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O Começo Depois do Fim – Cap. 74 – Último Suspiro de Uma Vontade

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POV CYNTHIA GOODSKY

O Conselho entregou esta dog-tag adamantina simples, gravada com as iniciais do proprietário, para cada uma das Seis Lanças. Essa ideia foi concebida pelos próprios membros das Seis Lanças. Quando solicitaram isso, explicaram ao Conselho que precisavam de algo feito de um material quase indestrutível para que, mesmo que seus corpos fossem obliterados, o colar continuasse intacto e fosse usado como uma espécie de identificação. Seria uma lembrança para eles. Uma espécie de lembrete sombrio de que podem morrer a qualquer momento. Em contraste com os rostos sombrios das Seis Lanças, lembro-me distintamente de que o Conselho havia brincado com eles, perguntando se havia algo sequer capaz de destruir seus corpos além do ponto de reconhecimento. Lembro-me de rir ao lado deles, embora soubesse… mesmo sabendo disso… havia seres capazes de exterminar as Lanças coroadas da face deste planeta. Mas por que… por que estou vendo essa dog-tag tão cedo? Era muito cedo. Eles não deveriam se mover agora. Estimei que levaria pelo menos mais quinze a vinte anos antes que começassem a se mover. Achei que tinha tempo. Achei que tivéssemos tempo… 

— Diretora? 

A voz curiosa de Arthur me tirou do meu torpor. 

— Ah, sim… Arthur, você se importa se eu segurar isso? Seria seguro para mim presumir que o Conselho iria querer isso de volta. 

Observei cuidadosamente o tom da minha voz para ter certeza de não levantar suspeitas de Arthur. O menino era anormalmente astuto. 

— As coisas estão mudando, não estão…? 

Era para ser uma pergunta, mas pelo tom da voz de Arthur, parecia uma declaração com convicção implícita. É sensato eu contar a ele? Ou melhor, ele já sabe de alguma coisa? 

— Sim, mas não é algo com que você se preocupe. Pelo menos ainda não. 

Eu sabia que meu sorriso e palavras reconfortantes não o alcançaram. 

— Arthur, você pode esquecer às vezes… inferno, até eu tendo a esquecer às vezes… mas você ainda é uma criança. Você é uma criança forte com potencial ilimitado, sim, mas uma criança mesmo assim. Deixe que nós, adultos, assumamos o fardo por enquanto. Sua hora chegará, queira você ou não. 

Enquanto falava isso, percebi que essa mensagem era mais para mim do que para Arthur. Sim, ele é uma criança. Não seria justo que ele se envolvesse nos assuntos do continente… mas se ele já sabe … 

— Você talvez… viu a coisa contra a qual Alea lutou? 

Tive que escolher minhas palavras com cuidado para ter certeza de que minha pergunta não denunciasse nada. 

— Não, não vi. 

A resposta foi dita com total confiança, mas por algum motivo, sua resposta me fez duvidar. No entanto, não adianta suspeitar do menino. Não faria sentido ele esconder nada sobre um evento como este. Ainda assim… estou feliz que ele não parece ter descoberto nada. 

— Entendo… bem, é o suficiente sobre este assunto. Você deve se preocupar como todos estão..

Deixei escapar um sorriso suave e aliviado quando disse isso. 

POV ARTHUR LEYWIN

A resposta da diretora de alguma forma deixou um gosto ruim na minha boca. Ela parecia quase… aliviada com a minha resposta. 

— Sim, como estão todos? 

No final, decidi seguir em frente. Não havia sentido em ser cético em relação a todos ao meu redor. Vou apenas assumir que ela pulou a parte de perguntar os detalhes por minha causa. 

— Como você já deve ter deduzido, seus colegas não ficaram muito feridos. Nós os mandamos para a enfermaria da guilda para serem cuidados e, felizmente, a maioria pôde vir para a academia hoje. A Professora Glory foi na verdade a mais ferida, mas se recusou a ser curada até que todos os seus alunos fossem tratados. Ouvi dizer que ela até fez uma visita à sua família para notificá-los do seu desaparecimento depois de transportar todos de volta. 

A Diretora Goodsky deu uma risadinha. 

— Isso é bom, isso é bom… e como está Tess? 

Perguntei. O rosto de Goodsky enrugou-se um pouco quando demonstrou uma hesitação óbvia. 

— Tess… Tess está bem. — respondeu. 

Poderia dizer que ela escolheu as palavras com cuidado. 

— O que exatamente você quer dizer com isso?

Levantei uma sobrancelha, pedindo uma resposta adequada, enquanto uma sensação desconfortável começava a se agitar dentro de mim. 

— Houve algumas… complicações… nos estágios finais de sua assimilação. Virion está atualmente cuidando dela, mas ainda não acordou. 

Sua voz estava baixa enquanto falava. 

— Complicações? 

Minha voz saiu um pouco mais feroz do que eu pretendia. 

— Você precisa entender que a etapa final da assimilação é quando a Vontade Bestial mais luta. Agora mesmo, Tessia e o Guardião Elderwood estão lutando pelo controle. Até agora, nunca houve um caso em que o usuário da Vontade entre em coma a tal ponto. Com base em nossa teoria, parece haver algo especial sobre a Vontade Bestial que você deu a ela, Arthur.

Respondeu Goodsky seriamente. O quê… foi minha culpa? Eu coloquei Tess em perigo…? Uma enxurrada de pensamentos passou pela minha mente enquanto eu tentava pensar em uma explicação para o porquê de tal coisa ter acontecido. Havia algo em particular sobre o Elderwood? O que era isso? Sim, era forte, mas era mais forte do que outras bestas de mana classe S? Não iria saber, já que essa foi minha primeira vez lutando contra uma. Especial…? Minha mente voltou para a masmorra e, mais especificamente, o que Alea tinha me contado. Ela havia mencionado que os demônios com chifres negros estavam fazendo com que os monstros se transformassem e se tornassem mais fortes. Foi isso que aconteceu? Eu dei a Tess um núcleo de besta potencialmente corrompido? Não, eu não poderia. Lembro-me de Alea explicando como o núcleo bestial da serpente que ela derrotou havia desaparecido misteriosamente. Isso não deveria ter acontecido com o núcleo bestial do Guardião Elderwood também? 

— Arthur? Você está bem? 

A voz preocupada da Diretora Goodsky me tirou do profundo abismo dos meus pensamentos. 

— Sim, só pensando. 

Expressei, enquanto meus olhos vidrados na visão noturna da cidade. 

— De qualquer modo, Virion está atualmente cuidando dela em sua sala de treinamento. Você gostaria de visitá-los agora? 

Diretora Goodsky me deu um sorriso tranquilizador. 

— Sim, eu gostaria. 

— Mmm… então vá em frente porque, mesmo eu, não fui informada sobre a situação. Virion não deixou ninguém entrar, mas sinto que você será uma exceção. Devo fazer uma viagem até o Conselho para informá-los do que aconteceu. 

Goodsky de repente parecia infinitamente mais velha quando mencionou o Conselho. 

— Está tudo bem para o vovô Virion não estar presente durante a reunião do Conselho? — perguntei. 

A diretora Goodsky balançou a cabeça antes de responder: 

— Virion não está em condições de ser incomodado com este assunto, já que sua preciosa neta está inconsciente. E além disso, ele estar lá com Tess é a única razão pela qual Alduin e Merial podem ficar longe de sua filha e permanecer com o Conselho. 

— Entendo. Ok, bem, espero que você me mantenha informado sobre este assunto. 

Fiz meu caminho até a porta. 

— Minha única preocupação é que você precise se envolver muito mais desta vez do que gostaria. 

A Diretora Goodsky deu um suspiro antes que uma rajada de vento a envolvesse e a levasse embora.

Enquanto descia de elevador, Sylvie acordou de seu sono. 

— Eu sinto a mamãe.

Enquanto caminhava lentamente em direção à sala de treinamento que havia sido designada para mim, meus pés pareciam pesar muito mais do que deveriam. Não sei como reagiria se Tess se machucasse. A única razão pela qual achei que não era necessário visitar todos imediatamente foi porque presumi que todos estariam seguros. 

— Eu disse que sinto a mamãe!

Sylvie bateu na minha testa com a pata. 

— Eu sei! 

Acenei com a pata dela antes de voltar meu foco para a gigantesca entrada de porta dupla que se aproximava. 

— Ai. A pele sob meu anel dimensional de repente queimou como se algo dentro dele quisesse sair. Ignorando, já que tinha assuntos mais urgentes, coloquei minhas mãos na superfície da porta e a abri. 

*FWOOOOOM* 

Assim que a porta se abriu, uma aura sinistra desconhecida surgiu visivelmente em uma tentativa de me prender. Esta névoa escura parecia milhares de trepadeiras espinhosas enquanto envolvia meus braços e pernas. 

— QUEM É O… ARTHUR? 

Em meio à onda visivelmente escura que emanava de um ponto focal específico, ouvi a voz rouca do vovô Virion explodir. 

— Sim, sou eu, vovô! O que está acontecendo? 

Gritei além do som do que me lembrou da quebra das ondas do oceano contra um penhasco. 

— Deus, estou feliz que você ainda esteja vivo, pirralho. Acho que estou ficando um pouco grato por sua tenacidade de barata, HAHA! Venha aqui, preciso da sua ajuda! 

Ainda confuso com o que estava acontecendo, optei por ignorar a metáfora ligeiramente insultuosa do vovô e caminhei com cuidado em direção a ele. A aura estava ficando mais forte e eu senti minha pele começar a sangrar com pequenos rasgos, que cortaram minhas roupas. Ordenando que mana protegesse Sylvie e eu, fiz meu caminho em direção à fonte da aura usando a figura nebulosa do vovô Virion como guia. Cada passo parecia que eu estava empurrando contra uma parede reforçada.

— O que diabos… Tess?! 

Quando cheguei mais perto, podia vagamente ver a figura, deitada na frente do vovô, que era a fonte dessa aura. Quando finalmente alcancei o vovô Virion, estremeci com a dor lancinante causada pelo meu anel dimensional que parecia ter ficado mais forte. Vovô não estava em boa forma. Seu rosto pálido estava encharcado de suor enquanto tentava ao máximo suprimir a aura opressora que emanava de Tess, mas sem sucesso. Dei uma olhada mais de perto e o que vi fez meus olhos se arregalarem de surpresa. Gavinhas de videiras envolviam completamente a figura que presumi ser Tessia. A espessa aura escura tornou difícil entender o que era até agora. 

— Quanto tempo se passou lá fora, pirralho? Acho que estive segurando essa aura nojenta pelo último dia ou depois, depois que ela voltou da masmorra. 

Ele me deu uma risada cansada.

 — O que está acontecendo com ela, Vovô? 

Eu não me lembrava de nada parecido acontecer quando eu estava assimilando a Vontade do Dragão de Sylvia. 

— Honestamente, não tenho certeza. Normalmente, o objetivo da assimilação é permitir que o corpo do hospedeiro gradualmente suporte e controle a força de Vontade Bestial, mas, neste caso, parece ser o oposto. Estou começando a me preocupar que a vontade dessa besta esteja tentando assumir o controle do corpo de Tess. 

A voz trêmula do vovô Virion estava cheia de inquietação… 

— Como isso é possível? Nunca ouvi falar de algo assim acontecendo. 

Minhas sobrancelhas franziram enquanto eu contemplava uma possível causa. Meus pensamentos continuavam voltando para as bestas de mana que foram corrompidas pelos demônios de chifres negros. 

— Eu não tenho tanta certeza, pirralho. Eu sinto que aquele Elderwood que você lutou pode ter sofrido uma mutação. 

A voz rouca de Virion indicou que ele estava provavelmente no seu limite. Estava pronto para assumir o vovô, ignorando a sensação de queimação do meu anel que estava evidentemente ficando mais dolorida. Aconteceu antes mesmo de minhas mãos tocarem a superfície do casulo em que Tess estava. Eu pude reconhecer instantaneamente o som de carne se rasgando enquanto instintivamente desloco meu corpo na esperança de me esquivar a tempo. 

— KYU!!! — kyunês: — PAPAI!

— EEEI, ARTHUR! 

As vozes de Sylvie e Virion soaram abafadas pelas batidas dos meus tímpanos.

 


 

Tradução: Reapers Scans

Revisão: Reapers Scans

QC: Bravo

 

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