos para estabilizar a linha azul e permaneceu o mais calmo possível enquanto segurava a respiração e se concentrava. Então, sombrio, puxou o gatilho.

Apesar de todos os seus esforços, seu disparo atingiu o chão perto do cão, não apenas errando a testa do monstro, mas todo o seu corpo.

Instantaneamente, a besta ganhou vida, desencadeando um grande uivo enquanto seu canhão girava em sua direção e disparava um enorme projétil. Akira congelou em estado de choque quando o projétil caiu perto dele e deflagrou uma enorme explosão. Seu olhar permaneceu fixo na besta enquanto ela uivava novamente e tentava disparar mais uma vez. Desta vez, não veio nenhum projétil. Uivando uma terceira vez, a besta começou a correr.

Diante do gigante que se apressava, Akira finalmente reagiu. Disparou descontroladamente contra o cão armado, mas em pânico não ficou de pé nem apontou corretamente. Nem um único tiro atingiu o seu alvo.

O cão armado se aproximou com uma velocidade que desmentia o arranjo desajeitado de suas oito patas. Naturalmente, alguns dos tiros de Akira começaram a atingir o monstro à medida que se aproximava, mas tiros dispersos não significavam nada diante de um poder tão avassalador. Ele ignorou as balas que o atingiam e atacou, com a boca aberta para devorá-lo.

Akira se sentiu paralisado na certeza da morte; o fluxo do tempo desacelerou enquanto observava a mandíbula da besta se aproximar. Incontáveis presas deformadas forravam suas mandíbulas, resistentes o suficiente para esmagar detritos e rasgar metal, para consumir facilmente sua carne macia.

Desamparado, observou o monstro em câmera lenta, tão lento que pensou que poderia rastrear a saliva que se espalhava de sua boca. Sabia, sem um pingo de dúvida, que sua vida terminaria quando as grandes mandíbulas se fechassem e então elas se fecharam. A força do salto do cão levou-o diretamente através dele.

Akira levou alguns momentos para cair em si com um “Huh?” Quando olhou para trás, o cão armado não estava em nenhum lugar à vista.

— Eu lhe disse que era apenas uma imagem. — Alfa o lembrou, sorrindo.

Finalmente percebeu que ela estava lhe mostrando o que aconteceria se errasse, para ensiná-lo o custo mortal do fracasso. Mesmo a explosão do canhão tinha sido puramente visual, o lugar onde parecia ter caído estava totalmente incólume e Akira não tinha sentido a explosão. Quase entrou em colapso quando o medo e a tensão nervosa o liberaram de seu controle, mas com dificuldade se manteve de pé.

— Avise-me da próxima vez. — disse ele, olhando-a, mas muito esgotado até mesmo para tornar seu olhar acusatório.

Alfa riu e apontou para o chão. Ele olhou para baixo e fez uma careta ao ver sua própria cabeça decepada, tudo o que o cão de arma havia deixado de seu eu virtual.

— Isto é o que os contra-ataques de seus alvos farão com você, a menos que atinja seus pontos fracos com precisão e cause uma morte instantânea, ou ao menos um ferimento debilitante. Eu disse para você atirar como se sua vida dependesse disso, lembra? Leve seu treinamento a sério se não quiser que isso aconteça em uma luta real.

Akira parecia abalado quando encontrou o olhar da cabeça decepada, parecia bastante ressentido, e então de repente se lembrou de seus pesadelos. Sua expressão endureceu.

— Tudo bem. — disse. — Entendi. Você só quer que eu faça isso, certo? Ok, eu vou.

— Alfa! Próximo!

Alfa parecia surpresa, então satisfeita.

Vejo que você está motivado. Vamos continuar. — Ela apontou e a imagem do cão armado reapareceu.

Preparou seu fuzil, seu rosto distorcido com intensa concentração. Embora tivesse falado com Alfa, suas palavras foram direcionadas mais para a cabeça virtual decepada e para o Akira em seus pesadelos, sua resposta à reprovação em seus olhos.

Mirou, puxou o gatilho e errou. Seu alvo ganhou vida, uivou e atacou. Desta vez, no entanto, manteve o olhar fixo no alvo. Sufocando seu medo, manteve sua postura, alinhou sua mira com o rosto terrível da criatura, disparou um segundo tiro. Mais uma vez errou, seus braços trêmulos e um alvo em movimento aumentaram drasticamente a dificuldade de sua tarefa. Finalmente não conseguiu um acerto direto, o ataque terminou em mais uma cabeça cortada virtualmente, mas tinha mantido os olhos fixos em seu inimigo até o amargo fim.

— Próximo! — gritou.

A mesma coisa aconteceu novamente, aumentando o monte de cabeças decepadas no chão, mas continuou.

— Próximo!

Finalmente, depois de uma série de tentativas, conseguiu estabilizar sua respiração, se concentrar, sufocar seu medo com determinação e acertar um tiro na cabeça de seu alvo. Não atingiu o ponto fraco perfeitamente, mas atrasou o monstro. Manteve sua mira treinada sobre a cabeça da besta enquanto se aproximava dele, até que finalmente o cão armado expirou, com sua cabeça cheia de balas antes que pudesse afundar suas presas.

— Você conseguiu. — disse Alfa com um sorriso.Você finalmente…

— Próximo!

O olhar sincero no rosto de Akira não vacilou.

Alfa parecia um pouco surpresa, então seu sorriso voltou.

Está bem. Há muito mais de onde veio esse.

Outra imagem do cão armado apareceu. Akira passou o dia inteiro treinando.

 

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Naquela noite, Akira sonhou que o cão armado o perseguia novamente. Tinha a sensação de que alguém lhe havia dito para virar e atirar ao seu sinal, mas não sabia quem e o sinal nunca chegou. Continuou seu voo desesperado.

Então, um lampejo de compreensão veio sobre ele e se virou, com o rosto definido, para apontar sua arma para o monstro. A arma em suas mãos havia se tornado um fuzil de assalto AAH. Assim como havia feito durante o treinamento, olhou fixamente para o alvo enquanto alinhava a mira do fuzil com a cabeça. Então, perfeitamente resoluto, puxou o gatilho. O fuzil anti-monstro disparou uma poderosa rajada na cabeça distorcida do cão armado, que se distorceu ainda mais sob a chuva de tiros. A besta morreu pouco antes de chegar a Akira.

Nesse ponto, acordou em sua cama de hotel. Ainda era noite.

Riu baixinho, fechou os olhos e voltou a dormir. Ele poderia ter o mesmo sonho novamente, mas não seria mais um pesadelo.

 


 

Tradução: Nagark

Revisão: Bravo

 

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