POV ARTHUR LEYWIN
Era uma sensação estranha voltar ao grande salão dos Indrath. Eu tinha acabado de sair de lá, e ainda assim toda a paisagem de ambos os mundos havia mudado no espaço de uma hora. Não apenas falhamos em capturar Agrona, como ele revidou, rasgando a fenda que conectava a dimensão de bolso de Epheotus ao mundo físico. Embora minha nova runa divina não estivesse mais ativa, eu ainda podia sentir a ferida no céu lá fora, como a pressão de uma tempestade que se aproxima.
O grande salão já estava começando a se encher novamente. Pelo que parecia, algumas pessoas nem sequer haviam saído, enquanto outras correram de volta assim que a ferida apareceu. Sylvie, sabendo que eu estava chegando, trouxe minha mãe e minha irmã para ficarem perto da porta e esperarem.
Chul ficou por perto com algumas das fênix que já haviam chegado. Ele me lançou um sorriso, mas seu olhar logo voltou para Naesia Avignis, filha de Novis.
— Eu os mantive informados sobre tudo o que você fez, tanto quanto pude — pensou Sylvie enquanto eu entrava na câmara cavernosa.
Mamãe veio correndo até mim. Em vez de me envolver em um abraço, encostou a testa contra meu peito e então bateu levemente no meu ombro com um punho fraco.
— Por que, ah, por que você sempre tem que estar no centro de tudo, Arthur?
Não consegui sorrir, mas forcei uma expressão tensa e fechada que lembrava um sorriso.
— Eu sou o centro do universo, mãe.
Ela soltou uma risada engasgada e sem humor antes de, enfim, me envolver nos braços.
— O que você vai fazer?
Por cima da cabeça dela, observei mais asuras adentrarem o salão. Aqueles de clãs distantes que não haviam participado da celebração anterior estavam começando a chegar, misturando-se aos dragões e convidados que estiveram em outras partes do castelo. Vireah, do clã Inthirah, estava entre eles. Ela rapidamente examinou o salão e encontrou meu olhar. Mordendo o lábio em uma expressão preocupada, assentiu antes de ser levada pela multidão que se acumulava.
— Eu preciso encontrar Agrona — murmurei.
Minha mãe deu um passo para trás, enquanto Ellie deu um passo à frente.
— O quê? — disseram as duas ao mesmo tempo.
Coloquei uma mão sobre cada um de seus ombros.
— Sempre acabaria se resumindo a isso, mas preciso que vocês fiquem aqui. — Inclinei-me e baixei a voz. — Não há mais volta para o que está acontecendo lá fora. Fiz alguns progressos aqui, especialmente com os asuras mais jovens, mas… — Foquei em Ellie, e ela sustentou meu olhar sem hesitação. — Simplesmente não tive tempo suficiente. Você terá que continuar o que comecei. Agora vocês duas representam todos os humanos, elfos, anões e alacryanos daquele mundo. Apontei para cima, para onde podia sentir a fenda lutando contra o espaço que eu havia dobrado. — Tudo bem?
Mamãe puxou Ellie para mais perto, incapaz de esconder o terror no rosto. Ellie, embora um pouco pálida, manteve-se firme. Seu lábio se apertou, e ela me lançou um único aceno sério.
Pelo canto do olho, vi Veruhn entrar no grande salão como uma tempestade, com Zelyna logo atrás. O antigo Leviatã movia-se com uma velocidade e determinação que nunca havia visto antes.
— É verdade? — perguntou ele, parando à minha frente e respirando pesadamente. — Sobre Agrona e Khaernos Vritra? A pérola? Ele agarrou meu ombro com uma força surpreendente para alguém tão visivelmente envelhecido. — É verdade, Arthur?
Olhei ao redor antes de responder, identificando vários asuras prestando atenção demais na nossa conversa.
— É — respondi, minha voz suave, mas tensa.
Para minha surpresa, Veruhn assentiu, seus olhos opacos movendo-se rapidamente de um lado para o outro. Sua mão caiu ao lado do corpo, e sua respiração ficou mais controlada.
— O que…
Antes que a palavra se formasse por completo, as luzes no grande salão brilharam em um branco intenso, e Kezess apareceu diante de seu trono. A sala agora estava lotada de asuras, e vi que todos os grandes lordes haviam chegado, até mesmo Ademir Thyestes. Kordri também estava presente. O musculoso panteão de quatro olhos tomou cuidado para manter distância igual entre seu lorde do clã e Lorde Indrath, a quem servia diretamente como instrutor de combate.
Sem que eu percebesse, o grande salão havia se tornado ensurdecedor, mas o barulho diminuiu com a mudança de luz. Kezess não perdeu tempo e desceu dois degraus do pedestal onde seu trono estava. Myre, que estava ao lado, deslizou graciosamente até ele e passou o braço pelo dele. Juntos, deram mais um passo à frente, e a iluminação branca intensa diminuiu, deixando-os sob um foco de luz que os destacava do restante do salão.
— Povo de Epheotus, não há necessidade de eu explicar por que esta reunião foi convocada — começou Kezess. — Cada um de vocês viu a grande ferida no céu e, a esta altura, a maioria também deve ter ouvido que ela foi resultado de um ataque direto de Agrona Vritra.
Nem mesmo a presença de Kezess conseguiu conter a onda de medo e frustração que se seguiu a essas palavras.
— Por favor, Lorde Indrath! Diga-nos o que devemos fazer para…
— …impedir que Epheotus sangre pela ferida…
— …aqui quando deveríamos estar nos preparando para…
— …então, o que você vai fazer?
— Silêncio! — A palavra ressoou pelas paredes e ecoou várias vezes, mas foi Lorde Thyestes, não Kezess, quem avançou, lançando um olhar severo aos asuras reunidos. — Nosso mundo está sangrando, e vocês, representantes de nossos supostamente grandes clãs, cacarejam como filhotes de wyvern e imploram ao seu senhor? O que ele vai fazer?
Ademir estalou a língua, um ruído estranhamente violento vindo dele.
— O que vocês vão fazer, irmãos? O que estão fazendo aqui, agora? — De repente, o panteão se virou para Kezess. — Por que nos reuniu, Indrath? Por que estamos aqui em vez de lá fora, lutando para fechar a ferida no céu; ou, se necessário, preparando-nos para fugir de nossas casas?
Kezess encontrou o olhar de Ademir, e a força de suas personalidades opostas era palpável. Ao meu lado, Ellie estremeceu e deu um passo para trás. Eu a apoiei com uma mão em suas costas.
— Estamos todos aqui — começou Myre, desviando suavemente a atenção do embate que ocorria à nossa frente — exatamente para não sucumbirmos ao medo e à dúvida. Ela sorriu, seu rosto jovial radiante. — Agrona há muito torna difícil e perigoso persegui-lo, mas, como a maioria de vocês sabe, nossa grande família asura cresceu mais uma raça.
A maioria dos presentes no salão se virou para me observar ou a meus companheiros, meu clã, lançando olhares que variavam entre esperança, medo ou confusão. Contudo, quando Myre continuou a falar, toda a atenção voltou-se para ela:
— O grande lorde Arthur Leywin, da raça arconte, representa uma nova e melhor esperança para garantir justiça por este ataque grotesco cometido por Agrona, do banido Clã Vritra…
— Sim, meu irmão de vingança! — A voz de Chul ressoou, rompendo o silêncio como uma avalanche.
Kezess prosseguiu sem reconhecer a interrupção de Chul.
— E enquanto ele retorna ao seu mundo de origem, estejam certos de que o clã Indrath trabalhará diligentemente para garantir que a ferida seja fechada.
— Vocês estão enviando um humano atrás de Agrona Vritra? — perguntou alguém, a voz se perdendo na multidão.
— Não — disse Kezess, sua voz abafando os murmúrios que começavam a se espalhar pelo salão. — Estamos enviando um arconte para lidar com Agrona Vritra. Lorde Arthur passou grande parte de sua vida combatendo os esforços de Agrona contra o povo de seu mundo, protegendo Epheotus à distância, e ele é singularmente adequado para garantir que a justiça seja feita. Quanto a nós…
— Perdoem-me, lorde e lady — interrompeu Lorde Thyestes. Seu tom não continha qualquer traço de desculpa. — Certamente não nos reuniram aqui… apenas para mentir para nós?
O salão mergulhou em um silêncio absoluto. Mamãe me olhou, nervosa; fiz um gesto indicando que tudo ficaria bem.
— Parece que as coisas podem ficar interessantes antes de partirmos — pensou Regis, seus olhos brilhando em antecipação.
— Esse não é o tipo de “interessante” de que precisamos agora — lembrou Sylvie. A mesma inquietação que fervilhava sob a superfície através de nosso vínculo era tangível no salão, refletida claramente na linguagem corporal dos mais de cem presentes. — O que Thyestes está pensando?
Essa pergunta fez com que eu percebesse. Meus olhos se estreitaram enquanto eu focava em Kezess, que, depois de apertar suavemente a mão de Myre, afastou-se dela. A luz pareceu diminuir e se concentrar ainda mais, de modo que apenas Kezess estava completamente iluminado.
— Mesmo agora, Ademir, você está resignado a essa farsa de procurar culpados? — Os lábios de Kezess se curvaram, revelando os dentes como um animal. — Este não é o momento para suas provocações. Você dividiria nosso povo exatamente no momento em que…
— Busca por culpados? — Ademir zombou. — Provocações? Se estou descontente, meu lorde, é com sua liderança falha. Por muito tempo você…
— Panteões! — Kezess gritou, sua voz se transformando enquanto reverberava pelas pedras do castelo, o rugido pleno de um dragão. — Suas casas podem em breve despencar através da ferida e cair sobre as costas de Dicathen! Atualmente, os clãs Leywin e Indrath estão trabalhando para evitar tal destino, e, ainda assim, sua liderança busca usar este momento para nos derrubar em benefício próprio!
Ademir se enfureceu. O olho roxo brilhante no lado direito de sua cabeça cravou-se diretamente em mim quando ele disse:
— Mesmo durante o fim do nosso mundo como o conhecemos, Kezess Indrath busca encontrar a melhor posição, com seu calcanhar sobre nossos pescoços.
— Basta — respondeu Kezess, sua voz voltando a ser fria, quase desprovida de emoção. — Isto é uma emergência. Não temos tempo para tais disputas. Eu peço a remoção imediata do Clã Thyestes de seu papel como grande clã dos panteões. — O salão explodiu em clamores de descontentamento e gritos furiosos. — Esse papel será preenchido assim que Epheotus não estiver mais em perigo mortal.
Fechei os olhos com força. Ademir tinha razão, é claro. Aquilo era uma manobra calculada por Kezess. Era quase inacreditável que ele fosse tão mesquinho, mesmo no meio do colapso de seu maldito mundo. Quase.
E ainda, ao remover Ademir, ele solidifica a liderança asura e cria um ambiente onde outros clãs panteões podem trabalhar mais para ganhar seu favor, na esperança de ascender ao posto de grande clã.
As mãos de Ademir se contraíram em direção à sua arma, e por um instante todo o salão pareceu equilibrado na lâmina de uma faca, onde uma única palavra errada, sussurrada no ouvido errado, bastaria para inclinar a balança rumo à violência.
Rangendo os dentes, ativei o God Step, e os caminhos do éter me levaram através da sala em um instante. Apareci entre Kezess e Ademir, envolto em relâmpagos etéreos que subiam pelos meus braços e desciam pelas minhas pernas. O Realmheart fez meu cabelo flutuar, e a coroa de luz representando o Gambito do Rei pairou sobre minha cabeça.
— Seu lar está morrendo. Lancei um olhar longo e firme para os asuras reunidos no grande salão. — Lorde Indrath quer que todos vocês voltem para suas casas. Mantenham seu povo calmo. Preparem-nos para o que está por vir. Porque seu povo está aterrorizado, e quando deuses ficam com medo, coisas ruins… coisas estúpidas, começam a acontecer. Fitei os quatro olhos frontais de Ademir. — Todos vocês! Sua tarefa agora é limitar essa estupidez enquanto aqueles que têm uma chance de consertar isso o fazem.
Os olhos de Ademir se fixaram nos meus. Eu não recuei. Ao redor, as pessoas estavam se movendo. Os sílfides, liderados por Lady Aerind, já estavam saindo voando da sala. As hamadríades também estavam se retirando do castelo, embora Morwenna tenha ficado. Novis ainda falava com seu povo, mas pareciam prontos para partir. Chul havia deixado as fênix e estava esperando com o resto do clã.
Finalmente, Ademir rompeu o contato visual. Ele se virou parcialmente, então hesitou, lançando-me um olhar de relance com seu olho roxo brilhante antes de completar o giro. Enquanto marchava rapidamente pelo salão, seu povo o seguiu. Muitos lançaram olhares carregados de fúria para trás. Após alguns segundos, Kordri se afastou e seguiu os outros Thyestes.
Os olhos tempestuosos de Kezess se voltaram para Kordri por uma fração de segundo, um olhar rápido demais para ser notado, não fosse pelo Gambito do Rei.
Eu me virei para Kezess.
— Isso foi mesquinho — sussurrei, de forma que apenas ele e Myre pudessem ouvir. Em voz alta, acrescentei: — Vou partir imediatamente. Deixo minha mãe e minha irmã sob seus cuidados. — Minhas sobrancelhas se levantaram levemente. — Confio que serão mantidas seguras e em ótimas mãos. — Mentalmente, enviei uma mensagem a Sylvie, que repetiu minhas palavras, de forma mais educada, para Veruhn e Zelyna.
— Belo discurso, Lorde Arthur — disse Kezess. — Boa sorte. — E isso, aparentemente, era tudo o que ele tinha a dizer, pois o lorde dos dragões se virou e marchou rapidamente, reunindo-se com um grupo de dragões liderado por Preah Intharah.
Myre abriu um sorriso largo.
— Vou acompanhá-lo até a saída — disse ela, estendendo o braço. Deixei que ela pegasse o meu, e seguimos em direção à saída. Sylvie, Regis e Chul se juntaram a nós. Regis se tornou incorpóreo e flutuou para dentro do meu corpo.
Ellie e Mamãe ficaram para trás, minha mãe agarrando o braço da minha irmã. Segurei o olhar de Ellie e arregalei levemente os olhos, como se pudesse transmitir tudo o que precisava ser dito apenas com um olhar. Não precisava preocupá-las ainda mais.
Então saímos do grande salão e marchamos por um corredor movimentado, repleto de tapeçarias, pinturas e estátuas. Não dei atenção, já tendo visto a maioria antes e me importando ainda menos naquele momento.
— Arthur, por favor, saiba que você não está sendo enviado sozinho — disse Myre, seu tom rico, mas suas palavras muito suaves. — Ninguém, e realmente quero dizer ninguém, entende a ameaça que Agrona representa melhor do que Kezess. Ele não pretende que você faça isso sem ajuda.
Ela não disse mais nada até chegarmos às enormes portas frontais que se abriam para a ponte de cristal.
— Tenho algo para você. — Ela estendeu a mão em minha direção, e devo ter ficado tenso, pois ela recuou. — Se me permitir? — O canto de sua boca se curvou em um sorriso irônico. — Afinal, sempre pode quebrá-lo caso não queira usá-lo.
Pensando que entendi, permiti que ela pressionasse uma mão em meu peito. O éter fluiu e dançou entre nós, se entrelaçando em meu núcleo, em meus canais, em meu próprio éter, amarrando-se e reamarrando-se até parecer intrinsecamente ligado a mim.
— A outra extremidade se conectará a Kezess — disse ela simplesmente, dando um passo para trás.
— Podemos confiar nesse “presente”? — perguntou Chul. Ele estava parado com as pernas afastadas e os braços cruzados, franzindo a testa para Myre.
Myre inclinou a cabeça levemente para o lado e olhou para ele com tristeza.
— Oh, filho dos djinn e dos Asclepius. Nós erramos tanto com você. — Sua voz falhou, e ela teve que fazer uma pausa para engolir a emoção. — Eu ficaria surpresa, na verdade, se você não desconfiasse de nós. — Sua mão se estendeu, e ela pegou meu queixo. A mão, percebi, estava enrugada com a idade. — Você pode confiar em mim, Arthur. Por favor.
Suas palavras alcançaram algo dentro de mim, agarraram algo frio e reprimido, e o racharam… a barreira de desconfiança que eu havia erguido desde que descobri a verdade por trás do genocídio dos djinn.
O Gambito do Rei ainda estava ativo. Eu já havia absorvido os detalhes do momento, catalogando cada aspecto de sua fisicalidade, seu tom, cada indicador de honestidade ou engano que aprendi em ambas as vidas.
Segurei seu pulso e abaixei delicadamente sua mão para longe do meu rosto
— Veremos, não é? — No fim, me permiti dar um pequeno sorriso. — Por Sylvia.
Não senti a mente de Sylvie, estava retraída, longe do Gambito do Rei, mas ouvi sua leve inspiração. Os lábios de Myre ficaram pálidos ao se pressionarem. Pelo jeito que seus olhos se moviam entre os meus, pela maneira como se endireitou e pela sutil mudança em suas sobrancelhas, eu soube que havia tocado um ponto sensível.
Ela minimiza a importância da morte de sua filha, mas Myre sentiu essa perda intensamente. Ainda sente. Eu revirei esse pensamento em minha mente, carregado por múltiplos fios da consciência aprimorada pela minha runa divina.
Myre assentiu e deu um passo para trás.
— Por Sylvia. — Seus dedos dançaram delicadamente no ar, e um portal se abriu diante da ponte. O portal dourado refletia a aurora vermelho-sangue. Suas bordas se desfaziam e torciam, e um olhar de concentração tomou conta do rosto jovial de Myre. — Vá, rápido. Está muito difícil mantê-lo aberto com a barreira entre os mundos nesse estado.
Ela hesitou, então acrescentou:
— Não se esqueça da minha ligação, Arthur.
Considerei como responder, percebi que não havia mais palavras a serem trocadas entre nós naquele momento e atravessei.
Um gancho de carne puxou dentro das minhas costelas, e soltei um grunhido de dor ao tropeçar na escuridão. Regis saltou da minha sombra tremeluzente, sacudindo-se e rosnando.
Girei, olhando para trás, para o portal, que desse lado se debatia e se retorcia violentamente. Quando Sylvie atravessou, ela ofegou e seus olhos reviraram para trás. Agarrei-a, impedindo-a de cair.
— Calma, Sylv, está tudo bem — falei consoladoramente, puxando-a para perto de mim. — Foi só o portal.
Antes que ela tivesse se recuperado, Chul saiu do portal também. Ele praguejou e cuspiu um pouco de sangue, então se virou e encarou a fenda no espaço.
— Bah! Que diabo de truque é esse?
— Estou bem — disse Sylvie, se desvencilhando de mim. Enquanto falava, o portal se rasgou em pedaços e desapareceu completamente. — Parece que vai ser bem difícil voltar para Epheotus.
Regis bufou.
— Voltar? E precisamos? Estará aqui conosco logo logo.
Chul limpou o sangue dos lábios e disse:
— Vamos torcer para que não, meu pequeno amigo lupino.
— Ei, quem você está chamando de “pequeno”? — perguntou Regis, embora não estivesse realmente só brincando. Ele já estava olhando ao redor, para o lugar onde aparecemos. — Oh, ei, olha só aquilo.
Todos nós olhamos na direção em que seu focinho apontava.
Percebi que estávamos em uma vasta caverna. Apesar de estar no subterrâneo, a caverna era bem iluminada por dezenas de luzes flutuantes. Meus pés afundaram em um denso tapete de musgo, e as paredes estavam igualmente verdes, cobertas por musgos e trepadeiras.
Minha atenção não foi para a grande árvore que crescia no centro da caverna, mas sim para o bosque de árvores muito menores alinhadas ordenadamente na outra extremidade, fazendo parecer ainda mais com o bosque que dava nome ao lugar.
Myre nos enviou direto para Vildorial, e para…
— Tess! — Sylvie exclamou quando Tessia apareceu contornando o tronco da árvore, franzindo a testa em nossa direção.
As mãos de Tessia estavam parcialmente levantadas, e mana estava se condensando ao redor dela. O feitiço que ela estava preparando foi liberado em um instante, e um sorriso largo se espalhou por seu rosto. A expressão quebrou quase tão rápido quanto apareceu.
— Vovô, Arthur e Sylvie estão aqui — disse, sem conseguir disfarçar o cansaço em sua voz.
Corri em sua direção, desativando o Realmheart e o Gambito do Rei. Quando me aproximei, ela parou. Um leve tremor percorreu suas pontas dos dedos, subindo por seus braços e depois descendo pela espinha. Peguei suas mãos e as apertei com firmeza.
— Ah, Arthur… — Ela suspirou, mordendo o lábio. — Todo mundo está com tanto medo. Lady Seris disse que você provavelmente chegaria em breve, mas…
Minhas sobrancelhas se ergueram de surpresa.
— Seris está aqui?
Tessia acenou com a cabeça, seus dedos deslizando entre os meus para entrelaçar nossas mãos. Ela ergueu a mão direita e a minha esquerda, e olhou para elas com profunda consideração.
— Cerca de uma hora depois daquela… coisa aparecer no céu. Ela diz que Agrona fez algo. — Seu rosto se contraiu em uma leve expressão de preocupação. Você pode…?
Neguei com a cabeça. Sylvie e Chul haviam se aproximado, e meu vínculo se moveu para dar a Tessia um abraço firme. Chul ficou a uma distância respeitosa, enquanto Regis dava voltas ao redor da árvore.
Tessia deixou seu foco vagar brevemente, observando os outros.
— Então vocês estão aqui por Agrona.
Antes que pudesse responder, uma fruta rosa do tamanho de uma nectarina voou em minha direção. Tive que puxar Tessia para o lado, como se estivesse dançando com ela, para pegar a fruta no ar. Uma segunda fruta voou em direção a Regis, que a pegou e engoliu sem mastigar. Mais duas voaram em direção a Sylvie e Chul. Sylvie riu ao pegá-la suavemente, mas Chul desviou da sua, e ela atingiu uma pedra com um barulho molhado, espirrando suco pelo chão.
Virion deu uma mordida na própria fruta e sorriu de maneira sombria.
— As nuvens se juntam e o corvo da tempestade voa em ventos amargos, hein, garoto?
— Vovô — falei, sentindo uma onda de sentimentalismo.
Virion se aproximou e tocou sua testa na minha, depois beijou Tessia na lateral da cabeça, seus olhos pousando em nossos dedos entrelaçados.
— Estou feliz que você esteja aqui, embora esteja perdido sobre o que vai fazer a respeito daquilo. — Ele gesticulou para o teto.
Eu olhei para cima, para a cúpula de obsidiana, brilhando ao refletir o calor das luzes flutuantes. Em algum lugar além, acima das areias do deserto Darv, a mesma ferida visível em Epheotus se estenderia pelo céu aqui.
— Se Lady Seris estiver certa, ela se estende até Alacrya. — Virion disse, balançando a cabeça. De repente, ele me deu um tapa forte no bíceps. — De qualquer forma, todo mundo está, compreensivelmente, perdendo a cabeça. É bom que você tenha chegado antes que alguém fizesse algo realmente estúpido.
Considerei o interessante paralelo entre as palavras de Virion e as minhas ao falar com os asuras mais cedo.
— Temos alguém em condições de lutar? O batalhão de quimeras? Guilda dos Aventureiros?
— Ele vai atrás de Agrona — disse Tessia, meio exasperada, meio orgulhosa.
— Claro que vai — disse Virion, olhando para o horizonte com um ar pensativo. — Melhor informar Seris e os lordes anões imediatamente.
— Eu vou — disse Sylvie, já caminhando para trás, em direção à única pequena entrada da caverna. — Vou te dar trinta minutos. — Ela me deu um sorriso cheio de significado, então girou nos calcanhares e partiu. — Regis, você deveria descer para os laboratórios profundos e buscar Wren Kain e Gideon.
Ele revirou os olhos e começou a caminhar atrás de Sylvie.
— Buscar? Tá me achando com cara de golden retriever?
Virion deu a volta em nós para olhar para Chul.
— Uma do seu clã está aqui. Soleil, a curandeira. Ela tem estado…
— Ah, Soleil? — Chul interrompeu, ficando alerta. Ele perdeu o foco por um momento, provavelmente procurando pela assinatura de mana dela, então voltou a si e deu alguns passos antes de parar bruscamente. — Meu irmão Arthur, gostaria de sua permissão para procurar minha irmã de clã. Estou ansioso para saber o que traz uma Asclepius para fora do Santuário, assim como para saber mais sobre o que Mordain está planejando.
Reprimi um sorriso e, em vez disso, fiz uma reverência solene.
— Claro, Chul. Eu também gostaria de saber o que Mordain pode fazer para ajudar.
Ele retribuiu meu gesto com uma seriedade engraçada e saiu correndo, seus passos pesados audíveis até quando começou a descer as escadas em espiral que levavam de volta a Lodenhold, o palácio dos anões.
Ainda segurando a mão de Tessia, caminhei em direção à fileira de árvores.
— Elas cresceram bastante desde a última vez que estive aqui.
— Ah, nem se dê ao trabalho — disse Virion, resmungando. — Ambos sabemos que você não está aqui para conversar com um velho sobre arboricultura. — Ele se virou para ir embora, voltando para a casa na árvore nos galhos da grande árvore central. Por cima do ombro, acrescentou: — Quando terminar de beijar minha neta, espero que possa arranjar dez minutos para seu velho mentor antes de sair correndo para salvar o mundo de novo.
— Vovô! — Tessia exclamou, escandalizada.
Apesar disso, sorri, e por um momento, o peso de tudo que ainda me esperava lá fora pareceu mais leve.
— Não o recompense ficando chocada. Ele só fará isso mais vezes.
Ela sacudiu o cabelo prateado e soltou um suspiro de resignação.
— É verdade. Ele tem me provocado sobre você desde que eu tinha, o quê, cinco anos? — Ela ficou mais séria. — Nossa, isso parece ter acontecido há várias vidas atrás.
Parei, puxando sua mão para que ela se virasse de frente para mim. Segurando seu rosto com as duas mãos, a puxei para um beijo. Ela ficou tensa, mas apenas por um instante antes de se inclinar. Ficamos assim, quase imóveis, duas estátuas presas em uma expressão terna de um amor conquistado lentamente, ambos ainda com medo de se entregar à paixão, mas temendo ainda mais se separar, com receio de que pudesse ser a última vez.
Eventualmente, porém, o beijo lento e congelado terminou. Tessia se inclinou contra mim e envolveu seus braços ao redor da minha cintura, sua cabeça repousando no meu ombro. Uma folha caiu de uma das poucas árvores de mais de três metros que estavam acima de nós, flutuou para baixo e ficou presa no seu cabelo. Eu a encarei, tão parecida com o pingente que lhe dei na noite em que fizemos nossa promessa sobre a Muralha.
— O que acontece agora? — Ela perguntou, seus braços se apertando ao meu redor, como se temesse que suas palavras me assustassem.
Havia algo profundamente íntimo em sentir suas mãos repousando contra minha coluna, onde as runas divinas repousavam adormecidas sob minha pele. Percebi que ainda havia uma barreira erguida, uma literal camada de éter endurecido entre nós, uma armadura que eu nunca tirava. Com um esforço, a retirei naquele momento, liberando o éter para ser reabsorvido em meu núcleo.
Tessia se moveu quando a barreira entre nós se dissolveu, detectando subconscientemente sua remoção, mesmo sem saber exatamente o que havia mudado.
Pressionei meu rosto em seu cabelo prateado e beijei o topo de sua cabeça.
— Eu estava pensando que talvez pudéssemos reconstruir a antiga casa dos meus pais em Ashber — falei. Meus dedos traçaram a pele macia de seu lado, levemente exposta onde sua camisa havia subido quando ela se pressionou contra mim. — Só que maior. Com muitos quartos de hóspedes.
Tessia deu uma risadinha, se aninhando em mim.
— Isso soa lindo. Gosto da ideia de ter muitos convidados. Mas… você sabe que não foi isso que eu quis dizer.
— Eu sei — falei em seu cabelo. — Mas… vamos falar de qualquer coisa que não seja Agrona, Epheotus e os asuras agora. — Brincando, a peguei no colo, girei e então nos deixei cair em uma cama de musgo grosso.
Ela gritou, me deu um tapa brincalhão e então pegou a parte de trás do meu pescoço, puxando-me para outro beijo, seus lábios se movendo experimentalmente sobre os meus.
E ali, por um tempo, simplesmente nos permitimos existir no abraço um do outro. Afastei os pensamentos da ferida no céu, da batalha que estava por vir, da tarefa impossível de salvar os asuras e seu lar. Juntos, por alguns minutos, simplesmente existimos.
Tradução: NERO_SL
Revisão: ***
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Comentários
Esse final me lembrou de um ditado “Saco vazio não para em pé” o menino Artur que esvaziar o saco antes da batalha kkk
Sabe muito
Estavamos precisando de um capítulo assim. Gostei!
Fofo
— Por Sylvia.
Duas palavras… Apenas nove caracteres, apenas isso, consegue trazer o peso de uma história linda e maravilhosa que chega aos seus 510 capítulos. A calmaria antes da tempestade, entraremos na caçada à Agrona, há mais de 200 capítulos atrás, Agrona invadiu a casa de Arthur e foi a sua caça, agora, os cenários se inverteram, Arthur irá atrás de Agrona em seu território pela sua cabeça, por Sylvia, por Reynold. Turtle, manda ver, estamos prontos!
Ele não fodendo com o nosso menino que já sofreu muito
Capítulo muito bom:
Esse panteão tá doido pra morrer atacando o Kezess no meio de todo mundo e querer briga num momento de necessidade o Kezess não perdeu tempo em tirar o comando do clã dele isso dando oportunidade pra outro comandar e esse daí trair Epheotus.
E o chull gritando no meio de todo mundo kkkk.
Bom ver o Arthur mostrando o que é capaz na frente de todos, já vi que vai dar alguma guerra civil em Alacrya.
Coitadas da Alice e da Ellie que pegaram a responsabilidade de lidar com os outros asuras.
Não gostei dele querer levar a silvie junto, depois da visão dele ter visto a silvie sendo possuida por agrona é os outros ataques onde os asuras desapareceram.
Espero que seja um bom presente esse que a Myre deu ao Arthur.
Muito bom ver o Arthur e a Tess com mais intimidade, coisa que já tava na hora.
Eu me derreto muito com esses dois meu deus. Minha esperança era Arthur ser reconhecido com Ademir e seu antigo mentor Kordri queria ver eles lutando amigavelmente.
Eu tô numa sessão de cinema e não sabia… Que capítulo meus amigos, que capítulo
Capítulo muito bom. Esse final de cap pareceu os últimos momentos dos dois juntos, espero que não.
Nice chapter. O dinheirista mais top que existe, mesmo focado no anime ainda tira tempo para escrever essa incrível obra. Só quem acompanha desde o inicio lembra da tensão que foi quando esse homi quase virou paletó de madeira.
Aí que fofo. Agora posso aguentar o desastre que vai acontecer. A Tortuguita nunca da ponto sem nó kkkkkkk.
Ademir ta ficando louco, só que Fezzes deixa qualquer um assim, o cara até na destruição do mundo quer se sair por cima, pelo amor de Deus né?! Esse momento fofo no final, finalmente o romance andando depois de 500 capítulos kkkkk