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Princesinha na Floresta Feérica – Cap. 10 – Castelo

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O HUMOR do Lorde Siegfried estava ótimo. Um cantarolar — ato que raramente era realizado por pessoas de alto nível — ecoava dele em tons picados enquanto ele andava alegremente pelos corredores. Tochas queimavam por todo o castelo, iluminando o caminho dos servos que andavam para todos os lados como galinhas que perderam a cabeça. Os foles dos inspetores ribombavam conforme repreendiam os servos por qualquer problema que acontecia.

— Você! Isso não vai aí! Traga aqui, débil mental! Se apresse!

Franzindo a testa, Lorde Designs afagou a própria barba.

“Pelo amor de Deus, são todos uns inúteis. É quase como se não entendessem suas ordens ou o que deve ser carregado. Abandonariam o trabalho se pudessem fugir disso… Alguns até fingiram estar doentes.”

— Chega a ser triste, todos são preguiçosos. Tolos ignorantes que se aproveitam de minha benevolência.

Tolos ignorantes, um título perfeito para eles.

— Continue! Vamos! Mova-se! Se mexa! O quê? Sente que vai morrer? Então morra! Há milhões de substitutos de onde você veio!

O Lorde Ardiloso já tinha os trajes de casamento prontos há mais de um ano. O vestido foi feito com extravagância, fazendo-se uso de quantidades luxuosas de seda, pérolas, rendas e ouro. Agora mesmo, as empregadas estavam freneticamente o retocando para que servisse na Princesa Lala Lilia. Elas estavam trabalhando duro, não pararam para beber, comer ou dormir. Até porque este era o único propósito da existência delas.

— Hm? — Ele parou de repente e fungou o nariz. — Parece que algum tipo de carne foi queimado. Não me diga que foi a do banquete?

— Não, não foi, Papai.

Quando ela chegou ali? Será que sua cantoria o distraiu do som de sua saia farfalhando, ou seus passos foram muito leves? Ou foram abafados pelos foles? Tanto faz, Lady Megan estava agora em silêncio ao lado de seu pai.

— Este é o cheiro de crianças queimadas — informou sua filha com uma voz neutra.

— O… quê?

Lorde Ardiloso não compreendeu de imediato o que ela disse ou o que significava. Para ser mais preciso, não queria compreender. Ele congelou, seus olhos tremeram, piscaram duas vezes, então três.

— Megan, Megan, minha preciosa pérola. Você disse crianças? Ou será que entendi errado?

— Não, Papai, não entendeu errado. Este é o cheiro de crianças queimadas. — Sua voz fria não vacilou, nem tampouco suas palavras continham hesitação. — Tranquei-as no recinto e ateei fogo para me assegurar de que queimariam até a morte, sem que houvessem sobreviventes. Aquelas coisas já não são mais necessárias agora que conseguimos a Princesa. Perder tempo em se livrar delas na floresta é um desperdício… Não acha, Papai?

As mãos e pernas do Lorde Siegfried tremeram. Seus dentes batiam. Despreocupada, Lady Megan levantou ambas as mãos e mostrou a ele.

— Honestamente, aqueles soldados são parasitas inúteis. Cada um deles parecia um frangote, congelando quando viram as crianças. Por isso o fogo foi ateado com essas mãos. Sem querer, acabei queimando os soldados incompetentes também, mas acredito que não seja uma grande perda.

— Criança abominável! — Lorde Ardiloso gritou, suas bochechas contorcendo-se ficaram azuis. — Você é uma criança amaldiçoada, afinal. Aaaah, que pesadelo. Tudo porque fiz um acordo com o Diabo do Abismo!

— Não, Papai, não houve acordo.

As palavras cruéis da filha perfuraram o peito do pai, abrindo-o, entrando e esmagando seu coração com os dedos.

— Não houve… Um acordo? — perguntou com uma voz morta.

— Isso mesmo, Papai. Eu nasci sem uma alma. Essa é a verdadeira eu. — Lady Megan observava diretamente nos olhos do pai e graciosamente levantou sua mão direita. Ergueu o dedo indicador e apontou para ele. — Alegre-se, pois conseguiu tudo que sempre quis com seu próprio poder. Da mãe que nasci, até Sua Majestade, o Rei, e a Rainha, e a…

Seus lábios se contorceram levemente.

“Adorável Megan, você é o maior tesouro neste mundo.”

Aquelas foram as palavras de uma única pessoa em todo o mundo que aceitou Lady Megan como ela era. Descobrir a verdade sobre sua enteada fez com que a envolvesse ainda mais em puro amor. Sua madrasta foi a única que a abraçou com seus braços quentes e a beijou com amor na bochecha.

— E a madrasta que me deu o status de nobre, você matou a todos com suas próprias mãos!

— Ooh! Oooohhh! PARE! PARE COM ISSO!

Lorde Ardiloso sempre fechou os olhos para a verdade. Desviava o olhar de seus feitos, das pilhas de corpos deixadas à sua porta. Nunca sentiu um pingo de culpa por matar centenas de milhares de cidadãos ignorantes e inferiores.

Ele considerava isso como algo necessário, dizendo a si mesmo: “Há um limite para o quão ridículas as pessoas podem ser, não se pode fazer um grande alvoroço sobre cada assassinato.”

Mas as pessoas mudavam de tom quando se tratava de nobres e realeza. Ele também havia desculpas preparadas para esses assassinatos.

“Isso está acontecendo porque supliquei ao Diabo. Colocarei minhas mãos no reinado, em troca da venda da alma de minha filha. Entenda. Tudo isso é o trabalho do Diabo pelo preço da alma de minha filha.

Essa era a justificativa que vinha dizendo até agora. Porém, a parede que protegia seu coração de suas próprias crueldades foi esmagada impiedosamente. Tudo era apenas uma ilusão. O que dizia a si mesmo era uma justificativa válida que não existira desde o começo. E foi ninguém menos que sua própria filha que lhe abriu os olhos.

— NÃO DIGA ISSO! Não diga isso! Não quero ouvir mais! — Ele cobriu suas orelhas e fugiu.

Mas uma voz fria seguia logo atrás, dizendo:

— Você não tem mais para onde fugir. Vá, case-se com a Princesa Lala Lilia, assim como sempre quis.

Ele fugiu. Continuou correndo, sem saber para onde olhar, puxando as orelhas enquanto gritava pelos corredores. Rapidamente, virou em um cruzamento e desapareceu.

Observando-o partir, Lady Megan baixou sua mão e murmurou:

— E, por favor, morra logo depois.

Longos cabelos dourados, sem um único fio solto, desciam pelas suas costas. Lady Megan olhou calmamente para cima, observando a sala do trono espalhando a luz deslumbrante que vinham das lâmpadas.

— Só então poderei tomar meu lugar no trono como a Rainha Abençoada.

Ela havia decidido tudo há sete anos. Desde o dia em que seu pai matou a única pessoa no mundo que a amava. Ela ainda tinha a opção de imitar a mãe que a criou e viver uma vida pacífica como uma Princesa amável. Entretanto…

“Não há motivos para ser uma boa garota agora que minha madrasta se foi. Vou viver da forma que eu quiser, perseguindo meus desejos.”

Agora, apenas dois caminhos estavam diante da Princesa sem alma: tornar-se uma Bruxa Má ou uma Rainha Má.

— Neste caso, escolho ser a Rainha.

Dedos brancos esfregaram o crânio de safira em sua mão direita, o qual, momentos atrás, começou o incêndio que consumiu a vida de centenas de garotas.

— Eliminarei qualquer um que entrar no meu caminho. Sim, qualquer um.

 

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— TUDO bem. — O Cavaleiro levantou-se lentamente ao lado do fogo ao ar livre.

A Bruxa me chamou indolentemente de seu poleiro em um galho de árvore:

— Não seria melhor descansar um pouco mais? — Ela já havia voltado à sua forma de criança.

— Não, já descansei o bastante.

Ele bebeu de seu odre e jogou as amoras, que colhera na floresta, em sua boca, o que ajudou a passar um pouco da sonolência. Embora não estivesse ciente, foi uma curiosa coincidência a Princesa ter acordado de seu descanso no exato momento no castelo. Hábitos vindos da convivência não sumiam tão rápido.

— Entããããooo, velhote, desculpe jogar água fria em seu entusiasmo fervente, mas você não disse que entraria no castelo por uma passagem secreta?

— Sim.

— Não é a mesma que você usou quando fugiu com a Princesa no ano passado? Eles não estarão lá de guarda, só esperando por você?

O Cavaleiro a ouvia em silêncio enquanto cortava a barra do manto que colocou para secar antes de dormir. Envolveu as tiras ao redor de um galho grosso e passou uma resina. A Bruxa deu de ombros, levantou a palma de sua mão, dobrou punho e assoprou. Fios dispararam da ponta de seus dedos e remendaram o manto rasgado.

— Tenho tudo sob controle — respondeu ele. — Há mais de uma passagem secreta… Hm? — De leve, um bordado de fios prateados decorava a bainha de seu manto preto. — Obrigado.

— Ele estava tão esfarrapado e feio que eu não aguentava mais olhar. Você devia cuidar um pouco mais de sua aparência, velhote.

— Obrigado pelo aviso, jovenzinha. — Ele mergulhou o pano enrolado em óleo, finalizando sua tocha improvisada. Então, prendeu-a nas costas do Botão-de-Ouro e montou, mantendo com habilidade seu equilíbrio sem uma sela para apoiar seus joelhos contra o flanco muscular do cavalo.

— Haha. Parece que todo aquele alarde não era apenas conto de fadas, afinal.

O Cavaleiro deu de ombros, informalmente curvando-se ao remover o chapéu e levando-o até o peito. Então, virou-se para o dragão e disse:

— Fique esperando, parceiro. Derrubarei aquela maldita barreira o quanto antes!

— Torço pelo seu sucesso, amigo.

O Cavaleiro acenou e esporou o Botão-de-Ouro, fazendo-o galopar. Cascos poderosos agitaram o chão. Com cada chute, a sombra em movimento do cavalo e seu cavaleiro misturava-se ao cair da noite.

— Ele realmente é alguém fácil de entender. — A Bruxa suspirou alto, mexendo os ombros para livrar-se da rigidez. — A maneira como você agradece sinceramente a alguém e por cortesia deviam ser totalmente diferentes…

 

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SUSPENSA no céu índigo noturno estava a luz quase cheia. Era mais branca do que queijo de alta qualidade, estando um pouco maior do que uma lua crescente. Com cada batida dos cascos no chão, com cada galope do Botão-de-Ouro, o brilho aumentava e iluminava nosso caminho. Mas nós nos dirigíamos à escuridão intocada pela luz da lua.

A grama farfalhava ao vento. Água escorria em um riacho nas proximidades. Insetos chilreantes e corvos mostravam estar presentes. Crocitando com infelicidade, os corvos voaram em bando dos galhos próximos, observando minha passagem pelo território deles.

— Me perdoem pela intromissão. Não demorarei.

Aqui havia um monastério negligenciado que foi deixado para apodrecer. Nem um único traço de sua antiga glória podia ser visto agora. O teto desabou, as janelas foram destruídas e as pedras da parede desmoronada agora pareciam lápides. Na verdade, também havia túmulos ali. Os nomes gravados nas lápides há muito ficaram cobertos e uma camada espessa de musgo cobria todas. Neste estado, era impossível saber a quem pertenciam.

Quem está enterrado aqui? Quando se trata disso, faz muita diferença mesmo sobre estar ou não em um cemitério depois que bastante tempo passa?

— Cheguei, dragão. — Observei os arredores lentamente… Para lhe mostrar a área. — Você pode abrir a entrada a partir daqui.

Entendido. Devo dizer, isso não é o que eu esperava, a área é consideravelmente… É…

— Assustadora?

Sim. Não é um lugar muito agradável… Hm? Impressão minha ou você está rindo de mim?

Agora ele também conseguia perceber isso? Sendo sincero, eu não conseguia segurar a risada que surgia dentro de mim.

— Não, só estava pensando que “o que é assustador ainda é assustador”, mesmo que você tenha vivido mais de cem anos.

Sou sensível, diferente de você. Em minhas viagens, vi coisas e mistérios que você não acreditaria. Alguns eram perigosos e outros, deslumbrantes. O lugar de descanso dos mortos deve sempre ser tratado com respeito.

— Sim, sim.

Pilares quebrados. Várias estátuas de pedras continuavam cobertas pelas paredes colapsadas. Se forçar a imaginação, é possível vê-las como os santos do passado que as inspiraram. Penitência é inevitável para um santo, mas a pessoa esculpida nesta estátua parece mais alguém depois que ele tirou do sofrimento no inferno. Agonia estava presente em seu rosto, suas mãos seguravam o nada. Era como se eu devesse estar ouvindo gritos angustiados vindos de sua boca aberta a qualquer momento.

Ah, compreendo agora.

— O quê?

Finalmente entendi de onde vem o mal-estar que erradia deste lugar.

— Hm?

As estátuas de pedra aqui foram curiosamente esculpidas sem balanço. Como resultado, geram um desconforto ao serem observadas, sem que o observador perceba.

— Aham! — ri, mostrando meus dentes. Ele não pode ver, mas o efeito deve ser igual para ambos. — Este lugar foi feito para ser assim.

Bati meu punho contra o focinho da gárgula de pedra.

— As mais velhas são uma pretensão. Todas as estranhas foram adicionadas depois.

Por que isso?

— Para assustar as pessoas, dragão. Humanos são covardes. Desde muito tempo — bem, nem tanto assim, acho que cerca de cinquenta anos —, rumores diziam que fantasmas assombravam este monastério.

Foram adicionados depois também, né?

— Pode ter certeza.

Estou começando a entender cada vez menos as ações humanas.

— O objetivo era fazer as pessoas esquecerem o real objetivo deste lugar…. As histórias de terror acabaram virando uma forma de entretenimento. Mesmo que alguém ignore a história complicada, vão gostar de ouvir uma interessante sobre fantasmas.

Entendo. O que você diz faz sentido.

— Além disso, a noite é escura… Muito mais escura para humanos.

Luzes verdes-azulada sobre a grama voavam ao redor das lápides. Vaga-lumes. Estar próximo ao rio e ter poucas pessoas por perto torna aqui o ninho perfeito para eles.

— Vaga-lumes parecem fogo-fátuo e assustam as pessoas. O crocitar alto dos corvos soava como os gritos dos mortos. Sem demora, sua mente começa a ver as estátuas andando por aí… É por isso que os cidadãos raramente vêm aqui agora. Viajantes evitam esta terra.

Entendo. Então eles se parecem com vaga-lumes para você, é?

— Oi? O que você acabou de dizer?

Luzes verde-azuladas flutuaram próximas ao meu rosto. Elas pareciam muito maiores e brilhantes do que as que vi antes. Calafrios percorreram minha espinha.

“São mesmo apenas vaga-lumes?”

Pff.

Pude sentir uma leve risada.

— Droga… É bom que esteja preparado para o troco mais tarde!

Irritado, estalei os ombros. Eu retraí o lábio inferior que se sobressaiu inconscientemente e o mordi.

 

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UM castelo negro erguia-se além do rio fluindo. Onde os três rios se encontravam, uma fortaleza aquática flutuava sobre o centro do estuário. Quando a ponte levadiça é erguida, nenhum barco entra sem a ajuda de asas. É o que parece daqui, pelo menos.

— Sem dúvidas, é uma teia de aranha. — Consegui ver depois de chegar bem perto. Uma barreira prateada, cintilando e brilhando, cercava o castelo. — Grr.

Forcei a testa e apertei os olhos. Concentrando toda minha energia neles, tentei focar no castelo.

O que te incomoda?

— Hmm, como posso dizer? É uma sensação estranha. O castelo está flutuando.

Flutuando?

A pele ao redor de meu olho começou a formigar e sentir câimbras. Secura tomou conta de meus glóbulos oculares e eu não conseguia parar de piscar. Estranho. Não importava como forçasse a visão, ainda não conseguia ver.

— Posso ter dito que estava flutuando, mas não significa que está pairando no ar.

Entendi.

— Não era assim na última vez que o vi. Ele era misturado à paisagem ao redor. Fazia muito mais parte da paisagem do que os rios, pedras e árvores. Agora parece…

Lambi meus lábios secos. Fechando meus olhos, procurei as palavras certas e tentei usá-las para representarem meus pensamentos vagos.

— Parece um enorme mamute monstruoso agachado. Uma coisa viva que não devia estar lá, aquilo não deveria existir…

Foram humanos que fizeram isso?

São humanos que vivem ali?

— Talvez seja devido à barreira. Ou devido a uma imagem do castelo vista de outro ângulo?

Acabei de tentar comparar o que você vê com suas memórias. Tem razão. Um embelezamento foi adicionado, principalmente no teto e no parapeito.

— Ah. — As renovações do castelo foram onde todas as taxas monetárias arrancadas do povo acabaram. — Faz sentido para mim.

— O novo proprietário de um ninho sempre desejar eliminar o cheiro persistente do antigo dono.

Espero que isso não se aplique ao interior.

Nas profundezas do monastério em ruínas, fui até o mausoléu caído. Embora a porta estivesse selada, foi fácil subir sobre os destroços da parede.

— Tudo bem, Botão-de-Ouro, espere aqui por enquanto.

Acariciei o focinho do meu cavalo favorito e soltei as rédeas.

— Boa sorte, há muita grama aqui para você pastar. Pode ficar tranquilo enquanto me espera. — O cavalo de guerra âmbar relinchou e encostou o focinho em mim. — Estou indo agora… Vamos lá!

O luar brilhava sobre o mausoléu, formando sombras nítidas. Havia uma clara separação entre os locais com luz e os sem. Seguindo a parede, contei sistematicamente os sarcófagos alinhados. “Um, dois, três…” Cinco de seis pertenciam às sucessivas gerações de abades. Mas o último era…

— Esse aqui.

A princípio, era para ser aberto pelo outro lado. Precisaria ser quebrado para abri-lo deste lado. Uma estátua de um abade dormindo pacificamente estava esculpida na tampa de pedra dos outros cinco, mas, na realidade, o escultor fez o guardião secreto à sua própria aparência.

Quer dizer que esta pessoa não está descansando pela eternidade aqui?

— Não. Dizem que ele estava tão vivo quanto uma dívida, pelo menos na época em que terminou esta obra.

Ele tem a boa estética do sorriso louco.

— Pois é…, tem mesmo. — Coloquei minha mão sobre a tampa do sarcófago. — Sinto que poderia… Ter me dado bem com esse cara durante uma bebida… Hmph! — Usei todo o meu corpo para empurrar a tampa.

RASPA! RASPA! RASPA! ARRASTA! ARRASTA! ARRASTA!

— Vai!

Colocando força em minha parte inferior, dei o empurrão final.

RASPA!

A pesada tampa de pedra virou-se na horizontal usando um dos quatro cantos como apoio. Era certo que não cairia, muito menos quebraria.

Levantei minha garra em honra aos talentos do designer. Entretanto, isso é…

Uma escuridão sem fim repousava dentro do sarcófago. Um ar úmido e de mau cheiro vinha de dentro do buraco, atingindo direto no rosto. Tinha gosto e cheiro de túmulo.

— Uma escadaria — respondi.

Bati duas pederneiras. Sons agudos reverberaram dentro do mausoléu. Faíscas voaram e atingiram a tocha improvisada, acendendo-a. Ela acabou sendo útil, assim como deveria ser. Levantando-a para iluminar, desci as escadas que pareciam um caminho sem fim ao centro do mundo.

Passo a passo, desci com todo o cuidado possível. Quase não haviam traços indicando que ela havia sido usada no passado. Um musgo sem vida grudava na sola de minhas botas, mas quanto mais eu descia, menos ele aparecia.

Nem sequer musgo cresceria onde a escada terminava.

Uma passagem de pedras se estendia diante de mim. Com a tocha erguida, entrei ainda mais fundo no abismo. Graças à visão compartilhada com o dragão, tudo estava bem claro. Mas até mesmo ele não conseguia ver onde não havia luz. E nossa conexão seria cortada assim que eu entrasse na barreira. Será muito tarde para entrar em pânico quando isso acontecesse. Nada além de uma escuridão insondável permeava a parte inferior do castelo.

Estou tendo um pouco de dificuldades para compreender. Por que você está indo pelo subsolo? O castelo não está cercado em todos os lados por água? As pontes levadiças e os barcos não são a única forma de entrada?

Pessoas inteligentes acabam ficando intrigadas com o que veem em momentos como esse por causa do conhecimento incompleto que possuem. Ainda mais quando são um lagarto inteligente com asas.

— Esse castelo existe porque humanos escavaram o solo. Depois de uma grande escavação, drenaram a água e criaram uma parede artificial para mantê-la do lado de fora. Parece uma ilha flutuando em um estuário, mas era uma península no passado.

Oh!

— Você entende rápido, parceiro. Este lado é mil vezes mais raso do que parece a olho nu.

Essa é uma grande nova surpresa.

— Como você ainda não sabia disso?

Silêncio.

Não era uma cena de suas memórias.

— Bem, sim. Não é como se eu estivesse por aqui para vê-los construindo. É só um pouco do que sei.

Água pingava do teto arqueado. A altura dos pilares aumentou muito em comparação a onde eu estava antes.

— Estou logo abaixo do rio agora. — A água que estava aos meus pés antes agora fluía sobre minha cabeça.

Uma incrível habilidade estrutural deve ter sido colocada no projeto deste maravilhoso engenho humano.

— Pois é, fico imaginando como escavaram isso… Apenas pensar nisso já me deixa tonto.

É mais surpreendente ainda ouvir isso de um homem que facilmente construiu uma pocilga e um banquinho para ordenhar sem ter muitas ferramentas.

— Eu tive sua ajuda. Além disso…

Além disso?

Água pingou mais uma vez. Muitas gotículas também escorriam das paredes de pedras. A umidade do túnel o tornava frio, como se estivesse debaixo de uma garoa ou na névoa de uma tempestade de montanha soprando na costa. Valetas foram cavadas em ambos os lados do piso para escoar a água, direcionando-a para longe do túnel atual.

— Sou um Cavaleiro, não um pedreiro.

Senti sua fraca risada. O que era tão engraçado? Eu ainda precisava descobrir o que era tão engraçado para fazê-lo rir.

 

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OH?

— Algo errado?

Minha respiração está saindo branca, assim como a sua.

Havia uma razão para estarmos conversando casualmente enquanto eu caminhava: para ter certeza de quão perto eu estava da barreira.

Quanto tempo já fazia desde que comecei a andar por este túnel sob a água? A voz do dragão estava começando a ficar mais fraca.

— Sua voz está ficando mais baixa.

Sim. Parece que a barreira já está afetando nossa ligação.

— Isso mostra que estou muito mais perto do castelo. Logo poderei parar de tremer de preocupação sobre quando o teto cairá sobre mim…

Gideo… Tenh… Cuida…

— Escamas Bravias? — A voz do dragão cessou logo após eu passar pelo enésimo pilar que vi hoje. — Nossa ligação foi cortada?

Minha visibilidade também ficou mais escura. Eu havia esquecido que o raio de iluminação da tocha era limitado. A visão humana sempre foi tão escura assim?

Olhei sobre meu ombro e para o pilar que eu havia acabado de passar.

O que eu faço? Volto?

Não…

— Credo, ele se preocupa tanto.

Previ que isso aconteceria, só não imaginava que seria tão cedo. Agora é a hora de continuar em frente. A Princesa está esperando.

Meus pensamentos continuaram voltando ao dragão. É uma daquelas coisas que perduram depois que você perde algo que o acompanhou por tanto tempo. As coisas apenas voltaram a ser como antes, mas eu me sentia estranhamente perdido… Ou, para ser mais preciso…

— Me sinto só. — Eu podia admitir isso porque sabia que ele não estava ouvindo. Não poderia deixar meu parceiro, que tanto se preocupa, ouvir minhas queixas.

 

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— RAH…

O dragão abriu os olhos.

— Nossa conexão através da escama foi cortada. Parece que ele entrou na barreira.

— Entendo. Bom para ele — respondeu a Bruxa.

Seu tom inconstante e vago era muito semelhante a um salgueiro dobrando-se ao vento. Seus olhos cor de âmbar, voltados para o céu, olhavam em direção a um tempo distante. Buscando por um lugar que não estava ali. A Bruxa estreitou um dos olhos, distorcendo os cantos internos, enquanto respondia mecanicamente, mostrando pouco interesse pela conversa. As pupilas do dragão se contraíram na vertical.

— Por que você está conosco?

Levantando uma sobrancelha prateada, ela olhou para o dragão.

— Não me ouviu antes?

— Você não nos disse tudo, disse?

— Não seja bobo. Você devia aceitar de bom grado os favores dos outros, Escamas Bravias.

— Também envelheci. O tempo cobriu minha ingenuidade passada e fez com que eu ficasse um pouco mais desconfiado nos dias de hoje.

A distorção ao redor dos olhos dela espalhou-se para o resto do rosto, misturando-se à sua expressão.

— Vou testá-lo. Ele realmente planeja resgatar a Princesa?

Seu sorriso não mostrava medo ou dor. Ela mostrou dentes brancos e agarrou o peito, apertando o pingente dourado, uma vez decorado com a escama do dragão.

— Meu Cavaleiro não me protegeu. Pelo contrário, me ofereceu de bandeja para o inimigo em troca da própria segurança. — O dragão abaixou a cabeça e soltou um longo suspiro enquanto ela continuava: — Isso é um teste. Há três itens de magia negra formando a barreira. O terceiro está no coração do castelo, no meio da sala do trono!

Suas pálpebras se abriram bem e seus olhos mudaram de cor. Tinta preta cobriu o branco de seus olhos, pupilas e íris. Pérolas vermelhas queimavam no centro.

A Bruxa zombava enquanto derramava lágrimas mais escuras do que o preto, quase como se a escuridão que coloria seus olhos estivesse transbordando. Ela gargalhou com uma voz estridente e louca, balançando todo o corpo.

— Me pergunto se ele será capaz de descobrir até o final… — gritou ela rindo. — Será ele do tipo que desiste de tudo por uma chance de vitória? Será ele capaz de ter êxito onde meu Cavaleiro falhou de forma feia?

O dragão abriu as asas, bloqueando o luar pungente que iluminava as lágrimas que cobriam seu rosto.

— Você subestimou o tipo de homem que ele é e sua dedicação para com a Princesa. Não importa o que aconteça. — O corpo do dragão começou a brilhar de vermelho, iluminando a floresta sombria. — Tudo é pela Princesa!

À medida que a luz desaparecia, a risada da Bruxa sumia, e um traço de esperança surgiu nas bordas de sua alma fria.

 


Tradução: Taiyo

Revisão: Taipan

 

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