Este mundo é espetacular,
Pois Deus o observa através de mim.
-Cavaleiro Agias II-
— Aí está você, Lorde Willow. — Padre Felipo limpa a testa enquanto eu entro na área rural. Aquele cesto em suas costas estava cheio de documentos? Alguém estava repleto de energia agora. Eu podia jurar que ele era apenas desgraça e melancolia na última vez que o vi.
— Sinto muito, estava procurando por mim?
— Não, não se incomode com isso. A reorganização da guarnição tem prioridade, é claro. — Reorganização, hein? Acho que é o termo correto.
O custo para derrotar o troll foi alto demais. Nossos soldados, que chegavam a mil, foram reduzidos a meros trezentos agora. O máximo que podíamos fazer era restabelecer a cadeia de comando. Não há esperanças para a chegada de reforços.
— Só porque derrotamos os monstros, não significa que as coisas estão prontas. Devemos colocar patrulhas, matar qualquer retardatário inimigo, atender os feridos, limpar os escombros, restaurar a ordem pública, enviar mensageiros… O poderio militar tem a maior habilidade executiva durante uma emergência. Resumindo, são a elite da humanidade. Sequer temos como começar a expressar nossa gratidão.
A lábia dele trabalhava sem descanso, como sempre. E suas gesticulações…
— Estamos simplesmente fazendo o que devemos, assim como o trabalho da igreja é essencial para restaurar a normalidade.
— Não, não. Somos apenas a colher de madeira que traz o banquete aos lábios. A luz que traz a obra-prima aos nossos olhos. Você me honra demais.
Alguém estava de bom humor mesmo. Isso era bastante anormal.
— Um milagre brilhou sobre nós, permitindo que sobrevivêssemos. Isso é o que um sacerdote deveria dizer. Essa não é a força dos nossos soldados, mas sim algum poder sobrenatural que nos salvou.
A falação deste homem te deixa perplexo e o testa. Isso é bastante normal.
— Estou ciente disso. Oh, muito ciente. Posso ser o capitão aqui, mas não tenho intenção de impor a lei marcial. Também não pretendo assumir o crédito pela nossa vitória. O poderio militar e a igreja deviam estar trabalhando juntos, como iguais.
— Eu não esperava menos de você, Lorde Willow. Uma visão calma. Uma mente sábia. Heh. Sim, assim que deveria ser.
Hmph. Ele descaradamente se acha tão importante. Está bêbado ou apenas eufórico por estar vivo? Não, não é isso. Não. Isso é…
— É raro ver alguém tão adequado para ser um militar como você, meu Lorde. Tão raro quanto ver uma vontade revolucionária.
Eu sabia. Padre Felipo está deixando as suas ambições internas correrem livres. Isso é uma tentação. Ele está tentando fazer com que eu, um membro da honorável família Willow, se torne seu cúmplice. E também com tamanha convicção. Seus olhos queimam; vigor surge do âmago da sua alma. Isso faz com que eu fale o que penso.
Se assentisse com a cabeça, estaria expondo minha sinceridade. Nos tornaríamos aliados firmes. Mas, se balançasse-a… Ele tentaria me matar com a lança sagrada que tem em mãos. Eu deveria calá-lo de uma vez e recusá-lo? Esse seria o meu dever profissional.
Mas fechei os olhos. Desejo escuridão para encontrar a intuição bruxuleante dentro de mim, para que assim coloque minha vida em risco para decidir.
— Hmm. Você discutiria tais princípios em um mundo tão cruel?
— Sim, pois nos foi dado uma rara chance perfeita.
— Você pretende apoiar Kuroi?
— Hee hee. Não exatamente. Você está muito, muito perto, mas não totalmente certo.
Observei-o com atenção, preparado para o momento da confirmação.
— Eu apresentaria ao mundo um deus, o Deus dos humanos, através da Sua escolhida.
Deus. Uma palavra muito bem compreensível. Repousa em seu estômago, queima com intensidade e faz com que o seu corpo trema. É a mesma forma que me sinto quando penso nas façanhas gloriosas dos meus ancestrais. Até me lembro do calor da minha finada mãe, e isso penetra o meu peito.
— Foi… foi isso?
— Sim, de fato.
— Também senti. Até mesmo desejei que fosse.
— Esses são os seus verdadeiros sentimentos. Não é truque, apenas sinceridade.
— Pelo menos se nos fosse permitido acreditar em algo sem decepção alguma.
— Claro. Deveria ser considerado uma atitude piedosa adorar uma presença superior.
— Entendo… — Permito que o calor dentro de mim flua pelas minhas bochechas. O que há para se sentir vergonha? Por causa do homem diante de mim, meus olhos estão abertos!
— Nós! Pertencemos! A este mundo! — entoamos, lutando contra as lágrimas.
É uma declaração. Sinto como se um peso tivesse sido retirado do meu peito. Luta e morte. Luta e morte. Ainda mais morte. Essa tem sido a história humana. Nossas preces nunca foram atendidas, não importava o quão piedosos éramos. Não havia nada lá para ouvi-las. Este era o mundo humano. Mas nós vencemos. Nossas preces foram atendidas. Neste dia, a humanidade não seria mais uma raça desprovida de esperança.
— Deixe-me ir direto ao ponto.
A voz dele é gentil. Então também consegue falar desse jeito, hein?
— É cedo demais para levar a Lady Kuroi para o palácio. O atual pilar da família real não é tão inocente para facilmente abraçar a esperança, nem são corajosos o suficiente para tomar uma decisão resoluta para aceitar a reforma.
— Então ela seria esmagada?
— Sim. Dificuldades não tornam as pessoas apenas teimosas, como também as tornam cabeças duras e cruéis.
— De fato. Você está certo.
Não pude deixar de concordar. A evidência óbvia está na própria realidade. A verdade horrível que mais hesitava em falar. O presente amaldiçoado que temos que enfrentar agora que sobrevivemos, a Fronteira.
A Fronteira é um lugar no limite das terras infestadas por monstros, onde pessoas eram enviadas para buscar por terrenos férteis. É algo importante. Algo necessário. Um projeto nacional com a dignidade da nossa raça em risco, avançando as fronteiras do território humano. Uma posição ofensiva para o futuro da nossa raça, com poderio militar, igreja e plebeus trabalhando juntos.
Pelo menos, era assim que deveria ser. A verdade é que qualquer um ali foi largado para se virar, como aconteceu na batalha mais recente. Tornou-se basicamente um método de controle populacional através de presas e garras de monstros. E, se já não bastasse, as pessoas na Fronteira eram tratadas como escudos humanos. Nossos sacrifícios mantinham as terras deles seguras.
Isso é realmente necessário? Essa é a única maneira de manter a ordem? É irritante e triste. É o suficiente para deixar um homem dormente.
— Deus, ao nos garantir este milagre, graciosamente escolheu esse lugar como palco… a Fronteira, o local da tragédia humana.
Padre Felipo olha para mim. Não consigo desviar o olhar enquanto espero ele voltar a falar.
— Então, não é adequado que este se torne o nosso local de nascimento? O local de nascimento da nossa resistência. Nossa luta. Nosso desafio. Nossa ação. Nossa salvação! Em outras palavras, uma das coisas mais magníficas… Revolução!
A língua dele move-se rápido. Até mesmo eu tremo as pálpebras. Alegria pulsa dentro de mim.
— É como um banho.
— Minha nossa, essa veio do nada. Poderia explicar?
— O mundo é terrivelmente frio, mas não é necessário mergulhar de cabeça em Sua graça. Primeiro coloca a ponta dos dedos em um banho quente, então desliza para dentro. Lentamente, deixa o calor espalhar-se pelo seu corpo até chegar às bochechas. Isso te dá forças para continuar no dia seguinte.
Bastante esperto, se posso dizer. O que ele pensa?
— Isso é, hmm, como devo dizer… Um ponto de vista bastante simples que trai a nossa idade. Ahem! De qualquer forma, obrigado, Lorde Willow, por continuar a apoiar o banho da purificação da nossa igreja.
— Hm? Não, obrigado. É algo maravilhoso isso.
— Se acompanhasse os meus sermões, faria com que valesse a pena o aquecimento da água.
— Oh, por favor. Você chama as críticas sobre o livro sagrado de “sermão”?
— Isso foi no passado. Estou falando do futuro agora.
— Faz sentido. Se o dia em que posso ter um banho novamente chegar, virei para ouvir. — Nós dois rimos. Não importava quantos problemas se amontoassem, contanto que essa faísca de esperança continuasse no meu peito, poderia rir. Um silêncio agradável fez-se presente, então faço a pergunta que tinha em mente: — A propósito, o que são essas coisas no cesto que está carregando? Parecem ser documentos oficiais.
— São vários formulários de pedidos. Queria que o capitão do exército da Fronteira os assinasse e os selasse.
— Hmm. Se julgar necessário, Padre, não o questionarei… — Inspeciono os documentos. Dirigidos ao quartel da Fronteira, são coisas como pedidos de suprimentos, mais tropas e reforços de todas as terras fronteiriças, avisos aos vizinhos, solicitações de apoio de vários mercadores influentes, mais equipes da Guilda dos Mercenários e Guilda dos Aventureiros, relatórios de pesquisa para a Guilda dos Feiticeiros e propostas de entrevistas à Guilda do Jornal.
Cada documento lista, em detalhes, o número e a variedade de monstros enfrentados na nossa batalha recente. Apenas duas cartas estavam endereçadas para locais específicos. Uma era para a Grande Igreja. Suspeito que o conteúdo teria mudado dependendo da minha resposta. E, mesmo assim, ele ainda buscou a minha assinatura e selo primeiro. Em outras palavras, estava insistindo na carta branca para qualquer coisa relacionada à igreja.
A outra era para a casa Willow. Ele queria ver a minha convicção.
— Vamos tocar o sino primeiro e ouvir suas [1]reverberações.
Maldito. Age todo inocente.
— Tudo começa aqui. Vamos colocar nossos corações em ordem.
Notas:
1 – Reverberações: O mesmo que ecos ou reflexões.⇧
Tradução: Taiyo
Revisão: Midnight
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