POV NICO SEVER
Algo pesado estava me agarrando, me prendendo. E estava escuro demais. A umidade se segurou em mim, lambendo a minha pele nua, enquanto uma coisa macia se pressionava contra mim que nem a língua de uma criatura gigante, dando vida e textura ao cheiro adocicado de cebola grudado em tudo.
Eu bati de repente, certo de que seria devorado. Um cobertor pesado no meu rosto deslizou para fora da lateral da cama e para o chão.
Ofegante, suguei o ar frio, o que me fez engasgar e tossir. Rolando pro lado, apoiei a cabeça sobre a beira da cama.
Eu não estava sozinho.
No pé da cama, agora olhando para mim com desgosto, estava Agrona. Cecilia permaneceu ao seu lado, a expressão presa entre nervosismo, pena e vergonha.
— Vou me despedir, então.
Disse Agrona, os olhos de rubi se voltando para ela.
— Chega de atrasos, querida Cecil. Você sai pela manhã.
— Sim, Alto-Soberano.
Ela se curvou profundamente.
— Estou pronta.
Pensando, lutei para entender o que estavam dizendo. Uma faísca cortou a lentidão, porém, me trazendo de volta à última coisa de que me lembrava.
— A regalia…
Graças à sede, minha língua seca pesava na boca. Por isso, umedeci os lábios e tentei falar de novo.
— O que aconteceu durante a concessão?
Agrona me lançou um olhar ilegível, se aproximou e pôs a mão no topo da minha cabeça. Senti uma certa emoção com o contato, entretanto, a amargura escorreu de imediato, um contraponto à resposta inicial.
Sou um cão de caça que abana o rabo a qualquer sinal de afeto do mestre distante?
— Como sempre, Nico.
Disse Agrona, sua voz ressoando em meu peito.
— Você conseguiu falhar da maneira mais incrível.
Ele não zombou de mim com amargura; para ele, era um fato.
— Esperava que talvez as suas experiências recentes incutissem em você o tipo de impulso que sempre faltou. Mas, infelizmente, esta nova regalia é uma combinação perfeita para os seus talentos.
Afastando a mão, ergueu as sobrancelhas de leve em uma pergunta silenciosa que somente eu perceberia:
— Tem algo a dizer sobre isso, garoto idiota?
Quando não fiz nada, me pareceu confirmar algo que ele esperava, porque assentiu depois e marchou para longe, os ornamentos nos chifres balançando um pouco.
Cecilia correu para a beira da cama no fechar da porta, afundando até ficar de joelhos e empurrando os cabelos úmidos de suor dos meus olhos.
— Oh, Nico, você está bem? Ficou inconsciente por um dia inteiro.
Rolei de costas e me concentrei em respirar para não vomitar na frente dela.
— Tudo bem.
Os seus dedos graciosos se prenderam nos meus, ela apoiou a cabeça no colchão, me observando em silêncio.
— Agrona disse que você vai embora. Para onde ele está te enviando?
Ela se sentou, soltando a minha mão para tirar um fio de cabelo de seu rosto.
— Devo liderar o ataque à Sehz-Clar. Agrona quer que eu faça uma demonstração de força para garantir que essa rebelião não se espalhe.
Fechei os olhos e segurei os xingamentos que saltaram para a minha língua. Era a notícia que esperava e ainda assim tive problemas para assimilá-la.
— Você parece… satisfeita.
Ouvi ela ficar de pé, mexendo o colchão. Abri os olhos para vê-la sentada ao meu lado.
— Claro que estou, disse.
Franzindo a testa.
— Venho treinando para isso desde que fui trazida a este mundo. É finalmente uma chance para provar ao Agrona que valho tudo o que ele deu a mim, nós.
Ela me olhou nos olhos.
— É assim que ganhamos as nossas vidas de volta, Nico.
Engoli em seco, com medo de me engasgar com a língua inchada.
Ela se inclinou para mais perto, ainda olhando o profundo dos meus olhos.
— Mas não vou a lugar algum sem você. Descanse, está bem? Estarei de volta pela manhã; em seguida, mataremos uma traidora.
Com um grande sorriso enfeitando o seu rosto lindo, ela passou os dedos pelo meu cabelo e pulou da cama antes de, da porta, olhar para trás.
— Ah, quase esqueci.
De uma bolsa, retirou o núcleo de mana do dragão.
— Não acho que Agrona ficaria muito feliz se encontrasse isso. Precisa ter mais cuidado.
Apesar do aviso, sorriu enquanto deixava a esfera comigo. Então, com um aceno rápido, se foi.
Soltei um suspiro frustrado e cansado.
— Merda.
Algumas horas… era todo o tempo que tinha para me preparar. Cecilia estava indo para a guerra, e eu iria protegê-la ao seu lado.
Uma risada sombria saiu de mim de repente.
— E como exatamente vou fazer isso?
Deixei meus olhos se fecharem mais uma vez e então me levantei como se estivesse em uma mola.
— Idiota.
Me xinguei, pulando da cama.
Mana saiu do meu núcleo enfraquecido, fortalecendo a nova regalia que descansava na minha espinha logo abaixo das omoplatas. Não sabia o que esperar, o que era uma sensação estranha. O comum é que os oficiais expliquem as runas, mas do pouco que podia tirar da minha memória nebulosa, não sabiam qual era.
Era algo novo
Algo que combina com meus talentos, pensei amargamente, as palavras soando na voz de Agrona.
A luz dos meus aposentos mudou quando a regalia se ativou. Foi sutil, quase imperceptível no início, feito nuvens se movendo devagar enquanto os artefatos de iluminação eram ativados na rua.
Examinando a sala, segui os novos pontos de brilho. As paredes, o chão, o teto, os móveis, tudo o que era mundano, pareciam maçantes e sombrios, enquanto os artefatos de iluminação brilhavam com mais intensidade. Havia um brilho delicado na maçaneta de metal e na fechadura da porta, entretanto, curiosamente, nenhum do núcleo do dragão.
Peguei a esfera e a rolei na mão, a inspecionando de vários ângulos. Me pareceu estranho que estivesse escuro e sem luz, já que coisas tão pequenas e irrelevantes quanto a pena na minha mesa de escrita e o pergaminho de envio que coletei por encomendar alguns dos materiais para meu novo artefato mudaram com a minha percepção alterada.
Quando pensei no cajado, corri para a porta do meu espaço de trabalho e a abri. No interior, estava quase igual, exceto que todos os itens dispostos na bancada brilhavam com várias potências.
Era mais do que uma sensação visível, contudo. Podia senti-los, como se estivessem conectados a mim e vice-versa. Cada item mágico e mesmo aqueles que ainda não eram, mas continham a capacidade de serem, se destacaram nos meus sentidos.
Brilhando mais estava a própria madeira negra com um único acessório prateado e opaco. Na mesa, reservada para testes adicionais, havia uma coleção de diferentes acessórios moldados a partir de ligas diferentes queimando intensamente.
Curioso, abaixei o núcleo e peguei um. Nada mudou. À medida que aproximei do galho retorcido, ambas as fontes dessa conexão mudaram, no entanto, a mudança foi mais uma vibração do que um brilho. Havia uma espécie de sintonia compartilhada…
Com um estalo da mente, percebi o que a regalia fazia, formando um largo sorriso em mim.
— De fato, algo que corresponda aos meus talentos.
Agarrando a ferramenta de esculpir em uma mão e segurando firme a base do cajado na outra, comecei a trabalhar, sabendo que tinha apenas algumas horas para me preparar.
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A luz do sol mal havia virado o horizonte cinza-azulado atrás das montanhas distantes quando bateram na minha porta. Ignorei no início, tão absorto em meu trabalho que esqueci a razão da urgência. A batida veio de novo, mais alta e mais insistente e o tempo e o espaço se uniram dentro de mim, me trazendo de volta à realidade.
— Entre.
Gritei da bancada, certo de que Cecilia tinha vindo me buscar para nossa missão.
Após ela abrir e fechar a porta, ouvi os seus passos suaves cruzarem até a porta interna.
— Sinto muito, Nico, eu… onde estão suas roupas? Você já descansou?
Eu olhei para mim mesmo.
Apenas agora percebi que estava sem roupas além da cueca, absorvido pela regalia e pelo artefato que estava criando.
— Aqui, olhe.
Falei, animado demais para me importar.
Agarrando sua mão, puxei Cecilia para a bancada e sorri com orgulho da invenção.
O que era um galho retorcido se tornou um cajado liso e polido do preto mais puro. O seu topo brilhou um pouco e onde se alargava, quatro gemas foram inseridas: uma esmeralda tão verde quanto os olhos de uma víbora; uma safira mais azul do que as profundezas do oceano; um topázio que brilhava assim como um relâmpago; um rubi semelhante a sangue cristalizado.
A cor era importante, assim como a pureza da gema, a limpeza do corte e a força do meu encaixe. Isso era o que a minha regalia fazia: conectava a minha mente à verdade dos diferentes materiais com os quais trabalhava. Podia ver, sentir e até saborear a forma como se encaixavam no mundo.
Tinha certeza de que era somente o começo. Quanto mais avançada e poderosa era uma runa, dominá-la ficava mais difícil e maiores eram os resultados. Com tempo, prática e paciência, poderia começar a conceber o que seria possível com a regalia.
— … faz?
— Desculpe?
Perguntei, percebendo que ela estava falando.
— É lindo! O que faz?
Repetiu, me olhando com cautela.
Levantei o cajado, sentindo a rede quase imperceptível de glifos, runas e elementos conectivos que foram marcados com cuidado em quase cada centímetro da superfície de madeira. Com as duas mãos, imbuí mana nele e ela foi atraída através dos circuitos de prata incrustados nas ranhuras invisíveis antes de ser absorvida em um cristal de mana projetado escondido entre as quatro gemas visíveis.
Os olhos de Cecilia seguiram o rastro e, mais uma vez, fiquei surpreso com seus sentidos aprimorados. Em parte, o projeto pretendia encobrir suas habilidades. Afinal, seria um amplificador pobre do meu poder se desse certo. Apesar disso, Cecilia não teve problemas em seguir a mana em seu trajeto.
Ao redor do seu topo, a mana atmosférica começou a reagir à mana imbuída. Eu sentia, entretanto, sabia que Cecilia podia ver as partículas individuais sendo atraídas para as respectivas pedras.
— É incrível…
Murmurou, as pontas dos dedos se estendendo em direção à madeira, mas não a tocando.
— A mana purificada dentro do cristal dá forma à magia, que então extrai da mana atmosférica armazenada para se materializar em um efeito elemental, tornando-se um feitiço.
Falei, o orgulho inchando dentro do peito.
— Foi o núcleo do dragão que me deu a ideia da estrutura, mas não poderia ter reformado o cristal de mana sem a regalia. Aqui, deixe-me mostrar a você.
Embora o cajado tivesse sido carregado por menos de um minuto, possuía mana o suficiente para um simples feitiço. Através do circuito conectivo, ainda podia sentir e manipular minha mana armazenada. Então, moldei no feitiço desejado.
As joias brilharam e um jato giratório de vapor saiu pela minha janela aberta, ondulando para longe.
— Isso foi água, fogo e ar.
Ela observou com alguma curiosidade.
— Com isso, posso aprimorar meus próprios feitiços da maneira que eles fazem em Dicathen
Disse, sem fôlego de excitação e o rubor da vitória.
— Moldá-los como eu quiser, sem depender apenas das minhas runas. E…
Meu sorriso se alargou.
— Posso utilizar todos os quatro elementos padrão.
Talvez fosse a minha imaginação, contudo, algo escuro passou por cima do rosto dela por um instante. Então, ela estava sorrindo comigo, as mãos segurando as minhas ao redor do cajado.
— Isso é realmente incrível, Nico. Mas…
Ela hesitou, embrulhando meu estômago.
— Agora é mesmo o melhor momento para experimentar? Estamos indo para a guerra. E se…
As suas palavras se arrastaram, e ela mordeu o lábio.
— O quê?
Perguntei.
— Não vê que fiz isso por você?
— Seu núcleo ainda está se recuperando. Não quero que você se machuque se forçando demais. E se o cajado falhar? E se te machucar de alguma forma, ou… ou não funcionar como você espera?
— Você não confia em mim?
A minha voz saiu fina e dolorosamente manhosa.
Os seus dedos apertaram as minhas mãos mais ainda.
— Nico, agora não é a hora para isso. Você me trouxe aqui, agora deixe-me fazer a minha parte para que eu possa nos levar para casa. Ok?
Isso está errado, queria dizer. Eu estava errado…
— Sim, tudo bem. Estou pronto para ir.
Ela me olhou pelo que pareceu muito tempo, então um sorriso quase que imperceptível quebrou a tensão.
— Mas você deveria colocar algumas roupas primeiro.
Após me vestir com robes de batalha escuros, fui arrastado pelo Taegrin Caelum sem saber de verdade para onde estávamos indo. Minha alegria se derreteu em melancolia, me vi à deriva de uma névoa sombria.
Um portal estava pronto para nós. Cecilia trocou palavras com um punhado de oficiais e magos de alto escalão, todavia, não aceitei nada disso. Quando ativaram o tempus warp, voamos metade do continente em um instante.
Pisquei várias vezes ao aparecermos sob o sol brilhante da manhã, que não estava escondido pelas montanhas em Sehz-Clar. Demorou um momento para o nosso entorno entrar em foco.
A plataforma receptora estava no coração de um jardim extenso. Grandes arbustos, pequenas árvores e dezenas de tipos de flores nos cercaram e a brisa cheirava a sal marinho. Foi uma transição estranha das profundezas escuras do Taegrin Caelum para lá. Esperava um acampamento de guerra, soldados, artefatos destrutivos dispostos aos escudos maciços conjurados por Seris.
Quando os meus olhos se ajustaram, vi os escudos à distância.
— Uau. Mas, como? Como ela poderia envolver a metade de um ou um domínio inteiro em tal coisa?
Cecilia desceu da plataforma elevada em que aparecemos e começou a caminhar para a saída do jardim. Por cima do ombro, disse:
— Agrona só tem teorias neste momento. Estou contando com você para descobrir a fonte desse poder.
A melancolia que havia sentido na mente momentos antes desapareceu, pensando na criação de Seris. Não fazia sentido. Nem com uma montanha de cristais de mana era possível armazenar energia suficiente para manter uma coisa tão colossal. E ainda assim, carregar os cristais exigiria mais mana do que poderia ser mantida, não importando quantos magos trabalhassem em conjunto.
As engrenagens se mantiveram girando enquanto Cecilia nos levava em direção ao escudo.
Ao nos aproximarmos, ficou mais claro que a barreira havia dividido a cidade em dois. Atrás da bolha transparente de mana, penhascos íngremes subiam várias centenas de metros no ar. Soldados e magos estavam ocupados trabalhando daquele lado, no entanto, as ruas estavam estranhamente vazias e silenciosas fora dos escudos.
— Onde estão os nossos soldados?
— Forças estão sendo reunidas fora de Rosaere, e todos os civis que vivem a um quilômetro e meio da barreira já foram mandados embora.
Respondeu ela sem olhar para mim.
— O que você está procurando?
Os seus olhos turquesa saltavam rapidamente pela superfície do escudo, que nem alguém lendo um pergaminho.
— Onde se junta este feitiço.
Do nada, uma rajada de vento me agarrou e levantou do chão. Cecilia voou à frente, seguindo o arco curvo da barreira.
Aqueles do outro lado haviam notado. Gritos indecifráveis soaram de uma dúzia de fontes diferentes e os mais próximos do escudo foram recuando.
O meu estômago enlouqueceu e me preocupei em ficar doente de novo. Embora tivesse voado sozinho antes que Grey destruísse o meu núcleo, não era igual a ser carregado feito uma criança com a magia de outra pessoa. Não gostei nem um pouco, nem com Cecilia, mas fiquei em silêncio.
Depois de minutos passados calados, senti uma assinatura de mana familiar se aproximando do outro lado do escudo.
Uma figura solitária voou dos penhascos, se movendo com rapidez. Em um momento, estava diante de nós, pairando do outro lado.
Seris.
— Ah, o Legado. Eu estava começando a me perguntar por que estava demorando tanto.
Disse, a voz somente um pouco abafada pela mana.
— O Soberano Orlaeth ainda está vivo?
Perguntou Cecilia, calma.
Me vi observando os belos traços élficos que ela tinha, me perguntando de onde veio aquele seu equilíbrio. Estávamos muito longe das salas de treinamento do Taegrin Caelum e ela não foi testada. Enfrentar Seris era diferente de qualquer coisa que fizera em duas breves vidas.
Por que não estava com medo?
Seris nos lançou um sorriso irônico, falando:
— Na verdade, ele está conosco neste exato momento. Está em todos os lugares, ainda protegendo Sehz-Clar, como sempre fez.
— Não estou interessada em suas charadas.
Senti a mana ao redor tremer.
— Baixe estes escudos. Ordene que os seus homens se afastem e permitam a entrada das minhas forças e venham voluntariamente ao Alto-Soberano para enfrentar o julgamento. Ele promete um fim rápido. Quanto mais arrastar esta farsa, mais tempo levará a sua morte.
Palavras do Agrona, pensei, sentindo ele por trás de cada sílaba. As palavras dele saindo da boca dela. Eu odeio isso.
— Certamente, há milhares de outros mensageiros que ele poderia ter enviado para me ameaçar. Não está aqui só para esta conversa desagradável, está? Porque não tenho interesse em me envolver em uma batalha de mentes quando o meu oponente chega tão mal armado.
A mana surgiu nos esmagando, rasgando a força do azul claro. Cecilia estendeu a mão e afastou para baixo, fazendo o escudo tremer.
— Se você não… tirá-lo… então eu vou.
Disse Cecilia, cerrando os dentes.
Voamos para mais perto e ela pressionou a mão contra a barreira. O ar ficou ralo, fazendo com que eu lutasse para respirar, imponente e sem controle do meu próprio corpo, assistindo.
Nunca tinha sentido nada parecido com esta batalha antes.
O próprio mundo pareceu se mover quando Cecilia empurrou o escudo. A bolha deformou, se dobrando para dentro em direção a Seris.
Ela não se moveu e não se afastou do ataque. Seus olhos escarlates rastreavam cada movimento, cada flutuação de mana, porém, não era cautela ou medo que eu via naquele olhar. Ela estava estudando Cecilia, absorvendo e catalogando o seu uso de mana e força.
Foi então que soube que Cecilia não quebraria o escudo; não assim, pelo menos.
A pressão aumentou e continuou aumentando sobre nós enquanto ela puxava a mana de todos os lugares, exceto a do escudo. Ela não conseguia controlá-la, isso era claro, entretanto, eu não tinha ideia do porquê.
— Cecilia.
Chamei. Então, mais alto:
— Cecil!
Ela não podia, ou não queria, ouvir. Estendi a mão, tentando agarrá-la, contudo, ela estava muito longe; eu, preso.
— Cecilia, pare!
De repente, estava caindo quando a magia que me segurava no alto foi retirada. Xinguei ao bater no chão. A parte de trás do cajado, amarrada às minhas costas, estalou contra a minha cabeça.
Como o tolo que eu era, quase esqueci que ele estava lá.
Arrancando-o do seu suporte, canalizei mana nele. Não havia tempo para esperar que uma carga se acumulasse, então a transformei de imediato em um feitiço de atributo ar, copiando o que Cecilia havia feito para me fazer voar.
Funcionou. Almofadas suaves de ar envolveram meus membros e me levantaram do chão, disparei de volta para o lado dela.
Seu ataque estava enfraquecendo e suor escorria do seu rosto. A depressão que ela fez no escudo curava-se e fortalecia-se.
Segurei o pulso dela com a mão livre.
A sua cabeça se virou e ela olhou para mim como um monstro selvagem, os dentes à mostra e os olhos em chamas, fazendo com que eu me encolhesse. Algo dentro dela estalou, dando um fim à tempestade de mana. A sua expressão caiu em consternação enquanto ela olhava para mim, com uma mão sobre a boca.
— Nico, eu…
Porém, não olhei para ela. A minha atenção foi atraída para o sorriso tremendo nos lábios de Seris.
Voei para perto de Cecilia, murmurando:
— Agora não.
Então, me interpus entre ela e Seris.
— Não viemos aqui para lançar ameaças ao outro lado desta parede que você conjurou.
Falei com a maior firmeza que pude.
— Muitos, muitos Alacryanos perderão a vida em uma guerra entre Sehz-Clar e o resto de Alacrya. Por quê? Por que levar essas pessoas à morte em uma guerra que você não pode esperar vencer?
— Não é uma guerra, pequeno Nico, mas uma revolução. E Agrona sabe bem o suficiente que certamente não é Sehz-Clar contra Alacrya, mas o povo contra os Soberanos.
— Que povo?
Gesticulei para a cidade vazia atrás de mim.
— Que rebelião? Este é o auge da loucura.
— Você sabe tudo sobre isso, não sabe? Toda a sua existência é formulada sobre a tolice. Vocês dois, reencarnados, não entendem como é a vida neste mundo. Para você, é um parque, um jogo, um sonho que você vai acordar um dia.
Ela não estava mais sorrindo. Havia uma dureza em seus traços que fazia os pelos dos meus braços ficarem em pé.
— Eu sei o que ele prometeu a você, Nico. Mas também sei que ele não pode fazer isso. Ele não tem esse tipo de poder.
As palavras dela passaram direto por mim. Deveria ter me preparado e sabido melhor, contudo, tudo o que estávamos fazendo era para que Agrona nos enviasse de volta à Terra; que nos enviasse de volta a uma Terra onde tivéssemos a chance de ter uma vida juntos, uma vida real, como nós mesmos, não como as formas que tomamos ao reencarnar neste mundo.
Sempre temi que fosse mentira. Desde que a reencarnação de Cecilia foi concluída, uma dúvida cresceu.
Agrona mal tinha sido capaz de completar as nossas reencarnações neste mundo. O que me fez pensar que ele nos jogaria tão casualmente de volta ao outro?
Ao meu lado, a expressão de Cecilia vacilou, todavia, apenas por um instante.
— Mentirosa.
Disse, sem fôlego.
— Você diria qualquer coisa para salvar a sua pele patética. Não conhece Agrona, não como eu. Ele é mais poderoso do que você pode imaginar e eu também.
Ela estava bufando agora e até eu fiquei surpreso com a crueldade com que ela se dirigiu a Seris.
— Eu prometo a você, pequena Foice, que vou derrubar esta barreira de uma forma ou de outra, e então…
Uma nuvem passou por cima de nós, lançando a sua escuridão sobre Cecilia.
— … eu vou atrás de você.
Tradução: Reapers Scans
Revisão: Reapers Scans
QC: Bravo
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