Outer Ragna Outer Ragna – Vol 01 – Capítulo 27 – O Feiticeiro Reza Nervosamente, Entra em Uma Batalha Destinada e Dá o Seu Melhor

Ó Deus, meus inimigos estão diante de mim.

Ó Deus, dá-me a força para lutar.

-Feiticeiro Odysson V-

Não tô com medo, tá ouvindo? É só que o deserto que conheço se tornou algo maluco. O sol está se inclinando para mais longe do oeste, então talvez eu não esteja vendo as coisas direito, mas… Olhando para o leste, os caras que mantêm erguida uma bandeira azul com branco não parecem mover um músculo sequer.

É um exército gigantesco. Mais de dois mil orelhas pontudas, com um número igual de leopardos prateados e gaviões de vento acima. A mana que sai deles se torna uma névoa. São como uma floresta em movimento. Malditos orelhas pontudas, sei que são nossos aliados, mas agem como se o mundo inteiro fedesse. Malditos sejam.

Porém, se não estivessem aqui, estaríamos completamente ferrados. Afinal de contas, nosso inimigo em comum é algo que o próprio mundo rejeita e que fazem monstros parecerem fofos em comparação. Com o sol poente às costas, eles se erguem da terra, o exército de vários olhos amarelos, agitando suas bandeiras amarelas com preto. O número deles é de aproximadamente três mil. Não há muitos familiares, porém… são mais do que o suficiente para suprir essa falta com sua sede de sangue.

Ela está lá. Em algum lugar naquele exército, ela está. A Apóstola dos olhos amarelos está nos avaliando. Estou assustado demais para desviar o olhar. Não quero procurá-la, mas não posso impedir a vontade de o fazer. Eu deveria parar. Procurar desta forma consume mana, a qual poderia fazer com que me localizasse. Se ela fizer isso, irá me matar na mesma hora… Dourada, a Trovoada, atacará!

— Ohh! Ohh! Cavalaria é legal mesmo!

Ah, isso me faz lembrar que temos a nossa própria guerreira com um segundo nome. É a Apóstola élfica que, por algum motivo, é uma fã dos humanos: a baixinha que eles chamam de Dez Mil Sinos.

— É como ver os antigos centauros! Mas os olhos desses cavalos são redondinhos e fofos, então são melhores! Embora sejam um pouco malvados por não me deixarem montar neles, está tudo bem, pois são fofos! Posso dar comida para um?

Por que ela veio até aqui, no último momento, para alimentar os cavalos? Bem, tenho certeza de que ela está passando por muita coisa, tipo, coordenação, estratégia e promessas. Se vamos lutar juntos, é importante organizar tudo antes.

Se perdermos essa batalha, estará tudo acabado para a Fronteira. Por isso trouxemos cada soldado disponível. Nossa força principal é composta por mil e duzentos Cavaleiros Bombardeiros. Liderados pelos famosos irmãos cavaleiros, são, sem dúvida alguma, uma força da elite composta pelo melhor que a humanidade tem a oferecer. São rápidos e fortes, portanto, se não forem o suficiente, será o nosso fim.

Mas a coisa mais incrível é a estratégia na qual trabalharam para usar a magia Conflagração em um grupo. Arremessar um grande número de bombas de fogo para criar uma explosão gigantesca faz a minha mente estourar. Eles dizem que o foco em poder de fogo é o lema da família deles, então não foge muito da lógica, mas, na minha humilde opinião, os Willows são todos doidos. Apenas um erro, e eles irão eliminar os próprios aliados.

Então, novamente, talvez eu seja louco por ter ideias baseadas nisso…

— Oh, Odysson! Não tente mimá-la. Pode parecer pequena, mas ainda é uma elfa. Você não sabe quantos séculos ela já viveu.

Maldito sacerdote de coração negro, como pode dizer uma coisa dessas enquanto segura cenouras?

— Você está enganado. Eu só estava pensando. As coisas ficaram realmente malucas.

— Sobrevivemos até agora, mas, talvez, amanhã todos nós podemos estar mortos. É assim mesmo, como sempre foi. Se está com sede, beba; se está com fome, coma.

Espera, você vai comer elas? Sua personalidade é mesmo ruim. Isso é mais como desprezar os cavalos do que provocar a Apóstola tampinha. Além disso, ficar todo coberto de armadura só acentua a sua obesidade.

— Entretanto, entendo o que está sentindo. Essa é a nossa primeira batalha, afinal.

— Uma primeira batalha, tendo Dez Mil Sinos como aliada e Dourada como inimiga? Eu vou chorar.

— Você é um companheiro deveras emocional. Está encantado pela revelação do pelotão que treinou pessoalmente?

— Meus aliados não me entendem também. Eu vou chorar de verdade.

Meu pelotão… o primeiro pelotão mágico da história, e enfim é real. Dentre as habilidades de todos os cidadãos, selecionei duzentos que tinham mais talento. E tinha também os cinquenta que foram enviados pela Guilda dos Feiticeiros, além dos outros cinquenta que contratamos. Ao todo, trezentos.

Eles realmente se destacam, não importa como os veja. Vestidos em mantos vermelho-claro, brasonados pela logomarca da Empresa Flor Carmesim, estão equipados com três das minhas mais novas invenções: a varinha de carvão, dois recipientes de chamas e uma adaga. Não sobrou tempo para lhes ensinar a montar a cavalo, por isso disse que era para correrem o mais rápido que podiam. Por este motivo, estavam usando botas de couro preto da mais alta qualidade.

— Então, Padre, está planejando ficar nas linhas de frente?

— Hehehe! Está perguntando isso agora? Comando mais soldados do que você, então espero que tenha percebido.

— Bem, eu acho…

O pelotão do sacerdote de coração negro está a cargo de proteger a mina. Considerando a raridade de um pelotão mágico, admito que seja necessário, mas… os quinhentos que ele lidera são apenas um bando de aventureiros, mercenários e soldados voluntários. Duvido que tenham feito algo parecido com um treinamento militar.

— Pense em nós como o seu grande escudo e deixe tudo conosco. Irei cuidar da defesa, e confiarei a ofensa a todos vocês, para que deem o seu melhor.

— Lutaremos até a morte. Não precisa pedir.

— De fato. E, então, pela primeira vez, podemos dizer que a humanidade fez tudo o que podia!

Pego em seu discurso apaixonado, olhei para frente, direto para ela.

Kuroi. Uma Apóstola e receptáculo para o Deus dos humanos. Todo mundo está olhando para você. A mente de todo mundo está em você. Mas o que deveria esperar? Esse é o tipo de presença que tem. Apenas o fato de você estar aí já faz parecer que o espaço está se inclinando. É impossível não pensar em você.

Olha lá, os cem soldados da cavalaria e os trezentos da infantaria, que vieram da Expansão Infernal, estão rezando para você. Posso entendê-los muito bem. Pode-se dizer que assumiram o mesmo caminho que nós. Eles também já estiveram uma vez no fundo do abismo do desespero.

Lá, os trezentos cavaleiros do forte estão preparados para a batalha. Eles são homens incorruptíveis ambulantes. Irão, sem hesitação alguma, jogar suas vidas fora para que você, Kuroi, possa dar mais um passo. A atenção de todos está contigo.

E também não são apenas os humanos. Os orelhas pontudas observam cada um dos seus movimentos. Especialmente a Guerreira Dragão, que está bem próxima da tampinha. Até mesmo agora ela está em guarda. Essa aí dá um medo do caramba.

Também não tô alucinando. Pois eu, Odysson, sou mais sensível a essas diferenças do que uma pessoa normal graças à magia, que me tornou ciente da presença de Deus. Deus, aquele que está em suas costas agora. Ele parece… um tanto selvagem. Não feroz, só para deixar claro. Ele tem uma aura de violência… um impulso pela destruição, talvez?

— Ó, feiticeiro de fogo! Também está aqui?

Uou, o que a tampinha quer comigo?

— Não fique tão para baixo. Sou uma Apóstola, e também uma maga de vento. De acordo com as lendas, elfos e humanos trabalharam juntos para derrotar o Deus Demônio com a grande magia de Tempestade de Fogo. A técnica foi há muito perdida, mas vento e fogo ainda são bastante compatíveis!

Isso não passa de história. Quanto à compatibilidade, isso parece mais superstição para mim. Fora a tampinha, a que está atrás dela me assusta. Veja só como é afiado o seu olhar!

— Olá, Comandante Dragão. Primeiro tivemos a honra de vê-la na reunião de guerra, e, agora, você veio para avaliar nossas tropas? Isso, de fato, irá aumentar o ânimo dos homens. Tenho certeza de que eles irão atender às suas expectativas na batalha.

— Fique tranquilo. Você fala e se move demais.

— Como pode dizer…

— E a sua educação exagerada e atitude protetora não me engana. Não tente negar. Aquela bruxa, que foi minha instrutora de etiqueta, falava assim como você.

— Oh… e pensar que eu estaria tão enganado…

— Você sabe que elfos têm uma audição excelente, e que a minha idade foi mencionada de propósito, não é? Hmm? E ainda não tenta esconder as cenouras que segura.

— Gostaria… de alimentar os cavalos?

— Ótimo, ótimo! Está perdoado! Gwa-haha!

Uou, ela está realmente alimentando os cavalos. Do que são feitos os nervos deles?

— Tente sorrir, Odysson, mesmo que seja forçado a isso. Os soldados estão olhando.

— O que… Oh, entendo. Então, é sobre isso que se trata.

— Sim. Os soldados de ambos os lados colocaram uma tampa sobre suas hostilidades, mas a desconfiança ainda queima com força debaixo dela. Devemos mostrar a eles que estamos nos dando bem.

— Fazer… tudo o que puder, até mesmo aqui?

— De fato. Você está mais do que correto, parceiro… Devo dizer, sua capacidade de sorrir é terrível.

— Cala a boca. Nem todo mundo é um bom ator como você e o seu amigo comandante.

— Do que está falando? Diplomacia é a base de tudo, e atuar é o básico da diplomacia.

Palavras convincentes de um coração tão negro. Estou feliz por ser um feiticeiro. Objetos não precisam de habilidades para sorrir ou atuar.

Ei, Kuroi. E quanto a você? Não sorri, nem mostra uma única expressão. É tão pura, duvido que pense em atuar… está sempre tão séria. Talvez seja por isso que ainda consegue encarar Deus.

É por isso que luta? É tão forte, pois apenas luta? Uma garota furiosa e um deus selvagem… Dois seres que queimam como um incêndio… Quanto tempo vocês conseguirão continuar lutando com tamanha determinação? Conseguem aguentar? Talvez eu não deva dizer isso, mas estou um pouco preocupado.

Se eu morrer, use-me com um pouco de gentileza, pelo menos. Tenho certeza de que queimarei muito bem. Desta forma, você pode me permitir continuar lutando.

Desde já, agradeço.