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O Começo Depois do Fim – Cap. 487 – Não é um presente

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— Vocês perguntaram, e eu vou responder. O poder que eu manejo é o próprio Destino.

 As palavras, carregadas com a ressonância do éter que as impregnava, pairaram pesadamente no ar.

A força total da minha intenção etérea pressionou com o peso de todo o meu poder, responsabilidades e medos, e com o Gambito do Rei ardendo brilhante e quente contra minha coluna, minha mente se fragmentou em dezenas de ramificações paralelas para processar cada possível fragmento de informação das respostas dos asuras.

Seus olhos, todos de cores diferentes, brilhavam com o reflexo da luz púrpura e dourada do éter que emanava pela minha pele e pela coroa flutuando acima do meu cabelo flutuante. Cada reação dos lordes asuranos carregava uma linha de surpresa genuína, mas cada uma também estava marcada por uma emoção particular, individual.

Bem à minha frente, Kezess revelou o mínimo sobre seus pensamentos através de sua expressão externa. Seus lábios estavam ligeiramente entreabertos e seus olhos dilatados por uma fração. Havia uma rigidez em seus ombros, descendo pelos braços até sua mão esquerda, que descansava sobre a mesa de madeira. Isso por si só demonstrava sua surpresa. Era o tremor dos pequenos músculos daquela mão e o escurecimento de seus olhos púrpura que revelavam sua raiva. Não era uma raiva furiosa que provavelmente explodiria os limites de seu controle, mas um amargor que registrei à distância como sendo mais problemático. Não por causa de qualquer perigo, mas porque eu não a compreendia totalmente.

À sua esquerda, Morwenna do Clã Mapellia, grande clã dos hamadríades, estava me dando apenas metade de sua atenção. Seus lábios estavam firmemente pressionados, destacando o sutil padrão de veios de madeira em sua pele. Ela havia se afastado da mesa, e os músculos de suas pernas, quadris e costas estavam tensionados como se estivesse pronta para saltar de pé se fosse ordenado. A cada meio segundo, seus olhos se voltavam para Kezess.

Ao lado de Morwenna, a líder dos silfos, Nephele do Clã Aerind, havia se afundado em sua cadeira. Sua boca estava aberta em um círculo quase perfeito, e um vento cortante soprava ao redor dela, fazendo seu cabelo e as roupas em forma de nuvem esvoaçarem. Seus olhos azul-acinzentados tinham ficado brancos como raios, e havia algo faminto neles que não consegui decifrar completamente.

Veruhn, logo à minha direita, não estava menos surpreso que os outros, mas dentro de sua surpresa, havia algo mais. Sob a influência do Gambito do Rei, eu não sentia nenhuma resposta emocional ao que via refletido na reação de Veruhn, mas reconhecia o que deveria ter sentido. Porque, através do ato de tio idoso e senil, sob o exterior débil que ele apresentava, havia um ser muito maior e mais antigo e, acima de tudo, mais feroz do que ele permitia que qualquer um visse.

Naquele instante, Veruhn não conseguiu esconder seu verdadeiro eu. Parte da cor desbotada retornou às cristas que corriam ao longo de sua cabeça, e havia um rubor púrpura em suas bochechas. As rugas suavizaram, e um sorriso sombrio e vitorioso brilhou em seu rosto. Até mesmo a Força do Rei dele aumentou, o leviatã oculto sob o velho enrugado lutando para ser libertado.

— E seres de luz desceram, trazendo consigo uma magia inimaginável. Trazendo consigo um poder terrível demais para ser contemplado. Se autodenominaram Deva, e eles, em seu poder, eram terríveis e inimagináveis. Eles marcaram o mundo com seu poder, e então partiram, para nunca mais voltar.

As palavras suavemente pronunciadas vieram de Lorde Rai do Clã Kothan, o basilisco que havia substituído Agrona entre os grandes clãs. Sentado à direita de Kezess, ele estava pálido como um fantasma, e suas mãos, entrelaçadas diante dele na grande mesa de madeira, tremiam.

— Silêncio — ordenou Kezess sem olhar para o basilisco.

As palavras de Rai espalharam ondas pela sala. Ao lado dele, o senhor das fênix, Novis do Clã Avignis, me observava com uma reflexão cautelosa, as sobrancelhas franzidas enquanto se remexia em sua cadeira, mas ficou rígido quando Rai falou, lançando um olhar nervoso para o basilisco pelo canto do olho enquanto Kezess ordenava silêncio.

Do outro lado de Rai, Ademir Thyestes cruzou os braços e bufou.

— Devemos todos nos envergonhar pela menção de fábulas e histórias de contos de fadas nesta mesa. — Contudo, com o Gambito do Rei ativo, pude ver a verdade. Os pelos no pescoço de Ademir se arrepiaram, e a respiração do lorde panteão era rasa e perturbada.  Ele lançou um olhar para fora de uma das janelas e, pelo foco de seus olhos, parecia estar olhando para algo muito distante. Seguindo seu olhar, quase pude distinguir uma vila muito, muito ao longe, bem além do alcance da visão, cercada por grama verde e azul.

Simultaneamente à minha análise da resposta dos asuras, eu tentava dissecar o que Rai havia dito. 

“E seres de luz desceram, trazendo consigo uma magia inimaginável.” Seres de luz? Poderia a magia ser mana, ou talvez éter? 

“Trazendo consigo um poder terrível demais para ser contemplado.” Isso é da perspectiva dos asuras, presumo. Que tipo de poder poderia ser terrível até mesmo para os asuras? 

“E se autodenominaram Deva, e eles, em seu poder, eram terríveis e inimagináveis.” Eu nunca tinha ouvido o termo deva antes. A repetição de terrível e inimaginável reforça bastante essa mensagem, mas também é um tipo de narrativa asura que não esperava ouvir.

“Eles marcaram o mundo com seu poder, e então partiram, para nunca mais voltar.”

Eu não sabia o que pensar dessa última passagem. Tentei alcançar Sylvie ou Regis para ajudar, mas ambos foram forçados a afastar suas mentes da minha, incapazes de suportar os efeitos do Gambito do Rei.

Lorde Radix do Clã Grandus se levantou. Seus olhos, que brilhavam como as gemas multicoloridas que adornavam seu cinto, me estudaram intensamente. Sua surpresa rapidamente se dissipou, e, ao contrário do desânimo que os outros haviam demonstrado com a fala de Rai, Radix estava atento, seus olhos se movendo de um lado para o outro, indicando que ele estava pensando rapidamente enquanto considerava algo.

O titã deu um passo mais perto de mim, acariciando a barba. A mana estava se movendo de forma estranha ao redor dele, como se estivesse agindo como uma extensão de seus sentidos. Como se ele pudesse ver e sentir através da própria mana. Embora Radix tivesse uma assinatura semelhante à de Wren, eu nunca havia experimentado esse fenômeno com Wren antes.

— Já basta, Arthur — bradou Kezess firmemente, sua voz tensa com uma frustração cuidadosamente disfarçada e, eu pensei, até mesmo um tremor de medo.

Sustentei seu olhar por vários longos segundos antes de liberar minhas runas divinas e recolher o éter que estava fornecendo o efeito de brilho de volta para meu núcleo.

Fiquei me sentindo lento sem a runa divina ativa, e tive que me equilibrar para não cambalear.

Tudo bem com você? — perguntou Regis, voltando aos meus pensamentos.

— Não é nada. Sempre há uma sensação de… desintoxicação quando eu libero completamente o Gambito do Rei — respondi através da névoa mental.

Fique atento, Arthur — pensou Sylvie, trazendo minha atenção de volta para Radix.

O titã pousou uma mão no meu ombro, forçando-me bruscamente de volta ao momento enquanto meus joelhos tremiam com o peso inesperado. O éter inundou meu corpo para fortalecer minhas pernas. Meu ombro doía, e percebi que Radix estava manipulando a densidade de seu próprio corpo para, de alguma forma, testar o meu.

— Posso? — perguntou, movendo-se para trás de mim e alcançando a barra da minha camisa, forçando Sylvie a se afastar, suas sobrancelhas erguidas em surpresa.

— Uh… — Foi tudo o que consegui dizer antes que o titã levantasse minha camisa para observar a pele das minhas costas. Ali, eu sabia que ele veria as runas falsas que a primeira projeção djinn havia fornecido, a fim de disfarçar minhas runas divinas quando eu estivesse entre os alacryanos. O que eu não esperava era o formigamento que senti nas próprias runas divinas.

Por meio da minha conexão com Regis, senti os olhos de Radix traçarem a conexão entre nós antes de se fixarem em meu companheiro. Os pelos de Regis se eriçaram defensivamente, e eu podia sentir os sentidos penetrantes de Radix delineando a forma da runa da Destruição contida dentro da forma física de Regis.

— Entendo — disse o titã, sua voz ressoando como um terremoto, e então ele retornou ao seu assento.

Eu me peguei franzindo a testa, mas antes que eu pudesse perguntar, Nephele foi mais rápida.

— Bem, compartilhe com o resto de nós, Rad. O que realmente está acontecendo aqui? — A sílfide estava flutuando acima de sua cadeira novamente, as mãos nos quadris, todo o seu corpo girado em um ângulo de trinta graus.

Radix se recostou em sua cadeira, os braços cruzados, uma mão acariciando a barba pensativamente.

— Eu vi o suficiente para mudar de ideia, e convoco uma votação dos Oito Grandes sobre o status de Arthur Leywin como uma nova raça de asura.

Essa proclamação repentina pareceu pegar os outros de surpresa.

— Agora espere um momento, precisamos…

— …mas o que você viu? Seria benéfico para todos nós…

— …uma reunião abençoada e curta, e então podemos…

— Esta não é uma decisão a ser apressada!

Esta última veio acompanhada de um punho pesado batendo na mesa de madeira, fazendo-a saltar e cortando as outras vozes enquanto falavam umas sobre as outras. Os outros se arrepiaram, até mesmo a despreocupada Nephele, enquanto Ademir lançava um olhar ameaçador aos seus companheiros lordes e damas. Sua Força do Rei era como a lâmina de uma faca pressionada contra minha garganta.

— Muitos de nós nesta mesa medem suas vidas em milênios — continuou, mais controlado. — Nos séculos em que me sentei nesta mesa com vocês, nunca experimentei um desejo tão súbito de resolução imediata. — Sua atenção se voltou para Rai. — A decisão de nomear o Clã Kothan aos Oito Grandes para substituir o clã Vritra nos levou cinquenta anos, e mesmo isso foi um tempo curto em comparação à nossa deliberação sobre o que fazer a respeito do próprio Agrona.

— Agora, diante de uma questão que, dependendo de nossa resposta, pode muito bem redefinir a natureza do nosso mundo pelos próximos dez mil anos, devemos votar com base em meros minutos na presença deste garoto? — O olhar de Ademir caiu sobre seu punho ainda pressionado contra a mesa. — Se você está decidido a forçar essa votação, Radix, então deixe-me ser o primeiro a recusar. Os panteões não reconhecerão Arthur Leywin ou seu clã como membros da raça asura.

A raiva fervilhava dentro de mim. Ele não estava apenas votando contra mim, mas declarando abertamente que se recusava a aceitar os resultados de qualquer votação. Regis, ao meu lado, com as chamas de sua juba estalando ao redor dele, reforçava minhas emoções, mas Sylvie tentou nos acalmar:

— Não se esqueça de que os panteões são uma raça de guerreiros. Eles enfrentam desafios de frente. E, pelo que ele sabe, você é responsável pela morte de Taci e Aldir.

— Pode ser que você não seja a verdadeira fonte da raiva dele — acrescentou Regis a contragosto, me surpreendendo.

Percebendo que estava me deixando frustrar, canalizei éter no Gambito do Rei. Só um pouco, apenas o suficiente para expandir meus pensamentos em alguns fios simultâneos, o que teve o benefício adicional de amortecer qualquer reação emocional que eu tivesse aos acontecimentos.

 — Essas são palavras perigosas, Lorde Thyestes — disse Morwenna, seus olhos se estreitando. Um leve rubor subiu por seu pescoço, destacando novamente os padrões sutis em sua pele. — Expresse sua opinião como quiser, mas lembre-se de que todos nós juramos apoiar a vontade dos Oito Grandes, mesmo quando discordamos de suas decisões.

Rai pigarreou. Mantendo contato visual direto comigo, ele disse:

— Minha opinião não mudou. Eu voto para que Arthur seja nomeado o primeiro de sua raça, chefe de seu clã e membro deste conselho.

— Claro, eu também — disse Nephele, olhando muito seriamente para o teto, tendo girado metade do caminho, de modo que ela estava quase de cabeça para baixo. — Vamos ver o que o destino reserva para ele? — Ela riu de repente e voou para cutucar Morwenna. — Destino? — Entendeu o que eu fiz? — Ela riu feliz para si mesma, aparentemente alheia ao olhar gélido de Morwenna em resposta.

— Já vi o suficiente — disse Radix em resposta à votação que ele mesmo convocou. — Talvez, no sentido mais tradicional da palavra, Arthur não seja um asura, mas seja lá qual for a transição que ele tenha passado o aproximou mais de nós do que dos menores dos quais ele nasceu. — Falando diretamente comigo, ele continuou: — Espero, Arthur, que você trabalhe ao lado do clã Grandus para explorar mais completamente essas mudanças no futuro, mas, por ora, concordo que você deve se colocar entre nós.

Eu assenti, sem querer prometer nada ainda. A maior parte da minha mente ainda estava nas palavras de Ademir, enquanto considerava as potenciais ramificações e consequências se ele cumprisse sua ameaça de recusar a vontade dos Oito Grandes. Eu não conseguia acreditar que sua hostilidade não tivesse sido levada em conta por Kezess ou Veruhn, o que significava que um ou outro provavelmente estava trabalhando diretamente contra ele.

Ademir balançou a cabeça enquanto olhava ao redor da mesa.

— Novis? Morwenna? Certamente vocês não cairão nas ilusões dos outros. Vocês devem concordar com Lorde Indrath e comigo.

Morwenna olhou para Kezess, cujo trono flutuante o tornava ligeiramente mais alto do que os outros.

Kezess assentiu. Seu rosto estava tão cuidadosamente impassível que parecia quase arrogante na ausência de emoção expressa.

— Estou de acordo com os outros — disse Novis simplesmente, sua postura reservada.

A cabeça de Morwenna inclinou-se levemente, e ela lançou a Ademir um olhar duro enquanto dizia:

— Eu me curvo à vontade e à sabedoria dos Oito Grandes. Estou convencida de, pelo menos, dar ao Clã Leywin seu lugar à mesa. Veremos o que acontece depois disso.

Ademir bufou. Quase em desespero, ele se voltou para Veruhn, mas o velho leviatã sorriu tristemente.

— Sinto muito, velho amigo. Você sabe muito bem qual é a minha posição sobre o assunto.

A mandíbula de Ademir se contraiu, e sua expressão se tornou pétrea. Lentamente, derrotado, ele olhou para Kezess, como se já soubesse o que o dragão iria dizer.

Kezess se levantou, jogando seus cabelos loiros como trigo para trás com cuidado. Havia um brilho em seus olhos cor de lavanda enquanto ele puxava os punhos bordados a ouro de sua fina camisa. 

Sylvie mexeu os pés.

— Por que isso parece encenado? — sugeriu ela.

— Amigos. Líderes de seus respectivos clãs e povos. Membros dos Oito Grandes. Respeito suas opiniões e agradeço por compartilhá-las. — Seu olhar demorou-se mais tempo em Ademir, e apesar de chamá-lo de amigo, não havia amizade no olhar que eles trocaram. — Este conselho está dividido, mas a opinião de sua maioria é clara. Embora eu admita que tenho minhas reservas, estou, no entanto, de acordo. Arthur Leywin transcendeu sua natureza humana. Apesar de algum aspecto dracônico, ele não é um dragão, tornando-o algo completamente novo.

Havia uma cadência em seu discurso que me lembrava de assistir a uma peça, assim como Sylvie havia sugerido.

— Arthur Leywin é, doravante, nomeado um asura, sua linhagem sendo de uma raça inteiramente nova. Seu clã, os Leywins, transcenderá as fronteiras entre humano e asura, mesmo que eles mesmos não compartilhem suas qualidades. Como líder de seu clã, o único clã de sua raça, a ele também é imediatamente oferecido um lugar entre nós aqui, como membro dos Oito Grandes.

 — Vai precisar de um novo nome — disse Nephele em um sussurro teatral para Morwenna.

Ademir se levantou e lançou um olhar furioso a Kezess. O choque de suas forças opostas parecia prestes a derrubar a torre ao nosso redor, mas durou apenas um momento. Sem dizer mais uma palavra, Ademir girou sobre os calcanhares, cruzou a sala até a porta da varanda mais próxima, abriu-a com um puxão e voou rapidamente para fora de vista.

Até mesmo Kezess, sempre tão cuidadosamente controlado, não conseguiu esconder um sorriso mal disfarçado antes de voltar sua atenção para o resto do grupo. Uma cadeira apareceu atrás de mim, e as outras pessoas se ajustaram ligeiramente para acomodá-la. Aqueles que estavam sentados nela mal pareciam notar.

— Falando em nomes, Arthur, você terá que nomear a si mesmo — disse Kezess, forçando um sorriso curto para esconder melhor sua expressão de triunfo. — Já pensou em algo?

Abri a boca, mas não falei, percebendo que não havia pensado em como minha raça poderia ser chamada. Apesar da decisão dos asuras, eu não tinha certeza se algum dia me consideraria outra coisa além de humano.

— Tenho uma sugestão — disse Veruhn. Ele fez uma pausa para tossir em sua mão antes de dar aos outros um sorriso apologético. — Há muito tempo, teorizou-se que seres de poder poderiam um dia se materializar a partir da barreira entre os mundos, formados por esse poder e carregando a centelha dele como sua consciência. — Ele fez outra pausa, respirando algumas vezes antes de continuar a falar. — A aparição deles nunca se manifestou, mas o nome que demos a esse mito ainda ecoa através dos tempos.

— Os archons — disse Radix, unindo os dedos na frente dele e respirando através da forma que isso criava. Houve uma explosão de mana, mas não consegui discernir o que ele havia feito.

Kezess me olhou com curiosidade por vários segundos. — Arthur Leywin, chefe de seu clã, archon dos Oito Grandes. Isso é aceitável para você?

Eu gostei — pensou Regis imediatamente. — É muito… solene, sabe. Soa como realeza. Poderia até dizer que é majestoso.

Fazendo o meu melhor para ignorá-lo, me dirigi a Kezess.

— Aceito sua oferta de ser reconhecido como membro da raça asura e o nome de archon. Obrigado. — Para Veruhn, acrescentei: — Agradeço tudo o que este conselho disse.

— Muito bem. Arthur Leywin, senhor da raça dos archons. Bem-vindo aos Oito Grandes. Agora, receio que tenho outros assuntos a tratar — disse Kezess abruptamente. — Encorajo cada um de vocês a considerar cuidadosamente o que a decisão de hoje significa para o seu povo.

Então, assim, ele se foi. Nenhum dos outros parecia surpreso.

Rai e Novis se voltaram um para o outro e começaram a falar em voz baixa. Morwenna, Radix e Veruhn se levantaram, enquanto Nephele voou até mim em uma rajada de vento que bagunçou meu cabelo e fez o tecido da minha camisa esvoaçar.

— Ah, mas graças à grama do verão e aos ventos do inverno por uma reunião curta — disse ela, seu tom suavizando à medida que liberava um pouco da alegria forçada que havia mantido durante a reunião. — É tedioso estar dentro de casa, não acha? Essas reuniões seriam muito mais produtivas sob o céu aberto ou sob as copas das árvores. — Ela ficou pensativa e olhou pela janela. — Acho que vou embora, por um tempo. Já tive o suficiente de grandes eventos e do interior de edifícios por um dia.

O corpo de Nephele tornou-se incorpóreo e quase invisível, só um pouco mais do que a forma dela desenhada em linhas brancas de vento. Ela sorriu, com os olhos fechados, e voou para fora por uma janela aberta, fez várias piruetas giratórias, depois desapareceu contra o céu azul e o chão de nuvens branco-acinzentadas.

Já ouvi falar dos sílfides, claro, mas esperava que a rainha deles fosse mais… refinada — pensou Sylvie enquanto observava Nephele ir embora.

Eu não confio nela — respondeu Regis. — Para ser justo, não confio em nenhum deles, mas ela parece um pouco… instável. — Ele deu uma risada abafada com seu próprio trocadilho.

Contive um grunhido focando em Radix, que estava estendendo a mão para a minha. — Obrigado pelo voto de confiança — disse enquanto apertava sua mão.

— Confiança? — Sua barba se contraiu com aparente diversão. — Não, Lorde Leywin, não nos agradeça pelo que fizemos. Isso não é um presente, nem demonstração de confiança. Cada um dos meus colegas lordes e senhoras terá suas próprias razões, mas a minha eu chamaria de um entendimento inicial. — Seus olhos de pedra preciosa brilharam. — Até a próxima vez, então. — Sua mão soltou a minha, e o titã desceu as escadas sem olhar para trás.

Morwenna fez a mesma reverência respeitosa que os outros haviam compartilhado ao chegar à câmara de reuniões.

— Não celebre isso como uma vitória — advertiu ela. — É uma responsabilidade da mais alta honra representar seu povo entre os Oito Grandes. Nossas escolhas moldam mundos, Lorde Leywin. — Movendo-se rígida e reta como uma árvore com pernas, a hamadríade seguiu Radix escada abaixo.

— Isso foi muito bem feito, Arthur — disse Veruhn, agora em pé, ereto e desdobrado, já que as deliberações haviam terminado. — Uma boa demonstração com as runas divinas. Até me pegou de surpresa, para ser honesto.

Olhei para a fênix e o basilisco, levantando levemente as sobrancelhas.

— Os Lordes Avignis e Kothan estão tão interessados quanto eu em ver o que você pode realizar com sua nova posição, Arthur — disse Veruhn dispensando quaisquer preocupações que eu tivesse sobre falar na frente dos outros. — Pode ter parecido uma decisão repentina hoje, mas falamos longamente sobre essa possibilidade.

Rai e Novis se levantaram enquanto Veruhn falava, e ambos assentiram em concordância.

— Antes de ir, gostaria de estender um convite para visitar minha família em minha casa, Featherwalk Aerie. É tradição para um recém-nomeado representante dos Oito Grandes viajar por Epheotus e se apresentar aos outros lordes. Haverá uma cerimônia oficial mais tarde, é claro. — Novis me deu um sorriso constrangido. — Acho que demorou… o quê? …meio século para planejar a cerimônia da minha própria nomeação, mesmo depois que o Clã Avignis foi promovido aos Oito Grandes.

— O Clã Kothan estende o mesmo convite, é claro. À sua disposição — acrescentou Rai. Ao contrário de Novis, ele tinha uma expressão tensa e estava claramente preocupado com algo, mas não expressou seus receios em voz alta. — As coisas aqui podem parecer muito lentas para alguém acostumado a se mover à velocidade dos menores, mas tenho certeza de que você se ajustará a um ritmo um pouco… mais duradouro.

— Ficaríamos honrados em conhecer seus clãs — respondeu Sylvie. — Por enquanto, no entanto, nosso próprio clã precisa ser informado dos acontecimentos de hoje.

Novis e Rai trocaram um olhar ao ouvir as palavras “nosso próprio clã”, mas nenhum dos dois disse nada. Em vez disso, nos desejaram boa viagem por enquanto e saíram por diferentes portas de varanda.

— Posso escoltá-lo de volta a Chama Eterna, Arthur? — perguntou Veruhn, segurando a porta pela qual Novis acabara de sair.

— Claro. Obrigado, Veruhn.

Enquanto voávamos, eu ansiava por ativar totalmente o Gambito do Rei para analisar melhor o que havia sido dito durante a reunião. No entanto, eu temia dar a Veruhn, ou a qualquer outra pessoa que pudesse estar observando, a impressão errada. Em vez disso, deixei meu corpo no piloto automático e concentrei todos os ramos dos meus pensamentos na reunião, consciente apenas das palavras ocasionais trocadas entre Veruhn e Sylvie enquanto voávamos.

De algumas coisas eu tinha certeza, embora a reunião tivesse deixado mais perguntas do que respostas. Estava confiante de que Kezess havia manipulado as coisas para colocar Ademir para fora, mas por quê? Eu era apenas uma peça em um jogo maior que não entendia? E os outros lordes estavam jogando o mesmo jogo ou os seus próprios?

Estou realmente sendo colocado em pé de igualdade com esses seres antigos? Ou eles me veem como um animal de estimação?

Posso arriscar alguns palpites sobre o porquê Kezess realmente permitiu minha ascensão. Mesmo que ele fingisse o contrário, eu não podia descartar o fato de que acabara de me tornar subserviente a ele de uma forma que não era antes. E, no entanto, também tinha uma certa igualdade com ele, agora reconhecida oficialmente pelo resto dos Oito Grandes.

 — Mas quão independentes eles realmente são? — pensou Regis, de onde pairava perto do meu núcleo.

Essa era uma boa pergunta. Apesar de alegarem que os Oito Grandes formavam um conselho governante, parecia que tudo ainda dependia da vontade de Kezess. O que teria acontecido se todos os outros estivessem de acordo, mas ele ainda assim recusasse?

Tornei-me vagamente consciente de que alguém estava falando comigo.

— Desculpe, o quê?

Veruhn me lançou um olhar enigmático.

— Perdoe-me, Arthur. É evidente que você estava perdido em pensamentos, o que entendo completamente. Não desejo interferir em seu primeiro encontro com o seu recém-nomeado clã, então vou deixá-lo aqui.

Olhando ao redor, percebi que já estávamos nos arredores da cidade.

— Antes de ir, porém, gostaria de estender o mesmo convite dos Lordes Kothan e Avignis. Por favor, visite-me em minha casa. Fica bem na costa do grande Mar da Fronteira. Acredito que você verá que vale a pena a viagem. Ainda temos muito o que discutir, penso eu.

— Eu irei, claro — respondi, genuinamente interessado na casa do leviatã. — Mas primeiro, receio que preciso resolver algo. Minha amiga, Tessia, esperou pacientemente por mim aqui, mas é hora de ela voltar para casa.

Alegremente afirmando que entendia, Veruhn se despediu. Com um aceno, ele desapareceu em uma onda de água do mar espumante e ondulante.

Completamos nossa jornada pelo ar, voando sobre os telhados de Chama Eterna. Ao nos aproximarmos da residência onde minha família estava hospedada, pousei no telhado inclinado de uma casa não muito distante da rua, tomando cuidado para não deslocar as telhas, e olhei para baixo, para Ellie, Mamãe e Tessia. Elas estavam sentadas à mesa no pequeno quintal da frente e conversavam animadamente com um casal de jovens dragões que pareciam ter parado no caminho, os braços carregados com sacolas de pano, provavelmente do mercado.

Tudo ia mudar agora. Minha vida nunca mais seria a mesma, e nem a delas. O risco de repente parecia quase tolice, o perigo surgindo de todas as direções. Eu estava em um clã de cinco, e dois deles eram humanos.

Sylvie e Regis permaneceram em silêncio, não invadindo minha introspecção, mas me apoiando contra o peso de meus pensamentos.

Ficamos assim por um longo tempo, até que Mamãe, Tess e Ellie se levantaram e voltaram para dentro de casa. Suspirei e me preparei para informar minha família de que elas haviam sido promovidas a divindades.

 


 

Tradução: NERO_SL

Revisão: Crytteck

 

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