POV Nico Sever
Meus dedos tamborilaram pela superfície do cajado de madeira, a batida não criando um ritmo discernível, mas agindo como uma saída para a energia caótica fluindo nervosamente dentro de mim. Embora tivesse tentado abraçar o estado frio e sem emoção de novo para me ajudar a progredir sem distração em meu trabalho, a visão do corpo encolhido e dessecado de Dawn ainda me assombrava, aparecendo toda vez que fechava os olhos.
Também era impossível manter qualquer linha de pensamento coerente com o constante zumbido de Draneeve no fundo, ainda assim não conseguia calá-lo. Havia algo tão reconfortante quanto no barulho a que me acostumei ao longo dos anos de servidão dele.
— Quando te vi, fiquei horrorizado e acho que quase morri naquele momento com um ataque cardíaco.
Disse ele, rindo. Estava sentado de pernas cruzadas no chão feito uma criança, rolando uma bola de madeira em círculos, enquanto eu estava parado na minha bancada de trabalho, fixo numa coleção de peças de artefato.
— Não sabia, nunca pensei, porque quando fui a Dicathen pela primeira vez, você estava seguro no lar dos anões, não estava?
Ele fez uma pausa, respirando fundo. O barulho da bola rolando parou por apenas um segundo, depois continuou.
— Bem, foi isso que me fez entrar, não foi? Má sorte, só isso. Maldita má sorte.
Sem olhar para ele, falei:
— Acho que desobedecer às ordens e quase destruir os planos de Agrona teve algo a ver com isso.
Soltou um som estranho, parte riso, parte o gemido de um cachorro sofrendo.
— Um conto de advertência, não é? Talvez minha má sorte salve um pequeno mago de um monte catastrófico de consequências um dia.
Ouvindo um tom estranho em sua voz, deixei o meu trabalho para olhar para ele. Tirou a máscara e a deixou de lado. Sob ela, suas feições não eram notáveis. Quando fui trazido e voltei para mim, achei essa falta de cicatrizes interessantes ou de uma desfiguração horrível um pouco decepcionante e estranha. Mesmo agora, apesar de sua constante conversa e reconto das mesmas velhas histórias, nunca explicou por que utilizava ela. Quando questionado, fingia que não tinha ouvido e mudava de assunto.
Agora, no seu rosto despretensioso, havia um olhar distante em seus olhos e um sorriso torto.
— Eles vão chamar de “O Melancólico Conto de Draneeve, o por-pouco-retentor”. Uma fábula sobre como a ambição, quando não temperada com paciência e bom senso, leva até mesmo o maior dos heróis à ruína!
Sentindo minhas sobrancelhas subirem, lambi os lábios para falar e reprimi um suspiro. Reconhecendo, em silêncio, que qualquer interrupção agora só prolongaria o que estava por vir, voltei minha atenção para os artefatos inacabados no meu espaço de trabalho e tentei me concentrar, deixando as palavras dele passarem por mim que nem o vento contra as vidraças da janela.
— Nosso intrépido herói, Draneeve, procurou provar a si mesmo aos olhos do Alto Soberano, tão alegremente aceitou a mais perigosa das tarefas. Ele pegou um portal instável para uma terra nova e distante, cheia de magia estranha e monstros, onde começou o cuidadoso processo de forjar contatos e testar os habitantes locais, descobrindo quem entre eles seria receptivo à vontade do Alto Soberano.
Imbuindo minha regalia, procurei mais uma vez pelas peças agora brilhantes dispostas em minha bancada, vez ou outra as mudando para ver como as diferentes peças se sintonizavam. Quando tinha as peças desejadas, as movia para mais perto de um par incompleto de dispositivos cilíndricos, cada um não muito maior do que um lápis. O resultado foi insatisfatório, então redistribuí as partes individuais e comecei de novo.
— As raças de Dicathen estavam divididas e Draneeve encontrou o que estava procurando nas profundezas do reino dos anões. As areias do deserto eram um terreno fértil para plantar promessas de um futuro melhor, ele trabalhou para senhores, para o rei e para a própria rainha, até que concordaram em nos apoiar.
Parei, distraído. Isso foi quando as minhas memórias de infância foram guardadas e a persona de Elijah implantada. Pensar nisso agora, com os dois conjuntos desbloqueados, fez com que uma suposta tontura começasse dos meus pés e subisse ao meu núcleo, como se estivesse de pé no convés de um pequeno barco ao mar. Muito do dano que Agrona havia causado à minha mente ainda permanecia, como cicatrizes.
— Redes de espiões foram estabelecidas, se ramificando de Darv para Sapin. Com Draneeve à frente, um plano foi formado, um desonesto e engenhoso. Ele viu uma oportunidade, fraqueza no fio solto que entrelaçava as raças e as nações e uma ânsia de hostilidade à medida entravam mais em conflito.
“Um velho inimigo, um espião como Draneeve, um traidor, recuava em todas as oportunidades, mas Dicathen estava desorganizada e a tarefa de mantê-la unida era muito mais árdua do que separá-la. Porém, infelizmente, nosso herói encontra o fracasso no sucesso, porque em sua avareza de ambição, ele foi além do desígnio do Alto Soberano e ao fazê-lo ameaçou um plano do qual não sabia, arriscando a vida de ambos os reencarnados e do receptáculo por um terceiro ainda por vir…
Ele parou com um longo suspiro.
Escolhendo um protótipo feito com uma liga que eu mesmo inventei, o pus no artefato que estava lutando sem parar para construir. Trabalhei sem dormir desde o momento em que tive a ideia, após a briga de Cecilia com a fênix, entretanto cada passo era um processo amargo e difícil. Mesmo enquanto examinava mais uma vez sob os efeitos da regalia, sabia que não teria certeza até que usasse, de fato, os artefatos. Havia muitas variáveis, muitas que podiam dar errado… e, contudo, que outra escolha eu tinha?
Considerei as tais outras escolhas, como vinha fazendo a cada hora pelo que pareciam dias e as deixei de lado pela última vez. Não, já tinha tomado uma decisão. Não havia razão para hesitar agora.
Me virando de novo, vi Draneeve, olhando para a bola em suas mãos.
— E assim Draneeve se retirou para casa, me tirando de onde eu deveria estar e falhando até em adquirir o receptáculo.
Falei, continuando a história para ele.
— O Alto Soberano estava furioso e quase o executou, mas sentiu que era um castigo muito leve. Então, você foi rebaixado e designado para ser meu atendente e teve a vida transformada na mais miserável possível de propósito por mim.
O olho dele se contraiu.
— Um final triste para a história do nosso herói…
Estalou de repente, ficando de pé quando percebeu o que estava dizendo e se curvou profundamente, ao ponto de os cabelos carmesins dele se acumularem no chão.
— Perdoe-me, ó, lorde Nico. Eu não queria que… que…
— Concorda comigo?
Perguntei, divertido. No momento em que notei o meu divertimento, bile subiu pela minha garganta. Senti o impulso infantil de me desculpar, mas mantive as palavras para trás.
— Draneeve, você gostaria de se livrar desta vida?
Suas costas se soltaram devagar, quando pude ver seu rosto outra vez, a sua incerteza era óbvia.
— Por mais difícil que as coisas possam ser, lorde Nico, eu… não estou ansioso para morrer.
Pisquei para ele algumas vezes antes de perceber a confusão.
— Pelos chifres de Vritra… não, não quis dizer que ia te matar. Eu preciso de algo. Estou hesitante em confessar isso a qualquer um, mesmo a você e só estaria disposto a fazê-lo se tivesse algum jeito de retribuir esse favor.
Os olhos dele se arregalaram pouco a pouco.
— Você quer dizer… ser liberado de seu serviço?
Rápido, ele se distanciou, até que congelou ao ver que não tinha mais espaço atrás.
— Mas o Alto Soberano nunca permitiria isso. Este é o meu castigo.
— Puxa, obrigado.
Disse, dando a ele um sorriso genuíno.
— E se eu puder libertá-lo, ajudá-lo a escapar desta vida? Sem Agrona, sem mais castigo. Se pudesse fazer isso, você me ajudaria com algo muito importante?
Ele hesitou, os olhos se afastando. Após isso, voltou para mim, pulando várias vezes.
— Eu já estou comprometido em fazer o que você deseja…
O meu sorriso ficou um pouco predatório.
— E relatando tudo ao Alto Soberano. Mas isso é algo que precisa permanecer em segredo. Se você puder fazer isso, te ajudarei a ganhar uma nova vida.
A bola de madeira tilintou contra a parede, rolando quando se levantou de novo, o fazendo recuar de medo.
— Sinto muito pela maneira como tratei você.
Falei, reconhecendo o momento certo para essas palavras.
— O mestre espião de Dicathen não deve se encolher a cada queda de alfinete. Isso é, pelo menos em parte, culpa minha. E eu sinto muito.
Enfim, a cabeça dele balançou em reconhecimento.
— O que você precisa que eu faça?
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Uma hora depois, com os artefatos acabados escondidos no meu anel dimensional, corri pelos corredores até chegar às escadas de volta às celas onde a fênix havia sido presa. As escadas estavam vazias, como sempre, todavia, quando cheguei à porta no fundo a encontrei selada.
Um painel cristalino estava montado na pedra preta da parede ao lado da porta. Ela sentia certas assinaturas de mana e só a abria ao encontrar uma reconhecida. Tocando a ponta do meu cajado no painel, usei diferentes tipos de mana em diferentes pontos para simular uma variedade de assinaturas. Teria sido mais fácil se eu conhecesse qualquer um dos pesquisadores que trabalhavam aqui, porém, ainda assim, a fechadura não foi projetada para se defender contra um mago quadra-elemental. Após alguns minutos, ela zumbiu quando a força de tração foi desativada, permitindo que a porta se abrisse.
— Foice Nico?
Congelei na metade da porta. Dentro, sentados em torno de uma mesa jogando algum jogo mundano, tinha quatro guardas. Mais dois andavam pela sala, cujos passos vacilaram ao me ver. Meia dúzia de pesquisadores e imbuidores trabalhavam lá, todos se enrijeceram e ficaram silenciosos feito um túmulo, provavelmente se lembrando do que havia acontecido com os dois que, me inspecionaram depois do meu núcleo ser quebrado.
Me endireitando, encarei os guardas.
— O que estão fazendo aqui embaixo? Nomes, agora. Terei que informar ao mestre de armas e ver vocês chicoteados por desvio de conduta. E vocês…
Retruquei, direcionando isso aos pesquisadores,
— … Preciso do nível limpo de imediato. Vão, agora!
Os quatro guardas sentados saltaram, derrubando suas cadeiras se apressando.
— Mas F-Foice, fomos designados para cá. Um novo turno. disse um deles.
Tropeçando na própria língua com a pressa.
Metade dos pesquisadores deu alguns passos em direção à porta, entretanto, pararam quando o guarda falou.
— Não devemos deixar ninguém entrar que já não esteja designado para esse nível.
Falou um guarda mais velho, menos abalado do que os outros. Acreditei que ele era o oficial superior e o encarei diretamente.
— Até Foices. Esta ordem vem do próprio Alto Soberano. Sinta-se à vontade para falar com ele se…
Me movi mais rápido do que ele poderia responder. Meu núcleo não era o que tinha sido, mas ainda superava magos normais. O agarrando pelo pescoço da sua armadura, o ergui.
— Então sugiro que você se apresse para relatar minha intrusão ao Alto Soberano. Se não saírem do meu caminho, mato todos vocês. Talvez o aborrecimento dele e o castigo correspondente de vocês seja menor do que suas vidas se simplesmente optarem por sair.
Colocando o homem de volta no chão, o empurrei em direção à porta. Não com força suficiente para jogá-lo, mas para que tropeçasse em vários passos antes de se equilibrar. Enquanto se endireitava, todos os outros o olharam. Ele pareceu considerar por muito tempo, então disse:
— Tudo bem, homens, fora.
Quando não responderam de imediato, gritou:
— Agora!
Todos se apressaram para fora da sala, imbuidores deixando o trabalho meio acabado, pesquisadores abandonando seus projetos e os guardas se mexendo para conduzi-los pela porta.
Observando os últimos saírem correndo da sala, considerei os guardas e o que eles significavam. Esperava que levasse vinte, talvez trinta minutos para que a notícia se espalhasse pelos trabalhadores do laboratório até chegar aos ouvidos de Agrona, porém a presença de guardas poderia acelerar ou retardar esse tempo, dependendo do medo da punição. No fim, na verdade, não mudou nada. Se ele chegasse muito cedo, tudo estaria perdido, mas eu não estava pronto para abandonar meu plano.
Tirando um simples artefato de detecção de mana, o fixei na borda interna da moldura da porta e ativei, antes de correr pelos corredores até a cela da fênix. Seus restos mortais foram deixados lá, ainda pendurados pelos pulsos. Se não tivesse visto Cecilia drenar a mana dela, no entanto, não teria reconhecido o corpo, enrugado e decrépito.
Então, me virei. A fênix não era a minha razão de estar aqui.
Algumas celas abaixo, encontrei um cansado Kiros olhando para fora da sua cela blindada de mana, como se esperasse por mim.
— Preciso de informações.
Disse, sem delongas, enquanto o via de perto.
Como reagiria me diria muito a respeito do seu estado de espírito, se eu tivesse alguma esperança de sucesso, precisaria avaliá-lo com precisão.
Aparentava ser menos grande aqui, preso e acorrentado. Parte do volume ao redor da sua cintura havia encolhido, sua carne cinzenta de mármore ficara pálida e turva. Sem toda a sua ornamentação, parecia muito menos imponente. Quem conseguiria passar um ar intimidador algemado com os braços para fora e com espinhos nos pulsos?
Grey poderia. Apertei os dentes, como se pudesse esmagar o pensamento intrusivo, dei um passo para mais perto de Kiros, cujo olhar se afiou, mas que não respondeu à minha declaração.
— O que você sabe sobre os planos de Agrona para o Legado?
Perguntei, quase que rosnando.
Ele se inchou o melhor que pôde, levantando o queixo e olhando para mim pelo nariz.
— Foice ou não, como se atreve um menor falar comigo dessa maneira?
Eu só olhei, sem piscar. Depois de um momento, desinchou.
— O Legado é um ser capaz de controle supremo sobre a mana. Uma arma para usar contra os outros Asuras.
Tentou dar de ombros, porém o que fez foi um movimento fraco.
— Sempre soou como um conto de fadas para mim.
— Ela pode fazer isso?
Falei, rápido.
— Ela pode destruir Asuras, derrotar Kezess Indrath e os dragões? Ela tem esse poder?
Ele grunhiu.
— Ainda não. Mas talvez um dia, se ela viver tanto tempo.
— E quando completar a missão? Que planos ele tem, então?
Não pretendia fazer essa pergunta, entretanto fiquei surpreso com a transparência de Kiros e meu medo por Cecilia avançou, afogando as outras preocupações.
Ele colocou para fora um nojento catarro, que bateu no interior do escudo. Chiou e estalou.
— O Alto Soberano mantém o próprio conselho. Se ele tem planos para depois, não achou adequado compartilhá-los com o resto do clã Vritra.
O sorriso de escárnio suavizou em um sorriso cruel.
— Se eu tivesse que apostar, no entanto, acho que acontecerá com ela o mesmo que acontece com a maioria das armas após uma guerra. Elas são postas em exposição ou derretidas para se transformarem em algo mais útil, não é?
Segurei uma meia dúzia de outras perguntas em pânico que surgiram na minha mente. Isso não é relevante, idiota, me castiguei.
— E se ela quisesse evitar tal resultado? Se o Legado quisesse… por prevenção, atacar Agrona…
Cada palavra foi dita com cuidado, minha enunciação meticulosa e exata enquanto pensava em cada sílaba.
— Talvez, se você fosse útil o suficiente, existiria um futuro para você fora desta cela.
Ele já estava balançando a cabeça no meio do meu discurso, seus chifres balançando pelo ar de um lado para o outro.
— Você é tolo. Toda aquela confusão sobre o Alto Soberano deve ter mexido com seu cérebro, garoto. Mas…
Ele parou, ficando pensativo.
— Talvez, comigo ao seu lado, ela possa ter uma chance. Me solte e ajudarei a garota a arrancar a cabeça dele.
Um sinal mental de mana me notificou de que Cecilia havia acabado de sair da escada, passando na frente do dispositivo que eu havia deixado na entrada deste andar. Não tinha mais tempo.
Ativando a regalia, segui o caminho da mana, isolando as muitas partes individuais que faziam o escudo funcionar. Dentro da parede, havia uma série de unidades de armazenamento e poder traduzido de cristais de mana para o próprio escudo. Canalizando minha própria mana através da regalia e para o escudo, a forcei para cima até que ele correu de volta para aqueles armazenamentos. A força sobrecarregou um de imediato, o que causou uma falha em cascata dos outros, em poucos segundos, todo o dispositivo deu um estalo estático e o escudo desapareceu. Kiros, boquiaberto, olhou para mim de dentro da cela agora aberta.
— Me prometa…
falei em urgência.
— Que você vai ajudá-la. Prometa.
— Claro, claro, eu prometo. Pela minha honra como Soberano.
Falou, assumindo um sorriso divertido.
— Apenas se apresse e me liberte.
Trabalhando rápido, forcei a abertura das algemas. Ele se contorceu quando o espinho dentro de seu pulso se mexeu, lhe dei um olhar de aviso para ficar quieto. Devagar, afrouxei o espinho coberto de runas. Enquanto o fazia, interpondo meu corpo entre ele e o que eu estava fazendo, com rapidez, mas com cuidado, pus dentro um dos meus artefatos recém-criados na mesma ferida antes que ela pudesse se curar.
— Merda, cuidado com o que você está fazendo. Isso dói.
Ele gemeu.
O artefato era um pouco menor em comprimento e espessura do que o espinho, assim que foi inserido e o espinho removido, a carne do pulso dele começou a sarar. Com o segundo artefato escondido na palma da minha mão, me movi ao redor dele e repeti o processo do outro lado, então muito mais rapidamente soltei as algemas em torno de seus tornozelos.
Após soltar a última das correntes, dei um passo para trás. Ele grunhiu, esticando as costas e rolando os ombros. Então, com um movimento quase preguiçoso, colocou a mão no meu peito, me mandando voando para o corredor. Quando fui arremessado no chão, minha visão ficou turva por um momento, o corredor oscilando violentamente em torno da forma confusa dele enquanto caminhava até mim.
Na distância atrás de mim, um prateado cabelo embaçado surgiu da esquina…
— Criaturas patéticas.
Disse ele, baixinho, olhando para mim.
— Por que o Alto Soberano tem um interesse tão perverso em…
Se virou, de frente para Cecilia, que havia se levantado do chão e estava voando em nossa direção.
— Talvez se eu levar para lorde Indrath a sua cabeça, posso voltar para Epheotus!
Gritou com ela, as mãos subindo como se fosse envolver o cabo de uma arma.
Mana fervilhou e ferveu ao redor dele, se condensando em uma massa sem forma em seus punhos e explodindo outra vez, caindo que nem um tsunami ao nosso redor. Soltei um som dolorido quando a força me bateu no chão feito um aríete, as luzes cobriram os meus olhos.
Kiros rosnou quando até ele foi atingido com força suficiente para ser jogado de volta na parede por sua própria magia fracassada. Olhou para as mãos em choque, porém teve muito pouco tempo para se perguntar o que acabara de acontecer antes de Cecilia estar com ele. Mesmo enfraquecido pela prisão e mana limitada, era muito superior a ela fisicamente. As mãos enormes dele se fecharam em punhos conforme se agachava e se preparava para encontrá-la de frente.
Todas as barreiras das celas no corredor piscaram de uma vez, dezenas de conjuntos de correntes o atingiram, parecendo nada menos que víboras de metal batendo e se jogando para envolver seus braços, pernas, garganta e cintura, de onde quer que pudessem sair.
— Não! Me solte, eu te ordeno!
Gritou, a voz estalando.
Ela pousou diante dele, se inclinando um pouco para o lado para me ver. Só olhei para trás de onde eu estava deitado espalhado pelo chão, sem dar nenhuma indicação de que eu estava vivo ou morto, embora tivesse certeza de que ela sentiria minha mana bem o suficiente para saber que não foi fatal. Quanto mais irritada ela estava, todavia, maior a probabilidade de sucesso que tínhamos.
Mana surgiu em torno dele de novo, saindo e sufocando a minha respiração. O controle dele sobre a mana era muito impreciso com meus artefatos implantados nos pulsos. Cada músculo de sua forma imponente flexionou contra as correntes e um par até quebrou com o som de metal cortante, enviando o aço quebrado às paredes e teto. Contudo, para cada par que se quebrava, mais dois saíam para amarrá-lo.
— O que você estava pensando, Nico?
Retrucou Cecilia, outra vez olhando para Kiros. Não respondi, e então sua atenção voltou para o Vritra em dificuldades.
— Você não deveria tê-lo atacado. Eu não te aborreci, Soberano Kiros e até fiquei triste ao ver o que Agrona estava fazendo você passar. Então, por quê?
— Um… erro.
Disse ele, sufocado pelas correntes imbuídas de tanta mana que estavam começando a brilhar.
— Eu posso… ver isso…agora. Me solte, e eu… ajudo vocês a matá-lo.
Prendi a respiração. Tudo dependia desse momento.
A expressão de Cecilia caiu em uma carranca confusa.
— O quê?
— Juntos… podemos matar… Agrona…
Dentes à mostra, ela recuou e fez um corte com a mão. Uma foice de vento afiada e fogo branco mordeu o pescoço e o peito do basilisco, rodeando o corpo dele pela metade. A ferida mal tinha deixado um arranhão.
Ela puxou as correntes com força, porém ele soltou uma risada baixa e perigosa. Sem tentar canalizar mana mais uma vez, flexionou contra as correntes, outra quebrou, depois outra.
— Você pode ser forte o suficiente para drenar a vida dos restos murchos de uma fênix há muito presa, garota, mas eu sou dos Vritra, um Soberano desta terra e deste mundo. Sua força ainda não é nada próxima a…
Ele foi interrompido com um suspiro sufocado. Mana estava derramando dele, inchando e saindo que nem água por uma barragem rompida.
Cecilia estava pegando-a. Fiz tudo o que pude para não deixar meu sorriso aparecer.
Kiros tentou falar, porém não conseguiu. As correntes nele ficaram mais apertadas à medida que seu corpo diminuía, se encolhendo devido à mana que o mantinha não mais presente.
De pé, manobrei com cuidado ao redor da rede de correntes que o amarravam até ficar ao lado de Cecilia. Todo o seu corpo tremeu e um pingo de sangue correu do canto do olho, como uma lágrima escarlate. Embora não pudesse ver partículas de mana como ela, estava muito ciente da maneira como seu corpo físico parecia se esforçar contra o oceano de mana do basilisco. Seu núcleo não tinha espaço para isso, então encheu todos os músculos, ossos e órgãos. Mana estava sangrando das veias dela para a atmosfera, mas mesmo assim a agarrou e recuou. Então, com um suspiro, terminou.
Soltei um suspiro que não sabia que estava segurando.
— Cecil, você está…
De repente, seu corpo ficou mole e começou a cair, até que eu a segurei e a coloquei no chão, limpando o sangue de sua bochecha. Ela estava inconsciente, mas sua respiração continuou constante, embora seu coração batesse forte como se estivesse correndo por dias a fio.
Enquanto olhava para ela, esperando que este tivesse sido o curso de ação certo, outro sinal me avisou de alguém se aproximando assim que senti o inchaço repentino de sua mana adentrando no nível como garras.
Girando, conjurei espinhos de ferro sangrentos das correntes, concentrando toda a minha mente, toda a vontade e mana, na tarefa. O que restava do corpo de Kiros quase explodiu com elas. As correntes o rasgaram, o transformando numa bagunça irreconhecível e sangrenta. Senti alguns dos espinhos cortando os artefatos frágeis em seus pulsos, liberando um gotejamento lento da mana capturada por Kiros.
Assim como os últimos vestígios de mana deixando o corpo de um mago morto.
Então, de forma repentina e aterrorizante, fiquei imóvel, quase totalmente congelado, minha mente e meu corpo não mais conectados.
— Qual é o significado disso?!
Agrona rosnou por trás de mim, sua raiva incontida ameaçando arrancar a pele dos meus ossos.
Meu corpo girou para encará-lo, seus olhos escarlates cravaram nos meus. Pude sentir a sondagem de sua magia minando em meu cérebro.
— O que aconteceu?
Perguntou, apenas um pouco mais calmo.
Engoli em seco quando minhas habilidades foram devolvidas para mim. Não o suficiente para que pudesse me mover, porém era pelo menos capaz de piscar e falar.
— Estava conversando com Kiros quando Cecilia veio me encontrar. Ela o ouviu falar de traição e, em sua raiva, o atacou. Sua magia a dominou, ela ficou inconsciente, mas ele estava fraco o suficiente para que eu conseguisse destruí-lo antes que ele pudesse fazer algum mal.
As gavinhas entraram na minha mente, cutucando cada afirmação para verificar sua veracidade. Segurei essa ideia com muito cuidado, confirmando para mim mesmo que cada palavra que acabara de dizer era verdade.
— Mas o que você estava fazendo aqui embaixo?
Questionou Agrona após uma longa pausa, as gavinhas cavaram mais fundo.
— Por que você ameaçou aqueles designados a esse nível?
De repente, fiquei grato por meu corpo não ser meu, pois sentia o desejo esmagador de me contorcer com desconforto sob o olhar intermitente de Agrona.
— Estava com medo. Queria saber… tinha que perguntar se ela poderia mesmo fazer isso. Sabe, fazer as coisas que você espera dela, como derrotar os outros clãs Asuras.
As sobrancelhas finas dele se ergueram de surpresa. Então, seu olhar mudou para o cadáver em ruínas atrás de mim.
— Bem? Você tem sua resposta?
Tentei assentir com a cabeça, mas não consegui.
— T-tenho, Alto Soberano.
Caí em mim mesmo, meu corpo parecendo ao mesmo tempo muito leve e muito pesado, entretanto era meu de novo. Esfreguei meu peito onde a mão de Kiros me pegou.
Agrona se abaixou e suavizou a forma curvada de Cecilia do chão, a envolvendo feito uma criança. Quando me virou as costas, perguntou:
— Ela bebeu da mana de Kiros, Nico?
Olhei além dele, passando por ele, à distância, fora deste mundo por completo. Imaginei que estava olhando para um mundo novo, um mundo diferente. Naquela versão alternativa deste, ela não tinha feito isso. Dava para ver. E, assim, me fiz acreditar no que eu estava vendo com cada fibra do meu ser.
— Não, Alto Soberano.
Carregando Cecilia pelo corredor, ele cantarolou baixinho. Antes de virar a esquina, olhou para trás e passou por mim até o cadáver, onde sem dúvida viu os últimos pedaços da mana de Kiros se transformando em nada.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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