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Princesinha na Floresta Feérica – Cap. 07 – Das Sombras

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NÃO posso acreditar.

— Rob…

É o Capitão Robert. Meu melhor amigo, aquele que desisti de ver novamente.

“Ficarei para trás. Continue com a Princesa, Gideon Aguilhão.”

Eu não o esqueci sequer por um momento desde o dia em que nos separamos naquela terra desolada.

— Você sobreviveu?

Rob não me responde.

— Sinto muito. A Princesa foi sequestrada. Vou resgatá-la… — Ele nem mesmo deixa eu terminar meu pedido de desculpas vazio. Ao invés de qualquer outra coisa, responde com um balanço de espada implacável. — Rob?

Devo ter subconscientemente escutado ele puxar sua espada, já que instintivamente balancei a minha para parar seu golpe. Vibrações correm do cabo para as minhas mãos, meus braços e ombros, sacudindo meu corpo.

Nós nos encaramos por trás de nossas lâminas cruzadas. Nem mesmo um músculo ou sobrancelha do rosto de Rob estava tenso. Estou vendo olhos sem emoções, vazios como globos de vidro.

— Por que você está fazendo isso?!

A Bruxa se disfarçou? Ou isso é algum tipo de ilusão doentia? Não, isso com certeza é o manejo de espada de Robert. Ele é um adversário com quem já cruzei espadas muitas vezes durante treinos. Então eu sei.

Sua lâmina raspa contra a minha… Em minha direção. Ele acabará me dominando neste ritmo. Me lanço e salto para trás em uma tentativa de o desequilibrar, mas não há nada hábil ou ágil em meus movimentos. Minha reação é lenta e ele facilmente supera a repentina falta de resistência apresentada por minha espada. Estou com problemas — as queimaduras estão tomando conta de mim. Não posso nem mesmo colocar alguma distância entre nós!

Uma série de socos rápidos acaba me levando a um canto. Rapidamente desvio para a direita e esquerda. Cada golpe é inacreditavelmente pesado e um único movimento errado prejudicará meu corpo já enfraquecido. Uma mudança repentina de táticas consegue lançar minha espada para longe; o próximo golpe acertará meu corpo. Tento contra-atacar, mas preciso de tudo que tenho para corresponder a esses movimentos. Ao contrário de mim, Rob está lutando diferente de qualquer ocasião anterior — não consigo tirar seu equilíbrio. Estou preso em recuada, não consigo nenhuma iniciativa.

Nossas espadas colidem em um ritmo que quase não consigo igualar. Mas mesmo assim, não ouço nada. Apenas os suspiros de minha própria respiração que saem desde minha garganta e parecem arranhar meus ouvidos.

— Guh! Ngh!

Isso não é justo. Meu oponente sequer está com falta de ar.

Meu tornozelo colide contra a parede. Estou encurralado. Minhas costas estão contra a parede e não tenho mais para onde correr. Isso gera um prejuízo mental, dando uma oportunidade boa para o inimigo. O pânico faz com que você esqueça sobre como se movimentar direito, nubla seus olhos e engana seus ouvidos.

Ele virá pelo lado esquerdo…

— O qu…

Ele me pegou. Perdi o timing. A espada cruzada com a minha se afasta e é brandida no alto. De repente, sem o peso daquela espada longa, minha lâmina paira hesitantemente fora de posição. De onde virá o próximo golpe? De cima? Pelo lado?

Em uma fração de segundo, eu ouço — o som da ponta de uma espada deslizando sobre hera seca. Abaixei-me no calor do momento.

Assim como eu faço, a espada de Rob faz barulho enquanto corta o ar, errando o alvo. Foi direto para onde minha cabeça estava antes. Era um golpe destinado a me decapitar de uma só vez. Ele está dando tudo de si para me matar. Vou morrer se não o enfrentar usando toda habilidade, poder e técnica que possuo.

Flores despedaçadas estão flutuando pelo ar. Bolotas despedaçadas caem no chão fazendo ruídos secos. Fui salvo por uma coroa de flores, ervas, hera e bolotas. É uma das que a Princesa fez e pendurou na parede.

“Não posso morrer. A Princesa está esperando por mim.”

Meu escudo está caído do outro lado da sala. Rob acabou de desferir um grande ataque, então não deverá fazer seu próximo movimento tão cedo. Não tenho muito tempo, mas é o bastante. Vou mudar o espaço entre nós. Conseguirei alguma distância!

— Uuf!

Me jogo dentre suas pernas, passando por ele arrastando no chão com a ajuda das inúmeras bolotas espalhadas. Esse movimento estúpido e sem habilidade alguma abalou sua guarda? O “momento” antes do próximo ataque está demorando demais. E o agir dele está lento demais, principalmente quando se vira. Enquanto me ponho de pé, bato na borda do escudo com toda a força que tenho, buscando fazer com que gire.

WHISH!

O escudo enorme aparece, girando no ar entre nós e escondendo o movimento de minha espada. Frente, trás, frente, trás, frente… trás.

Rob é um Cavaleiro de primeira. Também é um homem sério. Ele é muito sério, então não consegue ler essas minhas ações erráticas. Quando o escudo cai, eu rapidamente deslizo minha mão esquerda sobre sua alça, pegando-a para manter o acessório pronto. Rob se move para mim com cuidado, como se estivesse nadando em meio a um pântano. Isso não quer dizer que eu esteja me movendo rápido. Minha lâmina está em seu ponto cego.

Minha espada desvia da sua, mas através de pura força ele domina meu ataque.

As vibrações e o impacto do toque de aço contra aço ecoam pela sala. Sua espada troca golpes com meu escudo. Escudos são equipamentos feitos para a defesa, então superam espadas nesta área. Desta vez, estamos em igualdade. Não sou dominado por sua espada. No nível dos olhos, confirmo que o rosto por trás da lâmina reluzente continua desprovido de emoções. Ao menos deixe sua testa franzir um pouco, cara. Mostre um pouco de raiva!

— Por que você está fazendo isso, Robert? Não foi você quem pediu para eu fugir com a Princesa Lala Lilia…?

Silêncio seguido pelo atrito violento e uma espada raspando a superfície de meu escudo são as únicas respostas. Eu respiro, liberando a tensão sobre meus músculos. Torcendo a parte superior de meu corpo, balanço meu escudo para o lado, deslocando o impulso da espada. Rob continua avançando e perde o equilíbrio. É isso que eu estava procurando!

— Tome isso! — grito.

Reúno as forças restantes de todos meus membros, intestinos e peito cansados para empurrar todo meu corpo por trás de meu ombro, e vou direto para o oponente. Isso faz com que sua espada voe para longe. Encaminho-o através da porta aberta, pelo corredor curto, e bato-lhe novamente perto do portal de uma segunda porta. O momento não para por aí, já que ele cai para trás, mas só ele mesmo. Eu bati no inimigo por mim mesmo, não cometeria o erro de cair junto.

“Isso mesmo. Ele é o inimigo.”

Ele fica de pé e tromba comigo — agora é uma batalha corporal. Esses tremores gerados por impactos que passaram por mim não são nada se comparados ao peso de uma espada. E estou preparado para levar qualquer golpe. Já peguei meu trunfo no chão no momento do primeiro soco.

Movendo-me com o ímpeto do balanço de minha espada, planto meus pés e giro meu corpo para a direita com toda força.

— YAAH!!

Isso bate em seus pés. Rob se apressa para recuperar o equilíbrio, mas acaba desequilibrando-se ainda mais e o ímpeto do ataque o derrubou de uma só vez. Seus braços e ombros ficam frouxos, e a espada em sua mão já não pode mais ser usada devido à parede atrapalhando.

Minha espada corta seu corpo, deslizando pelas juntas de sua armadura e cortando tanto carne quanto osso.

Robert era o homem que eu mais tinha orgulho de chamar de amigo. Ele era alguém em quem eu podia confiar para proteger minhas costas em qualquer circunstância. O capitão dos cavaleiros que se prendera a seus motivos nobres com tanta coragem antes, agora é talhado no peito e derrotado com uma facilidade surpreendente.

Empurro minha espada contra ele e olho para ela. Nem uma única gota de sangue vaza pela ferida aberta.

— Como pensei… Você morreu…

Porque diabos me permiti sonhar, mesmo que por um segundo, que você continuava vivo?

“Fui drenado.”

Irritante.

“Nem vou conseguir chorar.”

Completamente vazio.

Alguém pisou em uma bolota.

Estou em uma pane seca. Minha espada está muito longe para ser usada a tempo. Giro meu pé direito sobre meu corpo e volto-me para a esquerda, mas não sou rápido o bastante. Uma espada corta meu braço, um espirro vermelho dispara pelo ar. Conheço o rosto salpicado de vermelho que está me encarando sem emoções.

— Greg… Isso é uma piada?

Relâmpago Greg — ninguém conseguia superar seus golpes rápidos e repetitivos, mesmo ele tendo uma estrutura enorme.

— Você também perdeu seu orgulho como Cavaleiro? — Contraio meus lábios com tristeza. Minhas pálpebras tremem. — Como você pôde me golpear por trás? — Minha voz tensa é abafada pelo som de carne sendo perfurada. A borda de minha espada desliza pelas juntas de sua armadura, atravessando seu coração e saindo por suas costas.

— Isso não pode ser sério. Não pode…

Cuidei desse homem em seu leito de morte. Estou certo de que ouvi suas últimas palavras com meus próprios ouvidos — seu lamentável suspiro final.

Relâmpago Greg se transforma em um pó preto ao redor de minha espada e desmorona.

Não, não, isso é algo diferente. Não importa se está vivo ou morto, só é uma cópia do homem que eu conheci.

Como cinzas, como folhas caindo, sua pele solta de seu corpo e seus olhos rolam, fugindo de suas órbitas, deixando para trás apenas ossos que logo também se transformam em poeira.

“Não passa de uma imitação sem sentido. É algo falso. Olhos vagos estão me encarando em seus últimos momentos de vida. Tudo falso!”

— Não é como se eu já não soubesse… Que sou o último que sobrou…

Alguém pisou em uma segunda bolota.

Continuo em uma pane seca. Mais um golpe atinge minhas costas.

“Algo grave aconteceu com meu corpo.”

Exposta para o ar exterior, a carne sob minha pele queimada rasga e arde. Fui cortado por trás. Meu corpo não processou a dor do choque e do calor escaldante ainda. As roupas cobrindo minhas costas estão encharcadas. É sangue. Preciso acertar um golpe antes de perder minhas forças!

Por cima de meu ombro, vejo a continuação deste maldito pesadelo. Segurando uma espada encharcada de sangue por trás de mim está meu grande amigo Robert. Meu rosto distorce e minha garganta aperta.

“Que se foda!”

Ele está parado ali como se nada tivesse acontecido.

“Fui muito fácil para valer um golpe final?”

Eu devia ter acabado com ele antes. Não devia ter baixado minha guarda enquanto esse cara não virasse pó e desaparecesse.

Alguém pisou em uma terceira bolota.

Continuo em pane seca. A escuridão pesa cada vez mais no quarto. Antes que percebesse, três rostos familiares surgem.

— Ninguém… Te ensinou a… Bater na porta? — A dor lentamente se espalha enquanto a mancha vermelha em minhas costas aumenta. — Ainda não… Não posso ser… Derrotado…

Minha consciência é engolida enquanto caio de joelhos no chão. Assim que aperto meus dentes, a força deixa meu queixo. Tudo fica lento por conta própria.

— Haah! Haaah! Haah! Haaah…! — Meu escudo está pesado. A espada está… Pesada. Não importa o quanto eu me esforce, não consigo levantar meu equipamento. — Ugh! — Meus joelhos batem no chão, arrastando minha linha de visão para baixo.

“Mas que inferno? Estou de joelhos?”

A energia vital é empurrada para fora de mim a cada batida do coração. Um líquido pegajoso embebe minhas costas inteiras. O que está vazando não é suor — é tudo sangue.

“Merda. De pé. Fique de pé agora mesmo.”

— Haah! Haaaah…!

“Mal consegui não cair. Deveria ser capaz de ficar de pé. Vamos, fique já de pé! O inimigo está aqui!”

Isso mesmo, todos são inimigos.

Todo mundo morreu. Sou o único sobrevivente.

A Princesa foi sequestrada bem em minha frente antes que eu pudesse cumprir o último desejo de Rob. Joguei o sacrifício de meus companheiros em armas no lixo. Desperdicei a vida dos homens que morreram para que eu pudesse viver. Agora, em minha frente, estão meus nobres e orgulhosos amigos que sucumbiram para se tornarem marionetes que só existem para lutar. Pior ainda, me acertaram pelas costas, mesmo sendo cavaleiros. Foram corrompidos e desonrados… Mesmo eles tendo sido cavaleiros mais respeitáveis do que jamais fui.

Simplesmente porque eu sobrevivi. Só eu. Porque alguém como eu é tudo o que restou!

— Haah! Haaah! Haah! Haaah…!

Não consegui salvar as garotinhas.

Além desse remorso, deixei a invasão da bruxa ocorrer. E, então, eu desmoronei bem no momento mais crucial. A Princesa também clamou por mim. Ela estava chamando por mim e eu não fiz nada!

Inalo e exalo minhas respirações mais curtas e irregulares. Esqueço como fechar meus olhos que estão bem abertos. Meus olhos ardem. Meus lábios estão secos e rachados. A saliva amarga enche minha boca. Meu peito colapsou e minha garganta está esmagada. A respiração frenética faz meus ombros sacudirem para cima e para baixo, apenas gerando ainda mais dor.

A frieza me enche por dentro. Minhas costas estão abertas e quentes.

— Ah… Ahhh… — Robert está bem em minha frente. Ele ergue a espada acima de sua cabeça. — Desculpe. — Curvo minha cabeça.

“Não posso mais ver seu rosto.” Uma pequena poça de sangue está no chão, e ela está prestes a ficar muito maior.

— Sinto muito, Rob…

RUGIDO!

Vermelho enche minha visão. Mas não é sangue — é fogo.

Chamas incandescentes batem nas paredes, atravessando toda a casa. Atravessam a casa da árvore em linha reta, correndo pelas portas, corredores e mais além, até a parede externa da sala do outro lado do caminho. Todos os Cavaleiros Sem Sombra são violentamente levados pelo vento. Que precisão. A torrente de fogo engole todos os corpos. Os restos se transformam em poeira e desfazem-se em pedaços. Não cheiram sequer a carne queimada.

Sou o único que sobrou.

Não, isso não está certo.

A cabeça do dragão aparece pelo buraco gigante da parede queimada.

— Está atrasado…

— Desculpe-me.

— Você não precisava ter destruído o quarto da Princesa também.

O buraco gigantesco formado na Árvore Milenar é grande demais para ser chamado de janela.

— Era uma emergência.

— Sim, você está certo nisso.

 

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NA torre superior, com vista para todo o terreno do castelo, onde os três rios deságuam em um e desembocam no mar, estão os aposentos da Lady de Pérola. Com as janelas e cortinas abertas, a luz do sol brilha na sala elegante. Um espelho fica em uma das paredes cobertas por seda azul. O espelho elíptico é mais alto do que qualquer adulto e sua moldura é feita de ouro e prata polidos. Padrões bem esculpidos retratam multidões de almas moribundas sofrendo e agonizando. Jovens e velhos, ricos e pobres; todos caem igualmente prostrados perante a morte.

O ouro está no lado direito da moldura, a prata no lado esquerdo. Um crânio elaboradamente decorado está incrustado no topo, onde as metades da elipse se encontram. É uma obra-prima feita a partir de uma enorme safira. As mãos de Lady Megan descansam na borda do espelho enquanto ela olha fixamente para a superfície. Uma sugestão de um sorriso insensível toca seus lábios de flor.

De repente, um clarão se espalha pela superfície do espelho. Ele se dobra e range como se uma tremenda força estivesse empurrando desde dentro… Mas o espelho não cede. Gemendo, Lady Megan cobre os olhos com a palma de sua mão branca. Em seu dedo brilha um anel de safira, o complemento do espelho.

Quando o clarão desaparece, nada mais é refletido. Resta apenas escuridão.

— Você luta em vão — murmura Lady Megan com sua voz monótona enquanto torce seu anel, irritada. Ela gira a safira perfeitamente clara, que está com a gravação de um crânio bem detalhado. — Mas a ação está feita…

Uma única rachadura fina corre horizontalmente em um canto do espelho — mas não chama a atenção de Lady Megan.

 

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FOI-SE. Algo que eu sempre senti sumiu. É a barreira. A barreira da fada que nos protegeu durante manhãs e noites desapareceu por completo.

— Você pode se mover, Gideon?

Que sensação estranha. A sensação de compartilhar todos os cinco sentidos com o dragão não está diminuindo. Nós não deveríamos estar “ressoando” agora, mas um fio fino existe entre nós.

— Gideon?

— Sim. Isso não é nada. Desde que eu… Descanse um pouco… — Contrariando minhas palavras, a força se esvai das minhas pernas frouxas enquanto tento me apoiar nelas. — Hein? — Caio de cara no chão. Se eu tomar outro golpe nas costas, aí já era.

— Não tente encobrir tua fraqueza com mentiras. — O dragão empurra seu corpo pelo buraco na parede, mas apenas metade de sua cabeça entra para o cômodo. Sentir sua presença avassaladora sobre minhas costas, de perto, desencadeia um medo instintivo que arrepia minha pele.

— Ei, o que você… — Uma respiração me acerta por trás. — Ah…

Parece tão bom. A dor está dissipando. Em seguida, sua respiração faz contato com meu braço esquerdo. Enquanto observo casualmente…

— UAU! — Minhas feridas sumiram. — Por quê, por quê?! O que está havendo?! — Chocado, pulo de pé e o mundo gira. — Opa…

No calor do momento, agarro-me ao suporte mais próximo — o pescoço do dragão. Passando a tontura, noto que suas escamas são quentes. Mas é confortável. Apenas tocá-lo já ajuda a correr o sangue através de meu corpo rígido, pondo fim a tantos tremores desagradáveis.

— Recomponha-se. Só fechei as feridas. O sangue que você perdeu não foi reposto.

— Não, não, não, estou mais que satisfeito em me livrar da dor! — Olho para o dragão, examinando-o; sua pata dianteira está sangrando!

Como no mundo isso foi acontecer? Nunca vi qualquer problema em seu corpo.

— Não pode ser… Isso é… — Toco meu braço esquerdo. Além do sangue, não há qualquer vestígio de feridas. — Meu? — pergunto nervoso.

— De fato. Transferi sua ferida.

Uma resposta imediata.

— Ei! Não seja imprudente!

Não posso ver de onde estou, mas é provável que a lesão em minhas costas também tenha ido para as dele.

— É só um corte pequeno para mim. No máximo arranhou minha pele.

Meu queixo cai.

— Desculpe-me, mas isso doeu como se fosse o fogo do inferno em mim.

— Meu corpo é bem maior que o seu…

Então é assim? No final das contas é só uma questão de relatividade? De qualquer forma, agradeço por poder me mover.

— Você é capaz de fazer um truque como esse então, hein?

— Tornei-me capaz de tal. Já que minha escama está embutida em seu corpo.

Coloco minha mão contra o lado esquerdo de meu peito. A escama vermelha, queimada e solidificada junto com minha carne, é agora uma parte completa de meu corpo. Nada sobre isso me parece estranho. Acostumei-me com isso, como se sempre estivesse ali.

Não há qualquer vestígio de queimaduras no corpo do dragão. Mas tenho certeza de uma coisa:

— Era você.

— Ela estava correta…, não consegui a tempo.

— Não se culpe — digo.

— Penso nisso até hoje. Não posso deixar de pensar. E se eu nunca tivesse saído do lado dela? Se tivéssemos ficado juntos, essa criança não poderia ter continuado tendo uma mãe? Ela não teria continuado em seu castelo…?

PERFURA! PERFURA! Agulhas de gelo espetam meu coração. É a dor do dragão? Ou é minha?

— Minha decisão transformou aquela criança em uma Bruxa.

— EU! SABIA!

TAPA!

Bato no ombro do dragão com a palma da mão. Suas escamas grossas nem se movem, e sou em quem está com dor. Um tempo depois de ficar apertando o punho e sem palavras, tremendo de dor, sinto um par de olhos extremamente preocupados colocados em mim. Levanto meu rosto.

— Vou ouvir seus problemas depois — resumo.

Incapaz de cumprir uma promessa. Não fazendo as coisas em tempo. Sem proteger. Nós compartilhamos a mesma dor. Suportamos feridas que não podem ser removidas. Mas mesmo assim… Não, por causa disso…

— Temos que superar isso e seguir adiante. Você pode mover seus membros mesmo se seu intestino estiver retorcendo de desconforto, certo? Se você tem força para se lamentar, então tem para se mover… Você pode fazer isso. Se não, não podemos salvar a Princesa. Não é?

— Você se recuperou rápido…

Ah, ele também acha?

— Aprovo sua atitude positiva.

— Obrigado.

Assim como sua dor me queimou, meu desespero também foi transmitido ao dragão. Deve que o esfaqueou.

— Vamos, parceiro.

— Vamos começar, amigo?

E assim ficamos. Nós batemos nossos punhos fechados entre os destroços queimados e fumegantes.

— Pela Princesa.

— Pela Princesa.

 


Tradução: Taipan

Revisão: Taiyo

 

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