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Qualidea de um Traste e uma Moeda de Ouro – Capítulo 05

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Yuu

Nos dias seguintes, Kusaoka e eu investigamos o mais notável entre os meus amigos.

Embora tivéssemos finalmente chegado ao fundo do testemunho da Anna, o tempo era essencial. O outro agiota certamente deve ter dado dinheiro para aqueles em minha lista de clientes. Eu não tinha dúvidas de que a própria Shia havia sido infectada por aquelas presas venenosas.

Nossa escola estava localizada no interior de uma zona escolar tranquila e um pouco remota. Esse lugar provavelmente prepararia o cenário para o clímax de nossa aventura. Quando chegamos, já estava bastante escuro. Apenas as formações planas movendo-se no céu pareciam nos vigiar.

Um menino e uma menina se confraternizando àquela hora causariam problemas sem fim para a AAPM. Aproximei-me mais do menino ao meu lado. (NT: Em inglês estava ‘PTA’ que é o mesmo que ‘AAPM’ em português significando “Associação de Alunos, Pais e Mestres”.)

— Que situação, Haruma.

— O que é?

— Não vamos fazer nada que nos envergonhe de ver a luz do dia.

— Sim, como o quê?

Por mais que Kusaoka tentasse desesperadamente evitar o assunto, nenhum garoto não gosta de estar perto de sua garota ideal. Sob sua expressão apática, seu nariz estava crescendo como o de Pinóquio.

Ao longo dos últimos dias, ele realmente se abriu para mim. Era como se estivéssemos namorando? É assim que se colocaria? Sua felicidade chegou até mim em alto e bom som. Fizemos bons progressos hoje também.

Agora, vamos ao assunto em questão. O professor encarregado da chave ainda estava por perto?

Os portões da escola estavam bem fechados, como se fossem feitos com uma cortina de ferro. Eu podia ver o prédio familiar da escola do outro lado, envolto em uma espécie de escuridão tranquila. Durante o dia, ele foi invadido por alunos, e a estrutura danificada trouxe à mente uma árvore seca. Felizmente, esta era a única vez que tive algo importante para fazer aqui. Eu andei ao longo da cerca, me misturando às pequenas manchas de escuridão que cresciam entre as luzes da rua.

Uma residência particular ficava ao lado de nossa escola. Era uma casa unifamiliar de dois andares, com telhado vermelho. Suponho que era um lar doce lar para quem havia trabalhado duro para comprá-la. Do outro lado das cortinas, uma risada extasiada ecoou.

Peguei uma pedra ao lado do meu pé.

Há algo que sempre escondi até agora: quando estava no ensino fundamental, sempre fui chamada de Ás Ciclone do time de beisebol. Mais uma vez, havia chegado a hora de a bola mortal irromper da minha mão, uma reviravolta que ameaçava rasgar a garganta do batedor. Mirei na varanda ao lado, brandindo a pedra com todas as minhas forças.

— O que está tentando fazer?

Senti alguém pegar minha mão do lado. Foi Kusaoka. Eu tinha acabado de fazer um arremesso, mas isso era um obstáculo! Uma violação da regra de três arremessos!

Eu posso ter sido o Ás Ciclone, mas nunca aprendi as regras do beisebol. Você alcançará a vitória se mandar a bola para longe com seu bastão! Esse tipo de coisa é muito primitiva e não o objetivo de uma pessoa iluminada.

— Por favor, me solte. Devo me tornar um ás mais uma vez.

— Eu não entendo o que você está dizendo. Tipo, o quê? Você vai quebrar o vidro? Correr com uma moto roubada e se machucar no vidro da janela?

— Citando A Night at Fifteen and Sotsugyo, entendo. Que antiquado, Haruma. Os jovens estudantes hoje em dia não ouvem músicas como essa.

— Eu gosto muito dele… Ok, então o que você ouve?

Jukensei Blues e coisas assim.

— É ainda mais velho do que Ozaki, não é1Yutaka Ozaki foi um famoso músico japonês, conhecido por seus sucessos A Night at Fifteen (1983) e Sotsugyo (1985), ambos sobre rebelião adolescente. Jukensei Blues (1967) de Goro Nakagawa é uma canção de protesto sobre a situação difícil dos estudantes que se preparam para o vestibular. Foi baseada na música North Country Blues de Bob Dylan.?

A mão do Kusaoka cortou o espaço vazio. Deixando de lado o fato que dentro de um momento ele acertaria minha cabeça e que uma violência inconcebível estava dentro dele, fiquei pasma. Foi a primeira vez que citei o nome de uma música. Meus pontos Joana subiram novamente! Hoje à noite, eu ofereceria um fanservice para o jantar e talvez até pediria doces!

— Haruma, você é um caso especial. — Eu sorri. Kusaoka se dedicou a esses detalhes sutis. Ele tinha alguns traços louváveis.

— Não tenho ideia de porque está sorrindo…

— Mais importante, não é proibido que os alunos entrem no prédio para uso privado depois que os portões da escola forem fechados?

—Você pode me dizer o que essa regra tem a ver com quebrar uma janela?

— Quebrar uma janela é um assunto sério. A polícia pode até vir. Você não acha que é possível que um professor que ainda esteja na escola seja incomodado pelo barulho e saia do prédio para verificar a situação? Então, aproveitamos a distração para distrair o professor.

— Distrair não é necessário, mas admito que é possível. É apenas uma hipótese… — Kusaoka deixou escapar um suspiro de admiração.

Então ele começou a esfregar a cabeça.

— Hum, vou te perguntar uma coisa realmenteeee óbvia.

— O que é?

— …Não quebraria seu coração fazer algo assim?

— Uma boa ação por dia, eu digo. — Eu sorri.

— O que essa garota está falando?

Eu ouvi Kusaoka proferir algo peculiar.

Pensando bem, minhas palavras podem ter sido um tanto difíceis de seguir.

— Vejamos, uma boa ação por dia é um provérbio. Deriva dos ensinamentos budistas.

— Não foi isso que eu quis dizer… — Kusaoka olhou para o céu. Ele parecia tão viril que achei bastante comovente.

Uma boa ação por dia.

Quando isso foi explicado para mim na minha aula de ética do ensino fundamental, fiquei terrivelmente impressionada. Por mais que essas palavras parecessem englobar o conceito de realizar um único ato de bondade por dia, eram profundamente sugestivas.

Por que era uma boa ação? Por que não dez ou cem boas ações?

Qualquer pessoa que se deparar com essas perguntas, é claro, será saudada com uma resposta pronta.

Para simplificar, a bondade humana é uma mercadoria limitada. A caridade sem fim é um veneno que torna as pessoas dependentes. Na obra-prima de Ryuunosuke Akutagawa, The Spider’s Web, o martelo de ferro da justiça de Buda derruba o arrogante Kandata.

Isso mesmo. Pessoas de bom senso devem praticar apenas uma boa ação por dia.

Eu já tinha prestado um grande serviço ao Kusaoka ao me oferecer para ir a um encontro com ele. Ou seja, minha boa ação do dia já havia se esgotado. Agora, meu coração se voltou para o diabo e fui obrigada a quebrar janelas.

— Hyaa!

— Ahh!

Aproveitando a lacuna momentânea no tempo quando Kusaoka afrouxou seu aperto, eu lancei a pedra, apenas para ela voar fora de ângulo. O Ás Ciclone falhou.

Mais uma vez. Enquanto procurava por outra pedra, senti um par de braços me prendendo por trás. Oh? As palmas das mãos do Kusaoka estavam tocando uma parte estranha do meu peito, não estavam?

Eu peço falta! Isso merece um cartão amarelo, eu digo! Um cartão amarelo! Na verdade, faça disso um cartão preto! Tocar em mim é um prêmio alto! Todos os cartões pretos sob o céu não seriam uma soma suficiente! Para ser sincera, nunca aprendi as regras do futebol.

— Eu já entendi. Entendi. Espere aqui um pouco – Kusaoka suspirou enquanto eu lutava violentamente contra ele.

Ele voltou para a frente dos portões da escola e jogou o braço para o lado. E então — quem diria? — ele conseguiu escalar os portões da escola, a suposta cortina de ferro, como se fosse o Muro de Berlim.

— Aqui, me dê sua mão. — Depois de escalar os portões, Kusaoka me ofereceu sua mão.

Quando eu alegremente agarrei sua mão, ele me puxou para cima com um nível de força além da minha compreensão. Havia uma sensação de segurança na palma da mão de um menino, o que de alguma forma me pareceu tortuoso. Meus pulsos formigaram e pude sentir minhas bochechas queimando um pouco.

De alguma forma, consegui alisar minha blusa amassada. Como isso fazia meu peito parecer bastante plano, acrescentei alguns enchimentos. Pronto, isso deve bastar por enquanto.

— …Foi uma piada. Você realmente acha que eu quebraria a janela da casa de um cidadão legal? — Eu disse em voz baixa, contando com sua mão, mesmo enquanto estava descendo o portão.

— Mas você claramente ia atirar uma pedra quando te parei, não ia?

— Sabe, tenho uma grande fé em você, Haruma. É a prova da nossa confiança.

— …Oh, tudo bem.

Kusaoka casualmente largou minha mão com um aceno de cabeça e enfiou as mãos nos bolsos como se nada tivesse acontecido.

…Sim.

Nesse curto espaço de tempo, parecia que nossa relação simbiótica havia se fortalecido. Eu tinha que agradecer por isso. Meu coração se voltou para o diabo, como se eu tivesse sido desviada. Eu teria que pagar por um psicólogo depois.

Haruma

Existe uma expressão que é mais ou menos esta: dar e receber.

Dar e receber são partes fundamentais do beisebol. O arremesso e a recepção são executados em medidas iguais. Você joga a bola para que seja mais fácil para a outra pessoa pegá-la e presta atenção aos movimentos dela. A implicação é que a prática torna você ciente dessas coisas, eu acredito.

E assim, indo por esse critério, Yuu Chigusa era o pior tipo de arremessador imaginável.

Sua forma de arremesso não era ruim. Ela não jogava como uma menina e girava os ombros e os quadris corretamente. A velocidade de seu arremesso era suficiente para uma garota. Além disso, foi bom como ela jogou a pedra com tanta confiança, como um arremesso real.

Acontece que seu controle era abismal.

— Hyaa!

Com aquele grito desfocado, ela fez a pedra voar fora de ângulo. Já que estamos nessa, minha conversa com Chigusa também saiu voando.

Apesar de estar bem ciente de que era errado quebrar uma maldita janela, Chigusa, por alguma razão inexplicável, atirou uma pedra na casa ao lado.

— …Ahh!

Enquanto eu estava atordoado com essa ação imprevista, Chigusa apenas bateu em sua cabeça levemente.

—Oops — ela riu, antes de mais uma vez procurar por uma pedra do tamanho de uma mão.

Chega disso. Perturbado, agarrei Chigusa pelos ombros e a prendi no local. Havia muitas coisas que eu queria dizer, mas era tanto para mim que o máximo que podia fazer era respirar pesadamente.

Se ela estava literalmente jogando pedras, isso a tornava um soldado de infantaria ou algo assim? Antigamente, as pedras eram consideradas armas leves. Mesmo no Japão moderno, seu poder destrutivo não mudou, droga.

Enquanto eu a repreendia mentalmente, finalmente recuperei o fôlego. Quando inalei profundamente, a mistura doce e sutil de perfume e xampu fez cócegas em minhas narinas. Eu olhei para Chigusa em meus braços e notei ela resmungando e gemendo enquanto lutava contra mim. Minha mão direita, que segurava ao redor de seu corpo por trás, estava em seus quadris estreitos e rígidos, enquanto minha mão esquerda estava esticada em seu uniforme, na parte saliente de seu peito. Assim que me dei conta desse fato, minha palma começou a sentir algo tardiamente.

Claro que é macio, pensei, embora por algum motivo o tecido de seu uniforme fosse duro e difícil de tocar. Um dos mistérios do mundo!

Não que isso levasse a uma caçada misteriosa por Super Hitoshi na cama2Hitoshi-kun é o mascote da série de documentários japoneses Sekai Fushigi Hakken (trad. “Descubra os Mistérios do Mundo”). Todas as semanas, um boneco Super Hitoshi-kun pode ser visto em algum lugar na tela, como um jogo do Onde está Wally..

— Ahh, er, foi mal…

Eu prontamente saltei para longe da Chigusa. Minha voz saiu mais fraca do que pensei, e parecia que Chigusa não a ouviu.

Graças aos traços de elasticidade que minha palma sentia, eu não conseguia olhar Chigusa nos olhos.

Espere um minuto, por que essa garota era tão magra…? E por que era tão macia apesar de ser magra…? É verdade que as meninas são suaves mesmo quando são magras? Por favor me diga, Gyaruko3Uma referência ao mangá Oshiete! Gyaruko-chan, que segue as aventuras de uma gyaru estereotipada (ou seja, garota feminina).!

Mas, bem, ela era totalmente suave, e não era como se tivesse um ponto doce em particular. Na verdade, meus dedos sentiram o tecido de seu uniforme, bem como algo levemente elástico. Quando se tratava de tamanho, os chibusa da Chigusa não eram nada dignos de nota.

Que nome impróprio! Eu não tinha dúvidas de que, se a Chigusa tivesse peitos enormes, os meninos de sua classe a chamariam de ‘Chibusa’ como provocação.

Quando esse pensamento me ocorreu, achei que seria bom que os dela fossem pequenos. É um símbolo de status! Um símbolo de status, eu digo! A Natividade de João Batista! Sim! Joana!

Eu era um menino tímido e puro demais que lutava para preservar a paz pensando tantos pensamentos fúteis quanto possível. Falando como o garoto inocente e puro da classe, apenas tocar uma garota causaria uma reação em todos os tipos de lugares!

Por outro lado, você poderia dizer que Chigusa também era pura de uma certa perspectiva. Puro mal, isso é!

De repente, o Hell Screen de Akutagawa veio à mente. A história era sobre um artista que era incapaz de escolher os meios que o levariam em direção ao seu propósito final e, no final, estava além de sua salvação. Em The Spider’s Thread, por outro lado, o Buda pode ter brincado com Kandata em nome da salvação, mas Yuu Chigusa, que sem piscar tomou ações que transformariam este mundo em um inferno vivo, receberia um cartão “saia da prisão” grátis daquele Buda barato.

— Haruma — ela me repreendeu com uma única declaração.

Sua voz era fria como a geada noturna, e seu sorriso era quente como a luz do sol brilhando através da folhagem, mas, mesmo assim, toda a sua atitude gritava sua insatisfação comigo.

— Eu já entendi. Entendi. Espere aqui um pouco.

Enquanto eu segurava Chigusa com minhas mãos para contê-la, lancei um olhar para o prédio da escola.

Quando percebi que as luzes estavam acesas em parte da sala dos professores, percebi que ainda havia alguém lá. O que significava que o sistema de alarme ainda não havia sido ativado. Por mais que sacudíssemos os portões, a empresa de segurança não ouviria um pio. Ou pelo menos, era assim que deveria ser…

— Ok…

Eu coloquei minha mão no portão e me levantei sobre ele, fazendo uma pose igual à que você viu na capa de um dos álbuns de Ozaki. Escalar essa altura não era grande coisa para um garoto médio do ensino médio.

O problema era a garota.

— Aqui, me dê sua mão — ouvi a mim mesmo chamá-la. Minha mão fechou-se com força em torno de sua pequena palma com seus dedos magros e flexíveis e unhas rosadas que brilhavam à luz da rua.

Assim que ultrapassamos os portões da escola, enfiei as mãos nos bolsos em uma tentativa diligente de fingir ignorância. Infelizmente, um calor definitivo ainda permanecia em minha mão; por mais que tentasse, não conseguia esfriar.

Enquanto resmungava uma resposta a Chigusa, comecei a caminhar rápido em direção ao prédio da escola. Nesse momento, a entrada da frente do prédio se iluminou. Eu pude ver alguém caminhando em nossa direção da porta. Talvez tivéssemos sido vistos escalando as paredes, ou talvez tivéssemos causado barulho demais— bem, de qualquer forma, era natural que alguém viesse olhar se visse uma sombra suspeita tão tarde da noite.

— Ei, parece que fomos pegos. E agora?

Quando me virei para Chigusa, pronto para fugir a qualquer momento, ela deslizou pelas minhas costas e começou a falar sobre algo que parecia completamente irrelevante.

— Haruma. Você está ciente do estratagema conhecido como tsurinobuse?

— Hã? Ohh, é, uh… como se chama? Uma estratégia de armadilha. O clã Shimazu usava muito ou algo assim.

Minha memória era vaga, mas provavelmente estava certa. Espera aí, por que a Joana de repente estava me questionando sobre o período Sengoku…? Além disso, por que ela estava puxando tanto minhas costas…?

— Você está bem informado. Isso está realmente correto. É uma tática de alto nível que envolve a retirada das forças principais e o uso da retaguarda para deter o inimigo lutando até a morte. Você não acredita que agora é um bom momento para tsurinobuse vir à tona?

— Sim. — Então eu parei. — Espere, você acabou de descrever um abandono.

Abandonar e tsurinobuse eram as duas faces da mesma moeda: O Daimyo da província de Satsuma, um membro da família Shimazu, usou essas táticas na Campanha de Kyushu. É fácil ficar confuso, então prestar atenção é uma obrigação. Não que eu ache que vai ser no exame.

— …Você realmente está bem informado.

Pela maneira como falou, ela parecia impressionada, mas sua expressão era claramente de desapontamento. Hum? O que estava planejando que eu fizesse?

Por mais que eu quisesse interrogá-la sobre isso, o tempo já tinha se esgotado.

— O-O que é essa confusão…?

A dona da voz trêmula era ninguém menos que minha professora de sala de aula, Kuriu.

— Oh, com licença. — Eu engoli em seco. — Boa noite.

— …O-Oh nossa… Kusaoka…?

A professora piscou furiosamente, parecendo totalmente perplexa. Beeeem, houve uma espécie de pausa antes de ela gritar meu nome, mas não era como se tivesse esquecido quem eu era, certo? Certo?

— O que está fazendo aqui a esta hora? — disse a professora Kuriu. Ela colocou as mãos nos quadris e fez beicinho.

— Não podemos deixá-lo andando por aí à noite. E você também está com uma garota. — Ela notou Chigusa se escondendo atrás de mim. — Eu não te contei na sala de aula sobre todos aqueles desaparecimentos? As meninas, em particular, têm desaparecido por aqui.

Pela primeira vez, a gentil, calma, agradável e despreocupada professora Kuriu da sala de aula parecia genuinamente ofendida. O principal agressor neste caso era Chigusa, que estava me usando como para-raios. Eu não tinha feito nada de errado; na verdade, fui a vítima aqui.

Era exatamente por isso que precisava assumir uma posição firme neste ponto. Eu corajosamente ignorei as repreensões da minha professora. Mwahaha! Quando as pessoas estão convencidas de que são vítimas que estão do lado da justiça, se tornam mais arrogantes do que o normal e atacam tudo com que entram em contato. Se, em vez disso, forem chamadas, elas ganham o direito de atrapalhar a conversa!

— Er, bem, chamá-las de desaparecidas é um exagero. — Eu pisquei. — Ohh, essa lenda urbana ou o que quer que seja tem alguma credibilidade?

— Você quer dizer a Encruzilhada Aleatória? Sim, esse boato está circulando. — A professora Kuriu suspirou tensamente e colocou a mão em sua bochecha. — Eu me pergunto quem está espalhando isso. É um incômodo terrível.

Agora, tudo o que faltava era continuar evitando o problema com ainda mais naturalidade e eu estaria limpo!

— Eles não estão basicamente fugindo de casa ou escapando à noite? Isso está sendo investigado adequadamente?

Essas coisas acontecem quando você é jovem. Eles irão para Tóquio para se tornarem famosos, economizarão dinheiro e esse tipo de coisa. Dito isso, comprar vacas é uma espécie de piada4Ele está citando a letra de Ora Tokyo sa Igu da (trad. “Eu vou para Tóquio”). A música é ambientada em torno de um jovem criador de vacas que vive no campo, que anseia por se mudar para Tóquio e se tornar famoso.… Oh, espere um minuto, já estamos em Tóquio, não é?

Eu me pergunto onde os jovens de Tóquio vão para se tornarem famosos…

Enquanto esses pensamentos passavam pela minha cabeça, um flash de medo passou pelos olhos da professora Kuriu.

— Pode ser isso, talvez… É o que a polícia parece pensar, embora as investigações em si não tenham chegado a lugar nenhum. Eles têm recebido informações regularmente, mas, bem, sabe…

— Parece um problema — falei como um escravo corporativo de rosto novo.

Agora, é hora de partir! Foi tudo o que consegui pensar enquanto me dirigia para as colinas, mas então a professora Kuriu de repente percebeu que eu estava lá.

— …Então, por que você veio para a escola a esta hora? — ela me perguntou acusadoramente.

— Ah, bem, sabe…

No final, eu não consegui enganar ela, hein…? Quando me vi perdendo todas as desculpas que poderia usar agora, Chigusa mostrou o rosto  atrás de mim.

— Por favor, espere. Haruma pode muito bem ser uma pessoa má com um rosto sombrio que leva uma garota jovem e indefesa para passear tarde da noite, mas acredito que não haja absolutamente nenhuma razão para condená-lo sem julgamento. Vamos primeiro ouvi-lo em um lugar quente antes de tomar essa atitude!

Isso mesmo! Se vou ser julgado mais cedo ou mais tarde, pode muito bem ser em um tribunal de justiça quente! Melhor ainda, pule direto para a negociação judicial! Não que fosse hora de fazer amizade com a Chigusa.

— Chigusa, cala a boca. Você não está ajudando.

— Por quê? Achei que era o plano perfeito ser chamado para dentro da escola sem machucar ninguém.

— Ok. Posso ver pelo que você acabou de dizer que não conto como pessoa. Tudo bem, deixe isso comigo. Está bem? Por favor, seja uma boa menina — eu sussurrei para Chigusa secretamente, levando-a a fazer beicinho mal-humorada.

— Se você diz — ela disse, recuando.

Que alívio. Eu não queria me ferrar mais.

A professora Kuriu estava observando nossa conversa com olhos atentos, mas como descobri, eu tinha um trunfo para usar contra a professora.

— A Amane, er, quero dizer, minha irmã me pediu para fazer algo por ela…

— A professora Kusaoka? — A professora Kuriu parou um pouco para pensar. — Entendo.

Ela deu um pequeno aceno em aceitação e apontou para o prédio da escola.

— Vamos entrar por enquanto, certo?

— Ah, sim. Com licença.

Chigusa e eu caminhamos em direção ao prédio da escola, seguindo o ritmo da professora.

À medida que avançávamos, Chigusa correu até mim como um cachorrinho domesticado.

— Meu plano foi um sucesso absoluto! Devemos continuar fazendo arranjos como este de agora em diante — ela sussurrou em meu ouvido com um sorriso amável. — Se você continuar assim, meus pontos vão se acumular e se multiplicar em um sopro! Você se tornará um homem rico que envergonhará o mercado de Enten, Haruma.

— Não tínhamos um plano ou acordo, e isso também soa como uma farsa5Enten (literalmente “iene divino”) foi a moeda virtual usada pelo empresário fraudulento Kazutsugi Nami, que conseguiu roubar 1,4 bilhão de dólares de seus cerca de 37.000 investidores.

O que essa garota estava dizendo…?

No entanto, de uma forma ou de outra, além de qualquer explicação, os pontos Joana pareciam continuar subindo para todo o sempre. Um homem. O critério de concessão não era ridículo? E pensando bem, eu nunca tinha ouvido falar como os pontos Joana deveriam ser usados. Estava com muito medo de perguntar.

Neste ponto, me perguntei se deveria começar a pensar em abrir meu Programa Harumileage de Passageiro Frequente. No entanto, todas as ações da Chigusa tiveram uma avaliação negativa, então não fui capaz de acumular milhas…

O que acumulei foi estresse e fadiga.

Yuu

Boas meninas brilham intensamente no canto da sala dos professores, mesmo durante as horas de sono.

A professora Kuriu pediu que nos sentássemos na sala de recepção no canto da sala. Depois de nos oferecer um chá, ela se sentou de frente para nós. Suas costas estavam contra a porta da sala de aconselhamento estudantil.

Kuriu nunca me ensinou diretamente, mas pelo que pude supor através de sua conversa com Kusaoka, ela era sua professora de sala de aula. Até mesmo uma pessoa como ele se submetia a alguém. É incrível o que a escola faz com uma pessoa.

— Entendo, então os portões da escola estavam abertos… Isso é compreensível, então. O último professor que saiu se esqueceu de fechar os portões?

A cadência calmante de sua voz, junto a seu perfume suave e flutuante, fez cócegas em meus tímpanos.

Seu cabelo, completo com uma ou duas franjas escondidas atrás das orelhas, parecia uma armadilha para moscas persuadindo jovens criaturas a brincar com fogo.

Sua blusa rosa claro estava aberta, enfatizando o formato de um busto amplo, bastante impróprio para membros do clero. Enquanto ela escorria com charme apelando para o sexo oposto, cada movimento leve e inconsciente dela fazia uma sombra cair sobre seu decote.

 

 

 

— Agora então, Kusaoka, sobre esta sua missão…

Seu suspiro ofegante, característico de uma mulher madura, espalhou-se pela mesa. De repente, caiu a ficha. Então ela era esse tipo de pessoa.

Eu entendi perfeitamente.

A professora Kuriu… certamente não era uma pessoa má!

Só de ouvir sobre ela, alguns membros do nosso sexo julgariam uma pessoa assim e a difamariam como calculista e provocante, mas não há nada tão improdutivo quanto o ciúme de uma mulher. Em vez de enriquecerem e gritarem indignadamente, as pessoas deveriam pelo menos trabalhar em si mesmas primeiro para não julgar os outros insensivelmente. Mesmo uma pessoa fraca como eu nunca disse uma única coisa ruim sobre os outros desde o dia em que nasci. Eu tentei o meu melhor para não chamar ninguém de porco.

— Acontece que minha irmã parece ter perdido o smartphone.

O porco… não, Kusaoka falou exatamente como tínhamos combinado.

Haruma

Resolvendo agir da forma mais natural possível, lentamente abri minha boca.

É hora de improvisar.

Chigusa sorveu o chá com indiferença, quase dizendo que estava deixando tudo comigo. Bem, como eu nunca a tinha visto se envolver em uma conversa direta, as coisas provavelmente seriam mais fáceis se eu falasse em momentos como este. Chigusa, com sua tendência para mal-entendidos e fazer perguntas ameaçadoras, estava para sempre fora de alcance, o tipo de pessoa com quem era completamente impossível dialogar. Er, não que eu diria que minhas habilidades de conversação também são meu forte, sabe?

Dito isso, eu normalmente fico por aí, mas não digo nada às pessoas, em vez disso, fico pensando nas minhas palavras. A maior parte era porcaria inútil que eu nunca usaria, mas levei tudo a sério de qualquer maneira.

Era por isso que, desde que eu tivesse tempo para memorizar as palavras, poderia repeti-las sem esforço. O problema era recitá-las suavemente. Eu parecia um idiota falando devagar e indiferente.

Para voltar para casa o mais rápido possível, tinha que apresentar resultados que deixassem a Chigusa feliz. No momento, o que eu precisava ter certeza era da localização da chave e de seu dono, bem como do usuário principal da sala de aconselhamento.

Eu lancei meu olhar na área atrás da professora Kuriu.

— Minha irmã disse que pode ter deixado na sala de aconselhamento estudantil, então posso entrar? Está trancada?

— O presidente do conselho estudantil está usando bem neste momento, então a porta está destrancada… Quer dar uma olhada? — A professora Kuriu largou sua xícara e apressadamente tentou se levantar.

— Oh, não, se alguém estiver usando agora, nós passaremos.

Se nós realmente entrássemos, eu terminaria na situação complicada de ter que manter a conversa enquanto fingia vasculhar a sala. Se você me perguntar, isso seria estúpido. Na verdade, seria conveniente se não pudéssemos entrar no momento. É hora de fazer essas perguntas candentes.

— Então você está encarregada da chave, professora? Pensei que seria o trabalho do vice-diretor ou algo assim.

— No papel, sim. Mas tenho permissão para usá-la depois da escola — disse a professora Kuriu como se estivesse me contando um pequeno segredo. Ela deu um sorriso na direção da Chigusa também. Era como se ela estivesse dizendo que poderíamos aparecer a qualquer hora.

Eu realmente não gosto quando as pessoas agem bem assim. Não sei se tem a ver com a influência da minha irmã, mas associo rudeza, preguiça e repressividade às mulheres em um nível fundamental, então não posso deixar de ficar desconfiado sempre que alguém fala e age de maneira gentil e jeito cortês. Minha natureza desconfiada foi provavelmente a razão pela qual eu não pude evitar, mas senti que algo estava errado com a professora Kuriu, por mais bonita que ela fosse.

Graças às minhas dúvidas, a frase depois da escola me trouxe um leve mal-estar.

— Mas ser responsável pela chave mesmo depois da escola soa como muita responsabilidade. Então, novamente, por que você, professora? — Eu perguntei.

A professora Kuriu colocou a mão em sua bochecha e abriu a boca pensativamente.

— Provavelmente é porque geralmente sou a última a sair do campus, assim como hoje. Eu também tenho que falar com os alunos regularmente…

— …Ok, então este é seu lugar privado à noite, professora. — Uma longa pausa. — Ah, isso é muito conveniente.

Minha boca disse uma coisa, mas eu não tinha ideia do que queria dizer com conveniente. Quer dizer, eu não tinha ideia do que deveria dizer ponto final.

As pessoas costumam usar frases meio idiotas quando estão presas em uma conversa, hein? “De fato” e “bastante” são palavras seguras e fáceis de lembrar. Depois de dominá-las, você sempre tem uma resposta, não importa que merda a outra pessoa diga!

Yuu

Kusaoka realizou a investigação rapidamente. Eu pude ver por quê. Se ele não trabalhasse diligentemente para acumular pontos mesmo em momentos menores, meus pontos Joana diminuiriam com o tempo.

A propósito, uma evidência de que a professora Kuriu não era uma pessoa má estava na maneira como movia os olhos e as mãos quando falava. Era como se ela não tivesse nenhuma hesitação para se aproximar do sexo oposto.

Se ela fosse um suposto produto de seu ambiente, estaria olhando Kusaoka, o homem nesta situação, o tempo todo fingindo não estar ciente dele.

— Os alunos muitas vezes não querem que outras pessoas saibam sobre seus problemas, então tento o meu melhor para manter a confidencialidade.

Kusaoka fez um ruído levemente interessado.

— Eles não querem que outras pessoas saibam, então é confidencial, pelo que vejo.

— Claro, se eles confiassem mais em mim, eu não teria que usar aquela sala em primeiro lugar…

Apesar de sua falta de interesse por ele como homem, ela estava sincera e educadamente se concentrando em suas respostas. Enquanto pensava em cada resposta diligentemente, voltava seu olhar diretamente para mim com um piscar lento e deliberado. Ela ajustava sua voz para que eu pudesse ouvi-la, apenas por minha causa.

Era como se eu fosse a única pessoa no mundo.

Nesse ponto, havia a possibilidade do Kusaoka não contar como humano. Uma grande possibilidade, na verdade. Oh céus. Que situação. A professora Kuriu estava destruindo minha suposição de que ela era uma boa pessoa.

Enquanto eu olhava gentilmente para Kusaoka, que inutilmente tinha sido contado entre os brutos deste mundo, a porta da sala de aconselhamento estudantil se abriu.

— Professora Kuriu, nosso trabalho está feito. — Uma voz suave soou.

Da sala emergiu um jovem excepcionalmente bonito que roubaria a atenção de qualquer pessoa.

Ele tinha sobrancelhas dignas e olhos calorosos e gentis. Tudo, desde a ponte de seu nariz até seus lábios finos, quase femininos, estava talhado em suas feições esculpidas como uma obra de arte. Seus membros eram longos e firmes, harmonizando-se com o resto do corpo em uma extensão superlativa. Eu mal podia acreditar que sei-lá-quem-Kusaoka era feito da mesma proteína. Até mesmo o mundo das proteínas está sujeito a variações.

— Oh céus, desculpe por interromper sua conversa.

Até a maneira como ele abaixou a cabeça foi refinada. Ele olhou para nós e—

— Obrigado, Chigusa. Você tem ajudado muito minha irmãzinha. Me pergunto, como a Misa tem estado?

Nunca tínhamos nos falado cara a cara e, no entanto, ele conhecia meu rosto e meu nome. Ele nunca perdeu um passo.

Não esperaria nada menos do atual presidente do conselho estudantil – Reiji Suzaku.

Um jovem popular, ele ingressou no conselho estudantil no primeiro ano e tornou-se presidente no segundo. Em seu terceiro ano, nenhum rival se levantou para desafiá-lo, então foi reeleito sem votação. Foi dito que ele recebeu chocolate suficiente no Dia dos Namorados de escolas e universidades fora da prefeitura para encher um caminhão.

De repente, fez sentido. Eu entendi perfeitamente.

Suzaku… era certamente uma pessoa má!

Qualquer pessoa com pelo menos um por cento de chance de se tornar minha alma gêmea deve ser essencialmente uma pessoa má! Ou isso ou ele deve ter uma deficiência social, como pé de atleta ou um fetiche por NTR!6NTR vem do japonês “Netorare” que é um termo para obras com foco em traição.

— Reijiii, quem é ela? — uma voz feminina lânguida gritou atrás dele.

A garota, que usava maquiagem no chamado estilo descolado Shibuya, ficou ao lado do Suzaku e olhou fixamente para mim como se estivesse me medindo. Será que ela era a deficiência do Suzaku? Ela parecia bastante com uma bagagem.

— Ela é a irmã mais velha de uma amiga da minha irmã, por assim dizer. Ainda tenho algumas formalidades a cumprir, então você poderia ir para os armários de sapatos antes de mim?

— …Ótimooo.

Com um olhar intimidante em minha direção, ela saiu da sala dos professores, bufando como um búfalo.

— Desculpa. Ela não é uma garota má, mas não é boa em se abrir para outras pessoas. — Suzaku sorriu ironicamente.

Agora que mencionou isso, meu Relatório Joana afirmava que muitas meninas clamavam para ser secretárias do conselho estudantil ou encarregadas de assuntos gerais ou algo parecido. Talvez houvesse algo nele que fizesse as meninas quererem se aproximar dele de qualquer jeito. Que pessoa incrivelmente desprezível. Tive de me apressar e preparar um documento anônimo para difamá-lo.

Haruma

Quando a companheira de Reiji Suzaku saiu para o corredor, ela deixou a porta da sala dos professores aberta para encarar a Chigusa, e de vez em quando ela soltava um ruído incompreensível que soava como “Reijiii, Reijiii”, como se fosse algum tipo de monstro de duas cabeças. Ohh, então é assim que soa um rosnado, pensei, embora de alguma forma parecesse que estava chateada por sair mais cedo. Achei que olhar malicioso e rosnado só fossem usados em Pokémon.

Ainda assim, apelar para ir embora era uma opção, não?

Eu era exatamente como essa garota… qualquer que fosse o nome dela. Bem, vamos chamá-la de Gyarumi. Eu deveria pegar uma folha do livro da Gyarumi e pressionar a Chigusa para ir embora. Tentei de tudo: caminhei pelos corredores, limpei a garganta, bati os pés e me esquivei.

Mas não havia como a Chigusa notar. Eu me perguntei se talvez eu devesse fazer barulho e ser como “Joanaaaaaa, Joanaaaaaa” em um tom subjugado e irritante… Como fiquei indeciso, ouvi uma voz ao meu lado.

— Ei.

Com o canto do olho, vi Gyarumi jogando em seu celular. Ela acabou de falar comigo, me pergunto? Mas se o “ei” for a abreviação de “Ei, não tenho sinal / bateria / dados móveis!” então vou fazer papel de idiota respondendo… pensei, adotando uma abordagem de esperar para ver, apenas para Gyarumi levantar os olhos de sua tela e fazer uma careta para mim.

— Hã? Você está me ignorando? Isso meio que me irrita.

— Desculpa. — Eu exalei.

Bem, então ela estava falando comigo afinal, hein? Eu tinha certeza que ela era um tipo de garota Ikuzo, mas, novamente, não há como saber. Quero dizer, uma garota normal do ensino médio não conhece Ikuzo7Yoshi Ikuzo cantou “I’ll Go to Tokyo” (1984). Seu nome artístico é um trocadilho com “Yoshi, ikuzo!”, Que se traduz na frase “Tudo bem, vamos lá!”.

Sem mencionar que a Gyarumi parecia não saber o que todo mundo sabia: olhe para a pessoa com quem você está falando.

Quando ela abriu a boca, Gyarumi empurrou seu queixo na direção da Chigusa.

— Ei você, você é próximo dela?

— Não, eu não diria que somos próximos. — respondi com total e absoluta sinceridade.

— Certoooooo. — Gyarumi bufou, não convencida. Em seguida, um sorriso desagradável surgiu em seu rosto. — Mas, sabe, seria tããão melhor se esquecesse dela.

Eu inclinei minha cabeça e perguntei por que apenas através dos meus olhos. Nesse ponto, Gyarumi lançou um discurso ansioso, suas narinas dilataram.

— Eu ouvi algumas coisas seriamente ruins sobre ela. Tipo, é uma vadia total.

Bem, sim.

— Ela apenas finge ser bonita.

Não poderia concordar mais.

— Ela é um pé no saco com dinheiro.

Isso também.

— Além disso, sabe, ela está secando o nosso Reiji, viu?

Bem, não.

Após esses últimos dias com Yuu Chigusa, eu tinha uma boa compreensão de seus muitos defeitos de caráter. Os rumores ruins que Gyarumi proferiu agora eram oitenta por cento verdadeiros. Espere um minuto, Gyarumi, esses rumores se transformaram em opiniões pessoais em algum lugar ao longo da frase, não é…?

No entanto, essa última parte sobre ela estar secando era algo que eu não conseguia aceitar. Com isso, quero dizer que Yuu Chigusa nunca secaria ninguém. Ela tinha uma opinião muito elevada de si mesma.

Por esse motivo, a ideia de que ela estava secando Suzaku ou o que quer que fosse, provavelmente era algum boato infundado que as outras garotas do fundo inventaram de ciúme e ressentimento. Esses outros rumores eram meio impossíveis de refutar, no entanto.

— Pensando bem, Suzaku é muito popular, hein?

Eu não tinha interesse no próprio Reiji Suzaku, mas a ideia de que alguém poderia ser popular o suficiente para inspirar brigas de garotas era impressionante em meu livro.

— Bem, sim. Qual a novidade? — Gyarumi riu enquanto projetava seu enorme peito com orgulho. Eu não tinha ideia do que ela tinha tanto orgulho. Reijiii era propriedade compartilhada por todas as meninas?

— Você está saindo com ele?

— …Na verdade. Temos tentado chamar a atenção dele, mas o Reiji é meio, sabe, estúpido? Bem, é assim que todas se sentem no momento.

Toda a atitude dela mudou em um piscar de olhos: seus ombros cederam e ela não encontrou meus olhos.

Suspirei. Agora entendi. A insistência dela em esperar antes de ir embora foi mais uma tentativa de chamar sua atenção. A julgar por como ela falava, parecia que havia outras garotas planejando sair com Reiji Suzaku. Infelizmente para Gyarumi, seus esforços não renderiam frutos… Mas esse peito dela certamente amadureceu…

Em qualquer caso, a ideia de que Reiji Suzaku era um sucesso com as mulheres era algo que eu podia entender. Ele era genuinamente bonito. Era alto e tinha um corpo magro. Apesar de sua boa aparência, não era frívolo e até mesmo a maneira como falava tinha um efeito calmante.

Eu fiz um barulho interessado.

— Que impressionante.

A aparência conta para tudo quando se trata de pessoas. Eu até julgo os meninos da minha classe pela aparência. Isso me dói! Mas não posso deixar de julgar! É como se um choque passasse por mim.

Quando eu estava olhando para o Suzaku Reiji, Gyarumi exclamou.

 — Hã? Não me diga que você é do tipo que tem ciúmes do Reiji ou algo assim? Muito engraçado! Mas assustador. O Suzaku é uma fênix, não tem como comparar, sabe? — Ela gargalhou enquanto apontava para o Suzaku e depois para mim.

Hoje em dia, há um discurso de que as gyaru são simpáticas com os otakus e os reclusos sociais, mas de forma alguma isso reflete a realidade. Quem acredita que essa tendência é real por causa dos mangás e romances deve abandonar os livros e sair.

Na minha opinião, o motivo da existência desse discurso é porque meus semelhantes perceberam que, no mundo real, tanto garotas puras quanto garotas misteriosas são, na verdade, vadias desagradáveis e transformaram a forma de vida relativamente desconhecida conhecida como gyaru em um novo arquétipo em conformidade.

Bem, isso significa que, no mundo real, garotas puras, garotas misteriosas, garotas geek — e, claro, gyaru — são todas vadias desagradáveis e frias para os reclusos sociais. Sem exceções.

— Ei, falando em paquera, o que você acha da professora Kuriu?

— Kuryuu? Oh, ela… Não que o Reiji fosse atrás dela… — disse Gyarumi, embora houvesse algo ressentido em seu tom. — Sempre que ela se envolve com a gente, fica muito febril. É irritante.

— Febril? — Eu fiz uma careta com sua escolha de palavras. Não combinava com minha imagem da professora Kuriu.

Se você me perguntar, a professora Kuriu era o tipo de pessoa que trazia à mente palavras como calma, gentil, descontraída e seios grandes. Mas febril…? Por favor me diga, Gyarumi! Perguntei a Gyarumi com meus olhos, mas ela só começou a brincar com seus cachos como se estivesse lutando para se expressar.

— Ela é, tipo, completa ou algo assim?

O vocabulário dela, tipo, é péssimo!

Mesmo assim, eu meio que entendi o que ela estava tentando dizer. Zelosa, superprotetora, intrometida… algo assim? Eu peguei a essência disso. Obrigado, Gyarumin.

Foi aí que minha conversa com Gyarumi chegou ao fim. Com um suspiro de descontentamento, ela começou a jogar no celular mais uma vez. Parecia que ela tinha se cansado de mim. Peço desculpas profundamente por não ter sido um bom desperdício de tempo.

Como resultado, agora eu também não tinha nada para fazer, então olhei para Chigusa à distância, canalizando “o menino que olha para a trombeta na vitrine”8“O menino que olha para a trombeta na vitrine” é um comercial japonês icônico que foi veiculado durante os anos 80. Você pode assistir ao anúncio aqui: https://youtu.be/U3NxJd4kQws?t=3m.

Yuu

— …Suzaku — gritei para as costas do presidente do conselho estudantil malvado assim que ele terminou de receber a aprovação da professora Kuriu para seus documentos e estava prestes a voltar para casa.

— Hm, o que é?

— Essa sala é usada com frequência?

— Quando os professores não estão usando… vamos ver. Eles emprestam a chave com bastante frequência. Isso porque muitas tarefas estranhas se acumulam para o festival da escola.

— Todo mundo usa ela?

— Às vezes as pessoas estão sozinhas lá, mas outras vezes não.

— É sempre decidido com antecedência quais membros o usam?

— Bem… às vezes a chave é emprestada para pessoas fora do conselho estudantil. Eu não sei sobre essas vezes. Tenho a intenção de escolher pessoas em quem confio. — As sobrancelhas bem formadas de Suzaku franziram em desconforto. — Mais importante, que tipo de negócio está fazendo você ficar atrás da escola?

Assim, ele evitou abertamente o assunto. “Mais importante” é claramente uma frase comum usada por pessoas com a consciência pesada!

— Isso é estranho vindo de você. — Havia um brilho nos olhos de Suzaku. Ahh, que olhar desagradável.

— Eu não aprecio tal fofoca infundada. Uma pessoa sensata não ajudaria a espalhar desconforto porque acha isso engraçado. Hoje em dia, é até mesmo um tópico para reuniões de equipe. Certo, professora Kuriu?

— Hã? — A conversa de repente mudou para a professora Kuriu. — O-Oh, sim… Não é muito bom espalhar boatos como esse… — ela respondeu, olhando para seus pés.

— …E aí está. Você deve estar ciente disso também, Chigusa. Agora então, estou fazendo-a esperar, vou indo agora. Por favor, me desculpe, professora Kuriu.

Suzaku interrompeu a conversa e saiu para o corredor. Hm? Posso estar apenas imaginando, mas ele mudou de assunto com bastante habilidade, não foi?

Eu estava prestes a chamá-lo para parar quando ele pareceu se antecipar a mim. Quando olhou por cima do ombro, me lançou um olhar penetrante.

— Tenho ouvido alguns rumores sobre você ultimamente, Chigusa. Eu não acredito neles, mas você deve tomar cuidado.

— Hã?

Antes que eu pudesse inclinar minha cabeça para confirmar o que ele estava dizendo, a porta se fechou.

Já que sou a garota perfeita que ultrapassa os limites do que os humanos podem alcançar, sou motivo de muitos boatos. Não há horas suficientes no dia para eu prestar atenção a cada um deles. Um cisne fecha os ouvidos ao coaxar de um sapo.

— …Haaaa…

A professora Kuriu, que estava prendendo a respiração, soltou um suspiro profundo na frente da mesa baixa.

— Sinto muito, professora Kuriu. Tenho usado muito do seu tempo. — Eu abaixei minha cabeça.

— Oh, não… — ela interrompeu. — Eu só fico um pouco nervosa na frente do Suzaku, embora como professora eu saiba que não deveria.

Ela baixou o olhar envergonhada. Me perguntei se a professora Kuriu tinha problemas para lidar com alunos do sexo masculino. Ou talvez ela estivesse olhando para Kusaoka, uma forma de vida que se parecia com aquele suave presidente do conselho estudantil, mas não parecia?

Era um julgamento difícil de fazer.

— Ei, Haruma. — Eu pausei. — Haruma? Onde está o Haruma?!

Antes que eu percebesse, Kusaoka havia desaparecido do assento ao meu lado. Foi um ato de desaparecimento que surpreenderia até o Sr. Malic, o mais talentoso dos mágicos. O fato de eu não poder nem mesmo sentir sua presença me fez pensar se isso estava além da mera magia. Louvado seja!

— Tudo bem então, professora, obrigada por seu tempo. Por favor, dê-me licença.

— Nossa, me pergunto se está tudo bem que ele não encontrou o que perdeu.

De qualquer forma, eu tive que seguir o Suzaku, presidente do conselho estudantil e a encarnação do mal. Depois de me despedir da professora Kuriu, saí para o corredor, onde encontrei ninguém além do Kusaoka, que havia se afastado usando magia. No final das contas, ele estava são e salvo.

— Meu Deus, que surpresa agradável! Você ainda está vivo!

— O que achou que aconteceu comigo?

Kusaoka também estava tremendo de alegria ao me reencontrar. Ele tinha os olhos de um menino olhando através de uma vitrine para algo pelo qual ansiava. Então ele estava sozinho por estar sem mim. Uma pessoa honesta merece um brometo de ouro. Neste momento, um empréstimo de trinta e cinco anos era um ótimo negócio!

— Em qualquer caso, devemos seguir o presidente do conselho estudantil antes que ele deixe a escola.

— Hã? Por quê?

— Tenho a sensação de que ele ainda está escondendo algo.

— E sua base para isso é…?

— Intuição feminina.

Kusaoka fez um som como uhuuum e encolheu os ombros. Embora eu tenha começado a andar, ele não me seguiu. Talvez um empréstimo de brometo de prata de vinte anos fosse mais adequado para ele?

— Não há necessidade de se desviar — disse ele. — Não é seu trabalho questionar os principais chefes sobre a verdadeira identidade do agiota?

— Estava falando com a chefe. — Apontei agitadamente para a porta da sala dos professores. — Espere um momento, por favor. Haruma, será que você suspeita da professora Kuriu?

— Bem, ela é uma das suspeitas.

— Não acho que a professora seja o agiota. — declarei com sentimento.

— Por quê?

— Qualquer pessoa que adora empréstimos bancários deve ter uma personalidade péssima.

Quem chega a ponto de emprestar dinheiro com alta taxa de juros a pessoas que mal conhece deve pensar apenas em dinheiro. O dinheiro é tudo para eles. Mesmo que um ou dois de seus clientes desaparecessem, eles reagiriam com raiva e desdém por todas as coisas, nunca demonstrando um pingo de preocupação. São os mais baixos dos mais baixos no que diz respeito aos seres humanos.

Mas a professora Kuriu não era assim. A agonia que ela sentiu com os sucessivos desaparecimentos de seus alunos foi transmitida a mim em alto e bom som.

— O comportamento dela não é uma atuação.

— Isso é persuasivo vindo de você.

—H m? O que você quer dizer?

— Você está apenas provando meu ponto. — Kusaoka encolheu os ombros com fingida ignorância.

— Deixe-me fazer uma pergunta em troca. Por que você suspeita dela?

— É uma questão de não deixar um suspeito fora de perigo apenas por causa da impressão que causa. Se o seu argumento não for válido, então não vou acreditar. Isso não é um dado adquirido quando se trata de relações humanas?

— Eu acredito nas minhas opiniões. Preciso de mais algum motivo para isso?

— Bem, sim. Sua opinião não é minha opinião.

Kusaoka teimosamente se recusou a concordar comigo. Ele normalmente era tão cooperativo, então por que estava assumindo uma postura tão contrária hoje? Havia uma razão fisiológica para isso? Ah, não seria mais provável que isso se aplicasse a mim?

Cortei meus pensamentos, preenchidos com tantas daquelas falas tão hilariantes que eram populares nas ruas, e depois inspirei e expirei lentamente. Nada de bom surge do conflito. Nasci em um país pacífico que tenta resolver os problemas simplesmente por meio do diálogo.

— Haruma, vamos fazer as pazes. Por favor. Assim como antes. Não é assim que éramos até agora?

— Eu sou o mesmo de sempre. Estou apenas falando o que penso agora. — Kusaoka suspirou e olhou direto nos meus olhos. — Eu quero ir embora. Estou mais desesperado para ir embora do que qualquer escravo corporativo no mundo. Desde o momento em que nos conhecemos, meus sentimentos não mudaram. Você pode ter tempo livre, mas eu não. Sério, eu não.

— Você não estava me seguindo feliz até agora? Não estava me emprestando sua força? O que fez você mudar de ideia tão de repente…?

— Espere, deixe-me corrigi-la. Não houve um momento em que fiquei feliz. E a sua ideia de “emprestar sua força” não é apenas fazer os outros fazerem o trabalho sujo para você?

— Bem, eu não posso negar isso.

— Você está basicamente concordando comigo…

Kusaoka baixou a cabeça calmamente. Eu entendo agora. Kusaoka pode não ter mudado muito. Até no telhado, no MOL Burger e durante a nossa investigação, ele sempre foi assim.

Se foi esse o caso, quem foi que mudou?

Claro, não havia como eu, a garota eternamente perfeita, mudar, então uma terceira pessoa invisível tinha que estar na foto. Oh céus, Kusaoka estava dizendo algo muito assustador.

…Então, qual era a dor no meu coração?

Sempre que eu ruminava nas palavras do Kusaoka, uma estranha pontada crescia em meu coração. Era um agravamento peculiar e incontrolável. No início, fiquei perplexa com essas emoções que nunca me permiti reconhecer antes, mas, aos poucos, fui ficando irritada com elas.

— …Haruma. Você está ciente da doutrina organizacional que o oficial alemão Hans von Seeckt teria defendido?

— Seeckt? Não era ele o cara que disse que quem é inteligente e preguiçoso é qualificado para as funções de liderança mais altas, o inteligente e diligente deve ir para o estado-maior, o estúpido e o preguiçoso são adequados para tarefas rotineiras, e o estúpido e diligente deve morrer?

— De fato. Eu sou a pessoa inteligente e preguiçosa. Portanto, estou no comando.

— Se você diz.

— Eu também sou a pessoa inteligente e diligente. Em outras palavras, também sou eu que escrevo os planos de batalha.

— Uhum.

— Isso deixa os outros dois papéis para você. Entende o que estou tentando dizer?

— Não, nenhuma pista.

Nosso argumento estava gradualmente atingindo o ponto de ebulição. Alternativamente, pode-se chamá-lo de um caso unilateral.

Quando se trata de relações humanas, os três F’s são uma necessidade:

Elogiar, espantar e seguir. Até agora, estive elogiando o Kusaoka mais do que o suficiente. Embora eu, como comandante e estado-maior, tenha recebido a honra de dirigir o caminho, por que ele não trabalhou de acordo com meus pensamentos?

Por fim, dei um passo raivoso para a frente.

— Por favor, não reclame dessas coisas triviais… sua escória!

Depois do elogio veio o espanto. Minha tática assustadora era uma forma direta de abuso verbal, pura e simples. Um lampejo de arrependimento passou pela minha mente quando pronunciei aquelas palavras que não deveria ter dito, mas não havia como voltar atrás, uma vez que estavam fora da minha boca. De fato. Kusaoka era uma escória que nunca poderia ser comparado a mim. Não é um fato da vida que as pessoas da classe baixa seguem seus superiores?

— Os peões são necessários apenas por sua mão de obra. Seus pensamentos não são necessários! Haruma, você é uma escória, então cale a boca e ouça o que eu digo!

Haruma

Essas foram algumas palavras terrivelmente rudes da normalmente tão educada Chigusa. Eu podia até sentir que ela estava lívida, o que me deixou perplexo.

Ser uma escória é uma questão de orgulho. Havia uma parte de mim que não conseguia aceitar que alguém me chamasse de escória em primeiro lugar.

É bom chamar uma parte de você de kuzu, a palavra para escória. Na verdade, eu sou muito legal por ser capaz de reconhecer meu próprio lado kuzu. O Kuzu Ryu Sen9O Kuzu Ryu Sen é um golpe de espada de Kenshin Rurouni, enquanto Hoshikuzu Loneliness (trad. ‘Poeira estelar solitária’) é uma frase da abertura de Touch. é um tipo muito legal de kuzu, e há o tipo romântico de kuzu como Hoshikuzu Loneliness.

— Não tenho ideia do que está dizendo.

Não entendi como ela riscou a professora Kuriu de sua lista de suspeitos, nem como ela teimosamente tratou Reiji Suzaku como o culpado, nem todo aquele negócio com o agiota que eu não conseguia nem começar a entender, nem sua insistência em tratar outros como peões, nem suas palavras e ações que desafiam o bom senso. Não havia nada que eu entendesse sobre a pessoa Yuu Chigusa, nem uma única coisa.

O que entendi foi o que pude ver na superfície: sua boa aparência. Isso foi tudo.

Chigusa pareceu assustada com minhas palavras. Ela piscou algumas vezes, e então seus ombros caíram.

— Ainda não entendeu depois de tudo que eu te disse? Sei como é isso. — Ela suspirou com nojo. — Em outras palavras, você quer que eu defina uma escória para você? Gostaria que eu fornecesse provas de que você é uma escória, Haruma?

O tom da Chigusa era venenoso, estremecendo com mais emoção do que o normal.

— Hm? Hmm, bem, se é isso que você quer fazer, fique à vontade.

Esse tipo de atmosfera espinhosa surgia com a Amane de tempos em tempos. Nessas ocasiões, eu tentava ouvi-la pelo mínimo de tempo necessário e fazia ruídos de simpatia. Honestamente, não havia necessidade real de entender o que estava acontecendo.

Tudo que eu precisava fazer era fingir que estava ouvindo. Quero dizer, não há como ver o coração de outra pessoa. Quando as pessoas mantêm suas emoções fechadas no peito, um pouco de liberdade com a verdade ajuda muito.

Também há outra maneira de ver isso. ‘Um pouco’ também significa algo pequeno, o que definitivamente se aplica ao peito da Chigusa!

Como tudo isso passava pela minha cabeça, Chigusa tossiu como se dissesse ahem.

— Por exemplo, não tem um único amigo em quem confia.

— Hmmm.

— Está sempre secretamente desprezando tudo no mundo!

— Totalmente.

— Você nunca entende o ponto de vista da outra pessoa. Só vê as coisas do seu jeito!

— Isso é péssimo, hein?

— Quando está dando uma resposta, você só diz o que quer dizer. É uma comunicação horrível!

Chigusa continuou indefinidamente com a definição de escória. Era como algo tirado de um romance. Nesse caso, sua última resposta seria algo como: “Quem pensa que você é uma escória é uma escória”, e ela não teria escolha a não ser se acalmar com essa conclusão.

Por fim, meu vocabulário de frases genéricas para apaziguar garotas choronas acabou, o que foi mais ou menos no mesmo momento em que Chigusa ficou sem combustível, parecia. Ela estava ofegando levemente.

— Por que você não entende?! A sinceridade da professora claramente não tem nada em comum com a imagem do agiota como uma unidade de eliminação de resíduos humanos. Se não consegue entender isso, Haruma, então você é um psicopata! O que mais pode chamar alguém assim, senão escória?!

— De fato, perfeito. É como você diz. — eu disse debilmente, sem coração.

Eheheheh. Fingi um sorriso fácil. Toda essa conversa de escória estava me esgotando. Na verdade, eu não tinha a pele muito grossa, sendo escória e tudo. Mesmo assim, tentei o meu melhor para resistir à tempestade tanto quanto fisicamente possível. Forçar um sorriso estava fazendo com que os músculos da minha bochecha doessem.

Minha paciência deve ter valido a pena, porque pude ver Chigusa se acalmando agora que havia acabado de dizer o que queria dizer. Ela soltou um suspiro baixo e silencioso e sorriu em minha direção.

— Parece que finalmente entendeu agora, Haruma. Espero construir uma parceria satisfatória com você no futuro. A coisa boa sobre uma escória é que há muito pouco dano quando é gasto, então você é valioso para mim, Haruma. De fato. — ela disse enquanto colocava a mão no meu ombro. Seu sorriso tinha uma nota de conquista e satisfação.

O que significava que, se eu fosse dizer isso, agora era a hora.

— Você é que é escória aqui.

Paulada. Duramente, mas com firmeza, afastei a mão que me tocou. Mesmo assim, minhas feições rígidas permaneceram bloqueadas em um sorriso inabalável.

Siga a porra do programa, sua vadia psicopata agiota.

O tênue equilíbrio entre minha paciência e a satisfação da Chigusa foi quebrado. Com uma corrida sem barreiras marcada para o home run, o jogo estava decidido.

—…

Com a boca aberta, Chigusa olhou para o meu rosto e depois para a sua mão, lenta e deliberadamente.

Bom. Nada que eu pudesse dizer entraria na sua cabeça dura de qualquer maneira. Não adiantava criticar alguém que se recusava a dialogar, assim como não adiantava apontar seus erros ou aconselhar. Dar a alguém um pedaço de sua mente não é mera reclamação; está atingindo-os onde dói. É mais eficaz assim.

Ganhar a confiança de alguém e depois destruí-la é a verdadeira face da escória desta terra. É para isso que eles vivem.

Vou te dar um lugar na primeira fila, Chigusa. Isso é o que significa ser uma escória

Yuu

— Você que é escória aqui.

…Aconteceu antes que eu pudesse piscar.

Um calor agudo percorreu minha palma como se tivesse sido pressionado com uma pinça. As costas da minha mão latejavam de dor, como se minha pele estivesse explodindo, fazendo-a inchar e latejar de agonia.

Percebi apenas tardiamente que minha mão havia sido submetida a um grau tão grande de força.

Tremi diante da violência masculina desde meu primeiro choro quando era uma criança recém-nascida, quando o médico me deu uma surra no traseiro. Naquela época, bem, havia razões para isso, pode-se dizer, então quietamente levei a surra, mas desta vez, fui alvo de uma violência terrível apenas por me aproximar de um homem. Foi uma forma de ação excessivamente rude. Essas circunstâncias justificaram um processo judicial.

Eu hesitei. Lágrimas saltaram espontaneamente aos meus olhos. Enquanto me abandonei a um estado de miséria que não conseguia levantar um dedo para parar, mesmo assim me preparei para olhar para Kusaoka, apenas para ser saudada por um sorriso rápido e descontraído.

Estupefata, olhei para trás e para frente entre minha palma dolorida e o rosto do jovem que causara o dano.

Dar a mão a outra pessoa não é nada para se desculpar. De qualquer perspectiva imaginável, essa pessoa era o mais baixo dos baixos.

— …Muito bem — eu disse em uma voz tensa. Decidi aplicar a punição mais severa que se possa imaginar. — Muito bem então. Eu perdi meus pontos Joana. Por favor, vá embora.

— U-Uau. Sério?

— Rápido!

— Cara… Se eu soubesse que isso aconteceria desde o início…

Kusaoka se afastou sem mostrar qualquer forma de resistência.

Embora suas costas estivessem pesadas com uma tristeza indefinível, eu entendi o que estava acontecendo.

Eu tinha recorrido aos meios terrivelmente rígidos de roubar o tempo que poderíamos estar juntos, mas era algo que eu tinha que fazer para fazê-lo refletir sobre suas ações. Ele havia feito de inimiga a fraca e tímida Chigusa.

Quando se tratava de relações humanas, os três F’s eram uma necessidade. Ele já havia me lisonjeado e me assustado. Tudo o que restou era seguir.

De fato. Tudo o que Kusaoka faria de agora em diante seria me seguir.

Depois que um casal se separa uma vez, eles se encontram novamente por causa do profundo remorso e do perdão afetuoso em uma cena comovente que faria toda a América chorar. Até Kusaoka, que não tinha habilidades de comunicação, experimentaria a solidão e a desolação depois de ser jogado fora tão sem cerimônia. Ele iria atolar de vergonha com a gravidade desse erro de sua própria ação. Quantos segundos ele demoraria para voltar correndo?

Me perguntei como deveria recebê-lo. Devo sorrir e gentilmente colocar a mão em seu ombro? Ou talvez eu deva simplesmente fazê-lo tocar a testa com os dedos dos pés? Posso até fazê-lo esperar na neve e na chuva, à la Penitência de Canossa. Este incidente seria inscrito nos livros oficiais como Ocupação de Chigusa, e se tornaria amplamente conhecido em todo o país como prova da existência de justiça.

De alguma forma, tudo foi muito emocionante para mim. Pode ser um clichê dizer que o tempo voa quando você está se divertindo, mas esse certamente era o meu caso.

Quando iniciei o aplicativo cronômetro no meu smartphone, um minuto se passou em um piscar de olhos, depois três minutos, depois cinco minutos e então – hm?

Por mais que esperei, Kusaoka não voltou. Mesmo quando apurei meus ouvidos, tudo que ouvi foi o som intermitente de helicópteros rugindo e os gritos solitários de pássaros noturnos no meio. Como uma tola, fiquei imóvel no corredor mal iluminado, sozinha.

Quando meu olhar voou em direção à janela, fiquei surpresa.

Os portões escuros como breu erguiam-se altos na escuridão da noite. Lá, na entrada lateral, estava uma pessoa.

Do alto da silhueta, era claramente o Kusaoka. Independentemente de saber se ele sabia que eu estava assistindo, ele estava acenando alegremente em minha direção enquanto saltava para a área residencial e desaparecia na noite. Se eu ligasse para ele agora por impulso, só receberia a secretária eletrônica. Ele estava brincando comigo? Ele deveria estar aqui, ao meu lado.

Eu podia ouvir meus dentes rangendo dentro da minha boca. Meus dois pés bateram no chão em frustração. E pensar que faria de mim uma idiota. Agora que tinha chegado a esse ponto, eu iria firme e resolutamente manter minha posição como Joana Super Saiyajin na gênese deste terrível e difícil conflito–

— …Meu Deus.

Eu soltei um suspiro. Soltei a vidraça da janela e me virei lentamente.

— Que ridículo…

Foi a coisa mais ridícula que já experimentei. Se era assim que ele seria, então tudo bem. Eu iria jogar o jogo dele. Não desejo mais compartilhar meus preciosos recursos com ele.

Agora que era inconcebível que eu estivesse sendo seguida, demorei-me para sair do prédio da escola. Lá fora, o vento noturno me envolveu. Não havia ninguém para me proteger do vento. Claro, eu não precisei de ninguém assim desde o começo.

Minha palma ainda latejava de dor. Fosse porque ele tinha me batido ou por algum outro motivo, pensar nisso era um incômodo, então me recusei a olhar para trás. Fechei minha palma como um punho. Para que a dor fosse embora. Para que eu pudesse ignorar a dor em meu coração.

Que pessoa desprezível.

Que pessoa verdadeiramente desprezível.

Pela primeira vez na vida, Yuu Chigusa insultou um ser humano.

 


 

Tradução: Ouroboros

Revisão: n2ny

 

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Cap. 05