Reconstruir o Mundo

Reconstruir o Mundo – Vol. 01.1 – Cap. 05 – Akira e Shizuka

 

Uma vez de volta à cidade em segurança, Akira foi direto para o posto de troca. Entrou na fila do balcão, como antes e se encontrou frente a frente com o mesmo funcionário, Nojima.

— Mostre sua identificação de caçador se você vier– oh, você novamente.

A mudança em Akira assustou Nojima. Não havia nenhum sinal da criança comum da favela que havia visto da última vez que se encontraram. É verdade que Akira tinha aproveitado o essencial do equipamento de um caçador dos pertences de Kwahom e Hahya, mas o mais importante é que ele exalou, ainda que fracamente, o ar distinto de quem tinha recebido o batismo das terras devastadas. Lá estava um caçador — ainda um novato, sim, mas não mais um esperançoso que havia acabado de se registrar.

Nojima sorriu. Talvez Akira fosse condescendente com o posto de trocas ainda por algum tempo.

Ele então começou a examinar as mercadorias do garoto.

— Estes são, er, meio duvidosos. — disse ele. — Você teve sorte com o último lote?

Akira fez uma careta. A expedição quase lhe custou a vida, afinal.

— Desculpe, são “duvidosos”, mas estas ainda são relíquias do Velho Mundo que trouxe de volta das ruínas, então devem ser boas o suficiente para me dar o resto do meu último pagamento. — Então olhou curiosamente para Nojima. — O que você quer dizer com “sortudo”?

O funcionário sorriu alegremente.

— Veja por si mesmo.

Como antes, Nojima levou a bandeja de Akira e seu conteúdo para uma prateleira atrás dele, depois entrou com algo em um terminal no balcão. Uma máquina ao lado dele então cuspiu uma pilha de notas, que enfiou em um envelope e colocou diante de Akira, sorrindo o tempo todo.

— Esse é seu pagamento pós-avaliação para sua última venda, mais o seu adiantamento desta dá um total de 200.000 aurum.

Akira quase desmaiou quando ouviu o total. Sem palavras, lentamente pegou o envelope e retirou seu conteúdo. Sua consternação só aumentou quando a visão e o toque das notas lhe asseguraram que eram reais. Apenas alguns dias antes, ele lutou até a morte por trezentos aurum; agora não conseguia entender a fortuna em suas mãos.

Nojima riu, satisfeito com a reação de Akira.

— Não há muitas crianças que recebam pagamentos como esse por aqui, você sabe. Gaste-o com sabedoria. Agora mexa-se; você vai se destacar se continuar parado aí.

Akira voltou à realidade, embolsou apressadamente o envelope e saiu um pouco rigidamente do posto de trocas. Num momento tinha sido o caçador novato; agora era mais uma vez a criança da favela. Nojima o observou ir com um sorriso agridoce.

 

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Akira permaneceu abalado mesmo depois de deixar o posto de trocas, e não mostrou sinais de recuperação.

— Akira. — Alfa chamou-o em seu tom habitual. — Acalme-se. Você terá dificuldades se um trocado de bolso como esse for suficiente para fazer-lhe perder a calma.

— T-trocado de bolso?! — Akira deixou escapar. Tal descrição era inimaginável depois de sua vida nas favelas. — Do que você está falando?! São 200.000 aurum! Uma fortuna!

Alfa o encarou com um olhar fixo. — Não, é trocado de bolso. — disse ela com uma ligeira irritação em sua voz. — Lembre-se disso, já que você teve que arriscar sua vida por isso, mesmo com o meu apoio.

— I-Isso é meio difícil.

— Além disso, você parece um esquisito falando com o nada. Tenha cuidado.

Akira fechou a boca; agir de forma estranha faria dele um alvo perfeito. Lutou para se acalmar, com pouco sucesso.

— De qualquer forma — continuou Alfa —, vamos encerrar o dia e descansar um pouco. Você está exausto das ruínas e você vai se destacar como um polegar dolorido se ficar por aqui esperando para se acalmar.

— O-Ah, sim. Certo.

Akira recuperou a compostura o suficiente para manter sua resposta em um sussurro, mas ainda estava obviamente atordoado enquanto se dirigia para seu local habitual de dormir nos becos.

— Não. Alfa o deteve. — Sua expressão era séria.Não é por esse caminho.

— Huh? Mas este é o caminho para onde eu durmo.

— Não mais, você vai ficar em um hotel. Você pode pagar, lembra?

— B-bem, sim, mas… — Os hábitos de pobreza fizeram Akira hesitar em gastar seus ganhos suados em um quarto para passar a noite.

Alfa sorriu gentilmente, como se corrigisse uma criancinha.

Isso não será um desperdício. Apegar-se a trocados só vai atrapalhar a sua sobrevivência. Você ganhou, então gaste-o de forma eficaz. Vou ajudá-lo com a gestão do dinheiro também. Você não confia em mim?

Quando ela colocou assim, Akira não podia recusar. Afinal, eles haviam prometido construir confiança através da cooperação. Ele acenou com a cabeça, determinação começou a aparecer em seu rosto mesmo quando tentava impedir seu coração de acelerar por causa de sua nova fortuna.

— Tudo bem.

— Obrigada. Agora, vamos para o nosso hotel. Espero que você não se importe se eu escolhê-lo.

— Não me importo. Você decide.

— Então siga-me. — Alfa mostrou o caminho com um sorriso. Akira seguiu, ansiosamente tentando estimar quanto um quarto de hotel lhe custaria.

 

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Os hotéis que atendiam aos caçadores eram geralmente abertos a todos que chegavam, desde que os visitantes obedecessem a uma regra: armas eram permitidas, os proprietários esperavam que os hóspedes estivessem em seu melhor comportamento com armamentos anti-monstros, que eram tão poderosos que o uso indevido deles poderia facilmente devastar pessoas e propriedades. Ainda assim, até mesmo confrontos fatais eram permitidos, desde que as partes envolvidas pagassem uma compensação adequada. Os hotéis baratos para caçadores perto das favelas eram especialmente negligentes nesse aspecto. Eles não rejeitariam nem mesmo um menino de rua armado, desde que ele pudesse pagar, então Akira não teve problemas.

O quarto que acabou reservando estava na faixa de preço médio do hotel e razoavelmente espaçoso — um recurso atraente para os caçadores que procuram armazenar relíquias ou realizar manutenção em seus equipamentos. Também incluía uma cama, uma banheira e uma geladeira abastecida com comida. Acima de tudo, era muito mais seguro do que as ruas.

Para Akira, a diferença entre o quarto de hotel e dormir em um beco era como da noite para o dia. Em vez de ficar entusiasmado com o luxo comparativo, porém, parecia conflituoso e até um pouco sombrio.

— Vinte mil auruns por noite? Eu não posso acreditar…

Embora apreciasse o quarto, isso não significava que pudesse pagar por ele sem hesitar. Sua mão tremeu quando pagou a conta. Alfa havia escolhido o quarto — deixado por conta própria, ele teria optado por um mais barato. Ele suspirou, cabisbaixo sem saber o que fazer com tal desperdício.

Alfa sorriu desculpando-se.

Tenho certeza de que você tem muito em que pensar — disse —, mas por que não começar com um banho relaxante?

— Um banho? — Akira repetiu, a palavra instantaneamente mudando seu desânimo para alegria. — Sim! Com certeza!

Havia residências com banheiros, mesmo nas favelas, mas apenas alguns poucos escolhidos — os ocupantes e aqueles que podiam pagar pelo privilégio — tinham permissão para usá-los. Outros moradores geralmente não tinham oportunidades de tomar banho. O melhor que uma criança como Akira conseguia era se enxugar com um pano mergulhado em água imprópria para beber. Ele só conseguia se lembrar vagamente de seu último banho, embora ainda pensasse nisso enquanto se dirigia alegremente ao banheiro.

Enquanto a banheira enchia, tomou muito cuidado lavando-se com muita água quente e sabão de cortesia, saboreando o luxo que seria impossível nas ruas. Demorou muito até que a água que escorria de seu corpo permanecesse limpa e o sabonete começasse a fazer espuma.

No momento em que estava completamente limpo, a banheira estava cheia. Imediatamente mergulhou até os ombros, rendendo-se ao prazer da água quente do banho. Seu rosto relaxou e ele gemeu suavemente quando sua exaustão e consciência começaram a se dissolver na banheira.

— Como está a água?

Akira voltou sua atenção dissipada para a voz e viu Alfa sentada na banheira ao seu lado, totalmente nua. Gotas de água rolaram sobre sua pele, que estava levemente corada pelo calor e se afunilaram em seu decote. Apenas a distorção de sua imagem na água do banho e o vapor crescente obscureciam sua beleza arrebatadora.

É claro que Alfa incorpórea não podia realmente mergulhar em uma banheira, ela estava meramente se exibindo na visão de Akira. Mas processadores de computador com poder astronômico calcularam sua imagem até os mínimos detalhes da água límpida, suas ondas e a luz refletida em sua superfície, de modo que ela se misturou perfeitamente à cena. Além das ondulações que passavam por seu corpo encantador, não havia nenhum sinal visível de que ela não estivesse fisicamente presente.

 

 

 

— É incrível. — respondeu Akira distraidamente. — Por que você está nua?

Alfa corou modestamente.

Quem toma banho vestido?

— Você me pegou. — Akira assentiu com a cabeça, aparentemente convencido, e retomou

olhando vagamente para a frente, descansando na banheira.

Alfa continuou sorrindo, mas não estava nada satisfeita com a resposta dele.

— Akira. — disse — isso é tudo que você tem a dizer sobre o meu visual?

Parecendo um pouco desnorteado, grande parte de sua mente já havia se dissolvido na água do banho, Akira considerou. Então respondeu hesitantemente:

— Seu corpo é feito de, o que era, “computação gráfica”, certo?

— Sim, é, mas não é isso que quero dizer. Me ver assim não faz você pensar ou sentir alguma coisa? Seja honesto, você deve sentir alguma coisa.

Akira deu a Alfa outro olhar perplexo, ponderou e disse:

— Você tem, hum, um peito grande?

Alfa sorriu com tristeza.

Esperava algum interesse em meu corpo, mas não parece que você se importa muito com isso.

Para um menino de sua idade, Akira mal reagiu a compartilhar um banho com uma beleza nua. Mesmo uma que ele não podia tocar. Quando Alfa se mexeu de uma forma que mostrava suas nádegas, que balançavam um pouco quando a água espirrou contra elas, ele não prestou mais atenção a elas do que aos seios voluptuosos e à pele molhada e corada. Para Akira, seu corpo nu não era nada comparado com o calor agradável do banho.

— Você vai se afogar se adormecer assim. — avisou, antes que ele fosse embalado no sono.

— De jeito nenhum vou morrer em um lugar como este. — murmurou lentamente.

Então sugiro que você saia, seque, se vista e vá para a cama.

— Tudo bem.

Akira ficou de pé de forma instável e lentamente saiu da banheira. Depois de se secar com uma toalha, caiu na cama usando um conjunto de pijamas gratuitos, incapaz de resistir à atração do sono.

— Doces sonhos. — disse Alfa com seu habitual sorriso gentil. Ele mal conseguiu um abafado “Boa noite” antes que um sono profundo o reivindicasse.

 

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Akira não acordou até bem depois do amanhecer do dia seguinte. Sua fadiga acumulada e cama confortável o levaram a dormir muito mais do que teria no chão de um beco. A estranha agradabilidade deixou-o um pouco atordoado mesmo depois de acordar.

— Bom dia, Akira. — Alfa o chamou com um sorriso. — Vejo que dormiu bem.

— Bom dia, Alfa. — murmurou vagamente. De repente, notou o ambiente desconhecido e acordou subitamente. — Espere! Onde estamos?! — Ele olhou em volta, frenético. Nos becos, demorar para acordar pode significar a morte.

— Estamos no quarto de hotel que você reservou ontem à noite. — Alfa respondeu, seu tom gentil calculado para acalmar seus nervos. — Lembra?

As lembranças do dia anterior finalmente voltaram para ele.

— Ah, sim. — suspirou, aliviado. — Ficamos em um hotel.

— Agora, que tal o café da manhã? — Alfa apontou para a geladeira. A comida dentro foi incluída na conta do hotel e não haveria reembolso de sobras. — Você não precisará ir buscar rações hoje, então pode ir com calma.

Os ânimos de Akira elevaram-se enquanto aquecia seu café da manhã congelado. Não precisou esperar na fila para uma refeição, a comida estava quente e a água estava gelada, muito diferente das rações. E comia em um quarto particular, livre do medo de que alguém lhe roubasse sua refeição.

“Isto vale os vinte mil auruns”, pensou, um sorriso se espalhou por seu rosto enquanto saboreava uma refeição totalmente diferente de qualquer outra que já havia comido antes.

Presunçosa, como se estivesse lendo sua mente, Alfa sorriu.

Você não está feliz por ter ficado em um hotel?

A teimosia de Akira o fez hesitar em dar uma resposta honesta. No entanto, não conseguia pensar em uma refutação, estava genuinamente grato. Então, em vez disso, adotou uma atitude desafiadora e respondeu com firmeza:

— Sim, eu estou.

Alfa deu um sorriso satisfeito que o fez se sentir estranhamente envergonhado enquanto continuava sua refeição.

 

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Muitos caçadores preferiram operar fora da cidade de Kugamayama; havia as inúmeras ruínas próximas, é claro, e o distrito inferior da cidade estava repleto de lojas que atendiam a caçadores de relíquias. A Cartridge Freak, uma loja geral que vendia principalmente armas e munição para caçadores novos e experientes, era um exemplo típico.

Até mesmo suas finanças eram típicas, ela fez negócios suficientes para ficar fora do vermelho, mas não o suficiente para abrir uma segunda filial. Sua gerente, Shizuka, dirigia a loja sozinha, seus esforços, tais como aconselhar os clientes sobre o equipamento apropriado, fizeram da Cartridge Freak a favorita de muitos dos novos caçadores que lá compraram seu primeiro equipamento.

De tempos em tempos, alguns desses caçadores paravam de voltar. Alguns amadureceram como caçadores, ficaram insatisfeitos com a variedade da Cartridge Freak e mudaram-se para lojas mais caras em busca de equipamentos de maior desempenho.

Outros, a grande maioria, morreram engolidos pelos resíduos do deserto.

Shizuka era uma mulher atraente. Sabia que alguns de seus clientes estavam mais interessados nela do que em seus produtos, muitas vezes recebia notícias de que um homem que tinha dado em cima dela no dia anterior havia morrido nas ruínas. Neste negócio, era inevitável e ela não era sentimental sobre isso, e tinha decidido nunca entrar em um relacionamento com um caçador.

Naquele dia, estava em sua posição habitual no balcão, examinando a loja enquanto esperava pelos clientes, quando um rosto desconhecido entrou. Ele era uma criança e, embora mal estivesse bem armado o suficiente para se passar por um caçador, suas roupas eram apenas limpas para os padrões das favelas, ele não parecia particularmente forte. Com base apenas em sua aparência, Shizuka não tinha certeza se deveria tratá-lo como um cliente de verdade. Ela observou o menino de perto enquanto ele olhava curiosamente ao redor da loja, mas quando ele não parecia ter a intenção de roubar as vitrines, relaxou.

Após entrar na loja, Akira passou um tempo olhando para os expositores e depois, aliviado por não ter sido expulso por ser um garoto das favelas, examinou a mercadoria com mais detalhes. Fileiras de armas de fogo de todas as formas e tamanhos enchiam a loja, ao lado de cada etiqueta de preço havia um resumo digerível das especificações do catálogo da arma. Mas Akira não tinha o conhecimento básico para analisá-los, mesmo que tivesse sido capaz de ler, então só podia distinguir os números.

— Qual é a diferença entre estas duas? Apenas o preço? — gemeu, curioso, mas desconfortável enquanto comparava duas armas. Elas pareciam idênticas a seus olhos destreinados, mas uma era quase o dobro do preço da outra. Ele estava prestes a gastar dinheiro pelo qual quase morreu em uma arma que ajudaria a mantê-lo vivo. Um erro descuidado não só ameaçaria seu futuro como caçador, mas também feriria seu orgulho.

— Há uma série de diferenças. — Alfa disse-lhe calmamente com seu sorriso gentil. — Eu posso explicar todos elas, mas vamos deixar isso para mais tarde. Vou escolher as coisas para você, então não se preocupe se não entender.

— Obrigado. — Akira estava falando tão suavemente que mal conseguia se ouvir, embora Alfa, que não dependia do som em primeiro lugar, ainda captasse cada palavra claramente. Ele estava tentando não parecer suspeito enquanto fazia compras, mas inconscientemente ainda se virou para olhar para Alfa.

“Ele continua olhando para o vazio”, Shizuka se perguntava, confusa.Há alguém lá? Usando camuflagem ativa, talvez? Mas isso não deveria funcionar dentro da minha loja. Deve ser a minha imaginação. Talvez ele esteja apenas tendo problemas para decidir”.

Ela havia contratado uma empresa de segurança privada para alugar equipamentos de segurança, incluindo um dispositivo que interrompia a camuflagem termo-óptica, e instalá-lo.

Dentro do Cartridge Freak. Ela verificou o status do aparelho, por precaução, mas não viu nada que despertasse sua suspeita.

Uma vez que Akira se aproximou do balcão, Shizuka o cumprimentou com um sorriso amigável.

— Bem-vindo a Cartridge Freak. Esta é a sua primeira vez aqui? Eu sou Shizuka, a gerente. O que posso fazer por você?

— Um rifle de assalto AAH com munição e ferramentas de manutenção. — Akira respondeu, assim como Alfa havia lhe dito. — E eu gostaria de vender algumas coisas.

No balcão, ele colocou várias armas que pertenceram à dupla que o atacou nas ruínas.

Shizuka inspecionou a condição de cada arma.

— Uma das armas que você está vendendo é um rifle de assalto AAH. Tem certeza de que deseja substituí-lo por um novo? — perguntou ela a título de conselho. — Eu posso ver que não foi bem cuidado, mas ainda pode ser perfeitamente útil com a manutenção adequada. E este supera um AAH. Você realmente quer vendê-lo? — Ela teria um lucro maior se segurasse a língua, sabia, mas isso não estava em sua natureza.

— Vá em frente. Compre um novo. — disse Alfa. Ela explicou: — Sua capacidade de usar a arma facilmente importa mais do que suas especificações simples. Você estará se acostumando com o AAH como parte de seu treinamento, e uma nova arma será melhor para isso do que uma com peculiaridades de um usuário anterior.

— Está tudo bem. — disse Akira a Shizuka. — Eu gostaria de vendê-los e comprar um novo AAH.

—Tudo bem. — Shizuka fez alguns cálculos. — Nesse caso, menos o valor do que você está vendendo, serão cem mil auruns.

Akira pagou sua conta e depois olhou as notas restantes em seu envelope, sentindo-se um tanto conflituoso. Ontem, suas mãos tremeram ao receber uma fortuna de 200 mil auruns; hoje, ele tinha apenas oitenta mil restantes. Entendeu agora por que Alfa havia chamado isso de trocado de bolso e ele não conseguia suprimir um sorriso amargo.

Shizuka colocou as compras de Akira no balcão e deu-lhe um sorriso que combinava atendimento ao cliente e confiança em seus produtos.

— Aqui está. Gostaria que eu explicasse isso para você? Ficaria surpreso com quantas pessoas os usam sem um entendimento adequado, por isso não poderia doer ouvir. Acontece que eu tenho algum tempo livre, então vou te dar o resumo completo.

Akira hesitou por razões que ele não entendia. Não estava acostumado a receber gentileza, mesmo em um contexto de negócios, então decidiu tirar proveito disso.

De qualquer forma, realmente estava interessado, disse a si mesmo, sem perceber que estava dando uma desculpa.

— Claro, hum, se você não se importar.

— De forma alguma. — Shizuka ansiosamente se lançou em sua explicação. Ela realmente tinha tempo para matar e também era apaixonada pelo assunto, então falou longamente e com uma pitada de orgulho. — O fuzil de assalto AAH é uma obra-prima de arma e uma das favoritas de muitos caçadores. Tem uma das histórias mais longas de qualquer arma atualmente em uso no Oriente…

O fuzil de assalto AAH, Shizuka lhe disse, era uma arma famosa com mais de um século de história. Seu design havia sido saudado como uma obra-prima quando chegou ao mercado pela primeira vez e cem anos de refinamento contínuo resolveram quase todos os seus problemas. A arma resultante era relativamente barata para uma arma anti-monstro e ainda amplamente fabricada e vendida em todo o Oriente. O AAH podia alternar entre fogo semiautomático e totalmente automático, também ostentava alta precisão para disparos afiados. Era confiável, durável, fácil de manter e raramente apresentava problemas de funcionamento — características que a tornavam a arma favorita de muitos.

Muitos fabricantes adicionaram recursos e alguns usuários dedicados modificaram suas armas além do reconhecimento, mas todos esses subtipos foram atualmente agrupados sob o rótulo “rifle de assalto AAH”.

A arma era tão bem vista e amplamente utilizada que até mesmo caçadores que dependiam de tanques, mechs humanoides ou equipamentos de combate pesados semelhantes para lidar com monstros às vezes também carregavam um AAH, como seguro no caso de perderem seu equipamento normal, como um amuleto de boa sorte, ou apenas porque esse era o fuzil de assalto AAH.

Shizuka concluiu sua explicação com evidente satisfação. Um ouvinte tão atento quanto Akira fez até detalhes que eram de conhecimento comum para a maioria dos caçadores dignos de serem contados.

— Você precisa de mais alguma coisa? — acrescentou com um sorriso. — Remédio nunca é demais, por exemplo. Recomendo carregar um pouco de peso extra e carregar mais do que você acha que vai precisar, mesmo que isso signifique reduzir um pouco suas reservas de munição.

— Sério? — Akira parecia assustado. — Munições extras me parecem mais importantes.

— Se você precisa de tanta munição que estaria abrindo mão de suprimentos médicos para dar lugar a tudo isso, então eu diria que você deveria planejar voltar mais cedo. Mesmo ferimentos que não parecem sérios podem acabar matando-o, então saber quando desistir é mais importante do que se esforçar para continuar.

Akira considerou por um momento. Ainda tinha mais do remédio das ruínas e adivinhando seu preço com base em seus efeitos, concluiu que não poderia pagar mais. Então tentou pensar em algo que precisava e que poderia estar dentro de seu orçamento.

— Nesse caso, você tem roupas para caçadores? — perguntou.

— Quer dizer como uma armadura ou trajes de força? — Shizuka respondeu pedindo desculpas. — Desculpe, a maioria dos equipamentos como esse requer ajustes individuais de tamanho, então eu normalmente não os tenho. Suponho que poderia encomendar algo se você insistir.

Em uma loja que atendia a caçadores, “roupas” normalmente significavam equipamentos de combate, como armaduras corporais projetadas para resistir a lâminas, pressão ou balas, ou trajes movidos com músculos sintéticos e outras tecnologias para aumentar o desempenho físico.

— Ah, não. Ù Akira apressadamente balançou a cabeça. — Eu quis dizer, tipo, roupas resistentes que são fáceis de carregar. Talvez uma mochila também.

— Ah, entendi. — Shizuka fez uma pausa para considerar. — Não tenho nada em tamanhos infantis, mas acho que posso encontrar algo que você possa ajustar para caber. Espere um segundo.

Shizuka desapareceu no quarto dos fundos e depois voltou com o conjunto de roupas e mochila que Akira havia pedido. As roupas foram projetadas para ter uma armadura simples costurada nelas, mas em seu estado atual elas eram apenas um pouco mais resistentes do que a média. Como a mochila, eles eram modelos desatualizados que estavam acumulando poeira no depósito de Cartridge Freak, então Shizuka disse a Akira que ela os incluiria em seu pagamento anterior, em outras palavras, eles eram gratuitos.

— Você tem certeza? — Akira perguntou, chocado.

— Não se preocupe com isso; eles são basicamente um extra. Se isso não lhe agrada, sinta-se à vontade para me ajudar, tornando-se um cliente regular.

— Entendi. Obrigado por tudo. — Akira fez o seu melhor para devolver seu sorriso gentil e amigável, depois se curvou educadamente.

Shizuka se despediu dele com um aceno alegre. Mas uma vez que ele estava fora de vista, sua expressão ficou nublada de preocupação.

— Uma criança caçadora. — disse ela para si mesma. — Me pergunto por quanto tempo ele conseguirá sobreviver.

Caçar era um trabalho mortal, ainda mais para as crianças, e sua experiência lhe dizia que Akira nunca havia usado uma arma anti-monstro antes.

— Eu realmente espero que ele se torne um regular.

As roupas e a mochila tinham sido o mínimo que ela poderia oferecer para um menino que em breve poderia estar morto.

 


 

Tradução: Nagark

Revisão: Bravo

 

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