Outer Ragna Outer Ragna – Vol 01 – Capítulo 10 – O Feiticeiro Entoa e Confirma a Direção da Guerra da Humanidade

Sou humano.

Por isso brigo, luto e derroto meus inimigos.

Para que assim eu possa viver como humano.

-Feiticeiro Odysson III-

— Seus merdas! — Três. Eles mataram três. Três bravos soldados excelentes. Mataram de coração frio.

— Ugh, outro sujo apareceu.

— Ele tem um cheiro estranho também. Só consigo suportar humanos jovens.

— Nah, tem que ser fêmeas. É uma sensação diferente quando os dentes afundam nelas.

Três orelhas pontudas e quatro leopardos prateados. Isso é ridículo. Precisaria de cem para se igualar a mim. Três folhas? Eu brincaria devagar e tranquilamente antes de matá-los. Deixe comigo. Eu, Odysson, os vingarei. Também juro salvar as crianças que vocês protegeram. Não deixarei que morram!

— Mova-se, imundo. — Em sua mão apareceu uma flecha curta. Um mago de vento? Então armarei isso logo acima do ar que se acumula. Em minha mão eu tenho um carvão. Tiro magia de dentro, aperto-o e… tomem isso, miseráveis!

— Ahhhhhhh! — Chamas Caóticas os atingem! Eles estão queimando!

— F-Fogo?!

— Isso foi magia?

— M-M-Minha mão! Água! Água!

Droga, só acertei um braço. O fluxo de vento foi mais forte do que eu esperava. O outro ali é um mago de água, no entanto. Isso não é bom para espalhar o fogo. Tenho que acabar com ele.

— Humano maldito! Como se atreve?

— Queime, garoto folha! — Eu estava guardando essa! Balanço um frasco cheio de óleo e incendeio o resíduo. Foice de Chamas!

— Rahhhhh! — Eu que estou gritando ou são eles? Que se dane tudo! Sem chance, hein? O fogo se espalhou! Ainda assim, é bom o suficiente. Estou lutando de igual para igual contra vento e água, duas magias élficas.

Tenho que continuar. Em seguida, outra Chama Caótica — Uou! Merda, um leopardo prateado!

— Eek! — Hã? Uma lança? Uma lança está cravada no chão diante de mim, empalando a criatura. Cara, que déjà vu. Parece que o meu traseiro foi salvo mais uma vez. E ela está de pé sobre a ponta da lança também. Que acrobata que ela é.

Afasta os cabelos negros e do nada aparece um machado e uma espada longa. É como um truque de mãos. Essa merda é única demais, até mesmo para magia.

Kuroi. Ela tem vários hábitos estranhos, mas é uma garotinha forte. Nunca sei o que está pensando, entretanto… Acho que enfim compreendo. Sinto a magia — quente, intensa e brilhante. Você está irritada, não é? Essa fúria é como uma chama ardente.

— C-Como se atreve?!

— Seu javali selvagem! Morraaaa!

Oh, uou. Cortando através do vento e afastando a água, suas lâminas atingem o alvo. Ou é magia? Com cada movimento, posso sentir um calor queimante. Comparados a ela, elfos não são nada. Mas isso já era de se esperar. O seu poder de fogo é diferente. A velocidade é uma coisa, mas, no fim, o combustível é incomparável.

Essa presença. Essa pressão. Há algo de incrível dentro dela. Mais do que uma pessoa sozinha pode carregar. Oh… Entendo! Talvez seja onde Deus reside.

— Ambos os lados, parem!

Hã? Quem diabos é ela? Pelo traje, estou supondo que seja um tipo de oficial orelha pontuda.

— Sou Fleilyu, Guerreira Dragão do Exército da República de Ewlogond. Irmãos, silenciem suas magias. Humanos, larguem suas armas. Sua Graça Sakiel, Comandante Dragão, assumirá a responsabilidade dessa disputa

Uma Guerreira Dragão, hein? E uma Comandante Dragão? Como é que é? Isso faz o enxame de monstros parecer fofinho em comparação. Os verdadeiros monstros estão mostrando a cara agora. Acabou. Não é mais questão de vencer ou perder. Tem que se perguntar se toda a raça humana será exterminada. E agora? Hein, Deus?

— Guerreira Dragão, bem na hora! Destrua aquela coisa!

— Você não me ouviu? Eu disse para pararem de lutar.

— Não pode estar falando sério! Veja esse braço! E… Ei, acorde! Abra os olhos! Ahh, ele está morto! Está mortoooo!

 — Duas casualidades, um ferido, seis bestas assassinadas… Bastante terrível.

— Malditos, espécie inferioooor! — Vento vinha, era uma magia de vento enlouquecida e frenética. Um grande feitiço, também, mas… Aham, está tudo bem, viu só?

— Tolo.

Essa Guerreira Dragão é uma moça assustadora. Foi tão rápido que nem vi o seu ataque. O orelha pontuda com braço queimado caiu, e a plumagem de uma pena saltava da sua nuca.

— Ouça-me. Esse incidente não faz parte da vontade de Sua Graça. Foi um acidente ocasionado pelas tentativas do nosso exército de reabastecer os suprimentos. Além disso, qualquer perda gerada pelo exército não será reportada.

Acidente. Reportada. Palavras de dar nojo, uma atrás da outra.

— Uma mensagem: Sua Graça sofre. Ela diz que crianças humanas também podem estar feridas, por isso, por minha vontade própria, trouxe isso. Pode usar.

Um pequeno recipiente de bambu tecido… Uma caixa de medicamentos, hein? Será que realmente é elixir élfico? Hã, Kuroi, você não deveria pegar? Tudo bem, eu vou. Já que está dando essas coisas, vou pegar de bom grado. Não existe medicamente bom nem ruim.

— Por fim… uma observação pessoal.

Ah, merda.

— Estou surpresa em ver magia de fogo que pode queimar um elfo. Tenho muito o que aprender sobre humanos.

A maldita moça de orelha pontuda está focando um vento de alta pressão na superfície do seu corpo. A essa distância fica fácil de perceber. Chamas comuns não passam por aquilo nem ferrando. Droga.

— Mais surpreendente ainda, entretanto… — Seus olhos, aqueles olhos, estão fixados em Kuroi. São afiados, como os de um pássaro sobre sua presa. — Tudo o que posso dizer é que você é uma ameaça.

Merda, ela está pronta para atacar a qualquer momento. Mas parou a luta com a certeza absoluta de que não começaria outra… correto? Kuroi está em guarda, também. Ela está de mãos vazias e de costas viradas para a elfa, entretanto, não move uma polegada sequer.

— Quem é você, garota? — Isso não é bom. Se começarem agora, serei apenas um estorvo para Kuroi. Na primeira chance que eu tiver, vou evacuar as crianças. Todas as seis estão aqui?

— Essa é a nossa Lady Kuroi, Senhorita Guerreira Dragão.

Finalmente decidido a aparecer, seu merda de sacerdote de coração negro? Pare de bufar e respirar pesadamente! Recupere o fôlego de uma vez. Negociar com os orelhas pontuas é seu trabalho, não é?

— Demorou bastante.

— As negociações provaram-se difíceis. Deixei o resto nas mãos de Lorde Willow.

— Eles mataram três dos nossos.

— Raquial, Apollos e Locton. Mortos enquanto executavam seu dever. Vocês não serão esquecidos.

Hmm. Então esses eram seus nomes? Também não me esquecerei.

— Kuroi? Isso é um nome? O que eu quero saber é…

— Ela é humana. — Boa! Pega ela, sacerdote de coração negro. Mostre o que merece! — Humana pura. Mais do que qualquer um de nós poderia esperar que fosse. Também é aquela que está na vanguarda da nossa raça. É um símbolo da humanidade vivendo e prosperando nessa terra, assim como prova de que somos abençoados por um poder maior.

Ha ha! Até você, hein? O seu sangue também está fervendo? Não duvido nada. Um entendimento meia boca só serve para te deixar mais irritado.

— Ela é o que significa ser humano. Cada um de nós nasce e é garantido com muitos direitos: o direito de ser amado pelos pais, de ter orgulho de si mesmo, de amar nossos filhos. Ela nos ensina que está tudo bem em ser humano. Essa é a nossa Lady Kuroi.

Belo sorriso, sacerdote de coração negro. Eu praticamente posso ver o fogo saltando dos seus olhos. E, quanto à Guerreira Dragão… Hmph, ela parece confusa. Sua puta. Não esperava essa descrição, não é mesmo? Ela está toda “o que esses selvagens estão falando?”

— Não se preocupe, Guerreira Dragão. Não vamos buscar um pedido de desculpas. Morrer para proteger crianças é uma honra enorme, assim como derrotar nossos inimigos e vingar nossos companheiros são grandes desejos. São facetas da coisa bonita conhecida como dignidade humana.

Ele ganhou completamente essa batalha de palavras. Então, mais uma vez, tem que levar em conta a diferença na posição dos dois.

Pelo menos, desta forma, o inimigo vai embora. É uma retirada rápida. A Guerreira Dragão silenciosamente pega os broches de folha de cada um dos cadáveres e parte. Aquelas eram lembranças especiais, equivalentes a uma cabeça para os orelhas pontudas.

Então, podemos deixar que eles limpem a própria bagunça… Kuroi? Por que ela está olhando para os nossos três soldados mortos? O que está pensando? O que está sentindo?

Essa… Essa magia, essa presença… Não pode ser! Os três se levantaram?! Não, não é isso. Os corpos ainda estão ali, deitados. Estou vendo coisas? Está embaçado, como uma névoa, mas eu podia jurar que os três estavam… se ajoelhando perante Kuroi — perante algo maior atrás dela. E, então, desapareceram. Mas o que diabos? Foram absorvidos por ela. Ei, que coisa é essa? Kuroi, será que…? Não, tenho certeza disso. Não são apenas armas…!

— Oh… Deus Ex… — As palavras escaparam dos lábios. Não dos meus, entretanto. Foi o sacerdote de coração negro que as murmurou?

Deus Ex.

A verdadeira palavra que a Igreja nos ensinou. Significa “que assim seja”. É uma prece do fundo do coração dita quando um membro da Igreja deseja espalhar elogios. É uma afirmação de tudo neste mundo. Uma expressão de esperança.

Deus Ex. Sim, que assim seja. No livro sagrado, está escrito DX.

Eu — nós — certamente vencerei. Posso morrer ao longo do caminho. O sacerdote de coração negro e o nobre cavaleiro podem bater as botas, também. Mas não ficaremos tristes nem incomodados. Lutaremos até o momento da vitória. Continuaremos lutando, não importa que forma teremos. É isso o que acabei de descobrir. Então, um dia, nós vamos vencer. A humanidade sairá vitoriosa.