Olhe para as chamas; encare profundamente as labaredas ardentes e dançantes.
Estou aqui. Estamos aqui. Deus também está.
-Capitão Zakkou II-
O badalar de sinos rompe o silêncio da noite. Acampamentos estão queimando. Uivos e gritos tomam conta do ar. Sabíamos que viriam, mas a batalha é mais feroz do que qualquer um poderia imaginar. Então esses são os vampiros, hein?
— Capitão! Capitão Zakkow! Há mais vindo do oeste!
— Entendido! Mais óleo para aquele lado! Disparem os sinais de fogo! — eu grito, virando-me na direção da fonte da sede de sangue e euforia, lança em mãos.
— Fogo é nosso aliado! Nós somos o fogo! Homens, encharquem todos com óleo!
Saltando sobre uma parede ardente de fogo, erro o meu pouso e caio com a lança em um vampiro iluminado pelas chamas. Perfuro, perfuro e perfuro algumas vezes mais. Tudo o que posso fazer é perfurá-lo. Enquanto isso, alguns soldados mais jovens correm por trás de mim e arrancam sua cabeça com um machado, com o colar de presas e tudo.
— Sim! Conseguimos, Capitão Zakkow!
— Ótimo! É assim mesmo! Mas ainda é cedo para celebrarmos!
— Sim, senhor!
— E me chamem apenas de Capitão! Você já é cabo, não é? E dos bons!
— Isso mesmo, senhor!
Eles ainda são soldados voluntários de coração, mesmo que tenham sido promovidos. Entretanto, são todos homens heroicos, cada um deles.
De repente, um rugido bestial vem do lado. Cerca de trinta vampiros disparam contra nós. A julgar pelos seus movimentos, devem ser magos de trovão. Merda, magia!
— Recuem! Para as chamas!
Jogo-me na direção da fogueira mais próxima, para as suas chamas crescentes e uivantes. Fecho os olhos. Logo em seguida, ouço o som de algo explodindo. Calor atinge minha pele; trovão perfura meus ouvidos; gritos rendem meu coração. Quantos morreram? Quem morreu? Oh, o cabo… e o pior é que foi logo após o seu ato heroico. Alguns soldados ainda respiram. Seus corpos estão entorpecidos, eles se esforçam para segurarem as lanças. Não irei abandoná-los. Não deixarei que isso continue.
Inesperadamente, algo voa pelo ar, e vejo um clarão de soslaio. Oh! São eles! Os coelhos! Portando seus chifres em forma de espada, nossos companheiros saltam em direção aos vampiros. Eles miram nos pés, dedos e até mesmo pescoço, quando a chance aparece. Os vampiros são pegos de surpresa por um momento.
— Agora! Avante! — comando enquanto disparo. O ar noturno corta minhas bochechas doloridas. Diante de mim está um vampiro confuso jogando de lado o cadáver de um coelho de combate. Perfuro minha lança em seu rosto. Com um movimento sutil, puxo-a e perfuro uma vez mais. Desta vez, a ponta da lança fica presa em sua virilha, sem chances de sair.
— Rahhhhhhh!
Puxo minha machadinha e salto sobre outro vampiro. Seu braço segura com força a lança de outra pessoa, e eu o decepo. O seu outro braço ataca, mas pulo para o lado enquanto ele passa de raspão. Não serei pego.
Hmph, está quente. Bem, tomei um banho de fogo antes.
— Morraaa! — grito com toda a minha força.
Cravo minha machadinha na garganta do inimigo. Sangue preto e fedido jorra para todo lado. Não, também há gordura animal misturada nele. Alguém jogou um frasco de óleo nele? As chamas queimam com ainda mais intensidade.
— Grahhh! — rujo.
Com coelhos às minhas costas e cercado por lanças que saltam do chão, entro em batalha contra os vampiros. Esse é um combate mano a mano banhado em chamas. Está tão quente. O calor toma conta, move o meu corpo. Movo minha machadinha como se não houvesse amanhã.
Tolos. Vampiros idiotas.
O comandante frequentemente os chama de bestas sugadoras de sangue capazes de até mesmo se atirarem no fogo. Bem, tudo está pegando fogo aqui; não há noite nem escuridão. Água, vento e nuvens não podem existir nesta terra. O solo está coberto em chamas…. Esse agora é um campo de batalha para aqueles que vivem e respiram o fogo.
Contemplem, vampiros! Esse é o poder da nossa magia de resistência ao fogo! Como soldados que lutam com o fogo, colocamos todo o nosso conhecimento nesse feitiço. Tudo começou com a benção de Deus, a qual nos protege de receber queimaduras leves. No momento, podemos viver em um banho de chamas refrescantes e entusiasmante.
— Perfurem todos! Suprimam todos! Queimem os vampiros até a morte!
Quando conseguirmos resistir ao ataque inicial deles, o resto será fácil. A espera durou três dias, por isso nossas armadilhas de fogo estão completamente preparadas.
Do outro lado das chamas, posso ouvir o bater de cascos de cavalos. Estou maravilhado com a excelente liderança de Marius. Ele nem mesmo tenta interceptar a invasão dos vampiros, mas sim a corta por completo. Em seguida, destrói a coordenação deles, segurando-se o suficiente para mantê-los juntos, sem se espalharem… É lindo.
Oh, o som dos sinos mudou. Não há mais vampiros vindo, hein? Bem como o comandante previu, o ataque dessa noite foi apenas uma pequena demonstração.
— Tudo certo, homens! Mantenham o óleo! Não deixem as chamas morrerem! — grito minhas ordens e golpeio todos os vampiros que vejo.
Abro caminho pelo acampamento constantemente, matando vampiros e observando meus companheiros sendo mortos, eu luto. Perfuro, perfuro e perfuro um pouco mais. Minha lança e eu somos um.
Antes que o sol comece a nascer, o som da batalha desaparece. As chamas também perdem sua intensidade.
Um novo sino toca… O inimigo está recuando. A vitória é nossa, por enquanto.
— Pelotões, hora da chamada! Pelotões de número ímpar estão na patrulha do perímetro! Pelotões de número par irão reunir os feridos e formar um círculo! Não esqueçam de suas preparações de fogo!
Minha lança se fora, o cabo está completamente quebrado. Vou precisar da sua emprestada, meu amigo caído. Não esquecerei do seu espírito. Também ficarei com essa machadinha. Não esquecerei da sua bravura, também.
Ó Deus. Deus do fogo, guerra e de nós, humanos; por favor, garanta descanso às almas desses guerreiros… Deus Ex.
— Ei, Zakkow! Queimou bem, pelo que vejo. — Brinca o comandante. Para alguém que está com a virilha machucada, ele realmente parece estar alegre. Não está pensando em fugir, né?
— Sua guarda ainda está ruim, senhor. Pelo menos traga uns cinquenta soldados junto.
— Se as coisas ficarem pretas, vou pular no meio dos soldados. Mais importante, conte-me sobre os coelhos. São confiáveis?
— Demais, senhor. Não tem força para finalizar o inimigo, mas são bons para semear o caos.
— Entendo. Talvez possamos usá-los para lidar com os lobos negros dos vampiros. — Agora que ele mencionou, começo a me perguntar. Onde estavam os lobos negros? Não vi nenhum. Teria sido uma batalha um pouco mais complicada com eles no meio. — Uma contagem meio por cima sobre o ataque de hoje indicaria cerca de quatrocentos a quinhentos vampiros. Um número adequado, mas, muito provavelmente, são as ações egoístas dos mais imprudentes. A falta de familiares indica isso.
O comandante ergue um coelho que se esfrega em seus pés. O homem maldito parece tão feliz enquanto faz carinho em suas costas.
— Os pequeninos não são vassalos divinos, oh, se não. Vocês servem a Deus diretamente e rezam a Ele à sua própria maneira… Têm uma maneira única de fazer as coisas. — ele fala enquanto se dirige ao coelho.
— Lobos valorizam a alcateia e não irão desobedecer ao líder. Os lobos negros não são diferentes.
— Exatamente. Graças a Marius, discernimos um pouco o plano do inimigo, mas agora tenho certeza. — Nas noites anteriores, Marius provocara o acampamento inimigo…, mas os vampiros nunca atacaram os flancos expostos do seu cavalo enquanto ele dava voltas no campo de batalha. — Seja quem for o líder, está no mesmo nível de um Apóstolo e desejam lutar aqui pelo máximo de tempo possível.
— Então não compreendem o próprio exército. A liderança deles é ingênua.
— Já vi esse tipo de coisa muitas vezes na Igreja e na Capital. Quando há desequilíbrio entre conquistas e status, tende-se a ser isolado. Poder desproporcional comparado à autoridade cria o caos. Quando os dois são combinados, cria uma perturbação hipócrita. Eles buscam o motivo para suas falhas longe deles mesmo. Isso só acaba em frustração.
— Então, se os deixarmos sozinhos, irão se autodestruir?
— Bom se fosse…, mas o Deus Demônio não é tão ingênuo. A declaração de batalha final súbita é prova disso. E, com tamanha autoridade divina por trás, esse novo líder misterioso planeja algo… — Hmph. Os olhos do comandante se estreitam enquanto olha na direção das forças do inimigo, ou, possivelmente, para mais longe. Ele observa algo que está além dos limites da nossa visão… Talvez até mesmo além dos limites do tempo. Seja o que for, não tenho ideia. O que sei é que esse homem é um estrategista… o tipo de militarista que cheira a sangue mais do que ninguém.
— O local de morte da Dourada está tão perto, mas estamos aqui. — continua ele. — Se temem a Dez Mil Sinos, então certamente estaríamos lutando mais longe, mas estamos aqui. Uma batalha demorada nesta terra… qual é o propósito? Vontade própria deles? Desejo de Deus?
Não importa o que aconteça, não posso deixar esse homem morrer. Guerreiros como eu e Marius podem ser treinados, mas ele é insubstituível. Não pode me enganar também — vejo que deseja morrer.
— Seria possível evacuar os cidadãos para a Fronteira agora? — pergunto.
Ele pode assumir o comando da operação. Se for apenas lutar, e a vitória não é o foco aqui, podemos conseguir.
— Não, deveríamos fazer o oposto: amanhã, montaremos uma ofensiva. — O que ele está dizendo? Não, o que está vendo? — Tenho um mau pressentimento sobre isso… um dos piores. Enquanto não soubermos o objetivo do nosso inimigo, acho que é uma má ideia prolongar ainda mais. Talvez o foco nessa batalha estendida seja a verdadeira armadilha.
Uma armadilha. Duvido que seja paranoia dele insistir nisso. E há apenas duas coisas que consigo pensar que podem incomodar esse homem: ameaças à Lady Kuroi e a aniquilação da nossa espécie. Dependendo da situação, ambas podem ser possíveis.
Em silêncio, ouço o relatório de danos. Mortes de hoje à noite: cinquenta e oito. Soldados feridos que necessitam de transporte para a cidade: cento e dez. Somando tudo, quase duzentas casualidades. Apesar das nossas armadilhas de fogo, perdemos dez por cento das nossas forças. Dezenas de coelhos provavelmente morreram também. Essa é a realidade ao entrar em batalha contra os vampiros.
— Podemos vencer? — pergunto. É uma pergunta sem sentido. Não é como se pudéssemos fugir agora.
— Se for para vencer, amanhã de manhã será a nossa única oportunidade. Pressione o ataque enquanto ainda estão se recuperando da investida falha.
— Um ataque com força total, então? Que másculo.
— Se não tivermos êxito, não haverá futuro para nós. Disso eu tenho certeza.
Maldição. Seu lembrete duro me faz querer suspirar, derrotado. Um dos maiores problemas é que ele pretende desistir da vida facilmente nesses momentos decisivos. Esse é o perigo daqueles que sobreviveram por um triz.
Vou mostrar a ele. Lutarei e lutarei, tudo isso para me certificar de que ele e Marius sobrevivam. Se eu confiar meu espírito aos homens que serão fundamentais para batalhas futuras, bem… não poderia pedir por sorte maior.
Ordeno meus homens a realizarem a manutenção em suas armas e descansarem um pouco, então esperamos pelo raiar da manhã. Recuso-me a dormir, pois espero os raios carmesins que irão decorar meu túmulo.
Tradução: Taiyo
Revisão: Midnight
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